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EM FAMÍLIA
A DOR DA TRANSIÇÃO
AS MUDANÇAS PODEM PROVOCAR RESISTÊNCIA E NOS IMPACTAM POSITIVA OU NEGATIVAMENTE
TALITA CASTELÃO
Às vezes, acontece inesperadamente. Em outras, vem lentamente se anunciando. Seja como for, as mudanças são inevitáveis e impactam nossa vida. Quem literalmente já se mudou sabe como é: caixas e malas por todos os lados; você separa o que vai levar, vende, doa ou joga fora o que não vai mais precisar... É o exercício do desapego. De forma individual ou como unidade familiar, mudanças internas e externas fazem parte da vida e dificilmente há como evitar.
Quando a mudança ocorre no contexto organizacional, por exemplo, a resistência é muito comum e geral mente revela a influência de variáveis individuais e situacionais advindas da maneira de cada pessoa criar sua própria representação da realidade. Isso foi constatado por José Mauro Hernandez e Miguel Caldas, administradores de empresas e doutores pela FGV EAESP. Autores de um modelo de resistência individual à mudança, eles creem que as pessoas o vivenciam em sete estágios. Para entender melhor o modelo, imaginemos a transferência de trabalho que resulte numa mudança de endereço para uma família. 1º estágio: Exposição à mudança ou ino vação. Consiste no momento em que a família é comunicada a respeito da transferência. Nesse momento, vários fatores interferem no processo, mas em geral surge um sentimento de ambiguidade relativo a perdas e ganhos. 2º estágio: Processamento inicial. Ocorre a comparação entre as prováveis consequências da mudança e expectativas, atitudes e comportamentos do passado.
É IMPORTANTE CONSIDERAR A CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO DO SER HUMANO E TER EM MENTE QUE AS MUDANÇAS INEVITÁVEIS DOEM MAIS QUANDO TENTAMOS RESISTIR A ELAS
3º estágio: Resposta inicial. Após a comparação ocorrida no segundo estágio, gera-se na família uma aceitação ou rejeição inicial à nova realidade. 4º estágio: Processamento estendido. Nessa etapa, a avaliação da mudança será feita de maneira mais cuidadosa e demorada, podendo ser percebida como oportunidade, ameaça ou ambos.
5º estágio: Aceitação e resistência emocionais. É o momento de comparações entre a situação real e a situação almejada, gerando, por sua vez, emoções e estados mentais que podem ser de aceitação ou de resistência. O pro cesso cognitivo de cada pessoa interfere nesse estágio. 6º estágio: Integração. Ocorre a integração das emoções e respostas cognitivas produzidas no estágio anterior. 7º estágio: Conclusão. Resulta na adoção de um dos quatro comportamentos a seguir: (1) adoção espontânea da mudança; (2) decisão para se superar a resistência à mudança; (3) adoção de um comportamento resistente; (4) indecisão (principalmente nos casos em que a decisão é muito complexa).
Como o modelo é cíclico, durante o processo de mudança, a pessoa pode ser surpreendida com novos estímulos, interiores e exteriores, de natureza distinta (novas informações sobre o novo trabalho e endereço, diferentes pressões de grupo, novas emoções, etc.). Por isso, é importante lembrar-se da capacidade de adaptação do ser humano e ter em mente que, embora possam ser dolorosas, as mudanças inevitáveis doem mais quando somos resistentes a elas. ]
TALITA CASTELÃO é psicóloga clínica, sexóloga e doutora em Ciências