Ruídos em Aviação

Page 1

P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

1/14

RUÍDOS EM AVIAÇÃO

CONTEÚDO

Introdução Generalidades sobre o Som Generalidades sobre a Audição Generalidades sobre o Trauma Sonoro Programa de Conservação da Audição


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

2/14

I - INTRODUÇÃO O ruído é definido como sendo um som indesejável, isto é, um som que incomoda de alguma forma o bem estar psicológico, podendo ainda, em função de sua intensidade, causar danos fisiológicos graves e irreversíveis. A exposição contínua a níveis de ruído da ordem de 80 db (A) determina o aparecimento de alterações somáticas e/ou psíquicas de maior ou menor gravidade, que se exteriorizam sob a forma de efeitos auditivos e não-auditivos. Os efeitos não-auditivos dizem respeito à alterações que podem ocorrer na esfera neurovegetativa e na psicológica. Os efeitos auditivos do ruído são devidos à agressão às células nervosas sensoriais, determinando a perda progressiva e permanente da audição, não se conhecendo até o momento, medicação capaz de reverter à lesão. Em aviação o "fator humano" é responsável por 85 a 90% dos acidentes aeronáuticos. Objetivando fornecer uma contribuição efetiva para redução dos acidentes, torna-se imperiosa a ação de um efetivo Programa de Conservação da Audição (PCA), que irá permitir o estabelecimento de uma proteção eficaz contra o ruído e os conseqüentes danos causados aos indivíduos que, durante suas atividades normais, estão expostos a níveis incompatíveis com o trabalho desenvolvido, influenciando diretamente a quantidade e qualidade de sua produção.

II - GENERALIDADES SOBRE O SOM O som é a sensação auditiva provocada pelo deslocamento (vibração) das moléculas em um meio elástico. Desse deslocamento resulta uma sucessão de compressões e descompressões moleculares, cuja amplitude e freqüência darão ao som duas de suas propriedades básicas altura e intensidade. A altura do som, usualmente expressa em cicios por segundo (cps), em Hertz (Hz) ou simplesmente pelas notas musicais, é diretamente proporcional à freqüência e inversamente proporcional ao comprimento da onda. Assim, quanto mais alto for um som, maior será sua freqüência e menor o seu comprimento de onda. A intensidade do som, usualmente expressa em decibéis (dB), depende da energia com a qual um som é produzido e está diretamente relacionada com a amplitude da onda sonora. Isto é, quanto maior for a energia de compressão e descompressão molecular (Pressão Sonora), maior será a amplitude da onda e a intensidade do som. Aceita-se o dB por tratar-se de uma unidade logarítmica que simplifica cálculos e notações, além de ajustar-se perfeitamente às medidas psicofísicas, isto é, às comparações quantitativas entre as sensações e os fenômenos físicos que as produzem. Normalmente utilizamos o decibel na escala A (db(a)), por ser uma aproximação da curva de resposta do ouvido humano às várias freqüências. O timbre é a terceira propriedade básica do som, pela qual podemos distinguir se um som fundamental de mesma freqüência e intensidade, foi emitido, por exemplo, por um fagote, trompa


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

3/14

ou violino. Na realidade, o timbre é uma qualidade inerente apenas aos sons complexos. Os sons puros (como os dos audiómetros e diapasões) não possuem timbre e se diferenciam apenas pela altura e intensidade. O timbre é resultante de um som puro fundamental, acrescido de outros sons puros que vibram em uníssono (harmônicos) e em conseqüência desse som fundamental. Os harmônicos são sons de freqüências múltiplas do som fundamental. No cotidiano, nunca ouvimos sons puros e sim sons complexos e/ou ruídos. Não é fácil conceituar a diferença entre som e ruído. Não se justificaria definir como som às sensações agradáveis e como ruído as desagradáveis. A música eletrônica poderá ser sumamente agradável para uns e sumamente desagradável para outros. Assim para fins didáticos, podemos dizer que enquanto o ruído apresenta uma curva irregular, anárquica, o som complexo apresenta uma curva irregular que se repete regularmente. O ruído seria, portanto, um amálgama espúrio de sons e o som complexo um amálgama ordenado. A Portaria nº 3214, de 08 de julho de 1978, do Ministério do Trabalho, estabelece os limites de tolerância para ruído contínuo e intermitente através da norma regulamentadora NR-15, conforme mostra a tabela abaixo.


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

4/14

Esta portaria estabelece os tempos máximos permitidos de exposição de diversos níveis de ruído durante uma jornada de trabalho; estabelece ainda que não é permitida a exposição a níveis acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos. Além dos problemas fisiológicos que podem advir da exposição ao ruído, existem os problemas decorrentes da perda e desconforto acústico, necessário para a execução de tarefas que exijam esforço intelectual. Essa perda geralmente resulta numa diminuição da eficiência e da qualidade do trabalho executado. Os níveis de conforto acústico variam de acordo com o tipo de trabalho desenvolvido e, para obtenção desses níveis, existem normas internacionais que determinam os valores adequados para cada atividade. No Brasil, a norma regulamentadora sobre esse assunto é a NBR-10152/1987 - Níveis de Ruídos para Conforto Acústico, da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.

Outras propriedades do som são a velocidade, a reflexão, a refração e a difração. A velocidade do som é diretamente proporcional à densidade do meio no qual a onda sonora se propaga, ou seja, o som se propaga mais velozmente num meio sólido do que num meio líquido ou gasoso. Ao se propagar através de meios de densidades diferentes, a onda sonora se


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

5/14

reflete e/ou se refrata, a exemplo da onda luminosa. Difração é a capacidade que possui o som de contornar o obstáculo. A compreensão desses fenômenos é básica para entender como se faz o tratamento acústico de um ambiente e também para um melhor entendimento da fisiologia auditiva.

III

-

GENERALIDADES SOBRE A AU-

DIÇÃO Em última análise ouvimos com o cérebro. Todavia, antes da onda sonora ser transformada em sensação consciente, percorrerá intrincado caminho, no qual sofrerá importantes transformações bioquímicas e biofísicas. Para fins didáticos, o aparelho auditivo pode ser dividido em duas partes básicas - aparelho condutor e aparelho neuro-sensorial. Pertencem ao aparelho condutor o ouvido externo (pavilhão auricular e conduto auditivo externo), o ouvido médio (membrana timpânica, cadeia ossicular e tuba faringo-timpânica) e os líquidos labirínticos (endolinfa e perilinfa). Pertencem ao aparelho neuro-sensorial o órgão terminal de Corti, contido na cóclea (ouvido interno), o ramo coclear do VIII nervo craniano e as vias auditivas do sistema nervoso central (SNC). O som pode atingir a cóctea através: da vibração da membrana timpânica e cadeia ossicular; • da janela redonda, sem intermediação da cadeia ossicular; e • •

da vibração dos ossos do crânio (condução óssea).

Usualmente, quando o som atinge uma superfície sólida, a maior parte de sua energia é dissipada por reflexão, o problema que o aparelho auditivo tem de solucionar é como compensar essa energia dissipada. Para lograr tal fim, ele tem de atuar como uma espécie de transformador que converte a grande amplitude das ondas sonoras, oriundas do meio gasoso, em vibrações mais vigorosas e de menor amplitude. O ouvido médio é o tal transformador. Para isso se vale de dois mecanismos principais: • •

a relação de superfície entre a membrana timpânica e a platina do estribo; e o sistema de alavancas proporcionado pela cadeia ossicular.

O ouvido médio atua como uma prensa hidráulica e a energia produzida pela vibração da membrana timpânica, chega ao ouvido interno amplificada em cerca de 26 dB, na faixa da palavra. Isto é suficiente para compensar a dissipação supracitada. As compressões e descompressões dos líquidos labirínticos produzem, deformações da membrana basilar, do órgão de Corti e membrana tectória (labirinto membranoso), Essas deformações estimulam as células ciliadas dando lugar à transdução da energia física em impulsos


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

6/14

nervosos. Esses impulsos nervosos seguem o ramo coclear do VIII nervo craniano, atingem o tronco cerebral e finalmente o córtex auditivo, no SNC.

IV - GENERALIDADES SOBRE O TRAUMA SONORO Trauma Sonoro (TS) é a designação que se dá às lesões auditivas produzidas pelo ruído. Podemos distinguir o TS agudo e o crônico. O TS agudo é produzido por exposição súbita a ruídos de grande intensidade. É a situação típica das explosões de artefatos bélicos, fogos de artifício, dinamite, etc. Apresenta um cortejo marcante de sintomas e sinais, dos quais destacamos a dor, hipoacusia, zumbidos e, freqüentemente tonturas e sangramento. A intensidade da pressão sonora pode produzir dilaceração da membrana timpânica, luxação da cadeia ossicular e lesões mais ou menos intensas no ouvido interno. O exame anátomo-patológico de animais de experiências tem demonstrado desde alterações mais ou menos restritas das células auditivas até a completa desorganização do órgão de Corti. A lesão mais pronunciada se passa ao nível giro basal da cóclea (freqüências agudas), onde uma área de perda completa das células ciliadas externas, acompanhadas de danos das células de sustentação, podem em geral ser vista. O TS agudo, apesar de dramático, é eventual e, pelo menos em tempo de paz, carece de maior importância. O TS crônico é o resultado da exposição reiterada a níveis de intensidade menor e infinitamente mais encontradiços do que os precedentes. Na verdade, com a produção cada vez maior de máquinas de grande potência (motores de avião, motores diesel de navios e locomotivas, martelos pneumáticos, foguetes, etc.), esses ruídos se fazem mais e mais presentes onde que estejamos. Inclusive atividades aparentemente inócuas, tais como sessões de “rock-and-roll” e tiro ao alvo, podem ser tanto ou mais funestas do que a exposição Profissional ao ruído. Os sintomas e sinais são discretos inicialmente, e muitas das vezes passam desapercebidos até a data onde as lesões já são antigas e evoluíram produzindo inequívoca deficiência auditiva. Ao exame audiométrico, as perdas auditivas podem assumir qualquer uma das curvas. Em geral, as perdas apresentam traçados que evoluem do tipo A ao tipo D. As perdas por TS surgem geralmente em torno de 4000 Hz e são quase sempre bilaterais e simétricas. Todavia, não podemos deixar de admitir a possibilidade de lesões unilaterais por TS. Podem existir diferenças significativas entre: os lados direito e esquerdo do aparelho auditivo de um mesmo indivíduo, e isso explicaria o aparente paradoxo dessa vulnerabilidade seletiva. É sabido que a freqüência, a intensidade e a duração do ruído; são os fatores mais importantes na determinação das lesões por TS. Todavia, também parece ter especial valor a suscetibilidade individual ao ruído. Existe apreciável evidência de que os fatores que influenciam essa susceptibilidade são o sexo, a idade, as alterações vasculares funcionais e orgânicas, as drogas ototóxicas e o fumo. Acredita-se ser fundamental uma predisposição congênita, fruto de agressões ao aparelho auditivo, durante a vida intra-uterina. Tais agressões seriam, possivelmente, o resultado de doenças, medicamentos, uso e hábitos da mãe. As viroses, o fumo, o alcoolismo e o estado emo-


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

7/14

cional por exemplo, poderiam produzir alterações limitadas à ultra-estruturas das células ciliadas e seu aparelho enzimático, tornando essas células aparentemente sadias, mas mais vulneráveis do que as normais, quando em condições adversas (v. g. exposição ao ruído). Essa seria uma explicação porque, nas mesmas condições de exposição, nem todos apresentam perda auditiva. Entre os efeitos não auditivos do ruído podemos citar a alteração da profundidade, qualidade e duração do sono; a alteração da atitude e capacidade de trabalho; a diminuição da atividade sexual; as anomalias do desenvolvimento fetal; a vasoconstrição periférica e o aumento da adesividade plaquetária. Não existe ainda nenhuma medicação comprovadamente efetiva e aceita como tratamento do TS. O mais importante é a profilaxia feita através de um efetivo Programa de Conservação da Audição (PCA), como veremos adiante.


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

8/14

V - PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO DA AUDIÇÃO 1 - Fase de Implantação do PCA

Na fase de implantação do PCA, cinco itens se relacionam entre si: 1.1 Identificação dos Riscos 1.1.1 Medição dos Níveis de Ruído no Local de Trabalho a) Instalações administrativas São efetuadas medições nas diversas instalações objetivando caracterizar os níveis de ruído. Para obter o máximo de veracidade nesses levantamentos, procura-se observar as peculiaridades de funcionamento das salas, como por exemplo, a permanência de portas e janelas abertas. Há também a preocupação no que se refere a distinção entre ruídos provocados por operação aeronáutica e os produzidos no interior desses locais. As medições são realizadas em acordo com a norma NBR-10151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o Conforto da Comunidade da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). b) Áreas externas próximas aos hangares e pátios de estacionamento de aeronaves


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

9/14

São levantados parâmetros que visam caracterizar os - níveis de ruído produzidos em função das fontes geradoras (aeronaves, armas, tratores, etc.) através de medições individuais. As condições acústicas a que estão submetidas às instalações dos hangares são obtidas através de medições de longa duração (uma hora ou mais). Os níveis máximos de ruído produzidos por aeronaves, armas e maquinaria utilizada para manutenção nas proximidades destes locais, também são objeto de estudo. c) Avaliação individual Com a utilização de dosímetros é possível realizar o acompanhamento de pessoas que, pela própria natureza de suas atribuições, não permanecem durante muito tempo em único local ou instalação, como motoristas, mecânicos de aeronaves ou pilotos. Desta forma, são estabelecidas, para cada acompanhamento, as doses percentuais correspondentes aos níveis médios de ruído recebidos por essas pessoas durante uma jornada de trabalho. O cálculo do parâmetro dose de ruído é efetuado segundo especificações da N.R.15, do Ministério do Trabalho. d) Testes de motor de aeronaves São realizadas medições de um teste de motor com aeronaves no local onde normalmente esta situação ocorre, para avaliar os níveis de ruído aos quais os mecânicos responsáveis por este trabalho ficam expostos. Além das posições normais ocupadas pelos mecânicos, sao realizadas medições em instalações mais próximas deste local. 1.1.2 Análise dos Dados de Medição As fitas gravadas com os dados de ruído coletados durante os trabalhos de campo sofrem o seguinte processo de análise: a) Geração de registro gráfico de cada evento visando selecionar os trechos a serem analisados estatística e digitalmente. b) Após levantamento dos trechos de interesse de cada evento, é realizada análise estatística utilizando-se de um analisador, visando à obtenção dos parâmetros principais, que são o Leq (nível médio), o Lmax (nível máximo), o L50 (nível médio a 50% do tempo) e L99 (ruído de fundo). c) Geração do espectro de freqüências, através do analisador digital, para conhecimento da distribuição do ruído por componentes de freqüência. Esse procedimento tem como objetivo avaliar a eficiência dos dispositivos de proteção individual em uso pelo pessoal exposto diretamente às fontes de ruído pesquisadas. 1.2 Avaliação da Audição dos Trabalhadores 1.2.1 Procedimentos Todos os indivíduos avaliados são previamente orientados quanto às condutas a serem tomadas, individualmente, vinte horas antes do exame, incluindo repouso acústico, ingestão de medicamentos e estimulantes.


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

10/14

Antes de cada exame, o grupo escalado para a realização dos mesmos é brifado sobre como proceder durante a audiometria e como preencher os dados pessoais constantes nas fichas de avaliação audiométrica. Cada indivíduo é examinado individualmente em cabine acústica, respondendo a intensidades sonoras iguais ou maiores que 10 DBNA nas freqüências de 250. 500, 1000, 2000, 3000, 4000, 6000 e 8000 Hz. Os indivíduos que apresentam queixas relativas a cerume ou curvas audiométricas compatíveis com perdas auditivas condutivas são encaminhados para o Otorrinolaringologista a fim de realizar avaliação otoscópica, incluindo remoção de cerume, quando necessário. Concluída a avaliação médica, os indivíduos refazem a triagem audiométrica, tendo sido considerado o último resultado. Para a classificação das perdas auditivas encontradas são utilizadas três categorias: NORMAIS - aquelas que apresentam níveis de audição menores ou iguais a 20 DBNA nas freqüências de 250 a 8000 Hz. • OCUPACIONAIS - aqueles que apresentam perdas auditivas decorrentes de exposição a ruídos excessivos nos locais de trabalho. Nesta categoria são incluídas as perdas audit ivas induzidas pelo ruído (PAIR), as perdas auditivas induzidas pelo ruído e provocadas por outras patologias (MISTAS) e os traumas acústicos unilaterais decorrentes de exposição a ruídos de impacto (TRAUMAS). • NÃO-OCUPACIONAIS - aqueles que apresentam outras perdas auditivas (OPA) não relacionadas â função desenvolvida no local de trabalho e sim decorrentes de patologias de naturezas diversas. •

Os tipos normais e com perdas auditivas ocupacionais encontradas são relacionados às funções desempenhadas, ao tempo de serviço total e ao uso de equipamento de proteção individual, não sendo considerados, para essa análise, os casos de perdas auditivas nãoocupacionais. 1.3 Controle de Exposição A constância da exposição ao ruído se confirma pela gradual piora da audição dos indivíduos com o aumento do tempo de serviço, qualquer que seja a função. Em todas as funções nota-se que é a partir dos dez anos que começam a aparecer maiores percentagens de indivíduos com perdas auditivas ocupacionais o que torna claro que o fato de um sujeito apresentar audição normal antes de completar dez anos de serviço, não invalida a possibilidade dele ainda vir a ser lesado, no decorrer do tempo. Sendo assim, toda e qualquer medida preventiva deve ser tomada antes dos dez anos de trabalho, preferencialmente no início da vida profissional. Se for impossível recuperar uma perda auditiva já existente, deve-se, ao menos, evitar que ocorra a progressão da mesma. Essas medidas podem estar relacionadas à redução na fonte geradora ou na trajetória do som. Na possibilidade da aplicação dessas duas formas, podemos pensar na proteção individual. 1.4 Proteção do Trabalhador 1.4.1 Uso dos Dispositivos de Proteção Auditiva (DPA)


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

11/14

O uso dos dispositivos de proteção auditiva (DPA) ou protetores auditivos deve ser obrigatório para todos os indivíduos que trabalham ou transitam nas áreas de ruído intenso, Leq acima de 75 dB (A). Os pilotos e tribulação em vôo devem usar plugs para os casos em que é possível a amplificação do rádio sem o uso dos fones. No caso da necessidade de utilizar os fones para a recepção de mensagens, deve-se garantir que fones ofereçam perfeita vedação dos ruídos externos. Os sujeitos que trabalham na pista, próximo às aeronaves, precisam utilizar protetores combinados ("plug" + abafador). Ao abandonar a pista e retornar ao hangar, o abafador pode ser retirado, mantendo-se o "plug". Recomenda-se retirar também os “plugs” apenas nos horários de refeições e nos momentos em que os equipamentos, máquinas, motores ou aeronaves estiverem desligados, tomando os devidos cuidados com a higiene ao recolocá-lo, a fim de evitar contaminações. Nos hangares, o tipo de DPA pode ser compatível com a preferência e disponibilidade de equipamentos. O melhor protetor é aquele que atende individualmente aos seguintes atributos: atenuação de ruídos externos indesejáveis; • manutenção da qualidade de recepção dos sons falados; e • conforto, aceitação e durabilidade. •

Quanto aos protetores tipo "plug", cabe ressaltar que existem os de espuma de expansão retardada (cor amarela ou laranja) e os pré-moldados de plástico flexível (em várias cores e formatos). O indivíduo deve usar aquele que melhor se adapte às condições anatõmicas dos seus ouvidos. A adequação do uso do DPA (colocação correta, integridade do equipamento, atenuação necessária) é fundamental na proteção. O aparecimento de perdas auditivas ocupacionais em sujeitos que afirmam utilizar protetores auditivos pode ser explicado por várias situações: - Colocação inadequada no conduto auditivo; - Escolha incorreta do tipo ou da combinação ideal para determinados níveis de ruído; - Não utilização por todo o tempo que durou cada exposição; e - Início do uso depois de adquirir a lesão. Os indivíduos que não usaram protetores auditivos e permanecem com a audição normal, mesmo após exposições a ruídos intensos, podem ser considerados não suscetíveis a PAIR ou TRAUMAS, o que não garante que dentro de mais alguns anos essa resistência continue a existir. Eles também precisam tomar cuidados quanto às exposições nocivas. 1.4.2 Redução do Tempo de Exposição Essa é uma medida alternativa sempre que for inviável o uso de protetores auditivos, seja por razões técnicas ou pessoais. Nesses casos deve-se respeitar o limite de permanência diária


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

12/14

nas seções, sem protetores, considerando-se os níveis de ruído equivalentes (LEq) encontrados. Nos locais de trabalho, a permanência diária SEM o uso de protetores auditivos não deve ultrapassar os seguintes períodos: Acima de 110 db(A) não deverá haver exposição sem o uso obrigatório de protetores combinados (plug + abafador), da mesma forma que devem ser utilizados protetores isolados (plug ou concha) sempre que o período máximo ultrapassar qualquer um dos níveis acima. Esses níveis são ligeiramente inferiores ao da legislação brasileira pelo fato de tratar-se de um programa preventivo e dos níveis fixados serem constantemente ineficientes para proteção real. 1.4.3 Encaminhamentos Todos indivíduos que apresentarem qualquer alteração de audição, fugindo à classificação de normalidade, deverão ser encaminhados ao serviço de otorrinolaringologia mais próximo. Os sujeitos que apresentam TRAUMAS ou PAIR devem, imediatamente, utilizar os protetores auditivos, o maior tempo possível, durante uma jornada de trabalho, independentemente do nível de ruído encontrado. De posse dos resultados de uma avaliação audiológica completa, e considerando o grau de comprometimento auditivo, deverá ser estudada a possibilidade de permanência destes indivíduos no ambiente ruidoso e evitando, desta forma, a progressão da perda que já possui caráter irreversível. Aqueles que apresentam OPA ou perda MISTAS, devem procurar o otorrinolaringologista para proceder o tratamento necessário e tentar reverter o quadro atual. A critério médico, estes indivíduos não estarão impedidos de trabalhar em ambientes ruidosos, desde que usem proteção como os indivíduos normais. Os sujeitos NORMAIS devem cumprir as medidas do controle de exposição ao ruído contida na tabela descrita acima, a realizar anualmente avaliações audiométricas, assim como todos aqueles que já apresentam algum tipo de alteração auditiva, o uso de protetores auditivos será de utilidade para a garantia de preservação da normalidade, 1.5 Palestras Um dos itens mais importantes do PCA é a realização de palestras periodicamente, onde serão abordados como objetivos específicos a orientação, motivação e educação do programa, enfatizando que: deve usar o protetor auricular; não existe nenhuma medicação efetiva para o tratamento da lesão auditiva; • a perda inicial não é percebida pelo portador mas pode progredir e acabar por destruir sua audição social; • os zumbidos devem ser encarados como um sinal de sofrimento do órgão auditivo; • •

o fumo e as drogas ototóxicas podem tornar a cóclea mais vulnerável ao ruído.


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

13/14

Também convém lembrar que nenhum PCA terá sucesso sem o apoio e a colaboração irrestrita das chefias, em todos os níveis. 2 - Fase de Manutenção do PCA (controle audiométrico)

Anualmente, após a fase de implantação do PCA, será procedido o controle audiométrico em todos funcionários. Não deverá ser observada nenhuma piora ou maior de que 15 dB em qualquer freqüência de um ano para o outro. Se ocorrer essa mudança, a Equipe de PCA deverá ser notificada para que sejam executadas novas ações corretivas.

VI- CONCLUSÃO O PCA visa fornecer subsídios para uma proteção eficaz contra o ruído e os conseqüentes danos causados aos indivíduos que, durante suas atividades normais, estão expostos a ruídos incompatíveis com a natureza humana, Influenciando diretamente a qualidade e a quantidade de sua produção. A ação do PCA no componente "Fator Humano" fornece, dessa forma, uma contribuição efetiva para redução dos acidentes aeronáuticos.


P r e v e n ç ã o R u í d o s

d e e m

A c i d e n t e s A v i a ç ã o

14/14

ÍNDICE

CONTEÚDO I - INTRODUÇÃO II - GENERALIDADES SOBRE O SOM III -GENERALIDADES SOBRE A AUDIÇÃO IV - GENERALIDADES SOBRE O TRAUMA SONORO V - PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO DA AUDIÇÃO 1 - Fase de Implantação do PCA 2 - Fase de Manutenção do PCA VI - CONCLUSÃO


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.