Jornal da UFRN - Outubro de 2013 - Ano XV nº 66

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ano XV | nº 66 | outubro de 2013 - distribuição gratuita

Cuidados na

infância Pesquisa aponta que ruídos sonoros comprometem audição e aprendizagem escolar Páginas 6 e 7

Seca

“Poesia”

Criatividade

Núcleo reúne trabalhos sobre o

Composição de professor de

Leitura fortalece a potência

tema que traz efeitos sociais

Santa Cruz vence Juri Popular no

que todo ser humano tem

mas é pouco estudado

festival de música da FMU

para vencer desafios

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MEIO AMBIENTE

Visitas à Estação de Tratamento de Esgoto da UFRN despertam consciência ambiental Anastácia Vaz

Por Júnior Marinho

Q

ual o papel das instituições fren­ te à responsabilidade socioam­ biental? Como contribuir para um processo de educação ambiental que integre as organizações e a sociedade? Para respon­der a esses anseios, há cerca de dois anos, o Projeto de Extensão “Co­ nhecendo a ETE” é desenvolvido na Es­ tação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Todas as terças e quintas-feiras, por meio de agendamento prévio, as portas da ETE estão abertas à sociedade. O projeto leva grupos para conhecer todas as etapas do tratamento dos 400.000 litros de aflu­ entes sanitários gerados pelo Campus Central e seu reuso, que irriga o campo de futebol da UFRN e parte da vegetação exis­tente na própria sede da ETE. “Inicialmente era para os próprios alunos da Universidade conhecerem a Es­ tação, porque muitos pegam ônibus aqui na frente e não conhecem a ETE”, comen­ ta a técnica em saneamento, Flaviane de Oliveira Silva, responsável por orientar a visita. Flaviane explica que a meta anual é atrair 1000 visitantes, o que levou à divul­ gação do trabalho em outros estados. “Já vieram alunos da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal Ru­ ral do Semiárido, de Mossoró. Estamos divulgando, também, nas escolas públicas e privadas”, diz a técnica. O passeio pela Estação divide-se em três etapas: Concepção, que discute o processo de criação da ETE e sua im­ portância ambiental; Operação, em que se visitam todas as etapas do tratamento in loco; e Processos de Tratamento, quan­

Projeto leva grupos de visitantes a conhecer etapas do tratamento de afluentes sanitários do se conhe­cem as dependências do labo­ ratório de análises. Para a professora Sarita Silva, técnica em edificações, que levou à Estação de Tratamento onze alunos do Curso de Ins­ talador Hidráulico do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), a visitação é uma oportunidade que agrega conhecimento aos estudantes. “Com a mudança de perfil do mercado, o instala­ dor hidráulico não tem mais só a função de execução. Hoje, é necessário ir além: não apenas fazer a instalação do enca­ namento e retirar o esgoto do local, mas saber pra onde vai e como se faz o trata­ mento”, afirma. De acordo com a orientadora do pro­ jeto, Flaviane Silva, grande parte dos visi­ tantes desconhece a importância de ações

que levem a um desenvolvimento susten­ tável. A orientadora cita como exemplo a surpresa dos participantes do Curso de Ins­talador Hidráulico ao saber sobre o reuso da água de esgoto para irrigação. Ações de educação ambiental des­ pertam nos participantes reflexões acerca da sua realidade cotidiana, como comenta Edson Araújo, aluno do curso do SENAI. “A visita nos dá uma visão de como as águas servidas devem ser trata­ das. Em nosso cotidiano, e em nosso tra­ balho, é importante aprender e dissemi­ nar esse conhecimento, incentivando a reutilização da água”, acredita. “O ideal seria que, quando se liberasse uma área para cons­trução, fosse pensada conjun­ tamente uma forma correta de descartar o esgoto”, completa.

Histórico O projeto Hidráulico Sanitário da ETE do Campus Universitário foi ela­borado em 1979, com o objetivo de a­dequar o esgotamento do campus central, substi­ tuindo a utilização de fossas sépticas e sumidouros, que poluem o solo e o lençol freático, que abastece a Instituição, por um sistema de caráter sustentável. A escolha do sistema de estação de tratamento da UFRN baseou-se nas seguintes vantagens: pequena área para implantação, fácil operação e manuten­ ção, custo inferior aos sistemas conven­ cionais, elevada eficiência na remoção de Sólidos em Suspensão e DBO (Demanda Biológica ou Bioquímica por Oxigênio), lodo mineralizado que dispensa a di­ gestão anaeróbica. A ETE opera desde 1983, subordina­ da à Superintendência de Infraestrutura (SIN) da UFRN, coletando, tratando e dando um destino final a 95% de todos os efluentes do Campus Central. Além disso, o capim irrigado com a água de esgoto tratada na área da ETE é doado a pequenos agricultores da região. “A pretensão é tratar 100% dos aflu­ entes do campus central e colocar esse sistema de irrigação em todo o Campus Universitário, irrigando toda a área de jardim com água de esgoto tratada, subs­ tituindo, assim, o uso de água potável para essa atividade” conta o engenheiro químico Antônio Hermes Bezerra, 63, coordenador da ETE. Agendamento Para participar do projeto “Conhe­ cendo a ETE”, é necessário formar peque­ nos grupos de 10 a 15 pessoas. A visita deve ser agendada por meio do endereço eletrônico: www.meioambiente.ufrn.br/ ete ou pelo telefone (84) 3215-3368.

EXPEDIENTE Reitora Ângela Maria Paiva Cruz Vice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes Superintendente de Comunicação José Zilmar Alves da Costa Diretor da Agência de Comunicação Francisco de Assis Duarte Guimarães Editora Enoleide Farias Jornalistas Antônio Farache, Cledna Bezerra, Enoleide Farias, Hellen Almeida, Juliana Holanda, Luciano Galvão, Marcos Neves Jr., Regina Célia Costa Fotógrafos Anastácia Vaz e Wallacy Medeiros Revisoras Regina Célia Costa e Karla Jisanny (bolsista) Foto de capa Wallacy Medeiros

Diagramação Setor de Artes/Comunica Bolsistas de Jornalismo Ana Clara Dantas, Auristela Oliveira, Catarina Freitas, Ingrid Dantas, João Paulo de Lima, Júnior Marinho, Kalianny Bezerra, Rozana Ferreira, Silvia Paulo, Thyara Dias Bolsista de Letras Karla Jisanny Arquivo Fotográfico Saulo Macedo (bolsista) Endereço Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970 Telefones (84) 3215-3116/3132 - Fax: (84) 3215-3115 E-mail boletim@agecom.ufrn.br – Home-page www.ufrn.br Impressão EDUFRN Tiragem 3.000 exemplares

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MÚSICA

Canções locais são destaque

em festival da Rádio Universitária FM Fotos: Wallacy Medeiros

Por CEZAR BARROS

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evelar e divulgar obras musicais iné­ ditas, compostas por artistas norte rio-grandenses, promovendo a músi­ ca potiguar e valorizando a cultura local. É com esse objetivo que o Festival Música Po­ tiguar Brasileira (FMPB) é promovido anu­ almente pela Rádio Universitária FM 88,9 (FMU) da Superintendência de Comunica­ ção da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O festival, criado em 2011, chegou à terceira edição com a participação de 144 composições que disputaram a premiação. Além da valorização que concede aos artistas e produções o FMPB distribui prêmios em di­nheiro às obras escolhidas nas categorias “Musica com letra” e “Música instrumental”, do primeiro ao terceiro lugar. Uma única composição, escolhida pelos ouvintes da emissora recebe o prêmio do Juri Popular, que neste ano ofereceu 40 horas de música em um estúdio profissional de Natal. A seletiva do festival teve início em maio, quando a Universitária FM lançou o edi­ tal, anunciando todo o processo. Durante o período de inscrições, os artistas submeteram à apreciação da comissão julgadora suas canções nas duas categorias. Um grupo de profissionais da área ouviu todas as músicas e escolheu 13, de cada categoria, para serem veiculadas na programação da Universitária FM, para que os ouvintes pudessem escolher a sua preferida, por meio de um sistema na internet. Ao mesmo tempo, os jurados emiti­ ram as notas para cada música classificando as 3 primeiras, também em cada grupo. O resultado foi anunciado no dia 27 de setembro, em cerimônia de premiação com a presença dos candidatos e transmissão ao vivo pela Universitária FM e pela TV Uni­ versitária, diretamente do auditório da Escola de Música da UFRN. O grupo vocal Acorde, abriu as apresentações com um repertório bem humorado, com músicas populares, de variados ritmos musicais como brega, romântico, pop e, até mesmo, funk. Depois da apresentação do Acorde, teve início a premiação dos primeiros lugares de cada categoria. A cantora Krystal encerrou a festa com uma apresentação que envolveu um repertório popular e agitou o público pre­ sente no auditório. Premiação A música “Poesia” foi a escolhida pelo pú­ blico, que votou pela internet. A composição

Cantora Krystal: repertório popular para o público presente é do artista Joman Ricardo, graduado em História pela UFRN e professor na cidade de Santa Cruz-RN, onde mora. Integrante da Banda de Música Torre de Marfim, ele disse que o resultado dá “uma alegria tremenda, um sentimento de satisfa­ ção de ter o trabalho reconhecido, de gratidão também, pelas pessoas que a ouviram e a vo­ taram”. Joman Ricardo foi premiado com a opor­ tunidade de gravar 40 horas de música em um estúdio profissional de Natal. Nas catego­ rias Música instrumental e Música com letra os campeões de cada categoria receberam o prêmio de três mil reais. Os segundos e ter­ ceiros lugares receberam dois mil reais e mil reais, respectivamente. O primeiro lugar da categoria instru­ mental foi para o artista e professor Raphael de Almeida, que compôs a música “Chora, Chorão”. Ele disse ser a primeira vez que concorreu em um festival como composi­ tor e que a música surgiu de uma forma ir­ reverente, atendendo a um pedido da diretora da escola na qual trabalha, num dia em que estava desocupado. “O ócio criativo deu no Chora, Chorão”, riu. O prêmio de vice-campeão foi para o ar­ tista Manuel de Azevedo, natural de Santana do Matos, com a canção “Riacho do Car­ deiro/Serra de Cajarana”. E o terceiro lugar da categoria foi para o músico Alexandre At­ marama, com a composição “Shant”, que teve inspiração no movimento religioso do qual participa, o Hare Krishna. Na categoria com letra, o primeiro lugar coube ao compositor Mário Lúcio, com “Toa­ da para Cecília”. Ele disse que fez a música há

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13 anos, em homenagem à terceira neta. Para Mário Lúcio, o festival da UFRN se destaca: “de todos os festivais que participo, o mais or­ ganizado é este aqui”, elogiou. “Chicos do Brasil” do artista Stênio Car­ valho, integrante do grupo Quarteto Linha, foi a música premiada em segundo lugar. Ele também destaca que “o FMPB é um festival que lança os artistas locais e dá a oportuni­ dade de eles mostrarem o seu trabalho”. O terceiro lugar foi para o compositor Luiz Renato, com a música “Marchinha pra Tita” que se disse surpreso com a premia­ ção, pois faz música muito mais por diversão mesmo. O FESTIVAL Para o Superintendente de Comunicação da UFRN, professor José Zilmar da Costa, o FMPB “é mais uma contribuição que a Uni­ versidade vem oferecer para a classe artística e para a sociedade, no sentido de promover a música, favorecendo a cultura potiguar que sempre foi muito carente de apoio”. A reitora da UFRN, Ângela Paiva Cruz, reforça as palavras do superintendente, e afir­ ma que “O FMPB representa mais um esfor­ ço da Universidade no sentido de valorizar e propiciar apoio à produção cultural de nosso estado. Os músicos têm essa oportunidade de divulgar o trabalho que fazem. E essas pessoas, certamente, a partir de um prêmio como esse, vão ter outra visibilidade. É uma realização muito importante do ponto de vis­ ta da interação e da participação da UFRN na cultura do estado”, avaliou a reitora. Segundo o diretor da Universitária FM, o festival já é um marco no calendário anual da rádio. “Desde o primeiro, a procura e o inte­ resse dos nossos músicos locais foi crescendo. O salto de qualidade dos concorrentes tam­ bém está avançando e isso é bom para a cul­ tura local”, destacou o diretor. Um dos parceiros do festival foi o Nú­ cleo de Arte e Cultura (NAC) da UFRN. “O FMPB tem uma importância enorme, sobretudo, porque oportuniza a participa­ ção de muitos músicos que estão na cena cultural do estado e nem sempre têm opor­ tunidade de mostrar o seu trabalho. No festival, eles podem fazer isso”, ressaltou a diretora do NAC, Teodora Alves. A avaliação feita pela coordenação do fes­ tival é positiva. Segundo o Chefe de Produção da Universitária FM, Rodrigo Santos, que presidiu a Comissão Organizadora do Festi­ val, o evento atingiu os objetivos com êxito. Para ele, agora “fica o desafio, para o próximo ano, de fazer uma festa cada vez melhor e mais bonita”, prenunciou o coordenador.

Joman Ricardo, autor de “Poesia”, vencedora do juri popular

Raphael de Almeida, 1º lugar da categoria instrumental com “Chora, Chorão”

Mário Lúcio, vencedor da categoria com letra - “Toada para Cecília”

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Grupo Acorde abriu as apresentações


TERAPIA ALTERNATIVA

NOTAS Aniversário A direção do CERES Caicó abre oficialmente no dia 29 de novembro, as comemorações dos 40 anos da presença da UFRN no município e na região do Seridó com a inauguração do auditório do CERES. Pessoas que contribuíram para o fortalecimento da Instituição serão homenageadas. Os festejos se estendem até março de 2014, culminando com o V Seminário de Ensino Pesquisa e Extensão do CERES (SEPE). Conferência A Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí (FACISA) realiza a I Conferência Regional de Saúde Ambiental e do Trabalhador, de 27 a 29 de novembro, em Santa Cruz. Informações: www.mundouf.wix.com/ facisa ou pelo telefone: 3291-2411. Cultural A música “Fantasia”, dos compositores Wagner de Paula e Chico de Paula, de Sorocaba (SP), foi a vencedora do Concurso Cultural de Música Popular “Teu Sonho Não Acabou”, em homenagem ao cantor e compositor Taiguara.A música será gravada no CD que vai receber o título “Um Canto para Taiguara”. O projeto é uma promoção da PROEX, com coordenação da professora Tânia Regina Barbosa de Oliveira. Fotografia As inscrições do concurso fotográfico “Acessibilidade e respeito. Eu posso. Você deixa?” foram prorrogadas até o dia 18 de novembro. Podem participar fotógrafos amadores e profissionais. Não é necessário pagar taxa de inscrição. As fotografias devem ser entregues na sede da CAENE. Informações: 3342.2501. ENADE A prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) será aplicada no dia 24 de novembro, às 13h, no horário de Brasília (12h - horário local, em razão do Horário de Verão). Concluintes de várias graduações da UFRN participam do exame que tem por objetivo avaliar o rendimento dos estudantes. Correção Na edição passada, de setembro, a matéria “Cientista aponta construção de reator RMB como um dos grandes projetos do país”, publicada à página 10, saiu como sendo de autoria de Thaisa Mendonça/Enoleide Farias. Na verdade, a matéria é do jornalista Erik de Oliveira.

Medicina Tradicional Chinesa ajuda idosos

a melhorar a qualidade de vida

Divulgação

Por João Paulo de Lima

M

elhorar a qualidade de vida dos idosos que fazem parte do Lar do Ancião Evangélico, por meio da utilização de técnicas da Medicina Tradi­ cional Chinesa (MTC), é o principal obje­ tivo do projeto “Terapias Orientais no Lar do Ancião Evangélico (LAE)”, coordenado pela professora Lúcia de Fátima Amorim, do Departamento de Biofísica e Farma­ cologia do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A iniciativa visa à aplicação dos conhe­ cimentos do conjunto de práticas de medi­ cina tradicional em uso na China, buscando proporcionar melhores condições ao dia a dia dos idosos do LAE, por meio do uso de métodos, como a reflexologia (massagem nos pontos reflexos dos pés e mãos), shiatsu (massagens), moxabustão (queima de ervas nos pontos de acupuntura) e acupressura (pressão nos pontos de acupuntura). Com a crescente demanda pelo aten­ dimento de outras áreas no LAE, Lúcia Amorim tem iniciado um projeto multi­ disciplinar, que contempla as áreas de Co­ municação, Nutrição, Fonoaudiologia, En­ fermagem e Fisioterapia. “A participação dos acadêmicos nesse projeto de extensão é de grande importância porque proporciona uma vivência do conteúdo trabalhado na sala de aula e o retorno para a população, além de oportunizar o exercício da cidada­ nia, levando-os à percepção do seu papel de agente social em sua área de atuação profis­ sional”, explica. Sobre a MTC Caraterizada pelo conhecimento teóri­ co, sistemático e abrangente e de natureza filosófica, a Medicina Tradicional Chinesa inclui entre seus princípios: o estudo da relação de yin/yang, da teoria dos cinco ele­ mentos e do sistema de circulação da ener­ gia pelos meridianos do corpo humano. As técnicas aplicadas na MTC tem como base o conceito das leis fundamentais que gerem o funcionamento do organismo humano e sua interação com o ambiente, segundo os ciclos da natureza, procurando aplicar esta compreensão tanto ao tratamento das doenças, quanto à manutenção da saúde. As terapias da MTC atuam preservando e regulando os sistemas internos, melho­ rando a qualidade de vida dos indivíduos e prevenindo doenças. Essas técnicas são bastante indicadas às pessoas da terceira

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Resultados: melhoria do sono, da depressão e das dores em geral idade pelos benefícios relatados. Os alunos envolvidos no projeto, obri­ gatoriamente, têm que cursar as disciplinas de Fundamentos da Acupuntura e Acupun­ tura Avançada e Terapias Alternativas e, também, participam de cursos de capacita­ ção com técnicas da MTC, que funcionam como uma forma de habilitar os discentes para o atendimento adequado aos idosos. Segundo a professora Lúcia Amorim, a MTC não tem contraindicação e propor­ ciona resultados imediatos e eficazes em seus tratamentos, além de não ter custos altos para utilização. Entre os resultados mais observados nos idosos atendidos com as terapias orientais no LAE está a melhoria no sono, dos sintomas de depressão, da dis­ posição e das dores de uma maneira geral.

O LAE é uma entidade filantrópica com mais de 20 anos de atuação. Fica localizado no conjunto Pirangi, zona sul de Natal-RN, e tem capacidade para 40 pessoas, abrigando atualmente 36 idosos. Os anciãos, a partir dos 60 anos, são levados ao local pela família ou encaminhados pelo SOS Idoso, onde uma triagem é feita e há um período de três meses de adaptação. Muitos dos internos têm problemas de saúde, como mal de Parkinson, de Alzheimer, hipertensão, diabetes e problemas de visão. No abrigo, os idosos são tratados por uma equipe multiprofissional que inclui cuidadoras, profissionais da área de enfermagem, nutricionista, assistente social, entre outros profissionais.

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NUT-SECA

Núcleo da UFRN guarda maior acervo do Norte e do Nordeste sobre a seca Fotos: Anastácia Vaz

Por Juliana Holanda

“N

ão restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordes­ tino morrerá de fome”, afir­ mou o imperador Dom Pedro II no século XIX. A frase foi cunhada após o período que ficou conhecido como “A Grande Seca” (1877- 1879), responsável pela morte de 600 mil pessoas no Nordeste do Brasil. A declaração do imperador, no en­ tanto, não seria suficiente para resolver o problema em anos futuros. Com relatos desde o século XVI, o fenômeno continua atingindo a região: em 2013, a estiagem foi considerada a pior dos últimos 50 anos, gerando es­ tragos na economia do país e na vida de milhares de pessoas. Apesar da problemática ter um desdo­ bramento em áreas sociais, econômicas e políticas, “o tema é pouco estudado”, res­ salta a diretora do Núcleo Temático da Seca e do Semiárido (NUT-Seca), Mônica Marques Carvalho, que coordena o setor desde 2007, com o auxílio da vice-diretora Renata Passos Filgueira de Carvalho. Criado em 1992, na Universidade Fe­ deral do Rio Grande do Norte (UFRN), o NUT-Seca foi uma iniciativa pioneira no Nordeste e reúne características de biblio­ teca, de acervo e de museu, além de trabal­ har com arquivos tridimensionais e digita­ lização de informações. Mônica Carvalho explica que prati­ camente inexistem centros de documen­ tação em universidades federais que se dediquem a disseminar e guardar infor­ mação sobre a temática. “Nós somos um

Mônica Marques Carvalho - A seca é uma temática pouco estudada dos poucos núcleos que se dedicam ao tema no país. O impacto é muito positivo para o Rio Grande do Norte porque nós promovemos a socialização de informa­ ções sobre a seca e isso pode gerar ideias mais bem elaboradas para combater o problema”, analisa. As pesquisas que deram origem ao Nú­ cleo começaram a ser realizadas na década de 1980. Após mais de trinta anos de co­ leta e produção de dados, hoje o NUT-Seca possui o maior acervo do Norte e do Nor­ deste sobre seca, semiárido e assuntos afins. Digitalização Localizado no Centro de Convivência do campus central da UFRN, o Núcleo é

um local de consulta para estudantes, pes­ quisadores e interessados no tema. “Todo o acervo fica disponível para o público”, informa a diretora. Para ampliar o acesso, o material está sendo digitalizado. O processo teve início em 2007, quando foi criado o laboratório de Tecnologia da Informação do Núcleo, após parceria com a Agência Brasileira de Inovação (FINEP). Cerca de 30% de todo o acervo já está disponível para pesquisa online no site do NUT-Seca (www.nut­ seca.ufrn.br). Dois projetos receberam financiamen­ to do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), um deles sobre a Carnaúba, árvore carac­ terística do semiárido. O BNB identificou

que o NUT-Seca possui o maior arquivo do país sobre a planta e, há um ano, o Núcleo organiza e digitaliza informações específicas sobre a árvore. “Foi um reco­ nhecimento importante para a UFRN e, em breve, todo o material referente à Car­ naúba estará disponível em nosso site”, ex­ plica Mônica Carvalho. A digitalização do acervo é realizada de forma especial: a equipe trabalha com a “in­ dexação” das palavras, método que facilita a recuperação de dados no futuro. “É um tra­ balho mais minucioso”, destaca a diretora. Acervo Pioneira na região em formar um centro de documentação sobre a seca, a UFRN possui um arquivo diversificado. São livros, artigos de periódicos, fotogra­ fias, dissertações, DVDs, fitas cassete, fitas de vídeo, mapas, cera e papel de Carnaúba e uma coleção de peixes da Lagoa do Piató, localizada no Vale do Assu. Além dos dados sobre a seca no Brasil e no Rio Grande do Norte, há uma seção sobre estudiosos do tema e outra com tudo o que é publicado na mídia sobre o assunto. “A Hemeroteca da Seca mostra um panorama nacional e internacional”, explica o pesquisador do Núcleo, Márcio Carvalho de Brito. O NUT-Seca está aberto das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira. Não é necessário agendar a ida ao local, mas quem quiser adiantar a pesquisa pode ligar antes da visita para o número (84) 3215-3462, in­ dicando o tema de interesse para que a equipe separe o material antecipadamente. O arquivo físico pode ser copiado e quem utilizar o acervo digital pode guardar as informações em dispositivos móveis.

Para ampliar acesso, acervo do NUT-Seca está sendo digitalizado

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SAÚDE

Pesquisa estuda como os ruídos comprom Fotos: Wallacy Medeiros

Por Ingrid Dantas

É

comum haver muito barulho nos lo­ cais onde há muitas crianças. Tam­ bém é comum, ao se analisar mais detalhadamente esses ambientes, verifi­ car que o excesso de ruído pode causar prejuízo à saúde e ao aprendizado delas. “A criança é prejudicada por causa do ambiente auditivo muito hostil”. A afirma­ ção é da professora do Departamento de Fonoaudiologia (DEPFONO) da Univer­ sidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Joseli Soares Brazorotto, e diz respeito aos vários ambientes em que é exposta, particularmente, ao ambiente es­ colar. Para tentar identificar problemas que atingem as crianças em fase escolar o DEPFONO colocou em prática uma pes­ quisa denominada Programa de Saúde Auditiva do Escolar: etapa de identifica­ ção, diagnóstico e acompanhamento, co­ ordenado pela professora Sheila Andreoli Balen. Segundo ela, como não há um pro­ cedimento padrão a ser aplicado em todo o Brasil, o projeto também objetiva criar um protocolo eficaz e de fácil aplicação para tal finalidade. Para tanto, a equipe desenvolveu e está testando o Sistema de Triagem Auditiva em Crianças (SISTAC), um programa de­ senvolvido para iPad, que permite uma avaliação mais rápida e com baixo custo.

Para a professora Joseli Soares Brazorotto, do Departamento de Fonoaudiologia, ambiente auditivo hostil prejudica as crianças Em geral, os testes de audição são realiza­ dos por meio de audiômetro, equipamento que pode custar até R$ 20 mil a unidade, o que, segundo os pesquisadores, torna in­ viável disponibilizar para cada escola ou grupo de pesquisa. O professor Selan Rodrigues dos San­ tos, do Departamento de Informática e Matemática Aplicada (DIMAP), coorde­

nador da equipe que desenvolveu o SIS­ TAC, diz que pretende adaptar a platafor­ ma para que funcione em qualquer tablet e não só no iPad. Segundo explicou, se o programa mostrar que é tão eficaz quanto o audiômetro, os custos serão reduzidos. SISTAC O aplicativo desenvolvido pela equipe

de pesquisadores, o SISTAC, permite uma avaliação audiológica nas crianças da Esco­ la Juvenal Lamartine de forma lúdica e in­ terativa. Durante o exame, o aplicativo em forma de vídeo conta a história de um tatu chamado Bolota, sua família e seus amigos. Bolota precisa recolher pedaços de sua ar­ madura para poder andar no subsolo. Antes de o tatu seguir seu destino, o

Testes auditivos com alunos da Escola Juvenal Lamartine

Aplicativo SISTAC: exemplo de medicina lúdica e interativa

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metem audição e aprendizado na infância sistema emite pequenos sons, em diferen­ tes frequências, para que a criança identi­ fique a presença ou ausência deles. Desta forma, todos os comandos são ativados por ela, tornando o procedimento diver­ tido e mais parecido com um jogo, com uma brincadeira. Ao iniciar o procedimento, o pai do Bolota aparece na tela e conversa com a criança, explicando como tudo vai fun­ cionar. Ao final, dois tatus aparecem e a escolha é feita quanto à escuta do som: se ouviu alguma coisa o aluno aperta no tatu que faz gesto afirmativo com a cabeça, se não ouviu, toca no que faz gesto negativo. Atendimento junto à rede municipal Desenvolvido junto à Escola Munici­ pal Juvenal Lamartine, em Natal, o Pro­ grama de Saúde Auditiva do Escolar: etapa de identificação, diagnóstico e acompan­ hamento, avalia a acuidade auditiva das crianças desde 2011, quando passou a fun­ cionar como polo de pesquisa e aplicação de diferentes procedimentos, num mesmo grupo de alunos, para testar os que são mais eficazes. “O intuito é desenvolver um procedimento de triagem auditiva para o escolar que possa se adequar ao programa Saúde do Escolar, proposto pelo Ministé­ rio da Saúde em parceria com o Ministério da Educação”, diz a professora Sheila An­ dreoli Balen . Para que o SISTAC seja considerado eficaz, o projeto precisa aplicar outros ti­

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pos de sistemas de triagem auditiva, de modo que possa comparar os resultados obtidos nos procedimentos convencionais com os do novo sistema. Durante a aval­ iação são aplicados, além do SISTAC, os seguintes protocolos: Emissões Otoacústi­ cas, Audiometria Pediátrica, Questionário, Imitância Acústica, Audiometria Tonal e Logoaudiometria. Os resultados obtidos no ano passado mostram que das 70 crianças avaliadas na escola, 24,28% apresentaram alterações auditivas. O percentual é quase o dobro da média dos estudos nacionais, que é de 14%. Segundo a professora Sheila Andreo­ li, a maior parte das alterações registradas são decorrentes de infecção no ouvido, o que poderia ser tratada facilmente, se de­ tectado de forma precoce. Para a professora do DEPFONO Joseli Brazorotto, os altos níveis de ruído no am­ biente escolar podem causar danos mui­ tas vezes irreversíveis. “Mesmo que a ex­ posição seja temporária já causa prejuízo para a aquisição da linguagem da criança, porque por um período, mesmo que seja curto, ela não vai ouvir”, diz. Além dos ris­ cos para perda de audição, o ruído pode causar prejuízo na fala e na aprendizagem. A triagem é aplicada em crianças assintomáticas e feita de forma a identifi­ car as perdas leves ou moderadas, pois são mais difíceis de detectar. Teoricamente, as severas e profundas são identificadas mais rapidamente devido aos sintomas serem mais visíveis – como falta de atenção e

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de resposta a estímulos básicos, como re­ sponder quando chamado pelo nome. Todos os alunos avaliados são en­ caminhados para tratamento adequado com profissionais de Fonoaudiologia e Otorrinolaringologia, de acordo com a ne­ cessidade verificada. Além da avaliação audiológica realiza­ da nas crianças, a equipe também analisa as condições ambientais e os níveis de ba­ rulho presente dentro das salas de aula. A estrutura e localização da escola po­ dem contribuir para o aumento do nível de ruído interno, interferindo na atenção e na aprendizagem, além de prejudicar a audição dos alunos e a voz dos professores. A professora Joseli Brazorotto explica que todos os fatores ruidosos acarretam um efeito cascata que foge ao controle. O ambiente desfavorável acusticamente leva o aluno ao stress e a não prestar atenção, e leva o professor a falar mais alto pra se fazer escutar, o que pode gerar problemas com a voz. Interdisciplinaridade A diversidade de abordagens do proje­ to Programa de Saúde Auditiva do Escolar implica num trabalho coletivo que conta com o trabalho e colaboração de pesqui­ sadores e alunos de diversas áreas. A par­ ceria para desenvolvimento das atividades envolve o DEPFONO, DIMAP, Programa de Pós-Graduação em Sistema e Com­ putação (PPGSC), Instituto do Cérebro (ICe) e Departamento de Artes (DEART).

Tudo começa com a análise sócio­ econômica. Para compreender melhor a realidade das crianças e das famílias que participam do projeto, a equipe aplica um questionário junto aos pais, onde obtêm informações que vão desde a renda famili­ ar até a percepção ou não de que a criança apresenta dificuldades auditivas. Os pais também preenchem uma ficha e assinam um termo de consentimento, autorizando os filhos a fazerem os testes. Após o consentimento dos pais, o primeiro exame realizado nas crianças é a otoscopia. No projeto, a responsável por realizar esse procedimento é a estudante do 8º período de Medicina Acynelly Daf­ ne da Silva Nunes. A função desse exame é verificar o conduto auditivo, avaliando a integridade da membrana e perviabilidade do canal auditivo. “Hoje, a gente viu uma criança com um corpo estranho no ouvido. Isso não é coisa que geralmente chega no hospital pra gente ver, porque isso é resolvi­ do em outros níveis. Então é sempre uma experiência nova”, conclui a estudante. Acynelly Nunes diz que a experiência de participar do projeto é muito especial e gratificante, pois além de contribuir com as pesquisas através do atendimento às cri­ anças, ela pode crescer em sua formação. “Hoje é muito importante essa questão da interdisciplinaridade, das diferentes pro­ fissões saberem conviver entre si e cada um respeitar o seu espaço e as suas com­ petências. Todo mundo se unir pra fazer o seu melhor e ajudar o paciente”, afirma.


PREVENÇÃO

Pesquisadores articulam criação de centro de estudos interdisciplinar sobre desastres

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enhuma ciência sozinha é competente para tratar de algo tão complexo”. É ao fenômeno dos desastres que se refere, sem hesitar, o professor Pitágoras Bindé, docente do De­ partamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Isolados, os saberes não fazem nada para resolver o problema”, assegura. Cientes da questão, pesquisadores da Universidade querem propor a criação do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desas­ tres (CEPED), projeto que pretende reunir cientistas de diversas áreas do conheci­ mento para desenvolver investigações sobre a temática na UFRN, assim como oferecer suporte técnico às instituições públicas que atuam em situações de catástrofes, como a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e o Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Coordenador da iniciativa e professor do Departamento de Geografia, Lutiane Almei­ da explica que o projeto tem sido conversado com a Reitoria e as defesas civis Estadual e Nacional. A ideia é estabelecer um convênio de cooperação entre a Universidade e os ser­ viços de emergência. O acordo formal deve ser firmado durante o 1º Seminário Multi­ disciplinar sobre Desastres, a ser realizado nos dias 4 e 5 de novembro deste ano. Desde 2011, Lutiane coordena na UFRN o Grupo de Pesquisa Dinâmicas Ambientais, Riscos e Ordenamento Territorial (GEORIS­ CO), no qual são desenvolvidos estudos que examinam as relações entre a transforma­ ção do ambiente e as fragilidades sociais no Rio Grande do Norte. O mapeamento das regiões vulneráveis de Natal e a proposta de instalação de um sistema de alerta de risco na cidade são exemplos de análises conduzi­ das dentro do Grupo. As pesquisas se dispõem a avaliar peri­ gos para comunidades, apontar onde há ocorrência dos fenômenos e relacioná-los com fatores sociais e naturais. “Os primei­ ros resultados de um de nossos estudos in­

dicam que há coincidência entre os desas­ tres e áreas com falta de serviços urbanos”, relata Lutiane. Interdisciplinaridade No Rio Grande do Norte são registra­ dos variados tipos de riscos naturais: afoga­ mentos nas praias do litoral, deslizamento de barreiras, escorregamento de dunas, ter­ remotos na região da Baixa Verde, inunda­ ções no Vale do Assu e a estiagem na região semiárida são exemplos. Há também peri­ gos provocados pela ação humana, como os decorrentes do trânsito e das grandes aglo­ merações de pessoas, sobretudo na capital. A necessidade de interação entre os sa­ beres para abordar tema tão amplo é con­ senso entre os professores. “Quando a gente fala de risco, estamos falando de interdisci­ plinaridade”, afirma Ermínio Fernandes, do Departamento de Geografia. “As áreas têm que sentar juntas, entender o fenômeno e buscar possíveis soluções. Não tem como ser diferente”, sustenta o docente, que também colabora com o GEORISCO. Ermínio explica que sua contribuição para as pesquisas sobre catástrofes é en­ tender o fenômeno do ponto de vista técni­ co, ao examinar as características físicas do solo. “Estudamos questões como ‘que parâ­ metros uma duna tem que ter para começar a escorregar’, ‘qual a carga que ela suporta de peso’ ou ‘quanto tempo leva para deslocarse’”, exemplifica. Segundo o professor, a Geografia tem participação relevante no estudo dos perigos por observar os mecanismos da natureza e, ao mesmo tempo, oferecer respostas às fragi­ lidades sociais nas comunidades. “Nossa dis­ ciplina é um leque de contribuições porque tem um grande arcabouço teórico-me­ todológico de pesquisa nesses temas. Agora, claro que a gente não é suficiente”, ressalva. Para Ermínio, a Universidade deve sem­ pre manter contato com entidades públicas que atuem em situações de desastres. “Elas precisam saber quais são as áreas vulneráveis e quais os riscos que cada uma apresenta. Alguns lugares carecem de estudos mais de­ talhados, tanto do ponto de vista socioam­

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biental quanto geo­ morfológico, para dar base ao trabalho dos órgãos respon­ sáveis”, diz. Serviços de emergência Ricardo Matos, do Departamento de Engenharia de Produção, aponta para outro aspecto do problema. O professor explica que embora haja al­ guma interlocução entre os sistemas públicos de resposta a emergências, as atividades poderiam ser mais bem organizadas. “Os serviços de emergência no País pre­ cisam de um trabalho de aglutinação, um trabalho coordenado”, defende. “É impor­ tante definir quais os limites de atuação de cada um e de que maneira eles podem atuar juntos, inclusive fazendo treinamentos de ação mútua para cenários determinados”, afirma Ricardo. De acordo com o pesquisador, desastres são fenômenos complexos, que precisam de uma abordagem conjunta para serem com­ preendidos. “É algo que não cabe em uma única disciplina e que diz respeito a todo ci­ dadão. Por isso nossa proposta é reunir pes­ soas interessadas em desencadear investiga­ ções sobre o assunto”, pontua. O docente entende que é necessário pro­ mover uma “maturidade” nas organizações de maneira que elas possam dar respostas eficientes às situações críticas. Formas de trabalhar em equipe, ferramentas que facili­ tem o raciocínio dos atores envolvidos e pro­ cessos que diminuam a fadiga e os erros são exemplos de elementos a serem estudados. Ricardo lembra que a colaboração da Universidade não deve resumir-se à pes­ quisa. “Esse Centro de Estudos terá também o papel de desenvolver atividades de exten­ são junto à sociedade e formar pessoas para atuar na área de desastres”, diz. Wallacy Medeiros

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“A ideia é estabelecer um convênio de cooperação entre a Universidade e os serviços de emergência“ Lutiane Almeida Coordenador do GEORISCO

Pessoas Pitágoras Bindé, do Departamento de Psicologia, explica que sua área preocupa-se com o componente humano das catástrofes, ao ocupar-se de vítimas e co-autores dos acontecimentos extremos, além de pessoas que atuem diretamente com os riscos. O professor esclarece que a contribuição da Psicologia acontece em três momentos: na prevenção dos desastres, no combate ao problema e na reparação de possíveis danos psicológicos ocasionados pelos eventos. Como exemplo de trabalho desenvolvido, Pitágoras cita a avaliação de planos de evacu­ ação, quando pesquisadores confrontam os perfis de comportamentos previstos nos docu­ mentos com relatos e gravações de casos reais. Segundo o docente, projetos de emergên­ cia normalmente presumem que as pessoas irão agir de um modo determinado nos mo­ mentos de perigo, mas nem sempre esses com­ portamentos se confirmarão. “Se você pegar qualquer plano desses, a primeira diretriz é ‘não entre em pânico’. Mas o que a gente verifi­ ca, na prática, é exatamente o contrário”, relata. Sobre o CEPED, Pitágoras vê na iniciativa a adoção, pela UFRN, de um compromisso institucional. “Queremos que o esforço deixe de ser dos professores individualmente e a Universidade, como instituição, passe a de­ senvolver estudos e a disponibilizar pessoas de todas as áreas para ajudar nas atividades dos órgãos públicos”, ressalta o professor.


INTERIOR

Brinquedoteca auxilia recuperação de crianças

em complexo hospitalar de Currais Novos Por Juliana Holanda

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ma crise de apendicite levou An­ tônio Luiz Dantas, de 11 anos, ao hospital. Um dia após passar pela cirurgia de remoção do apêndice, o garoto estava se divertindo na brinquedoteca do local. “Estou gostando daqui porque posso brincar. Na cama eu iria ficar só sentindo dor. Agora já parou de doer”, contou An­ tônio sorrindo, enquanto ganhava uma partida de um jogo de tabuleiro. Preocupados com a recuperação do garoto, os pais acompanhavam o filho de perto. “Só o fato de poder sair da en­ fermaria e vir brincar já mudou o ânimo dele. Ele estava inquieto e com dor e agora está mais tranquilo. Acho que esqueceu um pouco de onde está”, afirmou o pai da criança, Ivan Dantas de Souza. A brinquedoteca funciona no centro onde estão localizados o Hospital Regio­ nal Dr. Mariano Coelho, a Fundação Hos­ pitalar Padre João Maria e a Maternidade Ananília Regina, em Currais Novos. O local é um núcleo de referência regional e atende a pacientes de todo o Seridó. Chefe do serviço de humanização do complexo hospitalar, Benigna da Silva

explica que o espaço estava fechado por falta de profissionais, mas foi reaberto em 2012, por meio de uma parceria com o curso de Turismo do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) de Currais Novos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Tornar a brinquedoteca ativa era um antigo sonho dos funcionários do hospital. “É visível o efeito que esse espaço tem no tratamento das crianças. Elas ficam mais abertas às terapias e a recuperação é mais rápida”, avalia Benigna da Silva. Coordenadora da inciativa, a professora do CERES Currais Novos, Josemery Araújo Alves enfatiza o aspecto social do projeto Os Turismólogos e as Atividades de Lazer no âmbito da Brinquedoteca Hospitalar. “Proporcionamos a prática para os alunos e, também, incentivamos o contato com ações sociais, ajudando na recuperação de crianças. A experiência está sendo rica para todos”, analisa a coordenadora. A brinquedoteca funciona todos os dias da semana com alunos voluntários e bolsistas do curso de Turismo do CE­ RES Currais Novos. A cada ano, cerca de 30 estudantes participam de um curso de capacitação de brinquedistas em ambien­ tes hospitalares, promovido pela própria Universidade. A partir da formação, eles se tornam voluntários do projeto, que também funciona como experiência pro­ fissional na área de recreação. “Alguns alunos gostam tanto das ativi­ dades que não querem parar de ajudar”, ressalta Josemery Alves. É o caso da estudante Karine Álvares da Silva. Há um ano no projeto, a aluna entrou como voluntária, agora é bolsista e diz que pretende permanecer

Fotos: Wallacy Medeiros

Professora Josemery Alves espera que a iniciativa inspire outros hospitais até terminar a graduação. Karine explica os cuidados que os brinquedistas têm no hospital. De início, vêem quantas crianças estão internadas, abordam cada uma nos leitos e verifi­ cam se podem ir para o espaço brincar. Os voluntários fazem a higienização dos brinquedos e das mãos dos pequenos, participam das brincadeiras e os levam de volta ao leito, fazendo nova higienização do material utilizado antes de guardá-lo. “Em alguns casos, os que não podem ir até à brinquedoteca são atendidos na própria enfermaria”, destaca Karine Silva.

Pacientes que não podem ir à Brinquedoteca são atendidos nas enfermarias

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A futura turismóloga diz se sentir feliz por participar de um projeto que contri­ bui diretamente na recuperação das cri­ anças. “É muito gratificante poder ajudar alguém”, ressalta Karine. Entusiasmada com os resultados obti­ dos pela brinquedoteca, a coordenadora Josemery Alves espera que a iniciativa estimule outros hospitais a adotar a ideia, ampliando o campo de atuação profissio­ nal dos turismólogos. Doações Além do trabalho com as crianças no hospital, a equipe de voluntários tam­ bém realiza campanhas de arrecadação de brinquedos. As datas principais de doação são o Dia das Crianças e o Natal, mas os donativos podem ser entregues em qualquer época do ano. “Quando a gente começou o traba­ lho, o espaço estava muito defasado e os brinquedos não atendiam às exigências de um ambiente hospitalar”, relembra Jose­ mery Alves. Os moradores de Currais No­ vos responderam às solicitações do grupo e contribuíram formando o estoque atual. A professora explica que a defasagem ainda é grande porque o uso dos brinque­ dos é intenso, fazendo com que eles pre­ cisem ser renovados constantemente. “Às vezes, a criança está tão triste que deixa­ mos que ela vá com o brinquedo para o quarto e, nesse processo, alguns acabam levando as peças para casa. Por isso esta­ mos sempre em campanha”, relata. Quem tiver interesse em ajudar o pro­ jeto pode doar brinquedos diretamente para o hospital de Currais Novos ou entrar em contato com a coordenadora pelo email: josemeryalves@hotmail.com.


NEUROCIÊNCIA

Vigilante de sonhos: médico estuda tratamento para quem sonha acordado Por Emili A. Rossetti

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er o que não está lá, ouvir uma voz que ninguém emitiu, entrar numa história impossível sem perceber que não pode ser verdade: talvez esse seja um caso de alucinação, ou, se estivermos dormindo, um sonho. Essas características são ainda mais presentes durante os pe­ sadelos, quando as histórias são até mais improváveis e, mesmo assim, não nos da­ mos conta de que é apenas imaginação. Mas há uma exceção para essa fuga da realidade: os sonhos lúcidos, também conhecidos no meio cientí­ fico pela sigla SL. O sonho lúcido

ocorre quando a pessoa que dorme percebe que não está acordada. Sérgio Arturo Rolim, médico do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estuda o sono há cerca de 13 anos, e desde 2007 pes­ quisa esse “tipo especial de sonho”. Os primeiros resultados apontam para aplicações clínicas do trabalho, o que poderá auxiliar no tratamento de pessoas com pesadelos recorrentes. O problema é comum em pacientes com depressão grave, esquizofrenia, surtos psicóticos ou que estejam sob grande estresse póstraumático. Isso porque “o sonho lúcido é o contrário da psicose: esta é patológica e o sonho lúcido é fisiológico. É como um acordar no sonho, enquanto a psicose é um sonho durante a vigília”, explica Rolim. Sem sucesso na indução de SL em vo­ luntários psicologicamente saudáveis, que era seu primeiro objetivo de pesquisa, o médico passou a observar a atividade cerebral de pessoas que os têm com maior frequência. Para isso, foi utiliza­ do o método de Laberge, no qual uma espécie de touca com eletrodos super­ ficiais é utilizada por voluntários, que sinalizam com o movimento dos olhos quando entram em sonho lúcido e, as­ sim, as ondas cerebrais emitidas du­ rante o SL são comparadas àquelas de antes e depois do evento. “O sonho acontece durante o sono REM (sigla inglesa para Movimento Rápido dos Olhos), fase de relaxa­ mento dos músculos”, explica o neu­ rocientista sobre o método. Se os músculos não perdessem o tônus, nos mexeríamos conforme o que estivéssemos sonhando, já que estaríamos mentalmente vi­ venciando os fatos. “Mas os músculos dos olhos não re­ laxam”, continua o médico, o que permite que os vo­ luntários possam usá-los para sinalizar ao cientista que começaram a ter um sonho lúcido. Além das observações feitas nos labo­ ratórios do Instituto do Cérebro (ICe) da UFRN, Rolim teve colaboração de pesquisadores alemães, que lhe enviaram resultados de exames para análises. As observações realizadas levaram a encontrar características curiosas que opõem a psicose e o sonho lúcido: no primeiro caso, ocorre uma significante diminuição da atividade cerebral na parte

Fotos: Wallacy Medeiros

Sérgio Arturo Rolim, médico do HUOL, estuda o sonho lúcido desde 2007 frontal do cérebro, aquela que se associa à tomada de decisão e à autoconsciência, incluindo, por exemplo, movimentos vo­ luntários e o reconhecimento do seu nome quando o estão chamando. Quando aluci­ nado, por sua vez, o cérebro tem uma hi­ perfrontalização. “Os psicóticos de longa data têm pouca atividade no lobo frontal, e as pessoas saudáveis também são assim durante o REM, a não ser quando estão tendo um sonho lúcido”, conta o médico. Ainda durante a pesquisa, a equipe de neurocientistas composta por Sérgio Ro­ lim, Sidarta Ribeiro (orientador) e John Fontenele (co-orientador), todos pesqui­ sadores da UFRN, perceberam a carência de trabalhos sobre os hábitos de sonho na América Latina, incluindo o Brasil. Assim, mesmo utilizando resultados de exames de eletroencefalograma para suas análises, com o intuito de ter um resultado menos dependente de relatos, os pesquisadores criaram, aplicaram e publicaram o primei­ ro estudo sobre sonhos na América Latina, no ano de 2011. O sonho do brasileiro Investigações sobre sonhos lúcidos por muito tempo foram baseadas em des­ crições feitas por voluntários, que res­ pondiam a questionários sobre seu sono. No entanto, os dados utilizados eram de populações dos Estados Unidos e Europa: “não há estudos do tipo sobre sonhos na América Latina”, aponta o pesquisador. Interessado em saber mais sobre o as­

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sunto, Rolim elaborou o primeiro ques­ tionário latino-americano sobre o sonho, que foi enviado a milhares de pessoas pela internet: “simples, barato e sem necessidade de equipamentos complexos”, diz. As 20 perguntas feitas abordavam, por exemplo, a frequência com que ocorriam, lúcidos ou não, se eram coloridos ou em preto e bran­ co, quais os temas e o que aparece neles. Mais de quatro mil respostas foram recebidas, o que ofereceu ao estudioso a possibilidade de apurar, por exemplo, que o estímulo que mais invade os sonhos é o auditivo – como quando o desperta­ dor toca e o barulho passa a fazer parte da imaginação durante o sono – e que a maioria das pessoas já teve entre um e dez SL, mas que, embora frequentes, não ten­ dem a ser recorrentes. Ainda assim, “al­ gumas pessoas até acham que os sonhos lúcidos são o normal”, comenta o médico sobre os resultados. Os respondentes que relataram mais frequência de SL dizem que adormecer pensando em tê-los favorece o evento. O segundo maior motivo para acontecerem é o estresse. Uma explicação, segundo o médico, é que, embora tenhamos muitos sonhos durante a noite, só lembramos daqueles que são interrompidos porque acordamos. Embora ainda seja um estudo em andamento, “uma hipótese para o so­ nho lúcido é de que ele seja uma transição entre o sono e a vigília”, diz Rolim, já que é possível sonhar e, ainda assim, estar “acor­ dado” ao longo do evento.


entrevista

“A criatividade precisa ser enfocada para que tenhamos consciência do nosso potencial para enfrentar desafios” Marly Amarilha é doutora em Letras. Professora do Departamento de Fun-

damentos e Políticas da Educação (DFPE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Marly é coordenadora do 7º Seminário de Educação e Leitura (SEL), evento que traz como tema “Desafios e Criatividade”. O Seminário acontece entre os dias 11 e 14 de novembro, em Natal, e reúne pesquisadores e estudantes de todo o Brasil. Em sua sala no terceiro andar do Centro de Educação, a docente recebeu a reporta-

Wallacy Medeiros

Por Luciano Galvão

Jornal da UFRN: O tema des­ta edição do SEL é “Desafios e Criatividade”. Qual a ligação desse assunto com a educação e a leitura? Amarilha: A ligação é seminal. A educação apresenta enormes desafios para sua plena re­ alização e para atingir suas metas, que vão desde incluir todos os brasileiros na escola a oferecer oportunidades de leitura de qualidade. Nessa interface educação e leitura, que nós sempre tra­ balhamos, nos deparamos com grandes desafios: o de ter uma sociedade mobi­ lizada em torno da educação, ou ain­da o de sistemas de educação, principal­ mente públicos, que se deparam com dificuldades de qualificação dos pro­ fessores e de infraestrutura. Por exem­ plo, os governos dizem, por meio de novas leis, que até 2020 tem que haver bibliotecas em todas as escolas. Mas o que está sendo feito para que, quando chegue essa data, realmente se cumpra essa exigência legal? Quanto à criatividade, muitas vezes temos uma visão de que ela é privilégio de pessoas que nascem com o talento, e que a criatividade existe somente no campo das artes. Na verdade, ela é uma potência que todo ser humano tem para resolver problemas. Quando nos deparamos com dificuldades, para resolvê-las nós aciona­ mos a memória, os conhecimentos pré­ vios e os exemplos que a gente conhece. A criatividade precisa ser enfocada para que tenhamos consciência de todo o po­ tencial que nós temos para enfrentar os desafios, e para que tenhamos ferramen­ tas para criar soluções, tenhamos postura e atitude adequada. JUFRN: Qual a participação da Universidade, mais especificamente do Centro de Educação, no trabalho

Marly Amarilha, coordenadora do Seminário com os desafios da área? Amarilha: Penso que o Centro de Educação está muito engajado, por meio de seus grupos de pesquisa, no enfrentamento a esses diferentes de­ safios. Trabalhamos sempre com a lei­ tura, estamos nas escolas e existe oferta de capacitação de professores nas áreas de alfabetização, educação inclusiva e matemática. Diferentes grupos estão articulados com as problemáticas que a sociedade traz e que vão surgindo na sua própria dinâmica. Nosso evento é também uma convo­ cação para a sociedade discutir conos­ co os desafios e, sobretudo, conhecer mais sobre a criatividade. Queremos explorar este capital humano: o co­ nhe­cimento sobre como enfrentar os proble­mas. É esse o papel da Univer­

gem do Jornal da UFRN para conversar sobre os desafios do ensino no País, e acerca do uso da criatividade para a superação das dificuldades. Para Marly, a criatividade não deve ser entendida como um talento inato, mas trabalhada como um potencial que as pessoas têm para resolver problemas. Segundo a pesquisadora, tornar os professores conscientes dessa capacidade criativa é o primeiro passo para que eles possam utilizá-la contra os desafios que a sala de aula lhes apresenta todos os dias.

sidade, oferecer um fórum e convocar especialistas, pesquisadores, estudantes e a sociedade em geral para pensar so­ bre a temática. Nossa expectativa é que as pessoas, estando mais conscientes desse potencial, possam utilizá-lo. A criatividade é uma capacidade que te­ mos o tempo todo, mas às vezes nós nos acomodamos e não procuramos desco­ brir novos caminhos, experimentar ou arriscar outras atitudes. JUFRN: Dentre os temas do Seminário, está a educação para a sensibilidade, que será debatido pela senhora. Poderia falar-nos mais sobre o assunto? Amarilha: Às vezes nós adorme­ cemos a sensibilidade, que é também uma contribuição para o enfrentamento dos problemas. A poesia é um caminho, uma maneira criativa e diferente, que estimula o pensamento divergente. O leitor de poesia é colocado numa posição de descobridor das possibilidades da língua, e esse aprendizado também se transfere para o enfrentamento dos obs­ táculos que a vida apresenta. Nossa pesquisa trabalha a poesia na escola. Trabalhamos uma escola de Natal, da Rede Pública, com todas as dificuldades que pode-se encontrar: precariedade de infraestrutura, alunos com problemas de disciplina, alunos pouco motivados por terem problemas na família. Uma escola desafiadora. A educação para a sensibilidade, que entendemos ser possível imple­ mentar, quer oportunizar a esses alu­ nos, primeiro, contato com o livro, com a literatura, com a palavra na sua dimensão lúdica, na sua dimensão para percepção sensível, com a sonoridade, com o fato de olhar a palavra como se fosse um desenho. Após a leitura em sala de aula, a gente vai para o laboratório de infor­ mática. Lá eles postam as percepções deles em um fórum eletrônico, as im­ pressões sobre o livro que a gente lê aos poucos. Eles vão também dialogar com os colegas, comentar o que acharam, argumentar sobre se gostaram ou não. A atividade tem o lado de estimular as crianças a terem voz, a mostrarem a percepção sobre o texto. Nós enten­

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demos que esse é um aprendizado para a vida, que o alunos podem levar para outros momentos. Como resultados temos, primeiro, o envolvimento das crianças. Elas gostam do momento de ir para o laboratório de informática, onde têm protagonismo, porque vão postar o que pensam. O dife­ rencial nesse tipo de pesquisa é que as crianças são solicitadas a expressar sua opinão. Elas dizem que, às vezes, o pro­ fessor só diz “fique quieto, menino”, mas nessa aula elas são convidadas a partici­ par, a dizer o que acham do que ele leu. Isso é educação para a sensibili­ dade, para a cidadania, porque o aluno tem que ser responsável por aquilo que lê, e por aquilo que vai escrever. Ele tem que expressar seu pensamento de uma forma organizada, e é um mo­ mento estimulante. JUFRN: Quais as expectativas para o Seminário de Educação e Leitura? Amarilha: Teremos pesquisadores e professores vindos do Brasil inteiro e nossa expectativa é muito positiva. Muitas organizações agregaram-se ao projeto como a CAPES, o CNPq e o IFRN. O empresariado do estado apoiou a iniciativa, a Secretaria de Edu­ cação do Rio Grande do Norte favore­ ceu a vinda de seus professores. Isso mostra a liderança da UFRN no estado, e traz a expectativa de boas discussões e de uma efervescência criativa. Nossos minicursos serão também um momento de arejar a prática dos professo­ res que atuam no cotidiano: quanto mais a gente se informa, mais a gente alimenta a capacidade de ser criativo. Em contato com pesquisadores altamente qualifica­ dos, ganhamos bagagem para adaptar os conhecimentos às circustâncias e vislum­ brar caminhos. E a diversidade de temas que nós teremos nos minicursos é tam­ bém um ponto a ser ressaltado. Estamos muito felizes que a UFRN seja esse polo que agrega estudantes e pesqui­ sadores. Que eles venham seguindo a ins­ piração de Paulo Freire, de tornar o Rio Grande do Norte um lugar onde se estuda a leitura. Ele foi um modelo de professor que enfrentou desafios e é um ícone dessa situação de desafios e criatividade.


DANÇA

Parafolclórico: diversidade da cultura

brasileira inspira novo espetáculo da companhia Por Rozana Ferreira

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riano Suassuna afirma que “Diver­ sidade é riqueza”. Com essa frase é possível traduzir o que o Grupo Parafolclórico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) tem feito ao longo de seus 22 anos de existência: desta­ car a diversidade cultural brasileira. Essa ênfase está intimamente ligada à memória, uma vez que a disseminação das diferentes danças populares são fatores importantes para a preservação das tradições locais. Criado em 1991, o Grupo surgiu após uma mudança na grade curricular do curso de Educação Física, com a inserção da disciplina Folclore. Rita Luzia Santos, professora do Departamento de Educação Física (DEF) da UFRN e idealizadora da iniciativa, conta que os alunos começaram a demonstrar grande interesse pela cultura popular e que, a partir das várias descobe­ rtas, nasceu a ideia de criar um grupo que representasse as manifestações culturais do Nordeste. Inicialmente, foi trabalhada a releitura das danças folclóricas do Rio Grande do Norte. O Grupo é classificado como um pro­ jeto de extensão da UFRN, mas também, agrupa atividades de ensino e pesquisa, servindo como estágio supervisionado para os estudantes do curso de Educação Física. Um dos seus objetivos é pesqui­ sar as manifestações tradicionais do Bra­

sil e difundi-las por meio da linguagem própria da dança. Surgem assim novas releituras e outras formas de expressar a tradição popular. Famoso por fazer ressignificações de danças tradicionais, o Grupo participou de diversos festivais em vários estados do Brasil, tendo também reconhecimento in­ ternacional em passagens por países como Alemanha, Portugal, Espanha, China e Paraguai. Além disso, o Parafolclórico in­ terage com a comunidade, pois ultrapassa os muros da Universidade e gera con­ stantes trocas de experiências entre meio acadêmico, setores de produção cultural e com a população local. Para Rosie Marie Medeiros, diretora artística do Para­ folclórico, é importante para a Universidade trabalhar elementos populares por meio das danças. “Cos­ tumamos dizer que nos aproximamos do povo quando a cul­ tura é apresentada em diferentes con­ textos, já que não trabalhamos apenas a tradição do Rio Grande do Norte, mas de todo o País”. Quem faz A seleção para

participar do Grupo Parafolclórico acon­ tece uma vez ao ano, aberto à comunidade universitária e pessoas da comunidade em geral. Em média, 30 artistas compõem o elenco, incluindo a equipe de direção. A coordenação explica que existe uma certa rotatividade, o que ocorre quando os alu­ nos em alguns casos tem incompatibili­ dade entre os horários de aula e ensaios, que chegam a ter até 12 horas semanais. Neste ano, a coordenação conta que foi necessário realizar um processo seletivo extra para composição do elenco mascu­ lino. Segundo Rita Luzia, a composição masculina às vezes se torna difícil, pois segundo ela, ainda existe um certo pre­ conceito por parte dos homens em relação à dança. Rosie Marie está no Grupo há 12 anos e já desempen­ hou diversas funções nesse período. Foram sete anos como bailarina, um ano como assistente de di­ reção e quatro na di­ reção artística, posto que ocupa atualmente junto com Fátima Sena, pro­ fessora do Ballet Mu­ nicipal de Natal. Para a montagem de cada show são ne­ cessários, em mé­ dia, dois anos para ensaios, montagem

Wallacy Medeiros

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de figurino e cenário. Ainda assim, o Gru­ po mantém uma rotina de apresentações, conciliando com as demais atividades. Brasil com samba no pé O samba, além de ser o gênero musi­ cal mais popular no Brasil, é muito con­ hecido no exterior e está associado, assim como o futebol e o carnaval, ao nosso país. Esses foram requisitos motivadores para a pesquisa e escolha do estilo para compor o novo espetáculo do Parafol­ clórico, “Ensaiei o meu samba o ano in­ teiro. “Porque o samba faz parte do Brasil, não é só uma expressão do carioca, nem só do Rio de Janeiro, mas de todo o País”, completa Rita Luzia. Nessa nova atuação, o público vai conhecer a evolução histórica do samba desde suas origens como o lundu até a atu­ alidade. A apresentação não se limita ao samba-enredo, modalidade famosa pelos desfiles de carnaval, mas abrange todos os estilos em diferentes conjunturas. De origem africana, o termo samba tem seu significado ligado às danças típicas trib­ ais do continente, adaptados à realidade dos escravos brasileiros e, ao longo do tempo, sofreu inúmeras transformações de caráter social, econômico e musical até atingir as características conhecidas hoje. Um recorte desse espetáculo foi apre­ sentado na programação cultural da XIX CIENTEC - Semana de Ciência, Tecno­ logia e Cultura, neste mês de outubro, na Praça Cívica da UFRN.


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