Jornal da UFRN - Setembro de 2013 - Ano XV nº 65

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GRATUITA

ano XV | nº 65 | setembro de 2013 - distribuição gratuita

XIX Cientec Maior evento cultural e científico do RN acontece em outubro na Praça Cívica do Campus Páginas 6 e 7

Ciência

Educação

Esporte

Construção do Reator

Novas graduações no CERES

Pista de Atletismo recebe

Multipropósito Brasileiro está

Currais Novos são desafios do

visita técnica e competições

entre os grandes projetos do País

ensino superior no interior

dos Jogos da Juventude 2013

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COMUNICAÇÃO

Lei de Acesso à Informação amplia transparência no serviço público federal Por Juliana Holanda

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Lei de Acesso à Informação Públi­ ca está em pleno funcionamento na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A norma, insti­ tuída em 16 de maio de 2012, permite que qualquer cidadão obtenha dados de seu interesse sobre a UFRN de forma simples e rápida. A Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, é considerada uma vitória da so­ ciedade brasileira e um importante marco para a democracia do País. Por meio dela, as pessoas têm a liberdade para questionar e buscar informações sobre os órgãos pú­ blicos federais. “A gente tem que banir essa cultura do sigilo que o País ganhou com a Dita­ dura Militar. Às vezes, alguém pedia uma coisa simples, mas que os servi­ dores achavam que não deviam dar a resposta porque ficavam pensando no que a pessoa ia fazer com a informação. A gente tem que se livrar dessa cultura de passado e sigilo e partir para uma cultura de acesso”, defende o ouvidor da UFRN e coordenador da implemen­ tação do código na Universidade, Jo­ seleno Marques. A lei obriga cada instituição a criar o Serviço de Informação ao Cidadão (SIC), com estrutura física, instalação apropria­ da e servidor designado para responder às demandas da sociedade. Na UFRN, o SIC funciona na sede da Ouvidoria, que fica localizada no Centro de Convivência Djalma Marinho, sala 6. “Eu abracei essa lei porque acho que é um ganho muito grande para a sociedade brasileira, é um avanço democrático para o Estado brasileiro”, explica Joseleno Marques. “O cidadão precisa ter direito aos benefícios desse

acesso à informação. Cada um, em par­ ticular, tem o dever de colaborar com essa norma para combater males que existem no nosso país, como a corrup­ ção”, complementa. Quem tiver alguma pergunta a fazer sobre a UFRN pode enviar a questão pela internet, por meio do site: http://www. sistemas.ufrn.br/acessoainformacao/in­ stitucional/, ou preencher um formulário presencialmente, na sede do SIC, na Ou­ vidoria. Se disponíveis, as respostas são enviadas de imediato, quando há neces­ sidade de pesquisar dados, o prazo para o retorno é de 20 dias, prorrogáveis por mais dez dias.

Segundo Joseleno Marques a maioria dos questionamentos encaminhados à UFRN são curiosidades sobre gastos pú­ blicos, mesmo assim, a expectativa era de uma maior procura, “porque a participa­ ção é ampla para qualquer cidadão e as pessoas podem perguntar qualquer coisa sobre a Universidade”. Joseleno acredita que o fato de a UFRN disponibilizar várias informações importantes em seu site diminui os ques­ tionamentos por meio da lei. “A maioria dos pedidos são externos, porque, dentro da Universidade, as pessoas já sabem os caminhos para conseguir o que necessi­ tam”, relata.

Exceções A Lei de Acesso à Informação permite que os órgãos públicos federais classi­ fiquem certos dados como sigilosos. Atual­ mente, a UFRN possui uma comissão que está analisando o que entrará na lista de reservas. “Isso é um trabalho demorado e a gente precisa ter cautela, porque uma vez classificado como confidencial, nenhum cidadão tem o direito de saber sobre esse material por um período que varia de cinco a 50 anos, a depender do grau de importância do item”, ressalta Joseleno Marques. A previsão é de que a análise da UFRN seja concluída ainda no primeiro semestre de 2013. Anastácia Vaz

Serviço de Informação funciona na sede da Ouvidoria, no Centro de Convivência

EXPEDIENTE Reitora Ângela Maria Paiva Cruz Vice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes Superintendente de Comunicação José Zilmar Alves da Costa Diretor da Agência de Comunicação Francisco de Assis Duarte Guimarães Editora Enoleide Farias Jornalistas Antônio Farache, Cledna Bezerra, Enoleide Farias, Hellen Almeida, Juliana Holanda, Luciano Galvão, Marcos Neves Jr., Regina Célia Costa Fotógrafos Anastácia Vaz e Wallacy Medeiros Revisoras Regina Célia Costa e Karla Jisanny (bolsista) Capa Divulgação CIENTEC / Maurício Fontinele

Diagramação Setor de Artes/Comunica Bolsistas de Jornalismo Ana Clara Dantas, Auristela Oliveira, Catarina Freitas, Ingrid Dantas, João Paulo de Lima, Júnior Marinho, Kalianny Bezerra, Natália Lucas, Rozana Ferreira, Silvia Paulo, Thyara Dias Bolsista de Letras Karla Jisanny Arquivo Fotográfico Saulo Macedo (bolsista) Endereço Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970 Telefones (84) 3215-3116/3132 - Fax: (84) 3215-3115 E-mail boletim@agecom.ufrn.br – Home-page www.ufrn.br Impressão EDUFRN Tiragem 3.000 exemplares

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PREVENÇÃO

Alunos do DECOM participam de ações

de comunicação em Mãe Luiza Divulgação

Por Thaisa Mendonça/Enoleide Farias

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ultiplicar informações para a pre­ venção de Doenças Sexualmente Tramissíveis (DST) e AIDS. Com essa proposta, alunos do Departamento de Comunicação Social (DECOM) da Uni­ versidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) estão participando do Projeto Viva Mãe Luiza e desenvolvendo atividades na comunidade há mais de três anos. Tudo começou em 2010, atendendo uma demanda do Ministério da Saúde, por meio do Departamento Nacional de DST, AIDS e Hepatites Virais, para que fosse criado um projeto de prevenção a DST/ AIDS em comunidades onde o índice de doenças sexualmente transmissíveis fosse elevado. O bairro de Mãe Luiza, em Natal, foi escolhido para realização da atuação preventiva, e os alunos do DECOM pas­ saram a integrar o projeto, atuando na área de comunicação. Financiado pelo Fundo Nacional de Saúde e vinculado ao Núcleo de Estudo em Saúde Coletiva (NESC) da UFRN, o Viva Mãe Luiza é coordenado pelas professoras Susana Dantas e Michele Soltosky. As ações do projeto envolvem uma equipe multidis­ ciplinar que conta com profissionais da área da Saúde e da Comunicação. O professor do DECOM, Juciano Lacer­da, coordena a atuação dos estu­ dantes de Comunicação, três alunas bol­ sistas do curso de Jornalismo e outros que atuam como voluntários. As atividades incluem a produção de cartilhas infor­ mativas sobre temas relacionados à saúde sexual, elaboração de vídeos, fotografias e peças de teatro. A ideia é que a comuni­ dade se envolva e dissemine as informa­ ções aprendidas no projeto. O uso das mídias sociais também faci­ lita a divulgação das informações entre jo­ vens e adolescentes. Sendo assim, os alunos de Jornalismo são responsáveis pelo geren­ ciamento de mídias como blog, twitter, e facebook, alimentando-as constantemente. Para difusão das informações existem os “jovens multiplicadores”, que são estu­ dantes da comunidade de Mãe Luiza, na faixa etária entre 14 e 20 anos, que tam­ bém participam do projeto. Segundo a professora Michele Soltosky, “A proposta é passar para os meninos conteúdos rela­ cionados à saúde, à prevenção e à saúde sexual e reprodutiva e, além disso, toda a parte técnica voltada para a comuni­ cação, para desenvolver dispositivos que nós possamos usar. A gente vem mexendo

Jovens multiplicadores difundem informações na comunidade com esse potencial dos adolescentes e eles gostam e se envolvem muito”. Em virtude do projeto não ter sede própria, as oficinas são realizadas pelos es­ tudantes de Comunicação em algum espa­ ço social da comunidade, como paróquias, postos de saúde e na Casa do Bem, orga­ nização não governamental que cede es­ paço para os trabalhos. Anualmente o projeto realiza uma mostra de saúde e cultura com o tema “Prevenção de DST/AIDS”, e busca agregar expressões culturais da própria comuni­ dade às informações repassadas. Os testes de HIV disponibilizados são realizados por profissionais treinados da área da saúde, que explicam o procedimen­ to antes das intervenções. Se algum teste apresentar resultado positivo, a pessoa é encaminhada para uma unidade especia­ lizada. Se houver a confirmação do exame, a unidade de saúde do bairro informa o caso ao Serviço de Atendimento Especia­ lizado (SAE). Em Natal existe o SAE Zeca Passos que funciona no bairro da Ribeira, próximo ao colégio Salesiano. De acordo com Susana Dantas, co­ ordenadora do projeto Viva Mãe Luiza, é preciso diferenciar o portador do vírus

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HIV do paciente com AIDS. “O paciente com resultado de HIV positivo não quer dizer que ele tá doente. Ele é portador do vírus, mas a doença poderá ser desen­ volvida ou não, depois”. Segundo ela, não existe o acompanhamento do paciente portador do vírus porque Natal, o Rio Grande do Norte e a maior parte do país não notifica HIV, só notifica AIDS. Ness­ es casos, explica, “ a pessoa é orientada para no caso de qualquer sintomatolo­ gia, buscar o SAE, mas ele não fica sendo acompanhado por nós, pelo projeto”, es­ clareceu Susana. Comunicação com arte Para os alunos de Jornalismo, a maior dificuldade foi encontrar uma forma de comunicação que envolvesse os jovens da comunidade. A arte foi o meio encontrado para que os participantes do Viva Mãe Lui­ za pudessem interagir com os moradores da comunidade e um vídeo explicativo do projeto e das ações pretendidas foi produ­ zido, com a utilização do hip-hop, uma das formas de expressão cultural preferidas dos jovens da comunidade. O vídeo, com duração de um minuto foi elaborado pelos alunos de Comunicação

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da UFRN André Araújo, Ádria Siqueira, Diana Coelho e a estudante de pós-gradua­ ção Diolene Machado, sob a orientação do professor Juciano Lacerda. De acordo com Diana Coelho, “Esse vídeo foi filmado no primeiro semestre de 2012, porque quando a gente chegou à co­ munidade queria fazer esse grupo de mul­ tiplicadores”. Ela explica que mesmo procu­ rando nas escolas do bairro teve dificuldade de adesão, de encontrar pessoas que quises­ sem estar no projeto e divulgá-lo entre os jovens e adolescentes. Aí surgiu a ideia de utilização do hip-hop, já que em Mãe Luiza tem grupos de hip-hop. “Nós convidamos dois grupos de hip-hop de lá e, em parceria com eles a gente fez um videoclipe. A letra do videoclipe é falando sobre prevenção de DST/AIDS e, no final, eles convidam os adolescentes para integrar o projeto”. O vídeo, bastante divulgado em Mãe Luiza, foi inscrito em uma mostra na­ cional de curtas do Ministério da Saúde, realizada em agosto de 2012, cuja temáti­ ca foi DST e AIDS e foi classificado em segundo lugar. Neste ano os alunos irão inscrever o trabalho no Expocom, evento que premia trabalhos experimentais na área da Comunicação.


JUSTIÇA

NOTAS

Comissão da Verdade investiga atividades

de repressão durante o Regime Militar

Homenagem O servidor da UFRN Francisco de Assis Gomes, mais conhecido como Raul do Mamulengo, lotado na Superintendência de Comunicação, está entre os homenageados pela Câmara Municipal de Natal com a comenda Deífilo Gurgel, concedida a personalidades com reconhecida contribuição à arte e cultura em Natal e no Estado do Rio Grande do Norte.

Cícero Oliveira

Inclusão Tecnologia e Inclusão Social foi o tema da Aula Magna que marcou a abertura do semestre 2013.2 na UFRN. A conferência foi proferida pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Inclusão Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT&I) Oswaldo Baptista Duarte Filho, no dia 20 de setembro, no auditório da Reitoria. Astrofísica 1 Pesquisadores da UFRN e da USP anunciaram a descoberta da mais velha estrela gêmea do Sol já identificada, com 8,2 bilhões de anos, batizada de Hipparcos 102152, localizada na constelação de Capricórnio. Os professores José Dias do Nascimento e Matthieu Castro, do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE), fazem parte da equipe liderada pelo professor Jorge Melendez, da USP. Astrofísica 2 A descoberta da estrela Hipparcos 102152 levou os cientistas a solucionar um “mistério” que já durava 60 anos na astrofísica. Os pesquisadores anunciaram que a nova gêmea solar apresenta baixos níveis de lítio, e que tal fato demonstra, pela primeira vez, que astros mais velhos e semelhantes ao nosso Sol perdem esse elemento químico ao longo da vida. Parcerias Com o objetivo de estreitar ainda mais as relações e parcerias entre a Petrobras e a UFRN, representantes da empresa visitaram a UFRN para apresentação do projeto “Desafios Tecnológicos da Petrobras para 2030”. Na oportunidade, o representante da presidência da Petrobras, José Fantine, destacou a participação da UFRN nos projetos da empresa e sua contribuição para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte.

Números apontam que mais de 380 pessoas foram mortas ou desapareceram durante o governo militar Por Rafael Nicácio

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purar a grave violação aos direitos humanos no período de Regime Militar, quando houve muita per­ seguição e arbitrariedade contra membros da comunidade acadêmica - professores, servidores e estudantes – é o objetivo da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Presidida pelo professor aposentado do curso de Direito Carlos Roberto de Mi­ randa Gomes, a Comissão é formada por sete membros e conta com a colaboração de nove bolsistas dos cursos de História e de Direito da UFRN, que estão fazendo uma varredura nos arquivos de institutos e entidades locais. Segundo o presidente da comissão são muitas as dificuldades en­ contradas para analisar tais arquivos, pois os documentos encontram-se espalhados, mas afirma ele “o que já foi analisado é o suficiente para avaliar que houve forte re­ pressão na UFRN”, informa o professor. Essa Comissão é consequência de uma Lei sancionada em novembro de 2011, que instituiu a Comissão Nacio­ nal da Verdade, instalada oficialmente em maio de 2012. A partir de então foram criadas as comissões estaduais e em dezembro do mesmo ano, a Univer­ sidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) criou a sua, com o intuito de investigar os crimes sofridos durante o período da Ditadura Militar, por mem­ bros da comunidade acadêmica.

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Para esclarecer fatos e trazer à tona a verdade, a comissão trabalha em duas vertentes: busca de documentos e oitiva de pessoas. Com o direito de convocar, ainda que em caráter não obrigatório, a comissão convoca as vítimas ou acusa­ dos das violações para depoimentos, além de analisar todos os arquivos do poder público sobre o período. Outra questão abordada é a procura pelos documentos do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que foi criado na Ditadu­ ra e instaurado pelos militares no Brasil, com a função de manter o controle do ci­ dadão, vigiar as manifestações políticas e exercer o papel de órgão policial. “Houve muita perseguição, arbi­ trariedade e tortura psicológica dentro da nossa Universidade. Atitudes, que foram suficientes para alterar a diretriz de vida de cada um deles.” diz o profes­ sor Carlos Gomes. Segundo números reconhecidos ofi­ cialmente, mais de 280 pessoas foram mortas (muitas sob tortura) e mais de 100 desapareceram durante o governo militar. “Não houve prisões dentro da Universidade, porque o então reitor Dr. Onofre Lopes não permitia. Porém, há relatos de violência. Embora não tenha registro de violência física”, argumentou o professor Carlos Gomes. No entanto, explica o professor, ninguém acusado de torturar presos políticos chegou a ser punido. Isso porque em 1979, o Congresso aprovou a Lei da Anistia que determinou que to­ dos os envolvidos em crimes políticos,

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incluin­do os torturadores, fossem per­ doados pela Justiça. Em âmbito local, segundo o presi­ dente da Comissão da UFRN, já foram tomados 37 depoimentos de pessoas que podiam estar ligadas direta ou indireta­ mente à Ditadura Militar. “São depoi­ mentos de pessoas que faziam parte da administração da Universidade e dos órgãos de repressão, assim como estu­ dantes e professores da época, que sofre­ ram atos repressivos. Com certa dificul­ dade, obtivemos um número razoável de documentos que eram considerados confidenciais naquela época”, afirmou. Em busca de esclarecer e apurar o que aconteceu num período tão nebu­ loso da história brasileira, que se carac­ terizou pela falta de democracia, su­ pressão de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar, a Comissão da Verdade da UFRN espera trazer à tona o que realmente aconteceu na época e se possível, que haja repara­ ção aos que sofreram com o regime. A Comissão Nacional da Verdade, criada em 16 de maio de 2012, tem por objetivo investigar as graves violações de direitos humanos cometidas por agentes do Estado ou pessoas a seu serviço, espe­ cialmente no período de 1946 (Promul­ gação da Constituição, elaborada pelo então Presidente Eurico Gaspar Dutra) a 1988, promovendo o mapeamento e o esclarecimento dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres.


SAÚDE

HUOL desenvolve equipamento que vai

facilitar diagnóstico da dislexia

Anastácia Vaz

Por Juliana Holanda

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esenvolver um equipamento de baixo custo capaz de auxiliar o diag­nóstico da dislexia. Esse é o ob­ jetivo do grupo de pesquisadores do Labo­ ratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS) do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O problema que atinge 5% a 10% da população mundial em idade escolar é de difícil avaliação, porque afeta partes diferentes do cérebro e tem característi­ cas diversas em cada paciente. A análise deve, portanto, ser realizada por uma equipe multiprofissional formada por neurologistas, psicólogos, fonoaudiólo­ gos e pedagogos. Segundo a fonoaudióloga Sheila An­ dreoli Balen, o problema não é avaliado ad­ equadamente no Brasil. “Qualquer criança com dificuldade de aprender é considerada disléxica e isso não é verdade”, explica. De origem genética e hereditária, a dislexia é causada por um mau funciona­ mento de estruturas do cérebro, gerando dificuldades no processamento da informa­ ção. Relacionado à dificuldade de apren­di­ zagem, o problema é normalmente detecta­ do durante o processo de alfabetização. Pensando na importância de um diag­ nóstico precoce e correto, o professor do Departamento de Engenharia Biomédica, Danilo Alves Pinto Nagem começou a estu­ dar a questão no ano de 2011. A equipe co­ ordenada pelo professor Nagem é formada pelas fonoaudiólogas Sheila Andreoli Balen e Michele Soltosky Peres e pelo mestran­ do em Engenharia Mecânica, Alessandro Marinho de Albuquerque. A especialista Michele Soltosky res­ salta que a aquisição da leitura e da escrita é extremamente relevante para a obtenção da cidadania e da inserção social. “Quanto antes a doença for detectada, mais cedo o processo de intervenção acontece e os pro­ fissionais podem trabalhar com esse indi­ víduo para favorecer um bom desempenho durante o período escolar”, afirma. Soltosky defende que os ganhos psi­ cossociais de um tratamento precoce são enormes. As pessoas disléxicas que não são diagnosticadas sofrem por toda a vida. Isso repercute em baixa autoestima e pode gerar depressão. A fonoaudióloga ressalta que o paciente muda a forma de ver o mundo

Conclusão do software possibilitará a realização de testes que serão avaliados pelas fonoaudiólogas e por outros profissionais de saúde quando começa a ser instrumentalizado para lidar com as dificuldades. “Até a pos­ tura de andar muda”, observa. O foco do grupo é desenvolver um e­qui­pamento de fácil manipulação que vai custar 90% menos do que os utilizados atu­ almente. “Queremos ajudar a diagnosticar o maior número possível de pessoas que sofrem com a dislexia. O primeiro passo para massificar o exame é baratear o custo”, enfatiza Nagem. Enquanto os métodos atuais ficam na faixa de U$ 50 mil, o que está sendo desen­ volvido pela equipe deve custar dez vezes menos: em torno de U$ 5 mil. O sistema vai monitorar principalmente a posição do olho durante a leitura de textos, já que dis­ léxicos possuem um padrão de movimen­ tação ocular diferenciado. O mestrando Alessandro Marinho está finalizando o desenvolvimento do software que irá avaliar a posição do rosto, do olho e da íris durante o exame. “Com a con­ clusão do software, podemos começar a realizar testes que serão avaliados pelas fonoaudiólogas e por outros profissionais de saúde”, diz. Como a dislexia envolve os sistemas au­ ditivo e visual, o equipamento deve incluir microfones para gravar a leitura de textos.

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“Esses dois sistemas se integram. Há dis­ léxicos visuais, fonológicos e mistos, por isso precisamos analisar várias vertentes”, esclarece a fonoaudióloga Michele Soltosky. Com a finalização do programa, o foco será na estruturação de um hardware simples e barato. O coordenador Nagem explica que pretende desenvolver um siste­ ma que possa ser utilizado com qualquer câmera, o que vai ga­ rantir o baixo custo do projeto. “A ideia é que o aparelho possa ser colocado dentro de uma van para sair pelas escolas fazendo testes com alunos e auxiliando o diagnóstico da dislexia”, afirma. A equipe ressalta que o apa­ relho vai facilitar o diag­nóstico da dislexia fornecendo dados que deverão ser analisados por profissionais da área de saúde. “É uma forma de auxiliar a de­ tecção do problema, mas, por se tratar de uma doença com­ plexa, o equi­pamento não pode ser utilizado isolada­ mente”, adverte Nagem. A previsão é de que o sistema de triagem esteja

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pronto para utilização em até dois anos. “É uma iniciativa muito importante. Qualquer pessoa que tenha dislexia precisa saber que é capaz. Ela a­pe­nas tem uma dificuldade que pode ser tratada”, enfatiza a fono­ audióloga Sheila Balen.


EXTENSÃO

Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura da UFR Wallacy Medeiros

Por Thyara Dias / ENOLEIDE FARIAS

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maior e mais importante evento de divulgação científica do Rio Grande do Norte. É dessa forma que a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (CIENTEC) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é definida. “A CIENTEC é importante para promover uma interação com toda a so­ ciedade potiguar, que acaba por co­n he­ cer o trabalho da Universidade a partir do evento”, declara a professora Rita Luzia de Souza Santos, coordenadora geral do projeto há 5 anos, mas envolvi­ da com o evento desde a sua criação em 1995. Para a realização de cada edição da CIENTEC é necessário um trabalho intenso de 365 dias. “As preparações para a realização da Semana começam quando encerramos a anterior”, relata Rita Luzia. Neste ano o evento acontece de 22 a 25 de outubro, tendo como tema cen­ tral “Educação e Esportes” e, mais uma vez, ocupará o espaço da Praça Cívica do Campus. Segundo a coordenadora, a CIENTEC sempre traz uma temática contextualizada com a situação social do País, por tal motivo não deixou de lado os protestos sociais e os espetáculos esporti­ vos que neste ano e nos próximos estão entre as principais atrações no calendário de eventos do Brasil. Nesta edição, a pro­ fessora titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria Eliete San­ tiago, fará a conferência de abertura, com o tema “Educação, Esporte e Desenvolvi­ mento Social”. Temas ligados ao esporte estarão pre­ sentes em vários momentos da Cientec, como na conferência Esporte, Ética e Moral na Sociedade Atual, com o professor Antônio Roberto Rocha Santos “Tubarão”, professor da Universidade Gama Filho e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e na mesa redonda Legado dos Megaeventos Esportivos, com o professor Ricardo de Figueiredo Lucena, do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O nadador paraolímpico brasileiro e potiguar Clodoaldo Francisco da Silva Correia participará da mesa re­ donda Esporte Paralímpico: caminhos e conquistas. Clodoaldo Silva é recordista em Medalhas de Ouro em Paraolimpíadas. A CIENTEC é dividida em três grandes acontecimentos, integrando as atividades de ensino, pesquisa e extensão em vários níveis de educação. A Feira da CIENTEC,

Rita Luzia: organização da CIENTEC começa no encerramento da edição anterior a Reunião Acadêmico-Científica e a CI­ ENTEC Cultural. A Feira da CIENTEC tem as participa­ ções das Secretarias de Educação do Estado do Rio Grande do Norte, com a realização da TRN-Ciência - Feira do Estado e da Sec­ retaria de Educação do Município de Natal, com a realização da Mostra da Prefeitura (M.A.R.C.O.) Outras instituições como a Barreira do Inferno, SEBRAE e Corpo de Bombeiros também trazem para a Feira da CIENTEC suas produções e serviços. Na Reunião Acadêmico-Científica são realizados eventos Congressos, Seminári­ os, Oficinas, Cursos e exposição de Ban­ ners. Ao todo serão quase 200 ações entre palestras, minicursos e mesas-redondas. Neste ano os banners ocupam um pavi­ lhão específico dentro do evento e haverá uma premiação especial para os melhores trabalhos. A tradicional Feira de Livros e Quadrin­ hos de Natal (FLiQ), que há quatro anos faz parte da programação, contará com a presença do jornalista e escritor Maurício de Sousa, que vai falar sobre os 50 anos de criação da Turma da Mônica, do docu­ mentarista e romancista Edney Silvestre,

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do escritor e crítico literário José Castello, do diretor e dramaturgo Mario Bortolotto e do quadrinista Mike Deodato. Em números, a XIX CIENTEC 2013 já se mostra grandiosa. Sua organização conta com cerca de 200 estandes que abri­ garão 1200 banners, 71 oficinas e mini­ cursos, 55 palestras e mesas-redondas, além de exposições e outros 300 trabalhos envolvendo estudantes da UFRN e outras ins­tituições. A expectativa da organização é que, a exemplo das edições anteriores, muita gente venha participar da Feira. No ano passado, cerca de 100 mil pessoas compareceram à Praça Cívica durante a semana da CIENTEC. CIENTEC Cultural As ações estruturantes programadas para a CIENTEC Cultural serão admi­ nistradas pelo Núcleo de Arte e Cultura (NAC) e coordenadas pela professora Teo­ dora Alves. Espaços serão montados na Praça Cívica e áreas adjacentes para rece­ ber as ações de diversos grupos da Institui­ ção que atuam no campo das artes. O Palco das Artes terá como base o Anfiteatro da Praça Cívica do Campus.

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Todas as noites os visitantes da Feira poderão ver apresentações artísticas que incluem música, dança e teatro. A Mostra de Dança ocorrerá no Auditório da Escola de Música da UFRN (EMU­ FRN) e in­clu­i­rá apresentações de gru­ pos de dança da UFRN e demais grupos inscritos na CIENTEC Cultural. A Mostra de Corais e Música de Câ­ mara acontecerá na Capela do Campus e incluirá a participação de grupos mu­ sicais da EMUFRN e demais grupos ins­ critos na CIENTEC Cultural. Próximo à capela será montada a Vila da Cultura, que receberá exposições de arte popu­ lar e apresentações de grupos artísticos populares relacionados aos projetos de extensão da UFRN. Outros três projetos de extensão da UFRN fazem parte das atrações da CI­ ENTEC Cultural: Polo DEART, Circuito Cultural Universitário UneVersos da Arte e SigaArte na UFRN. O Polo DEART se constituirá num es­ paço de encontro e divulgação de ações produzidas no contexto dos Cursos de Artes da UFRN, com a participação dos cursos de Teatro, Dança, Design e Artes Visuais; O Circuito Cultural Univer­ sitário UneVersos da Arte, promoverá o encontro entre estudantes de escolas públicas do RN e grupos artísticos da UFRN, por meio de oficinas, rodas de conversas e apresentações artísticas; e o SigaArte na UFRN: Arte, Cultura, Quali­ dade de vida e Meio ambiente” que es­ tará à frente da divulgação de todas as ações culturais da Semana e promoverá outras do tipo esquetes, isto é, pequenas peças ou encenações teatrais; Células co­ reográficas; Intervenções com poesias e literatura; Lual no Campus; Exposições de acervos da UFRN; Práticas de Dan­ ças circulares; Tai chi Chuan, Yoga, entre outras ações culturais. Novidade O I Encontro dos Ex-Trilheiros acon­ tece no dia 23 de outubro, organizado pelo Programa Trilhas Potiguares, e promete ser uma atração à parte na CIENTEC 2013. O Trilhas reúne anualmente cerca de 2 mil voluntários em ações realizadas em diver­ sos municípios do estado. A programação conta com mesas-­ redondas e relatos de experiências de pro­ fessores, servidores e alunos que participa­ ram do programa. Os interessados em participar do evento devem efetuar a sua inscrição por meio do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA), no menu Extensão.


RN abre portas da Universidade à comunidade

Agenda de Eventos EVENTOS PRÉ-CIENTEC - I Jornada Internacional de Dependência Química do Hospital Universitário Onofre Lopes - 17 de outubro de 2013 - III Jornada de Saúde Mental do Hospital Universitário Onofre Lopes - 18 de outubro de 2013 - I Encontro de Pesquisadores na área de Saúde Mental - 19 de outubro de 2013 EVENTOS PARALELOS - V SEMANA DE ENGENHARIA ELÉTRICA (SEE) - 21 a 25 de outubro - XXV SEMANA DA MATEMÁTICA DA UFRN - 21 a 25 de outubro

- UFRN Na Copa - 23 a 25 de outubro - SEMANA DE ESTATISTICA DA UFRN - 21 a 25 de outubro - SEMANA DE ENGENHARIA QUIMICA DA UFRN - 22 a 25 de outubro - II COLÓQUIO INTERNACIONAL DA CLINICA DE ATIVIDADE - 22 a 25 de outubro - XII SIMPÓSIO DE BIOCIENCIAS - 23 a 25 de outubro - IV CICLO DE PALESTRAS EM GESTÃO DE TI - 24 a 25 de outubro - II SEMINÁRIO DE DISSERTAÇÕES DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA - 24 a 25 de outubro - EDUCAÇÃO E SAÚDE SEM FRONTEIRAS: UM EXPERIENCIA DE INTERNACIONALIZAÇÃO - 24 a 26de outubro - I ENCONTRO DE EX-TRILHEIROS - 23 de outubro

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Conferência de Abertura A professora titular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria Eliete Santiago fará a conferência de abertura da XIX CIENTEC, no dia 22, no auditório da Reitoria às 9h. Coordenadora da Cátedra Paulo Freire da UFPE, Eliete Santiago é doutora em Educação pela Université de Paris V (René Descartes), professora titular do Departamento de Administração Escolar e Planejamento Educacional e pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Formação de Professores e Prática Pedagógica do Programa de Pós-graduação em Educação da UFPE. Sua experiência na área de Educação tem ênfase em Política Educacional e Prática Pedagógica, atuando principalmente em temas como formação de professores, currículo, prática pedagógica, profissionalização docente e questões étnico-raciais.

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CIÊNCIA

Cientista aponta construção do reator RMB

como um dos grandes projetos do país Anastácia Vaz

Por Thaisa Mendonça/Enoleide Farias

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Instituto Internacional de Física (IIF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), realizou durante o mês de setembro o evento “Escola sobre os Fundamen­ tos do Espalhamento de Nêutrons”. O encontro aconteceu no auditório do Departamento de Física Teórica e Ex­ perimental (DFTE) e reuniu cientistas e estudantes brasileiros, e pesquisadores da Argentina, Taiwan, EUA, França, Dinamarca, Austrália, Suíça, entre ou­ tros países, que discutiram técnicas de espalhamento de nêutrons utilizadas não somente por físicos, mas também por químicos, biólogos e cientistas que lidam com materiais. Os nêutrons, como é de conhe­ cimento geral, são partículas de carga neutra que, juntamente com os prótons, compõem os núcleos atômicos. O espa­ lhamento de nêutrons, por sua vez, é uma ferramenta que os cientistas usam para investigar estrutura e movimento de átomos em materiais. Segundo o professor Jason Gardner, do Centro de Pesquisa Nacional em Radi­ ação Síncrotron (NSRRC, na sigla em in­ glês) e um dos coordenadores do encon­ tro, “Essa técnica é normalmente usada pelos físicos, mas químicos, engenheiros e biólogos estão usando cada vez mais nêutrons para ajudar em suas pesquisas”. O professor Gardner explicou de maneira simplificada em que consiste a técnica do espalhamento de nêutrons: “Funciona de certa forma como um jogo de bilhar. Nós atiramos nêutrons, que seria a bola branca, em materiais e analisamos onde eles [os nêutrons] ter­ minam. Compreendendo a posição final dos nêutrons, a amostra pode ser usada para encontrar a estrutura [atômica] de um material e a mudança na velocid­ ade dos nêutrons pode revelar o com­ portamento dinâmico de partes de uma amostra”. O físico explicou, ainda, que alguns cientistas imaginam as máquinas de nêutrons como grandes telescópios que permitem olhar profundamente o interior de um material, ver onde os áto­ mos estão e como eles estão se movendo. Ele acrescentou que o objetivo prin­ cipal da Escola sobre os Fundamentos do Espalhamento de Nêutrons é iniciar

“Escola sobre os Fundamentos do Espalhamento de Nêutrons” reúne cientistas internacionais no IIF a criação de uma comunidade de “espal­ do Reator Multipropósito Brasileiro hadores de nêutrons” no Brasil. “Como (RMB)”. Segundo explicou, uma das essa é uma técnica poderosa para o estu­ principais razões para construir tais do de materiais e o Brasil é uma potên­ instalações é ter um centro de espalha­ cia emergente no mento de nêutrons. mundo da ciência, os “Os estudantes pode­ cientistas brasileiros riam facilmente fazer “Ao longo da última devem então passar a parte da equipe desse década ou duas, o país usar muito mais essa centro. Espera-se que técnica”, disse o pro­ este evento, a Escola desenvolveu uma fonte fessor Gardner. sobre os Fundamen­ de raio X síncrotron e tos do Espalhamen­ uma comunidade em O Brasil e a to de Nêutrons, se Campinas/SP que podem Ciência torne um encontro ser um bom modelo para Além de falar so­ anual para que na, o projeto do RMB” bre o evento de Física próxima década, nós realizado na UFRN, o possamos produzir professor Jason Gard­ muitos potenciais ner fez considerações sobre a situação “espalhadores de nêutrons”. a­tual do Brasil no campo da ciência. A co­ Sobre o desenolvimento da ciência munidade científica no Brasil, a seu ver, no Brasil, o professor Gardner disse está crescendo rapidamente. “Há mui­ reconhecer que o país tem uma longa tos grandes projetos sendo desenvolvi­ tradição na área científica. “O país pro­ dos no país e um deles é a construção duz muitos bons cientistas e eu pesso­

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almente gosto sempre de trabalhar com pesquisadores no Brasil. Ao longo da última década ou duas, o país desen­ volveu uma fonte de raio X síncrotron e uma comunidade em Campinas/SP que podem ser um bom modelo para o pro­ jeto do RMB”. O cientista reconhece que o Brasil está crescendo rapidamente em muitos aspec­ tos, inclusive no campo da educação su­ perior. “O número de universidades está se expandindo rapidamente e a partici­ pação brasileira em grandes projetos in­ ternacionais tem se tornado mais impor­ tante. O rápido crescimento é uma grande coisa, mas tem que gerir a expansão tam­ bém. O governo federal está investindo grandes valores em infraestrutura para a ciência, muitas bolsas estão sendo criadas e bastante intercâmbios internacionais de pessoal têm ocorrido. Espero que este dinheiro seja bem investido e que o país continue a crescer e se torne mais influ­ ente e produtivo na ciência mundial.”


EMPREENDENDORISMO Lagoa de Arituba

Empresa Júnior do curso de Ecologia realiza serviços

de recomposição vegetal na Lagoa de Arituba Cedidas

Por João Paulo de Lima

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ECOSIN Soluções Ambientais, Empresa Júnior do Curso de Eco­ logia do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), estabeleceu parceria com a empresa GM Engenharia e Empreendimentos para prestação de serviços de recomposição da vegetação em área que sofreu desmatamento próx­ imo à Lagoa de Arituba, no litoral sul do Rio Grande do Norte. Os trabalhos que começaram no mês de julho têm encer­ ramento previsto para o final de outubro. Inicialmente, foi realizado um levanta­ mento florístico e fitossociológico da área, onde, posteriormente, será feito o plantio de 2000 mudas de espécies nativas. Nesse serviço, estão envolvidos 15 alunos de graduação em Ecologia da UFRN, que terão a oportunidade de vivenciar um aprendizado prático em preparação para atuação no mercado profissional. O passo seguinte prevê a orientação aos comerciantes do entorno para fazer o plantio como forma de compensar os impactos causados por suas atividades na localidade. Também está previsto atuar juntamente com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH), na promoção de atividades de educação ambiental com banhistas e turistas durante os dias de plantio. Cristina Brito, diretora de Gestão de Pessoas da ECOSIN, explica que o prin­ cipal objetivo da ação é conservar a bio­ diversidade, a fim de promover uma re­ composição vegetal de qualidade e com grandes chances de alcançar o equilíbrio e a perpetuação da floresta implantada.

Alunos de Ecologia vivenciam aprendizado prático durante ações da ECOSIN Ela ressalta ainda que “a importância de trabalhos como este, desenvolvido pela ECOSIN, não é apenas atender à condi­ cionante estabelecida pelo IDEMA, mas também associar a questão ambiental téc­ nico-científica por meio dos levantamen­

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tos florísticos e fitossociológicos em áreas onde existem poucos estudos”. A empresa júnior, além de realizar tra­ balhos de consultoria, também promove cursos, palestras e participa de cursos na área, a fim de adquirir um maior conheci­

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mento sobre o que é trabalhado, exemplo disso foi o II Workshop de Consultoria Ambiental – Logística Reversa, evento gratuito destinado aos cursos da área am­ biental e ciências correlatas da UFRN, da UnP e do IFRN, realizado em dezembro de 2012 pela ECOSIN. ECOSIN Criada em novembro de 2010, por iniciativa de um grupo de 25 alunos e o apoio de professores do curso de Eco­ logia, a ECOSIN– Soluções Ambientais tem o objetivo de proporcionar aos alu­ nos do curso do Centro de Biociências (CB) uma melhor experiência de merca­ do, oferecendo a vivência prática de co­ nhecimentos teóricos, relativos às áreas de consultoria ambiental. Desenvolver o espírito crítico, analíti­ co e empreendedor de seus membros, experimentar o contato direto com o mercado de trabalho relacionado à área ambiental, consiste em outras oportuni­ dades oferecidas pela ECOSIN. O grupo de alunos conta com a orien­ tação de duas professoras tutoras que acompanham os serviços prestados pela empresa. Renata Panosso, coordenadora do curso de Ecologia da UFRN, e Adri­ ana Carvalho participam das reuniões corporativas e trocam informações fre­ quentes com a diretoria da empresa júnior, tanto para ciência dos aconte­ cimentos, quanto para ajudar, sugerir, opinar e orientar os serviços ou eventos promovidos pela empresa. Atualmente, a empresa conta com a participação de 20 alunos, que se di­ videm nas funções de presidência, de diretorias (projetos, financeira, gestão de pessoas, comunicação e marketing) e de consultoria.


ENSINO

Professores de Física estimulam aprendizado

científico em escolas públicas de Natal Anastácia Vaz

Por Kalianny Bezerra

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romover e estimular o conhecimen­ to de Física em estudantes de En­ sino Médio por meio de atividades teóricas e lúdicas. Esse é o objetivo do Pro­ grama Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do Departamento de Física Teórica e Experimental (DFTE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O projeto desenvolve suas atividades em quatro escolas da cidade de Natal: no Centro de Educação de Jovens e Adultos Professor Felipe Guerra e nas institui­ ções estaduais Professor Ulisses de Góis, Anísio Teixeira e Padre Monte. Para dar conta dos trabalhos, a equipe do PIBID Física é composta por um coordenador geral, três professores supervisores e 23 alunos bolsistas de Licenciatura em Física da UFRN. Ao longo do ano, os docentes super­ visores dão aulas teóricas aos estudantes, trabalham experimentos em sala de aula e atraem os jovens com feiras de ciên­ cias. Na Escola Estadual Professor Ulisses Góis, por exemplo, foi promovido o Dia da Física, em comemoração ao Dia Inter­ nacional da Física, transcorrido no dia 19 de maio. A professora Amanda Vivian Me­ deiros de Souza, supervisora do programa e responsável por ministrar a disciplina no colégio, ressalta que nesse dia os alunos fizeram experimentos, discutiram teorias e encenaram uma peça sobre a biografia do cientista Isaac Newton. Outra atividade executada no Ulisses Góis foi a reprodução do experimento realizado, originalmente, pelo cientista Eratóstenes, no século III a.C., que con­ sistia na medição do raio da Terra. Essa ação, segundo a professora Amanda, con­ tribuiu expressivamente para que os estu­ dantes tivessem seu interesse despertado para a construção de novos conhecimentos científicos e compreendessem alguns as­

Professora Amanda Souza: atuação premiada com viagem a laboratório na Suíça pectos inerentes às ciências e à astronomia, em particular. “Esse projeto possibilita que o aluno se envolva de uma forma que o faça gos­ tar de Física. É uma matéria densa e que exi­ge muita concentração por parte do aluno, para absorver o que está sendo pas­ sado. É por isso que quando utilizamos uma meto­dologia mais lúdica o aluno se prende mais, aprende mais”, aponta a professora, acrescentando que esse tipo de abordagem também possibilita um es­ treitamento nas relações entre o professor e o aluno. Para dinamizar ainda mais esse apren­ dizado, o programa disponibiliza aos es­ tudantes do último ano do Ensino Médio dessas escolas, aulas preparatórias para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). “Isso contribui para que eles não fiquem com tempo ocioso”, ressalta Amanda. A supervisora relata que percebeu mu­ danças no comportamento de seus alunos durante as aulas. “Eles se abrem mais para aprender, principalmente aqueles que es­ tão concluindo o ensino médio e se pre­ param para entrar na universidade. Na Ulisses Góis tenho dois alunos que querem

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entrar na universidade para fazer a gradu­ ação em Física”. As ações que são levadas para as escolas, são planejadas em reuniões semanais entre os integrantes do Programa. Segundo o co­ ordenador geral do PIBID Física, professor Ciclâmio Leite Barreto, do DFTE, nesses encontros também são feitos exercícios ligados à formação do próprio aluno bolsis­ ta. “São palestras, seminários, discussão de textos e muitas outras atividades. Tudo isso para que esse estudante desenvolva projetos de ensino e divulgação de ciências que con­ tribuam com seu aprendizado”, diz o profes­ sor Ciclâmio. Para José Sérgio de Oliveira Araújo, aluno do 4º período do curso de Licen­ ciatura em Física da UFRN, essa é uma oportunidade única. Tanto no que diz res­ peito ao aprendizado dentro da academia, quanto no que é absorvido nas salas de aula da Escola Estadual Anísio Teixeira, local onde atua. “Conhecer a realidade de uma escola pública e saber como ela funciona colabora muito com nosso trabalho. Acredito que diminuir a evasão nas salas de aula seja o maior desafio, é por isso que tentamos fazer

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coisas diferentes”, relata. “Levamos, então, músicas que tenham alguma explicação científica, fazemos gincanas e até tirinhas de física para apresentar o conteúdo”, exempli­ fica José Sérgio. Trabalho recompensado Um dos frutos colhidos pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência de Física da UFRN foi a seleção da professora e supervisora do projeto, Amanda Vivian Medeiros de Souza, para conhecer o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), maior laboratório de Físi­ ca de Partículas do mundo, localizado em Genebra, na Suíça. Amanda Vivian participou de uma seleção organizada pela Sociedade Brasilei­ ra de Física (SBF) e foi uma dos 30 docen­ tes de Física de Ensino Médio selecionados por todo o Brasil para conhecer o centro de estudos europeu. Também foi a única re­presentante do Rio Grande do Norte a conquistar uma vaga. No mês de setembro, a professora conheceu o Museu de Física do laboratório e participou de um curso sobre Física de Partículas. Formada desde 2007, Amanda ministra aulas na Escola Estadual Ulisses de Góis e credita essa vitória ao pro­ grama do qual faz parte. “Foi o projeto do PIBID um dos fatores para eu ter consegui­ do essa vaga”, diz. Os requisitos para que ela participasse do processo seletivo foram vários: organizar as Olimpíadas de Física na instituição em que ministra aulas, participar de um projeto de formação de professores – no caso de Amanda, o PIBID –, e produzir uma reda­ ção que justificasse seu interesse em partici­ par do projeto. Amanda acredita que esse é um tipo de ação que colabora com o futuro do estu­ dante de escola pública. Ela cita seu próprio exemplo. “Estudava no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), antigo CEFET, e não gostava nem um pouco da disciplina. Foi quando dois professores me mostraram que a Física faz parte do dia a dia. Me senti estimulada, e é isso que quero passar para meus alunos”, conta.


entrevista

“Sem o CERES em Currais Novos, muitos não

teriam condições de ter uma formação” Mário Lourenço é doutor em Educação. Vice-diretor da unidade de Currais

Novos do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), o professor conversou com o Jornal da UFRN a respeito do presente e do futuro da Instituição. Segundo Lourenço, grande parte dos profissionais de Currais Novos nas áreas de Educação, Turismo e Administração devem sua formação à presença na cidade do órgão da Universidade Fe­ deral do Rio Grande do Norte (UFRN).

Wallacy Medeiros

Por Luciano Galvão

Jornal da UFRN: Como o senhor avalia a importância do CERES Currais Novos para a comunidade? Mário Lourenço: O CERES é de im­ portância fundamen­ tal. Histórica, até. Se você for nas escolas daqui, todos os profis­ sionais que trabalham com o ensino de lín­ guas – portuguesa, inglesa e, agora, espanhola – foram formadas por nós. Um exemplo claro disso é que mais ou menos 90% das vagas do nosso Mestrado Profissional foram ocupadas por egressos daqui: ex-alunos nossos da gra­ duação e da especialização. Mesmo do curso de Administração, que é mais diversificado no sentido de empregabilidade, vemos ex-alunos nossos empregados ou donos de empresas e fun­ cionários públicos de instituições bancárias. Sem o CERES, se não existisse a Universi­ dade aqui em Currais Novos, muitas dessas pessoas teriam que ter buscado sua forma­ ção fora. Algumas até não teriam tido se­ quer condições de ter uma formação. As dificuldades são várias, porque não é fácil fazer Universidade fora dos centros. Há entraves, a própria distância já é um deles, mas o CERES é muito importante. Recente­ mente o curso de Turismo começa a discutir a atividade com os municípios: represen­ tantes do curso fazem parte do conselho regional de turismo do Polo Seridó e levam ideias. Nossos alunos, inclusive, vão estagiar nas empresas e começam a profissionalizar mais os serviços hoteleiros. Temos também perspectivas de criação de novos cursos...

JUFRN: Era isso que eu iria perguntar: quais as perspectivas quanto ao futuro? Lourenço: Temos agora a proposta de criação de um curso de Gastronomia aqui em Currais Novos. A ideia é que seja um curso superior na modalidade tecnólogo, que viria fazer um casamento, digamos, com o curso de Turismo. São formações que poderiam dia­

O vice-diretor falou sobre a extensão universitária nas áreas de Economia Solidária e Políticas Públicas, e sobre a pesquisa desenvolvida no CERES, com destaque para os estudos sobre a educação no Seridó Norte-riograndense. Quanto ao ensino, Lourenço revelou que as graduações em Gastronomia e Comunicação Social devem ser novidades breves na oferta de cursos do Centro. O professor contou também sobre o desejo – ainda remoto, admitiu – de tornar Currais Novos um polo das engenharias no interior do estado.

das engenharias. Seria muito interessante, porque no interior não há cursos voltados para a área tecnológica. Caicó é que ainda tem um diferencial com o curso de Sistemas de Informação. JUFRN: Em termos de possibilidades, quais dessas aspirações o senhor enxerga como mais próximas? Lourenço: A mais encaminhada é o curso de Gastronomia: é algo que já saiu do campo das ideias, que já tem gente trabalhando para apresentar uma proposta. Depois disso, seria o curso de Comunicação, que discutiremos em audiências públicas na Câmara Municipal. No que diz respeito às engenharias, ne­ cessitaríamos de investimentos significativos, porque são cursos mais caros. Precisaríamos do financiamento de algum programa do Governo Federal nos moldes do REUNI [Pro­ grama de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais] . JUFRN: O que o CERES Currais Novos oferece, hoje, em ensino? Lourenço: Os cursos que mantemos com entradas regulares são os bacharelados em Turismo e Administração, e as licenciaturas em Letras, sendo em duas entradas, uma para Língua Portuguesa e Literaturas e outra em Língua Espanhola.

Mário Lourenço, Vice-diretor CERES Currais Novos logar muito bem, inclusive com vistas a uma pós-graduação. Nossa gastronomia regional é bastante rica, mas carece de profissiona­ lização. Nós já temos uma comissão nomeada pela Reitoria para fazer o projeto do curso. Há também uma aspiração muito grande, sempre houve, quanto à instalação do curso de Comunicação Social. Hoje, em Currais Novos, temos, quatro canais de televisão com geração local – claro que com suas limitações, mas que de alguma maneira prestam informa­ ção às pessoas. Temos pelo menos dois jornais impressos, que circulam quinzenalmente ou mensalmente, e temos estações de rádio AM e FM. Isso sem contar as cidades circunvi­ zinhas. Há a demanda, então queremos fazer essa discussão com a comunidade. Outra coisa que temos pensado e discu­ tido um pouco com a Universidade é que Currais Novos poderia se tornar um polo

JUFRN: Qual critério foi utilizado na escolha desses cursos? Lourenço: O CERES oferece cursos nas áreas de Humanas ou de Sociais Aplicadas. A Licenciatura em Letras - Língua Espanhola é a mais nova – já no âmbito do REUNI, e um pouco antes dela, o Bacharelado em Turismo. O curso de Letras - Língua Espanhola se deu em função da exigência do ensino de Es­ panhol nas escolas, já que o Brasil faz parte do Mercosul. Há uma carência nessa área, tanto que o Governo do Estado fez o primeiro con­ curso para professor de Língua Espanhola e a maioria dos que fizeram são ainda alunos, alguns até do 5ºperíodo. Turismo foi uma aposta. Havia um vazio de formação nessa área por parte de uma ins­ tituição pública, e acreditamos que esse curso irá tornar o turismo no interior do estado uma atividade mais profissional. JUFRN: E em termos de pesquisa? O que se desenvolve no campus de Currais Novos?

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Lourenço: Temos um grupo de pesquisa mais antigo denominado “Cultura e Educação no Seridó Norte-riograndense”, sob a coorde­ nação da professora Eva Cristini. Existe um outro chamado “Práticas Linguísticas Dife­ renciadas”, que estuda os diferentes discursos. Na área de literatura, temos “Literatura e So­ ciedade”, coordenado pelo professor Márcio Renato. Um grupo mais recente estuda tam­ bém as políticas públicas e reune o pessoal de Turismo e de Administração, sob a coodena­ ção da professora Andrea Cristina. JUFRN: Se tivéssemos que identificar uma vocação do CERES Currais Novos para a pesquisa, o que poderíamos indicar? Lourenço: Creio que os estudos da edu­ cação no Seridó Norte-riograndense, linha na qual eu me incluo. A gente tem uma formação em História da Educação, nosso doutorado foi feito nessa área, fizemos algumas pesquisas e desenvolvemos produtos. Nós estamos procurando crescer. Ofe­ recemos especializações na área de literatura e linguística, e agora oferecemos o primeiro mestrado do CERES Currais Novos, o Mes­ trado Profissional em Letras, voltado para os professores que estão em sala de aula. Para o CERES, uma pós-graduação stricto sensu é um dado novo. Em Caicó há o Mes­ trado Profissional em Matemática, mas é semi-presencial, com docentes de Natal. Esse mestrado novo (de Letras) não. É nosso, com nossos professores. JUFRN: E com relação à extensão, o que se pode destacar? Lourenço: Sempre houve mais extensão no CERES do que pesquisa. Nossos profes­ sores têm concorrido nos editais do PRO­ EXT [Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação] com projetos mais ambiciosos e contando com recursos mais volumosos. Já pela segunda vez a professora Márcia Alves concorreu com sua incubadora de empresas de economia solidária. A profes­ sora Andrea Cristina também recentemente teve seu financiamento de R$ 50 mil aprova­ do, para esses projetos com políticas públicas, além de estar liderando a empresa júnior do curso de Administração, recém-fundada. Há ainda projetos menores, mas igualmente importantes, que trabalham com a literatura nas escolas. Tem coisas muito interessantes.


ESPORTE

Ministro visita pista de atletismo da UFRN:

uma das melhores do mundo Cícero Oliveira

Por luciano galvão*

“É

como se você andasse em um Ford 29, do início dos anos 1900, e passasse a dirigir uma McLaren, dessas de corrida”, ten­ tou explicar ao repórter o professor José Figueiredo.“Esta é uma pista top. Para o atletismo, é o máximo que se pode ter”, disse, referindo-se ao novo equipamento do Parque Poliesportivo da Instituição. Dez meses atrás, o lugar onde agora está localizada a Pista de Atletismo do Complexo Esportivo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) era um chão de terra batida, com estrei­ tas raias desenhadas a cal e margeado por uma vegetação que insistia em invadir a área utilizada pelos atletas. Agora, o que se vê é uma superfície azul, de borracha antiderrapante, com textura semelhante a de um carpete e marcada com linhas bran­ cas cuidadosamente distribuídas. Entre homens com paletós bem corta­ dos e mulheres de maquiagem impecável, o professor Figueiredo usava tênis e camise­ ta para fora da calça jeans e comemorava dizendo: “Vamos ter o que há de melhor no mundo. Pra quem trabalha com isso, essa é a melhor notícia que se pode ter”. O movimento atípico no local era pro­ vocado pela presença do ministro do Es­ porte, Aldo Rebelo, que fazia visita técnica à obra da nova pista, acompanhado da reitora da Universidade, Ângela Paiva, da vice-reitora, Fátima Ximenes, da gover­ nadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini, dos deputados federais pelo es­ tado Paulo Wagner e Fátima Bezerra, além de servidores do Ministério do Esporte, gestores universitários, atletas e técnicos. Na oportunidade, o ministro posou para fotos e falou com jornalistas que regis­travam a visita. “As universidades ofe­ recem aos equipamentos esportivos um horizonte amplo, porque possuem cursos de Educação Física e corpos docentes que podem utilizar a estrutura para o desen­ volvimento científico”. Na sua avaliação, “as instituições de ensino podem acolher a comunidade e fazer desses espaços um instrumento para o esporte educacional, de lazer, de entretenimento, de inclusão social e, também, de alto rendimento”.

Ministro Aldo Rebelo: equipamento impulsiona a pesquisa científica e acolhe a comunidade Orçada em aproximadamente R$ 7 milhões, a obra da pista de atletismo encontra-se em fase final e já recebeu competições, as provas de atletismo da primeira etapa dos Jogos Escolares da Ju­ ventude - Natal 2013, o maior evento es­ portivo estudantil do País, realizados na cidade no período de 5 a 14 de setembro. Segundo o engenheiro responsável pela fiscalização do serviço, Wilson Júnior, da Superintendência de Infraestrutura (SIN) da UFRN, 80% dos trabalhos foram concluídos. Dentro desse percentual estão a base da pista e o revestimento de borra­ cha – etapas mais caras da reforma – res­ tando a construção de calçadas no entorno e de uma cisterna. A entrega está marcada para dezembro deste ano. Toda a recuperação do Parque Polies­ portivo da UFRN tem custo estimado em R$ 26 milhões. Além da nova da pista de atletismo, o projeto contempla a amplia­ ção do Ginásio de Esportes, a construção de academias, as reformas do campo de futebol, das piscinas e das instalações elé­ tricas do complexo. Segundo a reitora Ângela Paiva, as obras deverão estar concluídas até a Copa do Mundo de 2014. ““Aqui vamos ter melhorias na formação em cursos de graduação e de pós-graduação e daremos apoio a eventos esportivos nacionais e in­ ternacionais. Queremos não apenas for­ mar equipes, mas também desenvolver o esporte como ação que conduz à cidada­ nia plena”, declarou.

Zelo “Tira o salto, Magnólia. Você tá dan­ do mau exemplo: não pode usar salto na pista”, protestou em tom de brincadeira a professora Suzete Cabral. diretora da Di­ visão de Atividades Desportivas (DAD) da UFRN. a quem foi confirada a tarefa de administrar e zelar pelo novo Parque Po­ liesportivo da Instituição. “Embora seja resistente, é preciso mui­ to cuidado para que o material da pista não seja danificado. Foi um investimento alto e temos que cuidar disso”, destacou Suzet. Para atender aos “atletas de finais de semana”, a diretora contou que serão cons­ truídas uma área para caminhada e uma ciclovia ao redor do complexo. “A Univer­ sidade tem hoje mais de 45 mil alunos, e a gente vai poder atender a todos eles”. A reforma das instalações esportivas exigiu novas regras para a utilização do es­ paço. Terão prioridade de uso pessoas vin­ culadas a projetos acadêmicos de pesquisa e de extensão – especialmente aquelas que têm o esporte de alto rendimento como objeto de estudo. Os equipamentos tam­ bém poderão ser utilizados no treinamen­ to de equipes para competições oficiais. “Possivelmente virá treinar aqui a Seleção Brasileira de Atletismo. Também receberemos a Seleção do Rio Grande do Norte e nossas equipes universitárias”, contou Suzet Cabral. “Tínhamos antes uma estrutura muito precária, mas agora acredito que o crescimento do esporte vai ser muito grande, tanto no estado, quanto

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na UFRN”, avaliou a professora. Ricardo Leyser, secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, explicou que outras quinze instituições públicas de en­ sino superior do País ganharão pistas de atletismo semelhantes até 2014, mas que a UFRN será a primeira a inaugurar a obra. O secretário estimou a despesa total em R$ 180 milhões. “A importância do investimento é para o trabalho de base”, apontou Leyser. “Tere­ mos a condição de formar o atleta desde o início em um equipamento adequado para a prática. Isso evita lesões e permite que as marcas sejam mais precisas”, considerou. Motivação Magnólia Figueiredo, ex-atleta norteriograndense que participou de três olimpíadas – e a quem Suzet Cabral aler­ tava sobre o sapato de salto –, treinou na antiga pista da Instituição entre os anos de 1976 e 1988. Magnólia não escondeu a satisfação em ver os resultados da reforma: “só de olhar, você já se sente motivada”, falou – já descalça. “Tenho uma gratidão enorme pela Universidade porque foi aqui que me desenvolvi, que fui acolhida e que fiz grandes resultados. Mas confesso que preferiria estar iniciando minha vida ago­ ra, numa estrutura como esta”, revelou. A ex-atleta comentou que o novo equi­pamento pode evitar que talentos da modalidade tenham que deixar o estado em busca de melhores condições de trei­ namento. “A academia ganha, é claro, mas isto aqui também possiblitará o desen­ volvimento de grandes atletas”, afirmou. José Figueiredo, que leciona a disci­ plina de atletismo no curso de Educação Física, explicou que a diferença para a pes­ quisa estará na precisão dos dados coleta­ dos. “Você pode aferir informações com o rigor que a ciência exige. Quando feitos aqui, os estudos apresentarão dados mais respeitáveis”, pontuou. O professor conteve o entusiasmo para fazer uma ressalva: “é bom lembrarmos, porém, que esta pista é somente um instru­ mento. Sejamos humildes: ela por si só não fará milagres”, disse. “Nesse mesmo lugar, treinando na terra, Magnólia Figueiredo por três vezes foi às Olimpíadas e por onze vezes bateu o recorde sulamericano”, lembrou. * Colaborou Cezar Barros


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