Jornal da UFRN - Novembro de 2013 - Ano XV nº 67

Page 1

ano XV | nº 67 | novembro de 2013 - distribuição gratuita

ARTE BARROCA Esplendor que atravessa séculos ora como vanguarda ora como tradição Página 3

CCSA

Interior

Ensino

Homenagens a servidores nas

A beleza do sertão nordestino

Como desconhecidos doadores

comemorações de 40 anos do mais

como potencial turístico e

de corpos ajudam na formação

antigo Centro Acadêmico da UFRN

econômico no Seridó

dos profissionais de saúde

Páginas 6 e 7

Página 10

Página 5


ENERGIA

Microalgas podem ser opção na produção de biocombustível no Rio Grande do Norte Graco Aurélio

Cultivo de microalgas no CTA, Extremoz - RN

Por JOãO PAULO DE LIMA

Q

uando se fala na produção de biocombustíveis é comum a associação com vegetais oleaginosos como a mamona e o girassol. No entanto, Graco Aurélio Câmara de Melo Viana, professor e diretor do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tem desenvolvido projeto em parceria com a Petrobras, mostrando que as microalgas obtêm alta produtividade como matéria prima para biocombustíveis e representam uma alternativa na geração de energia limpa para o Brasil e, principalmente, para o Rio Grande do Norte. Intitulada “Cultivo de microalgas para produção de biodiesel”, a iniciativa é inédita no nordeste brasileiro e desen-

volve a produção vegetal em larga escala na estrutura do Centro Tecnológico de Aquicultura (CTA), instalado na Fazenda Samisa, no município de Extremoz-RN. “A alta produtividade é uma das principais características das microalgas, que, além disso, utilizam em seu cultivo áreas marginalizadas para produção de biocombustíveis”, afirma Graco Aurélio, coordenador do projeto. Para ele, esta é uma iniciativa de ponta, que insere o estado no contexto nacional na área de Aquicultura e biocombustíveis. Em relação à produção de óleos em laboratórios, as microalgas oferecem um rendimento pelo menos 15 vezes maior do que a palma, oleaginosa mais produtiva atualmente. Com isso, a extração do biodiesel a partir desse procedimento se apresenta como uma alternativa vantajosa. Além disso, a área ocupada no seu

cultivo é 100 vezes inferior à área das culturas tradicionais. Em média, são utilizados apenas 2.500 hectares para abastecer uma refinaria de 250 mil toneladas, enquanto são necessários 500 mil hectares de soja e 250 mil de girassol para produzir a mesma quantidade de óleo. A Planta Piloto do projeto ocupa uma área com mais de 3 mil metros quadrados. Em laboratórios comuns, o trabalho é feito em garrafões de até 20 litros, mas os tanques fotobiorreatores do CTA, onde as microalgas são cultivadas, armazenam uma capacidade útil de 4 mil litros. Toda essa infraestrutura gera uma produção de 500 quilos de biomassa por mês, quantidade suficiente para fabricar aproximadamente 2 mil litros de biodiesel. BioComBUstÍVeis Diante dos esforços globais por uma sociedade sustentável, a busca por com-

bustíveis menos degradantes para a atmosfera é uma questão urgente. Nos grandes centros urbanos, principalmente, o carvão mineral e os derivados do petróleo (gasolina e diesel) são fontes importantes de poluição. Em Curitiba, testes feitos em ônibus do transporte coletivo movidos totalmente a biodiesel mostram que houve redução de 30% no índice médio de monóxido de carbono e queda de 25% de fumaça expelida no ar. Indagado sobre a possibilidade de, no futuro, a utilização dos biocombustíveis ser maior do que o consumo dos combustíveis fósseis, Graco Aurélio responde que “com as crescentes questões de conflitos entre nações e outras problemáticas que envolvem o petróleo, os biocombustíveis se apresentam como um clamor da sociedade mundial por um modo de vida sustentável”.

EXPEDIENTE Reitora Ângela Maria Paiva Cruz Vice-reitora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes Superintendente de Comunicação José Zilmar Alves da Costa Diretor da Agência de Comunicação Francisco de Assis Duarte Guimarães Editora Enoleide Farias Jornalistas Antônio Farache, Cledna Bezerra, Enoleide Farias, Hellen Almeida, Juliana Holanda, Luciano Galvão, Marcos Neves Jr., Regina Célia Costa Fotógrafos Anastácia Vaz e Wallacy Medeiros Revisoras Regina Célia Costa e Karla Jisanny (bolsista) Foto de capa Wallacy Medeiros

Diagramação Setor de Artes/Comunica Bolsistas de Jornalismo Aline Nagy, Ana Clara Dantas, Auristela Oliveira, Catarina Freitas, Ingrid Dantas, João Paulo de Lima, Júnior Marinho, Kalianny Bezerra, Rozana Ferreira, Silvia Paulo, Taís Ramos, Thyara Dias Bolsista de Letras Karla Jisanny Arquivo Fotográfico Saulo Macedo (bolsista) Endereço Campus Universitário - Lagoa Nova, Natal/RN - CEP 59072-970 Telefones (84) 3215-3116/3132 - Fax: (84) 3215-3115 E-mail boletim@agecom.ufrn.br – Home-page www.ufrn.br Impressão EDUFRN Tiragem 6.000 exemplares

Jornal da UFRN

2

ano XV | nº 67 | novembro de 2013


ARTE

Pesquisador estuda há 30 anos o Barroco,

“expressão eterna” da arte Fotos: Wallacy Medeiros

Por KALIANNY BEZERRA

O

que Chacrinha, Carmen Miranda e Luiz Gonzaga têm em comum? Com suas ornamentações e um certo exagero no momento de comunicar, todos esses personagens que fizeram parte da cultura popular brasileira são barrocos. É o que afirma o professor do Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Francisco Ivan da Silva. Estudioso do barroco há mais de 30 anos, o docente afirma que o fazer desse estilo artístico está cada dia mais vivo, constituindo todo um período histórico com um modo próprio de entender o mundo, o homem e a religião. “A tradição dessa arte não se fecha num só século, ela abre horizontes para a compreensão ampla da sociedade”, afirma Francisco Ivan. O barroco teve seu berço na Itália, durante o século XVII, e logo se espalhou por outros países da Europa, chegando ao continente americano graças aos colonizadores portugueses e espanhóis. No Brasil, foi diretamente influenciado por artistas portugueses, adquirindo características próprias. A grande produção artística barroca no país ocorreu nas cidades auríferas de Minas Gerais, no século XVIII, o denominado século de ouro. Com forte caráter religioso, as obras eram feitas em madeira e pedra-sabão, principais materiais usados pelos artistas brasileiros. Com o tempo, esse estilo continuou vivo e, aos poucos, foi se modelando, adaptando-se à realidade de cada época. Para Francisco Ivan, o barroco pode ser considerado um precursor do modernismo surgido no século XX. Ele acredita que a proposta moderna recicla ideologicamente o estilo como um fator de identidade cultural. “Nessa época, os modernistas são os primeiros a descobrirem Ouro Preto e retomar essa arte como identificação da sociedade”, coloca. “As vanguardas sempre resgatam fundamentos do barroco como os poetas Federico García Lorca, Oswald de Andrade e Haroldo de Campos”, diz o professor. Seja de forma funcional ou estética, tal estilo dialoga com outros formando perspectivas únicas como nas construções de Oscar Niemeyer. Inspirado em características como o antagônico e o exagero, o arquiteto ca-

Francisco Ivan: As vanguardas sempre resgatam fundamentos do barroco rioca projetou o Conjunto da Pampulha, em 1940, em Belo Horizonte. O bairro que tinha a proposta de fornecer lazer, com direito a cassino, clubes, igrejas e restaurantes, tem como particularidade as curvas que marcam o barroco. O maior modelo está na Igreja de São Francisco de Assis que traz curvas e linhas oblíquas, atribuindo um caráter assimétrico e flexível. “Os artistas atuais se apropriam do barroco e criam em cima dele uma nova produção sem deixar morrer toda a herança desse estilo. Isso é reciclagem”, diz. Apaixonado por essa arte, Francisco Ivan ressalta que a vê em tudo. “Ela está na minha vida. Se estou triste e depois feliz, se sorrio ou choro”, declara.

lançamento de livros, conferências e mostra de filmes. Segundo o coordenador geral do evento, o professor Francisco Ivan da Silva, o colóquio proporciona a troca de conhecimento. “Essa é uma ação tão grande que envolve professores até de fora do Brasil. É impressionante o número de pesquisas exemplares que conseguimos juntar em apenas três dias”, diz. Para o docente, esse tipo de encontro também se faz necessário para envolver os alunos e mostrá-los que esse não é um estudo de algo antigo, mas, um fenômeno que está entre a sociedade e que é percebido por poucos. “A tradição barroca só tem sentido se a comunidade acadêmica estiver envolvida. Nós nos aliamos ao estudante universitário para dar continuidade a esses estudos”, aponta. eXposição No Núcleo de Arte e Cultura (NAC) da UFRN, os participantes do Colóquio puderam apreciar a Exposição Coletiva “O Eterno Retorno do Barroco”, com obras do acervo de arte sacra e popular dos artistas Antônio Marques de Carvalho, Erasmo Andrade, Jota Medeiros, Dorian Gray, Francisco Magno, Ébeson Rolim, Cristi R. Paiva e Marcos Câmara Jr.

estUDar e reVitaLiZar O barroco foge dos vazios, decora superfícies e espalha figuras. As manifestações artísticas revelam um movimento dinâmico, plural e flexível, fazendo voltar o que está no futuro. Com essa perspectiva, o Grupo de Pesquisa Ponte Literária Hispano Brasileira da UFRN realiza anualmente um encontro que reúne alunos, estudantes e pesquisadores de diversas áreas interessados no assunto. O IX Colóquio de Estudos Barrocos idealizado pelo grupo aconteceu em outubro. Com o tema “O eterno retorno do Barroco”, o encontro trouxe a diversos lugares da instituição discussões sobre o que esse estilo artístico representa nos dias atuais. Para tanto, foram promovidas palestras, mesas-redondas, saraus poéticos,

Jornal da UFRN

3

ano XV | nº 67 | novembro de 2013


Anastácia Vaz

NOTAS Tecnologia O secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, Rogério Marinho, visitou a reitora Ângela Paiva para discutir a parceria com a UFRN para implantação do Parque Tecnológico do Rio Grande do Norte. Segundo ele, a parceria com a Universidade é muito importante porque “com o parque inserido no ambiente acadêmico, o mercado vai estar diretamente ligado à pesquisa”. Mudança O CONSEPE aprovou o novo Regulamento dos Cursos de Graduação da UFRN, que entrará em vigor em 2014. As principais mudanças são o novo sistema de avaliação nas disciplinas, a flexibilização de pré-requisitos e a criação de turmas de reposição específica – para estudantes que já cursaram o componente curricular. Interiorização O CONSEPE aprovou também o Argumento de Inserção Regional para o Sistema de Seleção Unificada (SiSU) 2014. Segundo o pró-reitor de Graduação, Adelardo Adelino, a mudança beneficia alunos que concluíram o Ensino Fundamental e cursaram todo o Ensino Médio nas regiões para as quais candidatem-se a cursos de graduação. Inclusão A Escola de Música realizou na UFRN, o I Encontro sobre Ensino de Música para Pessoas com Deficiência Visual, iniciativa que amplia os passos da Universidade rumo à inclusão. O Esperança Viva, grupo de flauta doce, composto por deficientes visuais, abriu o encontro, tocando clássicos da MPB, como “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, “Anunciação”, de Alceu Valença e “Love me Tender”, de Elvis Presley. Adeus A UFRN deu adeus ao talento do professor Edson Claro, do Departamento de Artes, que faleceu no dia 30 de outubro. Junto com o professor Henrique Amoedo, Edson Claro se destacou também pela criação da Roda Viva Cia. de Dança, uma das primeiras iniciativas em Natal a trabalhar com bailarinos portadores de deficiências. Fotografia Os estudantes levaram a melhor no “Concurso de Fotografia Somos UFRN”, promovido pela PROGESP. Yanna Beatriz de Medeiros, de Ciências Sociais, levou o primeiro lugar; Johnston Evangelista, de Comunicação Social, ficou em segundo e Catarina Zulmira de Souza Lira, de Fisioterapia, em terceiro.

Projeto da Escola de Música da UFRN promove inclusão social por meio da música

INCLUSÃO

Grupo Esperança Viva leva experiências de educação musical para pessoas com deficiência visual Por Johnston Evangelista

E

nsinar um deficiente visual exige qualificação. Com a ajuda de alunos, professores e servidores, a Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN), mantém o “Grupo Esperança Viva”, um curso de flauta doce voltado para pessoas com cegueira total ou com baixo grau de visão. Coordenado pela professora Catarina Shin, o Esperança Viva proporciona aos participantes a oportunidade de se desenvolver musicalmente, por meio de atividades rítmicas, melódicas, expressivas, instrumentais, teóricas e de introdução ao estudo da musicografia Braille – código que permite aos cegos perceber a notação musical por meio de células marcadas com pontos em alto relevo. “A importância do aprendizado da música por portadores de deficiência visual se justifica pela oportunidade de desenvolver sentidos como o

Jornal da UFRN

4

tato e a audição, que guiam essas pessoas na ausência da visão”, explica Catarina. Entre outros lugares, o grupo já fez apresentações no Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (IFRN) de Ipanguaçu, na Coope­rativa Cultural do Centro de Convivência da UFRN, na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), em Mossoró, e na Televisão Universitária (TVU). Os encontros do “Esperança Viva” acontecem todas as segundas-feiras e são divididos em dois momentos: estudos de musicografia Braille, das 14h às 15h30, e aulas de flauta doce, das 15h45 às 17h15. Sobre o processo da representação escrita de música, a professora Catarina esclarece que “as partituras escolhidas são digitadas no software “Musibraille” pelos professores e estagiários do curso e, em seguida, são enviadas ao Laboratório de Acessibilidade para serem impressas em Braille”. Iniciado em 2011, com o nome “Flauta Doce”, o projeto quer desmistificar estereótipos e preconceitos em torno da pessoa com deficiência visual. No começo, o

ano XV | nº 67 | novembro de 2013

curso trabalhava com alunos do Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte (IERC) e da Associação de Deficientes Visuais (ADEVIRN). Hoje, o projeto recebe qualquer pessoa que tenha interesse em participar. O nome “Esperança Viva” surgiu em 2012 e veio da inspiração de um dos alunos. Pedro Marcelino de Lira, autor da proposta, argumenta que o curso proporcionou mais alegria e confiança a todos. “É uma esperança viva de algo bom que está acontecendo conosco, mas que também se projeta para o futuro”, afirma Pedro. Além do espaço físico para a realização das aulas, a EMUFRN disponibiliza veículo e motorista para o deslocamento da maioria dos alunos. O projeto conta ainda, com ajuda da Comissão Permanente de Apoio a Estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (CAENE) da UFRN. O “Grupo Esperança Viva” foi uma das atrações na Mostra de Corais e Música de Câmara da CIENTEC Cultural 2013.


SAÚDE

Doação de corpos para ensino possibilita formação de médicos mais capacitados Wallacy Medeiros

Por Juliana Holanda

A

aposentada Rosa Félix da Silva já comunicou à família: além de ser doadora de órgãos e tecidos, quer que seu corpo seja utilizado para o ensino e a formação de profissionais. Com 64 anos, a potiguar diz que enfrentou dificuldades em convencer familiares e amigos de sua decisão. “Infelizmente, as pessoas ainda são muito ligadas à matéria. Para mim, o sentido da vida é contribuir para a sociedade mesmo após a morte”, acredita. Rosa da Silva faz parte de uma lista de 68 moradores do Rio Grande do Norte que pretendem ceder o corpo para o Departamento de Morfologia (DMOR) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde são realizadas aulas de anatomia humana. “A iniciativa é pouco conhecida, mas é um procedimento simples que auxilia na formação de muitos profissionais”, explica o professor de Anatomia e chefe do DMOR, Expedito Silva do Nascimento Júnior. Todos os anos, a disciplina forma cerca de 1.600 alunos dos cursos de Nutrição, Educação Física, Biomedicina, Farmácia, Enfermagem, Ciências Biológicas, Fisioterapia, Odontologia, Medicina, Engenharia Biomédica, Fonoaudiologia, Biologia (Licenciatura e Bacharelado), Dança e Psicologia. O número de doadores cadastrados na UFRN é ínfimo se comparado às listas de universidades europeias – que chegam a ter mais de dez mil pessoas. A quantidade é insuficiente para suprir as necessidades da Instituição. “Estive na Espanha e vi uma turma que tinha dois alunos por cadáver. Algo impensável para a nossa re-

Expedito Silva, professor de Anatomia da UFRN alidade. Já houve turmas com 50 alunos com acesso a apenas um corpo”, relata Expedito Júnior. O próprio professor é um dos doadores da lista. Ele explica que os cadáveres beneficiam principalmente os estudantes de Medicina, que são os responsáveis pela dissecação. “Entregamos os corpos inteiros para os alunos porque eles precisam desenvolver a habilidade da cirurgia. As peças mais bem dissecadas são armazenadas e disponibilizadas para outras turmas”, conta. Professora de anatomia, Sheila Ramos de Miranda Henriques Tarrapp, enfatiza que a dissecação é um dos momentos mais importantes do curso. “Uma coisa é estudar por uma peça que já está preparada, outra é o aluno se esforçar passo a passo, descobrir ele mesmo como pre-

parar a peça para estudo. O aprendizado é bem melhor”, destaca. Sheila Tarrapp também pretende ce­ der o corpo para a Universidade. “A gente tem muita dificuldade na aquisição de cadáveres. Isso atrapalha não só os futuros médicos, mas alunos de todos os cursos porque também cria uma deficiência de peças anatômicas para outras disciplinas”, avalia. Os estudantes do 3º período de Medi­ cina, Agábio Diógenes Pessoa Neto e Tiago Tavares de Freitas estão cursando anatomia neste semestre. Ambos ressaltam a dificuldade de estudar com poucos exemplares anatômicos. “Fica um aglomerado de gente tentando observar e todo mundo tem que ver tudo bem direitinho para aprender. Temos que ficar revezando e montar uma es-

cala para cada um poder fazer uma parte”, conta Tiago. “Isso atrapalha nosso estudo. Temos que fazer sempre um acordo entre o grupo”, complementa Agábio. Monitores da disciplina e alunos do 7º período de Medicina, Vinícius Dantas Ferreira Lopes e Fábio Santos Esteves Júnior destacam o zelo com que os cadáveres são tratados. “Temos muito respeito, pois é graças a essas pessoas que podemos estudar”, afirma Vinícius Lopes. “Quem doa, contribui para melhorar a qualidade de vida da sociedade, já que possibilita a formação de médicos bem preparados”, analisa Fábio Esteves. Doação O procedimento para ceder o corpo para o ensino é simples e não impede que também seja feita a doação de órgãos e tecidos para transplante. O próprio interessado pode ir ao Departamento de Morfologia da UFRN, onde assina um documento, registrado em cartório, em que declara sua vontade e recebe um cartão de identificação. A família ou o representante legal também pode fazer a doação de quem não tenha sido registrado. “O ideal é que após a morte ser declarada, o cadáver seja enviado para a Universidade o mais rápido possível, para iniciarmos o processo de conservação”, explica Expedito Júnior. Após a utilização dos corpos, algumas estruturas são guardadas para estudo e os restos mortais são sepultados. “Avisamos à família. Caso ela tenha interesse, pode realizar o sepultamento, ou, se preferir, nós mesmos fazemos o enterro”, esclarece o professor. Mais informações podem ser obtidas no site do DMOR: (http://www.cb.ufrn. br/dmor/doacao.htm), pelo e-mail dmor@ cb.ufrn.br ou pelo telefone: (84) 3215-3431.

Dissecação é um dos momentos mais importantes para alunos da área de Saúde

Jornal da UFRN

5

ano XV | nº 67 | novembro de 2013


ANIVERSÁRIO

Professores e servidores recebem homenagens d Wallacy Medeiros

Por Luciano Galvão

H

á 23 anos, Erivaldo trabalha no Almoxarifado do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). De aspecto sereno, conversa fácil e óculos com armação em estilo esportivo, o chefe do setor responsável pelo controle do patrimônio da unidade opera seu computador em uma pequena sala, de frente para uma grande janela de vidro através da qual é cumprimentado pelos que passam no corredor. Dez minutos em que deixou o que estava fazendo para atender ao pedido de entrevista do repórter foram suficientes para que Erivaldo dos Santos Ferreira fosse interrompido por dois telefonemas – que faziam soar dois aparelhos ao mesmo tempo no ambiente diminuto – enquanto à frente da porta se formava uma pequena fila de funcionários do Centro, que esperavam para receber garrafões de água mineral, resmas de papel e itens de material de limpeza. “Eu acho bom esse trabalho. É um pouco estressante, porque as pessoas às vezes acham que a gente quer burocratizar o serviço. Mas são recursos públicos e é minha responsabilidade gerenciar tudo isso”, argumentou o servidor. Em novembro, Erivaldo foi um dos colaboradores do Centro homenageados durante as comemorações dos quarenta anos do CCSA. “Não vou dizer se mereço ou não a lembrança, mas a direção do Centro deve ter reconhecido minha contribuição”, comentou ao responder como se sentia ao ser escolhido para receber o tributo. “Acho legal, porque recompensa o funcionário que se dedica mais”. As homenagens a servidores e professores de cada departamento fizeram parte das celebrações do quadragésimo aniversário. A programação estendeu-se entre os dias 11 e 14 deste mês, e contou também com a produção de um documentário e de um livro sobre a data, o lançamento de uma

Solenidade no Auditório da Reitoria reuniu servidores e docentes do CCSA revista, a reinauguração da galeria de fotos dos ex-diretores da unidade, a realização de exames de saúde no jardim do Centro e ainda exposições de painéis no hall de entrada do prédio. Para a diretora do CCSA, Maria Arlete Duarte de Araújo, comemorar a ocasião é importante não apenas para congregar as pessoas, mas para “criar sentidos compartilhados”. “Em uma unidade onde somos tão diferentes uns dos outros, pensar-se como Centro de Ciências Sociais Aplicadas é necessário para o imaginário da nossa comunidade”, analisa a professora. Arlete lembra que a história do CCSA foi construída com o esforço de muitos que já passaram pela administração, e que isso precisa ser reconhecido. “Quarenta anos não se faz só com quem está à frente hoje, mas são frutos de várias decisões tomadas no passado que definem a configuração que hoje o Centro assume”, considera a gestora, que ressalta também a contribuição coti­diana dos que compõem o quadro. “A gente faz tanta coisa, com tantas dificuldades no dia-a-dia, mas isso às vezes passa invisível. Esses momentos são importantes porque são

Jornal da UFRN

6

espaços para retribuir o trabalho, às vezes duro, que cada pessoa realiza”. “Cachaça” Antônio Sales Mascarenhas é professor na UFRN desde 1978. Mascarenhas, como é chamado pelos colegas, já soma tempo de serviço suficiente para aposentar-se, mas segue em atividade como chefe do Departamento de Ciências Contábeis. “Isso aqui é uma cachaça, sabe?”, compara o docente – entre risos – quando perguntado porque permanece trabalhando. “É muito gratificante transmitir co­ nhecimento”, continua. “Tive uma vida profissional fora da Universidade, minha formação é de bancário, então quis trazer a experiência do mercado para o nosso curso – que é muito voltado para o mercado”, conta o professor, escolhido pelos colegas do departamento para ser homenageado durante as comemorações dos quarenta anos. “Achei que o pessoal foi muito generoso ao me escolher, mas não posso de jeito nenhum recusar essa homenagem. Eu me sinto muito honrado” declara Mascarenhas. “Dentro das minhas possibilidades, fiz o que pude pela Instituição”. Carmem Gabrielli Ferreira de Oliveira é secretária do Departamento de Economia. Com pouco menos de três anos de casa, a

ano XV | nº 67 | novembro de 2013

assistente em administração foi indicada pela unidade em que atua como a servidora que colaborou de forma mais expressiva com o setor. “Fiquei surpresa. Tem pessoas aposentadas, outras que estão aqui há muito tempo, então eu nem contava com isso”, confessa com a voz baixa, tímida em razão da entrevista. A servidora auxilia a chefia do Departamento nas atividades administrativas da unidade e diz gostar do que faz, apesar dos problemas que surgem vez ou outra. “Ainda estou no meu estágio probatório, então achei legal ser escolhida. Considero sinal de reconhecimento. Fiquei orgulhosa”, comenta. “Eu adoro a Universidade. Adoro o que eu faço”, diz com entusiasmo Lindalva Melchuna Madruga, secretária do Departamento de Ciências Administrativas. “Gosto do pessoal que trabalha comigo, dos professores, desse tipo de serviço”, conta. Modesta, Lindalva não concorda com o fato de ser a homenageada da unidade. “Eu não queria ser eleita, porque acho que tem outras pessoas merecedoras, que tra­balham tanto quanto eu e que gostam do que fazem”, justifica. “Como tinham que esco­ lher alguém, então me escolheram. Mas eu havia citado o nome de amigas que vão se aposentar e que mereciam até mais”.


s durante comemorações dos 40 anos do CCSA Aposentados agora trabalham como voluntários Desenvolto, com microfone em pu­ nho, o professor discursava para a plateia espremida no corredor. “O que une as oito pessoas nesse quadro transcende as nossas profissões”, dizia em pé, diante de um painel que expunha breves currículos de oito docentes do CCSA – dentre os quais estava o próprio orador. “Somos todos apaixonados pelo magistério e tenho certeza que, se a vida nos desse uma chance de reiniciar tudo, escolheríamos fazer exatamente o que temos feito até hoje”, falou, imprimindo força às palavras e com breves pausas após cada segmento da frase. José Arimatés de Oliveira é professor colaborador voluntário do Programa de Pós-graduação em Administração (PPgA). Voluntário porque, desde 2010, Arimatés está aposentado. “Continuar após a aposentadoria é uma experiência interessante, porque a gente, sem buscar, recebe certas honras”, contou. “Sinto que as pessoas nos olham como alguém que tem experiência de vida, com um olhar muito especial e que faz bem à gente como ser humano”. José Arimatés e mais sete docentes voluntários foram lembrados durante as comemorações dos 40 anos do CCSA. Um painel com depoimentos dos homenageados foi afixado no hall de entrada do prédio da unidade, e outro igual no Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais Aplicadas (NEPSA), espaço vizinho ao Centro. Na solenidade em que se inaugurou o quadro, intitulado “Um pouco de muita história”, discursaram também a diretora Maria Arlete Duarte de Araújo e a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social, Silvana Mara de Morais dos Santos. Para Arlete Araújo, o aniversário do Centro era a ocasião adequada para a homenagem. “São pessoas que deram uma enorme contribuição em todo o período de sua vinculação efetiva e continuam aqui, cumprindo mais uma vez com um esforço de formação dos nossos alunos”, comentou. Compromisso Djalma Freire Borges é professor da UFRN desde 1977. Aposentado em 2004, o pesquisador segue atuando como cola­ borador do Mestrado Profissional em Gestão Pública. “Quando entrei na Universidade, fui trabalhar na então Pró-reitoria de Planejamento e tive a honra e a felicidade de trabalhar na elaboração do projeto do Mestrado em Administração”, recordou.

Anastácia Vaz

1973 Ano de fundação do Centro, fruto da reestruturação da UFRN que transformou a Escola de Serviço Social e as faculdades de Direito e Ciências Econômicas no Centro de Ciências Sociais Aplicadas/CCSA

1977 Criação do Programa de PósGraduação em Educação do CCSA, o primeiro da UFRN “Um pouco de muita história”, painel afixado no hall do NEPSA O amor pelo ensino, segundo o docente, é que o faz permanecer em atividade. “É aquela gratificação de sempre, de estar em contato com os novos, de saber as preocupações deles e de ver o crescimento de alguns. Isso é muito interessante”, disse. José Arimatés concorda com o colega de profissão. “Quanto mais a gente conversa, quanto mais interage com o estudante, mais a gente cresce” apontou Arimatés, que foi pró-reitor de Administração entre 1991 e 1995. “Sei que tenho conhecimento acumulado, por isso não devo deixar de contribuir com a Instituição em que eu passei quarenta anos”, afirmou. Para Maria da Penha Machado de Medeiros, também voluntária no PPgA, o medo de ficar longe da sala de aula foi o que a motivou a continuar lecionando após a aposentadoria. “Isso, de uma certa forma, me apavorava porque eu adoro o ambiente acadêmico e gosto muito de lidar com alunos. É a minha realização”, comentou. Docente da Universidade desde 1984 – e aposentada em 2012 –, Maria da Penha lembra das vezes em que foi homenageada em formaturas de turmas das quais foi professora. “Recordo – sem nenhuma vaidade, porque isso é uma consequencia natural do tabalho do professor – dos dois anos em que eu fui paraninfa”, relatou. “Isso me emocionou tanto, que quando fui fazer o discurso, as lágrimas vieram, engasguei, quase não saía, na frente de quase mil pessoas”, contou, sem conseguir disfarçar o embargo na voz. Segundo Penha, não há diferença no trabalho após a aposentadoria. “Não é só quando a gente é pago que nos realizamos, mas quando fazemos o que relamente gostamos. O papel do professor, o envolvimento, têm

Jornal da UFRN

7

o mesmo sentido. Você dá aquilo que você tem de melhor, dá seu sangue”, ressaltou. Jomária Mata de Lima Alloufa aposentou-se em 1997, quando era Departamento de Educação. Desde então, colabora com o PPgA e diz que o compromisso com a Instituição é o que faz com que siga no exercício do magistério. “Sou pesquisadora por amor. Tenho uma energia muito grande, apesar da idade, e continuo aqui porque me sinto muito comprometida em devolver para a sociedade tudo aquilo que ela me proporcionou”, disse. A docente participou das implantações do mestrado e do doutorado em Educação na UFRN, chefiou o departamento em que era lotada, coordenou o programa de pós-graduação, assim como fez parte da criação de núcleos de pesquisa na Universidade. “Como estou aqui desde o nascimento do CCSA, acompanhei todo o seu desenvolvimento, tanto estrutural quanto também nas área de ensino, pesquisa e extensão”, apontou. Devido ao tempo em que Jomária exer­ce a função voluntária, seus colegas de Centro brincam que terão de aposentá-la novamente. A professora não se incomoda: “espero ainda continuar mais alguns anos. Me sinto com muita energia e tenho que aplicar naquilo que eu amo fazer que é ensinar, pesquisar e contribuir para a formação dos profissionais do nosso estado. O prazer é o mesmo de continuar servindo à Universidade. Isso aqui é minha identidade profissional, à ela devo muito”. Também receberam a homenagem os professores Odair Lopes Garcia, Severina Garcia de Araújo, Paulo Lopo Saraiva e Odília Sousa de Araújo, que faleceu em agosto.

ano XV | nº 67 | novembro de 2013

10 Cursos de graduação são oferecidos atualmente, sendo dois de educação tecnológica e um de ensino a distância

7 Programas de pós-graduação são abrigados no Centro

4500 Número de alunos de graduação que tem hoje o CCSA

900 Quantidade de estudantes que ingressam todos os anos no Centro

70% Dos discentes do CCSA concluem seus cursos

50% Dos alunos de especialização da UFRN são do Centro

36 Grupos de pesquisa estão alocados no CCSA

350 Número aproximado de mestres e doutores formados no Programa de Pósgraduação em Administração do CCSA


SUSTENTABILIDADE

Engenharia de Petróleo debate capacitação profissional durante Fórum Estadual de Energia

Neli Terra

Wallacy Medeiros

Jean-Paul Prates: UFRN é instituição de excelência na formação de profissionais na área de energia Por LUCIANO GALVãO

“A

UFRN é a grife top do Rio Grande do Norte no setor energético”, afirma o palestrante sem querer deixar dúvidas. Para Jean-Paul Prates, presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE) – entidade mantida por empresas do segmento para fomentar atividades relacionadas à exploração de fontes energéticas –, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é considerada pelo mercado uma instituição de excelência na formação de profissionais para a indústria de energia. “Mesmo no Sul e no Sudeste, a UFRN é muito bem vista. É preciso trabalhar junto às empresas para torná-la ainda mais conhecida”, diz Prates, que acredita ser necessário aumentar o diálogo com as organizações para dar destaque a programas e resultados alcançados pela Instituição. A opinião foi emitida durante o 2º Fórum Estadual de Energia do Rio Grande do Norte (FEERN), que aconteceu entre os dias 17 e 18 de outubro em Natal. Realizado em parceria pela UFRN, pelo CERNE, pelo Centro

Jornal da UFRN

8

de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis e pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o Fórum discutiu o panorama econômico do estado nos segmentos de petróleo, gás natural, biocombustíveis e energias solar e eólica. A capacitação e a inserção de profissionais no setor energético foi tema de debate durante o último dia do Fórum. Wilson da Mata, professor do Departamento de Engenharia de Petróleo, representou a UFRN na ocasião. “Mostramos o que temos feito nos últimos tempos na formação de pessoas para a área de energia, especificamente no segmento de petróleo, que é o nosso carrochefe”, conta Wilson. Segundo o docente, a Universidade sai do 2º FEERN com a missão de se fortalecer no setor de energias renováveis. “Com a inserção do estado – com grande potencial – no setor de energias eólica e solar, a Instituição terá que se qualificarpara que tenhamos liderança também nesse campo”, destaca. A falta de receptividade para profissionais formados no Rio Grande do Norte foi um dos pontos levantados durante o debate. “Essa questão não atinge a UFRN, felizmente. Nós já temos um nome no mercado e grandes empresas vêm fazer seleção interna

ano XV | nº 67 | novembro de 2013

na nossa Instituição para recrutar profissionais”, conta Wilson da Mata. Para Jean-Paul Prates, é preciso que a visibilidade que a Universidade possui se estenda às demais instituições de ensino do estado. “É importante nos juntarmos para fazer uma grife no Rio Grande do Norte. Queria muito ver alguém no escritório de uma empresa no Rio de Janeiro dizer que quer um profissional daqui, porque confia que essa pessoa foi bem formada”, afirma. “Isso resultaria em empregabilidade imediata e, em outro estágio, em uma remuneração melhor”, diz o presidente do CERNE. Os participantes do evento concordaram que é necessária a criação de um banco de dados que envolva universidades, centros de formação técnica e empresas do setor para aperfeiçoar o processo de inserção dos profissionais no mercado. “Vamos relacionar essas definições a que chegamos para que no ano que vem a gente traga boas notícias nesse aspecto”, espera Jean-Paul. Além de Wilson da Mata e Jean-Paul Prates, compuseram a mesa do debate representantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), do Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis, da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte e de instituições de ensino privadas do estado. partiCipação estratÉGiCa Valter Fernandes, pró-reitor de Pesquisa da UFRN, conta que o 2º Fórum Estadual de Energia do Rio Grande do Norte foi uma “construção conjunta” das entidades, e surgiu da iniciativa do CERNE em reunir instituições, pesquisadores, profissionais e empresários do setor em torno do tema. O pró-reitor diz que é preciso ampliar o horizonte da Universidade para alcançar também o segmento de energias renováveis. “Já temos uma boa participação em áreas mais tradicionais, e a Universidade precisa aprofundar a pesquisa e a formação no campo das energias eólica e solar”. Além da discussão sobre a formação e a inserção de profissionais no mercado, o pró-reitor destaca a importância do Fórum em trazer o debate das energias renováveis, ressaltando o potencial que possuem para subsituir o petróleo como combustível. “Se tivermos alternativas ao petróleo, podemos utilizá-lo para fins mais nobres – como a produção de plásticos – e não somente queimá-lo”, exemplifica. “A participação da Universidade é estratégica nessa discussão”, aponta o pró-reitor.


CIDADANIA

Respeito à natureza e ao próximo são pontos fundamentais no Grupo de Escoteiros da UFRN Anastácia Vaz

Por Auristela Oliveira

A

ventura, diversão e muito aprendizado fazem parte do movimento escoteiro, há 32 anos presente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com o Grupo Escoteiro Universitário (GEU) - 31RN, fundado em maio de 1981, pelo professor Marcos Torres, do Departamento de Administração da UFRN e por sua esposa Avanilde Cocentino e com sede na Praça do Conjunto dos Professores. O surgimento do GEU é devido ao Capelão da UFRN à época, monsenhor João Penha Filho, um entusiasta do movimento, o mais antigo escotista do estado e que por mais de 30 anos presidiu a Regio­nal dos Escoteiros no Rio Grande do Norte. Nestes 32 anos de funcionamento do GEU, cerca de 3 mil pessoas já passaram pelo grupo e, algumas permanecem no movimento até hoje, como Renata Swany, que ingressou no ano 1982, a pedido de uma tia que chefiou os lobinhos. Renata é professora do Departamento de Ciências Biológicas da UFRN e atual coordenadora do ramo Sênior, que reúne os jovens com idade entre 15 a 17 anos. Segundo Renata, o GEU é uma organização que trabalha com a educação não formal de crianças e jovens, completando a formação dada pela escola e pela família, além de fortalecer os laços de amizades entre os participantes. As atividades desenvolvidas no escotismo, explica, visam a trabalhar valores que estimulem o intelectual, o emocional, o físico, o moral, o social e o espiritual, independente da religião que o jovem e a sua família seguem. A professora explica que no caso do GEU as atividades não se restringem ao Campus Universitário. Quem participa do grupo aprende que a função do escotimo é “servir e ajudar ao próximo”, então muitos dos jovens que integram o grupo escoteiro da UFRN desenvolvem serviços junto à comunidade. As atividades são diversificadas, podem incluir a participação em uma campanha de vacinação, por exemplo, ou ainda em ou­ tras ações voltadas à valorização da sociedade ou à conservação do meio ambinente. Alguns já participaram ou participam de ações como o plantio de mudas ou do Projeto Sala Verde, desenvolvido pela Superintendência de Infraestrutura (SIN). Outros fazem a visitação de creches, entidades de

Natal sediará o Jamboree Nacional Escoteiro em 2015 assistência a idosos ou a hospitais. Além das atividades locais, o grupo também se destaca em nível regional e nacional, por exemplo, no Jamboree do Ar – JOTA, uma atividade mundial que ocorre há mais de meio século reunindo milhares de jovens de diferentes etnias, credos, ideologias. Em 2015, Natal sediará o Jamboree Nacional Escoteiro. Djalma de Amaro Neto, 15 anos, diz o que o motivou a fazer parte do grupo foi o fato de gostar muito da natureza. Depois de buscar informações sobre os grupos de escoteiros existentes na cidade, Djalma escolheu o GEU, onde está há sete meses. O jovem ainda conta que os seus pais o apoiaram quando decidiu ingressar no escotismo, principalmente a sua mãe, que sempre procura informações sobre seu entrosamento no grupo. “Gosto muito dos acampamentos, pois me permitem ter contato com a natureza e apren­der como cuidar dela. Ele destaca alguns valores que diz, levará ainda, “o cuidado pela natureza e o respeito pelas pessoas, independente de condição social ou religião”, afirma o jovem. A coordenadora Renata Swany reco­ nhece que o acompanhamento dos pais é fundamental para o bem-estar físico dos filhos junto ao grupo de escoteiros. Ela ex-

Jornal da UFRN

9

plica que a participação nas reuniões e até mesmo nos acampamentos é importante porque permite a organização do GEU saber aspectos como o rendimento escolar, as relações familiares e até sentimental. Luciano Fábio, pai de escoteiro, diz que no início não queria que seu filho entrasse no escotismo, porém sua percepção mudou com o tempo. Passados quase cinco anos ele diz ser perceptível as mudanças no comportamento do filho: melhorou as notas na escola, o relacionamento em casa e está mais atento às suas tarefas diárias, como manter o quarto organizado. Atualmente, cerca de 200 pessoas estão envolvidas nas atividades do GEU, que tem como presidente Clodoaldo Freitas. O professor Ivan Nascimento, do Departamento de Ciências Contábeis, res­ ponde pela coordenação da equipe e pela presidência da Regional dos Escoteiros no Rio Grande do Norte. Para todas as idades O escotismo não tem idade e perdura por gerações. Bráulio André, Conselheiro Nacional da União de Escoteiros do Brasil (UEB) e membro do GEU há 50 anos, conta que ingressou no escotismo com 12 anos de idade, e permanece até hoje. O movimento proporciona experiência

ano XV | nº 67 | novembro de 2013

de vida muito rica, principalmente no que concerne a autodisciplina e autodesenvolvimento e valores. “Eu tenho os famosos ‘amigos de fé e irmãos camaradas, fruto do escotismo”, conta. Daniel Capistrano, 20 anos, escoteiro pioneiro, está há quatro anos no grupo e diz que o escotismo o ensinou muitas coisas, como respeitar as pessoas, independente da origem, condição social e religião. “Os valores aprendidos que levarei para a vida são: respeitar o próximo, respeitar a natureza, ser leal, ter uma só palavra, ser amigos de todos”, ressalta animado o jovem. Há oito anos o GEU faz parte dos grande projetos da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX). Alunos dos diversos cursos da UFRN podem participar como instrutores e escoteiros. Os instrutores atuam no trabalho de conscientização e esclarecimento, podendo contribuir, em alguns casos na escolha de futuras profissões. As reuniões do GEU acontecem todos os sábados, das 14h às 17h, na Casa de Pedra, localizada na Praça Cívica do Campus Universitário, por trás do palco principal do Anfiteatro. O projeto ainda dispõe de uma página no Facebook: (https://www. facebook.com/geu31rn) e de um perfil no Twitter: (@geu31rn).


EXTENSÃO

UFRN promove desenvolvimento do turismo ecológico e da economia na região do Seridó Por JULIANA HOLANDA

O

s pontos turísticos do Seridó potiguar estão sendo mapeados para identificar os principais atrativos da região e promover o turismo ecológico por meio de trilhas na natureza. Idealizada pelo curso de Turismo do Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES) de Currais Novos, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a atividade busca divulgar e preservar a natureza do sertão nordestino e desenvolver a economia local. “As pessoas que se propõem a fazer trilhas ecológicas normalmente têm uma conscientização ambiental maior. Pretendemos contribuir para a preservação do Seridó, mostrando a importância cultural e a beleza desse ecossistema”, destaca a coordenadora do projeto, a professora Clébia Bezerra da Silva. Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas e Cerro Corá foram os municípios escolhidos inicialmente para participar do programa. Lagoas, pinturas rupestres, formações rochosas, áreas naturais, vegetação e clima característicos fazem parte das atrações dessas cidades. Para sugerir e organizar as trilhas, foi feito um levantamento, por meio de pesquisa bibliográfica sobre a região. Itens como duração do percurso, proximidade e acessibilidade foram analisados pelos turismólogos, e servirão de parâmetros

na construção dos roteiros para excursões aos pontos turísticos, com a supervisão de guias locais. Ednaja Faustino da Silva, aluna do 8º período de Turismo em Currais Novos, participa do projeto desde o início de 2013, e ficou responsável pela organização da trilha de Cerro Corá. “Além de ser uma paisagem muito bonita, tem todo o ecossistema da caatinga e do Seridó, mas com aspectos diferenciados por ser uma região serrana”, explica. A estudante destaca o aprendizado nos âmbitos acadêmico e social. “A gente aprende como trabalhar com a comunidade local e a importância da inserção das pessoas no projeto para que ele realmente funcione”, conta. Ednaja destaca ainda a integração das cidades. “O turista virá conhecer o Seridó e não apenas um município, dando visibilidade aos atrativos diferentes que eles têm”, analisa. Há dois anos, estudando o potencial do Seridó, a equipe pretende lançar em dezembro deste ano um site para divulgar as trilhas ecológicas e a infraestrutura turística dos lugares, como pousadas e contatos de guias locais. “Nosso objetivo é ajudar a organizar o turismo no Seridó para que as trilhas possam ser comercializadas pela própria comunidade, virando uma fonte de renda para a população”, explica a coordenadora. Para despertar o interesse de visitantes e facilitar a escolha das trilhas, a página também vai contar com fotos das atrações e mapas produzidos pelos pesquisadores

Wallacy Medeiros

Ednaja Faustino e Clébia Silva: Cursos de empreendendorismo capacitam população local da UFRN, bem como informações sobre a geografia e a história dos municípios. “Queremos atrair pessoas do próprio estado e turistas que vêm conhecer as belezas naturais do Rio Grande do Norte. O maior foco de visitações é o litoral, mas o interior tem um grande potencial que pode ser desenvolvido”, avalia Clébia Silva. Empreendedorismo A equipe da UFRN vai capacitar a população local por meio de cursos de empreendedorismo. Com duração de 20 horas, as primeiras turmas já estão sendo formadas, começando pela cidade de Acari.

Atividade busca divulgar e preservar a natureza do sertão

Jornal da UFRN 10 ano XV | nº 67 | novembro de 2013

“A ideia é habilitar a população para que ela possa gerenciar as atividades, gerando renda e, ao mesmo tempo cuidando da natureza”, afirma a coordenadora da iniciativa. Há sete anos trabalhando como guia turístico em Cerro Corá, Ronivon Pereira de Araújo aprova as ações da UFRN. Ele espera que a divulgação não só aumente o número de turistas na região, como também daqueles que procuram maior contato com a natureza. “Esperamos receber mais pessoas interessadas em ecotrilhas. As paisagens daqui são convidativas para esse tipo de atividade, mas a procura ainda é baixa”, diz.


entrevista

“A academia é fundamental no debate sobre regulação dos meios de comunicação”

Laurindo Leal Filho, carinhosamente tratado por Lalo entre os colegas, é livre-docente em Comunicação Social. O professor da Universidade de São Paulo (USP) esteve em Natal em outubro, quando participou do 8º Mutirão Brasileiro de Comunicação – evento sediado no Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) entre os dias 27 e 31, sob a coordenação acadêmica do professor Juciano Lacerda, do Departamento de Comunicação Social. Em entrevista ao Jornal da UFRN, Lalo discorreu sobre a necessidade de serem Wallacy Medeiros

Por Luciano Galvão

Qual a im­ portância do marco regulatório da co­ municação social para a sociedade? Queria começar a responder saudando o fato de, na Argentina, a Suprema Corte ter considerado legais quatro artigos do marco regulatório argentino que eram contestados desde 2009, pelo Clarín, um grupo de dimensões semelhantes à Globo no Brasil. Isso significa que a Lei de Meios argentina pode ser colocada toda em funcionamento, e a principal questão que ela aborda é determinar que canais de televisão e rádio – a lei não mexe com a imprensa escrita – devem ser concedidos um terço para emissoras estatais, um terço para as privadas e um terço para emissoras comunitárias. Portanto, o Clarín continua dono, embora não mais com o número de licenças que tem hoje. No Brasil, a Constituição também determina que deve haver complementaridade entre os sistemas público, privado e estatal, mas não temos leis para colocar isso em prática. O exemplo argentino demonstra a importância de uma le­ gislação para ampliar a liberdade de expressão, na contra-mão do que dizem as empresas de comunicação: para elas, um marco regulatório é sempre uma forma de censura, quando, na verdade, é uma maneira de acabar com a censura que os veículos fazem. A concentração dos meios de comunicação é um problema histórico no Brasil. Cada vez menos famílias concentram um número maior de veículos, e isso traz consequências graves para nossa democracia, porque as vozes de outros grupos não conseguem ser ouvidas. Para usar uma expressão clássica, as ideias da classe dominante acabam sendo as ideias dominantes da sociedade. Para combater essa situação é necessária uma regulação como a que foi feita na Ar-

Laurindo Leal Filho. professor da USP gentina. Nossa Constituição tem cinco artigos que tratam muito bem da comunicação social e proíbem os oligopólios, mas eles nunca foram regulamentados. Uma Lei de Meios não seria nenhum fantasma, mas a­penas a regulamentação do que prevê a Constituição Brasileira. Em que estágio se encontra a ela­ boração de um marco regulatório para o Brasil? Em 25 anos, desde 1988, foram ela­ borados pelo Executivo, em governos diferentes, 19 anteprojetos de lei para regulamentação da comunicação social. Nenhum deles foi enviado ao Congresso Nacional. Alguns até foram discutidos, ainda que minimamente, mas sempre houve um temor dos governos de mandar para o Parlamento uma proposta que os

criadas leis que definam regras para a atividade das empresas de rádio e de televisão no Brasil. Para o pesquisador, uma legislação que discipline a atuação dos veículos de comunicação – no jargão jurídico, chamada de marco regulatório – é uma ferramenta para democratizar os meios, apesar de o discurso das empresas taxar qualquer iniciativa do tipo como censura. O professor destaca o protagonismo das universidades no debate, tanto politicamente, no papel de inaugurar a discussão da temática, quanto na produção do conhecimento necessário para o enfrentamento da questão.

colocasse em conflito com as empresas de comunicação. Esse temor se deve ao fato de que os meios de comunicação têm o poder de enfraquecer as gestões e até de derrubá-las. Mas isso precisa ser enfrentado por uma lei democrática, que permita a ou­ tras vozes falar na sociedade. Já que o Exe­cutivo não a faz, e o Legislativo também não – há uma bancada dos radiodifusores que impede qualquer avanço na luta pela democratização da comunicação por meio do Parlamento – a sociedade organizada começou a fazê-la. Há uma proposta para levar ao Congresso Nacional um projeto de Lei de Meios de iniciativa popular, e estão sendo coletadas as assinaturas para torná-la possível, mais ou menos nos moldes do que aconteceu com a Lei da Ficha Limpa. Como se dá a participação dos ci­ dadãos nesse processo? Isso tem a ver com a discussão da Lei de Meios de iniciativa popular, que contempla em um dos artigos do projeto a criação de órgãos reguladores como os que existem na Europa, nos Estados Unidos e, agora, na Argentina. A proposta é fazer a mediação entre a sociedade e os meios de comunicação, por meio de conselhos que integram representantes da sociedade. Também é relevante falar da importância de se criar um conselho estadual de comunicação no Rio Grande do Norte. A Constituição Federal determina a criação do Conselho Nacional de Comunicação, que depois de muita luta foi instalado e funciona como um órgão auxiliar do Congresso. A partir daí, todos os estados têm o poder de criar seus conselhos estaduais, nos mesmos moldes do Conselho Nacional. Em dez constituições estaduais há a figura do Conselho Estadual de Comunicação. Dessas dez, apenas quatro criaram os Conselhos. Dos quatro, somente um funciona, na Bahia. No Rio Grande do Norte, a constituição esta­ dual não prevê o conselho, mas isso não impede que parlamentares apresentem projetos para sua instalação. Eu insisto na importância de os deputados tomarem a frente nesse processo.

Jornal da UFRN 11 ano XV | nº 67 | novembro de 2013

Os conselhos permitem, de forma institucionalizada, a participação dos cidadãos na definição das políticas públicas para a comunicação social. O Estado não tem orçamento para anúncios? Não tem trabalhos de comunicação rural? Não pode ter projetos de comunicação nas escolas? Todos esses são temas que devem ser debatidos pela sociedade no conselho estadual. É um espaço público para a discussão das políticas de comunicação. Qual o papel da academia nesse debate? É fundamental, tanto do ponto de vista político quanto da perspectiva da construção do conhecimento. Volto para o exemplo da Argentina: a Lei de Meios daquele país foi construída praticamente pela academia. É uma lei com embasamento científico, fruto de pesquisas de universidades argentinas sobre as le­ gislações de meios mais democráticas do mundo. Além da formulação da Lei, a participação das instituições foi importantíssima do ponto de vista político, porque foi nas universidades onde o debate cresceu, onde foi fomentado por estudantes e professores, que depois foram às ruas com outros setores da sociedade para exigir do Congresso a aprovação da Lei de Meios. No Brasil, infelizmente, esse é um assunto – salvo raras e honrosas exceções – invisível. Quase um tabu. Em algumas escolas, formam-se pessoas para aceitar as coisas como estão, de maneira passiva, mas acredito que começar a discutir uma Lei de Meios na academia é o primeiro passo. Não apenas nos cursos de Comunicação Social, mas também nos cursos de Direito é preciso debater a legislação de meios existente em vários países. Os Estados Unidos, a pátria do liberalismo, têm uma lei de 1933 sobre o assunto. Equador, Venezuela, Bolívia, Uruguai, França, Inglaterra e os países nórdicos também. Aqui, quando falamos nisso, dizem que é censura. Há censura na Inglaterra? A Inglaterra é uma ditadura? Não é. E ela tem uma excelente legislação de meios, aprimorada depois de escândalos com escutas telefônicas irregulares. Penso que esse é um tema da academia. A Universidade tem que entrar nisso.


Wallacy Medeiros

GRAFITE

Arte das ruas dá cores diferentes

a prédios do Campus Central da UFRN

Por MARCOS NEVES JR.

S

eja por sua relevância artística e social ou por sua presença ostensiva em locais públicos, é impossível ignorar o impacto que as imagens do grafite causam no espaço urbano. As figuras multicoloridas, os traços peculiares e a expressividade característica dessa arte das ruas cada vez mais fazem parte do cotidiano das cidades. No Campus Natal da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), tal fenômeno também pode ser observado. Basta uma simples caminhada, ainda que distraída, por locais como o Setor II de aulas, o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) e o Departamento de Artes (DEART) e lá estão os grafites como parte integrante da paisagem. Essa fusão do espaço público com a arte é uma das características mais marcantes do grafite. É como se muros e paredes se transformassem em grandes telas ao ar livre prontas para receber as pinturas e, uma vez utilizadas, tornassem esses locais enormes galerias. Não é à toa que essa capacidade do grafite tem despertado o interesse de críticos de arte e estudiosos da área. De acordo com Laurita Salles, professora de Gravura e Área Gráfica e vice-coordenadora do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFRN, o grafite, em comparação

a um quadro, estabelece uma relação bastante diferente com aquele que o observa. “O quadro configura o que se chama de uma zona de ficção autônoma, ligada ao abstrato. Já o grafite não cabe e nem se limita ao quadro, ele se coloca diretamente no espaço do mundo concreto. Duas janelas podem ser dois olhos de um rosto. Esteticamente tem uma riqueza enorme” – explica Laurita. Porém, com todo seu valor estético, o grafite ainda é, muitas vezes, tratado com preconceito enquanto manifestação artística. “É uma atividade de minorias e isso ressalta a marginalidade da cor do movimento, mas o importante é a arte”, afirma Pedro Ivo, recém-graduado em Letras na UFRN e grafiteiro produtivo em Natal, tanto no Campus quanto fora dele. Em virtude dessa marginalidade atribuída à arte dos grafiteiros, as intervenções praticadas por eles são eventualmente apagadas por proprietários ou administradores desses espaços, sejam públicos ou privados. O conflito se dá por compreensões divergentes sobre o que são e como devem ser utilizados esses locais. “Há uma fricção insolúvel entre grafiteiros e instituições. No pensamento do grafiteiro, as paredes são espaços que estão naturalmente disponíveis para que ele se expresse, enquanto a instituição tem de cuidar do patrimônio público. E ambos têm razão”, analisa Laurita Salles, que vem

se interessando pela manifestação nos últimos anos, inclusive ensinando técnicas aplicáveis ao grafite em disciplinas ministradas no DEART. Pedro, no entanto, não teve problemas ao realizar suas pinturas na Universidade. Embora reconheça que o grafite não é uma unanimidade no Campus e nos demais espaços urbanos, o artista é categórico quando fala sobre suas intervenções na UFRN. “Não encontrei resistência, pois tenho aceitação positiva do meu trabalho. Eu não danifico objetos, dou-lhes tom de arte, pinto-os com as técnicas do grafite”, afirma. Num exercício de associações, é possível perceber que a palavra grafite tem semelhanças com outras que fazem parte do cotidiano, como ortografia, caligrafia e gráfica, ligadas ao registro sobre uma superfície. A origem é o termo grego “graphein”, que significa sulcar, técnica usada para escrever nos tempos da Grécia Antiga. Atualmente, não mais por meio de sulcos, mas com o uso das tintas, os grafiteiros registram fatos, inquietações e sentimentos. Nesse sentido, Laurita Salles afirma que o grafite é uma forma de marcar posição, uma maneira de dizer que existe e deixar isso bem registrado. Justamente como Pedro faz, afirmando que nunca se sabe onde a intervenção vai acontecer e que a escolha é ao acaso. “As motivações são pessoais, mas configuro relações com a sociedade, trocando

Jornal da UFRN 12 ano XV | nº 67 | novembro de 2013

o espaço conjunto pela oportunidade de lhes dar arte. O grafite não é político e nem apenas artístico. Na verdade, é como criar uma poesia, não se sabe bem porque se faz, mas pulsa do artista para o muro”, explica Pedro. Desde seu surgimento como manifestação artística urbana, na década de 1970, em Nova Iorque, o grafite transmite uma mensagem de protesto, de reflexão. Nos anos 1980, auge da Guerra Fria, Berlim e o muro que separava os dois lados da capital alemã, também conheceram a força dessa arte. O reconhecimento do grafite é tão grande que um trecho de 1,3 km do antigo monumento à divisão, forma atualmente a East Side Gallery, espaço totalmente dedicado a grafiteiros de 20 países diferentes, pintado em 1990. Por enquanto, a arte de rua produzida no Brasil ainda não alcançou o nível de prestígio obtido nos Estados Unidos e na Alemanha. Mas o que pode parecer um cenário distante vai exatamente ao encontro do discurso de Pedro Ivo, que nutre esperanças de uma realidade diferente para a sua arte. “A cidade é alvo do descontrole humano. Talvez um dia o caos se organize por si só, num lugar com pessoas preocupadas conjuntamente com esse tema, e, assim, produza arte de grafite em lugares pensados, com diálogo mais aproximativo entre estado e artista”, idealiza Pedro.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.