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A Experiência da Feira Jovem da Boa Vista

A juventude do Campo sendo protagonista da sua história!

Nos últimos anos, intensificou-se o debate em torno da presença da juventude na agricultura, em especial na Agricultura Familiar, sendo que um dos graves problemas é a falta de possíveis jovens que tenham como horizonte na sua vida profissional a continuidade na propriedade familiar. Em muitos casos, a aposentadoria dos pais, inevitavelmente decreta o fim das atividades produtivas na propriedade, fato este agravado pela falta de espaço e participação no processo decisório por parte da juventude.

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Essa questão é ainda mais complexa no caso específico das jovens mulheres, que em função de questões socioculturais, historicamente construídas, são as primeiras a deixarem a agricultura em busca de outras atividades no meio urbano.

Pensando nisso, a EFASC, através da Pedagogia da Alternância, vem estimulando os jovens estudantes a realizarem as suas experiências de aplicação teórico-prática, na produção de alimentos, primeiramente para subsistência, mas também vislumbrando a possibilidade da venda do excedente.

Daí surge a necessidade de criar canais de comercialização, como é o caso da Feira Pedagógica, que existe na EFASC desde 2012 e é apresentada em detalhes nessa revista. Esta é, em geral, a primeira oportunidade de experiência dos jovens estudantes de contato com o público e principalmente de valorização de seus produtos.

Em 2016, a experiência da Feira Pedagógica despertou em 5 jovens estudantes da EFASC (atualmente egressos), a vontade de organizar um espaço de feira em sua própria comunidade, em Boa Vista, a cerca de 15 km do centro de Santa Cruz do Sul. Uma rápida pesquisa na comunidade mostrou aos jovens que havia uma demanda por hortifrutigranjeiros, apesar de Boa Vista ser uma comunidade do meio rural, mas com boa parte da população mais envelhecida e trabalhando na Cidade de Santa Cruz do Sul, iniciaram as suas atividades de plantio e comercialização de alimentos agroecológicos, dando o nome de FEIRA JOVEM DA BOA VISTA.

Foto 1: O início da caminhada do Grupo Feira Jovem da Boa Vista em 2016.

A Feira, que funciona todos os sábados das 9h às 12h junto à casa comercial de Elio e Ana Staub, passou a ser reconhecida e estimulada pela comunidade, que além de realizar as compras in loco, também fazem encomendas, que são entregues pelos jovens de casa em casa e isso se intensificou durante o período da Pandemia de COVID-19.

Com o passar dos anos, novos/as integrantes foram se somando ao grupo, ampliando a presença das mulheres e trazendo gente nova, disposta a fortalecer esse trabalho coletivo e aproximar ainda mais quem produz de quem consome, com um alimento de qualidade, produzido de forma orgânica. Atualmente o grupo conta com 8 famílias envolvidas no processo de produção e comercialização, tendo a juventude como protagonista.

Além do apoio da AGEFA e EFASC, o grupo vem recebendo a assessoria do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia – CAPA, de Santa Cruz do Sul, que colabora na organização de reuniões mensais, no planejamento e também na construção de outras alternativas de comercialização. Uma delas é a ECOVALE – Cooperativa Regional de Agricultores Familiares, também assessorada pelo CAPA, onde os jovens do grupo estão associados, garantindo o fortalecimento e a articulação com outros grupos de produção, a troca de experiências e a colaboração entre os integrantes.

A feira passou a ser reconhecida e estimulada pela comunidade, que além de realizar as compras in loco, também fazem encomendas, que são entregues pelos jovens de casa em casa

FEIRA JOVEM DA BOA VISTA CADA VEZ MAIS FORTALECIDA.

A Feira Jovem da Boa Vista foi contemplada com Projeto de Inclusão Socioprodutiva da Fundação Banco do Brasil, que vem sendo executado pela AGEFA e incentiva a produção e comercialização de alimentos orgânicos. O projeto nº 17.343 – Juventudes e Agroecologia: Soberania Alimentar e Saberes do Campo, além de fortalecer e aprimorar a formação profissional da juventude do campo, realizado pela Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul - EFASC, via a melhoria da infraestrutura pedagógica e produtiva, com base na agroecologia e na inclusão socioprodutiva dos jovens, aumentando as possibilidades de sucessão na Agricultura Familiar e no fomento ao acesso da população urbana à alimentos saudáveis e de qualidade.

Uma das ações do Projeto previa investimentos em dois espaços de comercialização de alimentos orgânicos, gerido pela juventude da Agricultura Familiar, a Feira Pedagógica da EFASC e a Feira Jovem da Boa Vista.

Primeira reunião com o grupo em março de 2020, onde foi apresentado o projeto e realizado a entrega de alguns equipamentos.

O Grupo foi contemplado no início de 2020, objetivando o incentivo à inclusão socioprodutiva da juventude da Agricultura Familiar. Foram disponibilizados diversos equipamentos para qualificar e facilitar a apresentação e processamento de alimentos orgânicos para os integrantes do grupo, entre eles: caixas plásticas agrícolas, freezer horizontal, refresqueira/suqueira com dois compartimentos, balança digital computadorizada, despolpadeira de frutas, faixas, banner, placas de preço, além da disponibilidade de uma câmara fria para conservar alimentos.

No dia 29 de agosto de 2020, houve um ato simbólico de visita, acompanhamento e prestação de contas do uso dos equipamentos pelo grupo, junto ao espaço da Feira Jovem na comunidade de Boa Vista. Contando com a presença de Ronaldo Pereira Rodrigues, Gerente da Agência local do Banco do Brasil e representando no ato a Fundação Banco do Brasil, Melissa Lenz representando o CAPA e a ECOVALE, Adair Pozzebon representando a AGEFA/ EFASC que coordena a execução do projeto e ainda, os componentes do grupo.

Na feira é possível encontrar mais de 40 produtos fresquinhos, orgânicos, direto da lavoura para a mesa dos consumidores, contribuindo para a promoção da saúde das pessoas. O projeto contribuiu para melhorar os processos de produção e comercialização e com houve um acréscimo de renda, segundo os integrantes do grupo, que chegou a 40%, mostrando que projetos como esses, investido em quem faz a diferença no meio onde vivem, potencializa o desenvolvimento local, a partir das demandas e necessidades de quem lá vive.

Nesta história de vida e de grupo, é possível expressar como a articulação entre uma formação contextualizada na escola, o apoio e incentivo, via projetos como esse, e o protagonismo juvenil, na comunidade, é possível encontrar alternativas profícuas de, por meio da juventude, atender os anseios e as demandas da comunidade, valorizando o papel e a presença da juventude na agricultura e destacando a importância da produção de alimentos orgânicos para aproximar as relações solidárias na comunidade, bem como entre o campo e a cidade.

Juliano Lawisch

Juliano Lawisch, 23 anos, Comunidade Boa Vista, formado na EFASC no ano de 2015 e integrante do Grupo da Feira Jovem da Boa Vista

O projeto foi muito importante, tanto para a EFASC como para a Feira, qualificando a estrutura de formação escolar e vários equipamentos que a gente pode usar em conjunto, no coletivo vale mais a pena e isso nos fortalece enquanto grupo, projeto como esses deveriam acontecer muito mais e somos privilegiados por sermos contemplados com equipamentos de boa qualidade e que serão utilizados por muito tempo.

Eu não pensava em permanecer na agricultura, participar desse aprendizado, me proporcionou muitas ideias novas, mudando o nosso pensamento, aproveitando melhor o que temos em casa, aplicando na prática novas técnicas orgânicas e conhecendo melhor o que está a nossa volta, conhecendo a comunidade e aumentando o interesse pela agricultura e em servir as pessoas com alimentos de qualidade, trabalhando junto e em grupo.

Com esse apoio aumentou as vendas, conseguimos produzir mais variedade de alimentos sem agrotóxicos, trabalhar no processando para conservar melhor e ter mais qualidade, com tudo isso aumentou o movimento e fortaleceu nosso grupo como um todo.

A Fundação do Banco do Brasil juntamente com a EFASC e o CAPA contribuiu muito e é uma parceria muito forte, que ajudou a melhorar a infraestrutura da feira jovem de Boa Vista, hoje todos os integrantes da feira tem acesso ao que veio da fundação como equipamentos e caixas. Trouxe para mim novas oportunidades, me abriu novas portas para o campo, me motivou a ficar. Hoje o grupo feira jovem tem mais vontade de participar de outras feiras, pois temos vários equipamentos disponíveis para manusear e levar os nossos produtos até o local de venda.

Karolini Horbach

Karolini Horbach, 20 anos, Comunidade Nossa Senhora Auxiliadora de Boa Vista, formado na EFASC no ano de 2020 e integrante do Grupo da Feira Jovem da Boa Vista.

Sighard Hermany

Sighard Hermany, engenheiro agrônomo do Capa e presta assessoria e acompanhamento ao Grupo Feira

Jovem da Boa Vista.

Sighard Hermany, engenheiro agrônomo do Capa e presta assessoria e acompanhamento ao Grupo Feira Jovem da Boa Vista.

A motivação da juventude rural para a produção agroecológia de alimentos saudáveis, de boa qualidade nutricional, com preservação ambiental nos parece cada vez mais necessária e estratégica em tempos de ameaças de escassez tanto de alimentos e quanto de água.

Nesta perspectiva, projetos como os da FBB, de apoio para a juventude tanto no processo de formação, quanto a sua inserção no mercado, com protagonismo próprio, são de extrema relevância.

Ato simbólico de visita, acompanhamento e prestação de contas do uso dos equipamentos pelo grupo junto ao espaço da Feira Jovem na comunidade de Boa Vista.

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