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Missão no Mundo
Passos na missão de formar cidadãos e profissionais em Moçambique
Uma educação em crescimento
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O Instituto Politécnico Familiar Rural de Mecubúri, outrora Escola Profissional Familiar Rural de Mecubúri, surgiu no contexto da abertura do governo de Moçambique em acolher Instituições de Ensino Técnico Profissional.
A comunidade local de Mecubúri pediu aos Missionários da Sagrada Família uma instituição de formação profissional na área agropecuária. Em resposta ao pedido, a coordenação da Missão, juntamente com o governo distrital e Arquidiocese de Nampula, mobilizou recursos em parceria com a DISOP, ONG da Bélgica, para a construção desta instituição, que funciona desde 2012.
Entre 2012 e 2019, essa instituição funcionou como Escola Profissional Familiar Rural de Mecubúri, ministrando o curso de Agropecuária (Agente Rural). Em outubro de 2019, a escola foi contemplada com o Diploma Ministerial 62/2019 que elevou a EPFR Mecubúri à categoria de Instituto Politécnico Familiar Rural de Mecubúri (instituição de ensino médio técnico profissional). Em 10 de fevereiro de 2021, finalmente, recebeu o alvará autorizando-o a ministrar o nível médio em Agropecuária a partir do ano letivo de 2021.
Visão, Missão e Objetivo
A visão do instituto é consolidar-se como uma referência em educação profissional em agropecuária e ser reconhecido como indutor da inovação e da transferência de tecnologias alinhadas com o mercado de trabalho, desenvolvimento comunitário, atuando com padrão internacional de excelência.
A Escola entende que sua missão é promover a qualificação profissional de nível Médio (CV3, CV4, CV5) em agropecuária e o desenvolvimento integral de cada cidadão que a frequenta, proporcionando-lhe um desenvolvimento que favoreça a orientação profissional, fomentando nos formandos o gosto pela produção familiar sustentável e pelo empreendedorismo empresarial, seja particular ou coletivo.
Seu objetivo geral é qualificar profissionalmente os formandos, desenvolvendo neles competências alinhadas com o mercado de trabalho e autoemprego, com senso crítico e participativo.
Nº Graduados 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 TOTAL
Total alunos 18 25 24 22 38 33 32 192
Nº meninas 07 10 11 06 14 12 08 68
Nº meninos 11 15 13 16 24 21 24 124
Idade do menor 15 15 15 15 15 14 15 -
Idade do maior 20 21 21 21 23 22 21 -
Encontro com a turma do nível médio
O caminho se faz caminhando Encarado o futuro com confiança
Em 2021, concluímos a última turma do nível básico (referente ao ano de 2020) com 32 estudantes, sendo oito mulheres. Em maio de 2021 concluímos as matrículas para a primeira turma do nível médio com 50 estudantes (15 mulheres). Devido à pandemia, fomos autorizados a formar duas turmas de 25 estudantes. O ano letivo começou no dia 26 de julho.
O nosso instituto conta hoje com 28 funcionários. Dentre estes, 15 são formadores licenciados, sendo: oito da área técnica (agropecuária e ambiental, dos quais cinco são engenheiros agrônomos, um é veterinário, um é agropecuário e um é engenheiro ambiental) e sete das áreas do ensino geral (português, inglês, química, física, matemática, informática e biologia).
O curso Técnico em Agropecuária se prolonga por três anos. A autorização para começar o nível médio foi autorizado porque já temos em funcionamento a sala de informática (doada pela ONG espanhola da Igreja Católica Manos Unidas), o bloco da Administração, a Biblioteca e novas salas de aula (doadas pela Cooperação Japonesa), a estação agrometereológica (doada pela turma de mestrado MBA’84 do IESE, Espanha), que também doou kits de análise de solos. Estes equipamentos foram considerados e aceitos pela Direção Nacional do Ensino Técnico, a entidade reguladora e homologadora das escolas técnicas de Moçambique.
A acreditação definitiva como Instituto Politécnico especializado em formação em agropecuária está dependendo da apresentação de outras infraestruturas que ainda estão pendentes, principalmente a estufa e os laboratórios de química (para análise de solos) e de água e de biologia (para observação morfológica e classificação de plantas e animais). Precisamos ainda ampliar a infraestrutura existente: dormitórios, refeitório, cozinha, salas de aula, armazém para cereais e qualificação dos formadores para os níveis CV4 e CV5. Com a ajuda da Congregação e pessoas e entidades parceiras que já colaboram com esta obra, esperamos poder avançar e cumprir com as exigências que o Instituto requer.
Édina Lima
Missionária Leiga e Diretora
O fogo das línguas e a linguagem do amor
Quero partilhar com os/as queridos/as leitores/as “lo que siento al caminar”, rememorando a “Canção com todos”, de Mercedes Sosa. Faço também um tributo ao Pe. Milton Sulzbacher, que nos “reemplazó” na missão e morreu vítima da Covid-19 em terras bolivianas, ao final de janeiro de 2021.
Revisitar a história e o itinerário missionário percorrido faz-me sentir a América Latina mais “en mi piel". O “fogo das línguas” (Pe. Antônio Vieira) “irrompe onde quer” e nos impele a sair de nós mesmos. Quiçá nosso testemunho possa encorajar os vocacionados em tempos de reestruturação das províncias.
Iniciei a aventura missionária em Mato Grosso, em 1989, recém-ordenado. “A todos a quem eu te enviar, irás”! (Jer 1,7). Sair da região fria das missões, minha terra natal, e lançar-me aos que estavam longe foi um choque cultural e térmico!
Paisagens diferentes e atraentes! À frente, novos rostos, nova cultura e um banho de religiosidade popular. Celebrações vivas, alegres e criativas! Época áurea das CEBs “novo jeito de ser Igreja”.
Lá me deparei com todos os sotaques típicos e regionais. Tudo era desafiador e cativante! As longas distâncias e a comunicação precária no atendimento às comunidades não eram empecilho para seguir caminhando. O meio ambiente, o pequizeiro, árvore símbolo do cerrado, aos poucos fora sendo dizimado!
Atuar neste ambiente vasto e diferente e apropriar-se da beleza genuína do pantanal, o cantar e o encantar do povo matogrossense, seu jeito singelo de viver a fé, me cativou! Essa experiência missionária foi uma das mais belas e marcantes, deixando em mim profundas marcas. Percebi o quanto a fé simples exercida nas comunidades e a arte musical é parte intrínseca da alma latinoamericana!
A segunda etapa foi Ad Gentes, onde integrei a equipe missionária na Bolívia pluricultural, com membros de distintas províncias e congregações. A missão exige despojamento, abnegação, atitude! Assimilar e dominar a nova língua foi um processo lento e difícil. O “portunhol” era sofrido! “Hablas como sabes”, “estamos acostumbrados", diziam-me!
Rostos ameríndios e um novo esforço de inculturar-se e reaprender. A experiência vivida no Mato Grosso foi de grande valia para vencer as resistências que surgiam a “cada rato”! Um processo permanente de adaptação à realidade, formação e cultivo da espiritualidade na caminhada...
Mas de acordo com o Padre Antônio Vieira, “foi dado aos missionários o fogo das línguas, a ciência e a inteligência”. E assim, “despacito" foi possível, “quebrar a barreira” do quéchua, a língua dos povos originários. O respeito à “pachamama”, o bem-viver e a idiossincrasia dos povos ancestrais e suas máximas “ama llulia, ama quella, ama sua” (não seja preguiçoso, não seja mentiroso, não seja ladrão). Simples assim! Novamente na caminhada das CEBs, inculturar-se e beber do poço da espiritualidade popular, bem como assumir suas dores e lutas de resistências!
Com o passar dos anos, a missão nos obrigava a ser mestres e aprendizes, professores e também alunos, instrutores de técnicas agrícolas, construtores, médicos da alma e do corpo. E, como servidores seus a todo momento, viver e morrer por eles, como aconteceu ultimamente! Em verdade, o “fogo das línguas", levou-nos, como levou Paulo, a “fazer-se tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Cor 9,22). Animados pelo espírito da Sagrada Família, nos lançamos não só a catequizar, sepultar os mortos, ou doutrinar convertidos, mas sustentar os famintos, resgatar os cativos, em múltiplos projetos de inserção social.
Pe. Léo Paulo Fiorin msf
São Carlos/SC São Carlos/SC