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A simplicidade das coisas do Reino de Deus
Coin é um pequeno lugar de roça onde, em setembro de 1846, viviam algumas poucas famílias. Estava localizado a pouco mais de quatro quilômetros de Corps, cidade onde viviam Maximino e Melânia, os dois pastorzinhos de La Salette.
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Em Coin plantava-se e produzia-se bom trigo. O terreno era propício e, por ser um pedaço de planície em meio às montanhas dos Alpes, fazia daquela região um lugar importante de produção agrícola, mesmo se tal produção não fosse assim tão grande em quantidade.
Maria fala de Coin!
Para ali dirigiram-se, alguns meses antes da aparição, o pai e o próprio Maximino. Um fato interessante aconteceu naquele lugar já quase no retorno dos dois a Corps. Tal fato serviu posteriormente para que o pai de Maximino acreditasse no filho quando este relatou o episódio acontecido no alto da montanha no dia 19 de setembro.
No seu diálogo com as crianças, Nossa Senhora perguntou a Maximino se já havia visto trigo estragado. Ele, sem muito pensar, respondeu que não. Então, a “Bela Senhora” lhe recordou o episódio de Coin:
“Mas tu, meu filho, tu deves tê-lo visto uma vez, em Coin, com teu pai. O dono da roça disse a teu pai que fosse ver seu trigo estragado. E então fostes ambos até lá, apanhastes duas ou três espigas entre as mãos e, amassando-as, tudo virou pó. Ao voltardes, quando não estáveis mais do que a meia hora longe de Corps, teu pai te deu um pedaço de pão dizendo: "Toma, meu filho, come pão ainda neste ano, pois não sei quem dele comerá no ano próximo, se o trigo continuar assim!"
Buscando um sentido
Eu gosto muito de ficar conversando com o Pe. Roger Castel, um velho missionário saletino da Província da França, que muito estudou o fato da Salette. Seus comentários sempre despertaram em mim algumas novidades na análise da aparição e na interpretação do conteúdo dessa espiritualidade.
Certo dia, quando nos encontramos no refeitório para o café da manhã, na Casa Provincial em Grenoble (sede da Diocese na qual está o Santuário da Aparição), conversamos justamente sobre o acontecido em Coin, com Maximino e o seu pai.
Padre Castel começou fazendo a aproximação desse Episódio de Coin com a passagem do Êxodo, na qual Deus diz que ouviu o clamor do seu povo e resolveu descer para libertá-lo. Para ele, a fome eminente fez que, em nome de “Seu Filho”, Nossa Senhora descesse do céu para deixar ao mundo a sua mensagem.
Coin é um lugar simbólico
Esta aproximação já dá muito pano para manga, mas Pe. Castel foi muito gentil comigo e traçou ali, naquele momento, seis aspectos quanto à terra de Coin no contexto do fato e da mensagem da Salette. Por sorte, ali havia uma caneta e peguei um pequeno pedaço de papel e fui anotando cada um destes seis aspectos: Coin era o lugar da laicidade, ou do mundo que vivia longe da religião, daqueles que zombavam da Igreja, dos que não iam à missa. Não consta que naquela época houvesse lá uma capela. Era o mundo do secularismo e do abandono de Deus. Coin era o lugar do cotidiano, da vida como ela é, onde se via o esforço do trabalho humano se perder, porque o trigo estava se estragando de maneira assustadora devido às condições da natureza. Coin era o lugar da produção, entendida aqui não somente como produção econômica, mas também onde se dava o “giro da vida”, onde a produção das possibilidades de futuro era marcada pela crise agrícola e pela consequente migração para Grenoble, ou para Lyon e até para Paris. Coin tornou-se um lugar teologal, ao ser citada por Maria na sua aparição. Tudo o que estava acontecendo ali, na vida daquele povo, parece então ter uma explicação: o povo de Coin e redondezas estava desviando-se dos caminhos da aliança e do compromisso com a fraternidade do Reino de Deus.
Coin se fez chão, lugar da oscilação da esperança,
tão necessária para viver, acreditando que as coisas poderiam mudar. O pai de Maximino disse: “Se as coisas continuarem assim, não sei quem vai ter pão no próximo ano”. Toda a base moral da vida poderia estar ameaçada por aquela situação sem esperança.
O episódio de Coin tornou-se então uma “chave”
que abre os corações endurecidos que não queriam aceitar o fato daquela aparição de Nossa Senhora justamente a Maximino e Melânia, uma chave que abre os corações endurecidos para ser depois, e tão somente depois, fato que gera conversão.
Uma chave existencial, pastor al e espiritual
Esses foram os seis pontos aos quais o Pe. Castel fez referência sobre o episódio de Coin. Porém, após cada um deles, ele sempre repetia que aquele ponto era mais uma razão para explicar a Aparição, mas não era a explicação da razão de Maria falar daquele fato na sua aparição. Isso me fez perguntar: “Então, porque Maria citou esse episódio na sua aparição?”
A resposta foi muito simples: “Porque jamais passará desapercebido aos céus o gesto de alguém dar um pedaço de pão a outro alguém. O gesto do pai de Maximino lhe dar um pedaço de pão e não uma cobra, foi percebido por Aqueles que estão nos céus...”
Penso que o Padre Castel percebeu que eu fiquei pensativo com a resposta que ele me deu, a ponto dele acrescentar: « C'est la simplicité des choses du royaume de Dieu... » (É a simplicidade das coisas do Reino de Deus…).
Em La Salette, Maria vem nos dizer das coisas mais simples que se tornam gestos e fatos mais significativos no Reino de Deus. Ela nos recorda a simplicidade das coisas do Reino anunciado por seu filho Jesus.
Pe. Adilson Schio ms
Missionário de Nossa Senhora da Salette Reitor do Santuário de Caldas Novas/GO
Você também é chamado a ser discípulo e missionário!
O venerável Padre João Berthier, fundador dos Missionários da Sagrada Família, quis Nossa Senhora da Salette como padroeira dessa Congregação. Sua admiração e devoção pessoal por Maria em La Salette começou bem cedo, quando ele ainda tinha seis anos.
Berthier tinha apenas seis anos de idade quando sua avó lhe contou a história da aparição de Nossa Senhora nos Alpes de La Salette. A história da aparição e a mensagem de Maria aos dois videntes marcou de forma profunda e definitiva sua vida, e ele acabou se tornando grande devoto e propagador de Nossa Senhora da Salette.
Quando já era padre e missionário saletino, inspirando na experiência da sarça ardente, Berthier disse em uma de suas homilias: “Nosso
coração te segue, ó Maria! Oxalá possamos te contemplar lá no alto! Tu te fizeste ver aqui nesta maravilhosa aparição para nos oferecer a grande e bela visão de tua glória no céu. ‘Vou aproximar-me para admirar esta visão maravilhosa”.
E, dirigindo-se aos romeiros, estimulou-os: “Vocês
disseram que vieram aqui para ver a manifestação de Nossa Senhora. Digam o mesmo em relação ao céu, do qual La Salette é uma antecipação, um aperitivo: Vou aproximar-me, vou caminhar nos mandamentos. E verei e admirarei”.
O impacto do evento da aparição de Nossa Senhora em La Salette chegou a nós através da linguagem da devoção tradicional na qual ele cresceu e se desenvolveu. Com o tempo, os conceitos foram mudando e dando à luz uma devoção à Maria mais consistente e passamos a considerar Maria não mais unicamente em seus traços gloriosos, mas ressaltando sua figura humana e feminina de discípula missionária, aquela que deu seu “Sim”, para gerar a vida do Salvador.
Acolhendo a admiração do Pe. Berthier por Nossa Senhora de La Salette e considerando as releituras e interpretações teológicas, percebemos a relevância de Nossa Senhora para a vida vocacional, espiritual e missionária. Foi olhando para Maria que Berthier descobriu sua vocação religiosa, apostólica e missionária.
Olhando para este acontecimento, meditando nas palavras de Maria e mergulhando no seu simbolismo, podemos descobrir o sentido da nossa vocação primeira, o chamado a uma vida doada a serviço de nossas comunidades. Maria dizia aos dois adolescentes: “Não tenham medo, meus filhos! Aproximem-se! Eu tenho uma boa notícia para vocês! Vão e anunciem isso a todo o meu povo!”
Este convite estimulante é dirigido hoje a todos nós, membros das comunidades eclesiais. É um convite especial dirigido a você, por que não?! Não tenha medo de gastar sua vida pelo Evangelho, de doar o melhor de si pelos outros, de sonhar um mundo melhor e se engajar destemidamente na tarefa de transformar este sonho em realidade.
Fr. Adilson Juliano Assmann msf
Saudades/SC
Nossa Senhor a da Salett e: um convite que desabr ocha em envio um convite que desabr ocha em envio
Quando refl etimos sobre as palavras proferidas por Nossa Senhora na aparição nas montanhas de La Salette, na França, nada é mais emblemático do que o CONVITE e o ENVIO feitos para os videntes Maximino Giraud e Melânia Calvat: “Vinde meus filhos, não tenhais medo, estou aqui para vos contar uma grande novidade.”
É um convite que, em primeiro lugar, destaca a proximidade que a mãe de Jesus quer ter com as “pobres crianças”, tocando-lhes assim o coração. É um convite que também ajuda na superação dos medos e das desconfianças, pois só pode haver proximidade construtiva quando há plena confiança no ouvir e no falar. Aproximar-se sem medo é, acima de tudo, confiar.
Ouvir o convite e ir ao encontro de Nossa Senhora e, ao mesmo tempo, ser chamado e tratado como “filho(a)” certamente acalentou o coração dos dois pastores, que responderam prontamente, dando os passos da coragem. É um convite que, na resposta positiva de Maximino e Melânia, levará a um grande aprendizado e uma grande responsabilidade. Um grande aprendizado: Estar atentos/as à Palavra, compreender a profundidade da ação que Maria entrega a eles, através da mensagem anunciada, do chamado à reconciliação. Este aprendizado leva as duas crianças videntes de La Salette a se tornarem proclamadores dos pedidos da mãe de Jesus, sem nunca entrarem em contradições. Uma grande responsabilidade: Para que, além de escutar, seja possível anunciar e levar adiante, de forma que outros corações sejam tocados. Esta responsabilidade trouxe aos pastorzinhos de La Salette a maturidade na transmissão da mensagem.
Deste encontro nasce a segunda palavra de destaque pronunciada por Maria: “Vão meus filhos, comuniquem isso a todo o meu povo”. O pedido de Maria em La Salette faz daqueles dois pobres pastores e boias-frias portadores de palavras de conversão e reconciliação.
As palavras CONVITE e ENVIO não foram diretamente pronunciadas por Maria, mas estão subentendidas no contexto da aparição como um caminho pedagógico da compreensão de Maximino e Melânia em relação à missão de comunicar a experiência como boa notícia a todo povo.
Este CONVITE-ENVIO transforma para sempre a vida daquelas duas humildes, pobres e limitadas crianças. Elas se mostram capazes de relatar e passar adiante, sempre com exímia autenticidade e detalhes coerentes, a mensagem de Maria.
Em La Salette, Maria nos inspira também hoje a desenvolver a capacidade de ouvir os apelos, a atitude de aproximar-nos sem medo e a decisão de anunciar o Evangelho da vida e da alegria plenas com coragem e esperança.
Pe. Leonir Nunes dos Santos ms
A mensagem de Nossa Senhor a da Salett e
Uma verdadeira mãe “se derrete amor” por seus filhos! Assim, aconteceu que um dia de sábado ensolarado, era 19 de setembro de 1846, quando Deus permitiu que a Terra recebesse a visita da mais bela criatura que ele criou, a Virgem Maria. Duas simples crianças que pastoreavam em uma montanha se depararam com uma forte luz, uma misteriosa criatura que aos seus olhos fascinavam e ao mesmo tempo os amedrontavam.
A visita da Virgem Maria se dava em contexto difícil. Nuvens negras pairavam sobre a Igreja, que sofria parte da triste herança da Revolução de 1789 que perseguiu e matou muitos cristãos. Era também o tempo do surgimento da indústria e de grandes transformações e descobertas, com “massas humanas sobrantes” perambulando pela Europa. Muita gente vivia como ovelhas sem pastor, sem Deus, sem fé. Quem se considerava adulto e importante tratava a religião com desprezo e infl uenciava a grande massa a vilipendiar a fé.
Maria vem ao encontro de seus filhos e filhas “se derretendo em lágrimas” de dor e afl ição, mas também de compaixão e misericórdia. Maximino e Melânia não compreendiam direito o que se passava, até que a bela senhora que chorava se apresentou dizendo: “Aproximem-se, filhos, não tenham medo Estou aqui trazer boas notícias”. Maria veio trazer uma mensagem de misericórdia, conversão e santificação.
Os pecados da humanidade clamavam a Deus por justiça. Nossa Senhora diz que as blasfêmias e o desrespeito ao descanso dominical eram os graves pecados que tornavam o braço de seu Filho pesado. Deus já não encontrava espaço nos corações dos homens. Esse é o risco que o Homem cava para a si mesmo. Como dizia Dostoievsky em uma de suas obras: “Se Deus não existe, tudo é permitido”. Quando quebra a relação com Deus, o ser humano é capaz de tudo, perde o rumo e a própria compreensão de sua dignidade.
Diante da nefasta conjuntura, Maria, como mãe de Deus com Cristo e a Igreja, surge como arauto da misericórdia de Deus à Humanidade sofredora é vítima de si mesma e aconselha: “Rezem ao menos um Pai Nosso e uma Ave Maria. Mas se vocês tiverem tempo e puderem, rezem mais”. A Virgem Maria compreende que só pela misericórdia de Deus o ser humano pode unir-se a Deus novamente, e essa misericórdia passa pela oração: rezar não por si, mas por todos.
A conversão é sinal da graça misericordiosa para com cada criatura. Em Salette, Maria é o canal da graça de Deus e se torna modelo para todo cristão que se compromete com o Reino de Deus. Aqueles que zombavam de Deus na missa e comiam carne na quaresma como cães, precisavam fazer a experiência da graça de Deus em suas vidas errantes. A conversão gera mudança de vida, ressignificação. A Virgem Maria pede que Maximino e Melânia levem a todo povo sua mensagem da conversão que brota da compaixão de Deus. Isso é necessário para que o braço de seu Filho não caia e ele canse de interceder pela humanidade.
Maria está em plena sintonia com o projeto de Deus. Ela não toma a glória de seu Filho para si, mas se faz-se serva que leva todos a Ele. Desse modo, a vontade de Nossa Senhora é que seus filhos e filhas alcancem a santidade, a salvação de suas vidas que custou a vida de seu Filho. Como em Caná, também em Salette Nossa Senhora vem pedir que façamos a vontade de Jesus, busquemos ao Senhor, pois todos somos chamados à santidade.
A aparição de Nossa Senhora da Salette é uma manifestação da misericórdia de Deus pela humanidade por intermédio da materna assistência da Virgem Maria. “A maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até a consumação eterna de todos os eleitos”, diz a Igreja.
São inesgotáveis os sinais e incomensuráveis os frutos que a aparição de Nossa Senhora da Salette produz. É uma clara demonstração de que Deus é atento ao percurso da história. O evento Nossa Senhora da Salette nos exorta a não nos perdermos no tempo, a dar a devida atenção aos sinais dos tempos, e nos chama a viver à luz da fé e a cumprir nossa missão de ser sal e luz no mundo.
Cabe entregar-nos sem medo e com piedade à vontade de Deus, sabendo que ser sinal profético no mundo significa, antes de tudo, comprometer-se com o Reino de Deus, como Maria, sendo sinal de santidade na Igreja e no mundo. Que Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, nos ajude a ser coerentes com o Evangelho, dóceis aos sinais dos tempos e fiéis à Igreja de Cristo.
Luiz Ronaldo Alves dos Santos
As missões dos Missionários da Sagrada Família no mundo hoje
A presença missionária dos Missionários da Sagrada Família neste momento da história é bastante plural e diversa no que diz respeito às formas particulares que assume nos 23 países nos quais estão presentes. A partir de nossas Constituições e das palavras do venerável Pe. Jean Berthier, essa missão sempre foi uma participação específica na tarefa missionária da Igreja, especialmente na formação de missionários para enviá-los em missão conforme as necessidades da Igreja.
Conforme o Pe. Ferdinand Nolte msf, a Congregação pisou modestamente na arena missionária no início do século 20 para, ombro a ombro, trabalhar e sofrer com os pioneiros missionários mais antigos. Na verdade, a Congregação não é senão um fruto da profunda convicção do fundador de que a colheita é grande, mas poucos são os operários (Mt 9,37). Berthier não cansava de repetir: “é para as missões estrangeiras que a Congregação foi fundada”.
A memória deste início nos desafia e abre horizontes que não se podem ser esquecidos se quisermos manter a fidelidade à história da construção congregacional e suas implicações para o futuro da missão. De um lado, é importante manter a modéstia e humildade nas relações com os outros agentes da missão; por outro, é necessário desenvolver e qualificar nossa participação específica na missão da Igreja.
A missão realiza nosso ser humano!
Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco acena para o elemento fundamental da missão evangelizadora: “os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais. Quando a Igreja faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal. Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: a vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros. Isto é, definitivamente, a missão”.
Como dinamismo da realização pessoal, a missão faz com que o ser vá se realizando na medida em que se torna comunicação da vida nova, vivência e partilha do Evangelho nas interações com a alteridade, abertura de processo de emancipação para o outro e para si mesmo. Eis a verdadeira dimensão existencial da missão na solidariedade profética e dialogal para que todos cheguem à salvação.
Uma pr esença nos cinco continentes
É motivo de grande alegria constatar que a nossa presença em tantos e diversos lugares, nos quais a missão foi adquirindo seu próprio rosto e configuração, assume a diversidade cultural e a expressividade que são próprias dos povos com os quais se compartilha a missão.
Nossa presença na Argentina, Alemanha, Áustria, Brasil, Bielorrússia, Bolívia, Canadá, Chile, Cuba, Espanha, Estados Unidos da América do Norte, França, Filipinas, Holanda, Indonésia, Itália, Madagascar, Moçambique, Noruega, Papua Nova Guiné, Polônia e Suíça revela que o sonho missionário do Pe. Berthier está se realizando, desafiando a todos os missionários a unirem os seus esforços para a autêntica vivência da espiritualidade e do carisma missionário por ele deixado.
Na medida em que formos capazes de conviver e cooperar, indo além das fronteiras étnicas, nacionais e culturais, poderíamos desenvolver e aprofundar ainda mais nossa identidade na Igreja, salvaguardando as diferenças de expressão desta identidade que são próprias do âmbito local.
A missão ad gentes se caracteriza pela presença ativa dos cristãos nas situações de fronteira social, cultural e religiosa. Eis alguns exemplos da presença dos Missionários da Sagrada Família nas situações de fronteira: em Camajuani, Cuba; em Itamarati e Carauari, na imensa Amazônia; no Santuário em Patu, no sertão nordestino; na extrema periferia de Santa Cruz dela Sierra, na Bolívia; em Goroka, em Papua Nova Guiné; em Longavi, no Chile; em várias cidades da Bielorrússia extremamente secularizada; em Mecubúri e Nampula, em Moçambique; nas cidades dos arredores de Praga, na República Checa; na Ilha de Flores e em Tanjung Selor (Kalimantan), na Indonésia; nos diversos povoados da Ilha de Madagascar; em Saint Jean de Bournay, na França laicista; no serviço aos migrantes de língua portuguesa em Bad Libenzel e Hirsau, na Alemanha.
O desafio do “mundo” urbano e das paróquias
Nas grandes áreas metropolitanas e capitais, a missão é desafiada pelas periferias, ambientes e situações particulares e existenciais. Percebe-se que as grandes metrópoles engendram um novo perfil de vida cristã, desafiando a vida religiosa e missionária a um novo estilo de vida, adaptando e desenvolvendo modos novos de vivência comunitária, utilizando novas linguagens para o anúncio do evangelho e ampliando as formas de testemunho e compartilhamento social.
É necessário aprofundar o desafio da nossa missão nas grandes metrópoles e nas circunstâncias próprias que esse contexto exige e oferece. A valorização e preparação das pessoas para que sejam capazes de dialogar e interagir de maneira inteligente e criativa parece fundamental para avançar na missão.
Em algumas regiões, temos um número de missionários liberados para serviços específicos ligados ao carisma e aos ministérios prioritários, especialmente na pastoral familiar e na animação missionária. Há também quem se dedique a pastorais sociais e ao diálogo com outras organizações civis, ONGs.
Uma grande parte dos Missionários da Sagrada Família atua em paróquias, lugar que é considerado o ambiente tradicional ou normal da presença enquanto presbíteros e/ou religiosos. A forma de organização da Igreja tem sua base nas paróquias, mas é importante encontrar formas de exercer o ministério ou o serviço missionário, sobretudo intensificando nossa presença e atuação na animação missionária da Igreja, na pastoral familiar, na animação e acompanhamento das vocações.
Situações emergentes que nos interpelam
Hoje somos interpelados ao diálogo permanente e profético com as realidades emergentes. A própria configuração das famílias tem se modificado muito nos últimos tempos. Para realizar nossa missão levando em conta as mudanças culturais e as próprias mudanças de época, estamos vivendo, precisamos aprofundar a formação e a qualificação da vida religiosa e missionária.
Um processo de formação congregacional e de caráter internacional certamente poderá contribuir para despertar uma nova visão mais qualificada, abrangente e universal, mas também para gerar novas experiências de convivência, aproximação e missionariedade.
Nas sociedades atuais, nas quais há o predomínio do individualismo e da tendência à autorreferencialidade do sujeito, o mais adequado parece ser o investimento nas disposições interiores e exteriores à vida comunitária, através de dinâmicas interativas e relacionais que colaborem com a superação das vulnerabilidades pessoais.
Seria importante avançar para sermos presença missionária em alguns âmbitos como o da cultura, da arte, da produção e elaboração de conhecimentos científicos em diálogo com a espiritualidade e teologia. Olhando para as questões ambientais, poderíamos elencar um número sem fim de questões abertas que são necessárias e que devem ser enfrentadas com coragem, começando pelo processo formativo e a qualificação específica dos missionários.
Pe. Júlio Cesar Werlang msf
Roma/Itália