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Pe. Jordan
Quando seguir alguém significa simplesmente ser um admirador ou fazer “likes” no seu perfil digital, corremos o risco de viver um estilo de vida baseado na superficialidade. O verdadeiro seguimento dinamiza todo nosso ser e se manifesta como chave de leitura de tudo que somos e fazemos. Pois, seguir Jesus é esvaziar o próprio ego, significa encontrar o que dá sentido profundo à nossa existência, o itinerário pelo qual queremos seguir em direção a horizontes de serviço e de compromisso.
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Em certo momento de nossa vida, de forma mais ou menos consciente, respondemos a este chamado de ser alguém para os demais. Muitas vezes, nada mais é que o sussurro de Deus se manifestando naquilo que nos faz sentir bem ou que desperta aquilo que de melhor há em nós. Outras vezes, a vocação se manifesta como um desejo de ir além de si mesmo na direção de uma meta a ser realizada.
Por detrás de cada história vocacional, está sempre uma história de amor. Por isso, vale a pena conhecer o caminho vocacional do Bemaventurado Francisco Jordan, pois ele nos inspira a encontrar, a amar e a seguir o caminho de Jesus Cristo. Nele, vemos retratada nossa vocação de conhecer o Deus Vivo e Verdadeiro, de saber confrontar nossas sombras e fragilidades, de pensar grande e fazer de nossa existência uma aventura apaixonante.
Francisco Jordan quando menino viveu muitas horas absorvido com a leitura da história de santos e santas que seguiram a Jesus até o fim. Por certo, essas histórias de grandes figuras da Igreja lhe ajudaram a descobrir Jesus Cristo e despertaram nele o anseio profundo de também seguir seus passos. Como prova dessa experiência, ele escreveu em seu Diário: “Oxalá se reconhecesse a eficácia da leitura espiritual, particularmente da vida dos santos! (...) Tudo precisa ser cultivado: a leitura espiritual, a oração e a meditação.” (DE II, 49). A leitura espiritual é um meio eficaz que nutre nossa vocação, fazendo vir à tona aquilo que é mais nobre em cada um de nós.
Responder à vocação quase sempre nada tem de muito romântico, porque diariamente precisamos fazer escolhas, que reafirmam ou não, o nosso caminho vocacional. Entre o bem e o mal, geralmente todos nos inclinamos a fazer o bem. Porém, o discernimento vocacional se faz necessário quando precisamos distinguir entre dois (ou mais) caminhos verdadeiros. Qual será o melhor caminho a seguir? Neste caso, em meio ao alvoroço de tantas vozes, se faz necessário afinar nossos ouvidos para a voz do Evangelho de Jesus que nos ajuda a conectar com o nosso ser mais profundo. Para isso, são indispensáveis momentos de silêncio e recolhimento que ajudam a afrontar as dúvidas e melhor compreender os desígnios de Deus. O exemplo de Francisco Jordan nos mobiliza a buscar o auxílio de pessoas de sabedoria espiritual: “Enquanto possível, se tiveres a liberdade de escolher o lugar, procura para ti um guia espiritual bom e experiente!” (DE I, 60). É fundamental ser acompanhado por uma (ou mais) pessoas que nos ajudem no discernimento da vida espiritual.
Vale lembrar ainda, que o chamado de Deus abrange todo nosso coração, mente e força. Ele habita em tudo o que somos. Ele conduz nossa existência, muitas vezes sem que nos demos conta. Por isso, os obstáculos e até os fracassos do caminho constituem oportunidades para encontrar-se consigo mesmo e de abrirse à graça do seu chamado, da qual ninguém é excluído. Ele chama todos e cada um em particular a uma vida de comunhão e de serviço aos demais. O Bem-aventurado Francisco Jordan sentiu este chamado de abrir o coração para servir àqueles que vivem esquecidos nas periferias do mundo. Ele viveu uma relação de amor com Deus que transformou sua vida para sempre, com anseios de evangelizar e contagiar outros na missão. Nisso compreendemos seu desassossego: “Sê um verdadeiro apóstolo de Jesus Cristo (...) Qual águia veloz, voa por todo o orbe terrestre e anuncia a Palavra de Deus!” (DE I, 182). Não basta ser batizado, é preciso ir mais além, aprender a doar tempo, assumir a missão de evangelizar.
A vocação supõe ainda, caminhar com os outros, porque, embora seja pessoal, nenhuma vocação se realiza de forma isolada. Ninguém pode seguir a Jesus Cristo senão na Igreja e com a Igreja. Quanto importante é saber que ninguém se realiza sozinho. Caminhar juntos é a vocação fundamental que nos faz descobrir, valorizar e promover a diversidade de dons e serviços na Igreja. Na história do Bem-aventurado Francisco Jordan sua família, seus amigos e seus professores o acompanharam em seu caminho vocacional. Mais tarde, ele mesmo foi capaz de mobilizar outras pessoas – homens e mulheres – que se uniram ao seu projeto de implementar juntos a Obra Salvatoriana. Na certeza de que Deus pode realizar aquilo que humanamente parece impossível, ele rezava insistentemente para edificar “[...] uma grande família de ambos os sexos ([...] numerosa como a areia do mar e como as estrelas do céu” (DE I, 184/5). A capacidade de unir forças, de colaborar com os outros é um caminho imprescindível para a nossa vida e missão na Igreja.
Por fim, para viver em profundidade, “evita a distração, pois ela é perigosa”, escreveu o Bemaventurado Francisco Jordan (DE IV,13). De fato, de que nos servem todos os nossos dons e talentos se não os colocamos ao serviço dos outros? De que nos servem a fama e os aplausos se no final ficamos sozinhos? De que servem as nossas compras de marca se no final nos deixam mais vazios? De que nos servem todas as nossas viagens, experiências e conhecimentos se não nos tornam mais sensíveis e mais próximos dos outros? Viver da profundidade das raízes do Bem-aventurado Francisco Jordan significa a decisão de dar amplitude à nossa vida, de não se retrair ao próprio ego e ter os ouvidos do coração bem atentos para descobrir a voz que clama: “Siga-me!”.