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Espiritualidade

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Aconteceu

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Na vivência de nossa fé somos convidados, como os discípulos, a respondermos com a própria vida quem é a pessoa de Jesus para nós (cf. Lc 9,20), que desvela a paternidade de Deus que está expressa em seu próprio coração. Nesses novos tempos de arrefecimento da fé e até mesmo outras modalidades de relacionarse com o sagrado, devido à assimilação de “valores” sobrepostos aos ensinamentos de Cristo, tem limitado um posicionamento favorável e claro ao seguimento.

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A resposta emerge da relação autêntica que se estabelece como comunicação entre a pessoa humana e o seu Senhor, que não só o é Criador, mas estabelece por meio de sua palavra, uma pedagogia do amor que tem conduzido a pessoa humana até a experiência da sua presença de Pai. Este movimento a que somos chamados a realizar em nossa vida, de chamado e resposta, o conhecemos como vocação, razão mais sublime da dignidade do homem que consiste na sua constante busca de união com Deus (cf. Gaudium et spes nº19). A fonte e origem de toda vocação é o Senhor: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair” (cf. Jo 6,44,), que nos convida a formarmos a Igreja que é Corpo de Cristo (cf.1cor 12,27), e que está a serviço do Reino de Deus.

A Igreja tem sentido e expressado sua preocupação para um avivamento das vocações, o que faz ao decretar o Ano Vocacional. Tratase de uma boa notícia cujo anúncio volta a ressoar vigorosamente nesses novos tempos que exigem de nós, enquanto Igreja, uma maior atenção. O Ano Vocacional surge inspirado no Documento Final dos Bispos sobre: “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, com o intuito de favorecer a cada pessoa a possibilidade de acolher o chamado de Jesus como graça, em vista da missão que é sempre uma necessidade, não do outro, mas daquele que faz a experiência do encontro com o Salvador e transborda de alegria, de esperança, sentindo a necessidade de compartilhar com os demais.

A vocação trata de um amor sem reservas que nos precede, sustenta e chama ao longo do caminho da vida, tendo sua raiz na gratuidade absoluta de Deus, como nos diz o Papa Francisco: “a vocação brota do coração de Deus”. A relação entre Deus e o homem se realiza no Espírito Santo, a pessoa divina que faz com que o homem participe do amor do Pai, no Filho. Assim, a graça supõe a natureza, mas não a dispensa. E é aqui que somos chamados a colaborar, interpelando-nos a sermos convictos de nossa própria vocação, que diz de maior clareza acerca do que somos, do que fazemos e do que vivemos, buscando nos aproximar do que nos expressa São Paulo: “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (cf. Gl 2,20). A convicção que em nós coloca a Igreja de Cristo em situação de referência, fazendo com que muitos a procurem para entender a natureza de onde emana tal convicção.

Os tempos atuais nos interpelam a rezar como o Salmista (cf. 25,4) “Senhor, mostranos os teus caminhos”, para que saibamos utilizar todos os modos e meios que a caridade de Cristo nos inspira (Pe. Jordan), e assim resgatarmos a sensibilidade, um elemento tão importante, mas obscurecido pela cultura atual. A sensibilidade é aquela orientação emocional e intelectual que encontra seu ponto de equilíbrio na consciência. Progressivamente formada a partir de nossas escolhas, a consciência nos orienta para uma direção particular, fazendo-nos escolher de forma correspondente àquilo que a alimentamos.

Um dos aspectos de nossa cultura que tem amortecido a sensibilidade é a era digital, da comunicação, que com suas demasiadas ofertas atrativas não permitem um discernimento mais claro e conciso do que é proposto, rebaixando a guarda da vigilância e relativizando a capacidade de julgar a realidade tanto interna como externa a nós, o que compromete a compreensão da vocação por carecer de uma reflexão mais sistemática das respostas que damos ao longo de nossa vida.

Hoje, em nossa sociedade difusa, ao tornarmo-nos cristãos, precisamos aprender o exercício da liberdade e responsabilidade nesse processo educativo e formativo, para que essa escolha pessoal se torne uma escolha em conformidade com o que o Senhor nos pede.

Como nos propõe o Ano Vocacional, parece ser esse o caminho que faz os nossos corações arderem na missão que realizamos, convidando-nos a responder: somos convictos de nossa vocação? E que a mesma é um chamado do Senhor?

Pe. Ademar Cason, SDS

Coordenador da Equipe de Vocações Salvatorianas e Reitor do Instituto Mãe do Salvador

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