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Testemunho

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Espiritualidade

Espiritualidade

O hábito da oração pessoal

Rezar signifi ca dialogar com Deus. Um diálogo que precisa ser livre, aberto, profundo e sincero. É importante, de início, recordar que dialogar pressupõe duas atitudes importantes: falar e escutar. Sem a junção destas duas posturas fi ca impossível colhermos os frutos de nossa vida de oração. Considerando que nós somos pessoas de relação, devemos levar em conta que nossa relação com Deus deve ser verdadeira e frutuosa. Deus, como nos diz os místicos na antiguidade, se autorevela a nós em sua infi nita bondade, misericórdia e compaixão e, nos faz também compreender, que fomos criados à sua imagem e semelhança, portanto, permite-nos revelar como seres do amor e para o amor. Quanto mais conhecemos a Deus por meio de nossa vida de oração, mais Deus permite que nos autoconheçamos em nossa humanidade. E vice-versa.

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No Evangelho de São Mateus, Jesus adverte a seus discípulos sobre a verdadeira forma de se rezar: “Quando

rezardes, não sejas como os hipócritas, pois se vangloriam em rezar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Mas tu, quando rezardes, entra no teu quarto e, fechando a porta, reza a teu Pai que está em oculto e Ele te recompensará publicamente” (Mt 6,

5-6). A partir dessa exortação que Jesus dirige à comunidade, principalmente como crítica aos fariseus, desejamos fazer algumas observações que nos ajudam na criação do hábito de sermos pessoas orantes.

Dois elementos se destacam nessa narrativa de São Mateus, no Evangelho. O primeiro é a oração entendida como um encontro silencioso e discreto, onde posso encontrarme com Deus que me acolhe. Recordamos a experiência do profeta Elias quando, vivendo uma profunda crise existencial que abatia seu ministério, sentado embaixo do junípero, se encontra com Deus, não no barulho ou nas grandes teofanias, mas na brisa leve e suave (cf. 1 Rs 19,12).

Esse ponto de São Mateus levanta-nos um questionamento sobre o lugar da oração e a melhor forma de rezar, ou, se quisermos, o método da oração. Muitos pensam que é a força das palavras, ditas de forma erudita e em voz quase estridente, e em lugares suntuosos, que Deus irá nos escutar mais e atender nossas preces. Podemos afirmar que o lugar por excelência da oração é o caminho da vida, isto é, em qualquer situação em que estejamos ou em qualquer lugar pelo qual passemos ao longo da caminhada do dia a dia. Deus sempre está caminhando conosco!

Lembremos outro texto sugestivo do Evangelho, em Lucas, quando encontramos a experiência dos discípulos de Emaús, que voltam cabisbaixos de Jerusalém para seu povoado em Emaús, e no caminho se encontram com Jesus que se revela glorioso em sua ressurreição, resgatando a força da Palavra e da Eucaristia na vida da comunidade. É na simplicidade da vida e em poucas e singelas palavras que conversamos com Deus e somos interpelados por Ele.

O segundo elemento que queremos destacar, extraídos do texto de São Mateus, é a imagem de Deus que invocamos em nossas orações. O Deus de Jesus é o Abbá, ou seja, o paizinho - termo carinhoso que no hebraico nos dá a ideia de um Deus que é Pai amoroso e misericordioso e que deseja estabelecer conosco uma relação filial. Infelizmente, no decorrer da história, por influência de categorias gregas, foi-se criando uma imagem de Deus distante, desencarnada da realidade humana, muito diferente do Deus que Jesus nos revela no Evangelho. Um Deus que julga de maneira implacável, que pune, que defende a todo custo “a pureza moral” e que, em nome dessa mentalidade religiosa, segrega a muitos. É a raiz para o fundamentalismo religioso. Uma oração em que nos encontramos e criamos intimidade e profundidade com o Deus da Vida, nos leva certamente a um crescimento interior. Aprendamos, pois, a criar em nosso cotidiano o verdadeiro hábito de uma vida de oração pessoal onde valorizamos encontros autênticos com Deus, por meio da leitura orante de sua Palavra e dos acontecimentos da vida, os quais nos permitem fazer uma caminhada de fidelidade na construção do Reino de Deus.

Pe. Carlos Jobed Malaquias Saraiva, SDS

Coordenador da Equipe de Comunicação Salvatoriana

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