Ano 1 - No 2 - primavera 2012
tutano
DelĂrios da cozinha do Beto Madalosso
entrevista Marcelo Amaral,
the anti-hero Cama e
cozinha
com Amely
Comer e beber no Peru, glu!
Tomate,
we love you!
Paganini, o segredo dos chefs Os chefs mais renomados do Brasil se rendem aos produtos Paganini. Emmanuel Bassoleil, Junior Durski, giancarlo Bolla, Erick Jacquin e Sergio arno, estrelas da alta gastronomia, sempre trocam impressões sobre o sabor e preparo dos alimentos.
twitter.com/euamopaganini -
Em comum, o apurado gosto pelas coisas boas da vida. Comer bem e estar com amigos é um estilo de vida para todos eles. Os sorrisos de todos em torno de uma mesa bem-servida, são momentos para guardar na memória.
Um encontro com os melhores sabores da Itália, selecionados pela Paganini para você que acredita nestes mesmos valores de qualidade e procedência. Um segredo bem guardado dos melhores chefs de gastronomia agora revelado: Paganini.
www.facebook.com/paganinigastronomia - www.paganinigastronomia.com.br
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editorial
Talvez o Chico fique de mal comigo, mas vou falar que esses dias eu estava pensando numa receita para gravar o Pra Variar e o Wellington, chef de cozinha da Forneria Copacabana, que morou cinco anos na Inglaterra, me deu a ideia de fazer um Fish’n’Chips. Com suas dicas, o resultado ficou de arrebentar. No set de gravações, as mina piraram e os mano se lambuzaram de tanto comer. É mais ou menos assim:
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Num bowl, você coloca farinha de trigo, água com gás e cerveja escura, até obter uma mistura homogênea, com consistência espessa, cremosa.
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Daí você tempera o filé de peixe (pode ser linguado) com sal e pimenta-do-reino e empana ele no amido de milho, pra ficar bem sequinho.
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Depois, você passa o filé de peixe nessa mistura e mergulha ele em óleo fervendo. Vai formar uma casquinha dura, crocante, e você vai chorar de felicidade quando der a primeira mordida.
tutano Comida com sotaque
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• Entrevista com Marcelo Amaral
On The road
• Uma aventura no Mali
Comer e beber
• Lima
• Pimenta
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• Vai de espetinho?
• Vive le champanhe!
Você é o que você come
Gastroglobalização 32
• Tomate: uma vida conturbada
baixa gastronomia 20 happy hour
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Pequenos detalhes
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lobetomia
• Você tem fome de que?
Anota aí
• Salmão • Crepe Suzette
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digestivo
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• Se você fosse um vinho
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• A última refeição de Zeca Baleiro
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• Uma receita portuguesa com certeza
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menu du jour
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sweet dreams
comida pra que?
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@betomadalosso
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• A visita ficou para o jantar
• Cama e cozinha com Amely
• Por onde andei...
Expediente
Edição Beto Madalosso Projeto Pulp Edições Diretora de Redação Fernanda Ávila Ferreira drt 3884 Redação Priscila Seixas Diretora de Criação Patricia Papp Diretor de Conteúdo Vicente Frare Direção de Arte Halini Saad e Bruna Michelin Colaboração Raul fRare, Guilherme Caldas, Rafael Martins, johann stollmeier, Pryscila Vieira, zeca baleiro, João Roberto e Andressa Séra Lupion, Ivan Lopes, Dudu Sperandio Impressão corGRAF Tiragem: 5.000 A Revista tutano é uma publicação gratuita dos restaurantes Madalosso, Famiglia Fadanelli e Forneria Copacabana
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comida com sotaque
da alta gastronomia fotos bruna michellin
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comida com sotaque
Marcelo Amaral morreu. E renasceu. Isso aconteceu em 4 de maio, dia em que completou 35 anos e reabriu as portas do Lagundri depois de uma grande reforma. E foi nesse processo de morte e renascimento que descobriu sua missão: fazer um resgate da cultura caiçara através da gastronomia. Incansável na busca de trazer para a mesa do seu restaurante os melhores alimentos, tudo natural e sem agrotóxicos, produzido a um raio de 60 quilômetros de Curitiba, ele foi encontrando parceiros e descobrindo uma verdadeira liga do bem atuando nessa área. São médicos, engenheiros, pesquisadores, publicitários, acadêmicos, produtores, chefs de cozinha e outras pessoas que compartilham a ideia de uma gastronomia responsável e consciente. Gente preocupada em resgatar nossas raízes gastronômicas e se aproximar tanto da filosofia do Slow Food quanto das técnicas dos mais estrelados chefs europeus. Nesta entrevista, realizada no momento em que tatuava “Anti Hero” nos dedos das mãos, Marcelo fala sobre transformação, palavra que elegeu para definir o momento em que vive.
Por que você diz que morreu e renasceu? Porque eu quebrei. Eu morri comercialmente. Por causa de uma série de fatores, que incluem minha “administração emocional” dos negócios, eu fali. Chegou um momento em que eu não tinha mais dinheiro para pagar fornecedores, devia para três bancos, além da bagunça que viraram as minhas contas pessoais. E foi daí que veio o renascimento. Porque quem já está morto não morre mais. Eu me libertei, renasci no cúmulo da minha honestidade e decidi que esse era o momento da transformação. Minha profissão tem um código ético e decidi encarar a missão de ajudar as pessoas a comerem melhor dentro daquilo que está ao meu alcance. Tudo isso com muita humildade. Eu sou um operário da gastronomia. Não quero mais me relacionar com pessoas por
interesses apenas comerciais e fazer aquilo que só visa ao lucro. Não me pergunte se estou rico, me pergunte se eu estou feliz. É nessa ideia de liberdade que eu renasci.
Minha profissão tem um código ético e decidi encarar a missão de ajudar as pessoas a comerem melhor dentro daquilo que está ao meu alcance Mas o que motivou essa transformação? Foram pessoas que eu conheci. Uma delas é a jornalista e chef Luciana Bianchi, que mora em Londres e
é correspondente internacional. Já vínhamos conversando há muito tempo sobre o verdadeiro conceito da alta gastronomia na Europa, onde os chefs têm uma relação muito íntima com os ingredientes, com suas raízes, com o “terroir”. Há um envolvimento com a terra, com o produtor, um conhecimento profundo da origem de tudo aquilo que se come. Essa é a essência do chef moderno. E foi lembrando desses diálogos que decidi me libertar. Comecei a estudar mais sobre o assunto, me aprofundar, descobrir de onde vem, como faz, quem faz. E, nessa pesquisa, encontrei pessoas incríveis que estão trabalhando muito com essa questão. Um bom exemplo é o Rogério Konzen, um dos pioneiros em cultura biodinâmica e orgânica do país. Ele foi o primeiro brasileiro a vender um produto na rede de supermercados Whole Foods.
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comida com sotaque
Temos uma liga do bem, pessoas que acreditam no que estão fazendo e têm um papel fundamental nessa transformação
Os seus clientes percebem isso? Acredito que 60% sim. Os outros 40% ficam felizes.
E você consegue fazer uma culinária asiática com produtos encontrados a um raio de 60 quilômetros de Curitiba? Com tudo que vem da terra, eu consigo. E esse é o lance mais legal. Claro que as especiarias precisam vir de fora, mas todos os outros insumos eu vou pessoalmente buscar aqui do lado. Há alguns itens que preciso ir um pouco mais longe, mas não passa de 400 quilômetros, como é o caso de uma farinha produzida no Rio Grande do Sul. E eu participo do processo, me envolvo com os produtores, conheço a fundo a história de cada ingrediente que entra na minha cozinha. Até a água usada para cozinhar é fruto de muita pesquisa. E sabe qual foi a melhor água que eu encontrei? A da Serra da Graciosa.
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O Lagundri é um restaurante caro. Essa opção encarece o produto final? Sim, bastante, mas não é tanto pelo custo do produto. O que deixa caro é o custo da mão de obra. Não é fácil encontrar pessoas que tenham esse comprometimento. Preciso de pessoas que não estejam preocupadas com a hora de ir embora, que sintam carinho pelo que fazem, que tenham humildade e vontade de aprender a manipular os alimentos da forma que eu acredito ser necessária. E estas pessoas precisam ganhar bem. A filosofia da gastronomia consciente não está voltada apenas para os alimentos, mas muito para as pessoas. Aqui fazemos aulas de ioga todos juntos e, em todas as sextas-feiras, acontece o Food Skate Park Day, quando vamos todos para um parque da cidade andar de skate por uma hora.
Você frequenta outros restaurantes em Curitiba? Vai a lugares dos quais nunca teve uma indicação, uma referência? Frequento menos do que gostaria. Recentemente visitei os clássicos. Sabe quando você recebe um monte de dicas de filmes e quando vai na locadora não sabe o que pegar? Sempre acontece comigo. Normalmente visito restaurantes dos quais nunca ouvi falar no bairro da Liberdade, em São Paulo.
Você reclama em restaurante? Em que momentos? Eu reclamo do atendimento, mas não da comida. A não ser que o chef seja meu amigo.
comida com sotaque
Em que nível está o cenário gastronômico em Curitiba? É ótimo e está melhorando em uma velocidade impressionante. Temos uma liga do bem, pessoas que acreditam no que estão fazendo e têm um papel fundamental nessa transformação. São muitos, gostaria de citar todos, mas em especial o Beto (Madalosso), a Manu (Buffara), a Gabriela (Carvalho), o Durski, o nosso mestre Celso Freire. São pessoas muito responsáveis, que estão fazendo a história da nossa culinária.
Qual é a sua primeira lembrança de prazer à mesa? Quando eu era criança, minha mãe viajava muito e muitas vezes era o meu pai que tinha que se preocupar com o jantar. Então ele preparava um miojo (que era a única coisa que sabia fazer), me colocava numa perna, meu irmão na outra e comíamos do mesmo prato, com um garfo só, pra não sujar muita
louça. Minha mãe achava isso um nojo, mas esse momento de carinho acabou se tornando uma das melhores lembranças da minha infância. E até hoje adoro miojo.
E como foi essa descoberta pelo prazer de cozinhar? Eu venho da área de publicidade. Até que um dia fui demitido da agência em que trabalhava e resolvi viajar com o meu portfólio debaixo do braço. Como qualquer jovem desempregado, tive o visto americano negado. Daí fui para a Nova Zelândia, onde comecei a ter contato com a cozinha oriental. De lá fui para a Austrália, onde trabalhei em várias cozinhas: da baixa à alta gastronomia.
Qual é o prato que te faz se sentir em casa em qualquer lugar do mundo? É um bife à parmegiana bem fininho, feito com coxão mole. Bem simples, que não pode custar mais do que R$ 13.
Quais são os seus próximos projetos? Quero seguir firme nas pesquisas da gastronomia responsável e me aproximar cada vez mais da alta gastronomia. Nem que para isso tenha que fazer parte do seleto grupo de 30 loucos, insanos e quebrados melhores chefs do Brasil. Também tenho o sonho de transformar Antonina em centro gastronômico de padrão internacional e resgatar a identidade original do povo caiçara. Acredito que essa seja a vocação da cidade.
Marcelo Amaral é chef do Lagundri Bistrô Contemporâneo e professor do curso Chef de Cuisine & Restaurateur do Centro Europeu.
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on the road A ideia de conhecer o oeste da África sempre me despertou muito interesse e curiosidade. A proposta era fazer uma viagem de 4x4 pelo Mali percorrendo todas as regiões do país. Consegui achar o companheiro ideal: o meu amigo Lorenzo Madalosso (mais conhecido como “Cabeza de Vaca”), que, como eu, já havia viajado por terra em outras regiões remotas do planeta. O Mali é considerado a joia do oeste da África. Um destino muito especial com uma rica variedade de atrações. O país ocupa o coração de um território que já abrigou antigos impérios e civilizações.
mesquita, a maior estrutura do mundo feita em argila. O melhor dia para conhecê-la é segundas-feira. Quando acontece o famoso mercado local. Infelizmente, a entrada no interior da mesquita é vetada a não muçulmanos. Construída com barro misturado com palha seca e cocô de vaca, é uma estrutura imponente com uma arquitetura fantástica. Centenas de camponeses das tribos vizinhas trazem seus produtos para serem vendidos ou trocados nas barracas montadas em frente à mesquita. É um verdadeiro espetáculo de cores, aromas, fumaça e sabores. Com certeza aquele cenário não deve ter mudado muito nas últimas centenas de anos.
De Bamako a Djenné Encontrei o Lorenzo em Paris e de lá voamos para Bamako, a capital do país, onde iniciamos a nossa viagem. Cortada pelo Níger, um dos rios mais longos da África, Bamako é uma cidade vibrante, com bons restaurantes, hotéis, vida noturna agitada e grandes mercados de rua. As estradas do Mali estão em boas condições e, apesar de estreitas, são muito vazias. Partimos de Bamako e fomos em direção a Djenné, uma das principais atrações do oeste da África. A estrada corta vilarejos e enormes planícies e é possível ver gigantes baobás ao longo do caminho. Tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade, Djenné é uma cidade espetacular, conhecida pela sua grande
*Lorenzo Madalosso é chamado de Cabeza de Vaca por ser um daqueles caras que gostam de aventuras, se metem sem medo e sem frescura em lugares inóspitos. O apelido é uma alusão ao grande desbravador e conquistador Álvar Núñes Cabeza de Vaca, um espanhol muito casca grossa em que essa turma de amigos viajantes se inspira para fazer suas viagens.
Peixes secos pescados no Níger, carnes, frutas exóticas, verduras, animais vivos, temperos, especiarias, couros e roupas. Mercadores negociando seus animais, crianças correndo em meio a porcos e galinhas, mães com bebês nas costas, muito barulho e línguas diferentes. Vagamos por horas fascinados com tudo aquilo que acontecia ao nosso redor e nos sentimos extraterrestres intrusos com nossas câmeras nas mãos. Almoçamos num restaurante local e provamos o “captain”, um peixe grelhado no carvão, eleito o prato preferido de toda a viagem. É uma espécie de carpa grelhada com manteiga e limão. A carne é tenra e muito saborosa.
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on the road
Rumo ao fim do mundo
mali
De Djenné passamos por Mopti, a segunda maior cidade do Mali e um importante porto à beira do Níger. Fizemos um passeio de “pinasse” pelo rio, uma espécie de canoa de madeira motorizada, e visitamos alguns vilarejos, mercados flutuantes e ilhas. Nos hospedamos num hotel cujo dono era um libanês e, para nossa alegria, o cardápio do restaurante tinha também típicos pratos libaneses. De lá seguimos viagem em direção à lendária e isolada cidade de Timbuktu. Nosso principal objetivo da viagem era conseguir chegar nesse local considerado por muitos viajantes como um dos lugares mais inacessíveis do planeta. O verdadeiro fim do mundo. Apesar de todos os avisos de segurança das embaixadas europeias aconselhando a não visitar essa região, decidimos ir mesmo assim
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on the road com a ideia de que ninguém faria mal ou tentaria sequestrar dois viajantes do país do futebol. Havia rumores de que uma célula da Al Qaeda estaria tentando controlar e separar a região do resto do país promovendo ataques terroristas. De fato éramos os dois únicos turistas na cidade. Perambulando pelas ruas, tivemos a chance de assistir a um jogo de futebol no estádio municipal. Na entrada havia dezenas de crianças tentando, sem sucesso, entrar e sendo ameaçadas por um policial com cassetete na mão. Fizemos a alegria da criançada quando pagamos a entrada de todas elas e mandamos o policial liberar a catraca. Logo viramos celebridades locais. Timbuktu é uma cidade milenar com a maioria da população beduína e fica num ponto muito estratégico entre o Deserto do Saara e o Rio Níger. Era o ponto final das caravanas de camelo que ligavam o Mediterrâneo ao oeste da África desde os tempos medievais. Foi a capital de um dos impérios mais prósperos da África, com inúmeras universidades islâmicas e mesquitas.
O país Dogon De Timbuktu fomos para o lugar mais fascinante do Mali, uma região chamada Dogon Country. Também tombado pela UNESCO como patrimônio histórico e cultural da humanidade, Dogon fica na região central do país e é formado por pequenos vilarejos encravados ao longo da Falésia de Bandiagara. O povo Dogon se estabeleceu ali há mais de mil anos na tentativa de fugir do Islã. Possuem suas próprias línguas, crenças, costumes, calendários e culinária. Vivem de forma muito primitiva, através do pastoreio de animais e agricultura rudimentar.
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on the road
Percorremos a pé uma série de vilarejos ao longo da Falésia. Com muros de barro e casas de sapé, cada vilarejo possui na parte mais alta seu Hogon, onde vive o ancião líder espiritual da comunidade. É uma figura de grande respeito para quem os mais jovens pedem conselhos e trocam ideias. O mais curioso é que as mulheres roubam a cena e são responsáveis por praticamente tudo na sociedade, principalmente pelo trabalho mais pesado. Elas carregam os filhos nas costas, baldes de água nas cabeças, cultivam e preparam os alimentos, cuidam da colheita, da troca dos produtos nos mercados etc. Visitamos o mercado local onde mulheres com roupas coloridas vendiam frutas e verduras e provamos a cerveja feita de milheto. Bebemos aquela água suja e quente diretamente da bacia que estava sendo carregada na cabeça de uma mulher.
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on the road
Quer visitar? A maneira mais fácil de chegar no Mali é voando Air France via Paris. Visto e vacina de febre amarela são obrigatórios. Para a emissão do visto, o ideal é conseguir uma carta-convite através de uma agência de turismo local mediante contato prévio. A língua oficial é o francês e a moeda é o franco. Dólares e euros também são aceitos. A melhor época para ir é após a estação das chuvas: de novembro a janeiro. Com tantas atrações incríveis, o Mali é ainda muito pouco visitado. Mesmo sendo um dos países mais pobres e precários do mundo, é relativamente seguro viajar por lá, com exceção de Timbutku, onde rebeldes separatistas recentemente tomaram o controle da região. Centenas de crianças se aproximam durante toda a viagem para pedir dinheiro, balas e presentes. As condições de higiene e infraestrutura são precárias e é muito difícil não se comover com toda aquela criançada sorridente olhando para você. Percorremos mais de 3.000 quilômetros com nossa Land Cruiser pelas estradas do país e encerramos nossa viagem no mesmo ponto de partida, a capital Bamako.
Raul Frare cria vacas e planta soja. Lorenzo Madalosso cria galinhas e planta alface. Nas horas vagas os dois viajam.
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comer e beber
lima La capital del peru,
glu!
Você já deve ter ouvido falar que a culinária peruana é show de bola e que restaurantes peruanos estão na moda. Mas talvez não tenham te contado que Lima, a capital do Peru, também é muito legal. Passei por lá quando fui de moto até o Alasca e curti bastante. É um lugar ideal para descobrir novos sabores, afinal, é do Peru que vem o milho, o tomate, o amendoim, a batata e a quinoa. Isso sem falar de um monte de frutas bem exóticas, que dá para experimentar nas barraquinhas do calçadão de Miraflores.
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Se tivesse que dar cinco dicas sobre lima, elas seriam:
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Para desbravar a cidade, cate um dos mapas LIMAP de Miraflores/ Barranco, Surco ou San Isidro, que têm todos os endereços bacanas que você vai precisar. Eles são distribuídos gratuitamente em lojas, restaurantes e bares desses bairros.
comer e beber
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Antes da viagem, leia algum dos livros de Mario Vargas Llosa, autor peruano que já ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. “Travessuras da Menina Má” é uma boa pedida. Assista também ao filme A Teta Assustada. Vai te convencer a marcar a passagem.
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Almoce no Pescados Capitales e jante no Central Restaurante, onde aconselho comer todas as entradas do cardápio. E já que estamos falando de restaurantes, aconselho também o Osaka, o Astrid&Gastón e a La Mar Cebicheria. Só que esses três já se globalizaram e abriram filiais pela América Latina, enquanto os dois primeiros só existem lá (ainda).
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Visite o Museo Larco, para ter uma melhor noção da riqueza da história peruana. Muito antes de qualquer europeu imaginar que as Américas poderiam existir, os peruanos já viviam de maneira bastante civilizada. O café do museu é muito bom também.
Curtir o fim de tarde no bairro de Miraflores. Pode ser no Parque do Amor, no calçadão, no shopping Larcomar ou, se tiver coragem, fazendo paragliding. Junto com Barranco, são os dois bairros mais bem frequentados e cheios de restaurantes, bares e lojas da capital. Se for pedir um drinque, não caia na tentação de beber a amarelada (e doce) Inca Kola. Prefira algo feito com pisco.
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baixa gastronomia
v ai de
e spet inho? Nesta segunda edição, os mestres da Baixa Gastronomia me propuseram mais um desafio: experimentar os espetinhos do Xixo. Acompanhem...
O desafio
missão cumprida
Verdadeiro self-made-man da BG curitibana, Xixo começou com uma barraquinha, que se transformou num complexo da comilança, encravado entre o Juvevê e o Hugo Lange. De terça a sexta, a pedida só tem que ser os melhores espetinhos da cidade. Sábado tem alcatra estilo orelha de elefante e domingo é dia de comer nas mesas da calçada os assados feitos na grelha, capitaneada pelo próprio Xixo. Que tal, Beto?
Eram 7h45 da noite de uma sexta-feira e o movimento do Copacabana ainda estava para começar. Com a casa vazia, resolvi dar um pulo no Espetinho do Daniel e Xixo, para cumprir minha agenda Baixa Gastronomia. Quando cruzei o portão de ferro que dá acesso a uma espécie de garagem, fiquei impressionado. Estava lotado! Não tinha uma cadeira sequer para mim. Esperei 10 minutos. Sentei e mandei descer seis espetinhos diferentes. Quer saber o que eu achei? Sábado à noite jantei lá novamente.
provar o espetinho do daniel e xixo
Mamãe???
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Xixo Rua Dr. Goulin, 980 Hugo Lange (41) 3263-4302
happy hour
VIVE LE
CHAMPAnhE! ta
foto: bruna michelin
ei c e r
Receitinha clássica
Um bom champanhe deve ser degustado bem gelado e sem intervenções fantasiosas. Somente a taça, o vinho e você. E de preferência brut. Mas caso a garrafa que você ganhou de presente tenha ares duvidosos, ou seja demi-sec, nada mal em preparar um drinque cheio de bolhas com: • Um cubinho de açúcar • Três gotas de angostura para umedecer o açúcar • Um tequinho de conhaque • Champanhe bem gelado, por último É um drinque que as mulheres adoram. Se quiser impressionar, sirva com uma lasca de casca de laranja ou uma cereja ao maraschino. Mas não exagere, afinal, lembre-se que bebidinha doce é boa para a memória, principalmente no dia seguinte.
LONDRA Hotel F as Rio de Jan ano Av. Vieira eiro Souto, Ipanema 80
BARES MODERNOS PARA UM COQUETEL CLáSSICO
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LE BALLROOM 58 ru Paris Rous e Jean-Ja cq seau - Bou ues rse
ROOM BACK York a v No Street orfolk 102 N East Side Lower
você é o que você come
Se você fosse um vinho,
Que vinho seria? Montrachet
Se eu fosse um vinho, gostaria de ser um Montrachet. Por ser o mais perfeito vinho feito a partir das uvas Chardonnay. De cor dourada e aroma tostado, um vinho seco, elegante e complexo. E que, segundo Alexandre Dumas, é um vinho para ser tomado de joelhos!
Casillero del Diablo Mas nem precisava perguntar. Casillero del Diablo. Por quê? Bem... porque é muuuuuito minha cara! Mais heavy metal impossível! Marcelo Paciornik, artista plástico
Andrea Nicoluzzi Vieira, chef de cozinha
Camins del Priorat
Um Vinho do Porto, que melhora com a idade e vive séculos.
Eu seria um Camins del Priorat por ser leve, fácil de harmonizar e catalão. Miquel Serrano, diretor da Feira de Moda Brandery de Barcelona
Luiz Carlos Zanoni, jornalista
Vega-Sicilia 1994
Portal del Alto, Carmenère
Escolhi este vinho porque é bom e também porque sua uva é rara e resistente às efemérides. João Acúio, astrólogo
Brunello di Montalcino Blend
Eu seria um Brunello di Montalcino. É um vinho de denominação de origem controlada e garantida, produzido na região da Toscana, território da comuna de Montalcino, província de Siena, Itália. Por quê? É o vinho italiano dotado de maior longevidade (e também sabedoria, certo?).
Se eu fosse um vinho seria o Vega-Sicilia 1994 (tinto espanhol). É um vinho sóbrio, bem estruturado, complexo e muito equilibrado. Francisco Urban, restaurateur à frente dos restaurantes do Píer do Victor
Chocalan 2004 Gran Reserva Blend
Se eu fosse um vinho, seria tinto, com certeza, encorpado, chileno, um Chocalan 2004 Gran Reserva Blend. Um vinho que traz uma mistura boa de corpo, sabor e surpresa, que, se bem acompanhado de boa companhia, vira um programa especial. André Caldeira, diretor da Propósito
Diego Caleffi, Gestor de Produção da RBS Eventos
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menu du jour
A visita ficou para o jantar,
e agora?
Normal, acontece. Tem gente que adora, tem gente que nem tanto. Mas com criatividade sempre dá para improvisar alguma coisa. O desafio da vez foi lançado em terreno bem neutro: ele, engenheiro e ela, empresária. Veja qual foi a saída do casal e, por fim, o arremate de dois chefs.
OS ANFITRIÕES João Roberto e Andressa Séra Lupion adoram quando a casa fica cheia, coisa de família. Casados há quase cinco anos, sempre que podem eles reúnem alguns amigos. Enquanto abastecem as taças de vinho – ou de cerveja para a Andressa (paixão declarada!) – não é raro o bate-papo se estender noite adentro. Para não ter estresse ou passar apuro, o segredo deles é sempre ter um ou outro ingrediente mais interessante na geladeira. E daí, partir para o improviso.
A DICA DO CASAL Junte aos ingredientes o pão italiano e você tem as famosas bruschettas. Essa é a saída do João e da Andressa quando precisam improvisar um jantar. Eles contam que não tem erro: todo mundo gosta e é bem rapidinho de fazer.
INGREDIENTES MÁGICOS Do básico aos ingredientes mágicos, na geladeira do João e da Andressa (quase) sempre tem: • Cream cheese • Salmão defumado fatiado • Molho mostarda e mel • Presunto parma • Alcachofra
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“Só precisa cortar o pão em fatias grossas e colocar no forno para dar uma torrada. Pode acrescentar uma manteiga para dar um gosto. Depois, você monta as bruschettas, que são servidas frias mesmo. Uma das opções é colocar o cream cheese, o salmão defumado fatiado e cobrir com o molho de mostarda e mel. Quando tem, a gente ainda coloca um verdinho em cima ou uma rúcula para enfeitar. A outra opção é com o presunto, que vai com as alcachofras (normalmente já temperadas) por cima.”
menu menudu duhour jour
A DICA DOS CHEFS E os profissionais, o que será que tiram da manga com esses ingredientes? Para dar consistência, é bom adiantar que foram consideradas aquelas coisas que todo mundo tem em casa, tipo macarrão.
Ivan Lopes Restaurante Terra Madre “O salmão defumado rende um carpaccio com folhas e molho de mostarda, iogurte e mel.”
fotos: divulgação
Dudu Sperandio Ernesto Ristorante “Sugiro uma receita com penne, espaguete ou outra massa, com lascas de salmão defumado e alcachofra no molho cremoso de cream cheese. Mas quem preferir pode substituir o salmão pelo presunto parma. A única mudança é eliminar o vinho branco.”
Carpaccio de salmão defumado com folhas ao molho de mostarda, iogurte e mel
Penne com lascas de salmão defumado e alcachofra no molho cremoso de cream cheese
Ingredientes: 100 g de carpaccio de salmão defumado (já vem fatiado e pronto para uso) 1 pote de iogurte natural 30 g de mel 1 colher de café de mostarda l’anciene Folhas a gosto e rúcula Azeite extravirgem Sal e pimenta a gosto
Ingredientes: Uma xícara de café de vinho branco 500 g de massa grano duro Salmão defumado cortado em tiras Alcachofra cortada em tiras 1 pote de cream cheese Sal e pimenta-do-reino 1 colher de azeite de oliva 1 dente de alho picado
Modo de fazer: Com um batedor de arame e um recipiente fundo, bata o iogurte, a mostarda e o mel. Acerte o sal e a pimenta. Coloque as fatias do salmão em um prato. Lave as folhas e seque bem. Coloque as folhas sobre o carpaccio. Adicione o molho de iogurte sobre as folhas e o carpaccio. Finalize com um fio de azeite extravirgem e sirva-se.
Modo de fazer: Em uma frigideira, doure o alho com o azeite de oliva, em seguida frite a alcachofra. Adicione o vinho branco e reduza 50%. Depois, coloque o cream cheese e espere derreter e ficar bem cremoso. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Apague o fogo e misture o salmão com todo o molho, se tiver uma salsinha picada vale a pena, para dar uma cor. Misture com a massa e tudo pronto.
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comida pra que?
cama e cozinha
com amely Se na edição passada falamos de comida para malhar, nesta o assunto é comida para dar uns malhos. Trocadilhos e gírias antigas à parte, a ideia é esta mesma: entender como a comida pode dar um tempero a mais na relação. E ninguém melhor do que Amely, a boneca inflável mais sedutora do Brasil, para dar suas pitadas.
Amely, você já foi seduzida com comida? Como foi? Certo dia um ser me chamou para curtir uma “noite de massas e frutos do mar” na casa dele. Soou fino e, por isso, envelopei-me no tubo preto e subi nos cascos altos. Seduzida pelo convite, rumei ao grande evento. Lá chegando, deparei-me com uma xexelenta cesta de pães amanhecidos margeada por patê de sardinha! “Massas e frutos do mar, conforme o prometido”, disse-me ele com ares de chef do terminal do Guadalupe. Fiquei igual àquele grão: de bico! Taquei a taça de vinho Campo Largo nele e o flambei da minha agenda por todo o sempre. E você já usou a comida para seduzir? Tenho uma receita de família (ou nem tanto) que mistura chantili com salto alto. Na primeira vez que fiz, o resultado foi a melhor comida de todos os tempos. Qual o maior erro que um homem pode cometer na cozinha? Ficar cozinhando mulher é um horror. Se não tem interesse real pela baba da moça, liberte-a para degustação alheia. O desperdício é completamente vetado no ramo alimentício.
Amely é boneca inflável e faz freela como atriz de quadrinhos no jornal Folha de São Paulo.
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Você me faz perder a cabeça.
comida pra que?
Receita infalível da Amely
E uma mulher? Mulher engole muito sapo na cozinha. E o maior deles é o sapo que promete cozinhar, mas deixa aquela bagunça para que a mulher arrume. Abominável. A mulher tem que deixar claro para ele que organização e limpeza fazem parte do cardápio do sapo... digo, do príncipe generoso. Que ingredientes são infalíveis na hora de conquistar alguém? Infalível é ser doce, mas tem que ser na medida certa, porque nunca vi coração revestido de Teflon à prova de gente grudenta. Dicas para evitar catástrofes? Está no manual básico da mulher: existem pouquíssimas coisas que acalmam uma fêmea com TPM. Tulipas negras, diamantes do tamanho de um Fusca e chocolate são algumas delas. Na falta de tulipas ou diamantes, aconselho que um homem mantenha um generoso estoque de chocolates em casa, para passar razoavelmente ileso pela TPM de sua companheira. Caso contrário, momentos catastróficos são garantidos.
Minha especialidade é “Ovos com linguiça” e tenho uma receita de dar água na boca. Vamos lá:
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ei rec
Ovos com linguiça Ingredientes: 1 cebola picada 1 tomate picado sem semente 1 colher (sobremesa) de alho picadinho 4 colheres de sopa de molho shoyo 1 linguiça paio picada em cubos 7 ovos Sal a gosto 2 colheres de sopa de massa de tomate 1 colher de sopa de manteiga sem sal Modo de fazer: Em uma panela aqueça um fio de óleo e frite a linguiça. Acrescente a manteiga, a cebola e o alho e deixe refogar por dois minutos mexendo de vez em quando. Coloque o molho shoyo e o tomate, deixe apurar, acrescente a massa de tomate. Em uma vasilha bata os ovos e acrescente sal a gosto. Despeje os ovos sobre o refogado e deixe criar consistência, mexendo para não grudar no fundo da panela. Se necessário corrija o sal. Sirva com arroz branco.
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pequenos detalhes
pimenta Sabe quando você quer usar a pimenta para dar mais colorido do que ardido numa receita? Então...
no fio fó d os o utros é refr
Abra-a ao meio, tire as sementes e pique finamente. Jogue um punhado naquele molho branco que você faz com frutos do mar. Dá cor e fica um pouco caliente!
E esses dias que eu comi uma farofa doce de pimenta, servida com um salmão grelhado. Obra do meu amigo Dudu Sperandio. Ele tira as sementes e fatia as pimentas finamente. Ferve com açúcar, vinagre e gengibre em uma panela. Quando tudo virar uma calda, você joga numa bancada de pedra e espera esfriar. Daí tritura tudo aquilo, transformando em uma deliciosa farofa doce/apimentada. Para fazer aquele azeite de pimenta, que é bem forte e com uma pitada você tempera comida pra um batalhão, coloque 10 pimentas-dedo-de-moça inteiras num recipiente. Acrescente uma xícara de vinagre, cinco dentes de alho, folhas de louro e um litro de azeite. Em cinco dias você terá um forte e saboroso azeite apimentado.
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Durante um bom tempo na cozinha do Famiglia Fadanelli, usei a pimenta-dedo-de-moça só para decorar pratos apimentados. Um dia, usando um maçarico, descobri que ela fica muito bonita tostada e é muito rápido de fazer. Você pode fazer, inclusive, usando o próprio fogão. Antes de servir o prato, coloque a pimenta tostada apenas para decorar.
Exagerou na pimenta? Não beba água. Há quem sugira leite, outros preferem batata cozida, pão ou arroz. Tem gente que faz bochecho com creme de leite (eca) ou sorvete (melhor).
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Uma vida
conturbada De
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gastroglobalização Esta é pra você que acha que o fato mais curioso do tomate é que ele é uma fruta, e não um legume. Tudo bem que essa informação sempre gera um desconforto. Fruta, mesmo? Tem certeza? Mas esse ingrediente tem uma história de vida, digamos assim, bem fascinante. Pensar que o cara já foi fruto afrodisíaco, enfeite de jardim, veneno, protagonista de um pseudossuicídio em praça pública, até que finalmente conquistou seu lugar à mesa. E que lugar, hein? Hoje é tipo celebridade, figurinha carimbada nos cardápios do mundo inteiro. A verdade é que não se sabe ao certo a origem exata do tomate. Alguns dizem que foi no Chile, Equador e Peru, outros dizem que foi no México. Fato é que a galera das civilizações pré-colombianas já mandava ver no ingrediente. Eis que chegaram os espanhóis, na onda das grandes navegações, e junto com o milho, feijão, cacau e vários outros alimentos levaram o tomate para o Velho Continente. Isso era por volta do século 16.
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Molho de Tomates Assados do Beto Ingredientes: 8 tomates longa vida bem maduros 5 dentes de alho inteiros 3 ramos de alecrim (ou manjericão, se preferir) 400 ml de azeite de oliva Sal Pimenta-do-reino
não se sabe ao certo a origem exata do tomate. Alguns dizem que foi no Chile, Equador e Peru, outros dizem que foi no México.
Modo de fazer: Corte os tomates em oito partes. Descasque os dentes de alho e faça pequenos cortes, sem quebrálos, e junte aos tomates. Aqueça metade do azeite de oliva em uma panela funda. Acrescente ao azeite aquecido os tomates, os dentes de alho e os ramos de alecrim inteiros. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Tampe a panela e deixe por aproximadamente 40 minutos. Verifique de tempos em tempos. Quando os tomates estiverem quase totalmente derretidos e os dentes de alho estiverem bem macios, o molho estará pronto para ser servido. Tire os ramos de alecrim e sirva com uma massa ou até com pão francês. É fantástico.
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Provavelmente, a espécie que foi levada era mais amarelada, pois na Espanha e na Itália ficou conhecida como “pomi d’oro” ou maçã amarela. Só que, chegando lá, ninguém sabia como consumir a tal fruta, um tanto ácida demais. Daí que o pobre tomate ganhou fama de vilão. Considerado venenoso, seu cultivo ficou relegado à ornamentação dos jardins até quase os idos de 1700. É mais ou menos dessa época o registro de uma receita do chef Antonio Latine, que recomendava levar ao fogo pedaços de tomate, sem pele ou sementes, para obter um molho de tomate “ao estilo espanhol”.
Um carro!!!
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ei rec
ONDE???
Aqui!!!
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Gaspacho do Beto Ingredientes: 1 lata de 200 gramas de tomate pelati 1 pepino pequeno 1 pão francês 2 dentes de alho 1 ovo cozido 1 colher de talo de salsão picado em cubinhos 1 colher de sopa de folhas de tomilho Azeite de oliva Sal Pimenta-do-reino Pimenta tabasco a gosto Modo de fazer: Bata aos poucos os dentes de alho e os tomates junto com o líquido dele mesmo no liquidificador até obter uma consistência de sopa e reserve. Pique o pão francês grosseiramente com as mãos, tempere com tomilho, sal e pimenta-do-reino, regue com o azeite de oliva e leve para assar no forno a 180 graus por 10 minutos, até que fique torrado. Pique o pepino em cubinhos. Pique o ovo. Numa tigela, sirva o creme de tomate (gaspacho) e tempere com sal, pimenta-do-reino e tabasco. Cubra com o pepino, o salsão, o ovo e o pão torrado. Acrescente algumas gotas de azeite de oliva para decorar seu gaspacho. Pode comer.
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E a história se repetia onde quer que o tomate chegasse. Dos países mediterrâneos, foi para a França. Lá, ganhou status de erva afrodisíaca e até um novo apelido: pomme d’amour. Quando chegou à Grã-Bretanha também foi duramente condenado para só então virar ingrediente gastronômico (os primeiros registros são de famílias judias, por volta de 1750). As colônias espanholas e britânicas ajudaram a levar o cara para a América do Norte, Oriente Médio e Ásia. Nos Estados Unidos, o povo só desencanou da fama de venenoso por volta de 1820, quando um maluco de Nova Jersey se postou em praça pública, disposto a provar de uma vez por todas que o tomate não matava. Comeu uma cesta inteira deles diante de uma plateia pra lá de mórbida e, apesar de provavelmente ter ficado com uma azia desgraçada, continuou vivinho da silva. Foi lá, inclusive, que anos depois um cidadão (Heinz, conhece?) resolveu acrescentar tomate ao molho ketsiap que os chineses usavam para acompanhar peixes e carnes. O resultado dispensa apresentação. E já que estamos falando das voltas que esse mundo dá, adivinha qual o país que mais produz tomates atualmente? A China, of course.
adivinha qual o país que mais produz tomate atualmente? A China, of course. 35
lObetomia
m e t ê voc ? e u q e d e fom po
s da l o s a m o r bet
Te pergunto: você comeria todos os dias no melhor restaurante do mundo? Ou ainda: imagine se você jantasse no melhor restaurante do mundo e descobrisse que aquela biboca que tem do lado da tua casa te deixa muito mais feliz e satisfeito... A última edição dos 50 melhores da San Pellegrino trouxe, mais uma vez, o dinamarquês Noma em primeiro lugar. Nunca estive lá, mas fiquei a pensar. Talvez a receita de ossobuco que ele faça não seja tão boa quanto a da minha mãe. E daí? Isso quer dizer que a minha mãe mereça o prêmio de melhor chef do mundo? O que, afinal, estão avaliando? Lembrei-me de quando comecei a participar de degustações de vinhos. O enólogo ou sommelier que nos vendia seu peixe tinha um cuidado especial em finalizar seu discurso dizendo “vinho bom é o vinho que você gosta”, ou seja, por mais que ele quisesse me fazer acreditar que o dele fosse o melhor, ele deixava um recado final: confie no seu paladar. Naquela época, eu ainda vivia o espólio cultural do alemão Liebfraumilch, um vinho branco, doce, que vinha numa garrafa azul, e que, no final dos anos 90, estava em todas as mesas, em todas as festas, em todos os motéis. Para mim, e para toda a nação, aquele era o melhor. Mas hoje você serviria o Lieb no baile de debutantes da sua filha? O clássico foi do céu ao inferno em menos de uma geração. Primeiro diziam que era bom, depois virou veneno. O que, afinal, acontece com o nosso paladar? Quem tem autoridade para julgar? Difícil chegar a uma conclusão, até porque nossas papilas são altamente influenciáveis. Quer ver? Por que pastel é bom de comer na feira e não em um restaurante? E aquele risoto de camarões e aspargos que você come no restaurante, teria o mesmo sabor na feira? Encontro mais perguntas do que respostas...
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Além disso, temos que imaginar o universo de paladares mais e menos evoluídos. Os menos evoluídos são aqueles que não se importam com o que comem, comem por comer. Não quer dizer que isso seja um defeito, eles apenas não estão nem aí pra isso. Já as pessoas de paladar mais evoluído são mais criteriosas. Entendem de aromas e texturas e comem mais pelo prazer do que para matar a fome. Para esses, o paladar é hobby. Mas e o Noma? Acredito que o criterioso time designado para coroar os melhores restaurantes do mundo seja dono de paladares evoluídos, com conhecimento amplo o suficiente para diferenciar a comida ótima da esplêndida. E quando eles vão experimentar a receita de ossobuco da minha mãe? Não importa, não é só de mão boa que estamos falando. O prêmio para os melhores do mundo contempla uma ideologia. Esses restaurantes geniais não estão preocupados apenas com o próprio fogão, mas para onde caminha a humanidade. Não se trata apenas do ponto do peixe que estão servindo em suas mesas, mas de onde vem esse peixe, do que ele se alimenta, por quais processos ele passou antes de chegar até ali. Usar um produto industrializado hoje, para os melhores do mundo, é tão agressivo quanto usar pele de vison num desfile de moda. Não pelo sabor, mas pelo crime que se está cometendo. Então, não enlouqueça se você nunca conseguir provar uma colherinha do molho do Noma. Pense que, mais do que suas receitas, seu legado está em sua ideologia. E por serem tão ideológicos quanto saborosos, são os melhores do mundo que ditam as regras da gastronomia contemporânea.
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anota aí
Salmão ao Molho de Laranja Servido Com Arroz de Amêndoas
salsinha
açúcar
arroz
suco de laranja
salmã o
= queijo ralado
+ manteiga
licor cointreau amêndoas
INGREDIENTES
Salmão 1 xícara de arroz parbolizado Queijo provolone ralado 1 porção de amêndoas em lascas Salsinha picada Manteiga 1 copo de suco de laranja Raspas de uma laranja Açúcar Licor Cointreau Sal e pimenta a gosto
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Modo de preparo
Molho: Caramelize o açúcar (caramelo claro), retire do fogo e acrescente o suco de laranja. Espere reduzir até que tenha consistência de molho. Quando estiver na consistência desejada, acrescente o licor e flambe com o molho. Reserve. Arroz: Em fogo baixo, doure as amêndoas na manteiga. Pique a salsinha. Refogue o arroz com as amêndoas, acrescente o queijo
ralado e a salsinha. Sal e pimenta a gosto. Salmão: Tempere o salmão em postas com sal e pimenta e grelhe numa frigideira com pouco azeite. Num prato, sirva o arroz com amêndoas e o salmão grelhado. Cubra o salmão com o molho de laranja e depois polvilhe as raspas de laranja para perfumar o prato.
anota aí
fotos: divulgação
crepe suzette licor Cointreau manteiga OVOS
leite
fotos: johann stollmeier
cerveja trigo
açúcar sal
INGREDIENTES
250 g de farinha de trigo 3 ovos ligeiramente batidos 1,5 copo de leite + 1 copo de cerveja 1 pitada de sal 2 laranjas 50 g de açúcar 80 g de manteiga amolecida 1 cálice de Cointreau para flambar Sorvete de creme Hortelã
Modo de preparo
Massa: Peneire a farinha e o sal em uma tigela e acrescente, aos poucos, o leite e a cerveja. Acrescente os ovos e a manteiga amolecida, misture bem, até obter uma massa homogênea. Faça os crepes bem finos em uma frigideira antiaderente. Recheio: Raspe as laranjas e reserve. Misture com o suco e uma dose de Cointreau e bata bem com um garfo
até obter um creme homogêneo. Dobre os crepes em quatro. Coloque os crepes aos poucos em uma frigideira antiaderente e quando estiver bem aquecida comece a flambá-los com o cálice de Cointreau. Sobre os crepes, coloque uma bola de sorvete de creme e use folhas de hortelã para decorar. Sirva imediatamente.
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digestivo
a m i t l ú A o ã i e ç f e r dE
aleir zeca b
Junte o Zeca de José Ribamar e o Baleiro dos tempos de faculdade e você tem esse maranhense talentoso. Da personalidade bem-humorada de onde saem as letras afiadas de suas músicas, o artista extraiu divagações divertidas da sua última refeição. O que não poderia faltar na mesa da sua última refeição? Meu Deus, que mórbido pensar nisso... O que não poderia faltar? Sobremesa e café. Quem prepararia este prato? Já que estamos no plano da fantasia, eu ressuscitaria uma cozinheira-fada da minha infância (houve muitas), Dona Luca ou Magnólia, talvez. E a bebida para acompanhar? Um bom vinho alentejano. Você gostaria que alguém, em especial, te servisse? Quem? Talvez o Pelé. Conversaríamos um pouco sobre futebol, mas depois ele chisparia. A Sônia Braga também não seria má ideia, mas aí pode
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me desconcentrar. Preciso estar concentradíssimo para usufruir devidamente a minha última refeição... Onde seria e que horas? Num belo quintal de uma bela casa me parece um bom lugar. Descreva o ambiente: Nada demais, penso em algo parecido com meu próprio quintal: uma bananeira, um pé de romã, maritacas na goiabeira, barulho de pássaros e vez por outra um avião passando (este último item eu dispensaria. Quero paz, já que vou morrer). Quem estaria presente? Ninguém, gostaria de estar só. Que som você escolheria para embalar sua despedida? Concerto para Piano em Si Bemol Maior, de Tchaikovsky, que é uma lembrança musical da infância. Era o prefixo da rádio da minha cidade. E a roupa? O que você estaria vestindo? Uma roupa leve, branca talvez. Mais algum detalhe indispensável? A louça deve ser bonita, nada luxuosa, mas clássica. Algo como louça de vó, sabe?
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sweet dreams
Uma receita portuguesa com certeza
Por Fernanda ávila ferreira
Venho de uma família de pelotenses. Felizmente escapei das piadas. Primeiro por ter nascido mulher. Segundo por ter vindo ao mundo a 250 quilômetros de lá. Mas, claro, convivi desde pequena com as brincadeiras que envolvem o nome da cidade dos meus pais. E convivi também com outra fama de Pelotas: os doces feitos de ovos. Os tais doces “finos” portugueses. Pensou nos bem-casados? Sim, eles viraram moda uns anos atrás (alerta: fazê-los com recheio de doce de leite é um sacrilégio para a doçaria tradicional), mas são apenas uma das delícias que vêm de lá. Pense em tudo que leva muita gema e muito açúcar. Agora adicione o ingrediente “paciência” e você chega à fórmula secreta de grande parte das receitas que foram trazidas pelos nossos colonizadores, como fios de ovos, pastel de Santa Clara, ninho, papo de anjo e por aí vai... Depois de passar anos vendo minha mãe encomendar caixas de doces de todos os parentes que vinham da sua terra (e me recusar a experimentar por pura rebeldia – e falta de sabedoria – juvenil), fui morar em Lisboa. E foi lá, guiada pelo amigo alfacinha (lisboeta) Antônio Vidinha, que descobri o que estava perdendo. A primeira e mais importante descoberta foi o indescritível e arrebatador pastel de Belém. Direto da fábrica, quentinho, salpicado de canela e açúcar de confeiteiro. De comer de joelhos. Acompanhado de uma bica, claro. Depois é que fui descobrir a história e entender o porquê de tanta gema. Para resumir: os doces portugueses (os “conventuais”, ok?) surgiram no século 15, quando as freiras dos conventos separavam as claras para engomar seus hábitos. Como não sabiam o que fazer com tanta gema, faziam doces.
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E a minha avó Nayr, que sabia exatamente o que fazer com as gemas, desenvolveu a mais perfeita receita de fios de ovos da América (exagero é outra característica gaúcha e essa eu trago no sangue). Mas ela não está mais entre nós e a única pessoa que teve acesso ao seu maior segredo foi a minha sogra. Perfeitamente instruída a não divulgar para mais ninguém (talvez para as minhas filhas, um dia, quem sabe). Por isso, desculpe-me, caro leitor, vou privá-lo desse prazer, mas presenteá-lo com outro: a receita do pudim de ovos dos frades do Convento de Alcobaça. Anota aí:
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Pudim de Ovos Ingredientes: 1 kg de açúcar 4 ovos inteiros 14 gemas (além das 4 acima) Manteiga Modo de fazer: Leve o açúcar ao fogo com 250 ml de água e deixe ferver até fazer uma calda grossa. Misture, sem bater, os ovos inteiros com as gemas. Deixe o açúcar esfriar um pouco e junte aos ovos. Misture tudo e coloque numa fôrma de pudim untada com manteiga. Cubra e leve ao forno em banho-maria durante uma hora. Espete um palito para ver se já está cozido (o palito deve ficar úmido, mas limpo). E pronto.
@betomadalosso
Por onde andei... Aqui ou em qualquer lugar, nada melhor do que experimentar um bom prato. Aqui vão algumas dicas de restaurantes que visitei nos últimos dias. tudo devidamente registrado no meu instagram.
Famiglia Fadanelli
› Av. Manoel Ribas, 5.667, Santa Felicidade. Tel.: 41 3372 1616
Não é querer puxar sardinha pro meu lado, mas essas postas de bacalhau cozidas lentamente no azeite de oliva do Famiglia Fadanelli mereceram o prêmio de melhor receita de bacalhau nas preferências do leitor na última edição da Veja Comer&Beber Curitiba.
Saanga
› Av. Iguaçu, 2.423, Água Verde. Tel.: 41 3342 3474
Bateu aquela vontade insana de comer uma carne grelhada. Fui no Saanga.
Saint Germain
› Rua Padre Anchieta, 2.075, Champagnat. Tel.: 41 3207 6262 e mais três endereços.
O café da manhã da Saint Germain é do kct. Olha essa salada de frutas: tudo fresquinho.
Keiji › Rua Roberto Barroso, 1501, Mercês. Tel.: 41 3044 1415
Adoro comida japonesa e esse atum selado do Keiji é f...
Attimo
› Rua Diogo Jácome, 341, Moema. Tel.: 11 5054 9999
A cozinha do restaurante Attimo, em São Paulo, mistura clássicos italianos com influências dos imigrantes que se radicaram no interior do estado. Lá comi esse carpaccio de camarão.
Chalet Suisse › Rua Francisco Dallalibera, 1.428, Santa Felicidade. Tel.: 41 3364 7889
Já experimentou os escargots à la Bourguignonne do Chalet Suisse? Um clássico, vale a pena!
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