Turismo sustentável

Page 1

V+ EDIÇÃO 24 - ANO 15 2° SEMESTRE DE 2017

TURISMO COMO FORMA DE SUSTENTABILIDADE 2017 é declarado pela ONU como o ano internacional do Turismo Sustentável para o desenvolvimento

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA | CURSO DE JORNALISMO | REVISTA LABORATÓRIO VEIGA MAIS

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

1


IMPRESSO E DIGITAL Os novos tempos diversificaram a forma como a informação chega, mas seja em papel ou na tela, o jornalismo se adapta e resiste. Acesse nossa banca virtual e conheça as nossas publicações:

www.issuu.com/agenciauva


CARTA AO LEITOR

NESTA EDIÇÃO

O turismo é uma atividade que vem crescendo nos últimos anos. No Brasil, o número de turistas aumentou bastante, assim como em outros países. Ele é de suma importância, tanto para a economia quanto para desenvolver o profissionalismo nesta área. Afinal, planejar, organizar, promover e divulgar viagens, eventos e atividades de lazer e negócios são as principais funções de um profissional de Turismo. Ele pode atuar em diversos setores como alimentos e bebidas, ecoturismo, eventos, hotelaria, marketing, planejamento e transporte. Outras metrópoles globais usam o turismo para expandir suas economias. São diversos tipos: de negócios, de lazer, cultural, ecológico. Há até mesmo os menos conhecidos, como o de observação e o rural. Seja qual for, o turismo é um pacote de serviços amplo, que movimenta os destinos e traz à tona valores culturais, políticos, econômicos e sociais. Nos dias de hoje, tem-se dado muita importância também ao turismo sustentável. Aquele que busca minimizar impactos negativos ambientais e socioculturais, ao mesmo tempo em que promove benefícios econômicos para as comunidades locais e destinos. É a salvaguarda do ambiente e dos recursos naturais, garantindo o crescimento econômico da atividade em harmonia com a satisfação das necessidades das atuais e das futuras gerações. O tema é tão relevante que a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2017 o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Por tudo isso, a revista Veiga +, nesta edição, traz o turismo como assunto em destaque. Nas páginas a seguir, você poderá visitar paisagens desconhecidas, pontos e destinos turísticos famosos, conhecerá pessoas que trarão as informações que lhe ajudarão a entender um pouco mais sobre os diversos tipos de turismo. Portanto, faça suas malas e boa viagem!

Música sem fronteira...............................................................................4 Liberdade e roteiro..................................................................................6 Um mergulho no Rio...............................................................................7 A dois passos do paraíso..........................................................................8 De malas prontas para o novo...............................................................10 Caminhos sagrados................................................................................13 Com o pé no mato..................................................................................15 Turismo acessível tem melhora nas Olimpíadas...................................16 O melhor da viagem é o caminho..........................................................18 Favela tour.............................................................................................20

EXPEDIENTE

A Revista Veiga Mais é um produto da Oficina de Jornalismo, em um trabalho conjunto realizado com os estudantes em sala de aula e a Agência UVA. Curso de Comunicação Social reconhecido pelo MEC em 07/07/99, parecer CES 649/99. Coordenador Jornalismo Luís Carlos Bittencourt Coordenadora Publicidade e Propaganda Miriam Aguiar Reportagens Estudantes da disciplina de Jornalismo de Revista Professora orientadora Maristela Fittipaldi

Edição, projeto gráfico e diagramação Ana Carolina Castelo Branco, Danilo Sant'Ana, Victor Nigri, Lívia Raposo e Larissa Angelino Lopes. Professora orientadora Érica Ribeiro Apoio Agência UVA Rua Ibituruna, 108, Casa da Comunicação, 2° andar. Tijuca, Rio de Janeiro - RJ - 20271-020 e-mail: agencia@uva.br Agência criativa e-mail: criativo@uva.br Turismo Sutentável Edição 24 Ano 15 Disponível Online

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

3


MÚSICA SEM FRONTEIRA O amor pela música leva fãs a conhecerem mais pessoas e o mundo

Foto: Yago Laurinido

YASMIN THOMAZ

S

air da cidade. Sentir adrenalina. Unir-se à multidão. Estar perto dos ídolos. Fazer história. Isso é o que move as pessoas que amam a música e movimenta um tipo de turismo que vem crescendo a cada ano: o musical. No Brasil, há grandes festivais que impulsionam a viagem de fãs, como Planeta Atlântida, Lollapalooza Brasil, Tomorrowland e Rock in Rio. Este último entra na lista dos principais eventos que mais motivam turistas a partirem para o Rio de Janeiro, junto de Réveillon e Carnaval. Os números não deixam dúvidas sobre a importância do turismo musical e do Rock in Rio neste cenário. Segundo dados da Secretaria Municipal de Turismo, a média do público do festival é de 45% de turistas, nacionais e estrangeiros; e 55% do Rio, cariocas e moradores da região metropolitana. Entre os turistas nacionais, na edição de 2011 - que voltou ao Brasil após dez anos de espera -, estava a cuiabana Bruna Afonso, de 21 anos. Aos 16 anos, ela viu uma das bandas favoritas,

4

“ Ele nos chamou para subir no palco e nos agradeceu pessoalmente na frente de cinquenta mil pessoas pelo nosso trabalho Priscila Brito (jornalista)

Avenged Sevenfold, confirmar a participação no evento e convenceu o namorado a ir junto dela ao show. “Quando consegui comprar os ingressos meu coração saltou do peito”. No dia do show, o cansaço por conta das cinco

horas de viagem não a desanimou e ela conseguiu aproveitar o dia do metal, deixando para trás problemas com o avião, peso da mochila e imprevistos: “Sempre vale a pena”. Bruna diz ser capaz de qualquer loucura para ir atrás das bandas de que gosta, pois acredita que a sensação de estar em um festival ou em um show é algo mágico. “É como se as coisas finalmente fizessem sentido, parece que tudo que você fez na vida te levou para aquele momento", afirma. Para fazer com que chegue até o momento esperado e consiga viajar para outra cidade, Bruna economiza o máximo que pode. Quem também precisou repensar os hábitos de consumo pelo desejo de viajar foi a jornalista Priscila Brito, 31 anos. A paixão pelo turismo musical é tão grande que ela, junto a uma amiga da faculdade, Gracielle Fonseca, criou o Festivalando: o primeiro site brasileiro sobre viagem para festivais de música. Nele, as duas compartilham experiências e postam conselhos e dicas

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

para os viajantes. Elas já conseguiram ir a vinte e oito festivais e quinze países em dois anos. Priscila, nascida em Belo Horizonte, cresceu em uma família cuja rotina familiar sempre envolvia música. Isso tornou-se um hábito e, de lá para cá, ela já foi a inúmeros festivais pelo mundo. A bagagem de experiência é grande e, embora haja muita organização e planejamento com antecedência, os imprevistos são inevitáveis, como perder voo de volta para o Brasil, quase ser expulsa de trem por falha na comunicação e ver o banco quase não liberar o cartão de crédito para compras no exterior, mesmo com solicitação prévia. Mas incidentes não são feitos apenas de circunstâncias ruins. Priscila já estava com uma viagem reservada para Paris, quando foram anunciadas datas do show do Paul McCartney na Europa e a França não estava incluída. Frustrada porque estaria tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe do ídolo, ela decidiu agir junto com amigos: lançou a cam-


panha “Paul, Vem Falar Uai”. O objetivo era levar um show do ex-beatle para Belo Horizonte. Para ajudar no objetivo, quando Priscila foi à Londres, na época da campanha, deixou no escritório de McCartney, em Soho Square, um envelope com todo material de divulgação do movimento. Ele e a equipe souberam de tudo. Após quase dois anos de tentativas da campanha, além da confirmação de um show em Belo Horizonte, também souberam que a estreia mundial da turnê seria no Mineirão. E em 2013, Priscila e os amigos tiveram um momento especial com McCartney durante o show: “Ele nos chamou para subir no palco e nos agradeceu pessoalmente na frente de cinquenta mil pessoas pelo nosso trabalho”. Essa noite aconteceu um mês antes da viagem para Paris. Entre o público que assistia, estava a carioca Maria Eduarda Fontes, 20 anos. Ela ficou na segunda da fileira da arquibancada, depois de esperar desde nove horas da manhã, junto com a mãe, para entrar no estádio. “Como eu não pude ir ao show do Engenhão em 2011, eu fui até Minas Gerais. Eu gosto muito de Beatles, amo!”. E Maria Eduarda não se prende apenas a shows. Ela também teve experiências na última edição do Lollapalooza, que acontece em São Paulo. “Eu sempre quis experimentar o clima que o festival traz, mas só consegui sentir ano passado, quando fui aos dois dias do Lolla”. No primeiro dia, ela ficou tão nervosa que passou mal e diz ser por conta do estresse de precisar retirar os ingressos no dia do festival. “Mas quando eu entrei, junto com meus amigos, fiquei em êxtase! Tanta coisa para fazer, tanto show para ver!”, lembra. O principal objetivo de Maria Eduarda era ter a experiência. Mesmo se organizando para aproveitar os quatro palcos do festival, cada um muito distante do outro, ela precisou escolher qual banda assistir por haver mais de uma apresentação no mesmo horário e deixou de ver algumas bandas que tinha planejado. Ela gostou tanto do festival que irá voltar assim que possível: “Estou tão ansiosa para o próximo que não parece que o último foi esse ano, sinto como se já tivesse muito tempo”. Outro carioca que também já esteve

no Lollapalooza é o Fellipe Matos, de 20 anos, que gosta ainda mais quando os shows são em outra cidade: “Quando você vai para outro estado, desde o momento que você sai de casa, cruza com pessoas que compartilham do sonho de ver a banda favorita. É uma necessidade muito maior”. Ele acredita que se a banda não chega até você, você vai até ela. Fellipe é o tipo de fã que, além de chegar cedo nas filas, vai à porta de hotel e isso já fez com que ele conseguisse fotos com os integrantes das bandas que ama. “Esse amor que a gente tem pela música acaba se tornando mais tangível e palpável quando encontra com os artistas”.

Mesmo que algo não saia como imaginávamos, ainda assim vale a pena. É uma experiência muito bacana Clara Baltar (especialista em turismo musical)

E é quando está em um show que Fellipe se sente completamente feliz: “Eu consigo ser totalmente eu, sem me importar com nada nem ninguém além da música e do que está acontecendo no palco”, relata. Aos 20 anos, ele possui uma coleção de ingressos de shows que até já perdeu a conta, e entre estes pequenos papéis que representam boas lembranças, o turismo musical esteve presente. “Você pensa ‘olha como sou louco, o que estou fazendo para ver minha banda favorita’, mas não é algo ruim. É bom, e extremamente significante”. Se viajar para outra cidade é considerado loucura para algumas pessoas, Clara Baltar, de 38 anos, seria especialista. “Viajar para ver shows une

duas coisas que amo: viajar e música, então para mim é perfeito”. Além dos shows, ela também gosta da chance de conhecer outras cidades, mesmo que rapidamente. Moradora do Rio de Janeiro, em 2007, Clara foi para São Paulo atrás da banda 30 Seconds to Mars, acompanhada de pessoas que conheceu pela internet, já que os amigos não eram fãs da música. Depois dessa viagem, Clara passou a atravessar estados com mais frequência: “Eu amei a experiência. Você conhece várias pessoas bacanas e acaba encontrando outras afinidades com elas além da banda que você foi assistir”. Quando surgem rumores sobre a vinda de alguma banda que ela é fã para o Brasil, rapidamente começa a economizar e, assim que a informação é confirmada, Clara estuda todas as possibilidades para chegar aos shows. Ao analisar o turismo musical no Brasil, José Norberto Flesch, acredita que é um mercado com potencial, mas pouco explorado. Com a experiência de ter trabalhado como produtor, ele diz que esses profissionais precisam pensar que pessoas de fora da cidade, e até mesmo fora do país, podem querer ir a um show. Por exemplo, no exterior há venda de ingresso com estacionamento incluso, enquanto os brasileiros, dependendo do local do show, ainda vivem a era do flanelinha. Morador de São Paulo, para Flesch conseguir viajar atrás de uma banda significaria ir para o exterior. Mas apenas sai do Brasil a trabalho e seria difícil coincidir um show que lhe interessasse. Ao contrário da visão que uma parte da população tem sobre turismo musical, Flesch admira pessoas como Clara, Fellipe, Maria Eduarda, Priscila e Bruna: “É algo que eu talvez fizesse se morasse fora dos principais mercados de shows e tivesse tempo e dinheiro”. Além de gerar boas lembranças aos viajantes, o turismo musical envolve o amor de fãs com ídolos, a relação que essas pessoas têm com a música e a busca por experiências, são únicas em diversos sentidos. Como toda viagem exige, é preciso planejamento. Mas sobre isso, Clara lembra: “Mesmo que algo não saia como imaginávamos, ainda assim vale a pena. É uma experiência muito bacana”.•

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

COMO PLANEJAR UM MOCHILÃO PARA FESTIVAIS DE MÚSICA

1

Explore as possibilidades de festivais Pesquise com antecedência os festivais que tenham o seu perfil, você pode descobrir festivais onde nem imaginava!

2

Esboce sua rotina e defina os festivais Quando os festivais interessantes estiverem definidos, analise as datas , os custos e o tempo disnponível para se deslocar de um país para o outro.

3

Compre os ingressos Quanto antes, melhor. Menos chance do festival esgostar!

4

Monte seu roteiro Procure chegar pelo menos um dia antes do início do festival. Tenha atenção ao custo de cada cidade e não esqueça de considerar o deslocamento de uma cidade para outra.

5

Compre as passagens Fique atento às promoções e à possibilidade de passagem multidestinos, quando a compra de várias passagens torna o valor mais econômico.

6

Defina suas formas de hospedagem Pesquise hotéis, hostels, veja se o festival oferece a opção de acampar. Dentre as opções, veja qual se encaixa mais no seu bolso e na sua viagem.

5


Liberdade e roteiro As vantagens e desvantagens de viajar sozinho ou em grupo LIANE DAHER uando se resolve viajar, várias opções surgem. Não só de destino, mas o modo de viagem, se vai ser sozinho ou acompanhado, fazer um pacote numa companhia de turismo ou traçar seus próprios planos. Leonel Souza, de 55 anos, empresário, conta que com 13 anos tinha amigos com casa em Saquarema, na Região dos Lagos. "Comecei a ir desde cedo, eu mesmo programava minhas viagens, sempre gostei muito de viajar. Então quando ninguém ia comigo, eu ficava acampado por lá, no banco da praça, ou na praia, mesmo sem barraca". Com o tempo ele passou a ir para outras cidades ao redor, por gostar muito de praia e achar que era a região ideal. "Depois passei a me sustentar nesses períodos, comecei a trabalhar em bar recebendo só a gorjeta e um lugar para dormir e tomar banho". Na época de Carnaval, ele se ocupava em bares de clubes nos horários de manhã e tarde, para a noite poder curtir os bailes. Hoje, o número de mochileiros adeptos da viagem individual vem aumentando e tende a subir mais. Segundo levantamento do Ministério do Turismo, que mede a intenção de viagem, 17,7% disseram que irão viajar sem companhia de ninguém, nos próximos seis meses. Um ano antes, esse percentual era de 13,1%. O estudo foi realizado com duas mil pessoas em sete capitais nos anos de 2013 e 2014. Para Marcelo Faro, empresário do ramo de turismo e gerente em diversos hotéis no Espírito Santo, as pessoas primeiramente procuram um destino, depois buscam a opção de viagem. "Existem vantagens e desvantagens de viajar em grupo, mas o custo-benefício é excelente". Ele explica que as vantagens dos pacotes individuais é que a pessoa pode

Q

6

montar com o agente ou operador o destino, o número de noites em cada cidade, as opções de hotéis em cada cidade e os horários de voos de ida e volta, é mais versátil, porém encarece.

Existem vantagens e desvantagens de viajar em grupo que te dá poucas opções, mas o custo-benefício é excelente Marcelo Faro (empresário)

Stephany Costa, de 21 anos, estudante de Relações Internacionais da PUC, prefere viajar com um grupo, que na maioria das vezes é composto por sua família e amigos, e com um roteiro pronto. "Acredito que é fundamental ter um planejamento para poder aproveitar ao máximo o local". Ela já viajou sem conhecer as pessoas da sua turma, porém em uma excursão para os Estados Unidos, com roteiro já traçado. "Acho importante estar na companhia de pessoas especiais quando fazemos viagens. Não tenho a intenção de viajar sozinha, gosto sempre de ter companhia". Thaís Guerra, de 23, estudante de Desenho Industrial de UFRJ, acha mais divertido viajar planejando esse período, pois é como um bônus você

poder descobrir os locais por conta própria, conta ela. "Sempre viajei sem um destino pré-planejado, para poder fazer tudo com mais liberdade, sem um roteiro muito fixo". Para ela, em uma viagem para um lugar mais "clássico", é fundamental ter tudo programado: "pretendo ter uma viagem toda organizada quando for para algum local mais histórico, como cidades da Europa, em que cada lugar possui uma história por trás, eu gostaria de saber de tudo certinho e ter um roteiro mais elaborado para não perder nada". Quanto ao perfil de ocupação nos hotéis, Marcelo fala que depende muito do local. "Se for um lugar de praia, é comum ter grupos no verão e individuais na baixa, um resort tem mais procura por pacote particular, um hotel voltado a trabalho recebem bloqueios grandes de grupos ligados a feira de negócios, congresso, convenções, etc". Cada destino tem um perfil específico. Alguns hotéis por estarem localizados em lugares que acolhem um movimento permanente, nem aceitam reservas de grupos, pois não precisam estimular as vendas com tarifas de acordo, explica ele. Aline Crispino, antiga dona do Hostel Bananaz, diz que o alojamento é muito diferente de um hotel. "O público é mais específico, o conceito é viajar sozinho e fazer amizades no próprio lugar. Aparece bastante mochileiro mesmo. Mas tinham muitas pessoas que iam com amigos". Normalmente, grupos grandes só em época de alta temporada como Carnaval e Reveillon, ou em período de algum evento grande na cidade como o Rock In Rio. "A grande maioria se hospeda por diversão. Raras vezes hospedamos empresas ou pessoas à trabalho. Eles procuraram hostel pelo baixo custo".

REVISTA VEIGA REVISTA VEIGA MAIS MAIS -- TURISMO TURISMO

Marcelo afirma que tanto quem viaja por conta própria, quanto quem planeja suas viagens, vai atrás de preços que cabem no bolso. "Quanto aos principais destinos, isso está muito ligado a moeda estrangeira, quando o dólar está alto o pessoal faz muito o território brasileiro, no verão o litoral do nordeste e alguns balneários do norte e no inverno, Sul do Brasil com Uruguai, Argentina e Chile". Quando a moeda cai, ele conta que as pessoas vão atrás de compras em Miami e Nova York e alguns países europeus como França, Itália, Inglaterra, Espanha e Portugal, além dos Cruzeiros na Grécia. Stephany Costa vai em busca da fuga da realidade. "Os dias normais são muito corridos e com preocupações. Então as viagens servem pra diminuir a tensão diária e a encontrar outras formas de diversão. Quando viajo, independentemente pra onde vou, me sinto desligada da realidade e isso limpa a minha mente". Ela revela que sempre demora alguns dias para voltar ao ritmo da vida rotineira quando volta de uma viagem. Marcelo afirma que os propósitos de viagens hoje são bem diversificados e dependem do objetivo e período. Nas férias escolares, uma grande massa sai pra fazer turismo de lazer, veranismo (locação de imóveis nos destinos), e Cruzeiros que chegam entre final de outubro e meados de novembro, encerrando a temporada em março, voltando para a Europa e Caribe. "Durante o meio do ano as pessoas viajam em suas férias, mais individuais por falta de oferta de excursões, neste período de baixa é muito difícil fechar grupos. Portanto eu diria que para cada época do ano temos um perfil de público específico mas com uma procura bem diversificada". •


Além da cidade maravilhosa Fora da cidade do Rio de Janeiro, o turista encontra outras belezas GABRIELA GOMES

A

s belezas do Rio de Janeiro são, sem dúvida, muitas e estão espalhadas por todo o Estado. Mas os pontos turísticos que mais chamam atenção podem ser apreciados “do lado de fora” da cidade maravilhosa. Os passeios de barco proporcionam uma vista privilegiada e também levam o turista para lugares lindos e pouco conhecidos. Algumas das cidades que “escondem” essas belezas naturais são Angra dos Reis, Arraial do Cabo e Búzios. Outro ponto em comum entre essas regiões é que elas não possuem somente beleza em suas águas cristalinas: os turistas conseguem encontrar em terra firme pontos turísticos repletos de história e encanto. O começo desse passeio se dá por Angra dos Reis, conhecida por ser um atrativo para jovens nos fins de semana, com passeios de barco e a tradicional parada na Ilha do Dentista. A prática do mergulho é bastante comum e basta uma máscara e um snorkel para se sentir em um aquário em mar aberto e ainda se deparar com navios naufragados escondendo uma grande biodiversidade. Caroline Schkrab, de 33 anos, é uma frequentadora assídua de Angra. Para a turista, a Ilha do Dentista é a mais bonita de todas, com sua água transparente e grande movimentação nos fins de semana. “Acho Angra o melhor lugar do Rio para viajar”. Um outro atrativo de Angra dos Reis é Ilha Grande e as praias e arquipélagos que fazem parte da região. Os turistas que visitam um lugar acabam estendendo o passeio e indo também para o outro, pois as opções são diversas. É possível fazer

Foto: cafrancomarques (pixabay.com)

passeios em volta de toda a ilha ou somente parte dela, roteiro escolhido pela turista Sueli Oliveira, de 50 anos. “As belezas desse lugar são incríveis, inigualáveis”. Entre os vários passeios feitos, o que ela mais gostou foi o da praia de Dois Rios, um pequeno vilarejo que só pode ser acessado por uma longa caminhada de nove quilômetros ou por barco. “O lugar é mágico, vale a pena o esforço feito para conseguir chegar até lá”. Por ser coberta pelo verde, a Ilha esconde pontos turísticos históricos e repletos de história no interior de suas matas, com é o caso do aqueduto que servia para abastecer de água o antigo Presídio do Lazareto, que hoje está em ruínas. Com seus 125 metros de extensão e 26 arcos, construídos em 1873, com pedras e óleo de baleia, o local guarda uma lenda. Junto a uma das extremidades do

aqueduto há uma pedra no formato de um sofá, no qual Dom Pedro II sentava-se para ler sobre botânica e escrever poemas. Além de toda a magia do local, durante a trilha, existe uma cachoeira com um poço e ainda outro caminho que leva ao Saco do Céu, um santuário ecológico rico em biodiversidade. Saindo da Costa Verde, o destino passa a ser a badalada Região dos Lagos, repleta de praias e encantos. A aventura começa por Arraial do Cabo, cidade conhecida por ser o “Caribe brasileiro”, com suas praias paradisíacas e passeios de tirar o fôlego. Ivy Vera-Cruz, de 22 anos, é apaixonada pelo local. Ela ficou hospedada na Praia dos Anjos e de lá pegou a embarcação para fazer o passeio pela Praia do Forno, Prainhas, Praia Grande e do Farol. “O passeio durou cerca de três horas e, quando acabou,

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

eu juro que queria mais”. Dentre todas elas, a do Farol, considerada uma das mais bonitas do Brasil, é protegida pela Marinha e cada embarcação só pode ficar no local por 30 minutos e os visitantes, ao desembarcarem, não podem levar nenhum tipo de alimento ou algo que possa degradar o ambiente. Mais uma das belezas de Arraial é a Praia do Forno, que fica em uma enseada a um quilômetro e meio do centro da cidade e só pode ser acessada por barco ou uma sinuosa trilha. “Apesar da longa e cansativa escadaria, a praia nos reserva um azul sem fim”, afirma Ivy. E para os amantes da culinária marítima, além das águas claras, dos corais e da mata preservada, esse pequeno paraíso ainda dispõe de um restaurante flutuante especializado em ostras e mariscos. “Quem vai uma vez para lá tem vontade de voltar, certamente”, diz Ivy. Indo um pouco mais “para cima” do Rio se chega na Armação de Búzios, cidade conhecida por suas incríveis praias para se aproveitar durante o dia e a Rua das Pedras para curtir durante a noite, sem contar com as duas baladas mais requisitadas do Estado, as famosas Pacha e Privilège, transformando a noite dos jovens em pura diversão e agitação. Mais um lugar que nenhum turista pode deixar de visitar é a Orla Bardot, que pode ser considerada uma parada obrigatória para uma clássica foto junto a estátua da Brigitte Bardot. Ao cair da noite, as ruas e bares ganham vida e se transformam e os turistas podem aproveitar uma cidade badalada, repleta de cantos e encantos.•

7


Foto: Pexels (pixabay.com)

A dois passos do paraíso Mochilão é a alternativa para quem quer para viajar gastando pouco

8

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO


LYSIS SEVILHA RAMOS o céu, o fim de tarde pincelado em cores quentes. O laranja complementa o Sol, que está se despedindo de mais um dia. Ao fundo, o Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo, inspiração para muitos pintores, artistas e poetas. Sua beleza e historicidade atraem pessoas de diferentes partes do mundo. Logo o dia termina, aplaudido pela beleza da natureza e do monumento. Com ele se aproxima o amanhã, reservando muitas surpresas. Próxima parada? Tailândia. Rumo a lindas praias paradisíacas. Isso é muito comum na rotina dos aventureiros.

N

A proposta é cair no mundo, conhecer diferentes lugares, culturas e pessoas. E para isso não é necessário um hotel de luxo, passagens caras ou malas gigantes. Para encarar essa jornada, basta ter uma mochila e a vontade de conhecer cada vez mais. Viajar de mochilão é a alternativa para quem quer gastar pouco. Essas pessoas, dispostas a sair por aí, são os mochileiros. Cada um tem a sua motivação, aquilo que despertou o interesse e a paixão por esse tipo de passeio. É preciso ter coragem. Afinal, trocar a rotina de uma viagem planejada pelo incerto pode não ser tão fácil assim. Mas espírito de aventura eles têm de sobra. E o que não faltam são lembranças e histórias para contar, que ficam na memória desses aventureiros. É o caso de Aline Ferreira. A paixão por viagens sempre fez parte de sua vida. Mas quando o assunto era “mochilar”, seus olhos brilhavam. Para ela, a proposta do mochilão é muito mais do que viajar. Foi durante um tempo no qual morou na Austrália para estudar inglês que a psicóloga de 30 anos percebeu que era a hora de mudar. Largou tudo onde estava e partiu para seu primeiro destino, a Ásia. “Foi uma experiência incrível, poder rodar por quatro países, sem pressa, e poder mergulhar na cultura de cada um deles”. Lá ela conheceu países como a Tailândia, Camboja e Vietnã. Mas de todos esses lugares que visitou, a Índia foi o mais fascinante. O encontro com um continente diferente, com uma cultura diversa, a fizeram crescer e valorizar a vida. “A Índia é um mundo à parte do que conhecemos. Ela nos faz crescer a força, tira o ar e nos faz rever todos os conceitos da vida”. Mesmo viajando de mochila, Aline tem sempre alguns preparos. Costuma se hospedar em hostels, que são acomodações com preços inferiores aos hotéis, em que os hóspedes dividem um quarto com outras pessoas. Ela se organiza separando o dinheiro apenas para gastos como hospedagem e passagem, pois nunca viaja com uma grande quantia. Apesar de economizar em algumas partes, Aline não abre mão de uma boa câmera fotográfica. “Adoro tirar um dia só para fotografar coisas que fizeram sentido para mim e recordações de sentimentos que que-

ro levar”. Todas essas lembranças ela registra em seu blog pessoal, no qual posta suas aventuras e dá dicas de roteiros para quem também deseja “mochilar”. Viver nos detalhes: é assim que Aline define viajar de mochilão. E são essas particularidades que mudaram sua rotina e proporcionaram um período de descanso, descoberta e reconstrução. “Eu entendo que poder sair de casa e andar com uma mochila nas costas e um mapa na mão é como desbravar lugares com o que há de mais puro na gente. Precisamos nos permitir e experimentar a vida de uma maneira muito leve e aberta para o mundo”. Diferentemente de Aline, Marina Lima, de 23 anos, nunca pensou em viajar de mochilão, queria apenas conhecer o mundo. A vontade era passar um tempo fora, mas sem gastar tanto dinheiro. Ela não planejou muito, apenas pegou alguns objetos, colocou em sua mochila e foi sozinha para a Europa, onde ficou três meses. Ela só assimilou o que estava fazendo quando chegou lá. “Na minha cabeça ainda não era um mochilão, mas sim uma viagem normal. Foi intuitivo, nada muito programado”. No tempo em que passou na Europa, Marina conheceu Itália, França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Suíça. Não tinha um roteiro montado, apenas sentia onde tinha queria ir. “A experiência foi sensacional. Aprendi muito como pessoa e comecei a conhecer quem eu sou e o que eu queria me tornar”. A viagem também foi positiva para sua vida profissional. Formada em Turismo, Marina pôde perceber o que almejava para sua carreira. “Lá eu descobri que eu queria que o meu trabalho impactasse positivamente a vida das pessoas”. Mesmo com os deslumbres de conhecer lugares diferentes, fazer novas amizades e imergir em uma nova cultura, Marina passou por algumas dificuldades. Logo de cara, seu principal problema foi a própria mochila. Não era fácil se acostumar a carregar um peso nas costas. Ela também encarou um momento delicado quando foi internada na Itália, com suspeita de pneumonia. A falha na comunicação também foi outra

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

dificuldade. “É um desafio quando você não consegue se comunicar muito bem, mesmo que fale inglês. Eu levei uma multa no trem por comprar um ticket errado. Foi uma situação muito ruim”. Mas nada disso impediu que o mochilão fosse uma experiência incrível para ela. Alugou um apartamento na Itália, morou com pessoas que não conhecia e também trabalhou em um hostel em troca de hospedagem. Ela viveu experiências que afirma levar para o resto da sua vida e encontrou o tipo de viagem de que mais gosta. “Essa aventura me ensinou muito sobre mim e sobre o outro. Era o que eu precisava no momento. E deu muito certo”. Se, por um lado, Marina nunca pensou em “mochilar”, a história de sua xará foi totalmente diferente. Marina Mendes, de 25 anos, sentiu o desejo pelo mochilão logo cedo. Aos 13, Nina, como costuma ser chamada, fez um intercâmbio de férias para estudar inglês na Inglaterra. Como ainda era muito nova, seus pais a matricularam em um colégio interno, a uma hora de Londres. O objetivo era mantê-la segura em uma cidade pequena. Porém não funcionou. Sempre que possível, ela saía sem permissão do colégio para rodoviária e pegava o primeiro ônibus para um lugar que ainda não conhecesse. Ela visitou vários locais, como Bath, Cambridge e Londres, e decidia na hora para onde iria. “Passei o dia inteiro só andando sem rumo, e aí encontrei o meu estilo de viagem. Descobri que se perder a pé em uma cidade pode ser a melhor forma de conhecê-la de verdade”. Marina viajava com seus pais. E graças a eles conheceu os lugares mais famosos do mundo. Mas isso começou a mudar. Os pontos turísticos já não faziam mais sentido. O que ela queria mesmo era sentir as experiências de locais e culturas diferentes. E foi isso o que fez. “Mochilou” para a América do Norte e Sul, Europa e vários outros destinos. Com o que viveu, registrou momentos marcantes, como quando visitou a Grécia e conheceu o templo de Poseidon, em Sounion. “Parece que o meu coração parou. Senti uma energia diferente. É uma daquelas sensações que a gente não explica, mas que ficam muito fortes na memória", conta•

9


De malas prontas para o novo Em busca de um sonho, jovens cruzam as fronteiras dos países e do conhecimento no intercâmbio estudantil

Foto: Arquivo Pessoal (Raquel Carletto)

10 10

REVISTA VEIGA REVISTA VEIGA MAIS MAIS -- TURISMO TURISMO


RAQUEL CARLETTO desejo sempre esteve lá. Guardado, esperando o momento certo, mas lá. Por um tempo, Gabriel Palmieri e Marina Dias assistiram as chegadas e partidas dos amigos enquanto se perguntavam se, algum dia, viveriam histórias tão fascinantes como aquelas que ouviam. Hoje, eles garantem, vivem mais do que pediram ou pensaram experimentar - tanto na vida pessoal, quanto na profissional. Dormindo e acordando em terras estrangeiras desde agosto, Palmieri, como é chamado pelos amigos, admite que foi o barulho do sonho da namorada que fez com que o seu não adormecesse depois de alguns obstáculos no caminho. "Me inscrevi no Ciências Sem Fronteiras, mas não consegui vaga, infelizmente. Desisti da ideia, mas, no fim do ano passado, Marina passou a planejar o seu intercâmbio e acabou por me devolver esse sonho”, confessa. Foi graças a perseverança dela que o casal saiu da zona de conforto. Ambos com 23 anos e estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atualmente - ele em Lisboa, ela no Porto - aprendem a se virar com as surpresas desse admirável mundo novo. Em Portugal, novos hábitos e novas rotinas de estudo. Tudo como Marina sempre quis. "Eu amei tudo logo no primeiro dia. Costumo falar que foi amor à primeira vista”, derrete-se. E é assim mesmo, um mundo de novas paixões e descobertas. Enquanto uns se limitam ao contato superficial com as culturas em viagens rápidas, outros desejam mergulhar ainda mais fundo. De acordo com a Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta), esse desejo foi o que fez com que, só em 2015, mais de 220 mil brasileiros cruzassem as fronteiras de seus países para realizarem algum tipo de intercâmbio. Para boa parte desses, isso significou passar um tempo longe de quase tudo que lhes era familiar. E até mesmo quando existe alguma semelhança entre a terra natal e o novo endereço, tudo parece diferente. "Nas primeiras semanas eu confundia muitas palavras. Sempre que ouvia a

O

palavra 'fixe', por exemplo que para eles é igual ao nosso ‘legal’, entendia como “fish”, que significa peixe em inglês”, diverte-se Marina ao lembrar do tanto que já descobriu em dois meses com a língua falada em Portugal. Essa língua é a mesma que, para Palmieri, causava pouco entusiasmo. “Aprender outro idioma era algo que achava essencial. Porém, quando a faculdade começou, conheci outros intercambistas, pessoas de todos os lugares da Europa e do mundo. Agora, o que menos faço é falar português. Eu me pego rindo à toa quando estou em um grupo de amigos e eles estão conversando uns com os outros em quatro ou cinco línguas diferentes. A sensação é incrível”, se encanta o futuro arquiteto.

A minha percepção de mundo já mudou muito, saí da caixa e conheci coisas que nem imaginava Gabriel Palmieri (estudante)

Para ele e para a namorada, investir em uma experiência universitária na Europa caiu como uma luva. “Além da cidade ter uma carga histórica muito grande e sua arquitetura representar tudo isso, a Universidade do Porto é muito boa e valorizada na área que pretendo atuar, que é a de restauro e requalificação de obras/edifícios já existentes”, explica Marina, que aproveita as folgas às segundas e sextas para descansar dos dias de aulas bem intensas. Por outro lado, Gabriel, que faz o mesmo curso em Lisboa, afirma não ter sofrido tanta pressão nos estudos e garante estar tirando o melhor da experiência. "A minha percepção de mundo já mudou muito, saí da caixa e conheci coisas que nem imaginava. Conhecer pessoas e lugares, abrir por-

tas e fazer conexões, isso aumenta a bagagem e, como estudante de Arquitetura e fotógrafo, bagagem é referência, e referência é tudo”. Com essas referências e conexões, é natural que aconteça uma expansão da rede de contatos, conhecida como network. A carreira é, sem dúvidas, uma das áreas mais favorecidas. O mercado de trabalho, cada vez mais competitivo para todas as áreas, valoriza esse investimento da vivência internacional. Durante uma avaliação de currículos, por exemplo, esse se torna um diferencial de peso. É esse “a mais” que faz um empregador enxergar no candidato que passou algum tempo fora do país de origem uma fácil adaptação em qualquer ambiente de trabalho já que, para o intercâmbio, é necessário aprender a resolver problemas em um contexto completamente novo e, na maioria dos casos, até mesmo em outra língua. Em outras palavras, morar fora é lidar diariamente com o inusitado. Isso, aos olhos de uma empresa, tem seu valor. A analista de Recursos Humanos Rebeca dos Santos explica que esse conhecimento de mundo adquirido pelos intercambistas sugere que eles estejam, de alguma forma, mais preparados para desafios. “Quem passou por uma experiência no exterior teve contato não só com um nível superior de educação, como também com modo de vida e cultura diferentes. Isso, além de uma mente mais aberta, mostra maturidade e coragem”, justifica. E foi essa ousadia para encarar o desconhecido que abriu as portas para que Aline Alvarenga, de 31 anos, investisse na carreira e, de quebra, realizasse o sonho adormecido desde o ensino médio. Em 2009, com a ajuda de uma professora da Universidade do Porto, a menina cheia de dúvidas e inseguranças embarcava - também para Portugal - no que seria uma aventura completamente diferente de tudo que já tinha vivido. Hoje, anos depois, a mesma professora tão solícita de anos atrás se tornou sua orientadora no projeto do doutorado. "Depois que o vínculo foi criado eu sempre mantive o contato porque acho que não devemos fechar uma porta. Nunca se sabe o que pode acontecer no futuro”, explica a médica veterinária que, agora, acrescenta uma

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

formação internacional ao currículo. Mas, antes de ser uma doutoranda, Aline começou o caminho no exterior quando ainda era uma estudante de Veterinária na Universidade Castelo Branco. No último ano da faculdade, o estágio em Portugal foi, de fato, um processo de dor e delícias. "Acho que a primeira experiência é sempre mais difícil, porque você precisa começar do zero... em tudo! Desde conhecer gente nova a andar de metrô. Além disso, as relações interpessoais também demandam tempo e esforço”, conta. Essa persistência, por sinal, é necessária em várias partes do processo. Foi ela que marcou o longo e cansativo caminho de volta de Aline ao exterior para a especialização, em 2015. Entre a abertura do edital da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para o Doutorado Pleno no Exterior até a divulgação da lista dos candidatos aprovados, sete meses de espera se passaram. De volta ao Porto para se aprofundar em Patologia Veterinária, aquele povo que, na primeira experiência, não se mostrou tão caloroso quanto os brasileiros, agora já parecia familiar. A doutoranda, hoje, não é mais uma menina; e Portugal, não mais um desconhecido. Esse sentimento de lar, segundo ela, se instala depois da adaptação. De volta aos estudos no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Aline agora consegue driblar a saudade com algumas visitas ao Brasil. Quando retorna, talvez ninguém perceba, mas a bagagem de vida está sempre um pouco mais cheia. “Para os mais próximos eu vou ser a mesma pessoa de sempre, mas sinto que amadureci muito. Hoje eu lido melhor com as minhas inseguranças, mas também consigo reconhecer as minhas potencialidades. Tanto pessoalmente, quanto profissionalmente”, analisa. A EXPERIÊNCIA DE INTERCÂMBIO PELA UNIVERSIDADE Para embarcar nessa aventura pessoal e profissional, atualmente, existem várias maneiras. Seja por conta própria, com a ajuda de agências, com bolsas oferecidas pelo governo ou, até

11


mesmo, por convênios entre as universidades. Na Universidade Veiga de Almeida, por exemplo, a parceria com a Rede Ilumno e diversas outras universidades ao redor do mundo possibilita o intercâmbio entre os alunos matriculados que se inscrevem no processo seletivo. Para conseguir a vaga, logo de início, o estudante deverá ter o coeficiente de rendimento global (CR) de, no mínimo, 8,5. De acordo com o edital, após realizada a análise dos documentos, será feita uma entrevista com o candidato na língua oficial da instituição de destino. Nessa parte do processo, nada de partir para o embromation ou tentar enrolar no portunhol. Para se destacar na seleção, mostrar fluência no idioma é sempre um ponto a favor. Concluída essa etapa, o julgamento feito pela UVA se divide em três critérios. O primeiro equivale a 40% da pontuação e diz respeito ao mérito acadêmico, avaliando o histórico escolar, o currículo Lattes e a participação em programas de iniciação científica. O segundo, que equivale a 30% da nota final, leva em consideração o desempenho na entrevista. Por fim, o último critério avaliativo é a proficiência em línguas. Ter um certificado de curso de idiomas equivale a 30% da contagem final. Em meio a tantas avaliações, mesmo parecendo muito difícil de atravessar, acredite: é possível. Como prova disso, diversos alunos que tiveram êxito nesse mesmo processo seletivo deixam um pouco de suas experiências registradas em pequenos textos no Blog Intercâmbio. No site criado pela instituição para mostrar as novidades sobre o programa, estudantes relatam como se sentem e o que esperam do investimento. Na maioria dos relatos, o encantamento é parte de quase tudo que envolve o novo lar temporário. Ainda assim, nem tudo se resume a passeios e glamour, afinal, os estudos demandam disciplina. Em uma das histórias no site da UVA, o aluno Vinicius Covas, na época cursando o 5º período de Comunicação Social, relata a ansiedade antes das primeiras provas na Universidad Anáhuac, no México. No blog, ele admite que não conseguir explorar todo seu potencial

12

na língua local sempre foi um receio. No fim, essa se tornou mais uma barreira vencida. “Não importa se você não domina perfeitamente o idioma, o que importa é saber se comunicar, nem que seja na linguagem corporal. Todos nós temos criatividade e a percepção de extrapolar nossos pensamentos, em grego ou em português, ou até mesmo em espanhol, não tem muita diferença”, confessa em um dos posts. Essa sensação de ultrapassar limites se torna uma das recompensas de arriscar-se no desconhecido. E, mesmo que as histórias e conselhos de quem já viveu tudo de perto possam ajudar, não existe muito bem um passo a passo a ser seguido. Cada um escreve seu caminho. A coordenadora de Experiências ao Aluno e responsável pelo Escritório Internacional da UVA, Flávia Silva, ressalta que, ainda assim, o medo não pode ser maior do que a vontade de tentar. “O mais importante é estar preparado para tais mudanças e absorver tudo o que será ensinado, tantos pelos professores da faculdade, quanto pelos futuros amigos. Todos que tiverem a oportunidade devem, sem dúvida, participar”, aconselha. E em busca dessa chance, Marcela Keller, de 20 anos, pretende juntar as economias e mergulhar ainda mais em Design de Moda no exterior. Cursando seu segundo semestre na Veiga de Almeida, ela quer aperfeiçoar o idioma e viver um pouco da independência que o intercâmbio oferece que é, de fato, tentador•

OS DESTINOS FAVORITOS DOS BRASILEIROS Seja pela qualidade de vida, pelo glamour local ou pelo custo, de acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Organização de Viagens (Belta), alguns países são mais procurados pelos estudantes do Brasil na hora de planejar um intercâmbio. Quer saber quais são? Confira a lista:

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º

TORONTO, CANADÁ NOVA YORK, ESTADOS UNIDOS LONDRES, REINO UNIDO SYDNEY, AUSTRÁLIA DUBLIN, IRLANDA AUCKLAND, NOVA ZELÂNDIA CIDADE DO CABO, ÁFRICA DO SUL ZURIQUE, SUÍÇA MADRI, BARCELONA BERLIM, ALEMANHA

(FONTE: VIAJEAQUI.ABRIL.COM.BR)

Foto: Arquivo Pessoal

Vinicius Covas, ex-aluno da UVA, fazendo intercâmbio no México

REVISTA VEIGA REVISTA VEIGA MAIS MAIS -- TURISMO TURISMO


Caminhos Sagrados Turismo religioso é um dos maiores segmentos do setor no Brasil e contabiliza mais de 70 milhões de viagens por ano CAROLINE DE SOUZA aissa Mariane é definitivamente uma mulher viajada. Só em São Paulo, a funcionária pública de 27 anos já conheceu Guaratinguetá, Cachoeira Paulista e Aparecida do Norte, e ainda teve tempo de visitar a cidade de Trindade, em Goiânia. Isso sem falar nas viagens internacionais para Roma e Turquia. Mas todo esse roteiro tem um ponto em comum: as viagens de Raissa, assim como as de milhares de brasileiros, são guiadas pela fé. Os dados do Ministério do Turismo indicam que aproximadamente 77 milhões das viagens brasileiras de caráter doméstico - aquelas que têm como destino o próprio país de origem - acontecem por motivos religiosos. Afinal, o Brasil é o maior do mundo em número de católicos, 65% da população segundo o Centro de Pesquisas Pew, e quase 12% da população mundial. Sendo assim, os turistas religiosos não apenas "amam viajar", mas, da mesma maneira que Raissa, buscam "unir o lazer com a busca pela vontade de Deus". Quando analisados, os números desse segmento são impressionantes: conforme publicado na revista Exame, a cidade cearense de Juazeiro do Norte, onde está a imagem de Padre Cícero, recebeu mais de 2,5 milhões de pessoas em 2011, enquanto que o Santuário Nacional de Aparecida recebeu 12 milhões de visitantes em 2014, quase o dobro de turistas que passaram por Paris no ano anterior. A mobilização é tão grande que a Igreja criou há três anos uma entidade específica para este fim, a Pastoral do Turismo, responsável por promover os eventos turísticos de maneira que contribuam nas obras de Evangelização.

R

Foto: Arquivo Pessoal

Emanoelle Peixoto, 19 anos, em Cracóvia, participando pela 1ª vez da Jornada Mundial da Juventude

“ Nossa história é movida pela religiosidade e todos comemoram seus padroeiros Carla Portella, (professora de Turismo do SENAC)

Do ponto de vista da professora de Turismo do SENAC Campo Grande

Carla Portella, pode-se dizer que o país tem quase uma vocação para esse segmento. "Nossa história é movida pela religiosidade e todos comemoram seus padroeiros", diz, citando a festa de Nossa Senhora Aparecida, o Círio de Nazaré e até mesmo eventos como as famosas Missas do Padre Marcelo Rossi. Ela lembra também que a prática contribui para a economia do local, já que não se consome apenas fé, mas também artesanatos e comidas típicas. No ano passado, a análise do jornal paulista Brasilturis sobre o Relatório de Tendências da WTM Latin America confirmou a opinião de Carla, de que esses turistas gastam dinheiro também com entretenimento, como parques de diversão e shoppings. O

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

estudante Pedro Henrique Sobral, de 23 anos, é testemunha disso. Os pacotes ideais para ele precisam incluir praias ou festas. Em 2014, ele decidiu passar cinco dias em Ouro Preto, Minas Gerais, não apenas por motivos religiosos, mas também pelos roteiros culturais da cidade. "Lá tinha igreja e museu para visitar e tinha um percurso histórico muito legal. Devo ter ido a umas dez igrejas e em uns três museus". Mas para o guia de Turismo Thiago Dorea, nem tudo está perfeito. Isso porque, quando se trata se turismo religioso na cidade do Rio de Janeiro, as igrejas católicas são o único foco de exploração, enquanto que os centros outras religiões, como Umbanda

13


e Camdomblé, os Templos Budistas, as Sinagogas e sedes da Igreja Universal, ficam esquecidos. “Todos esses lugares, quando são bem explorados e divulgados, geram a curiosidade em públicos que buscam desde o exotismo até uma compreensão maior e mais aprofundada da religião".

Conhecemos lugares incríveis, vimos igrejas lindas. Convivemos com pessoas de todas as nações e que falavam línguas diferentes. Foi maravilhoso Alice Duarte ( publicitária)

A FÉ QUE ULTRAPASSA FRONTEIRAS O Brasil não é o único país no mundo a oferecer roteiros religiosos atraentes. Em 2013, a cidade de Belém, na Cisjordânia, recebeu mais de um milhão e meio de turistas no período do Natal. Em Israel, a Terra Santa bateu o recorde de mais de três milhões de visitantes em 2014. No mesmo ano, o Vaticano atingiu a marca de seis milhões de turistas recebidos. E um dos motivos para esse crescimento nos últimos anos, especialmente para os brasileiros, foi a eleição do Papa Francisco, o primeiro Papa latino-americano. O primeiro destino internacional do Pontífice foi em 2013, aqui no Brasil, com a Jornada Mundial da Juventude. Foram 427 mil inscrições de 174 países diferentes. O evento reuniu mais de três milhões de pessoas na

14

Missa de Encerramento, que aconteceu na Praia de Copacabana. Muitos dos jovens participantes ficaram tão empolgados que decidiram participar da edição seguinte, que aconteceu em junho de 2016 na Cracóvia, Polônia. Foi a oportunidade que a universitária Emanoelle Peixoto, de 19 anos, encontrou para realizar o sonho de conhecer a Europa. Ela, a mãe e a irmã conseguiram um pacote oferecido pela Comunidade Obra de Maria que incluía visitas a Paris no roteiro, e não tiveram dúvidas. A viagem começou a ser paga 18 meses antes de acontecer. Ela deixa claro que foi a melhor experiência que teve na vida. “Conhecemos lugares incríveis, vimos igrejas lindas. Convivemos com pessoas de todas as nações e que falavam línguas diferentes. Foi maravilhoso”. Já a viagem da publicitária Alice Duarte, de 26 anos, não foi tão planejada. Como católica praticante, catequista e participante de grupos jovens, ela sempre teve vontade de conhecer a Terra Santa e o Vaticano, mas nunca foi uma prioridade. Até que um dia a avó do seu namorado fez um sorteio da viagem e ela saiu como ganhadora. “A experiência foi incrível, indescritível. Até hoje não vivi nada tão emocionante quanto o que eu vivi em Roma e na Terra Santa”. Foi um presente inclusive para a avó de Alice, que também tinha o sonho de conhecer os lugares sagrados e acabou sendo levada pela neta. A peregrinação contou também com a presença de um padre, que cumpriu a missão de guia espiritual do grupo. Com toda essa demanda, as empresas de turismo não tiveram outra alternativa a não especializarem seu serviço. Fátima Nascimento é responsável por esse departamento religioso na agência Milessis e destaca que mesmo com a alta do dólar, os brasileiros procuram viagens internacionais, obrigando os guias a melhorarem os serviços. “A ideia da especialização no segmento é justamente para proporcionar ao peregrino acessos e serviços que temos ao caracterizar a viagem como Peregrinação Religiosa, que ele não teria em um pacote comum. Buscando sempre a melhor experiência para o cliente”, diz Fátima. •

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

Foto: Arquivo Pessoal

Alice Duarte junto com a avó Denise, na cidade de Tívoli


Foto: Sebastian Ziegler (pixabay.com)

Com o pé no mato Turismo Rural, é o mais novo conceito de negócio DANILO SANT'ANA

A

cordar cedo, tomar um café fresquinho com o leite tirado diretamente da vaca, cuidar dos animais, pescar no lago e depois devolver os peixes. Essas, entre outras atividades, fazem parte de uma nova forma de turismo: o rural. Embora não seja novo no Brasil, ele cresceu em decorrência das classes média e alta, que atribuíram grande importância aos valores e identidades culturais locais e, ao mesmo tempo, possibilitaram o desenvolvimento econômico regional. Além disso, a atividade aumenta a circulação de capital no comércio, contribui para a melhoria na infraestrutura do campo e pode resultar no êxodo rural. Mas turismo rural é um pouco diferente de turismo verde, turismo ecológico, agroturismo, ecoturismo, entre outros. Há semelhanças, como as atividades ao ar livre, o contato do visitante com a natureza e com a herança cultural das comunidades do campo e as chamadas sociedades e práticas “tradicionais”. Mas para entender o rural, é necessário saber sobre alguns aspectos do meio agrário, como propriedades de pequeno e médio porte, produção de subsistência, técnicas agrícolas, maior contato do homem com a natureza e as características do campo. Quem procura o turismo rural são aqueles que se identificam com essas inúmeras características. Por exemplo, a pessoa que quer o simples e o autêntico, devido ao estresse promovido pelas grandes cidades e pela expansão industrial no meio urbano. O turista busca, acima de tudo, a tranquilidade, a paz e o relaxa-

mento que o campo oferece. Além disso, muitas vezes, a pessoa retorna ao seu ambiente de origem, deixado para trás como consequência do êxodo rural. A política também está envolvida neste assunto, por meio de iniciativas que planejam uma reestruturação territorial, que seria de grande valia para a população. Entre os planos, estão melhorias na infraestrutura, nos meios de transporte e nas comunicações, proporcionando assim maior fluxo e interação com outros lugares e regiões.

O tema me interessou bastante e logo comecei a ler muito sobre o assunto, além de pesquisar empreendimentos que seguem essa proposta Guilherme Mattoso (blogger)

Andreia Roque, diretora executiva do Instituto de Desenvolvimento Susten-

tável Brasil Rural, explica que a modalidade tem se destacado muito em relação às outras formas de turismo, pois reúne dois universos: o turístico e o rural. Por isso, ele se destaca nestes quesitos. Além disso, oferece novas experiências e novos produtos. Em relação aos diferenciais, que são muitos, a especialista destaca os principais, entre eles, diversificação da economia regional, pelo estabelecimento de micro e pequenos negócios; melhoria das condições de vida das famílias rurais; interiorização do turismo; difusão de conhecimentos e técnicas das ciências agrárias; diversificação da oferta turística; diminuição do êxodo rural; e conservação dos recursos naturais, entre outros. Nos últimos anos, o turismo rural apresentou resultados positivos, atingindo bons índices. Com a alta do dólar, muitos brasileiros optaram pela modalidade. Houve melhoras nas questões culturais, na agregação de valores, e no contato com a biodiversidade. Um dos que descobriram a importância do turismo rural foi o blogger Guilherme Mattoso. Ele teve contato com a modalidade pela primeira vez na faculdade. Anos depois, ao trabalhar com projetos de empreendedorismo no campo, experimentou o gênero. “O tema me interessou bastante e logo comecei a ler muito sobre o assunto, além de pesquisar empreendimentos que seguem essa proposta”, comenta. Além de ser um pesquisador, seu maior desafio é conhecer in loco estas

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

experiências, já que o Brasil é enorme e a logística de transportes do país, como os custos de viagem, não o possibilitam ir a todos os lugares que gostaria de conhecer. Ele não trabalha exatamente com turismo rural, mas decidiu estudar e escrever sobre este tema, pois acredita profundamente que tal atividade pode ser um excelente caminho para o desenvolvimento sustentável dos territórios rurais. Outro nascido no interior envolvido no turismo rural é José Luiz. Ele viveu num sítio em Jaú – SP até seus 11 anos, o que foi uma das vantagens quando ele e seus amigos foram pensar e formatar os primeiros roteiros rurais no Circuito das Frutas em 2002. O fato de ser também fruto da cidade o ajudou a perceber e oferecer aos cidadãos algo que lhes interessasse. Ele foi o primeiro guia regional a trabalhar como tal, e sua empresa foi a primeira e a principal agência operadora que surgiu e cresceu junto com o turismo rural. O maior desafio dele foi sair do plano das ideias para a agência propriamente dita, sem contar com recursos financeiros e poucas referências a partir das quais pudessem fazer um “benchmarching” interessante. Passada essa etapa, tinham que fazer funcionar os roteiros, divulgá-los e vendê-los com lucro, o que aconteceu a duras penas. “Hoje nosso desafio é nos mantermos no negócio quando muitas agências estão fechando por falta de negócios. Nós, como receptivos regionais, estamos nos reinventando para sobreviver e poder colher futuramente o fruto de tanto trabalho”, comenta. •

15


Turismo acessível tem melhora pós-Olimpíadas de 2016 THIAGO RABELO

A

s praias são uns dos lugares mais visitados no Rio pelos turistas. Segundo a contagem da Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur), estima-se que cerca de 3,19 milhões de turistas aproveitem os mares da cidade maravilhosa no verão. Marta Gonçalves, diretora escolar de 43 anos, conta como foi a experiência de se banhar em Copacabana. "Eu adoro o mar, sempre gostei muito. Estou voltando agora para São Paulo, e como todas as outras vezes que vim para cá, me senti ótima e pude aproveitar como eu quis." E mesmo com a nova realidade na vida de Marta, ela garante que aproveitou a visita ao mar tanto quanto qualquer outra pessoa. "E apesar de eu ser atualmente uma cadeirante, isso não me impossibilitou de entrar na água. Os salva-vidas oferecem cadeiras anfíbias e banho assistido para os deficientes, então só não aproveita quem não quer". A diretora ainda elogiou a eficiência e o aparato do aeroporto. "Eu não sou totalmente deficiente, fui operada recentemente, então, por hora, estou nessa cadeira de rodas. É uma nova experiência para mim. E diferente do que você e os outros podem pensar, eu estou sendo muito bem tratada. Eu não tive nenhum empecilho para chegar ao quarto andar, por exemplo, quando eu for embarcar no avião, eles vão solicitar um funcionário da companhia para me empurrar até lá. Então assim, por enquanto, eu não tenho do que me queixar". Em 2014, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência entregou ao Aeroporto Santos Dumont (RJ) o selo de participação no projeto Rio Acessível, tornando-o diamante, que representa 90% de Inclusão de Acesso.

16

No entanto, o recepcionista bilíngue, Roberto Murilo, diz que não há tanta acessibilidade no aeroporto quanto parece. "O acesso aqui é meio complicado, tem os táxis especiais, mas que não são chamados com facilidade. A pessoa tem que ligar para as companhias para que eles possam interceptar um carro que vai poder fazer o transporte desse deficiente, então não é tão fácil assim, na verdade é bem demorado esse processo." Apesar dos táxis adaptados estarem agora equipados com plaquetas em braile para deficientes visuais, a demora e a dificuldade para a solicitação do veículo é sentida pelo turista. Roberto ainda relata a respeito do embarque de deficientes físicos nos aviões. "Já presenciei passageiros cadeirantes sendo transportados no colo para dentro do avião, e isso tanto em companhias particulares quanto em carreira". Uma solução da Agência Nacional de Aviação Civil(ANAC) obriga aeroportos e companhias aéreas a obedecer algumas normas com a finalidade de melhorar o serviço aos passageiros que precisam de atendimento especial, as regras priorizam locomoção, acesso aos banheiros, informação e instrução. Apesar de Roberto trabalhar como recepcionista e guia turístico, ele conta que não há um material voltado para pessoas com necessidades especiais. "Eu trabalho com informações turísticas, orientando as pessoas. E geralmente querem saber sobre táxi e tudo mais. O procedimento com um deficiente é o mesmo, eu forneço a mesma informação que eu daria para um não-deficiente. Mas não tem nada específico para eles, nós não temos uma programação especial para esses casos. Ou seja, sem nenhum tipo de inclusão".

“ O comitê olímpico era totalmente estruturado para uma pessoa com deficiência, você chegava na recepção e era atendido por um garoto com síndrome de down ao lado de uma auxiliar não deficiente. Ou seja, tudo lá era questão de acessibilidade Joyce Cristina (assistente de relações internacionais)

Contudo, a acessibilidade floresceu e se expandiu durante as Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016. A administração do Rio de Janeiro tornou alguns pontos turísticos como praias, instalações e vias públicas acessíveis para o público poder circular com segurança, mobilidade e autonomia. Desde o desembarque em aviões, pessoas com deficiência ou locomoção reduzida tiveram atendimento preferencial. No Rio, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Amazonas e Brasília, os aeroportos receberam o Guia de Direitos e Acessibilidade do Passageiro que explicou todas as

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

normas que deveriam ser tomadas para receber atletas e turistas deficientes. Joyce Cristina de 22 anos, trabalhou como assistente de relações internacionais durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. "O comitê olímpico era totalmente estruturado para uma pessoa com deficiência, Você chegava na recepção e era atendido por um garoto com síndrome de down ao lado de uma auxiliar não deficiente. Ou seja, tudo lá era questão de acessibilidade." Havia rampas para cadeirantes, as portas da abertura tinham uma altura padrão para que um deficiente físico pudesse abrir, o piso era todo demarcado com sinalizador metálico para cegos. Toda e qualquer placa também tinha escrita em braile, os banheiros ofereciam todas as adaptações necessárias pra confortar um portador de necessidades especiais, todo o local de entrada e saída do comitê tinha uma altura padrão", concluiu Joyce. Durante as semanas dos Jogos, a Prefeitura do Rio divulgou o investimento para várias ações de acessibilidade, como por exemplo, 4.000m² de calçadas acessíveis com pisos táteis, e 5.800m² de pavimento em concreto na entrada das principais atrações turísticas da cidade: Pão de Açúcar, Corcovado, Jardim Botânico e praias da Barra da Tijuca e Copacabana. Nos transportes públicos, os BRTs (Bus Rapid Transit) têm paradas na mesma altura que a das estações, pisos antiderrapantes e sinalização sonora e visual. Já o VLT possui o pavimento baixo para o desembarque seguro dos deficientes físicos. Assim como no BRT e VLT, havia acesso em todo o local do Parque Olímpico. As arenas e ginásios onde as competições das Paralimpíadas


ocorreram eram acessíveis, mas cada uma tinha suas singularidades. Atendiam o portador de necessidades especiais baseado no tipo de deficiência que ele portava, ou seja, existia uma programação que abrangia e ampara todos de maneira igual. O Comitê Olímpico e a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência realizaram um programa com os colaboradores e voluntários por meio de workshops sobre inclusão acessível e a importância de todo o público ser atendido com eficiência e agilidade. E a imprensa internacional também comentou a respeito da acessibilidade no Brasil para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Na véspera de abertura, os portais de notícia da Alemanha e da Holanda ressaltaram as medidas tomadas pelo país no que diz respeito a acessibilidade no turismo. Deram enfoque nas iniciativas do governo federal e nas instalações turísticas e avaliaram os programas acessíveis dos hotéis, restaurantes e outros pontos para melhorar a mobilidade dos turistas.

ACESSIBILIDADE AINDA CARECE AMPARO Apesar de todas as evoluções e investimentos para tornar a experiência do turista com necessidades especiais mais eficiente e digna, nem todos os locais fornecem o aparato necessário para a mobilidade acessível. Entre os pontos negativos estão a falta de sinalização sonora nos semáforos, a continuidade da ciclovia, faixa conjunta para pedestres e ciclistas, ausência de tachões ou lombadas, que obriguem os motoristas a reduzir a velocidade. A socióloga, Betânia Lopes, conta um pouco sobre as falhas na acessibilidade no turismo. "No Brasil todo eu não sei, mas na grande maioria o acesso não funciona. A inclusão só é efetiva quando a pessoa com deficiência pode utilizar o espaço público de forma autônoma. Existem várias formas de deficiência e a arquitetura deve atender a todos sem distinção. Na nossa cidade existem calçadas esburacadas, não temos semáforos sonoros, e não há informações em braile. O país carece de diversos recursos", afirma.

Formada em educação inclusiva, Betânia acredita que "uma cidade inclusiva é aquela que não exclui". Já assisti o constrangimento de cadeirantes sendo carregados porque não tinha acessibilidade para eles. Cegos pedindo para ler algo ou surdo pedindo ajuda. Outro fato é que a pessoa que tem deficiência não é uma pessoa deficiente, mas a sociedade o torna completamente deficiente quando o deixa limitado, ou seja, impedindo sua autonomia." Quando questionada a respeito das Paralimpíadas, a socióloga expôs o que pensa sobre assunto; "Eu acho uma hipocrisia. Muitos políticos usam o tema como bandeira em suas campanhas, mas depois esquecem, poucos fazem alguma coisa, e quando fazem, não funciona ou funciona mal. Dificilmente existe algo que tenha funcionalidade e manutenção. As Paralimpíadas poderiam ter uma importância muito além do que teve, a começar pelo desprezo da mídia televisiva que não transmitiu sequer a abertura e encerramento do evento." A estudante de farmácia, Thais Almeida de 24 anos, reclama da falta de empatia das pessoas para com os deficientes. "Eu sou uma portadora de deficiência, tenho o que chamam de lesão plexo braquial, ou seja, não tenho sentidos nem movimentos no meu braço direito. Ás vezes eu sou obrigada a ficar em pé seja num ônibus ou trem porque os assentos preferências estão em uso, e muita das vezes por pessoas sem nenhuma necessidade especial". Thais ainda comenta das dificuldades de se locomover por conta de sua deficiência. "Eu tenho apenas meu braço esquerdo para poder me segurar tanto no trem quanto no ônibus, aí fica complicado eu segurar todo o peso do meu corpo com um único braço. Acho que falta respeito, compreensão e amor ao próximo. É incrível como pessoas não deficientes tem a coragem de me olhar nos olhos e não ceder o assento". E assim como a estudante Thais, vários outros deficientes acabam passando pela mesma situação. Uma pesquisa realizada pelo IBGE mostrou que 6,2% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. A Pesquisa Nacional de Saúde(PNS) considerou quatro tipos de necessidades especiais:

Foto: Arquivo Pessoal

Joyce Cristina e o mascote Vinícius nas Olímpiadas de 2016

auditiva, visual, física e intelectual. O técnico de refrigeração, Anderson Alves, de 40 anos, conta como é a experiência da falta de acessibilidade e inclusão estando em uma cadeira de rodas. "Por conta da deficiência, as pessoas ás vezes lhe tratam como coitado, incapaz, e acabam não tendo conhecimento, até porque o que faz o ser humano primeiramente é o cérebro. Apesar de haver mais acessos por alguns transportes no rio, outros não atendem certas limitações". Cadeirante, Anderson Alves aponta as falhas nos transportes públicos que mais atrapalham sua locomoção. "No meu caso que sou cadeirante, por

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

exemplo, tem ônibus que o elevador não funciona, trens são impossíveis de andar, quase nenhuma estação é adaptada. Claro que a acessibilidade já avançou muito, mas ainda é preciso melhorar mais se quisermos ver uma real mudança". A acessibilidade cresceu com o passar dos anos, mas ainda há muito para ser feito. Assim como Anderson e a Thais, existem várias outras pessoas portadoras de necessidades especiais que precisam do amparo e do respeito não apenas da Prefeitura, mas da sociedade. O turismo acessível tem a ver com inclusão de deficientes perante sua realidade de vida, e não a exclusão. •

17


Foto: Christyne Rodrigues

O melhor da viagem é o caminho CHRISTYNE RODRIGUES

iajar é muito bom, mas aproveitar o trajeto até o destino pode ser melhor ainda. É isso o que os motociclistas, que participam de um motoclube, fazem quando se reúnem para ir aos eventos criados por eles, que podem durar por vários dias. Para identificar uma destas grandes comemorações basta procurar uma multidão de pessoas vestindo roupas pretas e, claro, um aglomerado de motos de diversos modelos. Tudo isso e muito mais era possível de encontrar no 7º Imperial Moto Fest, realizado ano passado. Em meio à paisagem totalmente verde do Parque Municipal de Petrópolis em Itaipava, no estado do Rio de Janeiro, o evento foi organizado pela Associação de Motociclistas de Petrópolis, composta por 11 motoclubes, e contou com a participação de outros 740 de diversos locais de dentro e fora do Brasil. Em 2015, em sua 6ª edição, o Imperial Moto Fest recebeu 680. Como o parque é acessível a todos, ao invés de calcular a quantidade de pessoas, a estimativa de

V

18

público é contada pelos motoclubes que se inscrevem anteriormente. Organizar um evento de grande porte como esse não é uma tarefa fácil. Para isso, Arlindo Soares, presidente da Associação de Motociclistas de Petrópolis, começa a elaborar com um ano de antecedência, logo após o fim de uma das festas, e em janeiro inicia as reuniões com a equipe para decidir tudo. “Sempre pensando no próximo, no que devemos melhorar, quais foram os pontos fortes e os fracos. Cada ano que passa, vou aprendendo com algo”. Um costume é acomodar os participantes em uma área de camping coberta com chuveiros com temperatura quente e café da manhã. Quem aproveitou esses benefícios foi a Flávia Harduim de Souza, de 41 anos, que mora em Cambuci, no Rio de Janeiro. Proprietária de uma loja de banho e tosa de animais, ela afirma que dificilmente fica em um hotel. “Prefiro acampar porque é o momento mais incrível de ser motociclista, além da estrada. É nele

que conheço várias pessoas de diversas idades e lugares”. Flávia é garupa na moto e essa paixão começou em 2010, quando foi em um evento na própria cidade e se encantou com os diversificados modelos e as amizades feitas. Atualmente, ela faz de duas a três viagens por mês para acompanhar os motoclubes e tem o hábito de conhecer os pontos turísticos. Alguns locais que já conheceu são o município de Prado (Bahia), Guarapari (Espírito Santo), Miraí (Minas Gerais), sendo uns no estado do Rio de Janeiro, como Varre-Sai, São Fidélis, Santo Antônio de Pádua, Amparo, Maricá, Saquarema, Arraial do Cabo, Búzios, Macaé e Campos dos Goytacazes. Assim como Flávia, há muitos que viajam para diversos lugares com os motoclubes. Mas, diferente dela e mesmo com as vantagens que o 7º Imperial Moto Fest ofereceu, existem aqueles que optam em se hospedar uma pousada. O proprietário da Pousadinha de Itaipava, Amarildo Teles, afirma que todos que es-

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

tavam instalados nela foram por causa do evento e que houve capacidade máxima. “Tivemos muita procura. Um mês antes todas as reservas tinham sido feitas. Algumas pessoas que vieram já fecharam para o de 2017”. Um dos hóspedes da Pousadinha de Itaipava foi o Francisco Paulo, de 61 anos, que sempre se hospeda nela quando vai ao Imperial Moto Fest, pois é em frente ao parque e, assim, não precisa dirigir a moto ou o triciclo, podendo beber algum drink se quiser. Em todos os eventos que vai, ele faz essa escolha. “No camping sempre fica um alvoroço até muito tarde. Então, eu quero ter um lugar para descansar depois de quase um dia de estrada. Não faço questão de luxo, mas sim de limpeza e do meu espaço para dormir sossegado, de preferência pertinho do local”. Aposentado e professor de cirurgia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Francisco vai aos encontros há mais de 12 anos, indo duas vezes por mês para os que acontecem fora do Rio de Janeiro


“ Torna-se um vício porque vira família. A casa do motociclista tá sempre aberta para acolher. E hoje eles são a maioria dos amigos que tenho em minha vida Ester Gomes Tozzo (motoqueira)

e até três para os que são realizados nele. Ele já foi em Marataízes (Espírito Santo), Serra Negra (São Paulo), Prado (Bahia) e em muitos outros lugares. “Ainda não fui para outros países da América do Sul, mas pretendo ir. É comum o pessoal ir para o Paraná, seguir para Ushuaia, na Argentina, depois rodar o Brasil pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina”. Sobre os resultados dessas viagens, ele destaca o bem que elas podem causar à mente e a alma. “Eu vejo que o grupo de relacionamentos das pessoas tende a diminuir quanto mais velhas ficam. Só que na moto é diferente. Cada vez mais nós vamos aumentando o número de amigos e de conhecidos. Vamos envelhecendo com mais saúde, porque o nosso relacionamento social aumenta sempre”. Inclusive, no motociclismo há o seguinte ditado: você só fica velho quando os seus lamentos substituem os seus sonhos. “E o nosso é de estar sempre andando, conhecendo gente e lugares novos. Demoramos a ficar mais velhos porque a cabeça tá sempre ativa e funcionando”. Falando em longevidade, há um casal que passeia pelo Brasil em plena terceira idade. E quem pensa que nesses eventos só há motos está enganado. Vera, de 66 anos, e Ivan, de 72 anos, estão nas estradas para provar isso. Com um trailer criado há 20 anos por ele, os dois fazem até quatro viagens por mês. Cabo Frio, Rio

das Ostras, Búzios e Paraty são algumas cidades do Rio de Janeiro que conheceram e Santo Antônio do Aventureiro, Juíz de Fora, Lima Duarte e Além Paraíba, que ficam em Minas Gerais. Apaixonados por motos, eles precisaram não andar mais nelas depois que Ivan teve que fazer cateterismo e angioplastia, pois o braço ficava inchado. Como ele tem uma alimentação controlada, decidiu fazer o trailer. para acompanhar os encontros junto com a esposa. Nele há três placas de energia solar, TV, DVD, geladeira, micro-ondas, climatizador de ar, banheiro com chuveiro à gás, caixa d’água, sofá, cama e mesa. “Tem tudo o que você encontra em uma residência. Só não tem como lavar a roupa. A gente gosta mais dele do que de casa, porque ela é muito grande para nós”. Os dois nem precisariam ir para o 7º Imperial Moto Fest com o xodó, pois moram a 10 minutos do parque. Mas fizeram questão de dormir por lá para aproveitar ao máximo. “Gostamos muito de rock e os shows foram ótimos”, Vera comenta empolgada. Sobre o prazer de reencontrar as pessoas queridas, Ivan diz com um sorriso no rosto: “Estamos formando novos amigos, mas já temos muitos que fizemos pelas várias cidades que vamos”. A AMIZADE E UNIÃO ANDAM JUNTAS NOS ENCONTROS DE MOTOCICLISTAS A amizade e a união são características marcantes entre os amantes do motociclismo. Elas os fazem seguirem por quilômetros na estrada. E, claro, o fascínio pelas motos. Ester Gomes de Oliveira Tozzo, de 60 anos, iniciou essa paixão há muitos anos, mas só em setembro de 2010 que começou a ir nos encontros. “Torna-se um vício porque isso vira família. A casa do motociclista tá sempre aberta para acolher. É algo que você sabe que será bem vindo. E hoje eles são a maioria dos amigos que tenho em minha vida”. Por isso, Ester sempre busca estar perto deles indo aos eventos. Como é aposentada e trabalha somente segunda, terça e quarta com confecção de roupas femininas, tem uma disponibilidade de viajar quatro vezes por mês, sendo que já chegou a fazer seis. Residente de Muriaé, em Minas Gerais, ela costuma ir para Espírito Santo, Rio de Janeiro e outras cidades do

Foto: Softcodex (pixabay.com)

estado onde mora. Sempre acampando em todos os lugares que vai, a escolha dela não poderia ser diferente no 7º Imperial Moto Fest. “O melhor do evento acontece no camping. É onde temos contato direto com as pessoas”. O valor de quem dirige uma moto é grande, mas Ester defende a importância dela como garupa. “Tenho uma responsabilidade muito grande na estrada. Na verdade, o meu marido não entende nada de trajetos. Ele dirige a moto e eu preciso dizer aonde ir”. Com tantas experiências pelas rodovias, ela afirma que já passou por alguns problemas nelas. “Nossa corrente arrebentou perto de São Gonçalo do Rio Abaixo, em Minas Gerais, a 80 km do nosso ponto de chegada. Mas não tinha como comprar uma nova, pois lá não vende. Com pouco dinheiro, fomos para um hotel e no dia seguinte o mecânico remendou. Fomos até Santa Luzia e nossos amigos levaram uma nova de Belo Horizonte”. Passar por situações como essa pode ser comum e perigoso. Para ajudar nisso, a equipe do site Moto Tour, maior portal de motociclismo do Brasil, criou há poucos meses um novo atendimento de seguro viagem especialmente para eles. Dirlene Assunção, gerente de vendas de reservas, afirma que o serviço visa garantir pronto atendimento em situações de emergência durante a viagem do segurado. “Nossos clientes fazem por prevenção, creio que por presenciarem o alto índice de acidentes”. É preciso ter precaução quando o assunto é estrada, ainda mais para quem

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

viaja sempre. Essas pessoas movimentam fisicamente e economicamente as cidades por onde passam. Em Petrópolis não foi diferente. A recepcionista do Centro de Informações Turísticas do local, Marcela Neto, afirma que, mesmo com a área de camping, que não foi suficiente para todos, alguns participantes buscaram hospedagem próxima ao parque. “Todo o comércio do entorno ganhou lucratividade, seja restaurante, hotel, pousada, distribuidora de bebidas ou posto de gasolina. Pessoas que nunca tinham vindo à Petrópolis ainda aproveitaram o tempo livre para ir ao centro histórico conhecer os atrativos”. Para muitos, viajar e não conhecer os pontos turísticos da localidade não tem graça alguma. Mas eles priorizam aproveitar as rodovias e estar com os amigos. “As pessoas vêm felicitar, agradecer, parabenizar e ficamos com aquela sensação de dever cumprido e já preparando o próximo porque não pode deixar parar”. Porém em 2017 ele não estará a frente da organização. Esta foi a última edição que o empresário e dono de uma oficina mecânica de autos comandou no cargo de presidência, pois a gestão está no fim e outro já está sendo preparado para dar continuidade ao trabalho. E, assim como essa, há muitas festas de motoclubes que serão perpetuadas ao longo dos anos e sempre, em diversos lugares do Brasil, haverá muitas acontecendo. “O bacana de tudo isso é pegar a moto, viajar, rever a galera e fazer novas amizades em cada estado ou país que viajamos”.

19


Foto: Unsplash (pixabay.com)

Favela Tour Um ponto de vista a partir da realidade dos becos e vielas

20

REVISTA VEIGA REVISTA VEIGA MAIS MAIS -- TURISMO TURISMO


FERNANDA MELO

A

população do Rio de Janeiro vive numa cidade conhecida por suas belas praias, Carnaval e o tão famoso Cristo Redentor. Mas esse mundo fantasioso que a imprensa apresenta para outros estados do Brasil e do mundo, não é o que a sociedade carioca está acostumada a vivenciar. O Rio vai muito além de Copacabana e Pão de Açúcar. As favelas, onde a maioria da população mora, fazem parte do cotidiano e da cultura local. Tanto que as comunidades passaram a receber turistas com o propósito de revelar os costumes que realmente os moradores seguem. A assistência vem daqueles que promovem um turismo diferenciado, que impulsiona a economia e favorece o retrato realista do Rio de Janeiro, seja para conhecer símbolos que tem representação e relevância dentro desse corpo social, ou participar de atividades e eventos culturais e educacionais, contando com a colaboração de cidadãos que querem divulgar a favela da melhor forma possível. O turismo nas favelas, como é conhecido, é um meio de conhecer o dia a dia e os hábitos de uma comunidade ou bairro. A partir daí, proporciona-se visitas aos centros culturais, de forma que o indivíduo consiga desfrutar de uma experiência em que haja valorização daquele ambiente, coletando informações, com base na socialização que estabelece uma convivência interativa com os moradores daquela determinada região. Com os avanços no sistema de globalização do Rio de Janeiro, e a instalação das Unidade de Polícia Pacificadora (UPPs), essa prática passou por certas mudanças e foi sendo renovada. Logo, os próprios moradores decidiram investir e fazer daquele um recurso para atrair não só a sociedade carioca, mas também na vizinhança turistas do mundo todo. Thiago Firmino, de 30 anos, é guia de turismo na favela Santa Marta, onde nasceu e foi criado. Ele conta que no inicio, por participar de projetos sociais e de ONGs, já tinha o costume de levar e passear com turistas no morro, sendo que essa iniciativa não era somente de cunho pessoal, mas dos programas

culturais que aconteciam na favela, e a casa dos moradores. Segundo Thiacom os quais Thiago colaborava. Essa go, os pontos turísticos mostram um atitude partiu do interesse de mostrar pouco da historia do Santa Marta, da a beleza da favela, que ele faz questão vivência, um pouco das dificuldades, o de registrar com seu hobby preferido: lado das lutas, dos projetos, e a história fotografar. Por sempre enxergar o lado de vida das pessoas. "Tem muita historia de vida bacana, bom do Santa Marta e querer envolver as pessoas nessa história, ele teve a o lado positivo da favela, passeio pelos ideia de criar um blog para divulgar o becos e vielas, visitas a alguns projelugar que tanto gostava: o favela Santa tos, laje do Michael Jackson, lojas de Marta Tour. Com o sucesso inesperado, artesanato, quadra de escola de samba, decidiu de vez entrar na carreira turísti- praça Cantão, como também, o esquecimento do poder púca, logo após a pablico das favelas no cificação do morro. geral, a questão do Embora não lixo, e do saneamenseja guia de tuto precário". Para ele, rismo formado, o objetivo é sempre Thiago, que ainda caminhar e mudar um está terminando pouco o tour de acoro terceiro ano, já do com os interesses atua na área desdo turista, entretanto, de 2008. Quando a equipe de Thiago iniciou, fazia triprefere seguir um palha e outras atividrão durante a visita. dades dentro da Muitos estranfavela, e, imediageiros explicam que tamente, percebeu quando estão em a alta procura de seus países de orituristas e cariocas gem ou hospedados querendo visitar e em hotéis, recebem conhecer o Santa da mídia alertas para Marta, inclusive não ir conhecer as fapela divulgação da velas, pois, pelo que primeira favela paescutam, é um bairro cificada do Rio de cercado de marginais. Janeiro. "Foi nesse "Existem pessoas que momento que eu preferem ficar pertive uma oportuniguntando sobre trádade, e hoje eu sou fico o tempo todo, o microempreendedia inteiro, e eu não dor. Tenho o meu vou fazer tour só relapequeno negócio cionado a isso. Aqui a e uma equipe de Thiago Firmino gente segue um poumais duas pessoas (guia turístico no Santa Marta) co a nossa linha mosque trabalham cotrando o povo hospimigo fazendo trataleiro e as atividades dução". Com o objetivo de chamar atenção do Santa Marta. Tem muito para ser para o cotidiano daquele povo que ali falado, muita vivência", diz o guia do vive, o turismo das favelas foi grada- Santa Marta. Outra pessoa que tem muito orgutivamente se inovando para atender à demanda de quem busca vivenciar e lho de falar sobre a trajetória da carexperimentar os diferentes jeitinhos reira no bairro em que nasceu é a Ana daqueles moradores. Esse turismo traz Lima, de 40 anos. A guia de turismo do esse universo de envolvimento do vi- Vidigal começou levando os amigos sitante, incentivando-o a participar de para passear gratuitamente, e com isso, tours educativos, atividades interati- a notícia se espalhou. Outras pessoas vas, inclusão social, além de conhecer se interessaram e ela percebeu que este

Existem pessoas que preferem ficar perguntando sobre tráfico o tempo todo, e eu não vou fazer tour só relacionado a isso. Aqui a gente segue mostrando o povo hospitaleiro e as atividades do Santa Marta

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

era um campo de trabalho, junto com a diversão de mostrar a favela para turistas. "Iniciei como guia de turismo profissional em 2010, levando amigos ao topo do morro Dois Irmãos, que considero meu quintal de casa, e um lugar para recarregar minhas energias". Desde então, Ana pensou em investir nela mesma. Já formada em Administração, ela contratou um webdesigner para fundar o site de turismo, além de um tradutor para que pudesse atender estrangeiros, cuja demanda é grande. Pensando no futuro, a guia ainda fez um curso profissionalizante e criou mídias sociais, como Instagram e Facebook. "Fiz matéria para várias mídias, o que aumentou a procura pelo meu serviço, que é diferenciado por eu ser guia local". Para Ana, o ponto principal para visitar na favela do Vidigal é o topo do Morro Dois Irmãos. "É um lugar que estrangeiros ficam mais ansiosos para conhecer, no entanto, a caminhada pelas ruas e vielas, observando a história e os grafites, torna a tour ainda mais especial". Por outro lado, os passeios não se restringem apenas ao Vidigal. A guia leva os turistas para se aventurarem em um voo de asa delta na Pedra Bonita, em São Conrado. "São mais de 40 mil saltos por ano aqui no Rio de Janeiro, e acredito que o conjunto de toda a tour é um diferencial que transforma a visita tão especial e interessante". Outro fator que a guia fez questão de ressaltar é o destino do dinheiro arrecadado com os guiamentos. Ana explica que se o visitante quiser fazer o passeio com a empresa dela, parte do lucro que eles recebem vai para uma ONG de boxe do Vidigal, chamado Instituto Todos na Luta, associação sem fins lucrativos, qualificada pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de interesse público — OSCIP, que atende 125 crianças moradoras da favela e ensina cidadania por meio do esporte. Em relação ao tratamento diferenciado com o turista e como ele é visto, Ana conta que todos os seus clientes fazem comentários no site do TripAdivisor, maior página de viagens do mundo, e assim ela recebe o feedback. Outra forma de se conectar com eles

21


Foto: Arquivo Pessoal

Thiago Firmino como guia turístico na favela Santa Marta, onde nasceu e foi criado

é pelas redes sociais, nas quais muitos visitantes deixam mensagens positivas. Desse modo, ela consegue identificar o que está dando certo, e falhas que precisam ser revisadas para melhorar. Thiago também relata que durante o tour, conforme os turistas vão caminhando, os moradores os recebem de braços abertos, dando "bom dia" e "boa tarde", mesmo não sabendo falar a língua dos estrangeiros. "A gente fica surpreso com a reação deles, que sempre são bem recebidos. O pessoal brinca e passa muita energia e, quando eles vão embora, ficam maravilhados. Os visitantes gostam muito, ficam encantados com a alegria, as crianças brincando sempre. Quando dá, a gente põe a galera pra jogar uma peladinha lá em cima". O guia também já foi reconhecido por seu trabalho com o certificado de excelência pelo TripAdvisor. A empresa premia os estabelecimentos do setor de turismo e hotelaria que sempre oferecem um serviço de alta qualidade e que

22

receberam muitas avaliações excelentes dos viajantes no site. "Por conta dos comentários dos turistas, eu ganho a três anos o prêmio de excelência pelo tripadvisor, por um trabalho bem realizado, e eu fico muito feliz com o terceiro ano consecutivo ganhando o prêmio". Nesse mesmo caminho está Sheila Souza, que é formada em Turismo, e desde a década de 90, já levava as pessoas para o Santa Marta porque tinha um envolvimento político social. Ela participava de reuniões de base, para discutir melhorias das comunidades, e outras áreas periféricas, tendo como objetivo proporcionar uma qualidade de vida satisfatória para os moradores. A partir daí, ela percebeu que as pessoas queriam conhecer aquela realidade, e, após fazer parte de conferências, seminários e encontros, ela decidiu abrir o próprio negócio. O Brazilidade surgiu quando Sheila e a amiga Cris montaram a estrutura da empresa no MBA de Turismo em Ne-

gócios, em 2010. Ao concluir o curso, ambas colocaram o empreendimento em prática. Porém, depois de um tempo, sua sócia deixou o negócio, e quem assumiu sociedade com Sheila foi sua sobrinha Roberta, que é turismóloga e guia de turismo. "Nós temos uma proposta bastante educativa, social e política. Então, a ideia é desconstruir esses estereótipos da favela, e fazer as pessoas entenderem esse território de maneira mais profunda, e vir que a favela é muito mais do que essa imagem negativa". O objetivo é fazer com que o turista que visitar o Santa Marta com a empresa de Sheila entre pensando de uma maneira e saia com outra visão. "A gente trabalha com educação, então, desse modo, tentamos dar uma outra perspectiva para o território das favelas. A mídia reforça muito as questões da violência e, para eles, a gente não trabalha com as coisas bacanas. No imaginário ficam só as partes ruins e pesadas, mas que na verdade, é muito mais do que isso", explica.

REVISTA VEIGA MAIS - TURISMO

A imagem desfavorável, imposta pelos meios de veiculação evidencia em grandes proporções a violência nas favelas, no entanto, por diversas vezes, insistem em exaltar um discurso de uma falsa realidade vivida pelos moradores. Sim, como todos os bairros do Rio que apresentam um alto índice de criminalidade, a favela também apresenta. "Infelizmente a mídia tem um papel muito forte e fundamental em relação ao estereotipo negativo da favela". Sheila explica que os moradores são representados de uma maneira muito negativa, e marcada, o que contribui para que as pessoas imaginem que nas favelas exista apenas marginalidade. Com isso, a sociedade que nunca esteve nessas áreas acaba adotando o mesmo olhar que é passado através dos telejornais, ou novelas, e imagem que Sheila, assim como Thiago e Ana Lima, querem mudar, pois não é a realidade desse povo•


DEAD LINE? Correr contra o tempo faz parte do nosso cotidiano Afinal, o mundo nĂŁo para

Tijuca - Barra da Tijuca - Cabo Frio


NÃO IMPORTA A ÉPOCA

INFORMAR É O NOSSO DEVER

https://agenciauva.wordpress.com


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.