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Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

Expediente Curso de Comunicação Social reconhecido pelo MEC em 07/07/99, parecer CES 694/99 Coordenador Prof. Luís Carlos Bittencourt Coordenador de Publicidade Prof. Oswaldo Senna A Revista Veiga Mais é um produto da Oficina de Jornalismo, em um trabalho conjunto realizado em sala de aula, em diversas disciplinas, e a AgênciaUVA. REPORTAGENS Estudos das disciplinas de Técnica de Reportagem,

Professores-orientadores

Entrevista e Pesquisa e Jornalismo de Revista.

Luiza Cruz e Maristela Fittipaldi

EDIÇÃO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Billy Joe Matins

Professor-orientador

Luana Gomçalves

Érica Ribeiro

Natália Miranda Rafael Monteiro APOIO Agência Uva • Redação

• Núcleo de Fotografia (NFoto)

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Editorial

Made in Brasil No balanço do funk, no batuque do tamborim. Numa roda de capoeira, na ginga dos bambas. Seja no samba, no cinema, na música, na dança, na fotografia, na literatura... tudo isto aqui é Brasil! Exportamos o que há de melhor da terra onde tudo se inventa, tudo se transforma, tudo dá. Há anos, a cultura brasileira percorre os quatro cantos do mundo e encanta pela naturalidade, pela simplicidade e pela competência. Há tempos, artistas plásticos, escritores, roteiristas e uma gente comum do dia-a-dia, com muita criatividade, chamam atenção por onde passam com sua arte. O que mostramos é que o Brasil não foi só pau-brasil e está longe de ser só mulata, Zé Carioca ou Pelé. O Brasil, atualmente, é potência e referência no ramo das artes e da cultura. Cada vez mais conquista espaço no circuito cinematográfico e até nossas riquezas naturais, como a cachaça e a culinária regional, foram aprovados pela sociedade supersônica do século XXI. O país tem status de país de “intercâmbio” cultural. Tem “um barquinho e um violão” na terra do Sol nascente... Tem astros das telinhas dublados nos mais inusitados idiomas... Tem de tudo, para todos os gostos. Por estas páginas a seguir, faremos um “cruzeiro” em terra firme para descobrir o que já exportamos e o que ainda podemos exportar culturalmente. Nosso código para o mundo é 789 - made in Brasil, muito prazer. Seja bem vindo! O foco desta edição da Revista Veiga + é, definitivamente, uma afirmação de que nosso jeitinho brasileiro, não aquele da malandragem, mas aquele que dá orgulho e contagia os mais distintos povos, vem se espalhando pelo mundo inteiro. Boa leitura!

Sumário Música e tecnologia ampliam fonografia brasileira . . . . . . . 4 Batidão para gringo ouvir: funk sai das favelas e ganha o mundo . . . . . . . . . . . . . . 6 Samba no pé dos brasileiros e do mundo inteiro . . . . . . . . 8 Drinks brasileiros cruzando fronteiras . . . . . . . . . . . . . 9 Adversários no futebol mas unidos na música: artistas brasileiros são sucesso na Argentina . . . . . . . . . 10 Capoeira: gingado típico brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . 13 Carnaval Carioca é referência pelo mundo . . . . . . . . . . 14 Um Brasil que dança além do samba . . . . . . . . . . . . . . 16 Cinema brasileiro se consolida no mercado estrangeiro . . . . 18 Fotógrafos brasileiros fazem sucesso no exterior e levam a imagem do país pelo mundo afora . . . . 20 Todo mundo usa... e exporta . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22


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Música e tecnologia ampliam fonografia brasileira Pedro Amorim

Fotos: www.sxc.hu

“Nascido embaixo de um mau sinal / eu estou por baixo desde que comecei a engatinhar / se não fosse pela má sorte / eu não teria sorte alguma”. O refrão, traduzido de Born on a Bad Sing, música do final da década de 60 e reproduzida pela banda Cream, formada por Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, poderia ser um hino para aqueles músicos que amam sua arte e que, na busca por seus objetivos, têm como opção a divulgação e a comercialização de suas obras em outros países. Esses artistas geralmente reproduzem Jazz, Blues, Rock e outros estilos que não são classificados como gêneros populares, por não atingirem uma grande massa. Eles não tocam músicas conhecidas como “verme de ouvido”, apelido dado a composições que não têm conteúdo necessariamente interessante, mas são ótimas para se tornarem sucesso, pois seus refrões são repetidos sem parar.

dia. Com o encerramento das atividades do Circo Voa-

que ira ser empresariado era de muita importância, pois

Diante de um mercado às vezes cruel, que con-

dor em 1986 e, anos depois, da Rádio Fluminense, algu-

havia acordos comerciais com patrocinadores e redes de

sidera a música um produto para o mercado de con-

mas dessas bandas e cantores caíram no esquecimento

rádio e TVS envolvidos. “Bastava um erro para que ca-

sumo, alguns destes artistas, em busca da fama e do

e, com isso, acabaram ficando sem gravadora.

beças começassem a rolar”, declara Júlio.

sucesso financeiro, acabam sucumbindo e mudando

Anos depois, com a troca do Vinil pelo CD, a tec-

sua tendência musical. Os que não se adéquam a esta

nologia para os equipamentos de gravação fica melhor

realidade mudam de profissão ou procuram métodos alternativos para sobreviver. Um deles é exportar seu talento e seu dom musical. Mas como se chega a este

“Queremos dar atenção à música de todo o Brasil”

ponto? Para encontrar essa resposta é necessário, antes, um pouco de história.

e cada vez mais acessível, mas a grande transformação para o meio ainda estava por vir. O “boom digital” permitiu que a internet fizesse a transmissão de informações e dados com maior facilidade. Com isso, as grava-

Big Joe Manfra

A década de 80 foi um período de revolução musical

doras pensaram que seria um ótimo complemento para o trabalho de seus artistas. Ledo engano: a grande rede,

no país, tendo o Rio de Janeiro como maior mercado.

Naquela época, artista sem gravadora era automati-

com toda sua velocidade, permitiu que jovens promes-

O Circo Voador era o local em que nomes consagrados

camente considerado fora da mídia, porque era ela que

sas pudessem divulgar seu trabalho sem precisar de uma

se apresentavam e dividiam o palco com novos talen-

fazia todo o processo de gravação e divulgação em to-

empresa. As gravadoras que não se adaptaram a esta

tos. Lá surgiram Legião Urbana, Paralamas do Sucesso,

dos os meios de comunicação. Além disso, era de res-

nova realidade ficaram fadadas ao fracasso.

Barão Vermelho e muitos outros. Suas músicas eram re-

ponsabilidade dela marcar os shows e pagar o salário de

Com um número reduzido de gravadoras, a in-

produzidas pela Rádio Fluminense, conhecida por seus

toda a equipe (cantor, instrumentistas e operadores). Jú-

ternet começava trazer muita informação de forma

ouvintes como A Maldita, por ser a única que irradiava

lio Câmara foi produtor no início da década de 80 pela

desenfreada, ao ponto em que o público acredita que

Rock, Blues e outros estilos semelhantes durante todo o

gravadora ODEON e comenta que a escolha daquele

tudo que está lá é bom. Para tentar solucionar esse


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problema, gravadoras menores (que não têm todo

tes de distribuição de MP3 são ótimas ferramentas.

instrumentos desenvolvidos pela internet que facilitam

aquele operacional citado anteriormente) e selos

Outro problema que deve ser considerado é a falta de

esse processo. Ele ainda aconselha os interessados em

(uma divisão interna de uma grande gravadora) co-

informação com credibilidade, o que deixa o público

se aventurar no cenário da música: “O CD não é fer-

meçaram a ser criados para ajudar os novos artistas a

ainda mais desinteressado. Uma exceção é o Hard-

ramenta de venda e sim de divulgação. Além disso, di-

divulgarem seus trabalhos.

Blast.com, um site de divulgação de bandas de Hard

nheiro se ganha em show e não com vendas de disco”.

Exemplo disso é a Blues Time Records, a primei-

Rock. Nele podem ser encontradas notícias, artigos,

Com a maioria do público brasileiro consumindo

ra gravadora do Brasil exclusivamente dedicada ao

vídeos e entrevistas. A editora Maila Kaarina diz que

as mesmas bandas e cantores, a solução encontrada foi

Blues. Criada em 2000 pelo gaitista Jefferson Gonçal-

procurar um novo mercado, o internacional. Europa,

ves e um dos maiores guitarristas do blues nacional,

Estados Unidos e Japão são consumidores em massa

Big Joe Manfra, a gravadora nasceu com a proposta de vencer o desinteresse por seu estilo investindo na internet e em propostas alternativas para a distribuição. Em entrevista à Coluna Blues Rock, Manfra afirma que a criação da gravadora foi para dar continuidade ao seu

“O CD não é ferramenta de venda e sim de divulgação. Além disso, dinheiro se ganha em show”

primeiro CD, que fora lançado de forma independente. Com o tempo, a empresa evoluiu e conseguiu uma

das músicas tupiniquins. O guitarrista Sérgio Rocha, que participou de grandes bandas do Blues brasileiro, como a Blues Power e o Baseado em Blues, lamenta essa situação. “Nós temos público, mas ele não é direcionado aos profissionais”. Outro que optou pelo mercado estrangeiro foi Big

Fernando Guitti

distribuição nacional. Em parceria com a distribuidora

Gilson, hoje conhecido com “O Bluesman” nacional. O músico começou a carreira nos Estados Unidos, em-

Tratore, os CDs são encontrados em todo o Brasil e,

começou com um blog que falava da dificuldade de

bora, segundo ele, a plateia achasse estranho um bra-

pela internet, são entregues em diferentes países. Hoje,

ser musicista, e se surpreendeu com o número de

sileiro tocando Blues. Afinal, o país é conhecido por

com artistas de peso no elenco da Blues Time Recor-

acessos que recebia na sua página. Foi quando desco-

outros estilos, mas hoje eles comparam seu trabalho a

ds, Manfra manda um recado para os novos artistas:

briu que tinha um público fiel para aquele segmento.

grandes nomes americanos. Big Gilson comenta que o

“Queremos dar atenção à música de todo o Brasil”.

Com isso, ela montou o portal e o colocou na opção

público brasileiro é muito musical e o classifica como

bilíngue, para receber leitores de outros países.

“muito cabeça aberta”. Sobre a possibilidade de sobre-

A Internet e as gravadoras que dão oportunidade a novos trabalhos já são duas respostas, mas não se

Estes sites na internet facilitam ao público procurar

viver do Blues no Brasil, ele brinca: “Não, por isso que

deve esquecer do público, o maior consumidor deste

novidades da música, porém, de acordo com Fernando

toco foral”. O músico comenta que ainda há alguns

mercado. Dependendo do ponto de vista, ele pode ser

Guitti, crítico musical e locutor do programa Indepen-

problemas para se apresentar no país, principalmente

o problema ou a solução. Afinal, são as pessoas que

dência ou Morte, da Rádio Central Rock, em São Pau-

no Rio de Janeiro. Um desses empecilhos é a falta de

irão consumir este produto.

lo, a grande dificuldade para o público descobrir novos

espaço para fazer shows. O outro, a existência de uma

Os meios de comunicação como rádio e TV já dis-

talentos é a falta de espaços para mostrarem seu show.

parcela de pessoas que não consegue estabelecer a di-

ponibilizam um número certo de artistas para a po-

Fernando comenta que quem gosta do trabalho compra

ferença entre os músicos.

pulação “consumir”, o que dificulta o conhecimento

o CD e divulga com facilidade para os amigos. O críti-

Casos como o de Big Gilson são muitos, porém

de possíveis revelações. Por outro lado, os sites de

co musical complementa dizendo que o artista de hoje

hoje há uma movimentação maior no cenário musical

relacionamento, os de armazenamento de vídeos e si-

deve ter mais intimidade com seu fã, e que há vários

a fim de melhorar a divulgação dos artistas. Alguns exemplos são os projetos Coletivamente e o Rede Rio de Música. O governo também disponibiliza a Lei de Incentivo à Cultura, mas muitos personagens da música independente reclamam do seu uso e avaliam que grande parte da verba vai sempre para os mais consagrados. Um dos que concordam com isso é músico Cesar Lago, que alega que o dinheiro é mal distribuído. “É muito para pouco”. Para os meros ouvintes, de fora desta batalha, é hora de ouvir sons diferentes.


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Batidão para gringo ouvir: Funk sai das favelas e ganha o mundo Caroline Vianna Fotos de divulgação

Integrantes do grupo de funk Gaiola das Popozudas

Como diz a música, “é som de preto, de fave-

meira vez que realmente se destacou foi em um co-

lado, mas quando toca ninguém fica parado”. Seja

mercial do jeep Nissan, passado na Alemanha em

para consumo interno ou externo, o funk vem mes-

2003. O trio brasileiro Black Alien, Tejo e Speed

mo fazendo todo o mundo se remexer ao som do

fez o Funk “Quem Que Caguetou”, que tocou na

chamado “batidão”. O movimento teve início antes

campanha publicitária e ficou mundialmente conhe-

mesmo dos anos 90, quando se tornou popular na

cido como “Follow Me, Follow Me”, ao ser remixa-

periferia do Rio de Janeiro. Suas letras retratavam o

do por Fat Boy Slim. Um ano depois, os funkeiros

cotidiano dos moradores das comunidades, a pobre-

foram capa do jornal “The Guardian”, que publicou

za e a violência que sempre fizeram parte de seu dia-

uma matéria sobre os bailes funks cariocas. A partir

-a-dia. Com uma batida que teve origem na mistura

desse momento, não era mais segredo que o estilo

de gêneros como o Miami bass, que lembra o Hip

musical estava se posicionando internacionalmente.

hop, e o Freestyle, nome que se dá à união de vá-

No mesmo ano, o Dj Marlboro participou do

rios estilos, o funk acabou se tornando uma espécie

maior festival eletrônico da Espanha, o “Sónar”, e

de referência de estilo nas favelas. Era o início dos

da mostra “Brasil 40 degrees”, realizada na Inglater-

bailes, até então marginalizados e condenados pela

ra. O sucesso foi tão grande que ele recebeu convite

sociedade, comandados por nomes como Cidinho e

para mais três apresentações nos Estados Unidos e,

Doca, Mc Marcinho e outros personagens que fize-

por fim, fez uma turnê internacional, passando por

ram o movimento crescer.

países como como França, Alemanha, Croácia, Es-

Alguns anos depois, o ritmo deixou de ser rene-

lovênia e Colômbia e lotou todas as casas de shows.

gado pelas classes mais altas e caiu no gosto popu-

O Funk estava muito bem representado e o mundo

lar. Apesar das letras terem deixado o apelo social

todo já tinha seus primeiros contatos com o ritmo

e passado a retratar situações mais sexualizadas,

e com a cultura originada na parte pobre da cidade

não era mais “coisa de favelado” ouvir as músicas

que, para muitos, até então, era conhecida apenas

ou tocá-las em festas e boates. Elas passavam a ser

como maravilhosa. “O grande sucesso internacional

apreciadas na Zona Sul. O funk finalmente havia vi-

do Funk deve-se, primeiramente, à curiosidade que

rado moda. As pessoas queriam saber mais sobre a

muitos têm sobre o porquê de um povo tão sofrido

melodia contagiante, as letras divertidas e as danças

manifestar-se de forma tão alegre”, explica a soció-

sensuais das músicas. Foi uma verdadeira invasão.

loga. Outros fatores, porém, também atraem a aten-

Para a socióloga Marilia Maia, a libertação do funk

ção das pessoas: as letras, que muitas vezes falam

demorou muito para acontecer. “Antes era motivo

sobre sexo, as dançarinas, com seus corpos e roupas

de vergonha ver o povão se expressar. O país não

exuberantes, e a dança, de grande apelo sexual.

queria aceitar que a voz da favela pudesse fazer su-

Para Rômulo Costa, um dos criadores da “Fura-

cesso entre membros de outras classes”. Para aque-

cão 2000”, o motivo pelo qual os outros países se

les que achavam que o ritmo ficaria apenas dentro

interessam tanto pelo Funk é bem simples. “Nosso

do grupo social de origem, escondendo a classe bai-

povo não é tão rigido em relação ao sexo quanto

xa carioca, ver os MCs, bondes e afins nas emissso-

muitos países mais puritanos. Falamos disso livre-

ras para o Brasil inteiro conhecer foi uma surpresa.

mente. A batida combina com o rebolado das co-

Mas a verdadeira surpresa foi se dar conta de que o

reografias e impressiona qualquer pessoa que não

Funk, aos poucos, ganhava espaço no cenário musi-

conhece o ritmo”. Os países, principalmente da

cal de outros países.

Europa, recebem muito bem os artistas que fazem

O ritmo já vinha aparecendo, timidamente, na

turnê por lá. Entre eles, estão Mc Créu, Gaiola das

mídia internacional nos anos 90 mesmo, mas a pri-

Popozuadas, Mr. Catra e outras pesonalidades que


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já fazem sucesso aqui e tentam a carreira internacional. Mas o que todos gostariam é de ouvir o Funk como o público de lá escuta e entender que sentimento é provocado. Anita Ximenes, espanhola de 32 anos, mora na Inglaterra e, por ter familiares brasileiros, já conhecia o estilo musical antes de começar a ser tocado pela Europa. “O europeu se interessa muito pela cultura mais sensual vinda do povo latino. É claro que o Funk estouraria no verão daqui, quando todos querem sair para dançar e procuram novidades”. A espanhola conta que quando o som começou a ser ouvido nas casas noturnas foi um verdadeiro alvoroço, todos queriam conhecer mais e aprender o rebolado carioca. Era a conquista definitiva de outros territórios: o funk, que inicialmente era marginalizado, saiu das favelas do Rio de Janeiro, fez sucesso entre a elite bra-

O funkeiro Mr. Catra é um dos compositores e cantores mais conhecidos do gênero

sileira e passou a invadir os países que ditam a moda e servem como exemplo para os outros. Famosos

da funkeira Deize Tigrona. Alguns anos depois,

“Não há ritmo melhor para dançar que o Funk. Não

internacionais escutaram e gostaram do ritmo. Can-

M.I.A. pediu ao Dj Malrboro dois remixes para sua

sei explicar. Parece que desperta algo nas pessoas. A

tores em turnê no Brasil vão a bailes funk e gostam

música, além de se apresentar com ele em duas noi-

pista fica lotada”, conta, lembrando que quando tem

tanto do que encontram que incluem a batida em suas

tes no S.O.B’s, de Nova York. Os ingressos esgota-

uma brasileira na boate, esta se destaca e todos que-

músicas. Para essa tendência não ser esquecida, os

ram duas semanas antes do show. Outro exemplo

rem aprender a rebolar. “O rebolado da brasileira é

empresários e artistas investem bastante. “A semente

de como o Funk carioca influenciou novos artistas é

único”. Encontrar boates tocando Funk em seus dias

já foi plantada. Nosso som é ouvido por milhares de

o caso da cantora japonesa Tigarah, que conheceu o

normais, apesar de todos gostarem, não é assim tão

pessoas em todo o planeta, mas é preciso continuar

ritmo em uma festa na casa de um amigo brasileiro e

fácil, mas há festas temáticas e bares que atendem

levando as novidades até lá. Os MCs e seus dança-

sentiu-se inspirada. Lançou uma música na internet

à demanda.

rinos, de tempos em tempos, fazem turnê e agitam

e acabou fazendo sucesso em seu país. Mas essa não

Na boate Favela Chic, a música dos bailes é en-

os gringos”, conta Rômulo Costa, lembrando como é

foi uma surpresa para a artista: “Sabia que o Japão

contrada diariamente. Na verdade, é um ambiente

importante mostrar que o que vem da classe mais po-

ficaria louco com o swing do Funk”.

criado por brasileiros, na França, com filial na Ingla-

bre também é valorizado. O Funk chegou no terreno

Todos sabem dos cantores que se inspiraram, mas

terra, e sua proposta é mostrar um pouco do Brasil.

estrangeiro e conquistou seu espaço. Pelo menos até

e os DJs? Como o ritmo ficou muito popular nos

Tem exposições de arte, é restaurante, bar e boate

a próxima tendência aparecer.

outros países e as passagens dos MCs eram muito

ao mesmo tempo. As comidas e bebidas são típi-

curtas, as casas noturnas queriam continuar tocando

cas do Brasil, como a caipirinha, o drink mais pe-

o estilo musical. Com isso, vários DJs acabaram se

dido pelos freqüentadores, que, em sua maioria, são

especializando na música. O americano Paul Kirk

estrangeiros e não brasileiros que moram lá, como

Com o reconhecimento internacional do Funk, o

é um deles. Desde o estouro do Funk na América

muitos imaginariam. O som fica sob o comando do

ritmo deixou de ser propriedade apenas do Brasil e

do Norte e na Europa, o DJ ficou encantado com as

DJ Gringo e de seus convidados como Dj Marlbo-

passou a ser produzido em outros países também. A

músicas e resolveu incluí-las em seu set list. Deu

ro, que sempre que está viajando marca presença na

cantora do Reino Unido, M.I.A., lançou seu cd de

tão certo que o público pedia mais músicas. Atual-

boate, e outros MCs. O Favela Chic é um ponto de

estreia em 2004 e a faixa mais tocada foi “Bucky

mente, além de não deixar faltar novidades aqui do

encontro dos músicos do Brasil e é muito elogiado

Done Gun”, que usava a batida da música “Injeção”,

Brasil, Kirk passou a fazer seus próprios remixes.

pela mídia internacional.

O importado com jeitinho de brasileiro


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Samba no pé dos brasileiros e do mundo inteiro Foto: www.sxc.hu

minho, 22 anos, integrante do grupo Malícia Brasileira conta: “Os sambas antigos são os mais pedidos nos shows. É claro que são aqueles que fizeram bastante sucesso e fazem até hoje. Mas é legal poder relembrar e ver todo mundo cantando junto”

.

Derivadas do samba, outras formas musicais ganharam formas próprias, como o samba de gafieira, o samba enredo, o samba de breque, o samba-canção, o samba-rock, o partido alto, o pagode, entre outros. Bruna Neves, 23 anos, é freqüentadora assídua de rodas de samba. “Eu escuto todos os ritmos de samba. Eu amo! Sempre que viajo para o exterior sinto um pouco de falta de ouvir, porque lá não é como aqui no Brasil, que as pessoas ouvem com frequência. É claro que elas gostam. Os shows ficam lotados, mas é diferente. Mas para não ficar com saudade, vou aos eventos que rolam”. O samba ficou tão conhecido no exterior que, em 2010, a Walt Disney Records lançou um projeto no qual o mais brasileiro dos personagens de Walt Disney, o pa-

Paula Almeida

pagaio Zé Carioca, estampa a capa de um CD de músicas de filmes famosos da Disney cantadas em ritmo de

Conhecido no Brasil e no exterior, o samba é consi-

perseguidos, os sambistas não deixaram de lado o rit-

samba, em português, por intérpretes brasileiros. O tra-

derado o ritmo que contagia as pessoas. Já diz o trecho

mo e o gênero conquistou seu espaço. Hiago Emanuel,

balho reúne artistas de diferentes estilos, como Arlindo

da música do Paulinho da Viola que “o samba é ale-

20 anos, toca surdo na escola de samba Salgueiro. “Eu

Cruz, Jorge Aragão e a nova geração do gênero, como

gria, falando coisas da gente. Se você anda tristonho,

acho que as transformações que aconteceram fizeram

Diogo Nogueira, Casuarina e Ana Costa. O disco traz

no samba fica contente”. Foi nesse embalo que o estilo

o samba cair no gosto de todos. Ninguém consegue

clássicos dos desenhos como Tio Patinhas, Margarida,

caiu no gosto dos estrangeiros que associam o ritmo ao

ouvir o ritmo e ficar parado, por mais que não tenha o

Mickey, Pateta e Margarida caindo no samba. Bianca

futebol e ao carnaval. Transformado em um símbolo

samba no pé, cada um dança do jeito que pode. É mui-

Duarte, 15 anos, assegura: “Ganhei o cd da minha mãe

nacional, o samba hoje é sucesso em todos os cantos

to engraçado ver os gringos caindo na dança quando

e adorei. Gosto de samba e dos personagens da Walt

do mundo. Apesar de ser um ritmo bastante conhecido

eles vão curtir a noitada na escola de samba”.

Disney. Agora que os dois se juntaram, ficou perfeito”.

e de que hoje todo mundo gosta, nem todos conhecem

À medida que o samba ficou visado como uma ex-

O sucesso que o samba fez fora do Brasil apenas

sua verdadeira história, marcada por preconceitos du-

pressão urbana e moderna, ele passou a ser tocado nas

confirma sua capacidade de conquistar fãs, indepen-

rante muito tempo.

rádios, se espalhando pelos morros cariocas e bairros

dentemente do idioma. Com uma trajetória longa,

Nascido na Bahia, no século XIX, da mistura de

da Zona Sul do Rio de Janeiro. Sambistas e compo-

o samba mostrou que, como toda música, ele foi e

ritmos africanos, o samba se desenvolveu e criou suas

sitores são lembrados até hoje pelos sucessos de suas

sempre será o ponto de encontro, a alegria gratuita e

raízes no Rio de Janeiro. Na época, não era bem visto

músicas. Dentre diversas canções, é impossível não se

garantida e que jamais vai acabar. Sendo assim, fica

pelas classes média e alta. Por ter vindo de origem ne-

lembrar de “O que é que a Baiana tem?”, de Dorival

aqui um pedido final: “Não deixe o samba morrer,

gra, o ritmo sofreu muito preconceito. Mesmo sendo

Caymmi, e “ Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso. Rô-

não deixe o samba acabar“.


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Foto: www.sxc.hu

produtores que queriam mudar a imagem da cachaça no Brasil e divulgá-lo no mundo. A mesma ideia foi aplicada com a tequila no México, e parece que ser “cachaceiro”, algum dia, vai ser “coisa fina”. Fino mesmo é o termo que os especialistas em cachaça carregam consigo: “cachacier”, variação da palavra francesa sommelier, que designa o expert em vinhos. Carlos Mendonça Xavier, para os amigos, “Carlitos”, tem de 33 anos e é barman há 12. Começou bebendo com os amigos na adolescência e sua paixão foi tão instantânea que quase fez dele um “embaixador” da bebida tropical. Foi para Miami, Estados Unidos, em 2003, e trabalhou por seis meses fazendo drinks exóticos à base de cachaça em um pub frequentado por muitos brasileiros, mexicanos e americanos.“Lá, a bebida só é interessante para quem não é latino. Quem nunca experimentou, (pura ou bem elaborada) estranha, mas sempre acaba pedindo mais uma dose. A caipirinha é o drink mais pedido nas boates também. É refrescante e

Drinks brasileiros ultrapassam as fronteiras do país

quente ao mesmo tempo. A galera gosta de começar a

Desirée Barreto

preferem suave, quase um “suquinho”. Outros, já as-

noitada com pé direito, mas não é uma bebida de baixo custo, nem lá fora nem no Brasil”. E não é barata mesmo. A média de preço por aqui é de R$7 a R$12. Em Miami, segundo Carlitos, chega a $9. Atualmente, o barman trabalha em dois bares na Lapa - Parada da Lapa e Teatro Odisséia. “Alguns sumem: queremos é cachaça no limão!”

Retire as pontas e corte o limão em rodelas finas. Coloque o limão e o açúcar em um copo pequeno

e Nova Zelândia. Nessas regiões, a branquinha tem o status de bebida chique.

Mas nem só de caipirinha é feita a festa. Existem mais de cinqüenta drinks diferentes feitos à base da

e, com um socador de madeira, pressione apenas o

Nesses países, o percentual de exportação é de

cachaça: Escrava Isaura, Garota de Ipanema, Banana

centro da fruta, sem forçar a casca. Isso evita que o

1%. Parece pouco, mas se for levado em conta que

Brasil, Capoeira, Suor de Virgem, entre outros. Os

drink fique amargo. Acrescente a cachaça, misture

no Brasil são produzidos mais de um bilhão de litros

nomes chamam a atenção de quem bebe e são carac-

e complete com gelo picado. Um dos dez mais fa-

de cachaça, não é. E, de olho na tendência, muitos

terísticos do país de origem. Mais um atrativo para os

mosos drinks do mundo, aprovado, inclusive, pela

empresários exportam a bebida brasileira para vários

apaixonados pela bebida. A cachaça literalmente está

top model Gisele Bündchen e pelo ex-presidente

cantos do “mapa mundi”, principalmente para os pa-

na moda. O bar que não servir caipirinha está “por

dos Estados Unidos, George Bush, é feito à base de

íses de região fria. Para levar o produto para fora do

fora”. É cultura brasileira na veia. O país planta, fer-

cachaça, bebida brasileira que cruzou fronteiras e

país, é fundamental oferecer qualidade. O mercado

menta e vende. É típico de suas terras férteis. É para

conquistou o mundo. Antes associada a pobres ou

internacional é muito mais exigente que o nacional.

chamar de brasileira. Poetas, boêmios, presidentes,

vagabundos, a bebida hoje é descolada e fina. A mis-

O trabalho de valorização da bebida no exterior

empresários, jovens... todos se rendem a esse sabor.

tura mais quente do século tem conquistado consu-

ganhou força em 1997, com o Programa Brasileiro de

Dele saem as melhores doses do Brasil para o mundo

midores na Europa, Estados Unidos e até Austrália

Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC), que reuniu

inteiro. Um brinde a mais esta riqueza nacional.


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Adversários no futebol mas unidos na música: artistas brasileiros são sucesso na Argentina Leonardo Torres “A cor dessa cidade sou eu. O canto dessa cidade é

Ele, aliás, é um admirador assumido da música

O número só não é maior do que o público para o

meu”. Imagine esses versos cantados com sotaque es-

brasileira. Fito, considerado um dos maiores compo-

qual Gilberto Gil se apresentou no mesmo ano. Duran-

panhol. Pois isso é normal para Daniela Mercury. Com

sitores do país vizinho, se esforça para falar em por-

te as comemorações do Bicentenário da Independência

sua turnê de 2009, a baiana lotou o Teatro Gran Rex,

tuguês em suas passagens pelo Brasil - em 2010, ele

Argentina, um milhão de pessoas estiveram na Aveni-

o Orfeo Superdomo, o Metropolitano e o Luna Park.

finalizou seu CD em um estúdio carioca e fez apre-

da 9 de Julio para assistir a um super show com vários

Todas são casas de shows argentinas. Em 2010, ela re-

sentações em Porto Alegre e São Paulo. Prova dessa

cantores. Entre os nomes nacionais, uma apresentação

petiu o feito com seu álbum ‘Canibália’ e voltou ao país

admiração são as parcerias que ele já fez. Além de

se destacava: a de Gil. Mais uma prova da adoração

para mais quatro apresentações. “Sempre fui muito bem

Daniela, Fito já cantou com Paralamas do Sucesso,

pela música brasileira, se tratando de um evento extre-

recebida na Argentina. O carinho que eles têm por mim

Titãs, Rita Lee, Zélia Duncan e Caetano Veloso.

mamente nacionalista. O estudante Nicolás D’Orazi,

é muito especial. O calor humano dos hermanos sempre fez com que eu me sentisse em casa”.

Durante a temporada de shows na Trastienda Club, em Buenos Aires, em 2010, Fito Páez aceitou

de 21 anos, estava no show: “Tinha muita gente lá. As pessoas vieram de toda parte do país só para isso”.

Daniela não é um caso à parte. Ao contrário do que

abrir mão das músicas de seu último álbum e cantar

Nicolás ouve cantores brasileiros desde pequeni-

possa se pensar, a Argentina consome muita música

apenas seus sucessos. Mas ele fez questão de cantar

ninho. Quando criança, era axé o que tocava na sua

brasileira. Prova disso é que as lojas de CDs e DVDs

uma música: ‘Vaca Profana’, de Caetano. “Eu conhe-

casa. “Viajava no verão com meus pais para o Bra-

da capital Buenos Aires reservam uma sessão especial

ci essa canção em um show que fiz com ele no Co-

sil e voltávamos ouvindo as músicas que estavam

para os artistas. E a área exclusiva não é pequena não.

pacabana Palace. É bem difícil de cantar, mas eu vou

na moda, nos atualizando”, conta. Hoje em dia, seu

Ali se encontram álbuns de Maria Rita, Gilberto Gil,

tentar”. A plateia escutou atenta ao ídolo cantar em

gosto musical mudou. Enquanto sua mãe segue com

Tom Jobim, Rita Lee, Marisa Monte, Alexandre Pires

português e, ao fim, aplaudiu forte.

o axé e pede para ele baixar músicas da Ivete San-

e Caetano Veloso, por exemplo. A oferta é reflexo da

O carinho por Caetano não é exclusividade de Fito.

galo na Internet para ela, ele prefere Rita Lee e Lulu

imensa demanda existente. Como se pode ver, a rivali-

Entre 2000 e 2010, o baiano vendeu 240 mil cópias de

Santos. “Na última vez que a Rita Lee veio, quis ir

dade dos campos não se estende à arte.

seus CDs e DVDs na Argentina. O cantor diz que os

ao show dela, mas não deu”. Ele também quer ir

Para Daniela, o futebol é uma paixão comum en-

argentinos são o melhor público do mundo. “Melhor

ao show da Daniela Mercury: “Ela vem sempre e

tre os países e, ao mesmo tempo em que os separa, os

até que o brasileiro. Não faz barulho quando estou can-

é muito agradável. Os argentinos gostam dela e da

mantém muito próximos: “E a música é a linguagem

tando e é puro entusiasmo quando termino a música”.

simpatia que irradia”.

universal que nos une”. Em sua última turnê lá, ela

Daniela Mercury concorda com ele: “Eles são muito

Outra baiana que conquistou o povo do outro lado

foi assistida por 13 mil pessoas. Tratada como es-

calorosos, apaixonados, atenciosos. Aprendem as le-

da fronteira pela simpatia é Ivete Sangalo. O DVD

trela, deu entrevistas a rádios e canais de televisão.

tras e ficam atentos às coreografias”. Os depoimentos

‘MTV Ao Vivo’ vendeu mais de 40 mil cópias lá, sem

A baiana cantou até no programa da apresentadora

são de quem tem experiência no assunto. Caetano, por

grandes divulgações. Ela tem um fã clube, o Nación

Susana Gimenez, a ‘diva argentina’ - mais ou menos

exemplo, já se apresentou diversas vezes na Argentina.

Ivete Argentina, desde 2008, que já conta com três mil

uma versão latina da Hebe Camargo. Tanta popula-

Mas um ano especial foi 2010. Os ingressos dos dois

fãs. Eles ligam para as rádios e pedem para que to-

ridade já rendeu a Daniela duetos com grandes can-

shows que ele fez em março esgotaram e, por isso, um

quem as músicas dela. O objetivo é divulgar seu nome

tores nacionais como Mercedes Sosa – a quem ela

terceiro foi marcado para maio. A apresentação extra

no país para que ela vá fazer um show lá. Ivete só se

faz uma homenagem em seu show - Diego Torres,

aconteceu na Feira do Livro, um evento anual, e reuniu

apresentou na Argentina uma vez, na época da Banda

Marcela Morelo e Fito Páez.

nada menos que 45 mil pessoas.

Eva, há dez anos, em uma boate brasileira. “Ela nunca


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Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

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Foto de divulgação

A baiana Daniela Mercury faz diversos show pelo mundo. A agenda da musa do axé contempla diversos países não sé na América Latina como também na Europa mais voltou. Queremos trazê-la de volta!”, conta a pre-

xada Fluminense. Abandonou o pacote de viagem já

convidar para cantar com ela no DVD o cantor Diego

sidente do fã clube Lorena Tames, de 31 anos.

pago e comprou ingressos para ver Ivete. “Perdi três

Torres, sucesso nacional que já fez uma versão em

Os fãs são fervorosos. Embora Daniela Mercury

dias de hospedagem em Búzios e fui para São Gon-

espanhol para a música de Lulu Santos ‘Como uma

acredite que não é preciso entender português para

çalo. Mas valeu a pena, foi o melhor show da minha

onda’ (que virou Como uma ola).

sentir a alegria e compreender a poesia das músicas

vida. Ela transmite muita energia e alegria”. Tanta

Quem também tem uma legião de fãs sedentos

brasileiras, Lorena conta que muita gente está apren-

empolgação tem explicação: ao saber que havia uma

por sua presença no país é Xuxa. Entre 1991 e 1993,

dendo o idioma por causa de Ivete. “Tem um mon-

fã argentina na plateia, a produção de Ivete Sangalo

quando teve um programa de televisão no país - o El

te de cursos de português aqui. E mesmo quem não

convidou Paula para assistir ao show de cima do trio.

show de Xuxa - a Reina de los bajitos conheceu o

sabe, aprende pelo menos a cantar as músicas dela”.

“Foi incrível. Depois tirei uma foto com ela”.

que são os fãs seguidores. “Tinha mais ou menos 650

Paula Soledad, de 27 anos, é uma das integrantes do

A vida de Paula e de outros fãs pode ficar mais fá-

táxis cadastrados que me seguiam. Hoje em dia, eles

fã-clube que aprendeu o português. Mas essa não é

cil a partir de agora. O último DVD de Ivete Sangalo,

vêm ao Brasil só para me ver. Eu fico encantada. São

nem de longe a sua maior conquista.

‘Multishow Ao Vivo’, gravado no Madison Square

perseguidores já”, brincou, em entrevista ao Altas

Como Ivete não vai à Argentina, Paula veio ao

Garden, em Nova York, faz parte de uma estratégia

Horas, da Rede Globo, em 2009. Na ocasião, havia

Brasil para ver o show da cantora. Ela tinha planeja-

de marketing para lançar a carreira internacional dela,

fãs argentinos na plateia, provando o que ela dizia.

do uma viagem a Búzios, mas descobriu que na mes-

principalmente na América Latina. Quanto à Argen-

Antes mesmo de ser contratada para trabalhar na

ma época haveria um show em São Gonçalo, na Bai-

tina, fica evidente a atenção da cantora com o país ao

Argentina, Xuxa lançou, em 1990, um disco em espa-


12 | Revista Veiga Mais

Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

nhol que, de cara, foi platina triplo. Depois de estrear

terceiro e empatadas em quarto ficaram Marisa Monte,

produzíamos o CD em Buenos Aires, fizemos um

o programa, as vendas desse mesmo álbum alcança-

Elisa Regina e Maria Bethânia. Quanto a essa última,

show para 200 pessoas em uma boate. Ninguém

ram 2,75 milhões e ela ganhou o disco de diamante

foi Vinícius de Moraes, queridíssimo pelos portenhos

conhecia a gente, mas nos receberam muito bem. Foi

duplo. O álbum seguinte, Xuxa 2, repetiu o mesmo

no auge da Bossa Nova, quem a levou para cantar na

a maior zoeira!”. Essa apresentação foi fundamental

número. Assim, ela se tornou uma das cantoras brasi-

Argentina pela primeira vez. Desde então, ela volta com

para abrir espaço nas rádios. “Viram que tocamos de

leiras – ainda que prefira ser chamada de animadora

frequência para apresentações por lá.

verdade e aí o tratamento foi outro”.

– que mais vendeu fora do país. Xuxa solamente para

Agora, quem quer vencer enquetes argentinas é o

O álbum – lançado em novembro e intitulado

bajitos - seu último trabalho em espanhol - foi lança-

Jota Quest. Inspirados no Paralamas do Sucesso, que

Dias Mejores – conta com faixas como Encontrar

do em 2005 na Argentina, portanto mais de dez anos

teve muito êxito na Argentina e em 1992 lançou um

a alguién, Amor Mayor, La Plata e Una vez más,

depois de ter deixado de trabalhar para esse público,

CD com versões de suas músicas em espanhol, a ban-

além de uma participação da dupla Dante Spinetta

e vendeu 40 mil cópias do DVD.

da mineira fez o mesmo. A ideia é fazer do Jota Quest

e Emmanuel Horvilleur, dois dos principais nomes

O que pode ser uma surpresa para os brasileiros, cer-

um sucesso na Argentina nas mesmas proporções que

do funk e do hip hop argentinos. Se a vendagem

tamente não é para os argentinos. Em recente enquete

no Brasil. O convite partiu da Sony Music Argentina,

de outros CDs brasileiros na Argentina representar

realizada no site do jornal de maior circulação do país, o

que se interessou pela forma como a banda mistura

alguma coisa, o Jota Quest tem grandes chances de

Clarín, para saber qual cantora brasileira era a mais que-

rock, pop e funk.

ser mais um sucesso na terra vizinha. De pequenos

rida lá, não deu outra: Xuxa venceu com 32,9% dos vo-

Rogério Flausino, o vocalista da banda mineira,

tos. Gal Costa ficou em segundo, Daniela Mercury em

está animado com os novos voos. “Enquanto

um público muito maior – a tendência é essa.

Vinícius de Moraes e Elis Regina já

apelido especial, dado pelos argentinos: “Buda da

tinha gravado em outro idioma que não o meu,

Bossa Nova”.

mas quando tentei fazer as versões das músicas

eram queridos pelos argentinos

shows com 200 pessoas na platéia para turnês com

Este novo gênero musical foi o responsável por ele-

em espanhol, elas não soavam da mesma maneira

var o nome do Brasil ao cenário musical mundial e a Ar-

no meu coração”. O primeiro contato dela com a

Não é de hoje que a música brasileira faz su-

gentina foi privilegiada por estar tão perto daqui. “Até

música brasileira aconteceu quando ainda era pe-

cesso na Argentina. Pelo contrário. Elis Regina e

hoje, as pessoas aqui gostam muito de bossa nova”, con-

quena, porque seu avô morava em São Paulo, mas

Vinícius de Moraes, por exemplo, são lembrados

ta Paula Soledad. Vinícius de Moraes fez tanto sucesso

ela só conheceu Elis depois da morte da cantora.

até hoje por lá. “Tarde em Itapoã”, um dos gran-

lá que seus discos concorriam com os de artistas nacio-

“Foi por volta de 1985. Um amigo me emprestou

des sucessos do compositor, foi escrita, ao con-

nais e seus shows eram frequentes e sempre lotados. Ele

um disco dela e eu comecei a buscar todos os ou-

trário do que possa se pensar, em um apartamento

chegou até a gravar um disco ao vivo em Buenos Aires,

tros para escutar”.

de Buenos Aires. Essa e outras curiosidades estão

ao lado de Maria Creuza e Toquinho.

O gosto por ela foi tanto que, além do CD em

no livro “Nuestro Vinícius”, recém-lançado pela

Ele cantava em português nas suas apresentações

sua homenagem, Julia colocou o nome de Elis na

autora argentina Liana Wenner – provando a di-

na Argentina – o que podia ser considerado um empe-

sua filha mais nova. “Todo mundo sabe da minha

mensão dele no país.

cilho. Mas os argentinos até preferem assim. Nicolás

admiração por ela”. Julia lamenta não ter podido

A publicação se propõe a desvendar a rela-

acha que os artistas expressam melhor seus sentimen-

assistir a um show de sua “ídola” e ter que se

ção do cantor e compositor com a Argentina e

tos quando cantam em seu próprio idioma. “Gosto de

consolar com os DVDs. Mas Elis Regina não é

o Uruguai. Para Liana, Vinícius virou um mito

quando cantam em espanhol, me sinto familiar. Mas

a única cantora brasileira de quem ela gosta. Ju-

na Argentina porque as pessoas viam nele uma

prefiro que façam isso com uma música ou duas e

lia também ouve Djavan, Gal Costa e Ivan Lins,

válvula de escape à ditadura. Vinicius, bebendo

não um álbum inteiro. É melhor que cantem na língua

cujos shows ela já assistiu. “Sou muito fã do Ivan

muito mais do que ‘socialmente’, representava

nativa. O português é lindo de se escutar”.

Lins. Queria fazer um dueto com ele. O amo”. A

uma fuga ao conservadorismo da época. Vinicíus

O mesmo pensa Julia Zenko, uma renomada can-

declaração é dela, mas fala por muitos. Quando

de Moraes, aliás, foi uma figura muito presente

tora argentina que gravou um álbum inteiro em tri-

se trata de música brasileira, é esse o sentimento

naquelas terras entre 1968 e 1976 e tinha até um

buto a Elis Regina. “O português me encanta. Nunca

dos argentinos.


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Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

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Capoeira: gingado típico brasileiro

das pessoas. Sentadas ou em pé, elas cantam tão alto

Thatiana de Albuquerque

o pandeiro e o atabaque fazem parte dessa sedução.

Um dos motivos do sucesso da capoeira é a energia que isso surpreende e atrai as pessoas em volta. A música é contagiante. É um som que seduz. O berimbau, Por curiosidade, todos vão parar para descobrir o que é

Um círculo vai se formando, os instrumentos co-

E essa expansão não aconteceu de repente. Ao

e, assim, descobrir que isso é a capoeira. Mestre Tony,

meçam a ser tocados, as palmas ficam cada vez mais

longo dos anos, o grupo foi levando a capoeira para o

do “Grupo de Capoeira Regional do Tempo”, que está

fortes, as músicas ecoam da boca de todos e logo duas

mercado de entretenimento, mostrando a plasticidade

há nove anos no Japão, acredita que é essa admiração

pessoas tomam o centro da roda para lutar. Assim é

da arte nos canais de televisão. Com o tempo, eles

das pessoas que faz a capoeira crescer lá fora e por

a capoeira. Ela, que se originou da necessidade de os

perceberam que as pessoas estavam se adaptando e

isso não é difícil trabalhar com isso em outros países.

escravos se protegerem contra a violência e repressão

decidiram aumentar o grupo. “Você tem que, de certa

“Difícil é a burocracia e os trâmites de legalização. A

dos colonizadores brasileiros, hoje serve de brincadei-

forma, se adaptar à cultura, mas também fazer eles se

adaptação ao clima também é complicada, mas depois

ra para os meninos e instrumento de trabalho para seus

adaptarem a nossa cultura, é uma via de duas mãos.

de um tempo acostuma”.

professores. Nas rodas, além de jogadores, os amantes,

Acho que a transição se faz naturalmente e com o

Com toda essa adaptação, ele não consegue dizer

curiosos, todos param para admirar a luta. Por ser tão

tempo”, acredita o Mestre Boneco. Ele também viaja

qual o país que melhor acolheu a luta. “Existem

famosa, só no Brasil, existem vários grupos que es-

pelo mundo, dando works-shop, palestras e cursos

muitas formas de mostrar a capoeira lá fora e,

palham essa cultura. Mas não é só aqui que essa arte

em universidades. E hoje tem hoje sob sua tutela

dependendo dessa forma, ela cresce ou não”. Ele

marcial é desenvolvida e vem ganhando a cada dia

cerca de 70 instrutores espalhados pelo mundo.

ainda destaca a diferença da capoeira aqui do Brasil e

mais e mais adeptos. Está para surgir um país onde ela

Foto: www.sxc.hu

a de fora. “Aqui no Brasil mostramos a nossa cultura

não faça sucesso. Toda a Europa, os Estados Unidos,

para brasileiros e tentamos conscientizá-los da nossa

México e lugares diferentes como Indonésia, Israel e

realidade. Já em outros países, as pessoas pagam para

Japão importaram o jeito brasileiro de ‘gingar’.

aprender, mas muitas vezes não entendem o que ela

Exemplos dessa difusão são a “Abada-Capoeira”

significa, eles gostam da plasticidade”.

e o “Grupo Capoeira Brasil”, que atualmente são

Mariana Roriz, ex-aluna do “Grupo Capoeira

algumas das maiores divulgadoras desta arte tanto

Brasil”, percebeu essa expansão na recente viagem

no Brasil quando no exterior, realizando cursos,

que fez aos Estados Unidos. Em Los Angeles, ela

seminários e projetos. O “Grupo Capoeira Brasil”

encontrou uma sede de um grupo de capoeira. Ela foi

tem representantes em todos os estados brasileiros e

para o país a passeio, e quando encontrou a capoeira

em 42 países nos cinco continentes. Mestre Boneco,

sendo praticada em outro país, ficou impressionada.

fundador do grupo, tem 37 anos de capoeira e explica

“Não sabia que existia sede lá. A Capoeira Brasil foi

que o título de Mestre se conquista com o tempo.

uma das primeiras, mas agora existem várias outras. É

“Hoje esse título está muito comum, mas é preciso

muito bom saber isso”, conta a Mariana, que parou de

muito tempo, dedicação, paciência, disciplina, estudo,

praticar a capoeira para jogar vôlei.

amadurecimento para recebê-lo, já que ele é concedido

No âmbito internacional, existe a Federação Inter-

ao capoeirista”. Ele fundou o grupo em 1989 e foi para

nacional de Capoeira (Fica), que coordena os trabalhos

Los Angeles em 1999. Lá eles conseguiram crescer.

das Federações Nacionais de Capoeira existentes no

“Hoje temos filiais nos quatro cantos do mundo. Só

Canadá, Portugal, Argentina, França, além da Confe-

nos EUA temos Los Angeles, Eagle Rock, Hollywood,

deração Brasileira de Capoeira. A Fica também orga-

Valley, Long Beach, Redondo Beach, San Diego, sem

niza Federações Nacionais nos EUA, Espanha, Japão,

contar com New York, Boston, Miami, Texas, Arizona.

Israel, Colômbia, Inglaterra, Singapura, Rússia e Su-

Além da China, Japão, Australia, Nova Zelândia,

íça. Uma prova de que cada vez mais a luta está se

Europa e, claro, quase todos os estados no Brasil”.

valorizando nos outros continentes.


14 | Revista Veiga Mais

Carnaval Carioca é referência pelo mundo Tatiana Rodrigues

Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012 Paraíso School Samba ou London School of Samba,

sentação em Salsódromo. Em 2009, por exemplo, 50

originária do Reino Unido, com uma rica história que

componentes da Escola de Samba Imperatriz Leopo-

remonta a 1984. O projeto ensina samba, percussão e

dinense estiveram por lá, proporcionando uma grande

dança para mais de 26 mil pessoas. A intenção é mis-

festa aos colombianos. “A recepção lá fora é a melhor

turar sambistas brasileiros aos ingleses e, para tanto,

possível, porque eles não estão acostumados e não co-

são convidados alguns componentes dessas escolas

nhecem quase nada do nosso carnaval. Samba para eles

de samba cariocas, para movimentar ainda mais a

é coisa de outro mundo, eles ficam super encantados”,

festa. “O carnaval é europeu, mas a ideia surgiu no

conta Denise Alfino, diretora da ala dos chocalhos da

momento em que eles conheceram o carnaval do Rio.

bateria da escola. Depois do show, os ritmistas tiveram

Com isso, acabam nos convidando para deixarmos à

que ir para o ônibus que os levava para o hotel escolta-

festa européia com jeito de festa carioca”, explica a

dos por seguranças. “Éramos atração e eu me senti fa-

sambista Joelma Lisboa, que, além de desfilar, é es-

mosa”, brinca Denise.

posa do intérprete Bruno Ribas. Ele puxou o samba

O Paraguai é outro país que também já vem apresen-

enredo em Londres em 2009. A London School of

tando o desfile no El Carnaval Brahma, muito conhecido.

Das muitas festas populares existentes no Brasil, sem

Samba, que desfila todo ano pelas ruas do bairro lon-

Em 2010, a Imperatriz também esteve por lá. No Brasil,

dúvida, o carnaval é a mais popular de todas. Hoje, ela

drino de Notting Hill, tornou-se o maior carnaval da

a festa acontece durante os quatro dias que precedem a

é o que se pode chamar de produto de exportação, e o

Europa. “Cantar em Londres foi algo ímpar na minha

quarta-feira de cinzas, que é o primeiro dia da Quaresma,

Rio de Janeiro rouba a cena neste quesito. Por isso, vem

carreira como intérprete”, afirma Bruno.

no calendário cristão ocidental. “Espero o ano todo pelo

se tornando o mais exportado do Brasil. Durante os dias

Mas a Colômbia também está indo pelo mesmo

carnaval. Eu adoro. Desfilo aqui no Rio e também já fui

de folia, os olhos de todos os países ficam focados na Ci-

caminho e sempre abre sua feira, em Cali, com apre-

conhecer nossa festa sendo mostrada na Europa. É lindo

dade Maravilhosa. O desfile acontece no Sambódromo, chamado de Passarela do Samba, na Avenida Marquês

e diferente”, conta a bancária Natália Farias. Fotos: www.sxc.hu

Aline Raibolt também é admiradora do carnaval e

de Sapucaí. A partir dessa grande festa profana e linda

como casou e foi morar na Europa, resolveu, no dia

que a Cidade apresenta, as escolas acabam sendo convi-

do seu casamento, convidar a bateria do Império Ser-

dadas para levar o carnaval para todo o mundo. Os desfi-

rano para tocar em sua festa na Noruega. “Os grin-

les se tornaram famosos e são vendidos para fora do país.

gos adoram, e como meu noivo já conhecia o Brasil,

“Muitos empresários europeus, ingleses e de ou-

levamos uma parte da escola pra lá e a galera amou.

tros lugares visitam nossa passarela, se deslumbram

Realmente a escola de samba animou ainda mais meu

com a festa e aqui mesmo pegam contatos para levar

casamento”, conta Aline.

as escolas para fora,” conta José Carlos Machine, síndico do Sambódromo.

Lá fora, cada país tem seus dias de festa. Em cada local, existe uma época do ano eleita para “co-

“Sempre foi assim, trabalhei durante um tempo

memorar”. Independentemente disso, os festejos car-

como assessora de imprensa da Mangueira e sempre

navalescos acontecem em várias partes do mundo.

havia pessoas entrando em contato comigo para agen-

Suas origens encontram-se na antiguidade, mas não

dar visitas a quadras, com interesse em levar a agre-

se sabe ao certo onde se iniciaram. Cada lugar tem

miação para fora do país,” revela a jornalista Monica

sua maneira de solenizar essa data. Mas também não

Monteiro. “Além de ser bom para a cultura brasileira,

se tem certeza sobre a origem da palavra “carnaval”,

essa exportação ainda traz dinheiro para a escola, já

embora a teoria mais aceita seja a de que esteja ligada

que os países pagam caro por essa festa”, revela Rute

à expressão “carne vale” (adeus à carne), como se

Alves, porta bandeira da Unidos de Vila Isabel.

os festejos profanos fossem os momentos finais de

Vários países importam o festejo carioca. Lon-

alegria, antes de se adentrar no período doloroso da

dres, por exemplo, apresenta todo ano a Londres

Quaresma, quando, por 40 dias, a Igreja Católica re-


Revista Veiga Mais |

Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

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conhecido, mas em outros cantos do Brasil também tem carnaval. As cidades de Recife e Olinda, por exemplo, onde o carnaval acontece sob o ritmo do frevo e do maracatu, abrigam as folias de rua mais famosas e animadas em todo o país. Já em Salvador, a festa é embalada pelos trios elétricos, que cantam músicas bem típicas da região. Em Manaus, entre os principais eventos, está o tradicional desfile de fantasias. No carnaval de Vitória, o ponto alto são os desfiles de escolas de samba, realizados uma semana antes do passarela do samba, popularmente conhecida como Sambão do Povo. Já em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, o carnaval é muito conhecido por ser fora de época.

Indústria do carnaval O Observatório de Emprego e Renda, da SecreDesfile das escolas de samba do Rio de Janeiro no carnaval de 2012. Foto: Rafael Hecht.

taria de Trabalho e Renda do Estado, apontou que o carnaval de 2009 foi responsável pela geração de cer-

memora os últimos dias de seu líder, Jesus, na Terra,

Alas, além de ter se transformado no maior sucesso da

ca de 850 mil postos de trabalho indiretos e diretos.

fazendo penitência e meditação.

compositora, é cantada, até hoje, nos bailes carnava-

Ainda que temporários, cerca de 55% dos empregos

No Brasil, o carnaval foi trazido pelos portugueses,

lescos espalhados pelo país e até fora dele. Atualmen-

adicionais foram ocupados por pessoas desempre-

com o nome de “entrudo”, época em que aconteciam

te, Rio de Janeiro, São Paulo e algumas outras cidades

gadas. São maquiadores, cabeleireiros, aderecistas,

brincadeiras violentas, no início, com lançamento de

brasileiras exibem escolas de samba, que participam de

figurinistas, costureiras, sapateiros, operários das fá-

farinha, tintas, frutas e água suja nas pessoas. Práticas

desfiles organizados por equipes especiais. Nas duas

bricas de tecidos e armarinhos, fabricantes de másca-

proibidas, posteriormente, e substituídas pelas serpenti-

principais cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, a

ras, de confetes, de paetês, de serpentinas. Também

nas de papel e pelos confetes coloridos. A folia trazida

disputa pela eleição da principal escola de samba é acir-

preparadores físicos, massagistas, donos de acade-

pelos portugueses começou a sofrer modificações ao

rada, ganhando a participação de torcedores em todo o

mias de ginástica e nutricionistas - profissionais que

assimilar as tradições africanas. Tanto que a tradição

Brasil e até fora.

preparam o corpo e a beleza das musas para a folia.

dos desfiles teve origem nas reuniões organizadas pelos escravos, para preparem os cortejos com bandeiras e

Os ensaios das Escolas de Samba

– ganham com o carnaval. Arquitetos, engenheiros, operários que montam e desmontam arquibancadas,

improvisarem cantigas ao ritmo de marcha. Por isso, os

Apesar de iniciado “oficialmente” na sexta-feira

carpinteiros, artesãos, serralheiros, eletricistas, ilumi-

ritmos e instrumentos de percussão usada no carnaval,

“gorda”, o carnaval de rua carioca começa já em

nadores, sonoplastas, músicos, cantores, fabricantes

que tanto emocionam participantes e espectadores nos

dezembro, quando as escolas de samba da cidade

de instrumentos, ambulantes em geral, equipes de

desfiles, se devem aos escravos africanos, o que é uma

passam a realizar os chamados “ensaios técnicos” no

publicitários, funcionários de hotéis, guardadores de

grande alegria, pois a cultura brasileira ganhou, e muito.

Sambódromo. Verdadeiros desfiles, nos quais o canto,

carro, pilotos, motoristas de ônibus e táxis que trans-

No fim do século XIX, cordões, ranchos ou blo-

a evolução e o ritmo são os elementos principais, esses

portam foliões: todos lucram com a festa de Momo.

cos eram os nomes dados aos grupos carnavalescos da

eventos vêm atraindo a população da cidade e arredores,

Com isso, o carnaval vem crescendo a cada ano,

época, que desfilavam pelas ruas. Em 1899, Chiquinha

que enche as arquibancadas, torce e canta com suas

consolidando-se como o maior espetáculo a céu aber-

Gonzaga, a primeira dama brasileira do choro, foi a

escolas. Uma verdadeira festa popular que captura cada

to do mundo. E, além da cultura, da diversão e dos

autora da primeira marcha carnavalesca, Ô Abre Alas,

vez mais o interesse dos turistas desejosos de assistir e

trabalhos sociais gerados nas comunidades das es-

composta para o cordão Rosas de Ouro. Até então, exis-

participar de um carnaval essencialmente popular.

colas de samba, hoje ele é visto como uma grande

tiam apenas estribilhos populares. A marcha Ô Abre

O carnaval Carioca é o mais exportado e mais

empresa, na qual o amadorismo não é mais tolerado.


16 | Revista Veiga Mais

Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

O Brasil tem os pés no samba e também no balé Jéssica dos Santos Moreira. A mãe de um menino magro e pequenino pro-

ca, que começou sua carreira quando tinha apenas meia

comerciantes, Kátia não acreditava na solidificação de

cura uma modalidade esportiva para, segundo a pro-

década de vida. “Sempre soube o que queria ser quando

uma carreira. Dançava apenas por prazer. “Tinha que

fessora, “melhorar a capacidade de concentração”.

crescesse. Por isso, implorei à minha mãe que me ins-

ter os pés no chão. Afinal, estava em um mundo muito

Ela decide inscrevê-lo em aulas de judô oferecidas

crevesse no balé da escola antes mesmo de aprender a

diferente do meu, onde há pessoas que nasceram em

pela Vila Olímpica de Queimados, Baixada Flumi-

ler e escrever”. Como o município de Seropédica não

berço de ouro e podem investir em si mesmas”. Por

nense. O que era para ser uma solução, porém, aca-

oferece a visibilidade ideal a um dançarino que deseja

conhecer as dificuldades que atrapalham uma iniciante

bou por se tornar um agravante no comportamento

crescer na profissão, Clarice passou a maior parte da in-

a prosseguir no ramo, Ariana providenciou para Ká-

do garoto. Wainer ficou mais agressivo com os cole-

fância na casa de parentes que moravam mais perto do

tia, um teste no Instituto Educacional Santo Antônio

gas de classe por conta dos treinamentos que recebia.

Centro do Rio de Janeiro para conseguir frequentar os

(IESA), em Nova Iguaçu, que oferece bolsas de estudo

Lembrando-se do fato de que o filho sempre demons-

diversos cursos que fez para se aperfeiçoar.

integrais para quem representa a escola em competi-

trou intimidade com a dança – mesmo de brincadeira

Um deles - o curso de extensão em Jazz - propor-

– perguntou se ele gostaria de aprender Jazz. Wainer

cionou a oportunidade de participar de apresentações

A jovem foi a mais elogiada da audição e, desde

disse que sim. Afinal, gostava de se exercitar. Quan-

no México, Austrália e Estados Unidos. Tudo isso,

então, faz parte somente da companhia de dança da

do foi à Vila novamente para se matricular na moda-

é claro, com o apoio constante da família. A advo-

instituição, pois já terminou os estudos lá mesmo. De-

lidade, só havia vagas no balé. Assim começou a im-

gada Cláudia Ogawa, mãe da menina, confessa que

pois de alcançar amparo e reconhecimento, aparece

pressionante trajetória de Wainer no mundo da dança.

nem sempre foi otimista com relação às escolhas tão

outra preocupação: conseguir patrocínio para financiar

Da Baixada Fluminense para palcos internacionais,

precoces da filha. “Tive todo o cuidado de prepará-

os vários compromissos que vêm junto com a dança.

ele enfrentou dificuldades e preconceitos e continua

-la para a realidade dos artistas do nosso país, pois

Por experiência, Kátia diz não contar com apoio de au-

lutando por um lugar nos palcos, mas já é um dos

o apoio do governo é mínimo e o sucesso depende

toridades políticas, pois sabe que na maioria das vezes

muitos talentos que o Brasil tem exportado na arte de

muito do esforço da própria pessoa”.

a resposta para pedidos como este é sempre negativa.

dançar na ponta dos pés.

ções esportivas – entre elas, as de dança.

Uma das responsáveis pela continuidade da tra-

“Receber um não tudo bem, mas a gente ouve muita

Como resultado dos anos dedicados à arte de dan-

jetória de Clarice foi a coreógrafa e bailarina Ariana

desculpa esfarrapada para mascarar a falta de interesse

çar, Wainer Luís Félix, hoje com 14 anos, colecio-

Souto, que leciona sapateado na Academia de Dança

em ajudar um artista ou um atleta”.

na títulos e vitórias. Entre eles, concursos nacionais

de Nova Iguaçu. Afinal, assim que percebeu o poten-

Para contornar o problema, foram realizados ba-

- como o de Joinville e São Paulo –, a conquista do

cial da menina, conseguiu uma vaga em uma das tur-

zares e rifas por parte de seus colegas de classe, que,

destaque no Festival de Dança de Cabo Frio e das

mas da academia e, meses mais tarde, convenceu os

somando-se às contribuições de amigos da família,

medalhas de ouro nos solos realizados em Nova York

pais de Clarice a deixá-la concorrer a uma bolsa de

foram suficientes para pagar a viagem da Kátia à

e Argentina. Assim como ele, diversas outras jovens

estudos no Conservatório de Dança da Tijuca – um

China. Foi onde ganhou sua medalha favorita, a de

estrelas saem do já conhecido e pouco promissor co-

dos melhores do país. Com esses pequenos gestos de

prata no solo. “A emoção é triplicada. Mesmo longe

tidiano dos municípios mais afastados da capital do

atenção, Ariana garantiu um lugar de confiança junto

de casa, a gente se sente bem e acolhido. Como se

Rio para se juntar a seus ídolos – Ana Botafogo, o

à família Ogawa. “Considero essa menina de olhos

aquele fosse o nosso lugar no mundo”.

casal argentino Marianela Nunes e Thiago Soares e

puxados como a filha que não tenho. Não poderia

Cecília Kershe, por exemplo - em grandes apresenta-

deixar de incentivar seu crescimento profissional.”

ções e viajar para o exterior com o intuito de partici-

Ela diz ainda que encontrou muitos amigos e “padrinhos” além de Ariana. Um deles foi o ortopedista

Além de “adotar” Clarice, Ariana também ajudou a

Marcos Celestino – dono de uma clínica de Queima-

jovem Kátia Michelle, 21 anos, moradora de Queima-

dos – que já tratou diversas lesões de alunos de dança

Uma dessas pequenas celebridades do mundo da

dos, a trilhar o difícil caminho em direção aos palcos.

que não têm recursos para pagar os tratamentos. “Fal-

dança é Clarice Ogawa, 12 anos, moradora de Seropédi-

Acostumada a viver da modesta renda da família de

ta tempo para fazer tudo o que eu gostaria pelos mais

par do maior número de competições que puderem.


Revista Veiga Mais |

Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

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Foto de divulgação

Apesar de ser conhecido como o país do samba, o Brasil possui diversas escolhas e companhias de balé, como a Associação de Ballet do Rio de Janeiro necessitados. Então, quando aparece algum atleta ou

e provou que seu joelho em nada mais incomodava.

afirma, porém, que as barreiras burocráticas são um

dançarino de família pobre em meu consultório, eu

Ela conquistou a medalha de prata na Variação

agravante a parte, mas que os resultados obtidos

simplesmente deixo de cobrar”.

Clássica “Nikia”, diante de uma plateia de mais de

compensam. “Na minha época não existia esse tipo

Uma das pessoas beneficiadas pela atitude de

duas mil pessoas. “Foi maravilhoso. Ao lembrar de

de auxílio. Por isso, faço questão de ajudar em algo

Marcos foi Karine Nascimento, formada em balé

cada instante de dúvida e cada lágrima de dor que

a carreira de futuros astros da dança”. Formado em

clássico. No início de sua trajetória, ela sofreu uma

derramei ao me machucar, pude ver que valeu a

Artes Plásticas, mas apaixonado por todas as formas

grave lesão nos ligamentos do joelho esquerdo e

pena”. Depois de encantar Córdoba, ela estendeu sua

de arte, Jorge diz que nunca pretendeu dançar, apenas

pensou até mesmo em desistir do sonho de fazer da

dança por toda a Europa e Ásia, pois está na mesma

aprecia quem o faz. Por isso, ele organiza parcerias

dança sua profissão. Mas quando soube da clínica de

companhia até hoje.

com governos municipais e empresários para

ortopedia que oferecia serviços gratuitos a artistas

Hoje, no posto de professora da Academia de

garantir que jovens e crianças que desejam se tornar

como ela, resolveu insistir. “Nem acreditei quando

Dança da Barra da Tijuca, ela se preocupa em dar

bailarinos sejam contemplados com bolsas de estudo

soube. Achei que fosse uma brincadeira de mau

chance a quem está começando. Por isso, quando

em institutos respeitados.

gosto. Ainda bem que me enganei”.

fica sabendo de alguma criança que tem vontade de

Tantos voluntários e parceiros mostram que a

Após a longa recuperação, Karine evoluiu tanto

dançar, mas, por vergonha ou falta de recursos, não o

dança é capaz de ensinar muito mais que movimentos,

nas suas apresentações individuais na Academia

faz, ela cede espaço em uma das turmas que leciona

mas difunde também valores difíceis de serem

Municipal de São João de Meriti – onde mora desde

para descobrir novos talentos.

encontrados atualmente. A trajetória pode ser longa

que nasceu - que foi convidada a integrar a equipe

Assim como Karine, o diretor do Conservatório

e estafante, porém leva ao mais alto e privilegiado

de uma de suas professoras que iria para o Festival

de Nilópolis, Jorge Teixeira, nutre grande interesse

lugar de um teatro – seja nos fundos da escola ou em

de Dança de Córdoba, na Argentina. Karine aceitou

em investir em revelações do mundo da dança. Ele

Madri: aquele sob o foco de luz.


18 | Revista Veiga Mais

Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

Fotógrafos brasileiros fazem sucesso no exterior e levam a imagem do país pelo mundo afora Sandro Miranda O cenário diante dos olhos é de tirar o fôlego:

– e começa a fazer o que é preciso. Ajeita a lente,

prepotentes, mas não é o caso dela”, afirma. “Teve

mãe e filha estão lado a lado, afundadas no barro

escolhe o ângulo ideal e, antes que o dedo come-

até uma coisa curiosa durante a sessão de fotos. No

em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, após

ce a trabalhar, observa aquela desgraça pela última

meu cordão tem uma foto da minha filha, e a Gisele

horas de intenso temporal. Ambas estão mortas.

vez com o sentimento de um ser humano. É hora de

de longe viu a foto e perguntou se era minha filhota.

A poucos metros delas, uma bíblia repousa sobre

o fotógrafo entrar em cena, e ele precisa ser frio e

Falei que sim e ela se aproximou, pegou o pingen-

a lama. O detalhe, que poderia muito bem passar

desprovido de emoções. Pelo menos até a hora em

te e falou “Nossa, como sua filha é linda!!!”, conta

despercebido para a maioria das pessoas, não esca-

que finalmente terminará o serviço e abaixará a má-

o papai-coruja, sem esconder a alegria pelo elogio.

pa do olhar aguçado de um homem, que, no meio

quina. Quanto às lágrimas, ele aprendeu a deixá-las

“Fiquei felizão (risos).”

daquela tragédia, tem a missão de registrar toda a

bem guardadas, em algum lugar entre a mente e o

A felicidade de Gilvan fica cada vez maior sem-

intensidade do momento com apenas uma imagem.

coração. Ao escolher seguir esta carreira, Gilvan de

pre que suas fotos são publicadas na imprensa do

Ele respira fundo, lembra da esposa que deixou em

Sousa sabia exatamente que teria de estar preparado

exterior. Aos poucos, ele começa a se familiarizar

casa, grávida de uma menina – uma menina que po-

para tudo, até mesmo encarar a morte de perto.

com os astros e estrelas internacionais. No show

deria muito bem ser aquela que vê diante de si agora Fotos: www.sxc.hu

Foi um desafio e tanto para o baiano de 39 anos.

da cantora Madona no Maracanã, por exemplo, o

Conhecido pelo temperamento bem-humorado e

baiano estava lá. E, mais recentemente, durante a

bastante comunicativo, Gilvan acumulou grandes

passagem do ator Dean Cain – o Super-Homem do

histórias no jornal O Povo, do Rio de Janeiro, mas

seriado de TV – pelo Brasil, Gilvan teve a missão

sabia que era hora de procurar outros ares, de des-

de não deixar o ex-Clark Kent fugir um só segundo.

bravar o mundo. Ele aproveitou a facilidade de se

Mas, apesar da evolução profissional, ele sabe que

enturmar para abrir uma série de portas e conhecer

conquistar um lugar de destaque no disputado mun-

profissionais que sempre admirara, como Custódio

do da fotografia não é uma tarefa das mais fáceis.

Coimbra, Severino Silva e Ivo Gonzalez, entre ou-

Por mais que existam várias áreas de atuação, a con-

tros. Com isso, construiu uma rede de contatos res-

corrência é enorme, principalmente quando se fala

peitável, tanto em quantidade quanto em qualidade,

em escala global. Alcançar o status de um profis-

a ponto de ser convidado para inúmeros trabalhos

sional como Sebastião Salgado, referência brasileira

temporários, conhecidos como freelancers. Num

em todo o mundo, é um sonho para muita gente. Se

deles, durante o carnaval de 2009, teve a chance de

o baiano atualmente está trilhando este caminho, um

fotografar ninguém menos do que a modelo mais

outro brasileiro já chegou lá.

famosa do mundo, Gisele Bundchen. Ele a acompa-

Ganhador de diversos prêmios internacionais -

nhou do Hotel Copacabana Palace até a Apoteose,

como o Create, o Maverick e o American Show

registrando todos os momentos da top, no camarote,

Case -, Caesar Lima tem em sua lista de celebrida-

sambando, bebendo, conversando. Entre uma sessão

des fotografadas nomes como o rei do Supecross,

e outra, Gilvan chegou a bater um papo com Gisele,

Jeremy McGrath, e o capitão do penta, Cafú. A li-

e ficou surpreso com a simplicidade da moça: “Nós

gação com o esporte não é mera coincidência. Um

pensamos que essas pessoas (as celebridades) são

de seus trabalhos mais importantes é o livro Atleta,


Revista Veiga Mais |

Made in Brazil • Ano 10 • 2º semestre de 2012

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no qual alguns dos mais famosos desportistas do mundo foram fotografados e ainda doaram o cachê para associações de ajuda a crianças carentes. Apesar do imenso talento, o gosto pela fotografia virou atividade séria na vida de Caesar quase por acaso. Ex-diretor de arte, ele se formou na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo. Na época, teve contato com o americano Dimitry Lee, que fotograva para a Brastemp e para a Gradiente. Três meses mais tarde, Caesar já estava dando os primeiros cliques.

“O fato de ser brasileiro me abriu várias portas, sempre sou bem recebido, e ter sotaque é ótimo, as pessoas prestam mais atenção a você” Caesar Lima O fotógrafo tomou a decisão de se mudar de vez para os Estados Unidos há 26 anos, quando ele e a esposa foram assistir às Olimpíadas de Los Angeles, cidade que agradava não só pelo clima, mas principalmente por causa do enorme mercado de fotografia publicitária. E foi na ensolarada Califórnia que ele abriu o próprio estúdio, onde dá asas

de 55 anos tem que estar com o inglês em dia, já

de Açúcar bem do alto, e aproximar sua visão em

à imaginação na hora de fotografar. Está sempre

que boa parte do que ele escreve está nesse idioma.

360°, conseguindo até mesmo ver as pessoas na

utilizando as mais variadas técnicas digitais, sem

“Não se trata de vaidade, é necessidade mesmo. Se

rua olhando a paisagem da base do Cristo Reden-

jamais esquecer, claro, o famoso “jeitinho brasilei-

eu falar em português, boa parte do meu público

tor. Foi exatamente isso o que o grupo de fotógra-

ro”. “O fato de ser brasileiro me abriu várias portas,

não vai entender”, diverte-se.

fos conseguiu. Eles reuniram aproximadamente

sempre sou bem recebido, e ter sotaque é ótimo, as

Enquanto Caesar e Gilvan levam o nome do

seis mil fotografias com 18 megapixels cada uma,

pessoas prestam mais atenção a você”, admite. Li-

Brasil lá para fora, há quem esteja fazendo o mes-

que foram feitas em cerca de quatro horas. A jun-

gado permanentemente nas mídias sociais, Caesar

mo, sem sequer sair do País. É o caso de Luiz

ção de todas elas produziu uma única foto, com

aproveita o vasto universo de possibilidades ofere-

Velho, do Instituto Nacional de Matemática Pura

largura equivalente à de dois quarteirões e 163

cido pela Internet para divulgar o trabalho e ainda

e Aplicada (Impa) do Rio de Janeiro. Ele liderou

bilhões de pixels. O feito dele não deixa dúvi-

matar as saudades dos amigos e parentes que dei-

uma equipe de fotógrafos que conseguiu a faça-

das: se a fotografia tem uma linguagem universal,

xou no Brasil. Mas seja no Twitter ou Facebook,

nha de entrar para o Guiness Book, o Livro dos

o sotaque dela certamente está carregado para o

quem quiser saber mais sobre a vida deste paulista

Recordes. Como? Imagine poder observar o Pão

português.



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