Veiga Mais Rádio

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA | CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL | REVISTA VEIGA MAIS | ANO 10 | 1º SEMESTRE DE 2012

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Anos do Rádio no Brasil

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EDITORIAL LEIA ALTO E OUÇA AS LETRAS Ouvir, além de ser uma característica natural do ser humano, é um ato que o movimenta e estimula a imaginação. Entre diversos novos aparelhos tecnológicos, nenhum conseguiu destruir o universo criativo que o rádio oferece, nem decretar o fim dessa mídia. Pelo contrário, aumentaram as opções de meios que integram a função de transmitir notícia, música e entretenimento pelas ondas sonoras. Ele continua a ser um veículo barato, direto e popular, que sempre esteve ao lado do “amigo ouvinte” e colaborado na democratização da informação. Essa proximidade com o quem ouve é a prova de um casamento bem sucedido que se renova com o auxílio da Internet. Independente da classe social, todos podem estar sintonizados e integrados ao seu mundo mágico. Mais do que um instrumento de comunicação, o rádio faz companhia a uma audiência exigente que se emociona, torce, canta e dança ao seu lado. São 90 anos desde a primeira transmissão do rádio no Brasil. Em comemoração dessa data, a Veiga Mais embarca nas ondas históricas radiofônicas e celebra por meio da sua trajetória com uma edição especial. José Ricardo

EXPEDIENTE Curso de Comunicação Social reconhecido pelo MEC em 07/07/99, parecer CES 694/99 Coordenador Prof. Luís Carlos Bittencourt Coordenador de Publicidade Prof. Oswaldo Senna A Revista Veiga Mais é um produto da Oficina de Jornalismo, em um trabalho conjunto realizado com os estudantes em sala de aula e a AgênciaUVA.

FOTO DE CAPA Marcos Ramos. Exposição ‘Lago eu sou - Mário Lago um homem do século XX’ (Arquivo Nacional)

REPORTAGENS Estudantes das disciplinas de Técnicas de Reportagem e Jornalismo de Revista.

Agência Uva Redação: Rua Ibituruna 108, Casa da Comunicação, 2o andar. Tijuca, Rio de Janeiro - RJ 20271-020 Tel.: (21)2547-8800 ramais 319 e 416 Site: www.agenciauva.com.br E-mail: agencia@uva.edu.br

Professores-orientadores Luiza Cruz e Maristela Fittipaldi

Oficina de Propaganda E-mail: criativo@uva.br

EDIÇÃO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Gustavo Antônio, José Ricardo Oliveira, Marcos Ramos e Thiago Mendes

Núcleo de Fotografia (NFoto) http://nucleodefotografiauva.wordpress.com/ E-mail: nucleofotografiauva@gmail.com

Professor-orientador Érica Ribeiro

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Finalização Eduardo Lima (AgênciaUVA)

Tiragem: 1.000 exemplares Impressão: Folha Dirigida Todas as edições estão disponíveis no site da AgênciaUVA

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SUMÁRIO O RÁDIO E AS NOVAS TECNOLOGIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 MAIS DE 80 ANOS A FAVOR DO RISO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 EMOCIONAR E COMOVER: A MISSÃO DAS ONDAS HERTZIANAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 A SOBREVIVÊNCIA DAS RÁDIOS SINDICAIS E AS PERSPECTIVAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS . . 10 POPULARIZAÇÃO DO FUNK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 COROA, VOZ E MUITOS VOTOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 ESPORTE NO RADIOJORNALISMO SOBREVIVE ÀS TECNOLOGIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 “O QUE A GENTE NÃO INVENTA, NÃO EXISTE” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 REDES SOCIAIS: AS NOVAS ALIADAS DAS RÁDIOS BRASILEIRAS . . . . . . . . . . . . . . . . 22 PROGRAMAÇÃO DAS RÁDIOS AM E WEB PRESTIGIA SÉRIE B DO FUTEBOL . . . . . . . . . . . . 24 O RÁDIO NA ERA DA TV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

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ARTIGO: OS JOVENS E O RÁDIO Revista Veiga Mais - 90 anos do rádio no Brasil • Ano 10 • 2012.1

• Giovanna Auler

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Nos dias de hoje, a forma como os jovens se

ou ouvir seu programa favorito, na maioria de

relacionam com o rádio não é mais a mesma da

religião. A maioria dos jovens afirma que, mesmo

época de seus pais e avós. O rádio antigamente era

não ouvindo constantemente, gosta de entrar em seu

usado para se ouvir notícias, para o entretenimento,

carro e ligar a rádio favorita para ouvir suas músicas.

com as rádios-novelas e os programas de auditório,

Eles geralmente ouvem quando estão indo e voltando

para reunir a família. Com o avanço da tecnologia,

do trabalho e da faculdade, e acham interessante

o rádio foi sendo ultrapassado, na preferência da

escutar o rádio, que, além de tocar as músicas de

juventude, por outras mídias. Os jovens de hoje já

que eles tanto gostam, informam as notícias do dia

são ouvintes diferentes, com perfil bem distinto dos

e, principalmente, do trânsito, que interessa muito a

de outras gerações. Hoje, eles preferem a internet,

podem leva-los e escutar onde quiserem.

disponibilizam em seus sites links para você ouvir a rádio enquanto

que ocorre na cidade ou em qualquer lugar do mundo.

ao acordar, para saber das notícias, sobre o trânsito,

que continuar se adequando para não ficar para trás. E aos poucos ele vem se adaptando. Grandes rádios

o que estava acontecendo. Hoje, liga-se a televisão ou até mesmo o computador para ficar por dentro de tudo

comunicação vêm tirando o interesse dos jovens. Mas se o rádio não quiser acabar tão cedo, vai ter

saber de uma notícia, as pessoas costumavam ligar o rádio assim que acordavam para ficar antenados sobre

A realidade é que os anos vão passando, as tecnologias avançando, e novos meios de

escutar em casa estão sendo substituídos por outros que tocam, seus iPods, por exemplo. Antigamente, para se

e apostam que a maioria da população só liga o rádio para escutar música.

A maioria só liga o rádio no carro e para escutar música. Aqueles aparelhos que todos compravam para

eles. Acreditam que o amor e o grande interesse pela música é que fazem com que o rádio tenha audiência,

têm seus aparelhos, nos quais armazenam músicas, e

Uma minoria ainda liga o rádio, principalmente

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Grandes rádios já

estiver na internet

já disponibilizam em seus sites links para você ouvir a rádio enquanto estiver na internet, web rádios vêm sendo criadas e, com isso, não deixando que a essência do rádio morra.

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• Thiago Tavares Dias Como tudo no mundo que vem evoluindo com o passar dos tempos, o rádio também está em transformação constante, favorecendo muito não só aquele que trabalha em uma emissora de rádio, que tem em mãos ferramentas cada vez mais modernas de captação e edição de som, mas principalmente os ouvintes, que desfrutam a qualidade e a facilidade com que as notícias estão chegando aos seus ouvidos. A partir do fim do século XIX, novas tecnologias operaram grandes mudanças. Desde a década de 80, os estúdios das rádios contam com equipamentos que facilitam e muito o trabalho e o funcionamento da emissora. Capazes de gravar, armazenar,

Uma forma muito fácil e rápida de se trocar as

manipular e executar o material de áudio na

informações é por meio do pen drive, dispositivo

melhor forma de hoje, a digital, os computadores

digital que permite a conexão através de uma porta

sempre oferecem uma excelente qualidade de som.

USB de um computador e armazena todo tipo de

Evoluções que tendem a melhorar ainda mais com

O Ipod foi lançado

arquivo. A segurança também é maior e se sabe

os novos computadores que são lançados, tablets,

por Steve Jobs em 23

que aquela reportagem vai chegar à emissora e ser

ipads, tudo ao alcance dos dedos e que facilitam

de outubro de 2001.

transmitida.

muito o trabalho em uma rádio.

Os modelos da época

O rádio também contribui na formação de

tinham 5GB e 10GB de

opiniões dos ouvintes com informações precisas e

é hoje muito mais rápida e fácil, pois cada vez

capacidade e o lema

rápidas, ainda mais nos dias de hoje, em que tudo é

programas de edições são aperfeiçoados e a

“100 músicas no seu

uma correria. O tamanho e o fácil acesso ao rádio

facilidade de uso está cada vez maior. Quanto ao

bolso”. De lá para cá,

também fazem com que seja mais próximo das

modo de transmissão das informações, muitos

diversos modelos já foram

pessoas, mesmo que através do celular de manhã,

instrumentos surgiram para facilitar o trabalho

comercializados.

para ouvir como está o trânsito e sair para trabalhar.

A edição das matérias da rádio, por exemplo,

profissional e agilizar seu desempenho. Hoje, o

Não se pode negar que as rádios via satélite,

processo de gravação digital é muito mais ágil.

os players de músicas e a internet vão tomando

Com um celular ou um gravador em mãos, se faz

conta e tirando esse domínio das rádios sobre os

a matéria, se grava o áudio do entrevistado e, com

acontecimentos. Apesar disso, se souber aproveitar

a comodidade e a rapidez da internet, essa matéria

a tecnologia disponível e se reinventar como meio

ou gravação chega às emissoras em uma velocidade

de comunicação, o rádio tem tudo para continuar

muito grande, ocorre a edição e tudo já é passado

sendo muito importante, principalmente para a

para o ouvinte em um período curto de tempo.

história da comunicação do Brasil.

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O RÁDIO E AS NOVAS TECNOLOGIAS

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MAIS DE 80 ANOS A FAVOR DO RISO Revista Veiga Mais - 90 anos do rádio no Brasil • Ano 10 • 2012.1

• José Henrique Barbosa Dutra Quem pensa que humor no radio é um fenômeno

Era uma pequena audição de cinco minutos interpretada pelos atores de teatro

recente muito se engana. A popularidade do rádio

da época, Artur de Oliveira e Salu de Carvalho, respectivamente Manezinho

favoreceu o humor que, já na década de 30, constava

e Quintanilha. Ainda na década de 1930 surgiram programas como o Cenas

na programação das emissoras. A partir desta época,

Escolares, que mais tarde modificando seu formato e passou a se chamar Piadas

o rádio passa da fase amadorística para o formato

do Manduca. Criado por Renato Murce, o programa ficou no ar por 25 anos

comercial, profissional e popular. A atuação dos

e contou com a participação de Lauro Borges, que, posteriormente, criou o

anunciantes foi importante para popularizar e

clássico do humor radiofônico PRK-30.

desenvolver o veículo, que facilitou o acesso da

O programa era comandado pelo próprio Lauro Borges e por Castro Barbosa,

população e, consequentemente, fez surgir novas

e permaneceu no ar por 20 anos, de 1944 a 1964, em diferentes emissoras: Rádio

emissoras com uma programação variada, na qual o

Clube do Brasil (Fortaleza), Rádio Mayrink Veiga, Nacional e Tupi (Rio de

humor estava inserido.

Janeiro). A proposta era parodiar o próprio rádio. Os dois locutores fingiam fazer

Um dos primeiros programas humorísticos surgiu

parte de uma rádio chamada PRK-30, na qual todas as atrações eram voltadas para

em 1931 na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.

o humor e a zombaria. Megatério Nababo do Alicerce (Castro Barbosa) e Otelo

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Trigueiro (Lauro Borges) eram, respectivamente, a

atrações, por exemplo, o programa E o Espetáculo

figura do apresentador desinformado com sotaque

Continua, transmitido às 21hs e 5 mim, no qual, além

português, emitindo opiniões equivocadas, e

de música e poesia, também havia espaço para as

o locutor sedutor, com voz sensual e um vasto

anedotas, “tudo bem dosado e com muito espírito”. É notório que o humor conferia prestígio e

Além de PRK-30 o humor ainda foi a matéria

importância e contribuía para o sucesso do rádio em

de programas como Levertimentos, Vai da Valsa, A

sua fase de ouro. A criação de personagens copiava

Cidade se Diverte, Tancredo e Trancado, Cadeira de Barbeiro, Vila da Arrelia, As aventuras de Nhô Totico, Escola de Dona Olinda, Praça da Alegria, entre tantos outros, que surgiram não apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas em outras capitais do país. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro, criada em 1936, também foi um dos principais caminho para a expansão do humor no rádio, com um programa de grande sucesso, o Balança Mais Não Cai. Muitos dos programas humorísticos eram produções nacionais, como Vai da Valsa e a Cidade se Diverte. As rádios locais recebiam o script do programa e escalavam seus próprios radioatores para interpretar, mas havia, paralelamente, as produções locais. Nessa fase, o programa Clube das Gargalhadas atraia a audiência e fazia sucesso. O clube era uma animada sequência do programa “Noturno Pajeú”, apresentado às terças-feiras na programação noturna, no qual as piadas remetidas pelos ouvintes eram contadas por Augusto Borges e o “cast” de comediantes da emissora. “O Clube foi um fenômeno. Era notória a correria das pessoas na pressa de chegarem em casa a tempo de escutar as piadas”, afirma Pedro Campos, que trabalhou por três anos na Ceará Radio Clube.

“O Clube foi um fenômeno. Era notória a correria das pessoas na pressa de chegarem em casa a tempo de escutar as piadas”

Quanto a dados concretos que possam atestar a presença de programas humorísticos em outras

os tipos regionais como o caipira, o nordestino, o estrangeiro e outros, e este mesmo estilo de humor serviu de modelo para o que seria posteriormente feito na TV. Muitos dos programas originários do rádio migraram para a TV e não apenas os programas, mas os personagens, até hoje inspiram as novas criações.

AS RISADAS NA FM O surgimento da TV fez com que o rádio nos anos 60 enfrentasse uma crise. O rádio viveu a perda de prestígio ao se ver atrelado a um público ouvinte enquadrado na categoria de baixa renda. A fase de crise do rádio não foi devido, especificamente, ao advento da TV, mas primeiramente pela expansão da indústria fonográfica. . Com o surgimento das FMs o rádio voltou a se dirigir também a uma audiência classe média, com uma linguagem voltada para o público jovem. O período inicial da implantação da FM (frequência modulada) no Brasil foi em meados da década de 1970. No início as FMs eram musicais e o modelo “música de qualidade” era o formato dominante. Em 1974, a Rádio Cidade do Rio de Janeiro moldou uma programação segmentada para um público jovem, inspirada no padrão de rádio FM da Califórnia,

Pedro Campos

que aliava músicas a uma presença humorística

emissoras de rádio no Brasil na época, o que

nas sátiras e brincadeiras entre os locutores. Daí

pode ser percebido é que o humor estava muitas

renasceram os programas humorísticos, agora com

vezes inserido em programas de variedades. A

nova roupagem.

programação da Rádio Dragão do Mar, disponível

Nos anos 1940 e 1950 os programas de humor

na revista Folha do Rádio (1959) tinha entre suas

parodiavam o próprio rádio e suas atrações. Com

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repertório de clichês românticos.

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o advento da TV, esse novo “mundo” passou a

Inicialmente, o programa apresentava uma novidade

ser parodiado pelas FMs. O Café com Bobagem,

em relação às outras rádios FM voltadas para o público

criado na década de 1980, parodiava as principais

jovem: a escassez de músicas, que iam ao ar apenas nos

atrações da TV, como os programas esportivos, os

intervalos. Eram dadas maiores oportunidades para a

policiais, os de auditório, as telenovelas e até mesmo

irreverência dos membros do programa.

os anúncios. Outros tantos programas surgiram na rádio FM, atraídos por um estilo de humor que se

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sem muito compromisso social. Além

disso,

nas

FMs

aconteceu

a

institucionalização do “comunicador”. Este seria, portanto, aquele que comanda o programa e voltase diretamente ao público ouvinte, e nesse contato manifesta expressões humorísticas marcadas pela linguagem provocativa, utilizando expressões informais e algumas palavras de duplo sentido. Esse recurso alia-se ao improviso, ao uso de efeitos sonoros que produzem risadas e demais ruídos. Dessa nova linha de humor surgiram programas com transmissões para várias localidades do país e outros com veiculação local. Essa abrangência é possível graças aos transmissores FM via satélite a partir dos anos 1990, que possibilitaram a criação de redes de rádio afiliadas em todo o país. O novo estilo de humor seria, portanto, a marca de programas como Djalma Jorge (Jovem Pan FM, décadas de 1980 e 1990, SP), Pânico (Jovem Pan FM, SP), Dois em UM (Transamerica FM, SP), e tantos outros que tiveram vida curta e outros ainda em atividade.

POP BOLA

até concorda que a fase de ouro do radio realmente já passou. Em contrapartida, ele acredita que o programa em si tem tanta força como os feito na década de 50 “Eu queria muito ter participado dessa época, mas em compensação acho que faço parte de um dos maiores

programas da historia”, opina o radialista. Foto: stock.xchng (www.sxc.hu)

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utiliza da crítica, de um humor mais “escrachado”,

“Fazemos o programa com a realidade da nossa década. É assim que tem que ser, o importante no radio é trabalhar com amor”

Wagner Luís, um dos comentaristas do Pop Bola,

Já Alexandre Araújo, diretor da atração, é mais contido em suas afirmações e não quer saber de comparações com outras épocas. “A linguagem é totalmente diferente. Fazemos o programa com a realidade da nossa década. É assim que tem que ser, o importante no radio é trabalhar com amor”. O fato é que o humor foi e continua sendo um gênero importante, em meio a outros segmentos,

Um desses programas em atividade, mais

Alexandre Araújo

como programas jornalísticos, de esporte, de música,

precisamente há dez anos, é o Pop Bola (MPB FM, RJ),

dos debates políticos e até das radionovelas. Ou seja,

que mistura humor e esporte, algo que, até então, nunca

a efervescência do gênero humor durante a fase de

havia sido visto antes em um programa de radio, sendo

ascensão do rádio e até mesmo na atualidade, com

o pioneiro nesse tipo de segmento. O programa foi ao

o aparecimento das novas mídias, é um elemento

ar pela primeira vez em 28 de janeiro de 2002 pela

indispensável dentro da programação de qualquer

extinta Rádio Cidade do Rio de Janeiro a 102,9 MHz.

rádio que queira atingir grandes massas.

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EMOCIONAR E COMOVER: A MISSÃO DAS ONDAS HERTZIANAS Numa certa manhã de novembro, no ano de 1984,

programas de auditório vão para a TV e os olhares – e ouvidos – se voltam para a

em Recife, a cidade parou, como de costume, para

telinha. O televisor, no entanto, ainda era artigo de luxo por seu alto valor, mantendo

ouvir o anúncio dos candidatos aprovados no vestibular

o rádio como primeira opção na hora de se atualizar e divertir. E, apesar de hoje ainda

da Universidade Federal de Pernambuco. Na época,

concorrer com a Internet, continua cativando seguidores.

não havia computadores nem a Internet como hoje.

Mas que público é esse? Por que, apesar de tantas ameaças de extinção, o rádio

Quando Verônica Bareicha, 40 anos, ouviu o nome da

continua “vivo” e presente? Assim como o jornal de papel, as cartas e a própria TV,

irmã, Simone, a euforia tomou conta da casa. Será que

as rádios perderam uma parcela de seu público para a rede mundial. Mas, da mesma

ver o próprio nome numa tela de computador seria tão

maneira que há os defensores dos livros, da relação pessoal com o objeto, há quem

emocionante quanto ouvi-lo?

se mantenha fiel ao rádio, ainda que por meio de novas tecnologias, como o celular.

A Teoria Hipodérmica, modelo de teoria da

A revisora Patrícia Souza, 30 anos, é ouvinte assídua da pioneira Rádio Roquette

comunicação elaborada nos anos 1930, responde: toda e

Pinto. De acordo com ela, a mãe deixava o aparelho ligado o dia inteiro quando não

qualquer mensagem é imediatamente aceita e espalhada

estava ouvindo algum disco e seu costume vem daí. Quando não está em casa, Patrícia

entre todos os receptores, em igual proporção. Por

acompanha a programação pelo aparelho celular e se diz avessa à MP3 players, que

outro lado, o alemão Bertold Brecht elaborou a Teoria

dão trabalho por necessitarem da constante troca dos arquivos.

do Rádio, que idealizava que o meio deveria realmente comunicar-se com o público, não simplesmente tocar.

No mesmo time está Pollyana Barros, 25 anos. Apesar de não ter o costume de ouvir rádio em casa, ela diz esta é sua primeira preocupação ao entrar no carro, pois

Talvez baseados nessas teorias, Henrique Morize e

além de o cotidiano isolar cada vez mais as pessoas, o trânsito no Rio de Janeiro é

Edgar Roquette Pinto, defensores da difusão da cultura

estressante e só uma “musiquinha” para ajudar a ter paciência, porque faz parecer que

e da educação a todos os brasileiros, fundaram a Rádio

o tempo passa mais rapidamente. Estações como CBN e Band News também fazem

Sociedade do Rio de Janeiro. A programação, apesar

parte da pré-programação que a mantêm atualizada.

de restrita à elite que a financiava – o que só mudou

Como acontece com a maioria das pessoas, o hábito de ouvir rádio começa mesmo

com a chegada das propagandas comerciais – já era um

com a família e é clara a capacidade de criar laços sociais. Todos unidos no sofrimento

esboço do que este meio se tornaria para a sociedade.

durante as Guerras, todos reunidos na alegria, todos compartilhando as críticas das

O rádio também foi muito utilizado como instrumento

músicas dos exilados políticos. O que seria dos deficientes visuais se não houvesse um

político. Em dezembro de 1939, Getúlio Vargas

meio com uma linguagem própria para os ouvidos? E dos que não podem ter uma TV?

difundia a ideologia do Estado Novo e censurava a arte

Laços sociais são mantidos, inclusive, por relações de confiança. Por isso, a

por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda.

credibilidade construída ao longo dos anos pelos locutores e pelo conteúdo; a

Contrariando, porém, os anseios do governo, o rádio

proximidade familiar causada pelo costume; a emoção única, creditada a uma voz

popularizou-se e ganhou ainda mais destaque nas casas

que faz companhia, torna o rádio insubstituível. Ainda que haja as rádios online, ai de

ao iniciar a transmissão de radionovelas, partidas de

quem não tiver o privilégio de ouvir, por exemplo, o Show do Antonio Carlos – ou de

futebol e informações sobre o Brasil e o mundo.

quem estiver em seu lugar – no futuro, com seus ruídos, gafes e risadas fora de hora.

Com o surgimento do canal Tupi no Brasil, em 1950, o veículo foi perdendo espaço. Os artistas do Rádio e os

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• Clara Soares

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Espontaneidade e naturalidade causam empatia e reação, sentimentos que a mecânica da Internet não evoca. Enquanto for assim, vida longa terá o rádio.

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• Rodrigo Pereira Martins Desde que o movimento sindical se iniciou

papel fundamental. Quando esta plataforma chegou

no Brasil, ele esteve amparado ns meios de

ao Brasil, há exatos 90 anos, o que dominava era a

comunicação de massa para a propagação das

difusão por meio impresso. Boletins informativos

ideias da classe trabalhadora. Essa estrutura de

e jornais sindicais, que são usados até hoje, eram

organização chegou ao Brasil no início do Século

predominantes nesta época. Com o aparecimento

XX, e até hoje está presente na vida de homens

deste novo instrumento, percebeu-se a importância

e mulheres do país. Historicamente, grandes

As rádios ajudavam a

da divulgação destes conteúdos por intermédio

discursos foram feitos mobilizando centenas de

divulgar as manifestações

desta nova mídia, que tinha velocidade e alcance

pessoas em prol da luta por melhores condições em

e informavam sobre as

maiores até então.

diversas categorias. O rádio, neste contexto, tem um

reinvidicações

Com a evolução da tecnologia da comunicação, outras Fotos: Marcos Ramos

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A SOBREVIVÊNCIA DAS RÁDIOS SINDICAIS E AS PERSPECTIVAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS

ferramentas

foram

incorporadas

à

propagação do sindicalismo. Com isso, seguindo uma tendência geral, as rádios sindicais perderam força nesta função. Para a jornalista Fernanda Fonseca, que há mais de dez anos trabalha no Sindicato dos Servidores Civis do Ministério da Defesa (SINFA-RJ), hoje existe uma série de dificuldades para se manter uma rádio funcionando. Problemas que vão desde a burocracia para se obter uma concessão até as dificuldades de manter uma programação. “Muitos sindicatos tentaram montar uma grade restritamente sindical, mas esbarraram, muitas vezes, na falta de atualização dos conteúdos, além de perceberem que o tempo do trabalhador está cada vez mais escasso. Por isso, fica inviável o investimento nesta plataforma, que não é barata e uma audiência está cada vez mais dispersa”. Uma das saídas encontradas por muitos sindicatos é patrocinar programas de rádio no dial. A partir deste apoio, as entidades repassam

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Ele diz que esse tipo de rádio precisa ser melhor

atração. Como conta o apresentador Luís Antônio

explorada porque, em se tratando de custos, é a

Bap, que trabalha na rádio Tropical AM e na rádio Saara e que comanda o programa “Boca Livre”, que recebe investimento deste segmento: “Hoje, para manter uma estrutura física de uma rádio, precisa-se de um grande orçamento. Então, uma das soluções encontradas pelos sindicatos é investir em programas radiofônicos populares, em troca de espaço para divulgar suas demandas específicas”. Já para o Secretário de Imprensa e Comunicação no Rio de Janeiro da Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil (CTB-RJ), Paulo Sérgio

“As rádios precisam resgatar o apelo popular de antes”

Farias, uma das saídas para o meio sindical é investir em rádios comunitárias e webrádios. Por

forma mais utilizada hoje em dia para promover discursos e notícias sindicais. “Elas têm uma possibilidade de divulgação heterogênea mesmo que, na sua concepção, seja algo segmentado a determinada categoria”. Segundo Paulo Sérgio, há um consenso entre os diretores sindicais de que hoje as novas plataformas, como, por exemplo, a internet, têm papel fundamental na relação entre o trabalhador e a estrutura sindical. “As rádios sindicais precisam resgatar o apelo popular de outras épocas, elas necessitam se adequar às novas demandas, formas e

Paulo Sérgio

linguagens dos trabalhadores, para que mantenham

contarem com orçamentos e estruturas enxutas,

sua relevância nos dias de hoje e possam atender a

essas mídias produzem efeitos semelhantes às

um maior número de pessoas, já que hoje em dia

convencionais, mas em uma escala segmentada.

existem milhares de categorias representativas”.

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seus informativos dentro do período de duração da

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POPULARIZAÇÃO DO FUNK CRESCIMENTO DO ESTILO, CRIADO NOS ESTADOS UNIDOS, CONQUISTA O BRASIL

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O funk surgiu no final da década de 60, originado

crescimento da estação. “A receptividade foi muito

do soul music, pelas mãos do pianista norte-americano

boa, pois a rádio toca 24 horas de funk, ou seja, só

Horace Silver. Mas foi com o cantor James Brown

quem realmente curte o som permanece conectado”.

que este novo estilo ganhou o mundo. Este ritmo foi

Ele acrescenta ainda que não só as pessoas mais novas

trazido ao Brasil por cantores como Gerson King

estão ligadas à Furacão. “O programa é direcionado

Combo, adotados por Tim Maia e Tony Tornado, que

ao público jovem, mas as idades variam. Temos aqui

começaram a tocar os sucessos e aderiram à atitude e

ouvintes de 13 até 40 anos”, afirma. Para Tânia de Souza, 40, frequentadora dos

ao estilo americano do Black Power. Na década de 70, surgiram as primeiras equipes

bailes desde os seus 18 anos, o funk é e sempre será

de som no Rio de Janeiro, como a Soul Grand Prix e

um ritmo animador. “Sempre compareci às festas e

a Furacão 2000. Os primeiros bailes eram feitos com

gostava bastante. Hoje em dia não costumo mais ir,

vitrolas e, como o sucesso foi crescendo, aos poucos,

porém ligo a rádio e logo lembro dos meus tempos.

seus equipamentos se modernizavam cada vez mais.

É uma nostalgia emocionante”, acredita.

A partir da década de 80, os bailes começaram

A Furacão 2000, além de entreter mais de 80

a atrair cada vez mais pessoas, pois suas músicas

mil pessoas por minuto, visa ao bem estar de seus

retratavam o cotidiano de seus frequentadores.

telespectadores, sempre inovando com ideias que

Os assuntos mais abordados eram violência e

Anderson França, locutor

podem ajudar de diversas maneiras, como é o

pobreza nas favelas. Desde então, o funk tornou-

da rádio 107.1 FM

exemplo da promoção “107 FM PAGA MINHAS

se um dos ritmos mais escutados e adorados por parte da população e, mesmo com o passar dos anos, esse estilo criou centenas de simpatizantes e frequentadores assíduos de suas festas. Essa popularização aconteceu de forma tão rápida e intensa que o funk chegou à televisão e às rádios. A estação 107.1 FM é um exemplo disso. Ela tem como “representante” a Furacão 2000, conhecida

Fotos: Bruna Azevedo da Cruz

Revista Veiga Mais - 90 anos do rádio no Brasil • Ano 10 • 2012.1

• Bruna Azevedo da Cruz

como a número um no Brasil, e é destinada somente ao funk. Localizada em Irajá, a rádio tem estrutura e equipamentos de alta qualidade, não só para a realização de seus bailes, mas para a transmissão de seus programas de entretenimento na estação. Anderson França, locutor da 107,1 FM, acredita que a popularidade dos bailes funk veio junto com o

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CONTAS”. Aquele ouvinte que está apertado com uma dívida que não consegue quitar entra em contato com a rádio, deixa seus dados pessoais e o valor da conta e logo depois, ninguém mais ninguém menos que Rômulo Costa, fundador e

quem se candidatou e pagará sua conta. Mais um ponto positivo para a rádio funk é

Claudia Magalhães, locutora e responsável pela interação nas redes sociais

que seus integrantes permanecem conectados em todas as mídias sociais e em todos os momentos de transmissão. Responsável por essa conexão e também locutora, Claudia Magalhães, conhecida como Claudinha Novinha, acredita que essa interação é o motivo pela qual o ouvinte se fideliza à rádio. “Com o passar dos anos aqui na 107, fiz grandes amigos que surgiram dessa interação locutor/ouvinte. Eles se sentem muito bem quando mandam um recado em alguma rede social e eu transmito ao vivo. Eles sentem que são ouvidos”. Em ritmo estiloso e próprio, o funk, já integrado à cultura brasileira, conquistou seu lugar em mais duas grandes estações de rádio. FM O Dia e Beat 98, principais estações que têm grandes índices

DJ Malboro. Em seguida, das 17h às 18h, começa o

de audiência, reservaram horários especiais para

Via Show Digital, com Flávio Machado e mais DJs.

realizar suas transmissões ao som do funk. A FM O Dia, por exemplo, disponibiliza o horário das 16h às 18h para que a Furacão 2000 mostre seu som e suas novidades, e, de acordo com pesquisas, chegou a mais de 300 mil ouvintes por minuto. Já ao fim do programa, o DJ seleciona diversas músicas do funk melody, conhecido por ser a poesia do funk, sendo um ritmo mais romântico, caracterizado por vocais e arranjos melódicos, batidas rápidas, porém dançantes, para embalar os casais apaixonados.

“As pessoas trabalham o dia inteiro e ao fim do dia querem relaxar”

afirma que, após um dia intenso de trabalho, seu hobby preferido é ligar a rádio e escutar funk. “As pessoas que trabalham o dia inteiro, se estressando, ao fim do dia querem relaxar. Então eu ligo a rádio e escuto o som, pois lembro que logo o fim de semana chegará e poderei sair e me divertir”, afirma ele. O funk é, para muitos, sinônimo de desabafo e, quando tocado, seja na rádio ou na televisão, dá voz e vez aos pobres e moradores de comunidades carentes, que se sentem mais respeitados. Para seus fãs, o funk é muito mais que um simples estilo de música: é uma

No mesmo ritmo, a Beat 98 também conta com dois horários distintos para transmitir sua

Felipe Amaral, de 23 anos, analista de sinistros,

Felipe Amaral

voz forte que vem de quem mais necessita e que

programação ao som do funk. A Big Mix, por

agora, com o apoio de uma mídia influente como a

exemplo, está no ar das 16h às 17h, comandada pelo

rádio, tem tudo para crescer ainda mais.

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representante da Furacão, entrará em contato com

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Fotos: Marcos Ramos

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Marlene Borba e Marlene foram coroadas como as rainhas do rádio. A disputa entre as duas era frequente, mas a briga ficava mesmo por conta dos admiradores

COROA, VOZ E MUITOS VOTOS AS ETERNAS RAINHAS DO RÁDIO NACIONAL • Juliana Frazão Era na Praça Mauá, no décimo andar, que as

é convidado a reviver a história e a majestade das

estrelas brilhavam. Havia o auditório com o largo

rainhas da era de ouro. Seus fã-clubes, suas disputas

palco e os amplos lugares nos quais os adultos

e sua realeza foram destaque em um período no qual

se sentavam. As crianças eram colocadas em

a novidade era o aparelho que emitia apenas som.

arquibancadas nas laterais e o bar localizado atrás

Tão popular como um reality show, o concurso

das cortinas não podia ser acessado pelos pequenos.

para levar a coroa foi criado pela Associação

Nesse cenário, grandes artistas foram consagrados e

Brasileira de Rádio e os fundos levantados, utilizados

músicas eternizadas. Foi lá, na Rádio Nacional, que

para a construção do Hospital dos Radialistas. Sua

Emilinha Borba e Marlene gravaram não só canções,

primeira edição foi em 1936, mas foi só em 1949

mas seus nomes em uma geração movida pelas

que as concorrentes arrastaram e atraíram a atenção

ondas radiofônicas. Comemoram-se esse ano os 90

das pessoas. Na época, a profissão era mal-vista pela

anos da rádio brasileira e, por essa razão, o público

sociedade e, por essa razão, ambas enfrentaram os pais

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funcionou e Marlene foi campeã com 529.982 votos.

calouros e auditório, a carioca Emilinha, nascida em

A carioca ficou em terceiro lugar e essa virada

31 de agosto de 1922, foi encantando os ouvintes e

repentina marcou a rivalidade entre torcidas. Ali

jurados, sendo levada posteriormente a entrar na briga.

nascia o duelo dos fã-clubes de Emilinha e Marlene.

Já Marlene nasceu em São Paulo em 22 de novembro

A partir daí, grupos organizados passaram

dois anos depois daquela que seria sua principal

a frequentar os principais programas de rádio,

“rival”. A paulista começou suas apresentações em

demonstrando suas preferências. A então rainha

rádios e em cassinos até estourar com a marchinha

manteve o posto por mais um ano e foi quando

“Coitadinho do papai”, no Carnaval de 47.

uma intensa comoção do público a favor de

Para ganhar a disputa, era preciso receber o

Emilinha ocorreu. Apesar disso, foi só em 53 que

maior número de votos feitos pelo povo. Os cupons

ela foi coroada, dando a seus admiradores um

da eleição eram encontrados na semanal “Revista

gancho para implicarem com o grupo adversário.

do Rádio”. Por já ser conhecida da plateia em 49,

Segundo Clementina da Costa, 63, as “emilinistas”

Emilinha era preferida para receber o título de

chamavam Marlene de “nariguda” e havia uma

rainha. Mas a “garota nota dez” não contava com a

forte rixa entre os clubes. A aposentada também

intervenção de Marlene e seu time publicitário. Ela

conta que preferia Emilinha e que adorava ir aos

teve como aliada a Companhia Antarctica Paulista,

programas para apreciar as roupas que ela usava.

que lhe deu um cheque em branco para comprar

“Era tudo muito bom. Quando eu era criança, ia

quantas revistas quisesse. A intenção da empresa

aos domingos assistir ao Paulo Gracindo para vê-

era utilizar “ela que canta e dança diferente” na

la cantar, mas era preciso que um conhecido nosso

propaganda de um novo produto. A movimentação

dormisse na fila para comprar ingressos”, relembra.

Emilinha nasceu no

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para investir na carreira. Cantando em programas de

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mesmo ano em que a rádio chegou ao Brasil

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A divisão de opiniões do povo também tem

“E a briga dos fãs era séria”, continua Gesa, que

origem nas diferenças de personalidade de cada

é da torcida da “garota nota dez” desde os 9 anos.

uma. Marlene era mais ousada, tanto na maneira de

Ela confidencia que era comum usarem o termo

se vestir como na forma de cantar. Foi ela a primeira

“agripina” para se referirem à cantora de São Paulo,

cantora a usar calça comprida na Rádio Nacional,

mas seus fãs não deixavam por menos. “Uma vez

o que a fez ser suspensa e multada. Por outro lado,

eles alfinetaram o bumbum da Emilinha durante

Emilinha parecia pura e recatada na forma como

uma apresentação. Se você fosse a uma banca para

se comportava. “Marlene falava mais, era mais

comprar uma revista em que ela estivesse na capa e

expansiva, muito voltada para o teatro. Já Emilinha

alguém do grupo rival estivesse lá, era melhor correr

tinha timidez para se expressar, um português curto”,

ou poderia dar em briga”, lembra a aposentada, que

confirma Gesabel Vasconcelos, 72. A moradora de

ainda faz parte do fã-clube. Ela diz ainda que a rixa

Niterói ainda revela que os fãs chamavam e ainda

existe até hoje, assim como o ciúme dentro de cada

chamam a tímida cantora de “santinha”, por sua

grupo. “Eles não gostavam quando as rainhas davam

bondade e amizade. A artista não concordava com

mais atenção para um ou outro admirador”, conclui.

o título, mas fazia questão de estar perto de seus

Marlene chegou a ser

seguidores e por isso dava o número de telefone de

considerada a “Favorita

da Marinha”, enquanto Marlene levava o mesmo

casa para grande parte deles.

da Aeronáutica”

posto pela Aeronáutica. As duas eram muito

Emilinha tinha também o título de “Favorita

populares e todo o país admirava seu trabalho. As capas de revistas eram sempre delas, especialmente a da queridinha dos marinheiros. Ao contrário do que se acreditava na época, as duas cantoras não alimentavam disputa entre si. Para provar, até gravaram algumas canções como o samba “Já vi tudo” e a marchinha “Casca de arroz”. “A briga era dos fãs, elas se davam bem. Marlene gostava de chamar Emilinha de ‘Emília’ e até ligava para ela”, conta Gesa, que passou de seguidora a amiga da cantora do Rio com o passar dos anos. Ela ainda revela que a carioca sempre elogiou o trabalho de sua suposta adversária. Apesar dos conflitos declarados entre as torcidas, as duas cantoras tiveram espaço na mídia. Certa vez foi divulgado que Emilinha faria um show no circo do Carequinha, em Niterói, e muitos ingressos foram vendidos. Todos aguardavam com expectativa o dia da apresentação, porém a rainha não sabia do evento e por isso não apareceu para cantar. As pessoas que compraram entradas para o concerto ficaram tão revoltadas que colocaram fogo

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Foto: Reprodução da capa

presente e confessa que precisou usar maquiagem e roupas de adulto, com medo de não permitirem sua entrada no concerto devido a sua pouca idade. “Lá fui eu com 11 anos de salto alto. No fim das contas,a faixa etária era livre, eu nem precisava ter feito o que fiz, mas valeu a pena”, diz a moradora de Irajá, que ia aos programas do Manoel Barcelos

sua popularidade era comparada à de Getúlio Vargas e Evita Perón”, assegura a fã niteroiense. Segundo ela, tamanha fama tinha a ver com a simpatia da intérprete. “Ao fim dos concertos, Emilinha falava com os fãs e eles a levavam até seu carro. Já Marlene ia logo embora com um ou dois e os seguranças a acompanhando”, finaliza. Ainda assim, a paulista também teve grandes momentos durante a carreira. Houve uma ocasião em foi convidada por Édith Piaf para se apresentar no Olympia, em Paris, e lá realizou uma turnê de

nos anos 40 e 50, mas ainda hoje encantam e conquistam fãs pelo Brasil. É o caso de Paulo Henrique de Lima, que tem apenas 22 anos e é um grande admirador das duas. Ele conta que passou a pesquisar sobre os concursos depois que um amigo lhe apresentou algumas músicas da Dalva de Oliveira. Desde então, se interessou por esse período do meio de comunicação. A preferência, porém, já está em seu sangue. “Meu avô era fã da Emilinha, tinha vários discos dela que hoje estão comigo. Minha mãe dizia que quando ela ia cantar no rádio e depois na TV, meu avô corria para ouvila, era apaixonado por ela”, conta o estudante de História, morador de Minas Gerais. Após a produção cinematográfica de 57, “É a maior”, na qual a história das estrelas é contada de forma não-biográfica e os personagens levam nomes inventados, o teatro trouxe a sua versão do caminho trilhado pelas eternas rainhas. No ano passado, a roteirista Thereza Falcão e o diretor Antonio De Bonis resgataram os episódios que compuseram a carreira das duas e reuniram as torcidas mais uma vez. O espetáculo em homenagem às cantoras estreou no Rio de Janeiro e percorre outras cidades do Brasil. A própria Marlene, com seus 87 anos, foi prestigiar a apresentação. Emilinha faleceu em 2005 mas seguidores de ambas fazem questão de manter

quatro meses e meio. Ao retornar para o Rio de Janeiro, a ousada cantora fez um show no teatro

As divas do rádio viveram o ápice do sucesso

Cléa Palácio

vivos na lembrança aqueles dias dourados em que

João Caetano para contar a experiência na França.

eram guiados pelas canções entoadas pelas rainhas

A professora aposentada Cléa Palácio, 67, esteve

que, com certeza, nunca perderão a majestade.

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Revista Veiga Mais - 90 anos do rádio no Brasil • Ano 10 • 2012.1

no circo. “Era uma loucura, ela fazia muito sucesso,

“Lá fui eu com 11 anos de salto alto. No fim das contas,a faixa etária era livre, eu nem precisava ter feito o que fiz, mas valeu a pena”

às quintas para ver a artista.

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ESPORTE NO RADIOJORNALISMO SOBREVIVE ÀS TECNOLOGIAS A cobertura esportiva no raiojornalismo dominou

Toda quarta-feira é comum se deparar com

o mercado até a década de 50. A rádio só veio a perder

pessoas utilizando fones de ouvido e agindo de forma

sua hegemonia com a chegada da televisão ao Brasil,

diferente. O motivo desse comportamento são os

porém conseguiu sobreviver até os dias atuais,mesmo

jogos de futebol que conseguem atrair a audiência de

sofrendo com esta grande concorrência. Diversas

um grande público. As partidas ocorrem normalmente

circunstâncias contribuem para manter e atrair uma

à noite, no momento em que muitos ouvintes estão

fiel audiência. A portabilidade é um destes fatores.

voltando do trabalho ou da faculdade,tendo como

Muitas pessoas acompanham a transmissão de

Cabines de rádio no

eventos esportivos pelos seus celulares ou pequenos

Maracanã, hoje em

aparelhos de rádios.

reformas

melhor opção um meio de informação instantânea. Paulo Carvalho, 20 anos, torcedor do Vasco da Gama, é mais um entre vários jovens que retornam Foto: stock.xchng (www.sxc.hu)

Revista Veiga Mais - 90 anos do rádio no Brasil • Ano 10 • 2012.1

• Lucas Albano Portacio Junior

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conta que seu rádio,além da portabilidade, também se destaca pela qualidade na cobertura do futebol. “Por meio do meu celular consigo ouvir em qualquer lugar as partidas do meu Vascão. E não é só isso que me atrai.

Rafaela com seu rádio no

As entrevistas e os comentários são um diferencial na

Engenhão

transmissão, além do narrador,que consegue passar uma emoção distinta da televisão”, diz o universitário. A narração no futebol sempre foi marcada pela grande valorização dos lances, a fim de manter o ouvinte sintonizado em determinada emissora. Na época em que a televisão não tinha sido implantada no Brasil, os locutores chegavam a inventar ou esconder certos momentos da partida para chegar à audiência desejada. Com o início das transmissões pela TV, os narradores foram obrigados a se tornar mais fiéis aos um dos atrativos para sobreviver à concorrência com

lances das partidas. E muitos ouvintes tornam-se fãs das emissoras de

a televisão. O investimento na manutenção destes

rádio exatamente pela forma da narração dos locutores,

locutores e a ampla cobertura jornalística das partidas

que se torna exclusiva desse meio de comunicação.

são fundamentais para renovar seu público.

Rafaela Mattos, 49 anos, alvinegra de coração, é um exemplo de torcedora que, mesmo estando presente nos estádios, não abandona seu radinho de pilha. “Estou sempre acompanhando o Botafogo no Engenhão e levo meu rádio, pois torna a partida muito mais emocionante”, comenta a botafoguense. O relacionamento do ouvinte com o narrador é normalmente uma forma hierárquica de transmissão de informações. O locutor narra a partida de futebol enquanto o público, na sua maioria, escuta os lances do jogo e acredita na veracidade dos fatos e comentários transmitidos. Dessa relação podem se formar laços do receptor com o emissor da mensagem. “Gosto de ouvir na rádio TUPI. O Luis Penido consegue passar a emoção que acontece dentro do campo”, diz Rafaela. José Carlos Araújo, locutor esportivo consagrado, é outro nome que atrai uma grande audiência por

2011, vinte e nove milhões de norteamericanos escutavam rádios online por smartphones

E parece que a estratégia tem dado certo. Atualmente, cresce o número de jovens ouvindo rádio por meio de celulares. O surgimento da ‘radio web’ e a mudança de plataforma das antigas emissoras contribuíram para esse aumento da audiência nesta faixa etária. De acordo com site Nielsen Wire, em 2011, vinte e nove milhões de norte-americanos escutavam rádios online por smartphones. Esta quantidade aumentou em 66% comparado a 2010, quando havia dezoito milhões de ouvintes nos Estados Unidos. Os dados pesquisados no exterior refletem uma tendência em todo o mundo: o aumento no contingente de ouvintes por meio de novas tecnologias. O crescimento demonstra que o rádio ainda persiste como um grande formador de opinião. Este meio de comunicação se destaca nos dias atuais por sua portabilidade e pela qualidade nas transmissões

sua narração. A rádio sempre busca um diferencial

esportivas. Assim, se mantém no mercado e consegue

na transmissão das partidas e a forma de narrar é

atrair novos públicos para suas programações diárias.

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Foto: Lucas Albano Portacio Junior

de sua faculdade escutando os jogos de seu time. Ele

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PROGRAMA CASÉ

“O QUE A GENTE NÃO INVENTA, NÃO EXISTE” • Viviane Bassul

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A história do homem que inovou a radiofonia

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brasileira não foi fácil. Ademar da Silva Casé nasceu em Belo Jardim, Pernambuco, em 9 de Novembro de 1902. Um menino que cresceu vivendo as intercorrências de uma vida no interior do Nordeste e que, com apenas 17 anos, viu o vírus da gripe espanhola expandir-se em sua casa. Todos ficaram doentes, exceto sua mãe, mas seu pai não teve a mesma sorte, contraiu a doença e não resistiu, faleceu. Em busca de uma vida melhor, Casé se muda para o Recife. Mas o destino não foi muito amigável e o jovem passou fome e chegou a dormir nas praças da cidade. Mas, após uma breve carreira militar, que rendeu a Casé até uma rápida detenção em São Paulo, ele resolve tentar a sorte na capital, como tantos outros nordestinos. Meses

visão ampliada para os negócios, onde colocasse a mã,

depois, Casé chega ao Rio de Janeiro em um pau de

dava certo. Segundo seu neto, Rafael Casé, 49 anos,

arara. Tornou-se agenciador de anúncios para a revista

jornalista, professor e diretor executivo do Observatório

Don Quixote, Careta, Revista da Semana, Fon-fon, Para

da Imprensa: “Ele era um agente catalisador, tinha boas

Todos, Cena Muda e o Malho. Mas como o dinheiro

e ideias e visão, sabia escolher com quem trabalhar,

era pouco, decidiu que precisava de mais um emprego e começou a ser vendedor de receptores Phillips. Com uma forma diferenciada de vender os

A primeira transmissão

sempre dava espaço e teve boas parcerias”.

do programa do Casé foi

Mas Casé era rígido com seu trabalho, com uma

realizada há 80 anos

posição muito conservadora para um homem tão à

aparelhos. Casé, em pouco tempo estava na rádio

frente de seu tempo. Para ele, bastava a pessoa trabalhar

e seu primeiro programa foi ao ar no Domingo de

que ela também chegava aonde ele chegou. Casé não

carnaval, 14 de fevereiro de 1932. Casé não havia

se achava um grande gênio, mas sim um homem com

sequer pensado em um nome para seu programa,

força de vontade e que corria atrás de seus objetivos.

que foi batizado no ar pelo Diretor da Rádio Phillips,

Foi assim que Programa Casé, com pouco tempo

Augusto Vitorino Borges, “A rádio Phillips do Brasil,

de existência, era o mais ouvido do Rio de Janeiro.

PRAX, vai começar a irradiar o Programa Casé”,

E era pelo microfone dele que passavam os maiores

disse o diretor ao entregar o programa a Casé.

artistas, como Carmen Miranda, Orlando Silva, Sílvio

Casé era um homem visionário e se juntava com

Caldas, Pixinguinha e Noel Rosa, que trabalhou como

pessoas para colocar suas ideias em prática. Com uma

contrarregra no programa a convite do apresentador.

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Mas foi com o programa Noite de Gala que

programas de rádio e, com isso, deu fim ao amadorismo

a dupla imprimiu, na década de 50, o ritmo de se

e começou a nova era das grandes produções.

produzir televisão que existe é seguido até hoje. Mas

Foi Casé o responsável pela criação do primeiro

nem tudo era tão glorioso para o criador de tantos

jingle publicitário, em 1932, propaganda musicada da

programas. Com a idade e a pressão do trabalho, em

Padaria Bragança, localizada no bairro de Botafogo, Rio

1960, Casé sofreu um infarto e, por recomendações

de Janeiro, e também pela introdução do background no

médicas, abandonou os meios de comunicação,

rádio, uma música de fundo durante os intervalos das

deixando seus ensinamentos e um legado de

apresentações, um recurso absolutamente indispensável

histórias para a família, que tem uma maioria ativa

nos dias de hoje. Além disso, teve participação na

no meio da comunicação até hoje, com: Paulo Casé,

primeira rádio novela em 1936.

cineasta, Diretor do longa nacional “Cilada.com”.;

O apresentador era conhecido também por

Geraldo Casé, criador do programa, Sítio do Pica-

valorizar os artistas, e esse respeito não se dava

Pau Amarelo; e a atriz e apresentadora Regina Casé.

somente na sua forma de saber conduzir e reunir

Inovador, Casé é

suas estrelas, mas, sobretudo,

considerado o criador

Aos 90 anos, faleceu e deixou órfãos a televisão

bons cachês que eram pagos a todos que passavam

do primeiro jingle

e o rádio, mas entrou para a história com o mais

pelo programa, o que resultava em audiência e,

e responsável pela

importante e inovador personagem dessa história

consequentemente, em mais anunciantes.

introdução do background

que nunca acaba, pois como, ele mesmo disse, se a

no rádio

gente não inventar, não existe.

em relação aos

E era assim que o homem que dominava o horário carioca era conhecido, um grande criador. No rádio foram 19 anos de sucessos, e com uma trajetória de dar inveja a qualquer outro apresentador. O programa passou por inúmeras rádios, entre elas, Rádio Phillips, onde iniciou, Rádio Sociedade, Rádio Transmissora, Rádio Ipanema, Rádio Mayrink Veiga, Rádio Globo e a Rádio Tupi, último palco do programa em 1951, quase 20 anos após sua estreia. Foi em 1951, porém, que Casé alçou voos mais altos e, visionariamente, se juntou a Assis Chateaubriand em uma nova aventura, a televisão. A nova ideia gerou dúvidas, mas sem medo de se arriscarem, se lançaram nessa nova empreitada, trocaram o rádio pelo novo veículo. Nessa mesma época, Casé também montou uma agencia de propaganda, Midas, junto com Abraham Medina, que existe até hoje e dirigida por seu filho. Junto com Chatô, destacaram-se em várias outras áreas, criaram os programas, Convite à

Mas, no dia 7 de abril de 1993, Casé saiu do ar.

Revista Veiga Mais - 90 anos do rádio no Brasil • Ano 10 • 2012.1

Casé introduziu um dinamismo jamais visto nos

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Música, Show Cássio Muniz, Show Regina, Noite de Gala, Tele – Sena e Petit Ballet, ambos, sucessos.

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REDES SOCIAIS: AS NOVAS ALIADAS DAS RÁDIOS BRASILEIRAS

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Em “Pela Internet”, Gilberto Gil já cantava que

rádios, como afirma Aline Rocha, 34 anos, jornalista

queria “entrar na rede, promover um debate, juntar

e gerente de controle do site da Rádio Tupi, onde

via internet um grupo de tietes de Connecticut”.

trabalha há cerca de dez anos.

Após 90 anos de história do rádio no Brasil, parece

“Eu tenho a oportunidade de divulgar coisas

que finalmente esse meio de comunicação entendeu

interessantes e atualizações para todo público, o que

a mensagem e encontrou uma de suas maiores

desperta a curiosidade e o interesse dos ouvintes em

aliadas: as redes sociais.

conhecer conteúdo novo da programação da rádio”, destaca a jornalista.

Apesar do que muitos pensam, a rede social não nasce na internet, mas encontra nela o ambiente perfeito

O mesmo pensa Pedro Amorim, 26 anos, radialista

para se desenvolver. Ela surge a partir da necessidade

e redator chefe da web rádio My Way. Segundo ele,

humana de interagir com o próximo para partilhar seus

por meio desta ferramenta, o comunicador consegue

interesses, valores e opiniões. Na web, essa ferramenta

definir seu público-alvo com maior facilidade, além

é desenvolvida com o mesmo propósito e em diferentes

de estar sempre em contato com seu ouvinte.

níveis, sejam eles profissionais ou pessoais, desafiando

“As redes sociais são uma das armas da web rádio. Geralmente uma rede está sempre interligada à outra,

barreiras de espaço e tempo.

pois facilita o trabalho da equipe, já que a rádio, seja

Entre os grandes benefícios oferecidos por este recurso estão a interatividade e o aumento

Aline Rocha, jornalista e

ela por ondas ou por internet, tem maior agilidade do

na facilidade de comunicação, objetivos mais

gerente de controle do site

que outros meios de comunicação”, afirma Pedro.

procurados pelos veículos, especialmente pelas

da Rádio Tupi

O resultado da popularização deste instrumento não Fotos: Ernesto Emanuel Caetano Braga

Revista Veiga Mais - 90 anos do rádio no Brasil • Ano 10 • 2012.1

• Ernesto Emanuel Caetano Braga

poderia ser outro. Segundo Aline, atualmente, muitas empresas adotaram um novo cargo, o de analista ou coordenador de redes sociais, que ganha cada vez mais importância e destaque dentro da companhia. “Nós temos uma pessoa no departamento da internet responsável por fazer o monitoramento e atualizar as redes sociais da rádio. Hoje, com muitos recursos, é tudo programado”, diz Aline. Um exemplo de rede social trabalhada por este profissional é o Twitter. Conhecido por seu limite de 140 caracteres, o microblogging faz sucesso entre os jovens e adultos que “tuitam” diariamente sobre assuntos variados. Muito parecido com o rádio, o Twitter é uma rede social simples, imediata e rápida,

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que permite aos ouvintes e radialistas manterem contato direto uns com os outros. É o caso da estudante de jornalismo Aldilene Mafra, 20 anos. Apaixonada por rádio, ela escuta quase todos os dias os programas Momento de Fé, do Padre Marcelo Rossi, da Rádio Globo, e Experiência com Deus, do Padre Reginaldo Manzotti, da Rádio Catedral. “Eu

principalmente durante meus programas preferidos. É uma experiência muito interessante”, conta a estudante. Aline Rocha engrossa a estatística dos que apostam na importância do Twitter para as rádios e destaca o Facebook como outra ferramenta importante para se trabalhar e atrair novos ouvintes. “As redes sociais são atualizadas de forma bem parecida. Durante o carnaval, a rádio usou muito o Facebook. As pessoas comentavam sobre o desfile, as escolas de samba, elogiavam e criticavam, enfim, participavam mais”, lembra a jornalista. Criada em 2004 pelos estudantes da Universidade de Harvard, Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Chris Hughes e pelo brasileiro Eduardo Saveri, esta rede oferece recursos diferenciados em comparação com outras mídias sociais - maior número de aplicativos, compartilhamento de informações, postagem de vídeos, fotos, textos e maior controle na privacidade.

Também conquistamos um público mais jovem, mas

Além destas ferramentas, Pedro não descarta o uso

ainda temos uma participação muito grande pelo telefone”, afirma Aline.

do Orkut. Segundo o radialista, esta rede social, que já foi a mais famosa no Brasil, perdeu seu poder e hoje

O fato apresentado pela gerente de controle do

é voltada para outro tipo de ouvinte. “A web vive de

A Tupi começou a

site da Rádio Tupi é confirmado por Pedro. Para ele,

acessos. Não importa qual rede estamos trabalhando,

investir nas redes sociais,

as rádios tradicionais AM e FM ainda têm dificuldade

essa é a nossa audiência”, ressalta Pedro.

mas grande parte da

em se adaptar a esta nova realidade virtual.

Mas, apesar do esforço das rádios, nem sempre se

participação continua

- As rádios ainda não sabem como usá-las. Você

consegue uma resposta ideal pela web. Aline admite que,

sendo pelo telefone

pode procurar uma boa web rádio, com trabalho

a princípio, a Rádio Tupi teve dificuldade em conquistar

sério, que tem mais seguidores do que grandes

seu público na internet, já que este é composto em grande

emissoras. Porém, temos que levar em consideração

parte por adultos acima de 40 anos.

público, estratégia, entre outros fatores. As rádios

“Depois de um tempo, nós conseguimos trabalhar bem as redes sociais e ter uma resposta positiva.

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uso muito o Twitter para me comunicar com as rádios,

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tradicionais ainda vão ter que evoluir muito – opina o radialista.

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MUITO MAIS QUE ENTRETENIMENTO

PROGRAMAÇÃO DAS RÁDIOS AM E WEB PRESTIGIA SÉRIE B DO FUTEBOL Fotos: Carlos Júnior

• Vitor Costa

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O rádio e o futebol são duas paixões nacionais

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interligadas e ambos se modernizam com o tempo. Novas tecnologias vão surgindo e, consequentemente, novos públicos, que criam cada vez mais segmentos de audiência. Por outro lado, clubes novos e com maior poderio financeiro também são criados e os mais tradicionais que não se destacam acabam perdendo espaço na grande mídia. Se, quando se fala em Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco, aparecem diversas opções para acompanhar os jogos, não se pode dizer o mesmo das outras 12 equipes do Estadual do Rio de Janeiro e, principalmente, as 21 que hoje estão na Segunda Divisão. E é aí que surgem as rádios AM e webrádios que prestigiam os demais clubes

Universidade Veiga de Almeida. Um grande buraco

que não dispõem desse espaço. Hoje em dia,

foi preenchido. No fim, o America acabou campeão.

inclusive, essas partidas surgem como alternativa

“Não

para a conquista de recursos visando manter o restante da programação. Em 2009, o America Football Club disputou

existia

nada

que

pudesse

trazer

informações específicas do clube e, muito Luiz entrevista o goleiro

menos, transmitisse os jogos. Era um cenário

Márcio, do Madureira

desolador. Fizemos um esforço muito grande

a Série B do Estadual pela primeira vez em sua

para que tudo isso acontecesse. Viajamos pelo

história. O clube, então, não tinha perspectivas de

interior do estado em locais como Campos dos

mídia e a torcida não sabia por onde acompanharia

Goytacazes e Quissamã, sendo o único veículo

os jogos. O radialista e publicitário Fabio Bião

a transmitir todos os jogos”,afirma Bião, que se

encontrou a solução: criar uma webrádio com a

orgulha de ter tido ouvintes ilustres, como Alex

transmissão de todos os jogos.

Escobar e José Trajano.

A estratégia deu certo. Sem perder um jogo

Tudo isso foi recompensado no fim do ano

sequer, o America Na Rede foi um grande sucesso

quando, por uma votação popular na internet,

entre os torcedores. A oportunidade de trabalhar

o ANR foi eleito a melhor webrádio esportiva,

com um público-alvo bem específico em um

vencendo,

cenário desolador animou a equipe que foi formada,

curiosamente de um time dos ditos grandes do

inclusive, contando com uma parceria com a

futebol carioca.

inclusive,

o

Canal

Fluminense,

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OS PEQUENOS SÃO OS MAIORES Perfil semelhante ao do America Na Rede tem

durante a transmissão por intermédio de um chat,

a Rádio FutRio, que pode ser ouvida pela internet,

há um grande conhecimento sobre o público-alvo,

implantada no site homônimo que surgiu em

o que torna mais fácil a criação de uma identidade

2007 com notícias dos clubes pequenos do Rio de

da rádio para se adequar ao gosto de sua audiência.

Janeiro. Em 21 de janeiro de 2011, com a partida

“Temos uma interação muito legal com

entre Olaria e Madureira, pelo Campeonato

nosso público, que é muito carente em relação a

Estadual daquele ano, foi dado o pontapé inicial

transmissões. Na maioria dos jogos, transmitimos

para um novo projeto que hoje está consolidado

com exclusividade. Com isso, torcedores de outros

no ramo da mídia esportiva carioca.

times passam a nos ouvir”, conta Rogério.

Já foram mais de 150 transmissões e, em apenas

Depois de fixar as transmissões, a ideia de

uma delas, um time grande esteve envolvido.

Rogério é montar uma programação para a rádio,

Foi na final da Taça Guanabara de 2011. Afinal,

com atrações variadas dentro do próprio futebol

havia um representante das equipes de menor

de menor investimento do estado. Segundo ele,

investimento. Era o Boavista. E a torcida do

os próprios jogos podem chamar audiência para

Verdão de Saquarema estava ligada no FutRio,

os demais dias da webrádio. Além disso, outras

mesmo com transmissões de TV e rádios em geral.

apostas, como o futevôlei feminino, aparecem

“Não poderíamos deixar de transmitir uma

dentro do FutRio. Tudo sem fugir da proposta inicial e sem deixar de lado o foco.

partida em que o nosso foco estava envolvido. Foi um fato histórico o Boavista disputar uma

EXPERIÊNCIA QUE DÁ CERTO

final de turno do Campeonato Carioca e, por isso,

Anderson Luiz durante

marcamos presença”, explica Rogério Nunes, um

a partida entre Olaria x

Quem viveu isso na pele foi Anderson

Madureira

Luiz, que há mais de dez anos atua como

dos idealizadores do projeto da webrádio.

repórter esportivo (mais recentemente na Rádio Fluminense AM) e hoje está no próprio FutRio, apostando no projeto que aponta como inovador. Para o cronista, as transmissões de jogos “esquecidos” podem aumentar a audiência de toda uma rádio. “Os torcedores desses times sabem que não vão encontrar informação nos grandes veículos e começam a procurarem alternativas. Isso faz com que a rádio ganhe audiência não só durante a partida que está sendo transmitida. Com uma divulgação do restante da programação, as rádios acabam ganhando um ouvinte fiel, mesmo que não seja durante um jogo de sua

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Com a possibilidade de o ouvinte interagir

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equipe do coração”, enfatiza Anderson.

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O RÁDIO NA ERA DA TV

Foto: stock.xchng (www.sxc.hu)

• Melina França No fim da tarde, a família se reunia na sala de casa – dos mais velhos às crianças. O rádio, no meio do recinto, chamava todo mundo para saber

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das últimas notícias, se divertir com shows de

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auditório, se emocionar com as novelas ou ouvir as rainhas Emilinha e Marlene. No futebol, a duração do “gol” proferido por Ary Barroso era para dar tempo de apurar o autor da façanha. Gente simples lotava os auditórios para ver de perto ídolos, como Carmem Miranda e Linda Evangelista que, de outra forma, não poderiam ouvir. Ademar Casé, o caçador de estrelas, era um dos homens responsáveis por colocar novas vozes no ar. A geração dos anos 30 tinha se encantado com a caixa mágica de onde saía toda sorte de som. Até que, no início dos anos 50, chegou a televisão.

84 anos. Ela se mexe na cadeira e cantarola. Ela gostava dos show da Era de ouro,

O povo se viu diante de um aparelho que não apenas

mas que ouve rádio até hoje. “Nunca deixei de ouvir. Acho uma besteira essa

transmitia sons, como também projetava imagens.

conversa que o rádio vai acabar, que o jornal vai acabar”.

Artistas famosos do rádio migraram para a nova

A gastrônoma Graça Lima, de 60 anos, gostava mesmo era das novelas. “Na

mídia. Até o jornalismo foi na onda, e o Repórter

década de 60, produziram novelas muito boas. O Sheik de Agadir (julho de 1966

Esso foi para a TV. No rádio, o show de outrora

– fevereiro de 1967) foi uma. A televisão fez até uma versão. Aliás, eles fizeram

minguou. Era o fim da chamada “Era de ouro”,

versão de tudo quanto era sucesso. Eu era pequena, mas falava até os bordões”. Em

iniciada em meados dos anos 40. Agora, a alcunha

Jerônimo, o herói do sertão (1953), o personagem principal era conhecido pela frase

de “fase vitrolão” tinha seu quê de pejorativo. A

“Sebo nas canelas, goiabada” – sendo repetida por tudo quanto era gente. A mais

maioria das emissoras não fazia nada senão rodar

famosa, porém, foi provavelmente “O Direito de Nascer” (1952). O Brasil inteiro

discos na sua programação. Outras, no entanto,

parou para ver. “Eram novelas muito dramáticas, até pitorescas. Eu adorava”, revela.

viram no desenvolvimento do radiojornalismo

Professor de francês aposentado, Paulo Bezerra, de 74 anos, também gostava dos

uma opção para se adaptar aos novos tempos. Se o

programas de Jorge Goulart, Ângela Maria e Nora Ney. Como morava em Natal,

rádio não morreu diante disso, no entanto, é porque

capital do Rio Grande do Norte, a televisão demorou a fazer parte da sua vida.

sempre teve ouvintes fiéis.

“Pouca gente tinha aparelho de TV, então o rádio continuava sendo a principal mídia.

“Eu gostava de ligar na Nacional, mesmo depois

Mesmo assim, a gente notava a mudança pela programação. Depois dos grandes

de a TV ter chegado aqui no Brasil. Os jovens de

shows de calouros, novelas e programas de auditório, cada vez mais o jornalismo

hoje nem sabem o que é PRE-8, né? Mas deixa eu

foi tomando espaço na programação”. De fato, as saídas adotadas depois dos tempos

dizer: nos anos 50, o rádio ainda era uma festa”,

áureos do rádio serviram para definir, de certo modo, o modelo atual – quando a

relembra a advogada aposentada Benize Dantas, de

programação é composta principalmente por notícias e música.

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