eSPeCiAL AGroLeiTe
OUTUBRO DE 2015
PRÊMIO À QUALIDADE Quando o assunto é produtividade, uma vaca nos Campos Gerais chega a valer por cinco no Brasil. Com investimentos em inovação e tecnologia, o rendimento médio em Castro, a Capital do Leite, supera os 7 mil litros/vaca /ano.
Agroleite reforça caráter técnico para manter expansão
Câmbio favorece mercado do frango e do suíno
[editorial “Cidade do Leite”, da inovação e da tecnologia
O
agronegócio está para os Campos Gerais como o leite está para Castro. Não é da região a maior bacia leiteira do Paraná ou do país. Mas quem disse que os produtores querem ser os maiores. O objetivo aqui é ser o melhor e o mais eficiente. É a busca pela excelência, do campo à mesa do consumidor, onde sanidade e segurança alimentar se apresentam como condição ao mercado, ao abastecimento e ao futuro da atividade. Sede da Colônia Castrolanda, e da cooperativa que leva o mesmo nome, Castro, que carrega o título de “Cidade do Leite”, é um reduto da tradição dos imigrantes holandeses. Um ambiente onde cultura caminha lado a lado com inovação. Foram eles que fizeram do município o maior produtor nacional, com mais de 230 milhões de litros/ano. Para ter uma ideia da liderança, o segundo colocado é Morrinhos (GO), com 165 milhões (l). Ou seja, também há volume para expressar relevância. A referência prioritária, no entanto, é sempre a qualidade. Mas quando o assunto é produtividade, que tem relação direta com tecnologia, a cidade dá outro show. Uma vaca de Castro, por exemplo, vale por cinco vacas na média brasileira. Enquanto no Brasil o rendimento médio fica em torno de 1,4 mil litros/vaca/ano, o índice em Castro fica acima de 7 mil litros, o maior do país. Carambeí, outro reduto do leite e dos holandeses, aparece em segundo, com 5,8 mil litros. O leite é o grande ativo de Castro e um dos grandes negócios dos Campos Gerais. A região, porém, é pura diversificação. Do leite à carne, dos grãos aos cereais, surge a agroindústria. Uma economia rural que favorece e impulsiona o desenvolvimento econômico e social, não deste ou daquele município, mas regional e estadual. Um modelo de produção que você vai conhecer nas próximas páginas de mais uma edição da revista do Agronegócio Gazeta do Povo. Uma realidade que também estará presente na Agroleite 2015, organizada pela cooperativa Castrolanda, que foi uma das motivações desta publicação. Boa Leitura! Giovani Ferreira Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo. giovanif@grpcom.com.br
[índice
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SEM CRISE Com meta de crescer 10% ao ano nas próximas edições, Agroleite mantém investimentos e inaugura oficialmente a Cidade do Leite
CARNES EM ALTA Embaladas pelo dólar, cadeias produtivas do frango e dos suínos driblam o cenário de pessimismo e ganham participação nos mercados interno e externo
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DIFERENCIAL COMPETITIVO
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LEGADO DE UMA REVOLUÇÃO
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GASTRONOMIA HOLANDESA
Moinho de trigo das cooperativas do ABC garante demanda o ano todo e valoriza produção dos triticultores que abastecem a indústria dos Campos Gerais
Acervo que conta a história do plantio direto na palha aguarda nova casa nos Campos Gerais, região que, há quatro décadas, foi a pioneira na tecnologia
Cozinha dos Países Baixos tem muito mais a oferecer do que a famosa torta holandesa. Com nomes impronunciáveis, os pratos típicos ganham espaço na mesa brasileira
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
[destaques
20 a 23 CIDADE DO LEITE
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BALDE CHEIO Com produtividade e qualidade, Campos Gerais produzem leite de sobra para abastecer indústrias de outros estados, mas dependem de boa estrutura nas rodovias
SUCESSÃO RURAL Clube de Bezerras e Clube de Borregas alavancam formação de novos produtores na região dos Campos Gerais
eXPeDieNTe A revista Agronegócio Gazeta do Povo é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Editor Executivo: Giovani Ferreira. Edição: Luana Gomes e Igor Castanho. Editor Executivo de Imagem: Marcos Tavares. Editores de Arte: Acir Nadolny e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole. Diagramação: Alfredo Netto. Tratamento de Imagem: Edilson de Freitas. Capa: Marcelo Andrade. Redação: (41) 3321-5050. Fax: (41) 3321-5472. Comercial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: agro@gazetadopovo.com.br Site: www.agrogp.com.br Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente. Impressão e acabamento: Gráfica e Editora Serzegraf.
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
No ano em que o Paraná se aproxima da marca dos 5 bilhões de litros produzidos, Castro assume a dianteira e se consolida como Capital Nacional do Leite. Com tecnologia de ponta e práticas pioneiras de manejo, região mostra que escala e qualidade não dependem do tamanho do rebanho
[agroleite
Estabilidade e expansão gradual Feira reforça caráter técnico para incentivar profissionalização dos
Pavilhão Agroleite, Praça Central e Vila Holandesa integram a Cidade do Leite, um complexo anexo ao Parque de Exposições Dario Macedo, onde ocorre a feira.
produtores e dar mais competitividade ao setor. Meta é crescer em média 10% ao ano nas próximas edições
especial para a Gazeta do Povo
:: Em um ano pouco favorável para os negócios, em que muitas feiras agropecuárias não tiveram o resulta do esperado, a 15ª Agroleite abre os portões do Parque de Exposições Dario Macedo no próximo dia 20 sem medo da crise. Segundo Frans Borg, presidente da Cooperativa Castro landa, organizadora do evento, o mercado do leite passa por um momento de queda na demanda e aumento nos custos de produção. Mas os bons resultados dos anos ante riores dão fôlego aos produtores, principalmente àqueles que têm visão de médio e longo prazos, avalia o dirigente. “Se você parar por causa de uma crise desta, fica para trás. Precisamos nos atualizar em conhe cimento e tecnologia”, diz. Com o tema “O Universo do Conhecimento”, a Agroleite 2015 promete manter o compromisso de ser uma vitrine da tecnologia e ofere cer conhecimento sobre todas as eta pas da produção. Segundo Borg, mais do que atrair um grande número de pessoas, o principal objetivo da feira é promover a troca de conhecimento entre os produtores. Para o presiden te da Castrolanda, a efetiva comuni cação entre todos os elos da cadeia do leite – do setor de insumos à genéti
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GAZETA DO POVO
AGRONegócio Setembro de 2015
ca, passando pela tecnologia de pro dução dentro e fora da porteira – é o que torna o mercado competitivo. Com metas de longo prazo, a Agroleite aposta na estabilidade e na expansão gradual. A previsão dos orga nizadores é de que a feira cresça, em média, 10% a cada ano nas próximas edições. No ano passado, a exposição movimentou R$ 60 milhões em negó cios e reuniu 98 mil pessoas. O otimis mo se deve à participação integral dos parceiros na edição de 2015. “Isso é um sinal de que o negócio tem que conti nuar. São pessoas que enxergam a médio e longo prazo”, afirma o presi dente da feira. Ao todo, a Agroleite con tará com cerca de 200 expositores e espera reunir visitantes de todo o país e até público internacional. Na programação técnica, um seminário internacional e diversos fóruns e painéis vão discutir temas como genética, alimentação, quali dade animal e apresentar as perspec tivas para o setor. Além da pecuária leiteira, a Agroleite abre espaço para agricultura, suinocultura e ovinocul tura. Exposição de animais, torneio leiteiro, Clube de Bezerras, leilão, dinâmica de máquinas também inte gram a programação da feira, que acontece entre os dias 20 e 24 de outubro em Castro, município para naense que ganhou recentemente o título de Capital Nacional do Leite.
CIDADE DO LEITE EM NÚMEROS* Área total: 300 mil m² Animais expostos: 600 Expositores: 170 Público: 98 mil pessoas Negócios: R$ 60 milhões *resultados de 2014
Serviço Mais detalhes da feira e a programação completa podem ser acessados no site oficial do evento:
www.agroleitecastrolanda.com.br
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Gisele Barão,
Edição de 2015 conta com cerca de 200 expositores.
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Divulgação/Agroleite
Residência permanente na Vila Holandesa
“Se você parar por causa de uma crise desta, fica para trás. Precisamos nos atualizar em conhecimento e tecnologia.”
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Com arquitetura típica, 20 sobrados que compõem a Vila Holandesa vão funcionar como estandes fixos para empresas.
Frans Borg, presidente da Cooperativa Castrolanda, organizadora do Agroleite
Feira recebeu 98 mil visitantes em 2014.
:: Inaugurada oficialmente em 2013, a Vila Holandesa promete movimentar a Cidade do Leite neste ano. O projeto foi pensado e desenvolvido pela Cas trolanda há aproximadamente cinco anos e, desde então, vem recebendo investimentos constantes. “Perceber mos que a feira estava crescendo mais rápido do que nós conseguíamos investir em infraestrutura. Já tivemos problemas de estacionamento, estru tura dentro parque, pavimentação, e estamos nos adequando”, diz o presi dente da cooperativa, Frans Borg. A grande aposta é justamente na Cidade do Leite, um complexo anexo ao Parque de Exposições Dario Macedo que é formado pelo Pavilhão Agroleite, Praça Central, Vila Holan desa e, no futuro, pelo Castrolanda Convention Center. O Pavilhão Agroleite, destinado aos animais da Pista de Julgamento, foi inaugurado em agosto de 2014, quando sediou a 47ª Exposição Nacional da Raça Holandesa e a 33ª Exposição Nacional da Raça Jersey. O local tem capacidade para 700 animais, com espaço de 7 mil m². A Praça Central é um espaço para evidenciar a cultura holandesa e ponto de encontro para os visitantes da Cidade do Leite. Mas a estrutura que mais tem rece bido investimentos atualmente é a Vila Holandesa. O espaço foi concebi do não apenas para oferecer um ambiente adequado para os exposito res durante os cinco dias de feira, mas para funcionar como um centro comercial do agronegócio na Cidade do Leite ao longo de todo o ano. São aproximadamente 20 sobrados, pro jetados com o diferencial da arquite tura holandesa, que vão funcionar como estandes fixos para empresas da área. A cooperativa aluga o espaço e a empresa pode utilizar como escri tório comercial, por exemplo. Segundo Borg, todos os sobrados já estão ocupados, com empresas de todas as áreas, como tecnologia de máquinas, medicamentos, insumos e até laboratórios. “As empresas com praram a ideia, e na medida em que fomos construindo, adquiriram o direito de usá-los”, diz. (GB) GAZETA DO POVO
AGRONegócio
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[notas
Apoio tributário
Elza Fiúza/Agência Brasil
:: Atendendo uma reivindicação oriunda do setor produtivo, o governo federal vai permitir que as empresas utilizem parte do dinheiro destinado ao pagamento de impostos para reinvestimentos na cadeia produtiva. O benefício garante que as agroindústrias lei teiras recuperem 50% da contri buição de 9,25% do PIS/Cofins incidente sobre a venda do leite in natura. A exigência é que 5% des ses recursos sejam destinados a projetos que ajudem os produto res de leite na melhoria da quali dade do produto. Conforme proje ção da Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu (foto), isso vai garantir R$ 50 milhões ao ano para assistência técnica e qualificação rural, valor suficiente para atender 20 mil produtores em todo o país.
Mercado invertido
:: Um evento no Memorial da
:: O mês de setembro marcou a reversão na tendência dos preços do leite no Brasil. Relatório divulga do pelo Centro de Estudos Avan çados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, aponta que após seis meses de altas consecuti vas, o preço pago ao produtor caiu nos sete estados pesquisados pela entidade (MG, PR, RS, SC, SP, GO e BA). Na média nacional, o valor líquido (sem frete e impostos) recuou 1,2% de agosto para setem bro, fechando a R$ 0,98/litro. Já pre ço bruto médio (inclui frete e impostos) pago pelos laticínios/coo perativas foi de R$ 1,0667/litro, redução de 1,62% em relação ao mês anterior. O aumento da capta ção em todos os estados e a deman da enfraquecida por derivados lác teos pesaram sobre as cotações. A entidade, que também mensura a expectativa do setor, aponta que a maior parte dos representantes de laticínios/cooperativas projeta nova queda nos preços para este mês.
Imigração Holandesa marca a ceri mônia do Troféu Agroleite, conhe cido no setor como o Oscar do Leite. A premiação homenageia diversos segmentos da cadeia produtiva, desde produtores e empresas até personalidades e mídia dedicadas ao agronegócio. Por votação aberta na internet para todo o Brasil foram selecionados três finalistas de cada categoria e os vencedores serão anunciados durante a feira, na noite de 21 de outubro. Neste ano, o número de categorias pas sou de 16 para 18: Genética, Nutri ção, Medicamentos, Forragens, Sementes, Equi p amentos de Ordenha e Refrigeração, Equipa mentos para Ensilagem, Equipa mentos para Fenação, Tratores Agrícolas, Prestador de Serviços Agrícolas, Técnico do Ano, Agente Financeiro, Associação de Pro dutor, Produtor de Leite do Ano, Laticínio, Embalagens, Mídia Impressa e Mídia Digital.
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Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Troféu Agroleite
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www.brde.com.br
Com as linhas de crédito do BRDE, não é só o leite que tem longa vida. O produtor também. A região de Campos Gerais tem a maior e melhor bacia leiteira do País. E como todo mundo que produz, conta com o apoio do BRDE. Um parceiro de todas as horas, que ajuda a desenvolver a cadeia produtiva do leite no Paraná com crédito de longo prazo, as melhores taxas de juros e assessoria completa. Procure o BRDE, o banco de quem produz.
(41) 3219-8150 GAZETA DO POVO
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[entrevista
Inovação compartilhada Cadeia de conhecimento que começa na pesquisa, com a busca constante de novas tecnologias, termina na Agroleite, uma das principais vitrines dos lançamentos do setor
ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
:: Em um mercado competitivo e dinâmico como o do leite, a renovação tecnológica é condição à sustentabili dade do setor. Mas este é um processo longo, que começa na pesquisa, e que, para ter efeitos práticos, precisa che gar ao produtor. E é justamente para fazer esta ponte que a Agroleite leva a campo, há quinze anos, o que há de mais novo em tecnologia e inovação. Para Frans Borg, presidente da coope rativa Castrolanda, organizadora da exposição, com crise ou sem crise, o segredo do sucesso está na dissemina ção do conhecimento.
cam esse conhecimento?
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
GISELE BARÃO,
A maior dificuldade é a profissionalização do produtor. A nossa região já mudou muito em relação a isso, mas no Brasil cerca de 80% dos produtores ainda produzem de forma antiquada, estão há 50 anos estão no mesmo processo. São sistemas que familiarmente ainda são viáveis, porque a necessidade do produtor é mínima. Por outro lado, existem produtores que buscam rentabilidade melhor. E, para isso, precisam ser mais eficientes no que se propõe a fazer. Na nossa região, em média, se utiliza o hectare de terra dez vezes mais intensivamente do que na média do país. As cooperativas têm um papel importante neste processo, pois investem em pesquisa e desenvolvimento. Através da Fundação ABC, buscam tecnologia no mundo inteiro para aplicar na região. E uma das ferramentas para isso é a feira.
Desde sua primeira edição, a Agroleite preserva um perfil essencialmente técnico, uma programação focada na inovação e disseminação de novas tecnologias. Como o senhor vê essa troca de conhecimento? O foco da Agroleite é a tecnologia e o conhecimento. A gente fica surpreso com a quantidade de novas tecnologias que aparecem na área, mas elas nem sempre chegam a todos os produtores. A missão da feira é ser uma ferramenta para que todos os elos da cadeia produtiva se comuniquem entre si, para disseminar este conhecimento. A feira é uma vitrine.
outra necessidade do mercado de lácteos é a gestão do negócio. Como os produtores da região bus10 GAZETA DO POVO
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A formação de condomínios é uma forma de viabilizar esses sistemas de produção familiares que o senhor citou?
“A missão da Agroleite é ser uma ferramenta para que todos os elos da cadeia produtiva se comuniquem entre si, para disseminar o conhecimento. A feira é uma vitrine.” Frans Borg, presidente da Castrolanda
Muitas vezes, individualmente, o produtor não consegue ter escala. Então, uma das formas de diminuir o custo do investimento e ser mais eficiente é o condomínio. Grande parte dos produtores não consegue enxergar isso, porque quer ter seu próprio negócio. Mas a gente procura incentivar. Hoje o produtor de leite tem que plantar pastos, milho, forrageira, tem que tratar o gado, tirar o leite, cuidar da limpeza... Então eles têm muita atividade. A ideia é fazer com que eles se especializem, assim conseguem ser mais eficientes.
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[sucessão
Clube de Bezerras e Clube da Borrega contribuem para formação de novos produtores na região dos Campos Gerais
carlos Guimarães Filho :: Daniel Pacheco de Lima, de 11 anos, frequenta um clube diferente dos tradicionais encontrados nas cidades grandes. Ao invés de piscina, quadra de futebol ou parquinho, o jovem se reúne semanalmente com outras 34 crianças, entre 8 e 14 anos, no Clube de Bezerras, onde a diver são é cada um cuidar do seu “animal de estimação”. Criado há 33 anos por intermédio da Castrolanda, cooperativa de Castro, nos Campos Gerais, o Clube busca desenvolver os interesses das crianças, na sua maioria filhos de produtores e de funcionários das fazendas, em relação à atividade. Nos encontros, o grupo aprende os cuida dos básicos com o animal, desde questões sanitárias até o trato como banho e tosa. “Esse é o meu quarto ano e adoro as atividades. Você percebe que tra tando bem o animal ele irá corres ponder”, diz Daniel, que foi a criança melhor classificada nas provas em 2014. “Essa vivência com o meio me
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ajudou a decidir a minha profissão. Quero ser técnico agrícola ou médico veterinário para, um dia, me tornar gerente de propriedade”, comple menta. Após completar 14 anos, os inte grantes são promovidos pra o Clube de Jovens Talentos, onde ficam até os 18 anos. Nesta fase, as atividades têm como objetivo inserir os jovens no setor leiteiro, garantindo sustentabi lidade para o ramo. Ao longo das três décadas de exis tência, os resultados práticos obtidos com o Clube de Bezerras são incontá veis. O pecuarista Armando Rabbers participou do projeto logo nas pri meiras turmas. Hoje, ele é um dos principais produtores de leite da região. “O trabalho é importantíssimo, tanto que abro as portas da proprie dade para alguns encontros e incen tivo filhos de funcionários a partici parem”, diz Rabbers. “O Clube é uma forma de tirar as crianças da rotina de televisão e vídeo game e moldar gerações de produtores para o futuro.”
Daniel Pacheco de Lima, de 11 anos, e Lindinha, nove meses: dupla conquistou o primeiro lugar da categoria veterano nas provas do Clube de Bezerras em 2014.
ovelhas O sucesso dos encontros com os bovinos foi o alicerce para a criação do Clube da Borrega, termo utilizado para definir uma ovelha entre 6 e 12 meses. Fundado no início deste ano, o projeto já conta com 17 crianças (11 de Castro e 6 de Curitiba), que estão aprendendo os tratos iniciais como puxar, dar banho, alimentar e tosar. “São filhos de produtores que moram lá [em Curitiba], mas têm fazenda aqui. Elas vêm nos finais de semana para os encontros com uma expecta tiva enorme”, conta, orgulhosa, Renata de Jager, produtora de ovelhas e idealizadora do Clube da Borrega. A ideia surgiu depois que os filhos Davi, 6 anos, e Pamela, 12, demonstra ram interesse pelos mais de 1,2 mil ani mais espalhados pela propriedade. “O objetivo principal é estimular que a criança siga a sucessão familiar. Mas também queremos que vejam a ativi dade com outros olhos”, reforça Renata, que já planeja abrir inscrições para participação de filhos de não pro dutores, já que a ovinocultura ainda não é tão difundida nos Campos Gerais.
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Investimento no futuro
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[indústria
Leite tipo exportação Além das três unidades de beneficiamento da região, produção dos Campos Gerais abastece planta industrial no estado de São Paulo. Diariamente, cerca de 500 mil litros do alimento pegam a estrada
Gisele Barão,
especial para a Gazeta do povo
:: Referência na produção de leite no
Entre 50% e 60% do leite cru que abastece a UBL de Itapetininga, no interior de SP, são produzidos no PR. Josue Teixeira/Gazeta do Povo
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Brasil, os produtores dos Campos Gerais abastecem não apenas as três plantas industriais instaladas na região, como produzem volume sufi ciente para fornecer matériaprima para indústrias de outros estados. A Castrolanda, por exemplo, chega a enviar entre 25% e 30% de sua produ ção diária de leite cru para São Paulo. Todos os dias, cerca de 500 mil litros do alimento pegam a estrada rumo a Itapetininga, numa viagem de 300 quilômetros para abastecer Usina de Beneficiamento de Leite (UBL) que a cooperativa de Castro mantém no interior paulista em conjunto com Frísia e Capal. Inaugurada no final do ano passa do, a UBL de Itapetininga tem capaci dade para industrialização de 2 milhões de litros de leite por dia, mas hoje beneficia de 800 mil a 1 milhão de litros diariamente. As obras da pri meira fase da unidade paulista, fruto de um projeto de intercooperação entre as cooperativas do ABC, recebe ram investimento de R$ 65,082 milhões. “Trabalhando sozinhos, sendo pequenos, há mais dificuldade de competir no mercado, por isso o trabalho conjunto”, explica o geren te de Negócios de Leite da Castrolanda, Henrique Junqueira. Como o volume de leite cru capta do em São Paulo ainda é pequeno, entre 50% e 60% da demanda da planta paulista são abastecidos com
matériaprima paranaense. “Do pon to de vista logístico, [percorrer longas distâncias] não é um problema, por que amplia o mercado consumidor para o leite produzido aqui”, explica Junqueira. Segundo ele, o objetivo da cooperativa é ampliar o volume pro duzido localmente através de convê nios operacionais como ocorre no município de Avaré, num negócio que envolve a gestão de uma coope rativa, mas sem industrialização do produto.
estradas Para garantir o transporte dos milhões de litros de leite que seguem para São Paulo toda semana, a estru tura das rodovias é fundamental. A finalização das obras de duplicação no trecho que liga os Campos Gerais paranenses até Itapetininga deve facilitar a logística de escoamento. Na PR151, as obras começaram em março de 2014 e devem ser finaliza das em 2018. O entroncamento de Jaguariaíva, que vai interligar as rodovias PR151 – trecho entre Piraí do Sul, Jaguariaíva e Sengés – e a PR092 – entre Jaguariaíva e Arapoti – deve ser concluído ainda neste ano. Em seguida, um trecho de 40 quilômetros entre Jaguariaíva e Piraí do Sul receberá pista dupla, numa obra com investimento estimado em R$ 21 milhões, segundo a CCR Rodonorte, concessionária que administra o trecho. Mas, mesmo com a conclusão das duplicações, res tarão 52 quilômetros de pista sim ples até a divisa com São Paulo.
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[aliança láctea
Fotos: Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Cooperação além das fronteiras Atuação conjunta dos três estados do Sul mira o topo na produção leiteira nacional
iGor castanho :: Um ano depois de ser estabeleci da, a Aliança Láctea Sul Brasileira busca a consolidação aparando as arestas que ainda limitam a aproxi mação dos três estados sulistas na pecuária leiteira. Aspectos como a tributação e a ênfase na qualidade da produção são tratados como prioridade, ao mesmo tempo em que o grupo estabelece uma agenda de trabalho para assegurar a execu ção de ações práticas. A meta é assu mir coletivamente a liderança nacional na oferta do alimento, che gando a 19 bilhões de litros produ zidos até 2020. Hoje, o bloco concentra 34,5% da produção láctea nacional, sendo superado apenas pelos estados do Sudeste (veja no gráfico ao lado). “Tratase de um esforço coletivo para resolver problemas e aprovei tar oportunidades comuns ao Sul 16 GAZETA DO POVO
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dentro da cadeia do leite”, explica o secretário adjunto da Secretaria Estadual de Agricultura e da Pesca de Santa Catarina, Airton Spies. “Queremos construir um mercado igual ao que já existe para aves e suí nos na região”, acrescenta. Após a criação oficial da Aliança, em setembro de 2014, quatro reuni ões gerais e diversos encontros técni cos foram realizados. “As lideranças estão presentes. Os secretários de agricultura de cada estado participa ram de todos os encontros até ago ra”, destaca o coordenador geral do projeto, Ronei Volpi. A partir das primeiras discussões, cinco grupos temáticos foram esta belecidos para tratar os pontoscha ve de trabalho: qualidade da produ ção, tributação, assistência técnica, sanidade e organização setorial. Por enquanto, a questão dos impostos é a mais distante de um acordo, já que a própria situação econômica dos
estados limita as negociações, pon tua Volpi. “O aspecto tributário é o mais complexo. É um trabalho deli cado, de longo prazo”, resume. Em paralelo, o setor reforça o apelo por qualidade da produção e descarta um estremecimento nas relações em virtude das investiga ções de fraude no leite do Rio Grande do Sul, em sucessivas etapas da Operação Leite Compen$ado. Para Spies, os fatos ajudaram a fortalecer a Aliança, que reforçou a ênfase na questão. “A fraude existe para escon der o leite ruim. Quando toda a região tiver uma produção de quali dade internacional isso acaba”, argumenta. A articulação das ações é executa da conjuntamente entre os estados, mas conta com uma liderança rota tiva. O grupo já possui encontro marcado durante a Agroleite, quan do a coordenaçãogeral será transfe rida do Paraná para Santa Catarina.
Remuneração
Modelo dos Campos Gerais vira referência O modelo de remuneração adotado pelo pool do leite – encabeçado pelas cooperativas Castrolanda (Castro), Frísia (Carambeí) e Capal (Arapoti) – vira referência na formulação das estratégias da Aliança Láctea. Os pecuaristas são pagos conforme a qualidade do produto entregue, com base em dados obtidos por meio de análises laboratoriais, reduzindo o risco de fraudes ou prejuízos ao consumidor. “Sou pecuarista da região e afirmo tranquilamente que é o melhor modelo de remuneração do Brasil”, diz o coordenador geral do projeto, Ronei Volpi. O sistema do trio ABC está sendo apresentado nas reuniões da Aliança Láctea junto com o case da cooperativa gaúcha Languiru, como forma de indicar os benefícios da prática para toda a cadeia produtiva. (IC)
Mesmo depois de embalado, leite passa por um rigoroso controle de qualidade.
Cadeia recebe atenção nacional :: Os investimentos na cadeia leiteira também despertam a atenção nacio nal. No final do mês passado, o gover no federal anunciou o lançamento do programa Leite Saudável, que projeta investimentos de R$ 387 milhões no setor até 2019. A iniciativa inclui uma série de ações que visam ampliar a ren da dos produtores e melhorar a produ tividade e a qualidade do leite, além de ganhar participação nos mercados interno e externo. Promovido conjuntamente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o programa segue uma diretriz semelhante ao da Aliança
Láctea, congregando os estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A meta é promover a qualificação de 80 mil pequenos e médios produtores e bus car incremento na produtividade do rebanho nacional. Outro alvo é a erra dicação de doenças como a brucelose e a turberculose no rebanho leiteiro dos cinco estados. Como ações complementares, o gover no também planeja a criação de um sistema de inteligência para gerencia mento da qualidade do leite e a amplia ção da unidade do Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) de Pedro Leopoldo (MG), voltado para aná lise de lácteos. As indústrias também vão poder utilizar créditos presumidos do PIS/Cofins para realizar investimen tos na cadeia produtiva. (IC)
TRIO DE PESO Juntos, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são a segunda maior força produtora de leite no Brasil, tendo a liderança no quesito produtividade. Produção estadual e regional em bilhões de litros
Produtividade estadual e regional em litros/vaca/ano
Paraná
04,35
Paraná
2534
Santa Catarina
02,92
Santa Catarina
2577
Rio Grande do Sul
04,51
Rio Grande do Sul
2900
Região Sul
11,77
Região Sul
2674
Região Norte
01,85
Região Norte
0934
Região Nordeste
03,60
Região Nordeste
0776
Região Sudeste
12,02
Região Sudeste
1483
Região Centro-Oeste
05,02
Região Centro-Oeste
1308
Brasil
34,26
Brasil
1492
Fonte: IBGE/2013. Infografia: Gazeta do Povo.
GAZETA DO POVO
AGRONegócio 17
[tecnologia
Vanguarda do
leite Da produção ao processamento, pioneirismo dos Campos Gerais garante viabilidade da atividade no longo prazo e faz de Castro a Capital Nacional do Leite. No município que mais produz o alimento no país, uma vaca rende cinco vezes mais do
Hugo Harada/Gazeta do Povo
que no resto do país.
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Campos Gerais são berço de novas tecnologias e estratégias que têm peso decisivo na rentabilidade e na viabilidade em longo prazo da atividade leiteira.
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Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Ganho de escala: com tecnologia importada dos Estados Unidos, carrossel de ordenha reduz a necessidade de mão de obra e áreas de pastos.
iGor castanho e carlos Guimarães Filho :: A cadeia leiteira dos Campos Gerais do Paraná prova que para produzir com qualidade e escala não é preciso recorrer a enormes pastos lotados de vacas. Apostando em tecnologia de ponta e práticas pioneiras de manejo, a atividade conquista eficiência da ordenha aos laticínios. O desempenho se traduz em produtividades que supe ram com folga a média nacional, esta belecendo um círculo virtuoso que coloca as fazendas da região na van guarda nacional da produção. O resultado é comprovado pelos números. Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2013, apontam que as vacas de Castro e Carambeí registram as melhores produtividades do país. São 7,1 mil e 5,8 mil litros por animal ao ano, respectivamente. No contraponto, as duas cidades não apa recem nem entre as 50 primeiras no ranking de tamanho do rebanho. Na comparação com a média nacio nal (1,4 mil litros de leite/animal/ano), uma vaca castrense produz cinco vezes mais do que no resto do país. Para o diretorgeral da Embrapa Gado de Leite, Paulo do Carmo Martins, há um conjunto de fatores que fazem da região um ponto fora da curva em ter mos de rendimento. “O ambiente de produção é muito organizado, garan
tindo eficiência em pequenas proprie dades. Além disso, a região possui ani mais e genética de ponta, e já erradi cou doenças que ainda existem no Brasil, como a brucelose e a tuberculo se”, pontua. Isso ajuda a explicar porque os Campos Gerais viram berço de novas tecnologias e estratégias de produção. Um dos principais exemplos é a orde nha robotizada, que chegou há três anos na região importando tecnologia inédita da Europa. Responsável pela novidade, o pecuarista Armando Rabbers só aponta vantagens. “O gasto com pessoal foi reduzido. Além disso, o bemestar dos colaboradores aumen tou, pois não precisam levantar de madrugada para fazer ordenha, entre outras tarefas”, revela ele, que é coope rado da Castrolanda. Controlado por um software, o sis tema ajudou a impulsionar a produ ção de leite, hoje na casa de 36 litros ao dia por animal em lactação, contra os 24 litros do processo anterior. As máquinas, que custaram R$ 2,9 milhões (incluindo gastos com funda ção e estrutura), funcionam dia e noite e recebem 15 animais por hora. Com 135 animais e dois robôs, Rabbers já traça novos planos. O projeto é, no lon go prazo, chegar a sete robôs, o que permitiria confinar 500 animais em ordenha. “Quero ver se adquiro mais dois robôs dentro de cinco anos”, diz.
Foco na escala Na mesma região, o carrossel de ordenha surge como outra novidade. Implementado na fazenda MelkStad, em Carambeí, o sistema importou tec nologia dos Estados Unidos e reduziu a necessidade de mão de obra e áreas de pastos. Em 18 hectares há 600 vacas, que são manejadas por 17 traba lhadores, detalha um dos sócios do negócio, Diogo Vriesman, cooperado da Frísia. A ordenha ficou mais ágil e permitiu que fosse atingida a produti vidade diária de 33 litros por vaca. O modelo de negócio também é inovador. A fazenda opera em regime de condomínio, com seis sócios inves tindo coletivamente em toda a estru tura de produção. “Percebemos que para sobreviver na atividade é preciso ganhar escala, então decidimos inves tir em grupo para diluir o risco”, deta lha Vriesman. Para Martins, da Embrapa Gado de Leite, as inovações em toda a cadeia produtiva têm peso decisivo na renta bilidade e na viabilidade eda ativida de. “O leite reage a ganhos de escala de produção, porque o custo fixo é muito alto e não há muita margem para cor tes”, aponta. O quadro é favorável tan to para produtores quanto para consu midores. “Com a tecnologia criase um ciclo de redução de custos e aumento na qualidade que ajuda a manter a ati vidade viável”, complementa. GAZETA DO POVO
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Josue Teixeira/Gazeta do Povo
Castro, a Cidade do Leite Gisele Barão, Especial para a Gazeta do Povo :: Genética avançada, tecnologia de ponta e práticas pioneiras de manejo, o tripé que fez da bacia leiteira dos Campos Gerais um modelo de sucesso, rendeu a Castro o título de Capital Nacional do Leite. Casa das três princi pais cooperativas produtoras do ali mento do estado– Castrolanda, em Castro, a Frísia, em Carambeí, e a Capal, de Arapoti – a região é referên cia nacional em produtividade e abri ga vários dos maiores produtores de leite do Brasil. O 13º brasileiro no ranking Milkpoint 2014, Albertus Frederik Woltersx é o segundo maior produtor de leite da região de Castro. Como mui tos produtores, herdou a tradição da família. O pai, imigrante holandês, chegou ao país em 1952 com apenas seis vacas para começar uma nova vida. Albertus assumiu a propriedade nos anos 80 e os filhos devem seguir o 22 GAZETA DO POVO
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mesmo caminho – um deles já estuda agronomia. Na fazenda que mantém na região, que tem 800 animais e perto de 70 fun cionários, os Woltersx produziram no ano passado 8,97 milhões de litros de leite. “A média do plantel é de 40 litros por dia”, explica Albertus. Para ele, a posição de destaque no ranking nacio nal é resultado de um conjunto de fatores. “Mão de obra, organização, os colaboradores e assistência técnica”, enumera. Investimentos em melhora mento genético, buscando vacas que tenham vida longa e que produzam bastante quantidade de litros e sóli dos, como a proteína e gordura, tam bém são fundamentais.
Título O projeto de lei que dá ao municí pio que lidera o ranking nacional de produção e produtividade do alimen to o título de Capital Nacional do Leite foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados no mês passado e agora depende apenas de aprovação do Senado federal para ser oficializado.
“Mão de obra qualificada, colaboradores dedicados, organização, assistência técnica e investimentos em melhoramento genético... a posição de destaque no ranking nacional é resultado de um conjunto de fatores.” Albertus Frederik Woltersx, produtor de leite em Castro, 13º brasileiro no ranking Milkpoint 2014 e o segundo maior produtor de leite da região
TOP 6 As seis primeiras cidades com maior produtividade leiteira no Brasil estão no Paraná, sendo duas nos Campos Gerais (Castro e Carambeí), três no Oeste (Marechal Cândido Rondon, Toledo e Cascavel) e uma no Sudoeste (Chopinzinho).
Melhoramento genético do rebanho ao alcance dos pequenos :: Como centro da produção lei
R$ 361 milhões
de leite são produzidos anualmente pelo rebanho de Castro. Somada a produção de Carambeí (130 milhões de litros/ano), região é responsável por quase 10% da produção do Paraná (4,35 bilhões de litros/ano), mostram dados do IBGE.
foi o Valor Bruto da Produção leiteira de Castro (R$ 234,2 mi) e Carambeí (R$ 127,4 mi) em 2014. Leite tem peso superior ao da soja na economia da região, com 22% da participação na renda dos dois municípios, ante 18,5% de contribuição da soja (R$ 305 milhões na soma de ambos).
Qualidade
Benefícios chegam aos consumidores O rígido controle de qualidade e a eficiência na produção de leite no campo também impactam positivamente os consumidores. Além de perseguir ganhos de escala, os investimentos em manejo e tecnologia também miram índices favoráveis de contagem de células somáticas (que dão indícios sobre a saúde do rebanho) e a contagem bacteriana (que está ligada à higiene da ordenha e ao manejo do leite após a captação). Por meio de programas de estímulo as boas práticas, as cooperativas Castrolanda e Frísia selecionam propriedades de referência e garantem bônus no pagamento dos
produtores mais eficientes. O ganho chega à cidade na forma de preços mais competitivos nas prateleiras e garantia de segurança alimentar, explica o veterinário e superintendente da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), Altair Valotto. “Com uma produção de alta qualidade até o sabor do leite fica melhor, e o consumidor já está atento a isso”, aponta. Além disso, o alimento tem condições de ir a regiões mais distantes das fazendas. “Se o leite é ruim ele não anda muito porque vai estragar facilmente. E até na geladeira ele vai durar mais tempo”, reforça. (IC)
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
teira nacional, a Capital Nacional do Leite tem buscado cada vez mais participação no mercado e intensificado a comercialização de sêmen. Em um projeto de intercooperação com as coopera tivas Frísia, de Carambeí e Capal, de Arapoti, a Castrolanda ini ciou no ano passado o Programa de Melhoramento Genético, com divulgação de informações para os produtores a partir de um catálogo. O catálogo busca balizar o mercado, organizando o proces so de oferta e venda de sêmen. Paralelamente, pretende aumen tar a frequência dos genes consi derados mais importantes para o produtor e para a cadeia como um todo. Os animais são avalia dos por uma equipe de técnicos, segundo critérios de produção de leite, produção de sólidos, gordu ra e proteína do leite, composto de úbere, composto de pernas, longevidade e fertilidade, por exemplo. Em 2014, o projeto piloto registrou a venda de 20.520 doses de sêmen, com faturamen to próximo de R$ 800 mil e 311 produtores atendidos. O segun do catálogo, lançado este ano, oferece 50 touros, 39 da raça holandesa e 11 touros da raça jersey. O coordenador técnico da Castrolanda, Junior Fabiano dos Santos, explica que o programa tem popularizado informações sobre genética para os pequenos produtores, que antes não tinham acesso a estes dados. “É uma democratização em termos de genética. O produtor mostra em quais animais tem interesse, e a cooperativa faz a mediação entre empresa e produtor. A genética é um dos investimentos mais baixos que o produtor pode fazer. O sêmen representa 2% do custo de produção”, explica. (GB)
230 milhões de litros
Com ordenha robotizada, Armando Rabbers reduziu gastos e ampliou produtividade.
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Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
[carnes
Ânimo renovado nas granjas Embaladas por aumento na receita com exportações, suinocultura e avicultura planejam ano de crescimento
Igor Castanho :: Os problemas da economia nacio
O momento favorável é comple mentado pela boa remuneração do mercado doméstico. No Paraná, o preço pago ao produtor pelo quilo do frango em setembro subiu 3,6% em relação ao mês anterior, com média de R$ 2,44. Já o suíno de raça acumu la valorização de 12,7% no período, chegando a R$ 3,47/kg. “No mercado de suínos a forte alta em setembro é ref lexo principalmente dos bons volumes de exportação, que vem enxugando os estoques da carne no mercado doméstico”, af irma o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/ USP, em relatório. “Além disso, o frango também vinha competitivo frente às carnes bovina e suína, fomentando a demanda”, detalha a entidade, em outro relatório. Josue Teixeira/Gazeta do Povo
nal não são motivo de desilusão para os produtores de frango e suínos. Embaladas pela desvalorização do real perante o dólar, as duas cadeias produtivas driblam o cenário de pes simismo e sustentam ganho de parti cipação no mercado externo. Ao mes mo tempo, o setor tenta aproveitar o cenário de valorização da proteína nas vendas domésticas, que entram em viés de alta mirando as festas de final de ano. Após bater neste ano o recorde mensal de embarques, o frango vive o momento mais favorável no exte rior. Conforme levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), entre janeiro e setem
bro o volume negociado com o exte rior subiu 4,8% ante 2014, chegando a 3,2 milhões de toneladas vendidas. Mesmo recebendo 9,1% a menos em dólar (US$ 5,4 bilhões no período), a indústria celebra incremento de 26,6% na receita em real, para R$ 17,3 bilhões. “A maioria dos mercados manteve os mesmos níveis de com pras, o que sustenta as projeções de um saldo positivo das exportações para 2015”, destaca Ricardo Santin, vice-presidente de aves da associação. No caso dos suínos, o apetite de mercados como a Rússia garante fôlego às vendas. Um terço do volu me exportado em 2015 seguiu para o país, mostram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O quadro faz a ABPA projetar que o setor tam bém vai superar os números de 2014.
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[armazenagem
Novos silos em espera Remanejamentos de crédito na safra 2015/16 encolheu programa que incentiva estocagem dentro da porteira. Investimentos têm queda acentuada em 2015, mas produtores continuam buscando autonomia
Gisele Barão,
especial para a Gazeta do povo
:: Lançado em 2013 com a promessa de reduzir o déficit de estocagem agrícola no país, o programa federal de incentivo à construção de arma zéns deve perder fôlego neste ano. Com oferta de recursos mais enxuta e juros elevados (leia mais ao lado), produtores estão adiando os investi mentos, freando uma tendência que vinha sendo desenhada nos dois últimos anos: a armazenagem na fazenda. Com crédito facilitado para inves tirem em silos próprios, seja indivi dualmente ou em grupos ou condo mínios, produtores de estados como Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso aproveitaram para expandir
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sua capacidade de estocagem para guardar a própria safra e, em muitos casos, até atender à demanda de pro dutores vizinhos. Manter o armazém na proprieda de tem custos altos, mas ainda assim é vantajoso, considera Paulo Berto lini, diretor comercial da Gran Finale, empresa de Castro que fornece equi pamentos e serviços agrícolas. “Quando o produtor entrega para uma unidade, perde poder de deci são, de negociação. E recebe menos do que se estiver com o produto nas mãos. Isso significa diferença de pre ço em balcão”, compara. Foi o que fez o agricultor Acelino Bueno Netto. Há dois anos, ele inves tiu cerca de R$ 650 mil em silos na propriedade que mantém em Castro, nos Campos Gerais, onde cultiva 247
hectares de soja e trigo. Hoje, a fazen da Santo Antônio tem capacidade estática para acomodar 400 tonela das de grãos. “Há vantagens [na armazenagem própria] devido às altas taxas diárias de secagem e arma zenamento cobradas pelas coopera tivas. Também gera economia com frete, porque o grão seco pesa menos que o grão molhado”, explica. Netto calcula que a estratégia lhe rendeu ganhos de 15% a 20% na comercialização. Ele lembra que, na época da colheita do trigo, em novembro de 2014, compradores da região ofereciam aos produtores R$ 500 pela tonelada do cereal. Guardando o produto até fevereiro, período de entressafra, ele conseguiu vender a sua produção a R$ 630/tone lada.
Paraná foi o terceiro estado que mais investiu em armazéns nos últimos dois anos. Desde 2012, adicionou 1 milhão de toneladas à sua capacidade de estocagem, que agora é suficiente para acomodar 28,4 milhões de toneladas.
Guardar a safra “em casa” ficou mais caro :: Considerada um dos principais gar galos da infraestrutura no campo, a armazenagem de grãos ganhou novo impulso nos últimos anos com a implantação de um programa do governo federal que incentiva a cons trução e modernização de silos. Em dois anos, cerca de R$ 8 bilhões foram aplicados neste setor, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Nas temporadas 2013/14 e 2014/15, o produtor ou empresa interessada em reforçar suas estruturas de arma zenagem tinha à disposição R$ 3,5 bilhões do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), que era completado por R$ 1 bilhão do PSICerealistas e outras linhas menores. Assim, havia um montante próximo de R$ 5 bilhões que seria destinado anualmente ao setor até 2017/18, num total de R$ 25 bilhões ao longo de cinco anos. No Plano Safra 2015/16, contudo, esse pacote foi reduzido para menos
de R$ 3 bilhões, com R$ 2 bilhões para o PCA e R$ 400 milhões para o PSICerealistas. Já as taxas de juros, que eram de 3,5% no primeiro ano do PCA e até a safra passada variavam de 4% a 6% ao ano, subiram para 7,5% a 10%. Resultado: desde julho, mês que marca o início do novo ano-safra, ape nas 35 operações foram fechadas, num total de R$ 30,98 milhões – o equiva lente a apenas 7% dos recursos libera dos entre julho e setembro de 2014. O balanço do Sistema de Operações do Credito Rural (Sicor) do Banco Central considera apenas as operações do Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), linha que concen tra a maior parte do orçamento. Segundo Paulo Bertolini, diretor comercial da Gran Finale, apesar dos juros altos os produtores ainda têm intenção de fazer armazenagem na própria fazenda. “Há procura, embo ra estejamos em um momento difí cil. A crise que afetou o país faz com que o agricultor fique preocupado, com a operação de juro o agricultor foi impactado. A primeira reação do produtor foi frear o investimento, mas a necessidade continua existin do”, diz. (GB)
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Balanço Desde o início do programa que ofe rece crédito barato com prazo dilatado para a construção e modernização de silos, o Brasil ampliou em 7 milhões de toneladas a sua capacidade estática de armazenagem. Hoje, o país tem espaço para abrigar 149,5 milhões de tonela das de grãos, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os maiores incrementos ocorreram em Mato Grosso (+2,5 milhões de tone ladas, para 30,9 milhões) e Rio Grande do Sul (+ 2,2 milhões de toneladas, para 28,7 milhões). Terceiro na lista, o Paraná adicio nou 1 milhão de toneladas à sua capacidade de armazenagem, que agora é suficiente para acomodar 28,4 milhões de toneladas. Entre os municípios paranaenses com maior capacidade de armazenagem, a região dos Campos Gerais está em evidência (veja mapa ao lado). Pulmão logístico do Paraná, Ponta Grossa é a segunda colocada do esta do, com 2,3 milhões de toneladas, perdendo apenas para Paranaguá.
LIDERANÇA CONSOLIDADA Sul do Paraná concentra mais de 35% da capacidade de armazenagem do estado. CAPACIDADE DE ARMAZENAGEM
Total no Paraná
Em milhões de toneladas
Noroeste
29
milhões de toneladas
Norte
0,7
7,5
Centro-Oeste
3
Oeste
5,1
Sul
10,4 Sudoeste
2,2
Fonte: Conab. Infografia: Gazeta do Povo.
Menos GAZETA DO POVO
Mais
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[pesquisa
Porteira aberta à tecnologia Produtores cedem áreas privadas para experimentos de instituições de pesquisa agropecuária em busca de maior aplicabilidade
Gisele Barão,
especial para a Gazeta do povo
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
:: Na busca por resultados práticos e mais próximos das especificidades de sua propriedade, produtores abrem as porteiras de suas fazendas para experi mentos de instituições pesquisas agro pecuária, universidades e empresas privadas. Entre as vantagens estão a maior proximidade com pesquisado res e o fato de não necessitar fazer adap tações de cada método realizado em outros viveiros isolados para sua área. A Fundação ABC, em Castro, que tem um grupo de pesquisadores em áreas como fertilidade dos solos, fito tecnia, herbologia, fitopatologia,
mecanização agrícola, e agrometeoro logia, faz esse tipo de parceria. Para atender cooperados da Castrolanda, Frísia e Capal, além dos cinco campos experimentais de 313 hectares manti dos pela própria entidade, há associa dos que cedem áreas particulares para pesquisas. Dependendo da natureza do estudo, são necessários de três até 30 hectares. Há mais de 15 anos, o produtor Willen Bouwman, proprietário da Estella Alba Agropecuária, em Castro, participa desses projetos com a Fundação. “São principalmente expe rimentos de controle integrado de pra gas e doenças. Eles conduzem os traba lhos de manejo e a colheita da área vem
para mim”, conta. Para Bouwman, os benefícios colhidos em sua fazenda se estendem aos produtores de toda a região. “É uma vantagem da cadeia toda”, diz. Ely de Azambuja, que atua na pro dução de sementes na Fazenda Mutuca, em Arapoti, procura manter contato com pesquisadores e participa de congressos da área. Segundo ele, manter a propriedade aberta para pes quisas elimina a necessidade de testes adicionais na hora de implementar a tecnologia em lavouras comerciais. “O benefício é que o resultado é extrema mente melhor e mais barato. Eu tenho o resultado mais concreto porque é dentro da minha casa”, diz.
R$ 28 milhões é o orçamento da Fundação ABC para 2015. Pesquisas da instituição são distribuídas entre os cinco campos experimentais de 313 hectares mantidos pela entidade e em áreas privadas de produtores parceiros.
Única área pública utilizada pela Fundação ABC é a Fazenda Capão do Cipó (foto), que atualmente está ocupada pelo MST.
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[trigo
Demanda garantida Movido a matéria-prima local, moinho das cooperativas dos Campos Gerais dá segurança financeira aos triticultores na hora de vender a produção
:: Há 14 meses, os triticultores dos Campos Gerais parecem viver num mundo paralelo ao mercado brasilei ro da cultura. Desde a inauguração do Moinho Herança Holandesa, das cooperativas Castrolanda, Frísia e Capal, em Ponta Grossa, em junho de 2014, associados que apostam na cul tura têm conseguido repassar a pro dução acima do preço mínimo, o que permite cobrir os custos de produção e garante aos agricultores da região uma pequena margem. “O moinho foi construído para fortalecer a cadeia da região. Segui mos o mercado, mas sempre paga mos aos produtores preços acima do mínimo”, garante Estefano Stemmer Junior, gerente da unidade de trigo da Frísia, cooperativa responsável pela gestão do moinho. O preço mínimo do trigo pão, tipo 1, defini do pelo governo federal para safra 2015/16 é de R$ 34,98 por saca de 60 quilos, ou R$ 583 por tonelada. “Já chegamos a pagar R$ 700 por tonela da [R$ 42/saca]”, destaca Stemmer.
Em média no estado, produtores têm recebido cerca de R$ 35 pela saca do cereal, o equivalente a pouco menos de R$ 600 por tonelada. Já para os agricultores gaúchos, o valor não passa de R$ 32/saca, ou R$ 535 por tonelada.
Mudança na fonte Em agosto e setembro, a indústria do trio do ABC chegou à moagem de 9,8 mil de toneladas/mês, bastante próximo da capacidade total de 10,5 mil de toneladas/mês. Quase a totali dade da matériaprima (90%) é com prada dos associados das três coope rativas da região. Outros 5% vêm de terceiros e o restante é importado. Mas o clima que prejudicou as lavou ras de trigo do Paraná ao longo do mês de setembro pode forçar uma mudança no escopo de fornecimento de insumos. De acordo com levantamento da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), os proble mas climáticos irão reduzir em 10% o potencial produtivo da safra para naense, inicialmente prevista em
4 milhões de toneladas. A produção deve ficar na casa dos 3,6 milhões de toneladas, suficiente para manuten ção do estado como maior produtor de trigo do país, já que o Rio Grande do Sul, segundo no ranking, também está tendo problemas com o clima neste ano. “Além da produção menor, a qua lidade não será a mesma do ano pas sado”, diz Stemmer. “A expectativa agora é com as lavouras de Castro, Tibagi e Piraí do Sul, que são colhidas em outubro e novembro. Grande parte do volume que abastece o moi nho sai desta região”, complementa. No Rio Grande do Sul, o problema foram as geadas de setembro, que pegaram 80% das lavouras gaúchas em fase de floração e enchimento de grãos, bastante suscetíveis a danos pelo frio intenso. Lá, os prejuízos registrados foram maiores e a quebra é de 20%, segundo a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro). A safra gaúcha não deve ultrapassar 2 milhões de toneladas, ante uma previsão inicial de 2,5 milhões.
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Albari Rosa/ Gazeta do Povo
carlos Guimarães Filho
[plantio direto
Legado à espera de uma nova casa Máquinas, equipamentos, fotos e pôsteres que fazem parte da história do Plantio Direto na Palha aguardam a conclusão das obras do Centro de Excelência, dentro do campus da UEPG
Carlos Guimarães Filho
diu o contrato pela falta de pagamen to por parte do governo estadual. “Recentemente, o estado quitou as quatros parcelas que estavam atrasa das. Mas será necessário fazer nova licitação com orçamento ajustado. Esperamos que saia ainda esse ano para inaugurarmos em 2017”, diz João Carlos de Moraes Sá, professor da disciplina Plantio Direto da UEPG. Criada em 1984, a matéria era opta tiva nos primeiros 15 anos, passando a ser obrigatória posteriormente. Hoje, além da instituição dos Campos Gerais, outras universidades do país, uma de Portugal e outra nos Estados Unidos contam com a disciplina na grade curricular.
Fotos: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
:: Parte importante da história do Plantio Direto na Palha (PDP) está à espera de um novo lar. Dezenas de máquinas e equipamentos usados nos primeiros experimentos de campo junto com centenas de fotos e pôsteres de eventos que contam as quatro déca das da tecnologia serão, num futuro ainda indefinido, acomodados no Centro de Excelência em PDP, dentro do campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), nos Campos Gerais. Além de abrigar um museu, o espaço irá oferecer cursos para formar especialistas, mestres e doutores na adoção do sistema.
Ainda em 2010, o projeto do Centro de Excelência em PDP começou a ser desenvolvido pela Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP), pela UEPG e por um dos idealizados da tecnologia, Manoel Henrique “Nonô” Pereira, falecido no mês passado. Dois anos depois, os R$ 2 milhões necessários para a construção do Centro foram aprovados pelo governo estadual. No ano seguinte, por meio de licitação, a empresa exe cutora foi escolhida e, em 2014, come çaram as obras do prédio 915 metros quadrados, com previsão de conclu são ainda em 2015. Porém, após concluir a fundação e a parte hidráulica, a empresa reinci
Manoel Henrique Pereira Junior, filho do Seo Nonô, mostra foto do pai no “galpão-museu” em Palmeira: 40 anos de história do PDP.
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Mural da fama
Acervo raro
Centenas de fotos e pôsteres de congressos do PDP cobrem as paredes do “galpão-museu” na fazenda em Palmeira, nos Campos Gerais.
No total, dez tratores fazem parte do acervo na fazenda de Nonô Pereira. Em outro local, quatro plantadeiras antigas descansam.
“Ele [Nonô] era um pregador do plantio direto. Começou a montar o museu em 1985, pois não tinha mais onde colocar as coisas dentro de casa. Hoje, são mais de 5 mil slides, tratores e colheitadeiras restauradas, cartazes de eventos no Brasil e no exterior.” Manoel Henrique Pereira Junior
Enquanto o projeto do Centro de Excelência não sai do papel, os utensí lios e máquinas que ajudaram a revo lucionar a agricultura no Brasil estão em um “galpão-museu” na fazenda do Seo Nonô, na cidade de Palmeira, nos Campos Gerais. O agricultor atuou 40 anos como incentivador da prática conservacionista, que hoje abrange 32 milhões de hectares no país. “Ele era um pregador do plantio direto. Começou a montar o museu em 1985, pois não tinha mais onde colocar as coisas dentro de casa. Hoje, são mais de 5 mil slides, tratores e colheitadeiras restauradas, cartazes de eventos que ele participou no Brasil e no exterior”, diz Manoel
Henrique Pereira Junior, filho de Nonô. Como aconteceu nas últimas déca das, o herdeiro de Nonô continua abrindo as portas da propriedade, quase que semanalmente, para estu dantes e profissionais do agronegócio interessados em conhecer mais sobre o PDP. “Boa parte dos agrônomos e técnicos que se formaram na UEPG, Federal e PUC passou por aqui”, afir ma, orgulhoso, o filho do maior difu sor da tecnologia. “Seo Nonô abria as portas da fazenda para aulas práticas. Ele ministrava palestras que fascina vam os alunos. Isso irá continuar, pois já se tornou um marco no curso”, complementa Moraes Sá.
CPF na nota
Velhinhos renovados
Uma das primeiras plantadeiras adquiridas por Nonô Pereira para auxiliar no PDP ainda tem nota fiscal original, emitida em 1967.
Três tratores, comprados recentemente em peregrinações por diversos estados, estão em processo de restauro. Muitas peças originais vieram dos Estados Unidos. GAZETA DO POVO
AGRONegócio 33
[gastronomia
Appeltaart – Diferente das •americanas, inglesas e suecas, a
Com nomes quase que impronunciáveis, os pratos típicos da cozinha holandesa agradam a todos os paladares e ganham espaço na mesa brasileira
Gisele Barão,
especial para a Gazeta do Povo
:: Um dos principais países coloni zadores nos Campos Gerais, a Holanda tem traços culturais pre servados na região, especialmente na gastronomia. As tortas doces e o bolinho de carne holandês ganha ram espaço nas mesas, mas a lista de pratos típicos é bem mais ampla. Além disso, há alguns alimentos holandeses que já foram completa mente incorporados à cozinha bra sileira, como panquecas, batatas fritas e sopas (a de ervilhas é a mais tradicional do país europeu). Os ingredientes da gastrono mia holandesa são semelhantes aos de países vizinhos como a Alemanha. A carne de porco, a carne de lebre e o chucrute, por exemplo, são comuns nos dois países. Batata, queijos e legumes são outros itens indispensáveis. A maçã é a fruta mais popular do país, utilizada em tortas, panque cas e para fazer purê, o chamado appelmoes. A confeitaria e restaurante Frederica’s Koffiehuis, em Caram beí, tem mais de 50 sabores de tor tas doces e salgadas, e parte do cardápio é feita de comida tipica mente holandesa. Entre as opções tradicionais do país europeu estão o bitterballen (bolinhos de carne bovina com bastante especiarias)
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e a famosa appeltaart (torta de maçã). Os doces holandeses se diferen ciam daqueles mais consumidos no Brasil por levar menos açúcar na receita e serem feitos basica mente de frutas e condimentos, compara a proprietária, Elizabeth Dykstra.A base para as tortas da Holanda é a speculaas. “É um tipo de bolacha típica servida em período de Natal na Holanda”, explica Elizabeth. Os recheios podem ser de amêndoas e nozes, por exemplo. Uma das opções na Frederica’s é a gevultespeculaas, menos popular por aqui porque tem muitas especiarias, incluindo um pouco de pimenta. A torta que conhecemos como holandesa, feita à base de mantei ga e creme de leite, não foi criada na Holanda, e sim em Campinas, inspirada no país europeu. Ela pode ter um preparo diferente dependendo da região. Em algu mas cidades, é chamada de torta alemã. Ambas têm a mesma base de ingredientes, com uma decora ção diferente. Em Castro, a torta holandesa e o bitterballen são sucesso no Moinho Castrolanda. A proprietária, Elisa Yukiko Rodri gues, ganhou a receita de uma cliente. O sucesso se deve a ser mais suave e com menos gordura do que outras. “É sempre a mais pedida, não pode faltar”, conta.
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Stamppot – Prato típico do •inverno holandês, é uma
Divulgação/Frederica’s Koffiehuis
torta de maçã holandesa tem sabor suave de especiarias na massa e pode levar passas em seu recheio. As tiras entrelaçadas em cima são próprias da iguaria dos Países Baixos.
mistura de purê de batatas, linguiça e vegetais como couve chicória e mostarda, que pode ser acompanhado de molho de carne. Erwtensoep – À base de ervilhas, é a sopa mais tradicional do país. A tradição diz que ela deve ser grossa e acompanhada de rookworst (linguiça defumada) e pão de centeio. Poffertjes – Mini panquecas baunilhadas e amanteigadas, podem ser servidas acompanhadas de sorvete, morando e slagrom (chantilly). Speculaas – Um tipo de bolacha natalícia que serve de base para tortas variadas. Feita à base de manteiga, açúcar mascavado e uma mistura de farinha e levedura química, leva uma combinação típica de especiarias como canela, noz moscada, gengibre cardamomo e pimenta branca.
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Fonte: Associação Parque Histórico de Carambeí
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Holanda no prato
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