ESpECiAL EFApi
SETEMBRO DE 2015
QUANDO A LOGÍSTICA FAVORECE A PRODUÇÃO
proximidade do porto de paranaguá e rede de transporte estruturada estabelecem diferencial competitivo à agroindústria e à produção dos Campos Gerais. BR-376 e pR-151 se consolidam como rotas da soja e do leite
Efapi se renova com perfil mais técnico
A vocação florestal e o novo ciclo da madeira
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[editorial produção, logística e diversificação
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Bovinos competitivos
d
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A veZ dA cevAdA
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novo ciclo mAdeireiro
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cAmpo Bem AproveitAdo
o leite à carne, dos grãos aos cereais, a região dos Campos Gerais nunca foi tão diversificada. Com logística favorável e tecnologia de ponta, a infraestrutura privilegia a agroindústria, adiciona valor à produção primária e favorece a renda, dentro e fora da porteira. Uma combinação de fatores que faz do agronegócio regional um dos mais eficientes e competitivos do estado e do país. Berço do plantio direto, os Campos Gerais também despontam à vocação f lorestal, que se consolida como grande negócio na região. Da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da pesquisa cooperativa vêm o maior insumo, o conhecimento, com tecnologia e inovação. A partir de Ponta Grossa, a cidade polo, os caminhos se cruzam e se multiplicam para dar passagem à boa parte da economia agrícola e industrial não apenas local, mas de outras regiões e de outros estados brasileiros. Dono do maior entroncamento rodoferroviário da Região Sul, os Campos Gerais também abriram espaço para uma das maiores concentrações agroindustriais do Brasil. Ponta Grossa e região, literalmente, põem comida à mesa. Não somente produz como industrializa sua produção, gera emprego e renda na cadeia e contribuiu de maneira decisiva ao abastecimento e segurança alimentar. É o desenvolvimento econômico e social de uma das maiores cidades, e de uma das maiores regiões do estado, a partir do agronegócio. Uma realidade que a publicação de hoje, motivada pela Efapi, a Exposição Feira Agropecuária dos Campos Gerais, tenta mostrar. E explorar. No sentido amplo dos modelos de produção e das cadeias produtivas que se complementam e se beneficiam de uma logística única e singular da infraestrutura da região.
Giovani Ferreira Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo. giovanif@grpcom.com.br
[índice
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Criação de gado de corte ganha rentabilidade ao misturar melhores características de raças nobres
Indústria da cerveja assegura demanda cada vez maior para cereal que é matéria-prima do malte
Com novos investimentos, cultivo de florestas tende a crescer em reduto da agropecuária
Competição entre o cultivo de grãos e a pecuária elimina sobra de espaços nos Campos Gerais, com ajuda do plantio direto
eXpediÇÕes nA estrAdA Agronegócio Gazeta do Povo põe Expedição Agricultura Familiar na estrada e prepara décima temporada da Expedição Safra
Henry Milléo/Gazeta do Povo
Antônio More/Gazeta do Povo
[destaques
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Alternativa consolidada
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Efapi restaurada
Antônio More/Gazeta do Povo
Criação de ovinos ganha força para se sustentar como atividade principal em fazendas agropecuárias
Feira se renova como espaço de discussões do agronegócio, sem perder apelo popular
18 a 25 Caminhos da soja e do leite Infraestrutura da região de Ponta Grossa faz dos Campos Gerais um centro de produção com vantagens no preço dos insumos e na cotação das commodities
Expediente A revista Agronegócio Gazeta do Povo é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Editor Executivo: Giovani Ferreira. Edição: José Rocher e Luana Gomes. Editor Executivo de Imagem: Marcos Tavares. Editores de Arte: Acir Nadolny e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole. Diagramação: Alfredo Netto. Tratamento de Imagem: Edilson de Freitas. Capa: Josué Teixeira (foto) Alfredo Netto (composição). Redação: (41) 3321-5050. Fax: (41) 3321-5472. Comercial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: agro@gazetadopovo.com.br Site: www.agrogp.com.br Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente. Impressão e acabamento: Gráfica e Editora Serzegraf.
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
[feira dos campos
Três noites de música Shows sertanejos são as principais atrações das noites da Efapi. Luan Santana (foto) toma o palco sexta-feira (11), Loubet sábado (12) e César Menotti & Fabiano segunda-feira (14) – sempre às 23 horas, no Centro de Eventos. Os ingressos custam de R$ 22 a R$ 82.
Cultura e política Pausas culturais são marcas da feira, intercalada também por reuniões políticas. Os secretários de Agricultura dos Campos Gerais reúnem-se dia 15, às 11 horas. Lideranças dos sindicatos rurais da região têm encontro marcado no mesmo dia, às 14 horas.
Conhecimento e integração na Efapi Exposição de Ponta Grossa reforça programação técnica e faz de assuntos variados do agronegócio atrativos para as mais diversas cadeias de produção. Diversão complementa agenda dos públicos rural e urbano
Gisele Barão,
especial para a Gazeta do Povo
:: Um dos eventos mais tradicionais do agronegócio no Paraná, a Exposição Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Ponta Grossa (Efapi) assume em sua 38.ª edição – entre os dias 10 e 15 deste mês, no Centro Agropecuário do município – desafio tradicionalmente perseguido pelo setor. Os organizadores tomam como metas refletir a complexidade dos sistemas agroindustriais dos Campos Gerais, integrar as cadeias de produção e
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GAZETA DO POVO
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transformar assunto sério em atração, aproximando o meio urbano do rural diante dos 300 mil visitantes esperados em seis dias (e noites) de programação. Sociedade Rural dos Campos Gerais, prefeitura e Sindicato Rural de Ponta Grossa partem do princípio de que o setor tem atrativos em si mesmo. O destaque deste ano é o fortalecimento da área técnica da feira, com palestras direcionadas a produtores e novidades tecnológicas, aponta Edilson Gorte, vice-presidente da Sociedade Rural. “A Efapi retornou aos modelos antigos de leilões e expo-
sições”, afirma. Outro destaque é o Congresso Agropecuário, Industrial e Tecnoló gico do Paraná (Conaitec), no Centro Agropecuário, com programação nos dias 10, 11 e 12, quando os melhores trabalhos apresentados receberão premiação. Palestras sobre temas como manejo no solo (dia 10, 19h30), rotulagem de frutas e hortaliças (dia 11, às 9 horas) e fiscalização contra fraudes no leite (dia 11, 19 horas) complementam esse apelo de qualificação. Na edição de 2014, o gado charolês teve uma participação expressi-
Henry Milléo/Gazeta do Povo
Divulgação/Efapi
Foco produtivo
Apelo da pecuária Bovinos, ovinos, equinos e outros bichos atraem o público em geral ao Centro Agropecuário, onde a entrada é gratuita. A população se depara com as diferenças entre as raças mais produtivas e, ocasionalmente, acompanha shows da natureza como o nascimento de um bezerro purunã (foto).
“A Efapi retornou aos modelos antigos de leilões e exposições, com a área técnica mais fortalecida. Além de palestras direcionadas a diferentes segmentos, os produtores podem conferir novidades tecnológicas.” Edilson Gorte, vice-presidente da Sociedade Rural dos Campos Gerais.
“Teremos participação de expositores de bovinos do Paraná e de estados como São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul. Os melhores animais do Brasil, os premiados, estarão aqui, entre os 230 que serão expostos.” Lucas Bastos, coordenador de bovinos da Efapi.
Programação Confira toda a genda da feira em
www.agroGP.com.br
va na Efapi, o que deve se repetir neste ano. Outras raças que marcam presença na 38.ª edição são canchim, braford, hereford, purunã, pinzgauer e caracu. Pela primeira vez, o Paraná vai receber, na feira, uma exposição nacional do gado canchim. De acordo com o coordenador do setor de bovinos da Efapi, Lucas Bastos, aproximadamente 230 animais devem integrar a programação. A participação de expositores de São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Rio Grande do Sul traz um diferencial em relação a outras edições. Para Bastos, a maior participação nacional pode gerar mais comercialização na Efapi e melhoramento do rebanho da região. “Os melhores animais do Brasil, os premiados, estarão aqui”, frisa. Praça de alimentação, apresentações culturais e shows de música sertaneja prometem atrair maior público. Os cantores Luan Santana, Carlos Loubet e a dupla Cesar Menotti & Fabiano se apresentam nos dias 11, 12 e 14 de setembro, respectivamente. Os shows ocorrem no Centro de Eventos, que fica ao lado do Centro Agropecuário. A entrada na feira é gratuita, mas os ingressos para os shows custam de R$ 22 a R$ 82.
A Efapi tem previsão de faturamento de R$ 70 milhões, o dobro do valor que era projetado há dois anos, mas tradicionalmente dá prioridade a discussões técnicas.
Dobradinha com a München A feira agropecuária surgiu em setembro de 1969, no Parque Augusto Ribas, onde hoje é o campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) em Uvaranas. O evento ocorre quase que ininterruptamente desde então. Em 1976 e 1978, ficou suspensa por causa de um surto de febre aftosa no Paraná. Há uma década, ganhou espaço próprio com a inauguração do Centro Agropecuário de Ponta Grossa. O município concentra a diversão na Münchenfest, que ocorre no fim de novembro, ao lado do parque, no Centro de Eventos.
Novo espaço para cursos Ainda em 2015, deve ser inaugurado o Centro de Treinamento e Capacitação do Produtor Rural, um espaço de aproximadamente 400 m² na mesma área do Centro Agropecuário de Ponta Grossa. O local promete facilitar a realização de cursos para o setor. O investimento é de R$ 448 mil – verba do governo estadual. Segundo o secretário de Agricultura e Pecuária de Ponta Grossa, Gustavo Ribas Netto, uma das dificuldades da região para cursos é justamente a falta de um local que permita aliar aulas teóricas e práticas. “O Centro vem preencher essa lacuna”, diz. GAZETA DO POVO
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[entrevista
Feira conectada ao mercado
Por Gisele Barão, especial para Gazeta do Povo :: Num momento em que os preços pagos aos produtores brasileiros mostram-se lucrativos devido à forte desvalorização do real (que foi de mais de 50% em um ano), a agricultura e a pecuária passam a depender de mais apoio do crédito a juros controlados. O acesso aos financiamentos torna-se decisivo para a renda no campo, afirma o secretário de Agricultura e Pecuária de Ponta Grossa, Gustavo Ribas Netto, um dos organizadores da 38.ª Efapi. Leia principais trechos da entrevista.
Os preços da soja em real são positivos, mas os produtores estão comprando menos máquinas. Há risco de queda das vendas na Efapi? Os juros aumentaram muito, mesmo o juro do custeio. Temos hoje um juro de 8,75% ao ano. Se não conseguir captar esse juro, você vai captar a 17%, 18 % ao ano, que é muito caro, inviável para a atividade. Houve um aumento do custo de produção. O nosso custo de produção cresceu em torno de 30%. Mas o que vem é uma perspectiva de um ano não muito ruim. É o dólar alto [na comparação com o real] que está garantindo que o produtor ainda tenha rentabilidade neste ano. Como comprar máquinas novas com os juros de hoje sem apoio no abate de juros? Quem está entrando em conta numa época como hoje está se arriscando muito.
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Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Custo de produção, juros e política cambial cercam o agronegócio. E uma feira técnica pode apontar caminhos neste cenário, defende Gustavo Ribas Netto As feiras do agronegócio deste ano arrecadam menos do que o previsto em todo o Brasil. A Efapi se insere neste cenário? Estamos com uma boa perspectiva em torno do gado, dos cavalos, mas para conseguir que isso seja efetivo, precisamos de atrativos. Precisamos de condições melhores no banco, facilitadores de crédito. Então temos uma perspectiva menos favorável do que gostaríamos. As feiras, hoje, estão saindo da conotação do comercial e precisam passar uma conotação de exposição. Porque o agricultor precisa ter acesso à tecnologia de maquinário, de genética do gado, saber o que aquilo pode render a ele. Isso a gente tem que mostrar. As exposições têm que focar em conhecimento, troca de informação. Em cima disso, o resto vem.
Como o senhor vê essa característica da Efapi de, apesar de ser feira agropecuária, buscar aproximação com a população urbana, com diversão, shows de música? A Efapi tem uma condição que a gente não tem em nenhum parque do estado. O Centro Agropecuário está junto com o Centro de Eventos, e a Efapi usa ambos. Ela tem uma vantagem em relação a outros locais. Nós fechamos o Centro Agropecuário e o Centro de Eventos continua funcionando [para o shows de música, por exemplo]. O setor rural tem que se aproximar do setor urbano, e o meio urbano tem que conhecer o que é o meio rural. Essa troca que vem acontecendo há anos na Efapi. Quanto maior essa troca, melhor é a informação. A população engrandece a festa.
Antonio More/Gazeta do Povo
[expansão
Em época de expansão, rebanhos com genética de primeira são cruciais para elevar a produção de carne, conta a pecuarista Renata Jager.
ovinos correm soltos no paraná Atividade começou como alternativa de renda, mas conquista espaço diante do equilíbrio na receita registrado nos Campos Gerais
Gisele Barão,
especial para a Gazeta do povo
:: A ovinocultura está em crescimento e luta para ganhar padrão no Paraná, mas já tem condições de se tornar a principal atividade de uma unidade produtiva, conforme o setor. Os investidores apostam na formação de grupos, como cooperativas, para tornar a oferta regular ao longo do ano e atender ao aumento da demanda. A região dos Campos Gerais reúne características favoráveis para a criação de ovinos, como o clima e a possibilidade de usar como alimento as sobras da agroindústria, como farelo de soja, aveia, cevada e fragmentos de milho. Além disso, a proximidade de Curitiba – hoje um dos maiores mercados consumidores de ovinos do país – e do Porto de Paranaguá, potencializam a cadeia.
Entre as raças mais comuns na região estão ile de france e texel. Hoje, o rebanho comercial de ambas vale de R$ 400 a R$ 500 por cabeça e os animais reprodutores alcançam R$ 4 mil, segundo o gerente de produção da Fazenda-Escola Capão da Onça da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Izaltino Cordeiro dos Santos. Santos explica que, com bom investimento em gestão adequada nas propriedades pequenas e médias, a ovinocultura tende a se tornar atividade principal, como acontece em países como a Nova Zelândia. A confirmação da viabilidade da aposta depende de estudos na propriedade em questão. O desenvolvimento da ovinocultura como atividade complementar recebe estímulos. A cooperativa Castrolanda, em Castro, tem 30 cooperados na área, com 8 mil matrizes
e cerca de 4 mil animais abatidos por ano. O grupo faz seleção genética com uso de novas tecnologias e chega a importar sêmen e embriões do Reino Unido. “A grande vantagem nos Campos Gerais é que a cooperativa está estruturando a cadeia produtiva e organizando a comercialização”, diz o coordenador da ovinocultura na Castrolanda, Tarcísio Bartmeyer. A meta é iniciar a exportação em dois anos. A produtora Renata de Jager e o marido, Marcelo, trabalham com animais registrados há oito anos e fazem parte da cooperativa. “Entramos no projeto da produção de cordeiro devido à procura da carne no mercado”, conta Renata. Hoje o casal tem 240 ovelhas voltadas para genética e mil em rebanho comercial – investimento que começou em julho do ano passado. GAZETA DO POVO
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[melhoramento genético
Mistura de qualidade no rebanho bovino Cruzamentos buscam preservar melhores características das raças angus, canchim, charolês e purunã para ganho de rentabilidade
Gisele Barão,
especial para a Gazeta do Povo
de da carne e adaptação a diferentes sistemas de manejo. Essas são as principais características buscadas pelos produtores da bovinocultura nos Campos Gerais. As raças protagonistas da região – charolês, canchim, angus e purunã – registram crescimento com qualidades potencializadas por melhoramento genético. A raça charolês, origem francesa, tem rusticidade e força para se adaptar a diferentes condições e ambientes. É uma das mais expressivas na região Centro-Sul – Nelson João Klas, o criador tetracampeão nacional no ranking da Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC) é de Palmeira. Segundo o médico veterinário especialista nessa raça no Paraná, Christiano Justus, o clima dos Campos Gerais favorece a criação da charolês, que existe há mais de 70 anos na região. “O charolês contribui com peso, precocidade e bom acabamento de carcaça quando cruzado com outras raças, como canchim e purunã”, explica. O bom acabamento dá gordura na medida certa, sem excessos. Mas a raça também pode ser utilizada pura, para o criador que busca melhor desempenho. Feito principalmente para cruzamento industrial, o gado canchim tem 80 criadores no Brasil. Para o diretor de divulgação da Associação Brasileira de Criadores de Canchim e pecuarista, Valentim Suchek, este ano está extremamente aquecido
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Marcelo Elias/Gazeta do Povo
:: Precocidade, rusticidade, qualida-
Consumidor mais exigente estimula produção de carnes especiais como a do angus.
para a venda de touros no país. Em leilões promovidos recentemente, o preço médio do canchim passou de R$ 8 mil. Nos Campos Gerais, Ponta Grossa e Carambeí têm alguns dos principais criadores da raça, que possui a rusticidade do nelore e a precocidade do charolês. “O canchim leva para o pecuarista a precocidade nos bezerros cruzados. Os machos, por serem ganhadores de peso, vão oito meses mais cedo para o abate”, conta. O consumidor mais exigente abre caminho para carnes especiais, favorecendo o boi angus. Em 2014, foram comercializadas 3 milhões e 900 mil doses de sêmen da raça no país, um aumento de 14% em relação a 2013. Segundo o presidente da
Associação Brasileira de Angus, José Roberto Pires Weber, esse crescimento têm se mantido na última década. Uma das razões para o impulso foi a parceria com o McDonald’s. Uma das possibilidades para a raça é o cruzamento com o nelore, pois valoriza a carne e os produtores podem integrar o programa Carne Angus Certificada, que oferece preço 10% acima do valor do mercado para gado comum. “O cruzamento com o angus tem melhorado a carne zebuína do nelore”, diz Weber. O próximo passo é a exportação para a Europa, com um frigorífico próprio, viabilizada através de um convênio assinado neste ano. Dos 420 associados em oito estados brasileiros, cerca de 40 estão no Paraná.
Divulgação
Purunã
“Não há outra raça além da purunã que combine precocidade e marmoreio, características de gado europeu, e seja tão adaptada ao clima tropical.” José Moletta, pesquisador do Iapar.
Bicho do Paraná, boi purunã é filho da nobreza :: Após mais de 30 anos de pesquisa, os Campos Gerais ganharam em 2012 o diferencial de uma raça produzida na própria região, com alto potencial para a pecuária de corte. O gado purunã é um cruzamento entre caracu, charolês, aberdeen angus e canchim e foi desenvolvido na Estação Experimental FazendaModelo do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em Ponta Grossa. Cada raça somou suas qualidades ao purunã. O charolês deu velocidade de ganho de peso, com elevado rendimento de carcaça e porcentual de carnes nobres. Com angus, o purunã garantiu carne macia e alta qualidade de marmoreio. As vacas da raça purunã também têm habilidade materna e boa produção de leite, características de caracu e angus. A purunã pode ser raça exclusiva ou cruzar com vacas nelore. O rebanho puro é de aproximadamente 2 mil cabeças, e há 6 mil animais registrados entre puros e cruzamentos. Segundo o pesquisador do Iapar José Moletta, machos bovinos alimentados com silagem de milho e concentrado a base de farelo de soja, milho e sal mineralizado, quando apenas terminados em confinamento, têm ganho de 1,4 a 1,6 kg por dia, e peso médio de abate de 470 kg. Animais recriados e terminados em confinamento têm ganho de peso entre 1,2 a 1,4 kg por dia, e alcançam 450 kg aos 15 meses. Na avaliação do pesquisador, são bons índices para a categoria. Cabe ao produtor avaliar qual raça é a mais adequada para o seu sistema de produção. Hoje, além do Paraná, a purunã tem criadores em estados como Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazonas. (GB)
Origem: Ponta Grossa (PR), desenvolvida pelo Iapar. Porte: A partir de 450 kg no abate. Ciclo: Abate entre o 15º e o 24º mês. Engorda: O sistema mais indicado é o intensivo. Conversão: 5 a 7 kg de matéria seca por quilo de peso ganho. Carne limpa: O rendimento da carcaça é de 55% do peso no abate. Henry Milléo/Gazeta do Povo
ANGUS Origem: Escócia. Criada no Brasil desde 1906. Porte: A partir de 500 kg no abate. Ciclo: Abate entre o 11º e o 24º mês. Engorda: São indicados os sistemas extensivo, semi-intensivo e intensivo. Conversão: Varia de acordo com o sistema de trato. Carne limpa: O rendimento da carcaça é de 56% do peso no abate. Josué Teixeira/Gazeta do Povo
CANCHIM Origem: São Carlos (SP), Embrapa. Porte: A partir de 270 kg no abate (superprecoce). Ciclo: Abate entre o 17º e o 24º mês. Engorda: São indicados os sistemas de campo e confinamento. Conversão: Varia de acordo com o sistema de trato. Carne limpa: Rendimento carcaça de 50% a 55% do peso no abate. Divulgação
CHAROLÊS Origem: França. Porte: Mais de 550 kg no abate. Ciclo: Abate a partir do 16º mês. Engorda: Sistema intensivo, com forragens conservadas tipo silagem. Conversão: 6 a 7 kg de matéria seca por quilo de peso ganho ao dia. Carne limpa: Rendimento carcaça de 53% a 56% do peso no abate. *As médias foram informadas pelas associações ou instituições que representam os criadores de cada raça. Todos os números variam de acordo com o sistema de produção adotado.
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[mercado ampliado
Expansão sob demanda Em ano de safra maior no inverno, cevada ganha terreno perto de polos industriais da cerveja
Igor Castanho :: Em meio aos campos de inverno
2016, o que tende a reforçar a demanda pelo cereal no longo prazo. Com a consolidação dos novos investimentos, o setor projeta que a produção estadual de cevada será dobrada até 2018. A expansão, contudo, tende a continuar concentrada. “Além da proximidade com o mercado comprador, o Centro-Sul do Paraná tem as condições [agroclimáticas] mais propícias para a produção de cevada”, aponta o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. Com precificação fortemente vinculada aos preços do trigo, o insumo da cerveja tem rendido 5% mais que o cereal do pão neste ano (R$ 34,70 pela saca de 60 quilos, na média estadual). Na avaliação de Turra, contudo, não deve haver uma debandada geral do trigo. “O cultivo de cevada não é tão simples porque há uma série de pré-requisitos que precisam ser respeitados para atender o padrão da indústria. Não há como ser aventureiro nesse mercado”, pontua.
Henry Milléo/Gazeta do Povo
Antônio More/Gazeta do Povo
dominados pelo trigo, a cevada ganha terreno pelas beiradas no Paraná. Impulsionada pela perspectiva de aumento da demanda por parte da indústria cervejeira, a produção cresce devagar, mas com projeções otimistas para o longo prazo. A área plantada aumenta pela segunda safra consecutiva e alcança 50,7 mil hectares (alta 2% ante 2014), com potencial para 205 mil toneladas (+16%) em 2015. Cerca de três quartos da produção estadual são direcionados para a malteação, enquanto 18% viram insumo para a produção de rações e 7% são utilizados na produção de sementes, aponta o setor. O crescimento do plantio observado nos últimos anos tem como foco as indústrias do malte, apontam dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abaste cimento (Seab). No núcleo regional de Ponta
Grossa, a área destinada à cevada saltou 145% em um ano, chegando a 12,5 mil hectares, e o núcleo regional de Curitiba registrou incremento de 107%, para 1,2 mil hectares. Além da fábrica da cerveja Heineken, as duas regiões contam com uma indústria da Ambev – ainda em fase de construção – e a previsão de entrada de uma nova maltaria do Grupo Petrópolis, em cidade não definida. “A produção está aumentando incentivada pela indústria, e há potencial para crescer mais com a instalação de novas maltarias nessas regiões”, pontua o economista da Seab Methodio Groxko. O exemplo se confirma na região de Guarapuava, que mesmo com área 15% menor neste ciclo segue liderando a produção estadual, com 33 mil hectares. A participação é sustentada pela presença da maltaria da cooperativa Agrária, que detém 25% do mercado nacional de malte e produz 220 mil toneladas do insumo por ano. A cooperativa planeja ampliar a produção para 350 mil toneladas em
Instalações da Ambev em Ponta Grossa: novos investimentos.
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Maltaria da Agrária em Guarapuava: produção em alta.
:: Tendo o trigo como carro-chefe, o Paraná deverá registrar novo recorde na safra de inverno deste ano, mesmo sem atingir o potencial máximo das lavouras. A avaliação dos técnicos é de que os efeitos do clima estão sendo menos severos para a produção do que na temporada passada, mas ainda são capazes de gerar perdas pontuais na produtividade. Em 2014, a produção de trigo rendeu inéditos 3,8 milhões de toneladas, ante um potencial de 4,1 milhões de toneladas, conforme a Seab. O excesso de chuvas em campos do Sudoeste do Paraná forçou uma revisão nas expectativas iniciais daquele período, contextualiza o agrônomo da secretaria, Carlos Hugo Godinho. Neste ano, mesmo com redução de 5% no plantio a Seab previa incre-
mento na oferta de trigo, que poderia atingir 4 milhões de toneladas. A combinação de chuvas intensas no mês de julho e calor excessivo em agosto, contudo, motivou uma redução nas estimativas para 3,9 milhões de toneladas. “O maior problema está nas primeiras lavouras colhidas, que se concentram no Norte do Paraná e receberam muitas chuvas na fase de emborrachamento. Mesmo assim ainda há chances de uma produção recorde”, pontua Godinho. O desempenho do cereal do pão será decisivo para definir o resultado da produção de inverno, estimada em 4,5 milhões de toneladas. À exceção da aveia branca, a Seab prevê aumento na produtividade de todos os demais cultivos deste período (aveia preta, canola, centeio, cevada e triticale). “Esses grãos de inverno cresceram onde o trigo perdeu área e também têm condições de render mais neste ano”, aponta o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra. (IC)
Hugo Harada/Gazeta do Povo
Clima não ameaça recorde no inverno
Dentro da porteira
Com plantio ampliado pelo segundo ano consecutivo, cevada deve render ao Paraná mais de 200 mil toneladas em 2015.
Hugo Harada/Gazeta do Povo
Liquidez é o principal atrativo Com um mercado mais estável e líquido, a cevada tem atraído produtores com tradição na triticultura. Há seis anos, Ivo Arnt Filho, de Tibagi, vêm reduzindo gradativamente a área destinada ao trigo para abrir espaço ao cereal da cerveja. Somente nesta temporada, ampliou em 50% a extensão reservada à cultura. Segundo os produtores, o manejo é mais trabalhoso quando comparado ao trigo, mas, com demanda garantida pela indústria, a maior facilidade na comercialização compensa o empenho extra. (IC) Com 3,9 milhões de toneladas, trigo puxa recorde no inverno.
GAZETA DO POVO
AGRONegócio 13
14 GAZETA DO POVO
AGRONeg贸cio Setembro de 2015
[silvicultura
Região Centro-Sul do estado
Igor Castanho
concentra a maior parcela de
:: O agronegócio dos Campos Gerais ganha força indo muito além de lavouras, pastos e granjas. Impulsionada pela proximidade com as indústrias, a região assume participação expressiva na área dedicada ao plantio florestal, consolidando um dos maiores polos
áreas dedicadas ao reflorestamento. Clima e logística favorecem plantio
HEGEMONIA MADEIREIRA
Áreas de cultivo no Paraná *
Os núcleos de produção de Ponta Grossa e Curitiba ajudam a fazer do Centro-Sul o principal polo de plantio florestal no Paraná
Em hectares
Albari Rosa/Gazeta do Povo
Vocação florestal diversifica os Campos Gerais
produtores de pinus no país. O quadro gera efeito econômico, e o setor assume 10% de participação no Valor Bruto da Produção (VBP) regional, ante média de 6% no Paraná, aponta a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Considerando apenas os 18 municípios que formam o núcleo regional
TIPOS DE CULTIVO No Paraná
Noroeste
30.588
Em hectares
Norte
72.598
8 6 .7 9 7 Oeste
4 5 .4 3 0 Centro-Oeste 1 0 .9 2 7 Centro-Sul 8 9 0 .1 2 1
Principais núcleos regionais de produção no Centro-Sul
Litoral
2.615
eucalipto
pinus
340.315
653.566
Na Região Centro-Sul
Em hectares
Em hectares
Ponta Grossa Laranjeiras do Sul 24 . 0 3 5 Guarapuava Irati
74 .4 9 9 5 8 . 2 3 1
Pato Branco
corte**
65.900
393.342
4 9. 5 9 4
corte**
Curitiba
1 9 9. 3 9 8
União da Vitória
91.022
pinus
613.535
* As regiões foram divididas conforme a delimitação da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB). **Área em corte raso ou recém-plantada. Fonte: Mapeamento dos Plantios Florestais do Estado do Paraná. Infografia: Gazeta do Povo.
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eucalipto
210.687
463 milhões de ha é a área que as florestas ocupam no Brasil, a segunda maior cobertura florestal do planeta. Menos de 10% desta extensão são de produção comercial. PR concentra o maior plantio florestal de pinus, com 42% do total, e é o oitavo no ranking do eucalipto, com 4%.
de Ponta Grossa (conforme delimitação definida pela Seab), o plantio f lorestal soma 393 mil hectares, ou 37% de toda a área estadual. Em um corte mais abrangente, que contemple toda a região Centro-Sul, o cultivo totaliza 613 mil hectares, ou 83,5% de toda a madeira produzida no Paraná. A concentração está relacionada tanto a condições favoráveis de produção quanto ao contexto histórico da região, aponta o diretor da consultoria Consuf lor, Marcio Funchal. O crescimento também levou à região uma parcela expressiva das indústrias de papel e celulose e de derivados da madeira, conforme levantamento da Indústria Brasileira de Árvores (IBA), entidade nacional que representa o segmento. Para Funchal, isso ajudou a inserir o produtor rural dentro da cadeia de produção. “Hoje as indústrias não conseguem utilizar 100% de matéria-prima própria. Há muitos agricultores que estão incorporando a
produção florestal e se tornam fornecedores”, pontua. Sistemas como a integração Lavoura-PecuáriaFloresta (ILPF) tentam dar viabilidade a esse modelo no campo.
Investimentos bilionários dão novo impulso à região
dar 243 mil hectares de florestas para recebimento de matéria-prima. O movimento se repete nas cidades vizinhas, com projetos já consolidados ou em execução. Só nos projetos do programa de investimentos Paraná Competitivo, que concede benefícios fiscais, é possível identificar investimentos na região de Jaguariaíva (Arauco), Ponta Grossa (Masisa) e Piraí do Sul (Iguaçu Celulose). A maioria deles prevê a ampliação dos parques fabris, gerando ref lexo direto na demanda por madeira. (IC)
::Uma nova onda de investimentos realizados pela indústria madeireira tem garantido reforço na demanda por madeira dos Campos Gerais. A principal obra ocorre em Ortigueira, onde a Klabin articula um investimento de R$ 7,2 bilhões para erguer uma nova fábrica de papel e celulose. Com capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas, a estrutura vai deman-
Vantagem nacional O desempenho favorável dos Campos Gerais expressa as vantagens competitivas da produção nacional, conforme avaliam especialistas. Dados da IBA indicam que a produtividade média do pinus no país é de 31 metros cúbicos por hectare/ano. O número supera com folga o rendimento de países como Estados Unidos (14 m³/ha/ano), China (18 m³/ ha/ano) e Austrália (16 m³/ha/ano). O ganho só não é melhor aproveitado devido aos altos custos logísticos no transporte rodoviário e portuário. “A produção florestal brasileira é até mais competitiva do que a soja em termos de tecnologia e rendimento. Nosso desafio é não perder essa vantagem na exportação”, aponta o diretor da Tree Florestal, Marco Tuoto.
Albari Rosa/Gazeta do Povo
Região de Ponta Grossa concentra 37% das florestas plantadas do Paraná. Produção tem participação expressiva no VBP.
Mais de 80% da produção paranaense de madeira estão na Região Centro-Sul.
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[logística
onde o leite e a soja se
ENCONTRAM Duas das principais atividades agropecuárias do estado têm confluência nos Campos Gerais. Anualmente, cerca de 6,5 milhões de toneladas de soja e mais de 500 milhões de litros de leite passam pelas estradas da região 18 GAZETA DO POVO
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CAStRo E pALMEiRA (pR)
carlos Guimarães Filho ::O constante riscado dos caminhões puxando
do tráfego comercial nas duas estradas estão relacionados ao agronegócio, de acordo com dados da concessionária que administra trechos das BR-376 e PR-151. A soja detém a participação mais expressiva no total de cargas que circulam na região, com 18% do volume movimentado.
Antônio More/Gazeta do Povo
70%
carretas estufadas com soja ou enormes cilindros prateados carregados de leite não passa despercebido nas paisagens dos Campos Gerais. A região é o epicentro de um entroncamento rodoferroviário para o escoamento da oleaginosa do interior do Paraná e de outros estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás até o Porto de Paranaguá. E, ao mesmo tempo, abriga uma das principais bacias leiteiras do país. Anualmente, cerca de 6,5 milhões de toneladas de soja em grão e mais de 500 milhões de litros de bebida circulam pelas estradas da região. Ao longo das últimas décadas, a infraestrutura dos trechos da BR-376 e da PR-151 que cortam os Campos Gerais colaborou diretamente para determinar o desenvolvimento e crescimento da produção destas duas importantes atividades agropecuárias do Paraná. Inclusive, o enorme volume de cargas que transita por estas estradas contribuiu para batizá-las, mesmo que extraoficialmente, de Rodovia da Soja e Rodovia do Leite, respectivamente. Mas as cadeias do leite e da soja não são as únicas beneficiadas pela infraestrutura rodoviária da região. Apesar dos trechos da BR-376 e da PR-151 que cortam os Campos Gerais necessitarem de melhorias em função dos gargalos (leia nas páginas 22 e 23), a malha, em grande parte duplicada, contribuiu para atrair empresas para suas margens. “Como Curitiba já está saturada, muitas empresas estão indo para os Campos Gerais, onde conseguem áreas maiores e mão de obra. Como não é tão longe do porto [de Paranaguá] e a pista é toda duplicada, a região atrai indústrias, não só do agronegócio”, relata João Arthur Mohr, membro do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Um exemplo é a fábrica da Ambev, em construção em Ponto Grossa (leia sobre o negócio na página 12). “A rede rodoviária dos Campos Gerais melhorou bastante por causa das duplicações. A região tem um dos melhores escoamentos do Paraná, o que beneficia muito o agronegócio”, complementa Mohr. Dos 450 quilômetros de extensão da Rodovia da Soja, 229 são duplicados, incluindo o corredor de exportação até o Porto de Paranaguá, e outros 51 km possuem terceira faixa. No trecho da Rodovia do Leite entre Sengés e Palmeira, 73 quilômetros estão duplicados e outros 32 km possuem a terceira faixa, do total de 154 quilômetros. GAZETA DO POVO
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Diversificação está no DNA da Rodovia do Leite :: Não é apenas o leite e seus derivados que colocam a PR-151 na posição de uma das principais artérias logísticas dos Campos Gerais, do Paraná e, sem excesso de zelo, do Brasil. A estrada, que tem suas extremidades em São Mateus do Sul, na divisa com Santa Catarina, e Ribeirão Claro, na divisa com São Paulo, é via de passagem para boa parte das riquezas que são geradas nos campos dos estado (leia na página 23). Por estar no centro da produção agrícola estadual, a PR-151 também serve de passagem para os grãos. O trecho compõe o corredor de exportação de Goiás, um dos principias produtores nacionais de soja, até o Porto de Paranaguá. Além disso, a Rodovia do Leite se relaciona direta ou indiretamente com outras importantes rodovias, como as BRs 153 e 343 e as PRs 090 e 340, o que permite uma diversidade logística. “A qualquer ‘dor de barriga’ em Santos, os exportadores de vários cantos do país precisam usar a PR-151 para acessar Paranaguá”, destaca
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José Alberto Moita, presidente da concessionária CCR Rodonorte. “Também é a ligação de São Paulo com os países do Mercosul. Descem pela 151 até Ponta Grossa e depois para o Paraguai”, complementa o executivo.
Turismo A rodovia também possui ligação com outros tipos de negócios. “Tem um pouco do turismo em função das colonizações alemã e holandesa”, afirma Moita. Na Colônia Witmarsum, em Palmeira, um dos municípios cortados pela Rodovia do Leite, o roteiro turístico inclui confeitarias típicas, restaurantes, lojas, pousadas, museu, atividades radicais e ecoturismo. Nos finais de semana, o produtor Ewald Wiens, descendente de alemães, coloca o trator – que nos dias de semana ajuda nas lavouras de soja, feijão e canola – para puxar uma carreta – fabricada por ele mesmo – lotada de turistas que querem conhecer as belezas naturais da região. “O fluxo de turistas sempre foi grande, principalmente para conhecer a gastronomia alemã. Então resolvi inventar o passeio de trator e deu certo. Todo o final de semana enche de turistas. E acaba gerando uma renda extra”, diz Wiens. (CGF)
“Temos certificados que garantem a qualidade do nosso leite. E o transporte é fundamental para a manutenção deste status.” Tilberto Henrique Husch, produtor de leite em Castro.
430 milhões de litros do alimento foram produzidos no ano passado pelos 1.441 produtores de oito cooperativas (Castrolanda, Frísia, Capal, Coac, Bom Jesus, Coamic, Agrária e Witmarsum) que integram o Pool Leite. Grupo prevê crescimento de 10% na produção neste ano. Entre outros objetivos, a entidade foi criada para coordenar a logística de coleta do leite nas propriedades.
Antônio More/Gazeta do Povo
Tilberto Henrique Hush (direita) com a esposa Elizabeth, o filho Henrique e a nora Janaína.
Eficiência logística estimula investimentos no leite
Considerado o maior entroncamento rodoferroviário da Região Sul do país, ponta Grossa marca o cruzamento das estradas pR-151 e BR-376, além de ser o ponto de partida de estradas como BR-373, pR-513 e pR-438.
Rodovia da Soja Com 50 anos, a BR-376 foi construída em caráter de urgência como uma medida estratégica para ligar o Norte do estado e Curitiba. Temendo a possibilidade de os municípios de Londrina, Maringá e Jacarezinho deixarem de fazer parte do Paraná para integrarem São Paulo, o governador da época, Ney Braga, priorizou a obra. Antes, com acesso difícil à capital do estado e ao litoral, a região encaminhava sua produção ao Porto de Santos, para onde a viagem era menos difícil. Com o Paraná passando por dificuldades financeiras, o recurso para a construção da rodovia veio dos Estados Unidos, que na época estavam fomentando obras com o programa Aliança para o
Progresso. Os trabalhos duraram quatro anos, até que a estrada, batizada na época de Rodovia do Café, fosse inaugurada, no dia 25 de julho de 1965.
Rodovia do Leite A PR-151 começa na divisa com São Paulo e corta toda a região leste do Paraná até a divisa com Santa Catarina. Ao longo de seus 468 quilômetros de extensão, a rodovia recebe diversos nomes. O trecho conhecido como Rodovia do Leite está entre Sengés e Palmeira. De Sengés até Ponta Grossa, a estrada tem como nome oficial Senador Flávio Carvalho Guimarães, conforme lei estadual de 1988. O trecho entre Ponta Grossa e Palmeira, o nome é Deputado João Chede, segundo lei estadual de 1979.
Jonathan Campos/Gazeta do Povo
:: Todas as manhãs, quando o caminhão de leite encosta no portão da fazenda em Castro, o produtor Tilberto Henrique Husch tem a certeza que os 5,5 mil litros produzidos diariamente irão percorrer os 18 quilômetros até a indústria com segurança e rapidez. “Temos certificados que garantem a qualidade do nosso leite. E o transporte é fundamental para a manutenção desse status”, diz. A estabilidade do setor e a logística organizada da porteira para fora foram os motivos que fizeram Husch investir cerca de R$ 900 mil na propriedade nos últimos anos a fim de alavancar a produção dos 300 animais, sendo 170 em lactação. “Construímos novos barracões e reestruturamos a sala de ordenha. O ref lexo está no aumento da produção de leite por animal [média de 35 litros por cabeça]”, comemora o produtor, que planeja ampliar a sala de ordenha de 12 para 20 posições. (CGF)
HiStÓrico
Motor da economia do estado, soja ‘rebatizou’ a Rodovia do Café. Hoje, é a principal carga que circula na BR-376.
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Transporte como elo da cadeia produtiva do leite na PR-151 :: Às margens da PR-151, entre Sengés e Palmeira, a pecuária leiteira quebra recordes de produtividade por animal e põe na estrada milhões de litros de leite por ano. Em uma atividade onde o transporte é uma das engrenagens da produção, em função de o produto ser perecível, a rodovia que interliga as fazendas até as indústrias lácteas assume papel de destaque na cadeia do alimento. “O leite exige deslocamento rápido, ou seja, a logística é extremamente importante. As vias principais que temos dão condições que não ocorra quebra de caminhão e o transporte do leite seja realizado com eficiência”, destaca Henrique Costales Junqueira, gerente da área de negócios do leite da cooperativa Castrolanda, em Castro, nos Campos Gerais, e co-gestor do Pool Leite. “A rodovia também é usada para levar os derivados [do leite] para outras regiões”, complementa José Alberto Moita, presidente da concessionária CCR Rodonorte, que administra trechos da PR-151 e também da BR-376. “O transporte é o maior custo logístico na cadeira do leite. É preciso otimizar a coleta para reduzir o frete”, aponta Junqueira. Para minimizar os gargalos, alguns trechos da PR-151 devem ser duplicados nos próximos anos. Até o final de 2018, os 40 quilômetros entre Jaguariaíva e Piraí do Sul, que hoje contam com 32 quilômetros de pista com terceira faixa, ganharão pista dupla. Os 30 quilômetros que ligam Piraí do Sul a Castro são duplicados. Além disso, obras de alargamento da pista e construção de viadutos no entroncamento de Jaguariaíva estão 70% concluídas, com previsão de termino ainda esse ano para reorganizar o f luxo. “A malha viária do Paraná gera um apoio muito forte para o agronegócio nacional. Para a economia de uma forma geral. Precisamos melhorar alguns pontos”, diz Moita. (CGF)
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ROTAS DA SOJA E DO LEITE As rodovias BR-376 a PR-151 são conhecidas como Rodovia da Soja e Rodovia do Leite, respectivamente. A primeira é a principal rota de exportação da oleaginosa até o Porto de Paranaguá, enquanto a segunda escoa a produção de leite dos Campos Gerais, uma das principais bacias leiteiras do país.
Apucarana Sengés BR376
PR-151
Ponta Grossa
Curitiba
Pa l m e i r a
Paranaguá
S ã o L u í s BR277 do Purunã
RODOVIA DA SOJA
RODOVIA DO LEITE
escoadas pela rodovia em 2014, considerando grãos do PR e do CentroOeste que seguiram para exportação.
devem ser transportados das propriedades produtoras até as indústrias da região dos Campos Gerais em 2015.
6,5 milhões de t de soja foram
450 km de extensão 229 km duplicados 51 km com terceira faixa
500 milhões de litros da bebida
154 km de extensão 73 km duplicados 32 km com terceira faixa.
Fonte: DER, Secex, Rodonorte e Pool do Leite. Infografia: Gazeta do Povo.
Redemoinho da soja :: O carro-chefe do agronegócio brasileiro também é a principal commodity transportada pela BR-376. Tanto que não é à toa que a estrada é chamada de Rodovia da Soja, Porém, o trecho de 450 quilômetros de asfalto é determinante para a agropecuária paranaense de uma forma geral. A integração entre Norte e Sul do estado permite que dezenas de produtos cheguem não apenas ao Porto de
Paranaguá, mas também às indústrias da região de Ponta Grossa, o maior polo moageiro do Paraná. De acordo com dados da concessionária que administra parte da rodovia, 70% do fluxo de veículos pesados são do agronegócio, sendo que 18% carregam fertilizantes, 10% madeira (incluindo papel e celulose) e 8% milho. O café, origem da construção da estrada há exatos 50 anos, representa apenas 0,9% do movimento atual no trecho, muito em função da famosa Geada Negra de junho de 1975, que aniquilou a cultura no estado. (CGF)
Obras prometem mais agilidade no escoamento da soja da BR-376
Antônio More/Gazeta do Povo
:: O trecho da rodovia BR-376 que cor-
Fluxo pesado Obras de duplicação da Rodovia da Soja entre Ponta Grossa e Tibagi. Trecho entre os quilômetros 456 e 467 deve ser concluído até o final de 2015. Fluxo de caminhões na região deve passar de 6 milhões/ano atualmente para 8 milhões/ano em 2012, de acordo com projeções da CCR Rodonorte, concessionária que administra o trecho.
Refresco no tráfego O tráfego de veículos pesados terá um alento nos próximos anos na PR-151. Nos 73 quilômetros de pista dupla entre Sengés e Palmeira, os caminhões de cargas, principalmente agropecuárias, cumprem a viagem sem engarrafamentos. Mais 40 quilômetros, do total de 154, serão duplicados até 2018.
ta os Campos Gerais tem papel fundamental no escoamento da produção paranaense. Porém, apesar de milhões de toneladas de soja e litros de leite circularem pela região, gargalos geram transtorno operacional, atraso na entrega, aumento de custo e, até mesmo, acidentes. “Qualquer coisa que aumente a velocidade de transporte e gere menos quebra de caminhão é uma melhora significativa”, destaca Henrique Costales Junqueira, co-gestor do Pool Leite. Para o membro do Conselho de Infraestrutura da Fiep, João Arthur Mohr, o principal gargalo na Rodovia da Soja é a transposição por Ponta Grossa. “Dependendo do horário, é preciso duas horas para percorrer 33 quilômetros”, diz. José Alberto Moita, presidente da Rodonorte, conta que obstáculos como trânsito, congestionamentos e semáforos reduzem a velociadade a 45 km/hora no trecho. A solução passa pela construção de um contorno de 45 km que ligaria o Sul ao Norte do município por uma via alternativa. Segundo a Rodonorte, o percurso maior seria compensado com um ganho na velocidade média nominal, para 80 km/hora. “Isso tiraria o tráfego pesado de dentro da cidade e economizaria tempo e combustível”, complementa Mohr. O projeto está nas mãos da Secre taria Estadual de Infraestrutura e Logística (SIL) e do Ministério dos Transportes. A obra, estimada em R$ 500 milhões, não faz parte do contrato com a CCR Rodonorte. (CGF)
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
550 acidentes envolvendo 1,6 mil pessoas foram registrados no ano passado na BR-376. Apenas no trecho da Av. Souza Naves, que corta Ponta Grossa, são em média 22 mortes ao ano, metade por atropelamento.
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[renda no campo
Quando a infraestrutura é o melhor insumo A localização privilegiada e bem servida de infraestrutura dos Campos Gerais estimula novos investimentos industriais que, por sua vez, impulsionam a melhoria da rede de escoamento e alimentam um círculo virtuoso que valoriza a produção agropecuária regional
Luana Gomes :: Entre os únicos investimentos fora
os preços praticados em regiões mais distantes do porto, como o Oeste, mostram dados da Secretaria da Agricultura (Seab). “No final de agosto, a soja era comercializada a R$ 76 em Ponta Grossa, o maior valor não apenas do Paraná, mas de todo o Brasil, com exceção dos portos” cita Victor Carvalho, analista de mercado da Informa Economics FNP, lembrando que, nesta mesma época, os negócios eram firmados a R$ 72,50/saca em Cascavel.
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
da porteira que valorizam diretamente a produção primária, os recursos destinados à logística são os principais aliados dos Campos Gerais. Além de estar a cerca de 200 quilômetros do Porto de Paranaguá, a região conta com ferrovia e rodovias duplicadas para escoar a produção até o litoral e abriga um dos maiores polos agroindustriais do Paraná, o que
garante demanda constante mesmo em períodos de baixa nas exportações. O tripé localização-infraestrutura-indústria alimenta um círculo virtuoso que proporciona aos produtores melhores preços para soja, milho, leite e carnes na comparação com outras regiões do estado, com benefício reverso na hora de custear a produção. No caso dos grãos, dependendo da época do ano, o prêmio logístico pode chegar a até R$ 5 por saca ante
Em Ponta Grossa, ponto de encontro da BR-376 e da PR -151 marca o maior entroncamento rodoferroviário do Sul do país.
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Daniel Derevecki/Gazeta do Povo
Há um mês, essa diferença era de R$ 2,50/sc. “Isso se deve à extensão da janela de exportação, pois o Brasil está exportando bastante e a competição entre processadoras e tradings para exportação aumentou, impactando em altas maiores na cotação da soja em Ponta Grossa, pois essa região é mais próxima ao porto e tem diversas processadoras”, explica o analista. A proximidade com Paranaguá, a principal porta de entrada dos fertilizantes no país, também faz com que os produtores dos Campos Gerais precisem desembolsar menos na hora de plantar, assegurando à região margens mais folgadas. “Os produtores de Ponta Grossa têm resultados bem superiores aos de Cascavel, por exemplo, não só pelo preço de venda superior, mas também pelos custos inferiores, já que, com valores de frete menores, pagam menos pelos insumos importados“, detalha o especialista. Estudo da Informa revela que, aos preços atuais, o retorno sobre o capital investido para o cultivo de um hectare de soja chega a quase 50% na região de Ponta Grossa, o equivalente a cerca de R$ 2 mil – valor bem superior ao obtido em Cascavel (R$ 1,6 mil), onde a margem fica próxima de 40%. Os cálculos da consultoria consideram índices de produtividade superiores na praça do Oeste, numa diferença de 10 sacas/ha, já que, com solos mais argilosos, os cascavelenses costumam colher mais grãos por hectare do que os ponta-grossenses em anos de clima normal. A vantagem, entretanto, vira a favor dos Campos Gerais em anos de veranico. “É uma das regiões mais regulares do país, que dificilmente tem quebra climática”, conta o produtor Ivo Arnt Filho, de Tibagi. “40 atrás diziam que os Campos Gerais não serviam para nada. Mas a região correu atrás, foi buscar alternativas e, com tecnologias como o plantio direto, mudou essa percepção. Hoje, compete de igual para igual com áreas que têm solos considerados mais favoráveis à agricultura, como o Oeste”, lembra o chefe do Departa mento de Economia Rural da Seab em Ponta Grossa, Luiz Vantroba. Na última safra, pontua o técnico, a região teve a maior produtividade média de soja do estado.
Proximidade com o Porto de Paranaguá valoriza produção dos Campos Gerais.
R$ 8,56 bilhões foi a renda bruta do setor agropecuário em 2014 nos 27 municípios que compõem a região dos Campos Gerais, segundo a Seab. Cifra equivale a 12% do Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná. Terceiro maior índice do estado, Castro lidera o ranking regional, com R$ 1,2 bilhão.
Negócio bilionário :: Alçar a renda agrícola municipal a cifras bilionárias não é tarefa fácil. No Paraná, apenas três cidades atingiram o feito no ano passado: pela ordem, Toledo, Cascavel e Castro. Com sua economia ancorada no leite e nos grãos, o município dos Campos Gerais, que tem Ponta Grossa como cidade polo, é um dos que mais arrecadam com a agropecuária no estado. Três anos atrás, num ano de quebra de safra na Região Oeste, chegou a tirar de Toledo, líder tradicional, o primeiro lugar no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) colocando os Campos Gerais no topo do ranking estadual em 2012. O índice mede a receita bruta do agronegócio dentro da porteira, sem considerar
“40 atrás diziam que os Campos Gerais não serviam para nada. Mas a região correu atrás, foi buscar alternativas e, com tecnologias como o plantio direto, mudou essa percepção. Hoje, compete de igual para igual com áreas que têm solos considerados mais favoráveis à agricultura, como o Oeste.” Luiz Vantroba, chefe do Departamento de Economia Rural da Seab em Ponta Grossa
elos do setor como o transporte ou a indústria. Dados preliminares da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) revelam que, no ano passado, Castro acumulou um VBP de R$ 1,3 bilhão – cerca de um terço menos que o líder Toledo, mas quase o dobro de municípios com larga tradição no agronegócio, como Londrina. Somente com o leite, uma das principais atividades da região, Castro faturou mais que o dobro do total arrecadado pela agropecuária de Maringá e deixou para trás outros 312 municípios do estado. Os números atuais ainda devem sofrer ajustes, mas o posicionamento no ranking não deve mudar. Somando os 27 municípios que compõem os Campos Gerais, a região tem 12% do VBP do setor no Paraná, avaliado pela Seab em R$ 70,6 bilhões. (LG) GAZETA DO POVO
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[código florestal
Impasse adia reserva legal Com desapropriações na Justiça, Parque dos Campos Gerais deixa 21,5 mil hectares em situação indefinida, enquanto país corre para implantar nova legislação
Gisele Barão,
:: No processo de implantação do novo Código Florestal (sancionado em 2012), o Brasil tem oito meses para incluir no Cadastro Ambiental Rural (CAR) todos os imóveis rurais. Na região de Ponta Grossa, no entanto, os 21,5 mil hectares do Parque Nacional dos Campos Gerais têm situação indefinida, com 46 processos de desapropriação em andamento. Este seria um dos motivos pelos quais apenas 20% da área do município foram incluídos no CAR. Ponta Grossa tem 589 imóveis rurais cadastrados. No estado, o índice passou de 35% e, no país, ultrapassa os 60%, conforme o Ser viço Florestal Brasileiro (SFB). O CAR forma um diagnóstico de onde estão as áreas de preservação permanente e as reservas legais de cada propriedade. Será usado para a regularização dos imóveis com déficit de área verde, bem como para negociação de cotas de preservação ambiental onde há “sobras”. Órgãos públicos da agricultura e organizações do setor integram rede de apoio aos proprietários que precisam de orientação. Em casos comuns ou especiais, a assessoria técnica tende a ser necessária, afirma o agrônomo Ricardo Johansen. A sobreposição de unidades de conservação cria dificuldade extra na região de Ponta Grossa, frisa. As desapropriações previstas para formação do Parque Nacional dos 26 GAZETA DO POVO
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Brunno Covello/Gazeta do Povo
especial para a Gazeta do Povo
Parque promete preservar características dos Campos Gerais.
Campos Gerais, criado em 2006, ainda não ocorreram. Essas áreas, mesmo enquanto unidades isoladas, não estão livres das exigências do novo Código Florestal. Os proprietários que discordam da formação do parque e querem continuar usando as terras para produção agrícola estão brigando na Justiça. Um dos argumentos é que as imagens e dados das áreas seriam insuficientes para justificar o projeto. Vice-presidente do Sindicato Rural de Ponta Grossa, Jussara Bittencourt defende que haja mais discussão. Em sua avaliação, a região já tem áreas de preservação expressivas. A orientação das instituições do agronegócio tem sido para que os produtores em situação indefinida procurem assessoria técnica que saiba avaliar caso a caso.
Dentro do parque, há menos exceções :: Os imóveis rurais que integram, ou vão integrar, o Parque Nacional dos Campos Gerais devem atender exigências específicas, afirma o chefe da unidade, Márcio Ferla, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Um dos pontos distintos é a isenção de 20% de reserva legal nas áreas de até 4 módulos fiscais (ou 48 hectares) consolidadas antes de julho de 2008. “Dentro das unidades de preservação integral, que é o caso do Parque Nacional dos Campos Gerais, as propriedades não entram no regime de exceção”, afirma. Em sua avaliação, a implantação do parque é questão de tempo. (GB)
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[terra disputada
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Campos de muitas vocações
Áreas produtivas estão entre as mais disputadas do Paraná, pela competição entre cultivos agrícolas e agropecuária.
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Historicamente, os Campos Gerais tinham espaço de sobra até para a pecuária. A ascensão da soja, no entanto, fez a região ficar pequena
José Rocher :: A ocupação econômica das terras dos Campos Gerais – vastidão entre os vales do Rio Iguaçu (no Centro-Sul do Paraná) e o do Rio Itararé (na divisa com São Paulo) – começou no início século XVIII. Pelas próprias características da região, que era atravessada por comboios comerciais que marchavam entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, a primeira atividade foi a pecuária de corte. “O recenseamento de 1772 indicou a existência de 50 grandes fazendas e 125 sítios na região dos Campos Gerais”, aponta a historiadora Carmencita de Holleben Mello Ditzel. Muitos donos dessas áreas moravam longe, em São Paulo. “O gradativo processo de partilha dessas sesmarias, por venda, herança e doação, contribuiu para a valorização da terra e fixação das populações campeiras”, acrescenta. Fazendas da região que hoje correspondem aos municípios de Jaguariaíva, Piraí do Sul, Castro e de Ponta Grossa foram as precursoras na atividade rural. E acabaram sendo convertidas à produção de grãos bem mais tarde, a partir de 1930. Desde então, os campos ficaram pequenos para a tanta soja, milho, trigo, fumo. Bem como para a expansão da pecuá ria leiteira. Um bom termômetro é o preço do hectare de terra agrícola. Nos últimos dez anos, a cotação da terra mista mecanizada em Ponta Grossa passou de R$ 8,3 mil para R$ 23,5 mil, um aumento de 180%. Valorização mais
expressiva ainda ocorreu na terra arenosa mecanizada, de R$ 7,9 mil para R$ 22,6 mil por hectare, ou seja, de 190%, agora melhor aproveitada (leia ao lado). Há uma década, a agricultura parecia consolidada, mas nos 27 municípios que integram a região oficialmente conhecida como Cam pos Gerais, as lavouras ainda cresceram 24,5% (2003 a 2013), conforme dados do Instituto Brasileiro de Geo grafia e Estatística (IBGE). As lavouras de verão (soja, milho e feijão) somavam 966 mil hectares e agora alcançam 1,2 milhão de hectares. Ou seja, o crescimento das lavouras de grãos nos Campos Gerais está muito próximo do verificado em âmbito nacional, que foi de 27,4%, na mesma base de dados, com aproveitamento cada vez maior de áreas do Cerrado (Centro-Oeste e Centro-Norte do país). O chefe regional da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abaste cimento (Seab), Laertes Bianchessi, afirma que a soja é, sem dúvida, o motor da disputa entre culturas e da conversão de áreas de campos em lavouras. A oleaginosa ocupa 58% das lavouras de verão da região. Dez anos atrás esse índice era de apenas 42%. O milho, por sua vez, caiu de 30% para 18% das lavouras. As pastagens permanentes não alcançam nem 20% da área da soja, estima o gerente regional da Emater, Osmar Wagner. Com menos de 150 mil hectares, a pecuária de corte e de leite precisa entrar em áreas de lavoura para sair do aperto e respirar com mais espaço no inverno.
1,2 milhão de hectares são cultivados todo verão nos 27 municípios listados como parte dos Campos Gerais. Dessa área, 700 mil hectares são de soja e 210 de milho. As áreas de pastagens, que um dia foram predominantes, não chegam mais a 150 mil hectares. A ascensão da soja esquenta a disputa entre as culturas.
Tecnologia
Plantio direto faz o chão crescer A valorização das terras arenosas – que foi de 190% em dez anos, conforme dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) – indica maior aproveitamento dos solos característicos dos Campos Gerais. Terras mistas também subiram, mas dez pontos a menos (180%). E parte da expansão das lavouras de grãos em áreas arenosas, que foi de 295 mil hectares, é atribuída à adoção crescente do plantio direto. “O plantio direto avançou e permitiu o aproveitamento de áreas antes consideradas improdutivas mesmo para a pecuária”, afirma o gerente regional da Emater, Osmar Wagner. A integração de lavoura com pecuária também ajuda a expandir os campos destinados à produção de carne e leite no inverno, considera. (JR)
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Do mercado da soja à agricultura familiar Sondagem inédita vai mostrar sistema de produção de alimentos que se converte em estratégia de redução da pobreza e geração de negócios
Da Redação :: No ano em que a Expedição Safra completa uma década, o Agronegócio Gazeta do Povo põe na estrada novo projeto de sondagem da produção rural, a Expedição Agricultura Familiar. O foco do trabalho lançado em 2006/07 continua sendo soja, milho, logística e a relação de oferta e demanda internacional. Já a nova sondagem vai mostrar as engrenagens e a importância do sistema de produção responsável por 70% dos alimentos consumidos no Brasil – e que combate a pobreza por suas próprias características de geração e distribuição de renda. A Expedição Agricultura Familiar vai visitar seis estados a partir de 21 de setembro. Jornalistas e especialistas no assunto vão percorrer o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Bahia. Serão detalhadas cadeias de produção como a do frango, leite, hortaliças, frutas, café, cacau, bem como a do tabaco. Nesses setores, a agricultura familiar comanda a produção e se converte em força indispensável para o abastecimento e inclusive para as exportações, aponta o coordenador do projeto, Giovani Ferreira. A agricultura familiar brasileira
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vem sendo apontada pelas Nações Unidas como fórmula capaz de reduzir a pobreza. O consultor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) Valter Bianchini afirma que os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 54% da população rural do Brasil – de 30 milhões de pessoas – situavam-se abaixo da linha da pobreza em 2009. Ou seja, perto de 16 milhões de pessoas tinham renda familiar abaixo de meio salário mínimo por pessoa. Por outro lado, esse quadro não vale para todas as regiões nem para todas as cadeias de alimentos. A Expedição vai apontar como as cadeias mais rentáveis se estruturaram e qual sua importância socioeconômica. Um diagnóstico detalhado do setor será divulgado em reportagens, documentários e por meio de um anuário.
Expedição Safra A Expedição Safra 10 anos começa em outubro, quando Brasil vai acelerar o plantio da maior safra de soja da história. O trabalho, que todo ano começa com uma sondagem da colheita nos Estados Unidos, segue até a colheita sul-americana, com incursões em 16 estados brasileiros e nos vizinhos Paraguai, Uruguai e Argentina.
13,7 milhões de pessoas trabalham na agricultura familiar no Brasil. Expedição vai mostrar, com viagens a seis estados, como estão estruturados principais sistemas de produção do setor, que cultiva 70% dos alimentos consumidos no país.
10 anos de estrada serão completados em 2015/16 pela Expedição Safra Gazeta do Povo. O projeto mede a produção de soja e milho e aponta tendências do setor, com viagens a partir de outubro, começando pelo Corn Belt, nos Estados Unidos.
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