ESPECIAL EXPOINGÁ
Com alta liquidez, soja registra participação cada vez maior nas receitas do agronegócio. O grão já responde por 20% do Valor Bruto da Produção (VBP) nacional e 30% no Paraná.
Expoingá busca conexão direta com a agropecuária
MAIO DE 2014
LIDERANÇA ABSOLUTA Uva e seringueira reforçam polo produtivo do Noroeste
Sobre o Grupo
GTFoods
O Grupo GTFoods teve origem na cidade de Maringá há mais de 20 anos, com a criação da indústria avícola Frangos Canção pelos empresários Rogério Gonçalves e Ciliomar Tortola. Hoje o grupo está em franca ascensão tanto em termos de produção quanto de faturamento, superiores a grandes concorrentes do setor. Em seus quase 22 anos de trajetória, a Frangos Canção foi a marca que deu nome à empresa Gonçalves &Tortola S/A, agora Grupo GTFoods. Desenvolvendo produtos de alta qualidade e competitividade, a empresa alcançou todo o Brasil e o exterior. O grupo é composto pelas marcas Canção Alimentos, Frangos Canção, Gold Frango, Mister Frango e Bellaves (exclusiva para exportação). Atualmente a empresa abate cerca de 480 mil aves/dia em cinco plantas e administra receitas totais superiores a R$ 1 bilhão. A força de vendas do grupo abrange, no mercado interno, o atendimento de clientes em todo o Brasil, e, no mercado externo, mais de 70 países, para onde é exportada cerca de 30% da produção do grupo. Entre os diferenciais da empresa está a verticalização da cadeia produtiva desde as matrizes de recria e produção, até a distribuição do produto acabado. São cinco núcleos de recria de matrizes com capacidade para receber 352 mil fêmeas e 51 mil machos e 10 núcleos de produção de ovos, que �cam Marilena, Mirador e Rondon e são preparados para receber 680 mil fêmeas e 71,5 mil machos, incubatório com capacidade de produção de 10 milhões pintainhos/mês e quatro fábricas de ração que abastecem todo o ciclo produtivo do grupo.
Além de manter granjas próprias, o grupo atua principalmente com produtores integrados, são mais de 900 aviários espalhados por mais de 35 municípios do PR e SC, os quais tem capacidade de alojamento de 22 milhões de aves. Para industrialização e comercialização, o grupo conta com cinco plantas de abate, 13 �liais de vendas distribuídas pelo Brasil e cerca de 6,5 mil colaboradores. Além da carne de frango, carro chefe da companhia, o grupo comercializa alimentos congelados como: batata, polenta, mandioca, vegetais, legumes, frutas, carne bovina, carne suína e pescados, além dos embutidos.
Principais Mercados Japão, Hong Kong, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Venezuela estão entre os principais importadores dos produtos do Grupo GTFoods. A empresa está avançando ainda para liberar as exportações para União Europeia, Singapura e África do Sul. No Brasil as principais regiões de venda são Sul, Sudeste e Nordeste.
Seja um parceiro GTFoods 4
GAZETA DO POVO
Para os avicultores integrados, a empresa fornece ração, pintainhos, assistência técnica e veterinária e segue padrões de biossegurança. Produtores de grãos também podem comercializar a sua produção com a empresa.
AGRONegócio MaioInformações: de 2014 (44) 3218-3500 - www.gtfoods.com.br
A nova linha de produtos Canção Alimentos vem para agradar ainda mais o paladar de todos. Nossos cortes de carne suína, linguiça de frango, polenta, batata e mandioca são uma nova opção saborosa, tanto para os pratos do dia-a-dia quanto para as refeições mais so�sticadas.
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AGRONegócio
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[editorial Vale quanto pesa
E
m 10 anos, a produção brasileira de soja cresceu quase 70%, de pouco mais de 50 milhões para quase 90 milhões de toneladas. A área, no entanto, teve um incremento inferior a 30%. No Paraná não foi diferente. O cultivo aumentou 20% e o volume quase 60%. Um período em que Mato Grosso assumiu a liderança na produção e o Brasil alcançou os Estados Unidos e se tornou o maior exportador da oleaginosa. Ficou definida, portanto, a aposta, a vocação e a opção pela soja. Isso porque não se trata de cultura natural do Brasil. Ela teve que ser adaptada, do Rio Grande do Sul ao Cerrado. Um resultado de quatro décadas de pesquisa e também de pioneirismo do produtor. Em especial de gaúchos e paranaenses, que conquistaram as grandes fronteiras agrícolas do Centro-Oeste e do Centro-Norte e fizeram da soja o principal ativo do agronegócio brasileiro, que gera divisas, promove o desenvolvimento econômico e social, no campo e na cidade. Literalmente, vivemos tempos em que a soja vale o quanto pesa. Um pouco mais, um pouco menos, a depender da região de produção e consumo/escoamento, bem como da oferta e demanda, a saca de 60 quilos gira em torno de R$ 60. Uma relação que torna o negócio rentável, com expressiva participação no Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária. São mais de R$ 90 bilhões em âmbito nacional e de R$ 16 bilhões no estadual. Foi um pouco dessa história que motivou a reportagem de capa de mais uma publicação especial do Agronegócio Gazeta do Povo. Entre outros assuntos da cadeia produtivia, a revista também destaca a Expoingá, feira que de soja tem quase nada, mas que oferece muito de agropecuária e entretenimento. Uma publicação que enfoca a diversificação de Maringá e região, reconhecidamente um importante polo agrícola e pecuário do Paraná e do Brasil.
[índice
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AGRO LIGADO NA EXPOINGÁ O agronegócio tem até sete eventos simultâneos na Exposição Agropecuária de Maringá, que registra conexão direta com o setor
DUPLICAÇÃO À VISTA Os caminhões vão gastar mais percorrer os 207 quilômetros da PR-323 prestes a serem duplicados, mas haverá economia de tempo
SERINGUEIRA LUCRATIVA O Paraná estrutura a cadeia do látex com crescimento lento, mas tem planos ambiciosos no longo prazo
DE TREM OU CAMINHÃO? Sob pressão, ALL e Rumo negam intenção de reduzir espaço na soja no transporte ferroviário
FARTURA DE MILHO Mesmo com recuo na safrinha, o Brasil colhe 25% mais milho do que nos últimos dez anos e pode enfrentar reviravolta no mercado
SAFRINHA DE UVA Após quebra no verão, Marialva registra boa colheita de inverno e dilui custos da viticultura
EXPEDIENTE A revista Agronegócio é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Editor Executivo: Giovani Ferreira. Edição: José Rocher. Editor Executivo de Imagem: Marcos Tavares. Editores de Arte: Alexandre L. De Mari, Carlos Bovo e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole, Joana dos Anjos e Marcos
Giovani Ferreira, Coordenador do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo giovanif@gazetadopovo.com.br
Tavares. Diagramação: Kako Frare. Tratamento de Imagem: Edilson de Freitas. Marcos Luis Navarro e Mauro Chichon de Jesus. Foto Capa: Andre Rodrigues. Redação: (41) 33215050. Fax: (41) 3321-5472. Comercial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: agro@ gazetadopovo.com.br Site: www.agrogp.com.br. Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente. Impressão e acabamento: Gráfica Serzegraf
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[destaques Andre Rodrigues/ Gazeta do Povo
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Aposta acertada na soja
O Brasil registra aumento da participação da oleaginosa no Valor Bruto da Produção Agropecuária, uma prova de que a expansão do cultivo foi uma estratégia correta Henry Milleo/Gazeta do Povo
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UNIDOS E MAIS FORTES Com fusão de entidades, suinocultura e avicultura encontram maior facilidade para abrir novos mercados de exportação
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canola
Num ano em que o Rio Grande do Sul tenta repetir recorde e o Paraná retoma o plantio, o Brasil deve colher mais trigo do que nunca
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[expoingá
Feira de campeões Em ano de Copa, Exposição Agropecuária de Maringá exalta desempenho brasileiro no “campo” e a importância do agronegócio para a economia MARLY AIRES,
ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
:: A Expoingá entrou no clima da Copa do Mundo e declarou que o Brasil é campeão “no campo e na cidade”. De 8 a 18 de maio, no Parque de Exposições Francisco Feio Ribeiro, vai mostrar o desempenho de setores como o da soja e o da pecuária bovina, em que o país é líder em exportação. O ano é para testar os limites da própria Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Maringá,
realizada pela Sociedade Rural do município (SRM). Há três edições o evento recebe mais de 500 mil visitas e movimenta acima de R$ 200 milhões. Os recordes são de 2012: 562 mil visitações e R$ 273 milhões em negócios. Os organizadores afirmam que a 42.ª edição vai sustentar o novo patamar de público, apesar de os produtores de grãos da região terem sido os mais prejudicados do Paraná pelas estiagens do último verão. Oito noites de shows musicais, três noites de rodeios, área de exposição lotada. A feira concentra estandes de 924 expositores e 12 mil animais. Os cursos e conferências ligados ao agronegócio e às atividades culturais dão ritmo à feira. Concessionárias de máquinas agrícolas e de veículos são as empresas que mais faturam. O impacto na economia local atinge diretamente 10 mil pessoas que trabalham na realização do evento.
visitas por edição vêm sendo registradas pela Expoingá nesta década, um novo patamar de público que reestrutura a feira, realizada com participação de 10 mil pessoas.
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Fotos: Divulgação/SRM
550 mil
ENTREVISTA
Ivan Amorin/SRM
rentabilidade e os preços das commodities (...) só aumentam o interesse e a participação dos agropecuaristas. O número de expositores (924) nunca foi tão expressivo.
Agronegócio mais participativo A Expoingá mantém público acima de 500 mil pessoas e movimenta mais de R$ 200 milhões há três edições. Mais que uma vitrine, a feira assume função prática na renovação das tecnologias de produção e na definição das estratégias comerciais do agronegócio, avalia o presidente da Sociedade Rural de Mariná (SRM), Wilson de Matos Silva Filho.
❚ ❚ ❚
Como estão as negociações com a prefeitura sobre a administração do parque onde é realizada a feira?
MARINGÁ
Marly Aires, especial para a Gazeta do Povo
Como a feira interfere na atividade agropecuária da região? Temos valor estratégico para o produtor na comercialização de produtos e na divulgação de tecnologias e equipamentos que ampliam a produtividade do agronegócio.
A quebra climática na produção de grãos vai influir nos resultados da feira? A expectativa é das melhores. A alta no preço da arroba do boi, o desempenho das exportações de carne bovina, a
Participaremos da licitação [a ser aberta neste ano] com confiança. Constantemente levantamos bandeiras em prol de inúmeras causas. Representamos uma classe, a do agronegócio, que é a locomotiva da economia brasileira. A sociedade e os governantes sabem de nosso trabalho, reconhecem o quanto a Sociedade Rural e o Parque estão intimamente ligados ao desenvolvimento de Maringá. Investimos cerca de R$ 36 milhões, de forma voluntária, na estruturação de um espaço de chão batido [ao longo de três décadas].
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Paula Fernandes ganha a noite de sábado.
MÚSICA E AGITAÇÃO Os shows programados para a Expoingá somam 85 horas, o equivalente a três dias e meio de diversão.
DO SERTANEJO À MÚSICA RELIGIOSA
AGENDA TÉCNICA Os cursos, seminários e conferências vão do começo ao fim da feira, com até sete atividades simultâneas.
AXÉ VALORIZADO O acesso ao Parque de Exposições custa R$ 8,00. Crianças até 8 anos e idosos acima de 65 anos e portadores de necessidades especiais não pagam. Para assistir aos shows, o ingresso é de R$ 50. Com exceção do show de Claudia Leite, que sai R$ 80. Nas apresentações do Padre Reginaldo e de Os Paralamas do Sucesso, basta levar produtos não perecíveis, de higiene ou agasalhos. As noites de rodeio custam R$ 30 por pessoa.
MEIA ENTRADA Estudantes têm direito a pagar metade do preço do primeiro ao último dia da feira.
Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Diego Pisante/ Gazeta do Povo
A arena do Parque Francisco Feio Ribeiro vai receber 10 atrações nacionais e o palco cultural outras 50 apresentações regionais. A primeira noite de show, quinta-feira (8), é da música religiosa: Ministério a Ti, Livres (com Juliano Son) e Thalles Roberto. O sertanejo embala a sexta (9), com João Bosco & Vinícius. O sábado (10) está reservado para Paula Fernandes (foto) e o domingo (11) fica para Fernando & Sorocaba. Os Paralamas do Sucesso vão tocar segunda (12). A música católica de Padre Reginaldo é a atração de terça (13). O show de quarta (14) é com
Claudia Leite e o de quinta-feira (15) com Cristiano Araújo. As noites de sexta a domingo têm rodeio. Mais informações sobre a programação podem ser encontradas no site www.expoinga.com.br.
TREINAMENTO E ANÁLISE Especialistas e trabalhadores do agronegócio têm compromissos marcados na Expoingá. O mercado internacional é tema de um fórum dia 8, às 18h45, no Restaurante Central. Governo e instituições privadas apresentam os palestrantes Michel Alaby, Hamilton Belizario e Wagner Enis Weber. Quem põe a mão na massa terá curso de agricultura de precisão e de pecuária bovina de corte nos dias 8, 9 e 10, a partir da 8 horas. Os operadores e mecânicos de colheitadeiras e tratores e os trabalhadores da bovinocultura de leite participam de seminário nos dias 12, 13 e 14, das 8 às 17 horas.
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Criadores de ovinos têm encontro quarta-feira.
DEBATES POR SETOR O panorama mundial da avicultura será debatido dia 16, das 7h30 ao meio dia, no mesmo local. A ovinocultura (foto) se reúne dia 14, a partir das 8 horas, no espaço da Ovinomar, e a floricultura, dia 13, na unidade didática (sala 2). Eventos técnicos sobre genética envolvem diariamente a pecuária bovina.
ASSUNTO DE MULHER O 3.º Encontro Regional de Mulheres Rurais está previsto para dia 15, das 7 às 13 horas. A crescente participação feminina no setor é tradicionalmente discutida na Expoingá. As inscrições para boa parte dos eventos são gratuitas e podem ser feitas na hora.
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[valor da produção
Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
MAIS PESO na economia
Soja atinge participação de 21% no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) do país e abre vantagem sobre outros setores. No Paraná, perto de um terço da riqueza gerada no campo vem da oleaginosa
Há quatro décadas na soja, o produtor Jan Haasjes cultiva atualmente área sete vezes maior nos Campos Gerais.
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IGOR CASTANHO :: Os números mostram que o agronegócio brasileiro é, mais do que nunca, movido a soja. Com o aumento na produção e as cotações em alta, o grão fechou 2013 com renda e participação recorde no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) – foram R$ 91,6 bilhões, ou 21% de toda a renda produzida no campo. O índice mede toda a riqueza produzida “dentro da porteira” e, no caso da oleaginosa, cresce a taxas maiores do que as demais culturas. Uma expansão que reforça a importância social e econômica do produto para o país. Na última década o VBP da soja subiu em média 9,5% ao ano. O ritmo acelerado ampliou em mais de cinco pontos porcentuais a contribuição da oleaginosa na soma total da receita do agronegócio, mostram dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na última safra o grão respondeu por pouco mais de um quinto de toda a renda produzida no campo. A participação se torna ainda mais expressiva quando a análise leva em conta apenas o Paraná. Os R$ 16,1 bilhões faturados em 2013 com a soja representaram 31,6% do VBP estadual (R$ 50,9 bilhões). Esse valor equivale à soma das lavouras de cana-de-açúcar, milho e trigo. O crescimento acumulado soma 107% desde o início da série histórica calculada pelo Mapa, em 2005. A crescente participação da soja no VBP é ref lexo da facilidade maior de cultivo e de comercialização em relação a outras culturas, avalia Júlio Suzuki, diretor de pesquisas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). “Isso também ajudou a reduzir a necessidade de apoio do estado à produção”, indica.
Impacto urbano Além de ganho econômico, o crescimento da soja também estimula o desenvolvimento social. Quinze dos vinte maiores municípios produtores paranaenses de soja possuem Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) considerado alto (acima de 0,7), indicam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A produção agrícola brasileira envolve alto grau de tecnologia, desde a genética das sementes, até a colheita mecanizada e altamente modernizada, o que reflete em si um produto de expressivo valor agregado.” Adriana Silva, pesquisadora do Cepea.
A contribuição da oleaginosa no VBP também favorece a arrecadação das prefeituras do Paraná. Desde 1990 o valor é um dos critérios que definem os repasses municipais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Ser viços de Transporte e de Comunicação (ICMS). “A soja gera empregos, movimenta o comércio local e contribui para o IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] dos municípios”, exalta Glauber Silveira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil).
Consumo A expansão da soja ajudou a satisfazer tanto a crescente demanda internacional quanto as indústrias locais. O volume exportado pelo Brasil saltou 114% em uma década, chegando a 42,7 milhões de toneladas em 2013. No mesmo período o processamento
subiu 52%, totalizando 36,2 milhões de toneladas, mostram dados da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). Nos últimos dez anos, a maior parte da produção passou por algum tipo de processamento dentro do país. A exceção ocorreu em 2013, quando os embarques para o exterior tomaram à dianteira – foram 42,7 milhões de toneladas ou 52% da safra nacional, conforme a Abiove. A entidade defende que há mais espaço para a participação da indústria na economia local. Um dos fatores apontados como um limitante é o atual modelo tributário, que, em tese, privilegia a exportação do grão in natura. “O país poderia ter indústrias maiores e em maior número. Isso daria mais opções de venda para os agricultores”, argumenta Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da associação.
LIDERANÇA DISPARADA A oleaginosa responde por quase um terço da renda paranaense, superando a média nacional. Confira o porcentual da composição do VBP em 2013: BRASIL
PARANÁ
Soja em grão Frango Milho em grão Cana-de-açúcar Leite Bovinos Suínos Feijão em grão Trigo em grão Outros
31,6 15,1 13,8 6,5 4,7 4,5 3,6 3,2 3,2 13,9
Soja em grão Bovinos Frango Cana-de-açúcar Milho em grão Leite Café em grão Suínos Outros
20,9 13,2 11,4 11,3 8,5 5,8 3,3 2,8 22,7
Fonte: Mapa. Infografia: Gazeta do Povo.
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AGRONegócio 13
PARTICIPAÇÃO CRESCENTE A soja forneceu a principal contribuição ao Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná e do Brasil em 2013: Soja em grão (R$ Bilhões)
BRASIL 20,3
20,9%
19,1
18,1 18,2 15,9 14,0
36.8 34,7
40,9
35,8
15,7
45,4
17,2 16,8
22,2
18,3
59,2 57,4 56,3
31,6% 30,8
23,9
91,6 99,1 62,8
29,1 28,7 27,6 28,4 26,6 26,3
27,0
16,1
73,4
12,2 13,0 12,4
11,6 7,8
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014**
Participação do total (%)
PARANÁ
9,4
14,1
9,3
6,5
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014** *
* Os dados regionais começaram a ser calculados em 2005 **Estimativa preliminar do Mapa
Fonte: Mapa. Infografia: Gazeta do Povo.
::A produção de soja ganha escala, mas continua representando fonte de renda para pequenos e médios produtores. Quem mantém tradição de décadas na sojicultura considera a opção acertada. É o caso da produtora Cecília Barros de Mello Falavigna, que tem uma área de 290 hectares em Floraí (Norte do Paraná). Após a perda do marido, há 17 anos, ela assumiu o comando da propriedade e, mesmo sem experiência no campo, decidiu por manter as apostas na oleaginosa. “A soja é a nossa pou-
pança. Graças a ela conseguimos sustentar a atividade no campo”, conta. O bom desempenho do grão deu condições para custear a faculdade do filho e financiar uma segunda aposta: a produção de laranjas. Cecília relata que os constantes investimentos na propriedade também contribuíram para o resultado positivo. “É preciso acompanhar as tendências e buscar sempre a inovação.” O olhar constante aos movimentos do mercado é o que também mantém o agricultor Jan Haasjes há quatro décadas na sojicultura em Castro (Campos Gerais). “A soja ajudou a impulsionar a propriedade”, resume. A área cultivada saltou de 100 hectares para 780 hectares (300 dedicados ao grão) no período. Além
de avanços na assistência técnica, o produtor destaca evolução em maquinário e na forma de comercialização. “Antes a gente colhia e já vendia, hoje é possível escalonar as operações”, contextualiza. Os especialistas avaliam que a presença da indústria é essencial para agregar valor à cadeia produtiva, mas isso não minimiza a importância da atividade primária. “A produção agrícola brasileira envolve alto grau de tecnologia, desde a genética das sementes, até a colheita mecanizada e altamente modernizada, o que ref lete em si, um produto de expressivo valor agregado”, constata Adriana Silva, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Ela defende que a produção e o processamento são atividades paralelas, que devem coexistir. (IC)
Produção de grãos ajuda a impulsionar atividades que vão da pecuária à fruticultura.
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Hugo Harada/Gazeta do Povo
Cultura dá espaço a médios produtores
Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
US$ 31 bilhões foram arrecadados pelo Brasil em 2013 com as exportações do complexo soja. Neste ano, o volume de grão a ser embarcado tende a crescer perto de 10%. No entanto, faturamento do setor, incluindo óleo e farelo, deve cair 11%, aponta a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Demanda acelera as exportações Mercado espera reação na China :: Com uma safra recorde de mais de
:: As margens apertadas que redu-
87 milhões de toneladas, o Brasil prevê aumento nas exportações de soja desde o plantio, oito meses atrás. A meta era atingir 45 milhões de toneladas em 2014. No primeiro trimestre do ano, o ritmo dos embarques foi acelerado. O volume remetido ao exterior foi 83% maior que o do mesmo período de 2013. Porém, essa movimentação não é sinônimo de crescimento no VBP, conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que revisou para baixo a previsão de embarques do ano, para 43 milhões de toneladas, contando com recuo na demanda chinesa. Segundo a entidade, o complexo soja como um todo (grão, farelo e óleo) deve faturar menos do que no exercício anterior nas exportações. A entidade prevê queda de 11% no faturamento com os embarques, que se limitariam a US$ 27,57 bilhões. O recuo é atribuído a uma queda nos preços médios aferidos pelos exportadores.
zem o esmagamento de soja na China e afetam a receita do Brasil com a oleaginosa – e que levaram ao cancelamentos de 500 mil toneladas em compras pelo país asiático – são de curto prazo e devem se normalizar no início do segundo semestre. A avaliação parte de players do setor. Presidente da Bunge, uma das maiores empresas do agronegócio global, Soren Schroder disse que “as margens na China são ruins para todo mundo (...) Mas este é um problema de curto prazo”. Em sua avaliação, o quadro deve durar dois ou três meses. As previsões são de que a China importe 69 milhões de toneladas de soja neste ano, cerca de 9 milhões a mais do que as marcas de 2013 e de 2012, que foram estáveis. Com essa elevação, o país asiático amplia sua inf luência e sustenta as cotações internacionais, mesmo em ano de produção global 6% maior (284 milhões de toneladas).
VBP X PIB O valor da produção ajuda a elevar o Produto Interno Bruto.
RENDA DA FAZENDA As duas principais estatísticas que medem o desempenho econômico do agronegócio estão correlacionadas. O Valor Bruto da Produção (VBP) equivale à renda aferida dentro da porteira. É calculado com base na quantidade produzida e no preço médio de venda de toda a produção do campo.
ÍNDICE ECONÔMICO O Produto Interno Bruto (PIB) mede a riqueza adicionada à economia. Na prática a conta inclui, além do valor da produção, a receita do processamento e os custos em geral. Mede quanto o país ou um setor (de)cresce de um ano para o outro.
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AGRONegócio 15
[cana-de-açúcar
Safra com gosto amargo prioriza o etanol Com oferta de matéria-prima reduzida pela seca e estoques de açúcar elevados no mundo, setor sucroenergético brasileiro tem ano de crise agravada
CASSIANO RIBEIRO :: A safra 2014/15 tem gosto amargo para o setor sucroenergético brasileiro. A oferta da matéria-prima que gera etanol e açúcar será reduzida e as vendas externas também. As indústrias instaladas no Centro-Sul, região responsável por 90% da produção nacional, contam com uma colheita de 580 milhões de toneladas de cana-de-açúcar nesta temporada, que começou oficialmente no mês passado. O volume projetado é inferior ao recorde atingido no ciclo anterior, quando a região produziu quase 600 milhões de toneladas do produto. Além da redução na oferta de cana, que deve diminuir o faturamento do setor, os preços atuais das duas commodities derivadas da planta empatam ou ficam abaixo do custo de produção. No caso do açúcar, as cotações atuais são negociadas em torno de US$ 0,17 por libra-peso na
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Bolsa de Nova York, mesmo valor que o gasto para produzir o produto. O cenário desfavorável para o alimento leva as usinas a priorizarem a produção do biocombustível. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar e deve reduzir seus embarques em relação ao ano passado. Das mais de 34 milhões de toneladas que serão produzidas, 27,2 milhões de toneladas devem deixar o país, conforme estimativas da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). No ano passado, o país exportou 400 mil toneladas a mais que o projetado para 2014. “Hoje os estoques mundiais de açúcar estão elevados. O mercado internacional está abastecido e o mercado físico, fraco, sem muitos novos negócios. É um ano de reversão do superávit, com o setor buscando equilíbrio entre oferta e consumo”, resume Pedro Verges, analista da FCStone
Com preços do açúcar pressionados, 56% da safra devem ser destinados às destilarias de etanol.
especializado no setor. O problema de oferta nos canaviais brasileiros e com uma previsão de aumento no consumo mundial em torno de 2,2% ao ano, há quem cogite um déficit no abastecimento global por causa da redução na oferta brasileira. O quadro brasileiro é o que tem dado sustentação aos preços do açúcar no exterior, mas como o produto ainda não oferece remuneração à indústria, a valorização veio tarde demais. “Para remunerar as usinas, seria preciso haver uma recuperação de 10% a 15% nas cotações. Isso só deve ocorrer de outubro pra frente, quando a moagem aqui estiver na reta final”, avalia Sérgio Prado, representante da Unica. “O aumento do preço não vai mexer no tamanho da safra brasileira. Isso não muda”, acrescenta Arnaldo Corrêia, sócio-diretor da Archer Consulting. A aposta das usinas sucroalcoleiras brasileiras é o etanol, produto que ainda tem dado remuneração ao setor,
R$ 60 bilhões é o tamanho da dívida das usinas sucroalcoleiras do Brasil, conforme dados de instituições bancárias. Neste ano, valor supera em 100% o faturamento do setor, segundo a indústria. Na década passada, correspondia a 30% da arrecadação.
especialmente o tipo anidro. Mas, com a regulação dos preços da gasolina por parte do governo – estratégia considerada sorrateira pelos especialistas para controlar a inflação –, fica difícil para o biocombustível vencer a concorrência nas bombas. “O etanol luta contra o subsídio da gasolina [de 25%] sem apoio. Hoje, o preço dá remuneração, mas assim que começar a empacar nos postos, precisará ceder, porque é mais vantajoso para o consumidor usar a gasolina”, afirma Prado.
Fotos: Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Falta de chuvas entre o final de 2013 e início de 2014 comprometeu a disponibilidade de cana-de-açúcar para a indústria este ano. Volume processado deve ser 16 milhões de toneladas inferior ao do ano passado, mesmo com área disponível ampliada.
CRISE
Dívidas comprometem investimento da indústria A indústria de cana-açúcar calcula que o endividamento neste ano vai superar em mais de 100% o faturamento do setor. Estimativas realizadas por bancos indicam que as usinas brasileiras devem entre R$ 55 e R$ 60 bilhões. O setor mergulhou em uma crise financeira após realizar investimentos na construção de usinas, há uma década. As apostas eram sustentadas na perspectiva de aumento no consumo de etanol com o lançamento de motores bicombustíveis. Em 2008, a crise internacional agravou o problema. “As empresas estão sem acesso ao crédito, pois não tem o que dar como garantia, somente produto”, resume Sérgio Prado, representante da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). Uma alternativa que poderia ajudar a indústria a operar durante todo o ano e não somente durante a safra de canade-açúcar seria a fabricação de etanol a partir do milho. No Brasil, existem duas usinas que já operam com as duas matrizes energéticas e novas unidades devem sair do papel neste ano. O investimento para a flexibilização das unidades ficou entre R$ 20 milhões e R$ 45 milhões. “É um negócio visto com bons olhos. É possível aumentar o portifólio com produtos derivados do milho e até participar do comércio do grão. Se o preço compensar o processamento, faz etanol. Caso contrário, pode segurar o produto e vender na alta”, avalia Pedro Verges, analista da FCStone, consultoria que fez estudo de viabilidade de usinas flex no país. (CR)
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AGRONegócio 17
[duplicação da PR-323
Pedágio para economizar tempo Tarifa tende a encarecer transporte em 10%, mas reduzir em 20% a demora no trajeto entre Maringá e Francisco Alves
:: A duplicação de 207 quilômetros da PR-323, entre Maringá e Francisco Alves, nas regiões Norte e Noroeste do Paraná, irá reduzir em 20% o tempo de viagem no trecho. Por outro lado, o custo de transporte dos produtos agrícolas ficará 10% mais caro por tonelada. Os porcentuais foram calculados pela empresa Ritmo Logística, a pedido da Gazeta do Povo, considerando um caminhão de sete eixos, com capacidade de 37 toneladas. Apesar da cobrança nas quatro praças de pedágio a serem instaladas (R$ 3,90 por eixo ou por veículo utilitário), a obra tende a trazer ganhos ao agronegócio. Boa parte da produção de grãos e carnes da região passa pela rodovia. “É preciso analisar todos os custos envolvidos no processo, e não somente sob a ótica da cobrança de pedágio. As melhores condições de estradas também evitam manutenções de veículos e outros custos decorrentes da má conservação do asfalto”, aponta Angela Fagundes, coordenadora do Núcleo de Inteligência de Mercado da Ritmo. A obra deve começar dentro de dois meses e será a primeira duplicação em parceria público-privada (PPP) no Paraná. O consórcio vencedor envolve as empresas Odebrechet Transport, Tucuman Engenharia, 18 GAZETA DO POVO
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Ivan Amorin/Gazeta do Povo
CARLOS GUIMARÃES FILHO
Dos 220 quilômetros de rodovia, 13 estão duplicados. Obra começa em dois meses e vai até 2020.
Goetze Lobato Engenharia e América Empreendimento. A conclusão da duplicação está prevista para 2020. O contrato de 30 anos prevê a construção de 19 viadutos, 22 trincheiras, 13 passarelas e nove pontes, além de marginais e ciclovias nas áreas urbanas. “A duplicação é uma grande vantagem, ainda mais neste modelo. O tempo de viagem será reduzido e a cobrança de pedágio a cada praticamente 50 quilômetros, num preço não tão alto, é mais justa”, Edson Campagnolo, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).
20 mil veículos por dia deverão usar o trecho duplicado da PR-323, o dobro do fluxo atual. Cada caminhão de sete eixos deverá recolher R$ 109,2 nas quatro praças a serem instaladas em 207 quilômetros.
GAZETA DO POVO
AGRONeg贸cio 19
[pecuária
Suíno e frango partilham mercado Henry Milleo/Gazeta do Povo
Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Fusão de entidades abre perspectiva de maior participação brasileira no comércio internacional
Frango brasileiro tenta conquistar 15 e suíno, mais 10 países.
IGOR CASTANHO :: Responsáveis por 67% do volume (com 4,2 milhões de toneladas) e 52% do faturamento (US$ 8,8 bilhões) nas exportações de carnes em 2013, as cadeias da avicultura e suinocultura apostam em uma aproximação institucional para ganhar mercado. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) acaba de ser lançada, a partir da fusão da União Brasileira de Avicultura (Ubabef) com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), para ampliar a participação dos dois setores no mercado externo. A aproximação começou há pouco mais de um ano, inf luenciada pela presença de grandes empresas que atuam nos dois ramos, como a JBS e a BRF, explica Francisco Turra, presidente da nova entidade. “Começamos a realizar estudos e criamos um estatuto regulamentando a união”, explica. Em pouco mais de um mês de atividades, Turra constata que já ocorreram avanços, como a abertura comercial de três países para a carne de frango brasileira (Malásia, Paquistão e Mianmar). A sinergia favorece a arti-
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culação no exterior. “Em junho uma missão do Chile vai visitar 40 frigoríficos em todo o país e o roteiro foi definido mais facilmente graças à união dos dois setores”, aponta. No caso dos suínos, a ABPA também mira os Estados Unidos e México. Os países são vistos como potenciais compradores após o aumento no número de casos de diarreia suína epidêmica na América do Norte. Outra ação planejada é o combate a medidas protecionistas de nações como a África do Sul e a Indonésia. A previsão é de aumento nos embarques. Para as aves o foco é ampliar de 155 para 170 países compradores. Com isso, o volume embarcado subiria 28,2% (a 5 milhões de toneladas). Na suinocultura a meta é abrir 10 novos países e elevar o faturamento em 48% (a US$ 2,5 bilhões) até 2020. “O aumento nas exportações reduz a oferta no mercado interno, o que ajuda a garantir preço e demanda”, afirma constata Darci Backes, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS). Ele avalia que o Paraná ainda exporta pouco, mas pode avançar se conseguir status de área livre da febre aftosa sem vacinação.
BOVINOCULTURA
Liderança é da carne vermelha Em meio aos esforços da suinocultura e da avicultura, a carne de boi ganha dianteira nas exportações. Houve salto de 16% no valor (para US$ 6,6 bilhões) e 21,1% no volume (para 1,5 milhão de toneladas) exportado em 2013 na comparação com o ano anterior, mostram dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O bom desempenho se repetiu no primeiro trimestre de 2014. No acumulado do período os embarques subiram 17,2% em volume, chegando a 382 mil toneladas. O avanço gerou acréscimo de 13,2% na renda, que soma US$ 1,6 bilhão. E houve valorização no mercado interno, com a arroba passando de R$ 115 no Paraná. (IC)
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AGRONeg贸cio 21
[borracha
Seringueira busca notoriedade Ainda pouco expressiva no Paraná, cultura registra avanço de área. Meta de expansão é ambiciosa e requer expansão no longo prazo
Investimento para formação da floresta é de R$ 5 mil por hectare.
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Rogério Recco/Gazeta do Povo
CARLOS GUIMARÃES FILHO ::Enquanto a maior parte das culturas periféricas perde espaço para a soja, a seringueira registra crescimento no Paraná. No intervalo dos últimos 12 meses, a área destinada à produção do látex aumentou 42%, de 1,4 mil para 2 mil hectares. O estado ainda está longe da meta de 35 mil hectares, mas o avanço segue o cronograma traçado para a fase de estruturação da cadeia, apontam os especialistas. “Se pensarmos que a cultura não tem tradição no estado e que estamos realizando um trabalho de convencimento junto aos agricultores, o crescimento é bom”, afirma o engenheiro f lorestal Camilo Mendes Junior, do Departamento de Florestas Plantadas (Deflop) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab). “A nossa escala prevê crescimento de 500 hectares nos primeiros anos, depois mil, até chegar a 2 mil [por ano]”, complementa. Dos novos 600 hectares, quase a totalidade situa-se no Noroeste do estado. Dentre as explicações está a conformidade de clima e solo para a cultura, principalmente no Arenito Caiuá. A região, bastante sensível à seca, apresenta baixa produtividade para os grãos. Porém, é considerada excelente para o plantio de seringueira, cultura tolerante a estiagem e ao solo pobre.
Além desses fatores, os produtores são atraídos pela promessa de ganhos financeiros consideráveis. De acordo com a cooperativa Cocamar, que mantém projeto de fomento junto aos associados, a renda líquida de um hectare, a partir do sétimo ano do plantio, chega a R$ 3 mil por ano, podendo dobrar após a décima temporada, quando a árvore atinge seu auge de produção de látex (3,9 mil quilos de borracha por hectare). “O cultivo de seringueira gera renda em pequena área, além de não exigir muito tempo de dedicação. Ou seja, o produtor diversifica os negócios”, aponta o agrônomo Renato Watanabe, responsável pelo Projeto Seringueira da Cocamar, que atraiu 60 associados no último ano. O produtor Luiz Carlos Haeberlin decidiu apostar na cultura do látex, depois de anos de problemas com a soja e a laranja. No segundo semestre, cerca de 10% dos 200 hectares da propriedade em São João do Caiuá, no Noroeste do estado, serão cobertos com 10 mil mudas de seringueiras. O investimento inicial é de R$ 100 mil. “Aqui o clima é complicado e o solo arenoso. Cultura anual é um risco muito grande. Por conta disso resolvi apostar na seringueira. A intenção é, aos poucos, transformar toda a propriedade em floresta”, afirma Haeberlin.
A fase inicial da expansão da seringueira esbarra até na falta de mudas, mas mercado é promissor.
VIVEIROS Após constatar que o estado se obriga a importar mudas de seringueira de São Paulo, o Instituo Agronômico do Paraná (Iapar) identificou sete multiplicadores, que estão sendo treinados para assumirem a tarefa. Esse processo deve durar 18 meses.
[transporte ferroviário
Prioridade em xeque
Daniel Castellano/Gazeta do Povo
PARA DECOLAR
ALL e Rumo negam redução do espaço para escoamento de soja por linhas férreas
APOIO O governo do estado e 12 prefeituras do Noroeste prometem subsídio de R$ 800 mil para pagar 50% do valor das mudas. Devem ser atendidos cerca de 10 produtores por município. Cada muda custa R$ 7 (R$3,5 mil por hectare).
IMPORTADOR O Brasil produz apenas um terço da borracha que consume. O restante é importado principalmente da Ásia. A demanda cresce impulsionada pelo setor automobilístico. A Cocamar planeja instalação de indústria para agregar valor ao látex.
JOSÉ ROCHER
CUSTO FINANCIADO
:: Num momento em que a cadeia da
A implantação e a condução dos seringais até o sétimo ano, quando começa a produção, custa de R$ 6,5 mil e 8 mil por hectare. O crédito rural pratica juro de 2% ao ano, com oito anos de carência e 20 para quitação. É possível recuperar o investimento em dez anos. (CGF)
soja amplia a pressão contra as negociações entre a América Latina Logística (ALL) e a Rumo, na tentativa de evitar redução no transporte ferroviário da oleaginosa e favorecimento da cadeia do açúcar, as duas empresas negam esse risco e informam ter intenção de ampliar negócios com o setor de grãos. A aquisição da ALL pela Cosan, proprietária da Rumo Logística e líder na produção de açúcar, foi aprovada pelo conselho de administração da concessionária de ferrovias e deve passar por assembleia dos acionistas da gigante do setor sucroalcooleiro neste dia 8 de maio. Atualmente, um terço da safra de soja depende de transporte ferroviário, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), índice considerado baixo. Por falta de caminhões, que representam 60% da matriz de escoamento, os fretes rodoviários subiram cerca de 20% no último ano, conforme as transportadoras.
Ivan Amorin/ Gazeta do Povo
Produção de látex atinge auge após o décimo ano da floresta.
Trens não conseguem aliviar sobrecarga no transporte rodoviário e preço do frete segue em alta.
A Rumo informou que não há risco de discriminação da soja. “Pelo contrário, a prioridade da nova empresa serão as cargas de grãos por estarem mais distantes dos portos de destino”, alegou em nota. A empresa sustenta que vai fazer investimentos para que, além do açucareiro, “os demais setores também tenham suas demandas atendidas.” A ALL disse ter movimentado, em 2013, cerca de 3,6 milhões de toneladas de grãos no sentido do Porto de Paranaguá. O Porto de Paranaguá contabilizou 3,1 milhões, com redução de 25% ante 2012. O negócio da ALL com a Rumo envolve US$ 3 bilhões e depende ainda do Cade. O órgão regulador tem condições de exigir medidas que garantam preço atraente para o transporte de grãos. A reportagem tentou entrevistar os executivos das duas empresas sobre a falta de espaço para a safra recorde de 2014 nas ferrovias, mas os assessores de imprensa repassaram apenas notas oficiais. GAZETA DO POVO
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[inverno do pão
Mais trigo do que nunca Paraná confirma retomada do cultivo um ano após salto na produção no Rio Grande do Sul. Quadro abre a possibilidade de o país produzir 6,7 milhões de toneladas, volume jamais alcançado
IGOR CASTANHO :: Confiantes em preços remuneradores, os agricultores paranaenses elevam pelo segundo ano consecutivo as apostas no trigo. O plantio começou no mês passado e alcança perto de um terço de uma área de 1,2 milhão de hectares, 23% maior que a da última temporada. Em dois anos, houve acréscimo de 55% na área cultivada, que se aproxima do recorde de 1,3 milhão de hectares de dez anos atrás e indica que o país deve colher mais trigo do que nunca. Como o Rio Grande do Sul vai ten-
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tar repetir o desempenho inédito do ano passado (3,2 milhões de toneladas em 1 milhão de hectares), a retomada paranaense tende a resultar numa safra nacional sem precedentes de 6,7 milhões de toneladas do cereal, 22% maior que a de 2013. Os dois estados respondem por 93% a colheita brasileira e estão registrando clima favorável no início do ciclo. Neste ano, as previsões de ocorrência do fenômeno climático El Niño (aquecimento das águas no Oceano Pacífico) dão indícios de que haverá aumento nas chuvas durante o período de cultivo. Isso reduz o ris-
co de prejuízos com as geadas, mas pode ser prejudicial na fase final de desenvolvimento das plantas, já que a umidade favorece o aparecimento de pragas, explicam os técnicos. Ainda assim, há menos chance de acontecer uma quebra semelhante à ocorrida no Paraná ano passado, quando o frio intenso reduziu em mais de 30% o potencial da colheita. A área nacional não é a maior. Em 2004 e 2005, o cereal atingiu 2,7 milhões de hectares (200 mil a mais do que agora). Mas a produtividade média aumentou ao longo da última década, da casa de 2,1 mil para a de
Agricultor carrega plantadeira na região de Cascavel. Com um terço da área reservada para o cereal já semeado, Paraná põe em prática plano de expansão e tenta voltar ao posto de maior produtor.
EXPANSÃO GLOBAL No último ano, a oferta escassa de trigo no mercado interno e externo garantiu preços remuneradores ao produtor brasileiro, mas esse quadro pode mudar.
66%
MÊS DE OURO O pico nas cotações ocorreu em setembro, quando a saca de 60 quilos chegou a R$ 50 no Paraná, onde foi confirmada quebra climática. Agora o estado paga cerca de R$ 43, enquanto o Rio Grande do Sul, R$ 36.
Cesar Machado/Gazeta do Povo
48%
2,5 mil quilos por hectare. Acima de R$ 40 por saca (10% a mais do que valia em maio de 2013), o trigo ganha viabilidade. Em Londrina (Norte), o agricultor Milton Casaroli ampliou em 17% o terreno dedicado ao cereal, para 150 hectares. “O preço do trigo está bom quando comparado a outros produtos, como o milho”, avalia. Ele acredita que o grão deve continuar valorizado até o momento da comercialização. O consultor da Trigo e Farinhas, Luiz Carlos Pacheco, confirma que mesmo com o aumento na produção as cotações do cereal devem continu-
a colheita nacional de trigo de 2014 devem sair do Paraná e 44% do Rio Grande do Sul, que havia tomado a liderança dos produtores paranaenses na safra passada, respondendo por 57% da produção.
Brunno Covello/Gazeta do Povo
de expansão na área do trigo são registrados nos 29 municípios próximos de Maringá, conforme a Seab, ante uma média estadual de 23%. A região semeia 18,5 mil hectares, que correspondem à 2% da área do estado.
Produtores esperam preços acima de R$ 40/sc.
PERDAS INTERNACIONAIS Além do Paraná, a quebra atingiu o Paraguai e a Argentina, fornecedores do Brasil, que teve de recorrer aos Estados Unidos e ao Canadá.
ar favoráveis. “Os preços tendem a cair devido ao aumento na oferta, mas não ao mínimo”, aponta. Ele prevê que até o início da colheita no Rio Grande do Sul, no final de setembro, a remuneração dos agricultores deve ser boa. Nem mesmo quem teve perdas na última safra desiste da cultura. O agricultor Itacir Cervelin, de Cascavel (Oeste) lembra que no ano passado a geada prejudicou tanto os cultivos de ciclo precoce quanto as variedades mais tardias. Apesar disso, ele vai manter a área de 36 hectares destinada ao cereal. Colaborou Julio Filho, especial para a Gazeta do Povo.
RETOMADA COLETIVA Os preços internacionais estimulam o cultivo na América do Sul e em outras regiões, que têm maior peso na produção mundial. Os países sulamericanos não passam de 5% da produção.
ESTIMATIVA O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) prevê acréscimo de 9% na produção mundial do cereal, chegando a 712 milhões de toneladas. (IC)
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[queda amortecida
Milho de inverno reforça a oferta safrinha, país ainda terá produção 25% maior que a média das últimas dez temporadaso CASSIANO RIBEIRO :: A queda de mais de 20% nos preços do milho entre março e dezembro do ano passado, provocada por um excesso de oferta do grão, fez os produtores brasileiros pisarem no freio no cultivo de inverno deste ano. A segunda safra do cereal, que em 2013 foi recorde, cai 4% em área no país, para 8,5 milhões de hectares, conforme estimativa do Agronegócio Gazeta do Povo. Mesmo assim, o país vive um momento de fartura. Com espaço menor e boa produtividade, a colheita de inverno deve ficar acima de 41 milhões de toneladas. Somando a safra
de verão, o país deve colher mais de 75 milhões de toneladas do produto na temporada 2013/14. São 6 milhões (t) a menos do que na temporada passada, mas ainda assim um volume 25% maior do que a média dos últimos anos. A colheita de inverno começa a chegar ao mercado ainda neste mês, e com preços 20% mais altos em relação à mesma época do ano passado. No Paraná, a saca de 60 quilos vale mais de R$ 23, contra média de R$ 19 praticada em maio de 2013, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral). A valorização recente do produto no mercado doméstico é uma resposta à redução da área plantada no país, mas, principalmente, nos Estados Unidos. Lá, o milho perde ao menos 1.5 milhões de hectares neste ciclo. Ainda assim, a previsão é que os norte-americanos retirem dos campos mais de 355 milhões de toneladas da commodity.
Produtores reduziram produção após queda de preços registrada no ano passado. Cotações se recuperaram mas podem sofrer nova pressão com boa safra nos EUA.
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“A área deste ano, mesmo reduzida frente à do ano passado, ainda está entre as cinco maiores de milho da história dos EUA”, comenta Pedro Dejneka, sócio-diretor da PHDerivativos, de Chicago. Salvo um atraso na largada da safra, o clima por enquanto não dá sinais de que vai castigar a agricultura dos EUA. Pelo contrário. “As perspectivas são positivas com a provável incidência de El Niño, o que historicamente traz uma tendência de produtividade acima da media”, resume Stefan Tonkiw, vice-presidente de Futuros da The Jefferies Bache, de Nova York. “O milho já recuperou boa parte do preço perdido no ano passado. Mas, agora, o mercado está buscando um ponto de equilíbrio em torno de US$ 5 por bushel. Para subir mais, é preciso haver quebra em algum lugar”, acrescenta o analista da Cerealpar, Steve Cachia.
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Após redução de 4% na área da
Preços seguirão novos parâmetros no 2º semestre
10 milhões de toneladas de milho estão sendo colhidas no Paraná no inverno de 2013/14, conforme projeção do Agronegócio Gazeta do Povo. Apesar do recuo de 10% na área cultivada, o volume colhido ficará ligeiramente abaixo do registrado no ciclo 2012/13, por causa da produtividade média elevada. No Brasil, a segunda safra do cereal deve render mais de 41 milhões de toneladas.
Felipe Rosa/Gazeta do Povo
:: O preço do milho deve ter nova configuração no segundo semestre deste ano. E a tendência é de que baixa para as cotações por inf luência da safra norte-americana, segundo os analistas. “Existe uma forte possibilidade de que a área real de plantio de milho seja maior do que a anunciada no final de março pelo Usda [o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos]”, aponta Pedro Dejneka, da PHDerivativos. Paraná e Mato Grosso, dois maiores produtores de milho de inverno do Brasil, adotam estratégia de venda mais conservadora neste ano. Os produtores esperam ter o produto, de alto risco, nas mãos para depois comercializar. Levantamentos do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) e da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) mostram que perto de 80% da safra do estado do Centro-Oeste e 90% da paranaense ainda serão comercializados. Uma estratégia que tem contribuído para segurar os preços acima dos custos. (CR)
CONCORRÊNCIA CRESCE NAS EXPORTAÇÕES Os embarques brasileiros de milho – projetados em 20 milhões de toneladas em 2014, com recuo de 23% sobre 2013 – competem diretamente com os dos Estados Unidos, da Argentina e também da Ucrânia. Os EUA devem abocanhar 37% das exportações mundiais com 44,4 milhões de toneladas. O vizinho sul-americano fica com 13,5%, se mantiver a média de 16 milhões de t, e o país europeu tende a alcançar 18%, com 19 milhões de t, volume 3,5 vezes maior que o de cinco anos atrás. A Ucrânia triplicou sua produção do cereal, gerando excedente para exportar. “Caso a situação entre Ucrânia e Rússia volte a estressar o mercado de grãos (milho e trigo), o mercado internacional deve ter sustentação pelos receios de paralisação do fluxo comercial do Mar Negro. Com isso, o Brasil pode pegar um pedaço dessa demanda”, pontua Stefan Tomkiw, da The Jefferies Bache, de Nova York. A demanda da China, que confirmou acordo fitossanitário com o Brasil, também deve ser disputada pelos exportadores, afirmam os analistas. “O mundo está lotado de milho e os maiores mercados exportadores estarão todos concorrendo entre si”, pondera Pedro Dejneka, da PH Derivativos. (CR) GAZETA DO POVO
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[fruticultura
Safrinha no parreiral Depois da quebra registrada no verão, segunda colheita de uva da temporada traz alento a produtores
MARLY AIRES,
ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO
::Com a expectativa de produzir uma média de 17 a 19 toneladas por hectare, o município de Marialva – maior produtor de uva do Paraná – espera colher nesta safra de inverno de 13,6 mil a 15,2 mil toneladas da fruta de mesa nos 800 hectares plantados. A colheita começou em meados de abril e deve ir até o início de julho. A produtividade é boa, avaliam os técnicos da Emater, e deixam para trás as perdas registradas no verão, após um ano com geadas e veranicos. Favorecida pelo clima menos frio que
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o do Rio Grande do Sul (maior produtor brasileiro), Marialva colhe duas safras por ano. Depois da segunda poda, realizada entre dezembro e fevereiro, os parreirais iniciam novo ciclo produtivo. As fortes geadas que atingiram a região no inverno de 2013 demandaram a repoda de boa parte dos parreirais. “Pior foi o frio intenso que inibiu a brotação e reduziu a produtividade do verão pela metade, para 9 mil quilos por hectare. Além de que cerca de 300 hectares ficaram sem produzir”, lembra Sílvia Capelari, agrônoma da Emater. Normalmente, tanto no inverno quanto no verão, são produzidos de
18 a 20 toneladas da fruta por hectare. “No final do ano, os produtores até conseguiram um preço melhor, mas não compensou a perda agrícola”, afirma o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Valdinei Cazelato. Por conta da baixa produção no verão, até mesmo a tradicional Festa da Uva, em dezembro, acabou sendo cancelada. Agora, a expectativa é que os preços se mantenham altos para acompanhar a elevação nos custos. Com os parreirais carregados, quase prontos para o início da colheita, Antonio Peres (dono de 4 hectares) e José Lúcio Renê (1,4 hectare) esperam 18 t/ha. “Nos últimos anos temos produzido mais no inverno que no verão. Devo tirar umas 70 toneladas agora. E tirei 30 na última colheita”, comenta Peres. Renê colheu 8,5 t na área toda, e agora espera de 18 a 20 t.
Fotos: Marly Aires/Gazeta do Povo
Resultado da segunda leva de frutas desta temporada vai até julho na Capital da Uva do Paraná.
“Nos últimos anos temos produzido mais no inverno que no verão. Devo tirar umas 70 toneladas agora. E tirei 30 na última colheita.” Antônio Peres, fruticultor com 4 hectares de parreira.
50% da uva de mesa do Paraná saem de Marialva, Capital da Uva Fina. O Estado é o quarto produtor de uva do Brasil, atrás de Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco.
LIMITAÇÃO
Renda por pessoa desanima agricultura familiar A uva é apontada como principal alternativa de renda dos pequenos produtores rurais de Marialva, mas oferece o equivalente a apenas um salário mínimo por mês (R$ 724) por pessoa nas famílias de viticultores, reclama o setor. Mesmo com colheita de inverno o dobro maior que a de verão, José Lúcio Renê avalia que somente uma elevação mais expressiva nos preços deve mudar esse quadro. A cotação da uva fina de mesa no Paraná está em R$ 3,9 por quilo (R$ 1 a mais do que a praticada em maio de 2013). “Todas as chácaras [da vizinhança] produziam uva. Com os vários anos de preço ruim e o clima prejudicando a produção, mais da metade arrancou e está produzindo hortaliças, flores e morango”, aponta. O produtor diz que o custo de produção tem subido a cada ano. Em busca de uvas mais resistentes a variações climáticas, a prefeitura de Marialva estimula pesquisas, em parceria com a Embrapa. O objetivo é também agregar mais valor (com uva sem semente, por exemplo) e reduzir a necessidade de mão de obra. Ainda não são usadas máquinas que façam a colheita, a desbrota e raleio. A uva é um dos alicerces da economia local. Perto de 40% do Valor Bruto de Produção (VBP) agrícola local vêm da fruta – R$ 100 milhões de um total de R$ 260 milhões. Isso apesar de a cultura ocupar apenas 800 dos 44 mil hectares cultivados (23 mil com soja). A atividade oferece mil empregos diretos (sem contar as 1,1 mil famílias de pequenos produtores) e de 3 mil a 4 mil postos de trabalho indiretos. (MA)
José René espera colher o dobro do volume de janeiro.
Área plantada caiu pela metade por problemas climáticos :: Devido ao clima chuvoso, produzir uva em Marialva nunca foi fácil, mas nos últimos anos, uma série de problemas tem feito muitos viticultores desistirem da atividade. Dos 1,5 mil hectares cultivados com uva fina em Marialva até três anos atrás, somente 800 continuam em produção. O produtor Antonio Peres se mantém na atividade desde 1990. Além das tradicionais Benitaka e Rubi, tem investido nas variedades sem semente Clara e Vitória, buscando novos nichos. Para ele, foi-se o tempo em que se ganhava dinheiro com uva. Os custos estariam encostados nos preços. A falta de mão de obra agrava a situação, aponta. Os problemas climáticos e as pragas estariam sendo um golpe de misericórdia para quem está em crise. (MA) GAZETA DO POVO
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[biotecnologia
Nova leva de sementes transgênicas
EVENTOS APROVADOS Das 37 sementes transgênicas aprovadas, 17 (46%) receberam aval da CTNBio entre 2009 e 2010. Uma nova leva de pedidos de autorização está engatilhada. 1
17 feijão soja
5
3 1 4
algodão milho
5 2
Indústria tem 15 pedidos de liberação comercial acumulados
3
2007
2008
1
1 1998
3
2004
2005
12
1 2 3
3
3
2010
2011
2012
1
1 2006
2009
19 2013
na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)
JOSÉ ROCHER
ACEITAÇÃO EXTERNA Entre os grãos aprovados para cultivo no Brasil, a soja e o milho RR são os mais aceitos como alimento no exterior. A União Europeia não aprovou 14 sementes. Aprovada pela UE
:: O ritmo das liberações de sementes geneticamente modificadas diminuiu no Brasil nos últimos anos, mas a indústria não parou. Um levantamento do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) mostra que existem 19 pedidos de liberação para produção comercial acumulados – 15 diretamente ligados ao agronegócio (um de eucalipto, quatro de soja e dez de milho). Pesquisadores como Alexandre Nepumuceno, da Embrapa Soja, apontam para o risco de o acúmulo de processos adiar a chegada de novas tecnologias no mercado. Apesar de o país estar discutindo as questões relacionadas aos organismos geneticamente modificados (OGMs) de maneira mais técnica do que na década passada, existe risco de atraso nas análises, avalia. Na percepção da diretora do CIB, Adriana Brondani, a demanda da indústria cresceu, se tornou mais complexa e a CTNBio precisa de
30 GAZETA DO POVO
total
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SOJA GTS-40-3-2 (Roundup Ready) A-2704-12 (Liberty Link) BtRR2Y A 5547-127 (Liberty Link) BPS-CV127-9 (Cultivance)
Países 18 UE 12 UE 10 UE 8 1
MILHO (mais aceitos) NK603 (Roundup Ready 2) MON 810 (YieldGard) BT11 TC 1507 (Herculex) GA21
Países 20 UE 18 UE 18 UE 16 UE 15 UE
Fonte: CIB. Infografia: Gazeta do Povo.
tempo para as análises. Os integrantes da comissão são nomeados por dois anos e, a cada revezamento, precisam se inteirar das análises. “É preciso cumprir o rito processual sem atalhos”, observa. O que vem pela frente, a julgar pelos pedidos em avaliação, são sementes com estruturas genéticas mais desenhadas que as atuais. Além da tolerância a herbicidas e da resistência a insetos, que predominam nas opções disponíveis no mercado, os grãos devem ganhar tolerância à seca, concentração de
óleo, aumento de produtividade. No caso do eucalipto, os objetivos são elevar a densidade e a qualidade da madeira. As liberações, que levavam cerca de um ano, agora estão demorando até mais de dois anos. Existe uma soja na fila há 30 meses e um milho há 24. As liberações externas, em países consumidores, também prolongam o processo. A soja Cultivance, da Embrapa e da Basf, aprovada em 2010 pela CTNBio, ainda não tem aval da União Europeia.
GAZETA DO POVO
AGRONeg贸cio 31
T7
NOVA LINHA
Sucesso mundial, orgulho do produtor brasileiro.
T7.140 | T7.150 | T7.175 | T7.180 | T7.190 | T7.205 | T7.240 | T7.245
EM TODOS OS CAMPOS, CULTIVANDO NOVOS TEMPOS.