Revista Agroleite 2013

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ESPECIAL AGROLEITE

AGOSTO DE 2013

Qualidade até

a última gota

Rigor em critérios técnicos amplia o valor da produção leiteira. Ordenha robotizada e obsessão por qualidade mostram que é possível avançar também em rendimento, mesmo diante de médias recordes Páginas 10 a 15

Soja e leite colocam Campos Gerais no topo do ranking do VBP

Agroleite tem programação de 12 a 16 de agosto em Castro

Páginas 20

Página 6



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[editorial Patrimônio do Paraná

[índice

O

s Campos Gerais são conhecidos no estado, no país e no mundo por muitos atributos, quase que exclusivamente do agronegócio. Entre eles está a tradicional e premiada bacia leiteira do ABC, que reúne em cooperativas os imigrantes, descendentes e simpatizantes da colonização holandesa. Eles plantam soja, milho, trigo, feijão e batata. Produzem carne de boi, suínos e aves. Estão envolvidos em inúmeras cadeias produtivas. Mas está na produção de leite a principal referência da região. A busca constante por inovação e tecnologia – que desafia os padrões internacionais de qualidade, valoriza o segmento, define a aposta do produtor e a segurança do consumidor – virou verdadeira obsessão. Produzir leite nos Campos Gerais é mais que uma atividade que envolve apenas componentes econômicos e de segurança alimentar. Há todo um viés social, que combate a evasão rural e contribui para a sucessão no campo. Por lá, tirar leite é algo moderno e desafiador, inclusive às novas gerações. Tanto é verdade que graças não somente à soja, mas com fundamental contribuição do leite, os Campos Gerais estão prestes a assumir a liderança no Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária paranaense, com 10,4% de participação. No ranking de 2012, a ser confirmado neste mês, Castro supera e coloca em xeque o reinado até então de Toledo, no Oeste do estado. São ideais, iniciativas e conquistas de uma cultura e de um grupo de pessoas que se transformaram em um verdadeiro patrimônio cultural, econômico e social da região e do estado. Não dá para imaginar, por exemplo, o que teria sido de Carambeí, Castro e Arapoti, enfim, do agronegócio e da economia do Paraná sem essa intervenção, que vem desde a primeira metade do século 20. E para falar um pouco dessa realidade, bastante peculiar, é que editamos a terceira revista do Agronegócio Gazeta do Povo em 2013. A edição destaca a contribuição do leite e dessas comunidades ao desenvolvimento do agronegócio. Relevância essa que também está traduzida na maior e mais importante feira de tecnologia leiteira do país, a Agroleite, promovida pela cooperativa Castrolanda. Momento que faz da comunidade, nesta semana, a mais holandesa das colônias dessa etnia no Brasil. Giovani Ferreira Coordenador do Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo giovanif@gazetadopovo.com.br

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AGRONegócio – especial Agroleite Agosto de 2013

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QUALIDADE E TECNOLOGIA

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NOVA ERA INDUSTRIAL

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RENDA AMPLIADA

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TRANSBRASILIANA

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RAÍZES NA IMIGRAÇÃO

Reportagem mostra os caminhos que os produtores de leite trilham para ampliar a ordenha na região de Castro

Com duas usinas de beneficiamento extras, ainda sobra leite nos Campos Gerais

Receita da agropecuária avança em Castro e faz região assumir liderança no VBP no Paraná

Depois das obras que favoreceram Tibagi, a BR-153 reacende expectativas em Ipiranga

Cooperativas fundadas por holandeses têm cada vez mais brasileiros entre associados

EXPEDIENTE A revista Agronegócio é uma publicação da Editora Gazeta do Povo. Diretora de Redação: Maria Sandra Gonçalves. Editor Executivo: Giovani Ferreira. Edição: José Rocher e Luana Gomes. Editor Executivo de Imagem: Marcos Tavares. Editores de Arte: Alexandre L. De Mari, Carlos Bovo e Dino R. Pezzole. Projeto Gráfico: Dino R. Pezzole, Joana dos Anjos e Marcos Tavares. Diagramação: Rodrigo Montanari Bento. Tratamento de Imagem: Edilson de Freitas. Foto Capa: Josué Teixeira. Redação: (41) 3321-5050. Fax: (41) 3321-5472. Comercial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: agro@gazetadopovo. com.br Site: www.agrogp.com.br. Endereço: R. Pedro Ivo, 459. Curitiba-PR. CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente. Impressão e acabamento: Gráfica Serzegraf.


[destaques

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Arquivo / Gazeta do Povo

AGROLEITE DA SUPERAÇÃO

Preço recorde e produção em alta não acomodam pecuária. Feira propõe avanços com discussões técnicas e novas tecnologias

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CARNE NA BACIA LEITEIRA Bovinos angus e purunã, ovinos precoces e suínos têm boas perspectivas de Castro a Palmeira Jonathan Campos / Gazeta do Povo

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ROTEIRO HOLANDÊS

Turistas ganham cada vez mais opções de alimentação e hospedagem que remetem à cultura holandesa

Josué Teixeira / Gazeta do Povo


Agroleite

Portal de vanguarda no leite Em época de preços elevados e produção em alta, exposição tradicional de Castro propõe renovação tecnológica com programação desta segunda até sexta-feira

CARLOS GUIMARÃES FILHO :: Cotações recordes e novas tecnologias impulsionam a renovação da pecuária na 13.ª Agroleite, que começa nesta segunda (12) e segue até sexta-feira (16). O preço médio pago ao produtor passou de R$ 1 por litro no último mês, o que não ocorria desde setembro de 2007 no Paraná, mostra o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, o Cepea. A expectativa é que o mercado estimule as discussões sobre tendências e o interesse pelas exposições de animais, máquinas e equipamentos, bem como pelos leilões e concursos de produção. Nada de shows musicais com duplas sertanejas ou parque de diversões. No Parque de Exposições Dario Macedo, os animais de genética avançada são as estrelas do evento. A Agroleite preserva o perfil essencialmente técnico, apontam os organizadores. “A cada edição reforçamos o foco em tecnologia, produção e conhecimento”, afirma o presidente da cooperativa Castrolanda e da feira, Frans Borg. “O preço do leite favorece o interesse do produtor em adquirir novas máquinas e investir em tecnologias.” Vitrine dos lançamentos da indústria ligada à pecuária leiteira, a Agroleite ref lete também o perfil da região de Castro. Líder brasileiro em produção, o município se tornou oficialmente Capital Nacional do Leite com a aprovação do título pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. Para estreitar o contato dos visitantes com as novas tecnologia, pela primeira vez, haverá apresentações de atividades de campo. Além de visitar estandes, os produtores vão conferir na prática o desempenho de máquinas e equipamentos. As demonstrações serão nos últimos três dias, no período da tarde.

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O mercado A cotação do leite paga aos produtores brasileiros em julho (R$ 1 por litro) foi 17% maior que a de um ano atrás, conforme o Cepea. O valor é uma média ponderada de sete estados (PR, SC RS, SP, MG, GO e BA).

A feira A expectativa da Agroleite é ultrapassar os recordes de R$ 40 milhões em negócios e 80 mil visitações, alcançados em 2012. A programação completa pode ser conferida em www.agroleite.com.br.

Fórum A Agroleite se encerra com o Fórum da Pecuária Leiteira 2013, sexta-feira, a partir das 13h30. Serão abordados três temas: a comunicação como elo do agronegócio, segredos de um produtor de sucesso e estratégias de lucro.


Arquivo/ Gazeta do Povo

Genética avançada desfila em leilões e concursos.

Cidade do Leite começa a ganhar forma projeto Vila Holandesa vai dar início à 13.ª Agroleite. A solenidade de abertura, às 11 horas desta segunda-feira (13), vai anunciar a concretização do sonho dos cooperados da Castrolanda. A casa tem 200 metros quadrados e irá funcionar como um show room para que as empresas conheçam a futura Cidade do Leite. O projeto da cooperativa inclui a construção de 25 casas, todas retratando nos mínimos detalhes a arquitetura holandesa. Quando estiver pronta, provavelmente em 2016, a Vila Holandesa irá funcionar como um centro comercial do agronegócio, além de promover a cultura local com apresentações de danças folclóricas e comidas típicas da Holanda, país de origem dos imigrantes que fundaram a cooperativa. Durante a Agroleite, tende a funcionar como uma atração extra. Além da construção do complexo de casas, a Castrolanda assumiu a responsabilidade de melhorar a infraestrutura do Parque Dario Macedo.

Houve intervenções nas redes elétrica e hidráulica, na pavimentação, no estacionamento, nos banheiros, com investimento de R$ 4 milhões. Entre os projetos, estão um barracão de 6 mil metros quadrados para recepção de animais, nova arena de julgamentos, praça de alimentação, auditório para palestras com capacidade para 1,5 mil pessoas e ampliação do estacionamento. Em quatro etapas, devem ser aplicados R$ 15 milhões pela Castrolanda e patrocinadores da Agroleite. (CG)

Reprodução / Castrolanda

:: A inauguração da primeira casa do

Vila Holandesa terá 25 casas.


Entrevista

Além dos equipamentos expostos nos estandes, público poderá acompanhar na prática os avanços obtidos pelas indústrias de máquinas na produção de forragem CALOS GUIMARÃES FILHO :: A Agroleite vem se transformando continuamente para abrir caminhos à pecuária leiteira. Na avaliação Frans Borg, presidente da cooperativa Castrolanda, organizadora da exposição, a feira tornou-se referência no país ao reunir aplicações práticas das mais recentes tecnologias voltadas ao segmento e, ao mesmo tempo, apontar as tendências para o setor. Na edição que começa nesta segunda-feira (12), a feira terá dois destaques: as dinâmicas no campo, que permitem aos produtores acompanhar as máquinas em ação, e o Dia de Campo, uma espécie de vitrine das novas tecnologias para forragens.

A feira surgiu pequena e hoje é uma das principais do Brasil. O que possibilitou esse crescimento? O município de Castro é reconhecido nacionalmente pela qualidade do leite que produz e a Castrolanda, disposta a manter a tradição, investe a cada edição da Agroleite para que todos os participantes e visitantes possam se atualizar e conhecer novas tecnologias e tendências em máquinas e equipamentos, nutrição animal, genética, gestão, meio ambiente, mercado, produtos e outras informações estratégicas.

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“Castro é reconhecido nacionalmente pela qualidade do leite que produz e a Castrolanda investe a cada edição da feira para manter essa tradição.” Frans Borg, presidente da cooperativa Castrolanda

Qual é o perfil da Agroleite hoje? A abrangência vai desde a produção primária até a distribuição, com exposições das principais raças e a participação dos mais tradicionais criadores do Paraná e outros estados. É uma semana de oportunidades tanto para as empresas deste setor como para os produtores. Funciona como uma plataforma para lançamentos e é uma excelente fonte de informação por meio dos seminários, que abrem discussões e proporcionam uma leitura rápida, eficiente e realista das tendências e demandas do mercado leiteiro.

Para onde vai a feira? A Castrolanda almeja uma exposição representativa, com foco em tecnologia e com um time seleto de expositores em um espaço com capacidade para 700 argolas. O complexo Castrolanda Convention Center irá abrigar uma arena coberta para julgamentos, um amplo espaço para convenções, área administrativa e praça de alimentação. Outro destaque especial será a Vila Holandesa e a Praça Central.

Em que aspectos a cadeia leiteira dos Campos Gerais ainda pode evoluir? Nós estamos numa região que investe constantemente em tecnologia. O nosso produtor, com apoio das cooperativas, busca cada vez mais a profissionalização e atualização dos conhecimentos. O mercado oferece inovações constantes que contribuem para a evolução da atividade.

Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Com os pés no campo



Superação

Verdadeira obsessão nos Campos Gerais, o constante investimento em qualidade e em tecnologia abre caminho para avanço na produção e na renda

Fronteiras abertas

PArA O leite 10 GAZETA DO POVO

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Josué Teixeira / Gazeta do Povo

CASTRO

IGOR CASTANHO E CARLOS GUIMARÃES FILHO :: Numa frente, a extrema preocupação com a qualidade, que agrega valor ao leite quando o rendimento por animal chega perto de 40 litros diários e parece insuperável. Em outra ponta, os investimentos em novas tecnologias, com robôs que ordenham vacas até cinco vezes ao dia e acabam elevando a produção – e derrubando o mito de que não é possível superar as médias recordes. Para quem não quer ficar para trás, só resta seguir o rastro da pecuária leiteira dos Campos Gerais. O cuidado com a qualidade é tradicional, mas se tornou verdadeira obsessão na região. Pecuaristas não medem esforços para produzir um leite com bons atributos, que rende 20% a mais na hora da venda. O incentivo vem das cooperativas, por meio de um modelo de compra que vai além da busca por escala. “Nosso sistema de pagamento por qualidade é um dos mais agressivos do Brasil”, destaca Henrique Junqueira, responsável pela área de leite na cooperativa Castrolanda. A primeira leiteria robotizada de que se tem notícia na América Latina foi implantada na Fazenda Santa Cruz de Baixo, em Castro, por Armando Rabbers. Com investimento de R$ 2,6 milhões, ele deixa as máquinas trabalharem e precisa apenas monitorar um computador. O próprio sistema, que funciona 24 horas por dia, manda mensagem por celular quando há algo errado. Ele chegou à linha dos líderes em produtividade e ainda quer avan-

çar 2 litros por vaca ao dia. Nos Campos Gerais, volume e qualidade são ponderados na conta que define o preço pago aos pecuaristas. E as cobranças não se referem apenas ao leite. Funcionários com carteira assinada e facilidade no acesso à propriedade são alguns dos atributos que contam pontos positivos. “Não se pode mais monitorar somente as propriedades intrínsecas ao leite. Há uma série de fatores que os produtores precisam observar”, complementa Junqueira. As exigências são assimiladas com naturalidade. “Se você faz o trabalho bem feito e sabe que dá resultado, acaba virando uma rotina”, conta o pecuarista Luis César Stockler. “Hoje tem se dado à qualidade a mesma importância que no passado era dada ao volume de produção”, aponta José Horst, gerente de produção leiteira da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH). Ele destaca que o diferencial do estado é confirmado pelo desempenho superior às metas traçadas pelo governo federal para o futuro do leite. “Há produtores que já estão nos patamares esperados para 2017”, indica. O ganho no campo também beneficia consumidores e a indústria. “É consenso que um leite de melhor qualidade tem um rendimento muito maior”, aponta Letícia Mendonça, técnica da Embrapa Gado de Leite. Ela explica que, quando o leite é bom, produtos como o queijo prato são processados com agilidade maior e apresentam validade mais longa. GAZETA DO POVO

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Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Mariele, Luis e Jaqueline Stocker revelam como abocanharam dois troféus de qualidade.

Campeões não medem esforços para melhorar CASTRO

IGOR CASTANHO :: A rotina das fazendas guarda os segredos que garantem qualidade e alta produtividade à pecuária leiteira dos Campos Gerais. A dedicação é contagiante entre os membros da família Stockler, em Castro, que colecionam prêmios. O trabalho começa antes do amanhecer e envolve pai, mãe e três filhos, numa espécie de mutirão familiar. A jornada tem início às 5 horas, quando ainda é noite. A primeira ordenha do dia termina duas horas depois, já com sol. Em seguida, é hora da limpeza dos equipamentos e da propriedade e do preparo da ração servida aos animais em semiconfinamento. Tudo precisa estar pronto antes das três da tarde, quando é feita a segunda ordenha. Ao anoitecer, a família deixa tudo preparado para a

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ordenha do dia seguinte, quando o ciclo de produção recomeça. Somase a isso o monitoramento da saúde dos animais, os cuidados com a nutrição e a própria evolução genética do rebanho. Não há folga em finais de semana nem em dias frios ou chuvosos. A carga de trabalho não dispensa zelo constante, que pode ser notado nos detalhes. Os donos chamam cada uma das 167 cabeças do rebanho pelo nome e notam facilmente mudanças no comportamento dos animais. Com um rebanho bem tratado e uma propriedade organizada, pais e filhos conseguem produzir o leite de melhor qualidade entre todos os associados da Cooperativa Castrolanda, conforme o ranking de 2012. “Nossa vida é fazer isso, então precisa ser bem feito”, revela Mariele Stockler, 23, filha do meio. A família faturou também o primeiro de qualidade em sua faixa de volume de produção. Se conseguir esse feito três anos a fio, poderá manter o troféu na propriedade. E que venha o concurso 2013!

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LABORATÓRIO

Testes ganham mais estrutura O laboratório que testa 80% do leite do Paraná teve sua estrutura de análise dobrada com investimento de R$ 636 mil. A unidade fica em Curitiba e pertence à Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), que aguarda repasse R$ 490 mil pelo governo do estado para aquisição de equipamentos. Conforme José Horst, gerente de Produção Leiteira da associação, a capacidade de análise, que em 2006 era de 60 mil testes mensais, subiu para 360 mil testes. (IC)


Programa vai funcionar como certificação CARLOS GUIMARÃES FILHO cultura, o leite será o primeiro item da pecuária a ingressar no programa Produção Integrada Agropecuária (PI Brasil), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na prática, ficarão estabelecidos critérios desde a gestão da propriedade, com a promessa de agregação de valor à produção das fazendas aprovadas. A certificação deve começar ainda neste ano e será feita por empresas creditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). As normas técnicas de manejo do PI Brasil foram testadas nos últimos três anos nos Campos Gerais, região escolhida por sua tradição na atividade. O período de teste serviu para que especialistas indicados por diversas instituições de pesquisa e do setor produtivo executassem treinamentos e monitorassem a qualidade do leite e da água, e sugerissem eventuais mudanças de práticas e processos. “O Paraná foi escolhido como base pelo prestígio e reconhecimento na qualidade do leite que produz”, disse Roberta Mara Zuge, veterinária da Ceres Qualidade Consultoria e Assessoria, que coordenou a norma do leite. Os critérios, com foco na sustentabilidade estão distribuídos em 17 grandes áreas, como segurança e rastreabilidade do alimento, bem estar e sanidade animal, saúde e segurança do trabalhador rural.

5,5% do leite do Paraná sai de Castro, que alcança 210 milhões de litros ao ano e figura como líder nacional, conforme o IBGE (2011). Dos 20 municípios líderes, quatro são do Paraná: Castro, Carambeí, Marechal Cândido Rondon e Toledo.

Jonathan Campos/Gazeta do Povo

:: Depois de 19 segmentos da fruti-

Atenção a questões sanitárias acabam ampliando o rendimento por animal.

CONTROLE PRIVADO

Critérios valorizam cada gota de leite As exigências sanitárias das cooperativas dos Campos Gerais – que concentram 14% da produção leiteira do Paraná – vão além dos critérios mínimos previstos na legislação e, automaticamente, estimulam a busca por maior rendimento. O cuidado com a qualidade favorece a produtividade, aponta Henrique Junqueira, responsável pela área na Cooperativa Castrolanda. Os produtores são estimulados a reduzir a

concentração de células somáticas no alimento. Concentração elevada indica a presença de enfermidades como a mastite, que afeta a glândula mamária e reduz a produtividade. Por meio da contagem bacteriana, controlase a contaminação do leite por falta de higiene ou refrigeração. A identificação de resíduos químicos (como os de remédios antibióticos) depende de testes de laboratório. O conforto do rebanho ganha atenção por garantir maior volume de leite. Limpeza, organização, instalação de ventiladores são apenas as primeiras providências. (IC)

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Ordenha robotizada Vacas são identificadas eletronicamente e braços mecânicos tiram o leite na fazenda Santa Cruz de Baixo CASTRO

CARLOS GUIMARÃES FILHO :: Uma placa na entrada da fazenda Santa Cruz de Baixo, em Castro, já avisa: para conhecer a ordenha robotizada é necessário agendar visita. Desde novembro passado, a leiteria de Armando Rabbers ganhou status de ponto turístico. O motivo é a instalação do primeiro sistema de ordenha automática da América Latina, antes visto apenas na Europa. “Foram dois anos de negociação [com a fabricante] até o contrato”, conta o pecuarista, que foi à Suécia para conhecer a indústria e à Holanda para ver os equipamentos em uso. O sistema é controlado por um software. As vacas se acostumam a entrar na fila da ordenha sozinhas, e acabam fazendo isso até cinco vezes por dia. Um braço hidráulico, sem qualquer interferência humana, executa automaticamente a limpeza das tetas, o estímulo à liberação de leite e a orde-

nha. O sistema funciona dia e noite e recebe 15 animais por hora. “Recebo os relatórios sobre o desempenho de cada vaca até no celular. Hoje só tenho quatro funcionários dedicados exclusivamente aos bezerros”, conta o produtor, que ganhou mais tempo para cuidar das plantações de soja, milho, feijão e trigo espalhadas em 190 hectares da fazenda. A fazenda Santa Cruz registrou um salto de 24 litros para 36 litros ao dia por animal em lactação (50%). O avanço é atribuído ao bem estar animal que o sistema robotizado oferece. O aumento do número de ordenhas, que obedece o instinto das vacas, deixa o rebanho menos estressado. “A meta é alcançar 38 litros por animal/dia”, ressalta Rabbers, que começou com a pecuária leiteira para consumo próprio e dos funcionários. De acordo com o produtor, o avanço de produtividade é reflexo da melhora do conforto dos animais, que vão para a ordenha quando querem.

NA LEITERIA O pecuarista Armando Rabbers investiu R$ 2,6 milhões na compra de dois conjuntos de máquinas para ordenha automática.

Cada unidade ordenha até 70 animais (alguns deles cinco vezes por dia).

As vacas usam chip de identificação no pescoço para controle de fluxo.

Jonathan Campos/Gazeta do Povo

O braço hidráulico faz limpeza e ordenha com uso de sensores.

Rabbers mostra software que controla a ordenha, com dados por teta de cada animal.

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Vida no curral segue o ritmo ditado pelos animais, que rendem mais.


O futuro mais regulado Entram em vigor novas exigências regionais, que apertam limites para o Sul antes de critérios serem atingidos no Nordeste

IGOR CASTANHO

Jonathan Campos/Gazeta do Povo

:: Novos limites para os indicadores da qualidade do leite – programados na Instrução Normativa 62/2011, do Ministério da Agricultura – estão entrando em vigor há dois anos. No Sul, o setor cumpre o segundo degrau das exigências, que consideram a infraestrutura de cada região. Esses mesmos limites deverão ser alcançados em 2014 no Nordeste. Na prática, os sistema amplia a regulação no Sul antes de os critérios serem atingidos em zonas que ainda enfrentam déficit de recursos básicos como energia elétrica. A IN 62 fixa patamares mínimos para atributos como porcentual de gordura, contagem padrão de placas e contagem de células somáticas. Um novo degrau está previsto também para o Sul em junho de 2014.

Clóvis Serafini, veterinário da Divisão de Inspeção de Leite e Derivados do Mapa, explica que as regras dão continuidade ao que estava previsto na Instrução Normativa 51/2002, que delimitava os critérios anteriormente. “A evolução desde 2002 foi considerável, mas não atingiu integralmente o que estava previsto [na IN 51]”, afirma.

Fiscalização O Mapa adota o efeito cascata para fiscalizar o cumprimento das normas. Seraf ini explica que o Ministério fará o controle diretamente nas indústrias, que devem ser responsáveis por monitorar os produtores. “No caso de irregularidades, as punições vão desde a aplicação de multas até a cassação do registro que autoriza a produção”, afirma.

Saiba mais A IN 62/2011 está em vigor desde janeiro de 2012 e prevê limites cada vez mais apertados para Contagem Bacteriana Total (CBT) e Contagem de Células Somáticas (CCS). Esse controle vem sendo ampliado há dez anos. Até 2017, os índices de CBT e CCS deverão ser de 100 mil/ml e 400 mil/ ml, respectivamente. A IN suprime os Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade dos leites tipos “B” e “C”. Encontre o documento na íntegra buscando por “IN 62 Mapa” na internet.

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José Teixeira / Gazeta do Povo

Campos Gerais

Balde cheio para a indústria Usinas da Castrolanda e da Batavo ampliaram em 50% a recepção de leite nos últimos anos. A partir de 2014, terão condições de esgotar matéria-prima dos Campos Gerais

1925

1954

1998

2000

Imigrantes fundam a Sociedade Cooperativa Hollandesa de Laticínios, atual Batavo. Outros grupos criam a Castrolanda em 1951 e a Capal em 1960.

Batavo e Castrolanda se unem para formar a Cooperativa Central de Laticínios do Paraná (CCLPL), que se populariza com a marca Batavo.

Para garantir investimentos, CCLPL abre capital e ganha sócios italianos. Parmalat assume o controle acionário (51%) e cria a Batávia.

Cooperativas tentam recuperar poder de barganha e passam a vender leite para novos clientes. Surge aí o Pool ABC do Leite.

2006

2007

2008

2009

Seis anos depois de comprar divisão de carnes da Batávia, a Perdigão adquire ações que pertenciam à Parmalat e ganha controle também dos lácteos.

Capal, Batavo e Castrolanda decidem desfazer a CCLPL, que foi vendida na sua totalidade à Perdigão. Cooperativas ficam sem indústrias.

Castrolanda abre Unidade de Beneficiamento de Leite (UBL) em Castro. Três anos depois, a cooperativa Batavo inaugura sua planta em Ponta Grossa.

Perdigão anuncia fusão com a Sadia criando a Brasil Foods. Marca Batavo tem alguns produtos suspensos por quatro anos pelo Cade.

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LUANA GOMES :: Que os Campos Gerais paranaenses

2004 Após a falência da Parmalat na Itália, cooperativas ganham na Justiça o controle acionário da Batávia. CCLPL assume ações da empresa italiana.

2013 Castrolanda e Batavo anunciam investimento de R$ 120 milhões em usina de leite fora do Paraná. Planta de Itapetininga (SP) deve operar em 2014.

abrigam uma das maiores e mais produtivas bacias leiteiras do Brasil todo mundo já sabe. Mas, desde que decidiram voltar às origens e reingressar no setor industrial, as cooperativas holandesas do ABC lançaram uma grande questão sobre o mercado de lácteos: a produção da região é suficiente para abastecer, sozinha, as três indústrias de grande porte instaladas entre Castro e Ponta Grossa? “Claro que sim”, garante Edmilton Lemos. Superintendente de Operações Lácteas da Castrolanda/Batavo, ele é o responsável pelo gerenciamento das duas indústrias instaladas pelas cooperativas. Na comercialização, atuam juntas desde 2011. Cada uma com sua unidade industrial, elas têm capacidade para receber, por dia, 2 milhões de litros de leite. Atualmente, compram 1,2 milhão de litros diariamente, volume já acima do produzido nos 14 municípios da região que o IBGE chama de CentroOriental: 880 mil l/dia (2011). O potencial da região como centro de produção e de comércio de leite vai além disso, apostam as empresas, que devem inaugurar juntas uma terceira indústria em Itapetininga (SP). Lemos explica que a maior parte da matéria-prima, inclusive o leite que vai abastecer a planta paulista, será originada nos Campos Gerais. “Hoje temos 700 mil litros/dia que não são processados nas nossas indústrias e que são vendidos para outros estados in natura”, afirma, levando em conta o volume comprado de cooperativas de outras regiões. “É justamente esse volume que vai alimentar a fábrica paulista na primeira fase do projeto.” Nos Campos Gerais, as indústrias começaram processando 800 mil litros diários – 400 mil na unidade de beneficiamento da Castrolanda, em 2008, e 400 mil na unidade da Batavo (Frísia), em 2011. Isso significa que a recepção foi ampliada em 50% nos últimos anos. Sobra cada vez menos

leite para a BR Foods, que não vem concedendo entrevistas sobre as atividades de sua indústria em Carambeí. A UBL que será inaugurada no primeiro trimestre do ano que vem em Itapetininga (SP) terá capacidade para 2 milhões de litros por dia. Abrirá as portas operando 700 mil litros ao dia e, à medida que for ganhando ritmo, poderá esgotar o leite disponível nos Campos Gerais. “O Paraná é um estado exportador de leite. E nos Campos Gerais não é diferente”, crava Henrique Junqueira, gerente de Leite da Castrolanda e coordenador do Pool ABC do Leite. A região compra e vende estrategicamente. Cerca de 10% do leite cru que é processado nas unidades industriais de Castro e Ponta Grossa são captados em outras regiões. Os cooperados da Castrolanda e da Batavo originam 78% da matéria-prima. O restante – perto de 260 mil litros/dia – vem de outras cinco cooperativas que integram o Pool. Os principais clientes do leite industrializado são de São Paulo e Minas Gerais.

Pool tomou lugar da antiga CCLPL :: Criado no ano 2000, o Pool ABC do Leite resgatou a estratégia de comercialização coletiva da produção dos associados das cooperativas Batavo e Castrolanda. Houve desarticulação depois que as empresas desfizeram a antiga Cooperativa Central de Laticínios do Paraná, que vendeu a marca Batavo para a Perdigão (veja cronologia ao lado). “Foi uma consequência natural do fim da CCLPL. Com o Pool, as duas cooperativas se libertaram da obrigação de vender seu leite todo para a Perdigão”, explica Henrique Junqueira, coordenador do Pool. Hoje o programa envolve também coleta, transporte, controle de qualidade e planejamento da produção. (LG) GAZETA DO POVO

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Novos negócios

Moinho será destino único para o trigo das cooperativas Capal, Castrolanda e Batavo, que vai gerir a empresa.

Cooperativismo elevado ao quadrado Antonio Costa / Gazeta do Povo

Indústrias implantadas em parceria lançam onda de intercooperação. Arranjos são considerados uma necessidade

CARLOS GUIMARÃES FILHO :: O ditado “a união faz a força” tem sido palavra de ordem não só internamente, mas também entre as cooperativas do Paraná. Elas apostam em um modelo de gestão integrada das indústrias. Diferente do sistema de cooperativas centrais, que ganhou atenção nos anos 90, o arranjo centra-se na própria experiência de mercado e nos interesses em comum. A intercooperação, como é chamado o modelo, surge da união de duas ou mais empresas em torno de um mesmo negócio, geralmente que agrega valor à produção dos associados. Posteriormente, uma das cooperativas, a mais tradicional no setor, assume o posto de liderança e fica responsável pela gestão da indústria. Porém, as demais sócias participam do conselho, garantindo poder de decisão. “A cooperativa que sozinha tentar

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conquistar mercado irá encontrar dificuldades. É preciso aproveitar as experiências para integrar novas formas formas de ação”, afirma o superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken. Cooperativas dos Campos Gerais têm demonstrado sucesso no novo modelo. Batavo, de Carambeí, Castrolanda, de Castro, e Capal, de Arapoti, estão envolvidas na construção de duas indústrias; um frigorífico de suínos e um moinho de trigo, ambos com inauguração prevista para fevereiro de 2014. No primeiro, a administração será da Castrolanda. A cooperativa Batavo assume o posto de gestora do moinho. Além da proximidade geográfica e da descendência holandesa, a necessidade de garantir matéria-prima contribuiu para a reunião das empresas. “A produção de cada uma seria insuficiente para abastecer a indústria. Mais que uma tendência,

AGRONegócio – especial Agroleite Agosto de 2013

essa união é uma necessidade se as cooperativas querem sair das mãos dos intermediários”, explica Marco Rumen, gerente financeiro da Capal. A cooperativa negocia para ingressar como sócia na Unidade de Beneficiamento de Leite (UBL) que Castrolanda e Batavo estão construindo em Itapetininga (SP). No Norte do estado, Cocamar e Coamo também utilizam o modelo de intercooperação. O parque industrial da cooperativa de Ma ringá esmaga soja, envasa óleo vegetal e embala café com a marca da co-irmã de Campo Mourão. Do outro lado, a Coamo fornece lotes de sementes de soja e cede o terminal portuário em Paranaguá, no litoral do estado, para a exportação de farelo de soja da Cocamar. “O sistema permite que empresas com o mesmo interesse se unam. Nós teremos muita intercooperação nos próximos anos”, fomenta Ricken.


Padronização

Feijão sem sustos Grãos passam por 12 processos de beneficiamento em nova unidade de negócio da Castrolanda. Classificação e poder de barganha prometem elevar em até 20% a renda do produtor

CARLOS GUIMARÃES FILHO naense se prepara para iniciar o plantio de uma nova safra, os preços do feijão apontam para cima e prometem estimular o plantio das águas depois de três anos de redução na área de cultivo. A saca de 60 quilos do carioca passou de R$ 150 e a do preto rondava os R$ 140 na última semana no estado – uma valorização de cerca de 40% na comparação com as médias registradas na abertura do ciclo das águas do ano passado. Mas o produtor sabe muito bem que essa valorização é sazonal e que preços bons agora são garantia de remuneração na hora da colheita. Num mercado em que oscilações extremas nas cotações são comuns, é preciso buscar equilíbrio. Foi pensando nisso que os produtores dos Campos Gerais – um dos principais polos de produção de feijão do estado– resolveram eliminar os atravessadores e investir em uma estrutura de beneficiamento própria. “Agora é possível fechar o ciclo, do campo à indústria. O mercado é uma guerra e, assim, a produção tem destino garantido”, diz o agricultor Alexander Augustus Mittelstedt, que produz o grão em 230 hectares na sua propriedade em Ponta Grossa. “Além da tranquilidade na entrega, o produtor está recebendo entre 10% a 20% a mais pelo

Divulgação/Castrolanda

:: No mês em que o produtor para-

Recém inaugurada, planta deverá ter tamanho quatro vezes maior.

feijão”, complementa Everson Lugarezi, gerente de Negócios Feijão da Castrolanda. Com capacidade para receber 120 toneladas por hora, Unidade de Beneficiamento de Feijão (UBF) da Castrolanda, inaugurada em novembro do ano passado, recebe apenas um quarto da produção total dos associados da cooperativa, que chega a 60 mil toneladas anuais. Neste primeiro momento, a maior parte das 15 mil toneladas/ano beneficiadas na UBF é vendida a granel para terceiros. Pouco menos de um terço dos grãos são empacotados e distribuídos em embalagens de um quilo com marca própria. A meta é, futuramente, beneficiar, empacotar e comercializar todo o volume produzido pelos cooperados. “A unidade foi construída para expansão. Há terreno para isso”, explica Lugarezi.

Ciclo completo :: A Unidade de Beneficiamento de Feijão (UBF) da Castrolanda promete atenuar as variações de preços do produto aos associados da cooperativa. O grão, antes entregue para atravessadores, agora ocupa os armazéns da cooperativa antes de passar por limpeza, secagem, seleção e empacotamento, num total de 12 processos. Na primeira fase do projeto, 30% dos grãos beneficiados na unidade empacotados e distribuídos com a marca Feijão Tropeiro em supermercados da região dos Campos Gerais, Curitiba, Região Metropolitana da capital e no litoral do estado. O plano de negócio prevê, no curto prazo, atingir todas as praças do Paraná e chegar aos mercados dos outros estados do Sul e, numa terceira etapa, Sudeste. (CGF) GAZETA DO POVO

AGRONegócio – especial Agroleite 19


Valor da produção

Castro na dianteira Município dos Campos Gerais ultrapassou Toledo na arrecadação agropecuária em 2012, mostram dados preliminares. No Oeste, situação é considerada provisória

CASSIANO RIBEIRO :: A fartura de soja e leite tende a colocar os Campos Gerais na dianteira entre as regiões do Paraná que mais arrecadam com a agropecuária. A região tem 10,4% do Valor Bruto da Produção (VBP) do setor referente a 2012 no estado, avaliado em R$ 54 bilhões. O índice mede a receita “dentro da porteira” – sem considerar elos do agronegócio como o transporte ou a indústria. Castro é o município chave para a conquista desse status. Com um VBP de R$ 1,13 bilhão, a cidade está tirando Toledo da liderança mantida até 2011. O município do Oeste acumulou um VBP de R$ 1,09 bilhão em 2012, conforme os dados atualizados em julho. O levantamento da Secretaria EstadualdaAgriculturaedoAbastecimento (Seab) será fechado neste mês e reflete os resultados do campo na safra 2011/12. Os números atuais devem sofrer ajustes, mas a liderança de Castro e dos Campos Gerais é dada como certa pelos técnicos.

Reinado efêmero Para Paulo Oliva, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) em Toledo, o reinado de Castro deve durar pouco. Com a retomada da produção de soja do município e a expansão das cadeias das carnes de frango e suíno, a praça do Oeste deve voltar a liderar o próximo VBP, que

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vai contabilizar o desempenho do ciclo 2012/13. “Tivemos duas safras cheias neste ano [verão e inverno]”, afirma. Ele lembra ainda que a diferença da renda de 2012 do Oeste e dos Campos Gerais é pequena. “Considerando o tamanho do prejuízo que a região Oeste teve, deveria ser até maior.” A região do entorno de Toledo e Cascavel já recuperou renda na soja em 2012/13. Na safra anterior, a produtividade tinha caído 56% – de 3,3 mil para 1,36 mil quilos hectare. Na colheita do início deste ano, porém, a média chegou a 3,6 mil quilos por hectare, conforme os dados oficiais. O VBP depende da consolidação dos valores que os produtores conseguiram arrecadar com a produção. Já Castro, na zona agrícola oriental do estado, arrecadou mais graças aos rendimentos das lavouras da oleaginosa e também à produção de leite, afirma Rosiane Dorneles, engenheira do Deral responsável pela compilação dos dados de VBP. Os dois produtos respondem por 39% do indicador – soja com 21% e leite bovino com 18% do índice. Com clima mais regular e sem espaço para expansão de lavouras e pastagens, os Campos Gerais apresentam menos oscilações no VBP do que o Oeste. Seguem ampliando sua renda gradualmente, pela valorização dos grãos e dos produtos da pecuária. Castro é líder nacional da produção de leite.

AGRONegócio – especial Agroleite Agosto de 2013

LIDERANÇA DISPUTADA Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) em Castro caminha para ultrapassar pela primeira vez os resultados de Toledo. Em R$ bilhões

0,97

Castro

0,96

Toledo

0,86

Cascavel

0,89 0,82

0,33 0,26 2010

1,13

1,12

1,09

0,88

0,39

Ponta Grossa 2011

2012*

* Preliminar até julho de 2013. Fonte: Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) Infografia: Gazeta do Povo.


Grãos

Soja de assustar o gado Com margem de 45%, oleaginosa garante seu espaço no reduto do leite. Terra a R$ 60 mil por hectare, no entanto, torna o lucro relativo

CASSIANO RIBEIRO legiada, custos operacionais competitivos e clima favorável às lavouras, a região que detém os mais elevados índices de produção de leite do país é também a casa de campeões de produtividade de soja. Arapoti e Castro alcançaram recordes nas duas últimas safras, conforme o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). O volume por hectare da oleaginosa nos Campos Gerais foi o segundo maior do Paraná em 2012/13, atrás do registrado no Oeste, conforme a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab): numa diferença de 3,4 mil para 3,5 mil quilos por hectare. No entanto, com preços 5% acima dos recebidos na região de Cascavel – pela proximidade de 200 quilômetros do Porto de Paranaguá –, os agricultores campesinos superam os demais em renda bruta. Não à toa, preferem deixar o gado em confinamentos e semiconfinamentos. Ponta Grossa é o município que mais contribui para os resultados médios elevados, com produtividade de 3,6 mil quilos por hectare. A receita por hectare passa de R$ 3,6 mil para quem alcança R$ 60 por saca, com margem de 45% sobre os custos operacionais, mostram os dados técnicos do setor. É assim que a oleaginosa tem espaço garantido também em campos onde o milho rende até 10 mil quilos por hectare, com marcas comparadas

Josué Teixeira/Gazeta do Povo

:: Com logística de escoamento privi-

Plantio direto e rotação de culturas determinam resultados no longo prazo, diz Bouwman.

às médias recordes dos Estados Unidos. “Normalmente, os solos dos Campos Gerais são ácidos e pobres, mas dado o trabalho que essas terras receberam ao longo de anos de agricultura, e com o Plantio Direto na Palha (PDP), ficaram muito férteis. A matéria orgânica que fica no solo não é consumida rapidamente”, explica o chefe de Trans ferência de Tecnologia da Embrapa Soja, Amélio Dall´agnol. O produtor Willem Bouwman, de Castro, alcançou 60 sacas de soja e 177 sacas de milho por hectare com clima normal. “É resultado dos investimentos no campo. O plantio direto e as tecnologias associadas são essenciais. Se não fosse o sistema, não sei se seria possível praticar agricultura nesta região hoje.” “Em termos de custos, logística e rentabilidade, trata-se de uma das

regiões mais privilegiadas do país, se não for a mais privilegiada”, aponta o analista de mercado da FC Stone, Étore Baroni. De acordo com ele, os Campos Gerais têm tudo o que um produtor rural sonha. A sobrevalorização de terras dificulta a entrada de novos investidores. “Uma área que vale R$ 60 mil o hectare não vai se pagar nunca. E quem tem não vende”, diz Baroni. Com lucro de R$ 1,6 mil por hectare, são necessários 38 anos para pagar a terra. Em Mato Grosso, por exemplo, é possível comprar um hectare por um terço do valor pago no Paraná. A margem das praças do Centro-Oeste, porém, é menor, de 26%, considerando preço médio de R$ 56 por saca e custo de R$ 2,06 mil por hectare. Com esses índices, a terra se paga em 25 anos. GAZETA DO POVO

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Novos mercados

Terra da ordenha investe na carne Agricultura e pecuária leiteira dividem espaço com criação de bois angus, purunã, cordeiros e suínos. Clima temperado agrada raças de carnes especiais

PALMEIRA

IGOR CASTANHO mam um complexo de produção de carnes cada vez mais estruturado nos Campos Gerais, a terra da vaca holandesa. Sem espaço para aventuras, devido ao preço elevado dos imóveis – três vezes mais caros do que as pastagens do Cerrado –, a região investe na produção intensiva e em carnes especiais. Programas como o Grupo Araucária, que produz bovinos angus e oferta até 1 mil bezerros num único leilão, e o Cordeiro Castrolanda, que fomenta o abate de 7 mil ovinos ao ano, organizam os pecuaristas e sondam o potencial do mercado. A suinocultura, mais tradicional, espera mais estabilidade com a instalação de um novo frigorífico na região. A intenção é vender também genética. A primeira raça bovina genuinamente paranaense foi criada em Ponta Grossa e dá lastro às apostas na pecuária de corte. O boi Purunã – resultado de pesquisas iniciadas nos anos 1980 pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – manifesta precocidade na reprodução e no abate, somando características das raças charolês, caracu, angus e canchin. A certificação dos criadores, autorizada pelo Ministério da Agricultura, deve expandir o mercado de bezerros, matrizes, touros e sêmen.

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Jonathan Campos / Gazeta do Povo

:: Bois de corte, ovelhas e suínos for-

Criação de angus se expande na região de Palmeira para atender mercado mais exigente.

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Refresco para raça trazida da neve Palmeira é vendida em restaurantes de Curitiba que prometem qualidade comparada à dos filés bovinos de primeira oferecidos na Argentina, nos Estados Unidos e na Europa. De pelagem escura (preta e vermelha), os bois descendem de animais acostumados à neve da Escócia. Considerando o calor que predomina na maior parte do Brasil, o clima fresco dos Campos Gerais é o principal aliado dos pecuaristas que apostam na raça, avalia o veterinário Fábio Mezzadri, da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Além da questão da adaptação dos animais, “é possível ter pastagens com alto teor de proteína o ano inteiro, o que favorece a engorda do rebanho”, acrescenta. Atualmente, 12 pecuaristas integram o Grupo Araucária, que desde 2009 promove leilões e investe no melhoramento genético para elevar a qualidade do angus. Julia Mendes, presidente do grupo, conta que devido à força da agricultura, sobra pouco espaço para o rebanho. Com 5 mil matrizes, são negociados anualmente 1 mil terneiros. Não basta a promessa de carne macia. “É preciso agregar valor via qualidade para a atividade ser rentável”, afirma Julia. Vacinas complementares, certificação dos animais e foco no meio ambiente são as estratégias para atrair produtores e consumidores. (IC)

Fotos: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

:: A carne da raça angus produzida em

Desafio dos criadores é aumentar o número de filhotes por parto das ovelhas.

Criação de ovinos se consolida como atividade extra :: O agricultor Willem van de Riet investe há oito anos na ovinocultura. As 300 matrizes ocupam 8 dos 75 hectares da propriedade e a criação é feita de forma integrada com o plantio de soja, milho e trigo. Ele destaca que a manutenção do rebanho é simples, e gera um resultado positivo. “O produto é muito bem aceito. Se fosse produzido o dobro, venderia do mesmo jeito”, conta. O programa Cordeiro Castrolanda opera com 7 mil matrizes, capazes de garantir 7 mil abates ao ano. Mesmo com ganhos garantidos, a busca por qualidade fez com que

Van de Riet reorganizasse as atividades neste ano. Ao invés de destinar os animais para o abate, a propriedade foi convertida em um centro de melhoramento genético, mantido por um grupo de pecuaristas da região. O objetivo é elevar para 1,5 a média de cordeiros por parto – hoje o índice é de 1,2 animais. “Queremos ir além da renda normal”, aponta. Tarcisio Bartmeyer, coordenador do setor de ovinos na Castrolanda, explica que, assim como no leite, o investimento visa à obtenção de um diferencial de qualidade. “O melhoramento genético tem o objetivo de dar mais padrão ao rebanho, uniformidade aos cortes e equilíbrio na concentração de gordura”. Ele detalha que os principais compradores de carne são restaurantes de luxo, a maioria de Curitiba. (IC)

SUINOCULTURA

Promessa de estabilidade A criação de suínos é tradicional nos Campos Gerais, mas está sujeita aos altos e baixos do mercado. Quem entrou na atividade na década de 1970 e atravessou dezena de crises está na expectativa de que

o frigorífico anunciado pelas cooperativas da região traga estabilidade. Roelof Rabbers, que trocou o gado leiteiro por matrizes suínas há cerca de quatro décadas, afirma que, associada à agricultura, a pecuária se sustenta. Ele cultiva 700 hectares em Castro. Como vantagem, ele cita o manejo mais tranquilo, na comparação com a rotina das leiterias. (IC)

Cotação de R$ 2,6/kg só cobre custo.

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AGRONegócio – especial Agroleite 23


Logística Caminhão sai da estrada de chão ao chegar na BR-376, em direção a Tibagi. Trecho virou a porta dos fundos do município de Ipiranga.

Lapso no asfalto Na região cortada pela mais complexa rede de rodovias e ferrovias do Paraná, o último trecho de terra da BR-153, a Transbrasiliana, faz 7 décadas de promessas

IGOR CASTANHO :: Para os moradores da cidade de Ipiranga, nos Campos Gerais, a Transbrasiliana (BR-153) não passa de um risco no mapa. A rodovia, construída desde os anos 1940, tem 3,5 mil quilômetros de extensão e corta oito estados, mas ainda guarda um trecho não implementado no interior do Paraná. E justamente na região que é apontada como a mais bem servida em logística no estado, com armazéns de sobra a 200 quilômetros do Porto de Paranaguá, além da ferrovia e da rodovia duplicada para exportação de grãos. A obra entra na pauta do governo federal frequentemente, mas esbarra na burocracia e na suposta falta de recursos para sair do papel. O assunto, no entanto, ainda é prioridade para os municípios da região, que apostam na nova rota como um caminho para o desenvolvimento local. “Ipiranga virou uma cidade fim”, reclama o prefeito Roger Selski. Atualmente a PR-487 é a única ligação

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asfaltada do município – com a BR-373. Ele acredita que a construção da Transbrasiliana – que ligaria o município à Rodovia do Café (BR-376) e a Imbituva – vai aumentar o movimento na região por servir de ponte para indústrias, comércio e turismo. “É a chance da cidade explodir”, prevê. Angela Mercer, prefeita de Tibagi e presidente da Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG), explica que a construção é uma demanda antiga, que vai favorecer principalmente a agricultura. “A região precisa dessa rodovia, que vai ajudar na locomoção e no escoamento da safra”, afirma. OprojetooriginaldaTransbrasiliana prevê uma ligação entre a BR-376, no distrito de Alto do Amparo (município de Tibagi) e a cidade de Imbituva (veja no gráfico). Hoje o trajeto pode ser feito por uma via municipal, que ainda não foi asfaltada. Esse trecho não deve ser o mesmo a ser percorrido pela rodovia federal, explica Rejane Karam da Secretaria de Estado de Infraestrutura

AGRONegócio – especial Agroleite Agosto de 2013

e Logística (Seil). “Com a elaboração do projeto executivo seria possível avaliar se alguns trechos municipais serão aproveitados, mas em teoria uma nova estrada precisa ser implantada”, aponta. A construção está prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o início das obras depende da aprovação do governo federal, que ainda não promoveu a licitação. A chamada pública foi realizada em 2010 e previa um “Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica e Ambiental e um Projeto de Engenharia para Implantação e Pavimentação da Rodovia”. Sob a alegação de que a proposta restringia o número de empresas aptas a participarem do certame, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) suspendeu o edital. “Voltamos à estaca zero”, sintetiza Karam. Ela destaca que a greve dos servidores do DNIT tem dificultado as negociações. Em virtude da paralisação, o órgão não se pronunciou sobre a questão.


Em Tibagi, obra pôs fim a atoleiros :: O pleito de políticos e moradores da região de Tibagi já virou realidade em outro trecho da BR-153. O trajeto de 82 quilômetros entre Ventania e o distrito de Alto do Amparo foi pavimentado em 2011, após um longo período de espera. “Nosso município é essencialmente agrícola e essa obra melhorou toda a questão de ligação na região”, destaca Angela Mercer, prefeita de Tibagi e presidente da Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG). Morando há 30 anos na cidade, o agricultor Ivo Arnt Filho confirma a transformação. Parte do deslocamento até a fazenda é feito na rodovia e ele lembra que o trajeto era turbulento. “Quando chovia era comum ficar pelo caminho”, relata. Café, bolacha e cobertor eram mantidos no carro por precaução. Sócio de um hotel na cidade, Arnt relata que o fluxo de turistas também aumentou na região. Apesar do benefício, ele salienta a importância da construção do trecho até Ipiranga. “Isso vai triplicar o movimento”, aponta. (IC)

DE NORTE A SUL A BR-153, também conhecida como rodovia Transbrasiliana, corta oito estados e tem 3,5 mil quilômetros de extensão, mas ainda não foi totalmente pavimentada.

Telêmaco Borba

Alto do Amparo

PI

TO BA

MT GO MS

BR-153 Fazenda Fortaleza

PR-340 BR-376

MA

Marabá

Ventania

PR-160

Trecho asfaltado

PA

SP

Tibagi

MG

RJ

PR

Pinheiro Seco

BR-153

SC

PR-340

RS BR-376

Aceguá

Trecho sem asfalto Ipiranga

PR-151 BR-373

Imbituva 10 km

Ponta Grossa PR-438 PR-151

400 km

Fonte: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e Ministério dos Transportes. Infografia: Gazeta do Povo.

Fotos: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Último trecho asfaltado, de Tibagi até a Rodovia do Café, abriu rota alternativa para Ponta Grossa.

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Imigrantes

Uma “Torre de Babel” que deu certo Crescimento da produção agropecuária se intensificou após abertura das cooperativas a outras etnias e cidades fora do eixo dos descendentes dos imigrantes europeus

PONTA GROSSA

MARIA GIZELE DA SILVA, DA SUCURSAL :: Com as técnicas de produção e o sistema cooperativista na bagagem, os imigrantes holandeses e russos-alemães que desembarcaram na região dos Campos Gerais na primeira metade do século 20 desenharam um novo cenário para a agropecuária do Paraná. Com o passar do tempo, as cooperativas, inicialmente formadas por núcleos familiares vindos da Europa, se abriram para brasileiros e outras etnias. A mistura de idiomas, que na narrativa bíblica da Torre da Babel teve consequências negativas, favoreceu o progresso das empresas. Nas três cooperativas de base holandesa – Castrolanda, Batavo e Capal – menos da metade dos associados tem ascendência europeia, enquanto que na cooperativa Witmarsum, fundada por russos-

-alemães, praticamente 50% dos associados pertencem à etnia. Todas elas ainda são presididas por representantes das linhagens dos pioneiros, mas a abertura fez crescer não apenas o número de associados como também a produção agropecuária da região. Sem a contribuição dos ‘forasteiros’, as cooperativas não teriam metade do tamanho que têm hoje. Os holandeses se estabeleceram na região dos Campos Gerais em 1911, atraídos pelo plano de colonização da Brazil Railway Company, uma empresa ferroviária que vendia terrenos aos imigrantes em troca da fixação deles nos municípios cortados pela linha férrea e da promessa de produção agropecuária. Em 1925, os imigrantes formaram a primeira cooperativa, que a partir da década de 30 já recebia outras etnias. Hoje, apenas 35% dos 720 associados da Batavo têm descendência holandesa.

Na Castrolanda, fundada em 1951, depois que as primeiras famílias holandesas se estabeleceram em Castro, essa proporção é ainda menor. Dos 760 associados do quadro atual, 36 são holandeses e os demais são descendentes de holandeses, alemães, poloneses e japoneses. A última leva de imigrantes holandeses se instalou no município de Arapoti, há 53 anos e fundou, em 1960, a cooperativa Capal. Seis anos depois, já havia cinco associados brasileiros, porém, somente em 1973 a língua holandesa deixou de ser usada nas reuniões para dar lugar ao português. Hoje, dos 1,4 mil associados, 250 são descendentes de holandeses. Conforme o superintendente Adilson Roberto Fuga, a abertura de filiais e entrepostos em outras cidades, como Itararé (SP) em 1976, favoreceu a integração com outras etnias.

Da esquerda para a direita: (1) primeiro grupo de imigrantes holandeses; (2) desembarque de gado em Santos; (3) navio Provence com as primeiras famílias; (4) visita ao posto fomento; (5) moinho da Cooperativa Central de Laticínios do Paraná; (6) gado holandês.

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Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Memórias organizadas por Jantje de Jager Kassies e Jantje Borg Morsink ganharam uma sala no Memorial da Imigração Holandesa.

Primas organizam acervo em Castro :: Despedir-se dos parentes sem a certeza de revê-los, viajar durante três semanas de navio para atravessar o oceano e desembarcar numa terra nunca antes vista. Assim era a situação dos primeiros imigrantes holandeses que vieram para o Paraná. Parte dessas memórias é recuperada por meio de fotografias, cartas e documentos que são reunidos no acervo montado pelas primas Jantje de Jager Kassies e Jantje Borg Morsink, que chegaram ainda crianças em Castro. O acervo começou a ser organizado em 2011 e ganhou uma pequena sala no Memorial da Imigração Holandesa, no município. Há imagens de imigrantes que desembarcaram no Rio de Janeiro em 1951 e da construção dos primeiros

barracões da Castrolanda. Além dos filhos e das malas com roupas e mantimentos, os primeiros holandeses traziam exemplares de gado holandês, tratores e sementes no navio. A ordenha era diária dentro do navio. Chegando ao Paraná, eles iniciaram a criação e o plantio. “Já existia a preocupação de aumentar a produção de leite e então o governo holandês trouxe um agrônomo para o Brasil para ajudar os colonos a produzir as melhores sementes de ração para os animais”, lembra Jantje Kassies. As primas, que chegaram ao Brasil em navios diferentes, ainda se lembram das estradas empoeiradas entre a estação de Castro e a colônia e das bananeiras plantadas à beira da estrada de ferro entre Paranaguá e Castro. “Os meninos ficavam na beira da janela do trem e pegavam os cachos de banana. Eles riam porque nunca tinha visto”, lembra Jantje Morsink.

Witmarsum começa a abrir portas :: O mesmo processo de expansão começa a ocorrer na cooperativa Witmarsum, fundada em 1952 por russos-alemães que se instalaram originalmente em Santa Catarina e compraram uma antiga fazenda em Palmeira para formar a colônia. O presidente da cooperativa, Ewald Warkentin, lembra que, dos 322 associados, 170 são produtores em atividade e, destes, pelo menos a metade é formada por alemães. “Os produtores não são somente de Witmarsum, são de Palmeira, Ponta Grossa e Porto Amazonas”, explica. A colônia é formada por 1,2 mil descendentes e hoje já é possível a outras etnias adquirir terrenos dentro dos limites da colônia. (MGS)

Fotos: acervo Memorial da Imigração Holandesa

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Turismo renovado

A Holanda feita em casa Região dos imigrantes holandeses transforma cultura em negócio. Visitantes ganham cada vez mais atrações, de café com torta a passeio de triciclo

PONTA GROSSA

MARIA GIZELE DA SILVA, DA SUCURSAL Holanda sem sair do Paraná deve passear nos Campos Gerais. A decoração das casas, as construções rodeadas por gramados e sem muros reproduzem traços dos Países Baixos. O turismo à holandesa encontra um público ávido por cultura pelo sossego do campo. Há quatro anos, a família Strijker decidiu transformar a antiga casa em uma pousada. Localizada há 100 metros do Memorial da Cultura Holandesa, a pousada fica no centro da colônia Castrolanda e leva o nome de Oosterhuis, em referência ao vilarejo de onde partiram os patriarcas Albert e Johanna Strijker em 1953 para o Brasil. As 10 suítes são decoradas com tons alaranjados (a cor típica da Holanda), as cortinas são de renda e os lençóis têm babados. De alguns quartos, é possível avistar o moinho construído no memorial e que é símbolo da imigração. Para o desjejum são servidos torta holandesa, panquecas e bolachas. Os hóspedes podem ainda fazer passeios de triciclos pela colônia. A gerente e sócia da pousada, Willemien Strijker, conta que a família mantém as atividades agropecuárias. A pousada, que veio para agregar valor à propriedade, pode ser ampliada. “Queremos investir ainda mais, abrir mais suítes e fazer um lago artificial”, conta Willemien,

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Fotos: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

:: Quem quer conhecer um pouco da

Com receitas de torta da memória familiar, Frederica coleciona clientes em cafeteria.

que também é turismóloga. A gastronomia é outro atrativo na região. A cafeteria de Frederica Boot Dykstra, em Carambeí, atrai pessoas de fora que vão em busca das 40 variedades de tortas doces, dos empadões e dos quiches. A proprietária da cafeteria, Frederica, que é filha de imigrantes holandeses, entrou no ramo por acaso. “Eu trabalhei por cinco anos no Parque Histórico de Carambeí e me pediram que eu fizesse tortas holandesas para vender. Eu respondi que não era muito de tortas, mas acabei fazendo com base na experiência das que eu fazia em casa”, lembra. A alta procura sustenta plano de expansão do negócio em 2014.

AGRONegócio – especial Agroleite Agosto de 2013

ROTEIRO Visitantes podem traçar passeios com orientação da cooperativa de turismo Cooptur, de Carambeí: (42) 3231-2241.

Pouso e comida Entre as opções de hospedagem está a pousada Oosterhuis, na colônia Castrolanda, em Castro. A casa aceita reservas pelo telefone (42) 3234-1566. A comida dos holandeses pode ser apreciada no Frederica’s Koffie Huis e no restaurante Taman Batoe, ambos em Carambeí.


DE OLHO NA COPA

Em Witmarsum, colônia estrutura atrações

Hospedagem ao lado da Castrolanda.

Cooperativas viram atração com roteiro técnico Pousada permite que “fazendeiro por um dia” tire leite de vaca ao amanhecer.

:: Um roteiro técnico com passagem pelas regiões de abrangência das cooperativas Castrolanda e Batavo está entre os passeios mais procurados pelos turistas que chegam às colônias holandesas dos Campos Gerais, conta a turismóloga Débora Rickli, da Cooperativa Paranaense de Turismo (Cooptur). O organização foi criada em 2004 para promover o potencial turístico da cultura dos imigrantes na região. Podem ser agendadas visitas para grupos de mais de 20 pessoas, que assistem a palestras sobre cooperativismo e percorrem propriedades rurais. Além disso, pontos turísticos como o Parque Histórico de Carambeí oferecem uma imersão no passado, com peças que demonstram como era a agropecuária um século atrás. Quem passeia pelo local caminha entre casas e estábulos de uma réplica da vila construída pelos holandeses, que dão mais sentido às atrações espalhadas pela região. (MGS)

Comida indonésia conta história dos imigrantes :: No reduto dos holandeses, em Carambeí, um sobrado construído sobre arenitos esconde um restaurante de culinária indonésia que é aberto a grupos de pelo menos 20 pessoas. Com o nome de Taman Batoe –

Iniciado em 2008, um projeto do Sebrae tenta consolidar a imagem da colônia Witmarsum, em Palmeira, nos Campos Gerais, como ponto turístico da cultura alemã. A meta é inserir Witmarsum na rota turística da Copa do Mundo de 2014. A colônia foi formada em 1951 por imigrantes alemães menonitas, que baseiam as relações sociais em fundamentos da Bíblia e do trabalho cooperativo. Formado por casas rodeadas por jardins e gramados, o núcleo da colônia dispõe da sede da cooperativa Witmarsum. A empresa tem 322 associados dedicados principalmente à lavoura e à pecuária leiteira. O vilarejo tem um trunfo aos turistas: as pousadas e os cafés coloniais com produtos feitos pelos colonos. Um dos estabelecimentos é a Pousada Campos Gerais, aberta há oito anos. Quem se hospeda numa das quatro suítes, serve-se do café da manhã com o atselstrudel (folhado de maçã) e o zwieback (pão de leite), além de poder participar do pacote “fazendeiro por um dia” no qual tira leite da vaca ao amanhecer, aprende a fazer pão caseiro e visita uma ordenha mecanizada. “Estamos tentando resgatar a arquitetura da pousada para reforçar o estilo alemão”, acrescenta a proprietária, Evelin Daiane Janzen Hamm. “Muitos pensavam que a colônia era fechada, mas não, estamos mostrando que ela está de portas abertas para os turistas”, comenta a gestora de projetos do Sebrae, Nadia Terumi Joboji. SERVIÇO A Pousada Campos Gerais faz reservas pelo e-mail contato@pousadacamposgerais.com.br.

Jardim das Pedras em português –, o estabelecimento serve “mesa de arroz”, o prato típico chamado de rijsttafel na Indonésia, e revela um pedaço da história dos holandeses. Os principais ingredientes vêm do quintal do sobrado de Willemke Struiving de Geus – filha de pai holandês e mãe indonésia que todos chamam de Panoka. Ao lado do marido Gilberto, ela explica que o país ao sul da Ásia foi colonizado pela

Holanda por quase 350 anos. Após a 2.ª Guerra Mundial, os holandeses foram expulsos de seu país e muitos emigraram para o Brasil. Entre eles, os pais de Panoka (1959). Orquídeas cultivadas pelo casal também atraem os visitantes. Eles mantêm mais de 2,5 mil tipos de orquídeas, além de centenas de cactos e plantas carnívoras. Para quem quer apreciar as plantas, o almoço, à luz do dia, é melhor que o jantar. (MGS) GAZETA DO POVO

AGRONegócio – especial Agroleite 29


Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Tecnologia

Plantio direto repensado

Cultivo sobre palhada evolui, mas preserva fundamentos, aponta Nonô Pereira.

Escolha de culturas e de defensivos pode potencializar benefícios do sistema que usa a palhada como tapete

CASSIANO RIBEIRO :: Quatro décadas depois de ter sido desvendado nos Campos Gerais, o Plantio Direto na Palha (PDP) entra numa nova fase. Se no passado as metas eram fazer evitar erosões e agilizar o plantio, hoje o PDP engloba um conjunto de práticas que o torna muito mais complexo e o consagra como tecnologia. Além da escolha das variedades de sementes, defensivos e maquinários, é preciso saber quais as culturas mais adequadas para rotação. Em cada decisão, torna-se possível potencializar o próprio sistema. O domínio dessa complexidade vem sendo apontado como o grande desafio atual. O surgimento de pragas inesperadas nas últimas safras faz a pesquisa rever a maneira como é feita a rotação e a escolha dos produtos que entram no sistema. “É preciso pensar não somente na sucessão, mas em como evitar que uma cultura preju-

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dique a outra. Quem só planta soja e trigo ou soja e milho acaba danificando o plantio direto”, ressalta o chefe de transferência de tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Amélio Dall´Agnol. Mas, convencer um agricultor a mudar o planejamento das lavouras nem sempre é fácil, diz a professora de Agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Marluce Gonçalves Cortez. Ela trabalha com o controle de plantas invasoras, defesa fitossanitária e uso de herbicidas dentro do PDP. “O produtor aposta no que está rendendo lucro pra ele. Quando encontramos focos de problemas, a primeira orientação é para modificar a cultura, rotacionar com produtos diferentes.” A consequência da repetição, afirma Marluce, é o esgotamento da terra. “Uma cultura retira do solo todo ano o que ela precisa, e isso precisa ser reposto. Caso contrário, aparece-

AGRONegócio – especial Agroleite Agosto de 2013

“O plantio direto é a tecnologia que mais revolucionou o agronegócio brasileiro. Traz benefícios ambientais, com menos erosão e gás carbônico, e permite antecipar o cultivo após a colheita. Agora é possível avançar nesse sistema.” Amélio Dall´agnol, chefe de transferência de tecnologia da Embrapa Soja.

rão deficiências, como pragas inesperadas e de difícil controle.” As regiões de clima quente e seco, que dispõem de menos palha, também desafiam a pesquisa. “O fundamento do PDP é ter palhada. Se não tiver cobertura de um resíduo de cultura anterior, pode ser feita uma cobertura plantada. Esse é o insumo básico do plantio direto, além plano de rotação de culturas”, diz um dos pais do PDP, Manoel Henrique “Nonô” Pereira.


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