Artigo Vencedor "II Conferência Consciência e Liberdade"

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DA LIBERDADE RELIGIOSA À URGÊNCIA DO DIÁLOGO A EXPERIÊNCIA CONTEMPORÂNEA O desafio das religiões num quotidiano plural Alguns acontecimentos só ganham relevância com ampliação mediática. Há também quem aproveite a lógica da comunicação global para dar a determinado acontecimento a relevância que, na realidade, não tem. Foram os casos das “caricaturas” de Maomé – As faces de Maomé – publicadas a 30 de Setembro de 2005 no Jyllands-Posten, jornal de maior tiragem na Dinamarca e replicadas por outras publicações, ou de um excerto do discurso do papa Bento XVI na Universidade de Ratisbona, um ano depois (1). Os muçulmanos na Europa estão “entre a espada e a parede”, ou seja, entre um indisfarçado preconceito nas ruas e o radicalismo contagioso que persiste nas comunidades. Por um lado são pressionados a revelar lealdade para com a cultura ocidental, provando que a religião islâmica é pacífica. Por outro, são vítimas da incompreensão e dos estereótipos que alimentam os radicais de uma tradição bélica e hegemónica. O problema tem uma caracterização cultural, com uma “confrontação” entre tradições e comportamentos também de influência religiosa. Multiplicam-se as vozes que sustentam a tese de uma islamização em curso, resultado de uma atitude política passiva por parte da Europa e de um islamismo com projectos de conquista planetária. Ao não o enfrentarem com um debate sério e medidas concretas, os poderes públicos e políticos abrem espaço a medos desnecessários e manipuláveis. Os actores sociais determinam os actores políticos e os totalitarismos só existem politicamente se as sociedades os aceitarem. Não foi por acaso que nasceu no seio das Nações Unidas uma plataforma – Aliança das Civilizações – vocacionada sobretudo para o chamado confronto Ocidente-Islão, com prioridade para o diálogo. Os sinais do fosso são óbvios e os estereótipos, ampliados mediaticamente, dão força aos preconceitos. Os muçulmanos consideram os ocidentais autoritários e sem princípios morais, os ocidentais olham para os muçulmanos como fanáticos e intolerantes. Incidentes de Londres, proibição de construção de minaretes na Suíça, restrições impostas às jovens muçulmanas francesas para o uso do véu – hijab – nas escolas públicas, políticas anti-imigração que abrem o caminho a perseguições religiosas, ou o caso dos atentados em Oslo, em Julho de 2011, perpetrados por alguém


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