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Homenagem a Pierre Lanarès
Homenagem a Pierre Lanarès (1912-2004)
“Entre os elementos essenciais que constituem o fundamento da dignidade humana figura a liberdade religiosa […]. Toda a existência de um homem é condicionada pelas suas convicções filosóficas ou religiosas. Atentar contra esta liberdade de expressão é recusar ao indivíduo o direito a uma existência verdadeira”. Esta reflexão, redigida por Pierre Lanarès no seu editorial da revista Conscience et Liberté na Primavera de 1971, resume bem o seu pensamento, que alimentou as acções da sua vida, bem antes de ter sido eleito Secretário Geral da Associação Internacional para a Defesa da Liberdade Religiosa (AIDLR) em 1966.
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Preparado para entrar na Escola Colonial para seguir o exemplo do pai, antigo administrador das colónias francesas, Pierre Lanarès descobriria, em 1937, a sua vocação pastoral, no decurso dos seus estudos universitários na Faculdade de Direito. Em 1964, a sua tese de doutoramento, “A Liberdade religiosa nas convenções internacionais”, revela, ainda melhor, se fosse necessário, o seu interesse de sempre, pela promoção e a defesa desta liberdade.
Os dezasseis anos durante os quais ocupará a função de Secretário Geral da AIDLR (1966-1982) vê-lo-ão ir ao encontro dos chefes de Estado de vários países da Europa Ocidental, dos papas Paulo VI a João Paulo II, do patriarca ortodoxo Athenágoras e ligar-se com o presidente Léopold Sedar Senghor, que se tornaria, mais tarde, o presidente honorário desta Associação Internacional (1988-2001).
Em 1970, Pierre Lanarès relança a edição da revista Conscience et Liberté na mesma linha redactorial que lhe tinha dado o seu fundador, o Dr. Jean Nussbaum, em 1948. Foi sob a sua direcção, como redactor, que esta revista tomou um novo alento e se tornou numa revista de dimensão internacional. Conservando-se sempre fiel ao pensamento do criador desta publicação, Pierre Lanarés fez dela um verdadeiro instrumento de estudo e informação académicas sobre a liberdade de religião ou de convicção, recebido e utiliza-
do hoje, por numerosos universitários mas suas pesquisas e ensino. É lida no mundo por autoridades políticas, civis e religiosas que fazem saber do seu apreço.
No plano das relações com as organizações internacionais, a Associação muito deve a Pierre Lanarès. Foi ele, efectivamente, que a fez dotar do seu primeiro estatuto de Organização Não Governamental Consultiva (ONG) junto das Nações Unidas em 1978. Abriu uma via importante para o bem da causa que defendia. Seguindo o seu exemplo, os seus sucessores, têm, por sua vez, agido em colaboração com os objectivos da UNESCO e do Conselho da Europa, em Estrasburgo. A AIDLR que obteve em 1985 o estatuto de OING (Organização Internacional não Governamental) junto do Conselho da Europa, foi recebida, em Novembro de 2003, como “Organização Internacional Não Governamental Participativa”, um estatuto totalmente novo justo desta organização europeia que alarga, ainda mais, os seus meios de acção.
Pierre Lanarès descansou no seu 92º aniversário, na noite de 2 de Fevereiro de 2004. Dificilmente se poderão avaliar os frutos de uma vida que se desenrolou sem celebridade, longe dos projectores da actualizada mediatizada, mas cuja influência discreta contribuiu, certamente, para fazer recuar as fronteiras da intolerância e da violência em nome da religião.