Revista Papo Reto - 3ª Edição

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Projetos

Inaugurada no dia 3 de setembro, a República Junto atende 24 usuários em tempo integral. O intuito é proporcionar serviços que ofereçam proteção, apoio e moradia subsidiada a grupos de pessoas entre 18 e 59 anos em estado de abandono, situação de vulnerabilidade e risco pessoal e social, com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados e sem condições de moradia.

Distribuído em espaços escolares e instituições de ensino desde 2009, o livro O Escudeiro da Luz em: Os Zumbis da Pedra é uma ferramenta importante e pertinente na luta contra as drogas. Por meio de uma linguagem simples aborda assuntos delicados de forma natural, provocando a reflexão dos leitores quanto às formas de abordagem e educação necessárias para a conscientização e prevenção ao uso de drogas.

Criada a partir de uma brincadeira em uma cesta de lixo, a Liga Internacional de Basquete de Rua (LIIBRA) é o maior evento de cultura de rua da América Latina. São dez anos de basquete embalado com o break, os MC’s e o hip hop, que compõem o espírito do torneio. Realizada em diversos estados do Brasil, a atração conecta esporte e música, estimulando a criatividade dos jogadores e explorando suas habilidades físicas.

Com o objetivo promover a integração das comunidades por meio do esporte, a CUFA-RS criou o Torneio Bola Comunitária. O projeto consta em um torneio de futebol entre jovens de 15 a 17 anos, todos moradores de comunidades da região metropolitana. A intenção também é de levar debates e serviços para estes locais, garantindo novas oportunidades para os jovens que as integram e dando visibilidade aos talentos esportivos.

Papo Reto |02| novembro


@CufaRS_ Cufa-RS CufaRS Acesse o nosso site:

www.cufars.org.br

03


O que vem por aí

MV Bill

Matéria Especial

O rapper e fundador da CUFA encerrou as atividades do Projeto Papo Reto Porto Alegre com um show no Gasômetro

A equipe da CUFA fez um levantamento que aponta uma grande proximidade entre os jovens e as drogas

Entrevista com o mestre

Perfil

Conheça a história de Rosa Lang, a professora/pintora que está se despedindo das aulas na EMEM Emílio Meyer

Jovem narra as dificuldades para superar as drogas. Ele tem planos de estudar psicologia para ajudar outras pessoas

p.6

p.8

p.11

p.30

Expediente Manoel Soares/Coordenador da CUFA-RS Ivanete Pereira/Coordenadora Institucional Lisandra Félix/Coordenadora do Papo Reto Dinora Rodrigues/Coordenadora Administrativa Mariana Soares/Coordenadora de Comunicação Danilo Santos/Coordenador de Audiovisual Paulo Daniel Santos/Pres. Conselho Estadual CUFA-RS

Papo Reto |04| novembro

Alexandre Bertolazi/Fotografia Airan Albino/Diagramação e Revisão Eduardo Bertuol/Reportagem, Foto e Revisão Igor Grossmann/Reportagem e Foto Bianca Oliveira/Reportagem Carolina Reck/Reportagem


Especial

Multiplicador

por Paulo Daniel Santos Presidente do Conselho Estadual CUFA-RS

Em um primeiro momento, executei oficinas de

também um seminário que dá formação exclusiva para

fotografia nas escolas, e em 2008/2009 participei do

os professores da rede municipal de Porto Alegre.

projeto PPV (Programa de Prevenção a Violência) em 12

Nessa nova roupagem, eu assumi o papel de mestre de

cidades do estado do Rio Grande do Sul.

cerimônia desses seminários juntamente com as oficinas

Em 2010, integrei a equipe de coordenação do

de desenhos em três escolas e as palestras.

projeto Criança Esperança no morro Santa Tereza, onde

Atualmente eu tenho 21 anos, tenho formação de

se encontrava na época a base da CUFA. Esse projeto

Audiovisual pela CUFA-RS, e, na área do desenho,

alcançava jovens da comunidade por meio de aulas de

tenho formação pelo estúdio Dínamo.

teatro e de audiovisual, com o objetivo de gravar um

E como desenhista ilustrei o livro “Escudeiro da Luz

curta-metragem, idealizado pelos jovens e totalmente

em Os Zumbis da Pedra”, que foi escrito pelo Manoel

produzido por eles.

Soares, coordenador da CUFA-RS e jornalista da RBS TV

A partir do ano de 2010, passei a fazer parte da

e Marco Cena, capista e presidente da editora Besouro

equipe de palestrantes da CUFA, juntamente com Manoel

Box. Nos dois últimos anos essa publicação tem sido

Soares e Ivanete Pereira, desenvolvendo palestras em

usada como ferramenta de prevenção dentro das

diversas cidades nas associações de moradores, feiras

escolas da rede municipal de Porto Alegre.

do livro e em escolas locais. Já em 2011, em consequência de uma parceria

Arquivo Pessoal | Daniel Santos

com o Instituto OI Futuro, pude voltar a fazer oficinas de fotografia em 14 cidades do estado, projeto esse que era executado nas escolas. Ainda nesse mesmo ano a instituição desenvolveu uma iniciativa chamada “Circuito Papo Reto”, a primeira cidade a receber e novo formato de trabalho social foi Canoas. Seguindo esse mesmo modelo, em 2012 o projeto Papo Reto foi inserido nas escolas do município de Porto Alegre, acrescentamos oficinas de teatro e intervenções nas comunidades. No final de 2012, em paralelo com o Projeto Papo Reto, a CUFA lançou o primeiro Torneio de Futebol composto por 32 comunidades periféricas do Rio Grande do Sul, nesse projeto também pude integrar a coordenação. A CUFA entendendo o tamanho da repercussão dentro do estado viu que necessitava de um representante que pudesse falar pela instituição em veículos de comunicação, e a partir desse momento assumi essa função. Atualmente, no ano de 2013, o projeto Papo Reto tomou outra proporção. A CUFA começou a fazer bem mais que levar oficinas para as escolas. A CUFA executou

Daniel foi mestre de cerimônia nos seminários em 2013 05


Eduardo Bertuol | CUFA Alexandre Bertolazi | CUFA

MV Bill Para selar o final de mais um ano de trabalho e prevenção, o rapper MV Bill veio a Porto Alegre para o show de encerramento do Projeto Circuito Papo Reto Porto Alegre 2013. A apresentação aconteceu no dia 23 de outubro na Usina do Gasômetro. Cerca de 400 pessoas curtiram as músicas do rapper, e da sua irmã, Kmila CDD. Para completar, o grupo Latitude fez uma participação especial. Além disso, o evento foi transmitido ao vivo pela TVCOM.

Alexandre Bertolazi | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA Eduardo Bertuol | CUFA

Papo Reto |06| novembro

Alexandre Bertolazi | CUFA


Alexandre Bertolazi | CUFA Alexandre Bertolazi | CUFA

Eduardo Bertuol | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA Alexandre Bertolazi | CUFA

Alexandre Bertolazi | CUFA Alexandre Bertolazi | CUFA

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Entrevista com o mestre por Igor Grossmann Fotos: Igor Grossmann | CUFA-RS

Educação e desafio são sinônimos Há 18 anos como professora na Escola Municipal de

Emílio Meyer e passou a trabalhar nas duas, já que a

Ensino Médio (EMEM) Emílio Meyer, Rosa Maria Accorsi

Emílio tinha aulas apenas no turno da noite. “Eu adorei.

Lang está se aposentando. Formada em artes visuais

E os alunos passaram a reinvindicar aulas também no

pelo Departamento de Artes da Universidade Federal

período da tarde”. Quando iniciaram as aulas pela

do Rio Grande do Sul (UFRGS), ela lecionou durante

tarde, Rosa passou a lecionar em tempo integral na

um quarto de século. “Não pensava em ser professora.

escola onde irá se aposentar.

Queria ser artista”, revela Rosa. Ela conta que fez o concurso pra secretaria municipal de educação “meio

SUPERVISÃO

por acaso”. “Comecei a trabalhar em sala de aula e

Após nove anos como professora na Emílio Meyer,

gostei”, diz.

Rosa decidiu que era hora de ir além. Fez uma especialização em supervisão escolar na Faculdade

INÍCIO

Porto-Alegrense (Fapa) mas nunca deixou de ensinar.

Rosa iniciou como professora de artes (desenho e

“Jamais quis abandonar a sala de aula, pois é onde

pintura) na escola Larry José Ribeiro Alves, no bairro

acontecem as maiores realizações”, conta. Ela exalta a

Restinga. Após breve passagem, foi transferida para

estrutura da escola, que dispõe de uma sala adaptada

o colégio Gabriel Obino, em Teresópolis. Lá, foi

para cada forma de arte trabalhada: música, cerâmica,

convidada para substituir uma professora na EMEM

teatro e, é claro, desenho. Já são nove anos de Rosa

Papo Reto |08| novembro


na supervisão da escola, sendo os seis últimos como

reflete. Ela conta que uma colega passou o último

supervisora de ensino médio.

semestre lhe aconselhando a praticar o desapego, enquanto uma ex-diretora lhe dizia que “o Emílio

DESAFIOS

Meyer é uma paixão para toda vida”. Rosa concorda

Ela conta que o maior desafio que encarou nos seus

com tudo, mas diz não se arrepender de se aposentar.

25 anos como professora é ir evoluindo conforme as gerações foram passando. “É preciso se modificar,

DICAS

adequar-se e evoluir. A vida é muito dinâmica e

Antes de se retirar das salas de aulas e aproveitar

precisamos acompanhar as mudanças”, diz. Rosa conta

a aposentadoria no litoral catarinense, onde já está

que sua grande paixão é o prazer de ensinar. “No início

montando seu novo ateliê para se dedicar à pintura

do ano, vejo eles falando que não sabem pintar, que

com o mar servindo de inspiração, Rosa deixa algumas

não vão conseguir, mas na Mostra em dezembro eles

dicas para aqueles que iniciam ou pretendem ser

apresentam trabalhos fantásticos”, conta sorridente.

professores. “Primeiro de tudo: tem que gostar muito.

Ela afirma que ensinar é algo mágico, mas também

Depois, é necessário ser flexível, estar sempre aberto,

traz apredizagens como tolerância e paciência.

estudar bastante, se atualizar e aceitar certas coisas que não se pode mudar”, atesta. E sempre estar preparado

OFICINA DE PINTURA

para vencer as barreiras que aparecem pela frente.

Um dia, pensando em como poderia tornar a sua

“Educação e desafio são sinônimos”, completa. O

profissão e arte mais próximas das pessoas, Rosa -

filósofo grego Sócrates, se vivo fosse, concordaria com

que é pintora - percebeu que a maioria dos cursos

Rosa pois, há mais de dois mil anos, ele já dizia que

de pintura disponíveis no mercado são caros. Então,

uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.

há cerca de quatro anos decidiu oferecer uma oficina aberta à comunidade na escola Emílio Meyer. Com foco na pintura à óleo, o grupo se desenvolve e gera trabalhos incríveis (ver fotos). Seus alunos possuem uma média de idade de 50 anos, porém alguns chegam perto dos 80. “Na oficina, as pessoas ficam durante anos estudando e se aperfeiçoando, e isso gera um entrosamento legal no grupo”, fala. APOSENTADORIA 2013 foi o último ano de Rosa Maria como professora. Pelo menos remunerada. É que ela pretende seguir trabalhando com o grupo da oficina de pintura à óleo, só que agora como parceira-voluntária da escola. Foram os próprios alunos que pediram para Rosa continuar. “No fim do ano, fizemos um churrasco de confraternização na minha casa. Percebi o trabalho de professor é um ato de convivência, por isso muitos ficam tristes quando se aposentam, pois perdem isto”,

A Emílio Meyer monta uma mostra com os trabalhos dos alunos 09


Palavra

Alexandre Bertolazi | CUFA-RS

Precisamos dar atenção à família Penso que o primeiro espaço educacional da criança é a sua casa, recebendo as orientações dos pais para quando inciarem a trajetória de formação escolar a criança tenha um senso de obediência, seja um adolescente educado, jovem participativo e adulto consciente dos seus direitos e deveres. A minha primeira infância na década de setenta foi toda na região leste no morro da cruz e meus pais sempre deram exemplo como pessoas trabalhadoras e honestas e se sacrificaram para que eu estudasse e me empenhava para não desapontá-los e na primeira oportunidade minha mãe com sua sabedoria e sensibilidade me inscreveu com 7 anos nas aulas

Lisandra Félix Coordenadora-Executiva Papo Reto

de Ballet Clássico na escola, e hoje posso dizer que a disciplina e senso de responsabilidade que vivenciei

influenciar um jovem nas suas escolhas que pode ser

nestas nas aulas foram essenciais para minha vida

um programa de televisão que motiva a gurizada a ter

pessoal e profissional, nem passei perto de colocar

coisas caras da moda que não pode comprar, os apelos

sapatilhas de ponta, mas aprendi que o que realmente

violentos à disposição na redes sociais, acrescentado

importa é a vontade de superar desafios todos os dias

as conversas com os “amigos” que já estão trilhando

para atingir uma meta.

um caminho minado e querem levar todos para o mundo do crime e das drogas, somado a dificuldade

Atualmente as crianças e jovens de qualquer

dos pais que não conseguem lidar com suas próprias

classe social estão sem limites por causa que os

frustrações e acabam descontando no filho que por sua

pais não conseguem dar atenção, brincar, dialogar

vez desconta no professor se transformando naquele

e também repreender quando necessário, criando

aluno violento ou então completamente desligado.

um abismo na relação com os filhos, transferindo consciente ou inconscientemente para os professores a responsabilidade de educar seus filhos.

Vejo que cada vez mais precisamos dar atenção à família que está doente que agoniza pedindo socorro e sua forma de expressar muitas vezes é se afundando na

Outro aspecto importante que merece destaque é que

drogadição, no crime, na depressão, no alcoolismo e

as famílias especialmente dos moradores das periferias

cabe a nós educadores sociais criarmos estratégias para

não são mais nucleares, sendo a mãe a grande gestora

decodificarmos os sinais que estão aí escancarados e

de todos os problemas familiares, provocando uma

cada vez mais trabalharmos com a prevenção através

vulnerabilidade emocional na família, neste contexto

de tecnologias sociais que venham de encontro com as

estão todas as interferências externas que podem

necessidades das famílias.

Papo Reto |10| novembro


Impacto por Mariana Soares

100% dos alunos conhecem algum tipo de droga

A Central Única das Favelas preza, acima de tudo, o indivíduo na condição de protagonista para fazer o bem ao outro e a si mesmo. Acreditamos que o próprio ser humano quer evoluir, mas, muitas vezes, ele não tem portas de acesso à evolução tão sonhada pelas pessoas. As nossas ações querem que o indivíduo se olhe no espelho e se enxergue como esse agente transformador da sua realidade e da

87% conhece alguém que já se envolveu com drogas

realidade a sua volta. Um agente transformador e, acima de tudo, multiplicador das ações e projetos da CUFA. A instituição lida com a prevenção às drogas. Trabalhamos nas comunidades dentro das escolas, com alunos e professores, levando o assunto para dentro do ambiente escolar. A CUFA acredita que o ensino e a conscientização deve começar desde cedo e da melhor maneira possível: a prevenção.

22% já experimentaram drogas

Para termos uma ideia de como os estudantes enxergam as drogas, o crime e a questão da internação, resolvemos realizar um levantamento. Entre os dias 2 e 30 de outubro de 2013 fomos em 16 escolas da rede municipal de ensino para fazer essa coleta de dados. Crianças de 10 a 16 anos responderam 10 perguntas. O nosso objetivo é saber como os jovens lidam com a

45% já teve um parente preso

questão da drogadição e qual o conhecimento deles sobre os diferentes tipos de droga. Além disso, o levantamento serve como base de dados para uma pesquisa ainda maior e mais abrangente, que pode ser feita por institutos especializados no ramo. Confira na página a seguir o resultado desse trabalho.

11


1

DROGAS

Cem

alunos

responderam

as

questões

do

levantamento. Destes, 54% são do sexo feminino e 46% do sexo masculino. A primeira pergunta diz respeito ao conhecimento de drogas – “Você já ouviu falar em drogas?“. As respostas mostraram que 100% delas responderam “sim”. Isso mostra que o tema está no cotidiano dos jovens.

2

QUAL VOCÊ CONHECE?

Essa questão pedia para os alunos citarem quais

drogas eles já ouviram falar. Eles podiam escrever mais de um tipo. A maconha foi citada por 70% dos alunos. O crack, por 52% e a cocaína por 29%. Depois, em menos escala, apareceram loló (5%), ecstasy (2%), oxi (2%), cigarro (1%) e heroína (1%). Vale ressaltar que apenas um jovem apontou o cigarro como droga.

3 4

FAMÍLIA

A terceira pergunta abrange os familiares dos jovens.

“Alguém da sua família já se envolveu com drogas?”. 54% dos alunos responderam que sim o que mostra o alcance indireto das drogas na vida destes jovens.

AMIGOS E CONHECIDOS

Quarta pergunta: “Você conhece alguém que já se

envolveu com drogas?” Assim como a anterior, essa surpreendeu ainda mais. 87% dos alunos responderam “sim”, que sabe de alguma pessoa que já tenha experimentado algum tipo de entorpecente. Já 13% responderam “não”, que não conhecem ninguém que tenha usado drogas.

5

E VOCÊ?

Como essa pergunta era pessoal, os alunos tinham

a opção não responder, porém, todos eles assinalaram uma alternativa para a questão “Você já experimentou algum tipo de droga?”. 22% afirmou que sim, que já havia usado algum tipo de droga.

Papo Reto |12| novembro


6

INTERNAÇÃO

A próxima pergunta trata de internação. Procuramos

saber se os jovens conhecem pessoas que já foram internadas para se tratar de algum vício. A questão era “Você conhece alguém que já foi internado?”. O resultado foi que 40% dos jovens responderam que “sim”, que conhecem alguém. Já 60% dos entrevistados disseram que “não”, não conhecem nenhuma pessoa que foi internada em razão do vício.

7 8 9

PRISÃO

A questão carcerária também esteve presente no

levantamento. A pergunta “Alguém da sua família já foi preso?” apontou 45% dos alunos afirmando que sim e 55% assinalaram a opção não. Outro ponto tratado foi a violência.

MORTE

A oitava pergunta diz respeito à morte: “Você já viu

alguém morto?”. Com as alternativas pré-estabelecidas, os jovens podiam marcar “sim” ou “não”. Como resultado, 63% dos alunos responderam que já tinham visto alguém sem vida. E os outros 37% negaram, dizendo que nunca viram uma pessoa morta.

PAIS

A pergunta de número nove aponta a questão da

proximidade familiar. “Como é o seu relacionamento com os seus pais”. Os alunos tinham três opções de resposta: “bom”, “regular” e “ruim”. Destes, 83% consideraram que o relacionamento com os pais é bom, 17% acham que é “regular” e nenhum acredita que tem um relacionamento ruim com os pais.

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DIÁLOGO

A última questão do levantamento fala sobre o

diálogo entre os alunos e seus pais. Com a pergunta “Você já conversou com seus pais ou responsáveis sobre esse tema?”. O resultado foi que 66% dos alunos disseram que sim, que já trataram do assunto com os parentes. Já 34% dos jovens responderam que nunca discutiram o tema das drogas com os pais. 13


Mural do Professor Aqui é o espaço onde o professor pode dar a sua opinião sobre o Circuito Papo Reto. Nos seminários, os docentes tem um espaço para preencher avaliando as palestras. Essa é a hora de se expressar e mostrar como é válida essa troca de experiência. E de que maneira essa iniciativa mudou a sua forma de pensar.

Importante para conhecer a rede de apoio no município e que podem ajudar na relação com as famílias. Muito bom. Bem objetivo apresentando e pontuando questões centrais que podem nos ajudar na sala de aula.

Discussão interessante sobre as questões de leis sobre drogas, ineficiência das mesmas, recuperação e prevenção.

Volume de informações m uito bom, articulaçã o bem feita entre as áreas da educa ção e da assistência social. Papo Reto |14| novembro

Legal poder ter contato maior/ mais profundo com a realidade social.

Bom para relembrar questões como a necessidade de vínculos para atingir a criança ou o adolescente, assim como o uso de elementos como funk e hip hop para essa aproximação.

Adorei! Papo direto, super claro, esclarecedor

Excelente abordagem quanto a ações multidisciplinares em rede na atenção, cuidando alunos em risco.

Uma das melhores io partes do seminár ores devido aos profess rias escutarem as histó idade de vida. Pura real undo a verdade que o m não quer aceitar.

Temática muito interessante e que traz à tona a importância da prevenção que engloba muitas ações que não estão sendo oferecidas pelo estado e a sociedade.

A palestra foi ótima, esclarecendo os aspectos jurídicos em relação às drogas. Foi didático e objetivo. A reflexão sobre a sistema prisional foi ótima.

Uma boa abordagem, ampla, sobre os recursos sociais a que podemos recorrer no caso de problemas com alunos em situação de vulnerabilidade.


escola solução Em Porto Alegre, a iniciativa de prevenção ao crack nas escolas foi pioneira. Abrangendo os alunos de 51 escolas municipais da capital, a CUFA-RS realiza desde 2012 o Projeto Circuito Papo Reto Porto Alegre, projeto em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre através da Secretaria Municipal de Saúde e Educação e que neste ano ganhou outro parceiro importante: o Hospital Divina Providência. Em 2013 o objetivo é superar em 30% o número de atendimentos dos ano passado, através das ações realizadas nos pátios e salas de aula, com palestras, oficinas e atividades culturais inspiradas na ferramenta de prevenção “O Escudeiro da Luz em os Zumbis da Pedra“. Nesta edição, destacamos as seguintes escolas:

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Victor Issler

por Carolina Reck

Carolina Reck | CUFA-RS

Os cerca de 1.500 alunos podem participar de oficinas de teatro, dança, futebol, rádio, grêmio estudantil e robótica

“A educação é um direito e um dever”. A frase

ROBÓTICA

estampada em meio às artes em grafite está no muro

Implantado pela Prefeitura de Porto Alegre, a

frontal da EMEF Vitor Issler. Com cerca de 1.500 alunos

robótica tem seis anos de existência e garantiu aos

e 25 anos de história, disponibiliza em turnos inversos

alunos a oportunidade de participação em eventos

atividades como oficina de teatro, dança, futebol,

como a Olimpíada Brasileira de Robótica, a First Lego

rádio, grêmio estudantil e robótica. Conta também

League (FLL), em que ganharam dois prêmios de mentor

com o programa Mais Educação, do Governo Federal,

de equipe. “Trabalho em equipe é fundamental. Se

o Cidade Escola e acontecimentos como a exposição

sucesso aconteceu é graças a todos. Procuro trabalhar

anual dos trabalhos realizados pelos alunos.

a questão de que estamos aqui para dar o melhor e aproveitar tudo que é possível”, resume Luciene.

ESCOLA COMO ALAVANCA “A sociedade só se transforma quando a escola for

PAPO RETO

a alavanca”, assegura a diretora Sandra Hass. Para ela

A participação da CUFA RS na escola se dá por

a rotina equilibrada desenvolve habilidades sociais nos

meio da oficina de teatro. Trabalhando a prevenção

alunos. “Escola não tem que desenvolver habilidades

às drogas, a oficina conta com exercícios variados, que

necessárias apenas para o ensino e aprendizagem,

juntamente com ensaios levam à apresentação de uma

mas para o desenvolvimento do ser humano completo,

peça final. “No começo perguntei o que era respeito

capaz de encarar a realidade”, elucida. Além disso, a

para os alunos. A partir disso montamos um mural.

Issler se propõe a estabelecer elos com a comunidade.

Toda aula conversamos sobre a questão do respeito,

“Buscamos para monitores as pessoas da comunidade

civilidade, a não violência. Temos que aprender a

também, ex-alunos, pais... Tentamos a proximidade”,

trabalhar juntos e levar através dessa peça, que é um

explica a professora Luciene Borba Sobotyk, mentora

símbolo, a mensagem para os pequenos de que não

do projeto de robótica.

devem usar drogas”, esclarece Aloísio.

Papo Reto |16| novembro


por Igor Grossmann

Wenceslau Fontoura

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)

a realidade é difícil, e trabalhar a prevenção ao uso

Wenceslau Fontoura abriga cerca de 900 alunos,

de drogas com os alunos é importante por isso, para

divididos nos três turnos. Desde 1996 educando

que eles tenham uma vida plena pela frente”, conta a

no bairro Rubem Berta, na zona norte da Capital, a

orientadora.

escola chegou a ser incendiada neste ano. Mas, com a ajuda da comunidade e do poder público, as salas

OUTROS PROJETOS

atingidas foram recuperadas e entregues aos alunos

Na Wenceslau Fontoura, todo sábado é dia de

em tempo de não prejudicar as atividades letivas. A

Escola Aberta, onde todos da comunidade são bem-

CUFA participou da “Muvuca de Reconstrução”, evento

vindos para desenvolver atividades esportivas no local.

solidário que ocorreu em frente à escola.

Além disso, os alunos podem usufruir de oficinas de judô, karatê e dança - fora os esportes. A educadora

REALIDADE DAS DROGAS

Marlise busca desenvolver monitorias também, como

Para a orientadora educacional Marlise Zarpelon,

na biblioteca e na hora do recreio, com brincadeiras

é bastante importante o trabalho desenvolvido pela

no pátio. Ela agora busca tornar monitores os alunos

CUFA, visto que a comunidade em que está inserida

que desenvolveram as atividades teatrais na oficina

a escola vive a realidade das drogas, do tráfico e

da CUFA. “É importante, eles vão poder ajudar

da violência, segundo ela. “Esse trabalho tem que

no desenvolvimento de colegas com necessidades

continuar, se expandir e ser mais abrangente. Aqui

especiais”, finaliza.

Igor Grossmann | CUFA-RS

Mesmo depois do incêndio, alunos se mobilizaram para recuperar o tempo perdido e correr atrás de um bom resultado 17


Pepita de Leão por Igor Grossmann No bairro Passos das Pedras, na zona norte de Porto

transmissão de conhecimento.

Alegre, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Pepita de Leão educa gerações de alunos há 53 anos.

MEDIANDO CONFLITOS

A instituição atende cerca de 550 estudantes. Muitos

Além da oficina da CUFA, há projetos como

são netos de ex-alunos, conta o diretor João Willy

Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano (LIAU),

Schmidt Cerski.

que trabalha ecologia e sustentabilidade, robótica, esportes, orquestra de flauta, entre outros. A escola

TRADIÇÃO EM PROJETOS

também se preocupa com a mediação de conflitos.

Na Pepita de Leão, historicamente há projetos extra-

“Aqui não toleramos violência”, relata o diretor.

curriculares. “Uma larga tradição”, como define o diretor João. O grupo de dança existe há 15 anos e o

PAPO RETO

coral há 12. João entende que a escola muitas vezes

Para João, o seu trabalho consiste em melhorar o

é vista como um ambiente chato para os alunos e que

desempenho escolar e manter os jovens estudando.

cabem aos professores tentar torná-la mais atraente

“Muitos aqui estão em situação de vulnerabilidade

aos olhos dos jovens. Por isso as atividades fora do

familiar, material e social. Se um aluno pratica esporte

horário de aula.

e não evade, já é uma vitória”, afirma o diretor. Ele entende que se um estudante abandona a escola, este

TEMPLO SAGRADO

aluno está a um passo de se envolver com drogas e até

A CUFA RS desenvolve oficina de desenho na

com o tráfico.

EMEF Pepita de Leão. Para o diretor João, “este

João ainda destaca o seminário Circuito Papo

trabalho enriquece a escola e os alunos com novas

Reto promovido pela CUFA RS para os professores da

ideias e propostas”. Ele percebe o colégio como

rede municipal. “É uma oportunidade de municiar os

um tempo sagrado, onde os professores têm uma

educadores para tratar este tema de maneira horizontal

missão civilizatória ao centralizar debates e permitir a

em sala de aula”, afirma.

Igor Grossmann | CUFA-RS

Na escola Pepita de Leão a CUFA desenvolve oficina de desenho com os alunos oferecendo novas ideias e propostas Papo Reto |18| novembro


por Bianca Oliveira

Timbaúva

A escola Timbaúva já existe a 12 anos sendo muito

da musica tiveram que passar a bola um para o outro

conhecida e admirada por todos no bairro. Ao chegar,

em silencio.

já se pode notar tamanha organização. Rodrigo e Douglas os professores de teatro da Cufa RS

PAPO RETO

apresentaram a Aleteia que é supervisora do 1º ciclo e

“A chegada da Cufa tem sido bastante positiva, pois

a Juliana Selau, que tem acompanhado o trabalho da

eu tenho visto os professores acreditarem nos alunos e

Cufa na escola.Aleteia relatou como tem funcionado

era disso que eles estavam precisando, de alguém que

a pareceria da instituição e como tem influenciado na

mostrasse que eles tem talentos e que bastava apenas

mudança de cada aluno.

acreditarem em si mesmos” relata Aleteia.

OFICINA

SATISFAÇÃO

O professor Rodrigo iniciou a sua oficina com a

Os dois oficineiros da CUFA falam sobre a

primeira turma no centro da sala, fazendo uma roda

experiência em dar aulas de teatro na escola. “Para

com uma breve conversa como de costume. Após o

nós é uma satisfação ver um sorriso no rosto do aluno

dialogo, começou a primeira atividade com Douglas

e ouvir que eles gostam de nossas aulas”, conta o

no comando do radio e Rodrigo no comando da turma

oficineiro Douglas Castro. “Fico feliz quando vejo que

era hora de trabalhar. A primeira atividade era referente

meu trabalho está dando certo, quando vejo cada

a concentração. Com todos sentados no chãoao som

aluno atuando percebo que nada tem sido em vão”, fala Rodrigo Reis.

Bianca Oliveira | CUFA-RS

ALUNOS ESPECIAIS Os alunos que participam das atividades são da turma do reforço escolar (alunos que tem dificuldades em acompanhar algumas matérias). Para Juliana, a oficina tem sido importante. “Mesmo sendo alunos de reforço, quando eles chegam na oficina de teatro eu consigo perceber uma grande mudança, não só no comportamento mais também na evolução e na capacidade de aprender e decorar os textos” relata Juliana. PROFESSORES DE PARABÉNS Ela ainda conta que os professores estão de parabéns pois raramente faltam e nunca chegaram atrasados. A Cufa chegou na escola em agosto desse ano fazendo assim uma grande diferença. “A chegada da Cufa foi o ponto certo, era o que faltava para a nossa escola estar completa. Eu não tenho que reclamar. O projeto está aprovado. Acho que poderia ter mais aulas na semana Os alunos que fazem as oficinas são da turma de reforço

já que os alunos gostam tanto”, diz Juliana. 19


Décio Martins Costa por Eduardo Bertuol Eduardo Bertuol | CUFA-RS

Completando o 50º aniversário neste ano, a EMEF Décio Martins Costa apresenta alguns problemas de infraestrutura. Na manhã chuvosa de segunda-feira, as goteiras no corredores e na sala de aula mostravam que o prédio já sentia o peso da idade. Apesar disso, as comemorações de aniversário são realizadas com atividades que buscam resgatar a história da escola. OFICINAS Na sala da direção, a professora e a atual diretora do local, Clarice Menegaz Mezzomo, destaca que apesar deste ano as atividades serem mais voltadas à

Nem todos alunos puderam participar do Projeto Papo Reto

escola, o local possui outros projetos no cronograma dos alunos. “No contra-turno dos estudantes nós

A PROBLEMÁTICA DAS DROGAS

temos o Laboratório de Aprendizagem e a parceria

Professora a mais de 30 anos, Clarice avalia

com a Fundação de Educação e Cultura do Sport

negativamente a reação dos pais quanto ao livro. “Na

Club Internacional, o FECI, que atende 50 crianças no

nossa região possuímos um problema sério em relação

turno da manhã e 50 na tarde”, destaca a diretora.

às drogas e a prevenção é algo muito importante”,

Ela também afirma que os oficineiros da instituição

afirma. Ela conta que a escola já apresentou este

costumam trabalhar com a música e o esporte. “Temos

problema entre os estudantes. “Já tivemos alguns

bastante torneios, mas quando temos atividades fora é

alunos que pegamos com droga dentro da escola e

a música que marca o exercício. Além disso, possuímos

encaminhamos para o DECA, mas infelizmente não

uma oficina musical realizada pela nossa professora

conseguimos resgatar nenhum deles”, revela. “Eles

que atende o coral”, ressalta Clarice. A escola ainda

tentam trazer para dentro da escola, alguns trazem e a

conta projeto como o Laboratório de Inteligência do

gente leva um tempo até descobrir. Possuímos também

Meio Ambiente, Grêmio Estudantil e Rádio Escolar.

alunos que a gente sabe que usam, pois já chegam de manhã demonstrando isso”, conta. “A questão da

A IMPORTÂNCIA DE PREVENIR

droga é o pior problema que nós temos”, completa a

Neste ano, Clarice relata o comprometimento

diretora.

não apenas dos alunos, mas do oficineiro Rodrigo nas aulas de teatro. “Por trabalhar em contra-turno,

PAPO RETO

as crianças se adaptaram melhor. Além disso, o

Há 9 anos na direção, Clarice avalia positivamente

Rodrigo costuma chegar com antecedência e mostra

o Projeto Papo Reto, que vem sendo realizado desde

compromisso com as atividades realizadas”, conta a

o ano passado. “As atividades oferecidas pela CUFA

diretora. Ela também destaca que o tema prevenção

são muito legais, hoje temos pela escola o grafiti com

faz muitos pais não deixarem os alunos participarem

nome Papo Reto e figuras realizadas no ano passado”,

da oficina. “Embora a prevenção seja algo importante,

conta. “A gente costuma ver paredes riscadas, mas o

os pais acham desnecessário falar disso cedo. Tivemos

mais legal de ver é que o grafiti feito não possui um

alguns familiares que mandaram de volta o livro, pois

risco em cima, ninguém riscou”, completa a diretora

não queriam que os filhos lessem aquilo”, relata.

que trabalha há 23 anos na escola.

Papo Reto |20| novembro


por Eduardo Bertuol

Grande Oriente

Eduardo Bertuol | CUFA-RS

alunos e os professores. “O trabalho realizado é excepcional, pois trabalha com o tema da prevenção utilizando diversos fatores importantes na formação de uma criança, como a leitura com o livro O Escudeiro da Luz, o desenho com as aulas de grafitti do ano passado, e a atuação com as oficinas de teatro”, conta. MÚSICA CONTRA AS DROGAS Na sala de computação, o oficineiro Gilmar Colares conta com aproximadamente sete alunas agitadas e dispostas a ensaiar as cenas. No ritmo do rap, elas O livro do Escudeiro da Luz é bastante trabalhado nas oficinas

decoram a música composta pelo oficineiro e que faz referência a prevenção às drogas. Além de treinar a

Com uma página do Facebook com frequentes

coreagrafia de “Thriller”, música de Michael Jackson, e

atualizações, a EMEF Grande Oriente do Rio Grande

ensaiar as cenas do livro O Escudeiro da Luz.

do Sul traz inúmeros projetos para manter o aluno com educacional integral. Com a parceria da prefeitura, a

ATENÇÃO AO COMPORTAMENTO

instituição possui programas como o Cidade Escola,

A diretora da escola, Elaine Gregory, revela que o

Vivências com Música, além do Projeto Caminhando

Papo Reto é importante, pois a instituição se encontra

Para a Paz, que engloba rádio web, o teatro e oficinas

em uma região de risco. Ela conta que este ano a

de vídeo. A professora e coordenadora do Cidade

escola está começando a ter problemas durante o

Escola, Alessandra Felício, destaca a aceitação das

período noturno. “Em relação as drogas, na parte da

crianças. “Os estudantes costumam abraçar os

noite ocorre mais, mas já pegamos alguns alunos no

projetos idealizados dentro da escola, eles participam

dia com maconha”, revela a diretora. Preocupados, o

com frequência. Nos finais de semana é que existem

local solicitou um intensivo da guarda municipal no

demandadas”, conta.

período da noite, principalmente nos recreios e com algumas regras.

PROJETOS EM PROL DA EDUCAÇÃO O local também possui parceria com o Programa

CONFLITOS NO ENTORNO

Mais Educação e o Escola Aberta, do qual pessoas da

O entorno da escola também mostra ser perigoso

comunidade realizam oficinas em turno integral nos

para os estudantes do local. Segundo a diretora Elaine,

sábados. Nelas são realizadas atividades de artesanato,

uma briga entre traficantes no núcleo da comunidade

hip-hop, karatê, capoeira e futsal. “Desta forma, não

e os tiroteios são frequentes. “Por causa disso, muitos

apenas os alunos, mas toda a comunidade conhece

alunos têm pedido para sair mais cedo das aulas,

a escola e começa a abraçar a ideia da educação”,

pois estipularam o toque de recolher depois das dez

revela Alessandra.

horas da noite”, conta Elaine. A escola tem acionado a Brigada Militar quando possível, afirma a diretora que

PAPO RETO

conta que o seminário Papo Reto tem colaborado para

A coordenadora Alessandra avalia o Projeto Papo

os professores entenderem mais os alunos e o mundo

Reto como um programa muito bem aceito entre os

em que vive a comunidade em que eles moram. 21


Ildo Meneghetti

por Bianca Oliveira

A EMEF Governador Ildo Meneghetti localiza-se na

para a última aula. Já era reta final, correria para todos

Vila Nova Santa Rosa, Bairro Rubem Berta. A escola

os lados, ensaio daqui e dali para se fechar um grande

conta com espaços diferenciado para o estudo como

espetáculo. “Estamos na reta final agora é a hora de

laboratório de informática e de aprendizado, além

fazer tudo acontecer.” conta o oficineiro Douglas.

de ma biblioteca com diversas obras que agregam conhecimento dos alunos.

TURMA CHEIA A turma é muito grande e tem bastante alunos, a

BEM VINDOS

ponto de ter que dividi-los em dois grupos. Mesmo

Era segunda-feira, dia de aula de teatro da oficina

assim, a oficneira do Projeto Papo Reto Carolina

do Projeto Papo Reto da CUFA RS. Do pátio da escola,

de Oliveira confia em seus alunos e no ensino de

indo em direção às salas, foi possível perceber o quanto

qualidade que é possível ter nas duas turmas. “Eles têm

a CUFA é bem-vinda. A professora Maria Bernadete

se superado muito. Eu acredito que estão prontos para

prova esse fato e diz que o convênio com a instituição

a apresentação final”, relata Carol.

tem sido ótimo para o aprendizado dos alunos. “Abrir a minha turma para a CUFA foi a melhor coisa que eu

QUASE NO FIM

poderia ter feito. Essa parceria tem dado certo desde o

O tempo estava passando, os ensaios chegando ao

ano passado”, fala.

fim, era hora de partir e deixar como tema de casa os ensaios para que tudo ocorra bem na apresentação

HORA DA VERDADE

final.

Os alunos estavam montando suas apresentações Bianca Oliveira | CUFA-RS

n

Alunos da oficina de teatro do Projeto Papo Reto atentos nas últimas orientações dos oficineiros Carolina e Douglas Papo Reto |22| novembro


por Igor Grossmann

Jean Piaget

Igor Grossmann | CUFA-RS

Diretora e professores acreditam que o trabalho desenvolvido pela Cufa, de prevenir o uso de drogas, é importante

Há 21 anos educando no bairro Rubem Berta, na zona

produtivo e interessante. O resultado é muito bom, os

norte de Porto Alegre, a Escola Municipal de Ensino

alunos se envolvem. Isto ajuda no desenvolvimento e

Fundamental (EMEF) Jean Piaget, conta hoje com 750

integração do grupo”, relata.

alunos nos três turnos: manhã, tarde e noite. Além do ensino fundamental, educação de jovens e adultos (EJA)

ABORDAGEM ADEQUADA

preenche a grade escolar da instituição. O nome do

A

Jean

Piaget

também

enfrenta

problemas

colégio homenageia um pensador e educador suíço que

relacionados com as drogas. Por isso, ressalta Vera,

propunha uma nova filosofia na educação e criticava o

o trabalho dessenvolvido pela CUFA, de prevenir o

método tradicional de ensino, onde o professor dita e o

uso de drogas, se torna ainda mais importante. “O

aluno copia e repete.

que acontece na comunidade acaba respingando na escola. Buscamos promover atividades saudáveis para

ENVOLVIMENTO E INTEGRAÇÃO

evitar que o jovem se envolva com coisas que não são

Para a supervisora do segundo e terceiro ciclos da

as ideais”, diz. “O Papo Reto nos auxilia nessa missão,

instituição de ensino, Vera Lúcia Santiago, a CUFA se

que já que aborda este tema de maneira apropriada,

insere neste contexto de uma abordagem diferenciada.

de um jeito que talvez a escola sozinha não conseguisse

“O projeto Papo Reto, com a oficina de teatro, é

fazer”, completa. 23


João Antônio Satte por Carolina Reck Com 1200 alunos, a escola João Antônio Satte atende

ela chorava muito bem, mas que sabia que era tudo

aos bairros Parque dos Maias, Rubem Berta, Sarandi e

atuação”, informa Helenara.

proximidades. O espaço escolar também garante vagas para alunos que provém da cidade de Alvorada. Entre

OUTROS PROJETOS

oficinas de esporte, leitura e escrita, Laboratório de

A escola também oferece oficinas como a de

Aprendizagem e Cidade Escola, tem como diferencial

esportes e de literatura, que ocorrem no turno inverso,

a iniciativa de um grupo de professores: o grupo de

duas vezes por semana. No caso da segunda, os alunos

teatro. Mesclando ao figurino e facetas caricaturizadas

leem textos específicos, produzem conteúdo em aula e

a literatura e alfabetização, o grupo busca entreter e

realizam tarefas em casa. “É um período a mais dentro

incentivar os alunos culturalmente.

da escola, em que desenvolvem a questão da oralidade, de se colocar no lugar do outro, se posicionar, ficarem

ALUNOS SÃO PLATEIA PARA O APRENDIZADO

mais educados”, resume a coordenadora.

“O que pensamos foi em dar um presente para os alunos. Em geral eles não têm um momento para

PAPO RETO

assistir esse movimento mágico de dar vida aos

Na oficina de teatro do Projeto Papo Reto, da CUFA

personagens. Vendo nossas peças eles têm postura de

RS, a vez de atuar foi dos alunos. Trabalhando a temática

plateia. Apreciam, participam e interagem”, ressalta a

da prevenção ao uso de drogas, a oficineira Melissa

professora Sandra Rejane Claro do Santos, responsável

Dornelles desenvolveu um rádio. Os cinco alunos que

pela

Inicialmente poucos educadores se

fizeram a intervenção cultural representavam diferente

engajaram na causa, com o tempo foram necessários

estações, e surpreenderam alunos de quatro turmas

novos papéis para os interpretes que surgiam,

com notícias, anúncios e músicas.

projeto.

formando um grupo com 12 integrantes. As peças e danças são apresentadas em datas relevantes, como

Carolina Reck | CUFA-RS

o dia da consciência negra e das crianças. Além do potencial para entreter e até mesmo conscientizar os alunos, o teatro ajudou professores a se relacionarem e tornarem o espaço em que convivem mais harmônico. “Integrou muito os professores, nos divertimos muito”, ilustra Sandra. EMBARQUE NA HISTÓRIA “Essa interação entre professores é muito importante. O grupo cria vínculos bons, fortes com o teatro”, alega a coordenadora pedagógica do 1º e 2º ciclos da escola, Helenara de Oliveira. A reação dos jovens ao prestigiarem apresentações como “ A Dona Baratinha” é de diversão e despertar para o senso crítico. “Os pequenos embarcam muito na história. Esses dias, um dos meninos perguntou para a professora se ela era a dona baratinha. Ao ouvir que sim, disse que Papo Reto |24| novembro

Melissa procura realizar atividades que cativam a turma


por Carolina Reck

Lauro Rodrigues

Carolina Reck | CUFA-RS

desafios, jogos e produção de textos, ocorre em turno inverso e atende as necessidades individuais de cada aluno. “Isso envolve também problemas familiares, sociais e a história de vida de cada um”, reitera a orientadora educacional e educadora especial Simone Moraes, responsável pela iniciativa. Efetivamente 23 alunos participam, do 1º ao 9º ano. “É um trabalho de formiguinha. São pequenos progressos que para as crianças são imensos”, informa a professora. Alunos aprendem e se divertem nas aulas de teatro

LABORATÓRIOS ENVOLVENTES No caso da brinquedoteca, o diretor afirma que vai

“Pequenas coisas constroem a relação da escola

além de entretenimento. Existente há dez anos, envolve

com a comunidade”, pronuncia o diretor da EMEF

o acompanhamento de pedagogos e jovens do jardim

Lauro Rodrigues, Silvio Luís Capaverde, ao explicar

ao 5º ano. “A hora de brincar é reveladora. As vezes

a influência do arquiteto Antoni Gaudí nos muros

um aluno não quer falar de seus problemas, se formos

da Lauro. A escola localizada no bairro Jardim Ingá,

fazer uma leitura de seu modo de agir brincando

atende a moradores de sete bairros da região. Com

podemos identificar isso”, consta Silvio. No contra

700 alunos, busca em atividades extracurriculares

turno também ocorrem atividades do Laboratório

preencher lacunas na educação.

de Aprendizagem, que trabalha com a superação de dificuldades de crianças a partir de atividades

MÚSICALIDADE, BANDA E RÁDIO

de informática, consciência corporal, auto-estima,

Para aqueles que apreciam a música, disponibiliza

linguagem oral, escrita e leitura. As aulas são feitas

a banda e uma rádio. A reunião da Rádio Escolar

com seis grupos, que têm em média quatro alunos

ocorre uma vez por semana, na manhã, e neste espaço

cada.

diferentes estilos musicais são difundidos. Outro dos projetos com diferencial é o xadrez, incluso como

PAPO RETO

modalidade dos jogos escolares que ocorrem em

Em agosto deste ano se iniciaram as oficinas de

agosto. Há também o projeto de educação ambiental,

teatro do Papo Reto na Lauro Rodrigues. O momento

em que um terreno baldio foi apropriado para a

é proporcionado pelo oficineiro Gildo

criação de um bosque. Os alunos com dificuldades

Juntamente com os alunos, o profissional está

em sala de aula recebem auxílio de projetos como a

montando uma peça baseada na história do “Escudeiro

brinquedoteca, o Laboratório de Aprendizagem e Sala

de Luz em Os Zumbis da Pedra”, e cerca de 22 alunos

de Integração e Recursos (SIR).

participam. “A oficina é muito importante pela questão

Carvalho.

da comunicação que gera com eles. Aborda questões INTEGRANDO RECURSOS

relevantes de forma lúdica; o bullyng, o preconceito,

O novo projeto da escola, que iniciou as atividades

o gênero. A ferramenta teatro é fundamental na

neste ano, é a Sala de Integração e Recursos (SIR). O

educação das crianças”, expõe o oficineiro. De acordo

espaço é para jovens com necessidades especiais e

com Carvalho a oficina também trabalha com a

dificuldades em sala de aula. Trabalhando com a lógica,

liberdade dos jovens, seus medos e timidez. 25


Liberato Salzano por Igor Grossmann No bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, a Escola

instituição proporcionar uma formação básica completa

Municipal de Educação Básica (EMEB) Dr. Liberato

diminui a evasão, principalmente após o aluno concluir

Salzano Vieira da Cunha forma gerações de estudantes.

o ensino fundamental. “O estudante tem a opção de

A instituição, que fará 60 anos em 2014, é uma das

continuar aqui e cursar o ensino médio. Diferente de

poucas que oferece ensino completo na Capital. Nela,

escolas que oferecem só o fundamental, aqui o jovem

há educação infantil, ensinos fundamental e médio,

pode continuar com a sua turma até o fim da vida

além de ensino técnico profissionalizante e educação

escolar”, argumenta.

de jovens e adultos (EJA). 1.600 alunos estudam no local.

PAPO RETO A Cufa/RS está presente na escola pelo segundo

AMOR PELA ESCOLA

ano

consecutivo.

A

diretora

Cleusa

imaginava

A vice-diretora do turno da noite é um exemplo de

que seria um projeto passageiro, mas se disse

alunos que completaram sua formação na Liberato.

surpreendidapela retorno dos alunos. “Em 2012, foi

Dinara Bittencourt se formou na escola e, 13 anos

trabalho o livro Escudeiro da Luz. Então, neste ano, os

depois, voltou para lecionar. O pai, o irmão e o

estudantes já conheciam o tema, se impressionaram

marido de Dinara também estudaram neste colégio.

mas se interessaram bastante. É um projeto muito

“Tenho muito amor pela Liberato. Quando voltei como

interessante”, conta.

professore, fiquei encantada por trabalhar ao lado daqueles que me deram aula. Eles me acolheram

VIDA PLENA

muito bem. Digo para os alunos estudarem bastante

Com foco na prevenção às drogas, a oficina de

para alcançarem seus sonhos”, relata com um sorriso

teatro comandada pelo educador da Cufa, Gil Colares,

nos lábios.

trabalha o texto do livro Escudeiro da Luz com os jovens. Para a diretora Cleusa, é importante abordar

FORMAÇÃO SEM EVASÃO

esta temática, visto que no durante a sua gestão ela

Para a diretora Cleusa Maria Leite, o fato de a

perdeu quatro alunos envolvidos com drogadição. Igor Grossmann | CUFA-RS

Gil e suas alunas depois de mais um dia de ensaio para a apresentação final onde o foco é o combate às drogas Papo Reto |26| novembro


por Igor Grossmann

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF)

Migrantes

promover o turno integral.

Migrantes deve seu nome às pessoas que migraram para a região onde hoje está a Vila Dique, próximo

TURNO INTEGRAL

ao aeroporto internacional Salgado Filho. Ali se

Agora os alunos chegam às 7h e ficam no colégio

estabeleceram famílias que vieram do interior do Rio

até as 17h. Neste tempo, são servidas cinco refeições:

Grande do Sul e Paraná, segundo conta a diretora

café da manhã, lanche, almoço, café da tarde e janta.

Milene d’Avila Eugênio, que desde 1996 integra o

A Cufa/RS está presente na escola neste ano com

corpo docente do colégio. A construção da escola

oficina de teatro. “Essa atividade prende a atenção dos

se deu a partir do anseio desses migrantes e ele se

alunos”, relata a diretora Milene. Para ela, as atividades

realizou em 1992.

precisam ser criativas para seduzir os alunos. “Não pode ser algo maçante”, sentencia.

REMOÇÃO A Escola Municipal de Ensino Fundamental Migrantes

DESISTIR JAMAIS

atende cerca de 160 alunos. Em 2012, eram 400. A

Para Milene, a escola muitas vezes assume papeis

redução no número de estudantes se dá porque parte

que não são seus, como saúde e família. Ela conta que

da população que habitava a comunidade foi removida

já perdeu vários alunos para os vícios das drogas e

pela prefeitura para que se pudesse ampliar a pista

expõe a sua visão de como este problema deve ser

do aeroporto. A solução encontrada pela Secretaria

enfrentado. “É preciso falar claramente e nunca desistir

Municipal de Educação para não fechar a escola foi

do jovem”, finaliza.

Igor Grossmann | CUFA-RS

Os alunos chegam às 7h e ficam na escola até às 17h. Neste tempo, eles participam de diferentes atividades extra-classe 27


Antônio Giúdice por Eduardo Bertuol Eduardo Bertuol | CUFA-RS

projeto novo com algo diferente. Eles estão todo hora buscando alguma coisa nova”, relata Meister. COMPROMISSO COM OFICINAS A maior dificuldade verificada pela escola é a fidelização do aluno com as oficinas oferecidas. “Geralmente, o aluno começa dentro de um projeto e depois busca outro, faz esse outro mais um tempo e procura outro. Desta forma, ocorre uma rotatividade dos estudantes nas oficinas”, conta. “O aluno possui A opinião dos alunos influencia as atividades da oficina

essa dificuldade de perceber que o projeto precisa ter continuidade e por se trabalhar no contra turno das

Situada no bairro Humaitá, a EMEF Vereador Antônio

aulas, eles acreditam que este processo é algo mais

Giúdice possui destaque por ter bons resultados no

livre, como se não tivesse compromisso, e algumas

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

vezes acabam prejudicando as oficinas”, acrescenta

Cálculo criado pelo Inep/MEC que busca representar

Meister.

a qualidade da educação a partir da observação de dois aspectos: o fluxo (progressão ao longo dos anos)

PAPO RETO

e o desenvolvimento dos alunos (aprendizado). A

“O projeto é muito bom, os professores que fizeram a

escola possui uns dos melhores índices das instituições

formação só elogiaram e afirmaram ser bem completa

municipais de Porto Alegre. O professor e coordenador

com uma avaliação super positiva”, conta Meister sobre

de projetos da escola, José Antônio Meister, ressalta

o a opinião dos educadores sobre o projeto Papo Reto.

que por apresentar bons resultados, o local não possui

“Quanto aos alunos, a dificuldade nossa foi chamá-

as oficinas realizadas pelo Programa Mais Educação.

los para participar em uma segunda-feira de manhã”,

“É bom termos este destaque como instituição, mas

revela. As oficinas ministradas por Robson Machado

acredito que projetos de incentivo a educação nunca

para os estudantes contam com atividades para

são demasiados”.

descontrair. Os poucos alunos se divertem e apresentam ao oficineiro suas propostas do trabalho que gostariam

PROJETOS CONTRA INCONSTÂNCIA

de realizar. Com base no livro “O Escudeiro da Luz

O local possui muitos projetos para ajudar no

em O s Zumbis da Pedra”, Robson debate as questões

aprendizado e evolução do aluno. “Possuímos oficinas

apresentados na obra com os estudantes participantes.

com aulas de tênis, laboratório de aprendizagem, laboratório de meio ambiente, além das parcerias

COMUNIDADE LIGADA À ESCOLA

com a Fundação de Educação e Cultura Sport Club

Questionado sobre a violência na escola, o professor

Internacional, o FECI, e a CUFA”, relata Meister. Há

Meister afirma que como qualquer outro lugar isso existe.

18 anos na escola e há 30 como professor de ciências

“Mas as próprias famílias possuem um controle do que

sociais, Meister conta que a aceitação dos alunos é

ocorre, pois a escola é muito ligada à comunidade e

variável, mas no geral possui uma boa ocupação

poucos alunos vêm de fora dela”, acrescenta. Meister

das vagas. “Como todo estudante, eles costumam

fala que o problema do tráfico existe, mas não é um

ser bastante inconstantes e querem toda hora ter um

problema que afeta os alunos.

Papo Reto |28| novembro


por Eduardo Bertuol

Chico Mendes

Localizada no bairro Mário Quintana, a Escola

projetos modificam para melhor os alunos, além de

Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Chico Mendes

se interessarem mais nas aulas, eles mostram uma

procura adquirir o máximo de projetos educacionais

resposta positiva no conhecimento e aprendizagem”,

para os alunos da escola e manter o turno integral. A

relata Kátia.

professora Kátia Leitune, responsável pela organização dos programas do local, apresenta uma pequena

PAPO RETO

cartilha com a maioria dos projetos da escola. A

Ainda com registros do projeto Papo Reto realizado

seleção dos projetos ocorre por meio de votação. Este

com a grafitagem no ano passado, desta vez é a sala

ano o destaque ficou para a dança folclórica gaúcha. A

de multimídia da EMEF Chico Mendes que recebe as

escola ainda conta com projetos de rádio, robótica e o

oficinas de teatro dos oficineiros Robson Machado e

LIAU (Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano).

Carolina Mattos. Lá, os alunos tiveram a liberdade de montar um roteiro próprio baseado na obra “O

PROJETOS DESENVOLVEM HABILIDADES

Escudeiro da Luz em Os Zumbis da Pedra”. Após lerem

Além disso, o local possui convênio com o Projeto

o livro, os estudantes debateram entre si a melhor

Social Futebol Clube (PSFC) junto da Secretaria

forma de representar. Os ensaios, ainda tímidos,

Municipal de Esporte (SME). “É um convênio firmado

eram casualmente parados pelos próprios estudantes

com a Secretaria, oferecendo atividades de futebol

quando entendiam que podiam melhorar as cenas.

fora do espaço da escola”, explica Kátia. O Social

“Além de aprenderem a contracenar, é importante eles

Futebol Clube conta com 16 ex-jogadores de futebol

interpretarem e utilizarem nas suas vidas o recado que

profissional que trabalham com crianças entre sete

o livro quer passar”, destaca Carolina.

e 15 anos em nove campos de futebol da periferia e bairros mais pobres da cidade. Os ex-atletas, reunidos

Eduardo Bertuol | CUFA-RS

em uma cooperativa, além de ensinar futebol para os garotos, realizam oficinas, palestras e cursos. A escola ainda possui o projeto de Laboratório de Aprendizagem, espaço destinado a auxiliar os alunos com dificuldades na aprendizagem e para potencializar suas habilidades. OFICINAS ENVOLVEM ALUNOS Kátia lembra que a aceitação dos projetos por parte dos alunos é boa, mas alguns problemas familiares acabam afastando alguns deles. “A gente possui muitos estudantes realizando as oficinas, mas não conseguimos manter um grupo fixo, pois, por exemplo, uma mãe consegue um emprego em algum lugar e daí quem tem que ficar cuidando dos irmãos é o nosso aluno e assim acaba se afastando do projeto”, conta. A professora lembra de alunos que depois das oficinas começaram a faltar menos nas aulas. “Os

Os oficineiros Carol e Robson com as alunas de teatro 29


Perfil

A volta por cima da ilusão texto e foto: Igor Grossmann

Lucas Santos tem 23 anos. Aos doze, ele começou a fumar cigarro com alguns colegas mais velhos. Logo, começou a usar maconha. Com 14 anos, passou a abusar do álcool e a cannabis não era mais suficiente, segundo suas palavras. Aos 15, lhe oferecem cocaína, para que pudesse beber e curtir mais. “Era milagroso. Eu bebia sem cair”, relata. “O jovem busca a loucura suprema, e esse não é o caminho da felicidade, por mais que se pense na hora que é”, reflete hoje. Certo dia, Lucas foi comprar maconha e não tinha. Só havia crack. Foi o primeiro passo no rumo tortuoso da pedra. “Senti muito prazer, mas essa sensação tem um custo, uma dor. São apenas alguns segundos. Tu nunca mais vais sentir aquilo. Aí inicia a busca do prazer inexistente”, fala com a propriedade de quem já experimentou o prazer fictício e a dor verdadeira causados pelo uso de

Lucas conta como foram os passos para conseguir ficar limpo

drogas. uma escola estadual que fica na sua rua, no bairro CRACK

Guarujá, zona sul de Porto Alegre. Seu pai trabalhava

Formado pela combinação de pasta de cocaína com

no período noturno, como guarda municipal. Sua mãe

bicarbonato de sódio, o crack é chamado assim devido

estava doente, em tratamento contra a hepatite C. “Eu

ao som que produz ao ser queimado. Ao fumar, a

não tinha amor nenhum, só queria a droga”, confessa.

droga é rapidamente absorvida pelos pulmões. Em

Lucas relata que passou por momentos críticos, como

menos de dez segundos, a substância é bombeada pelo

quando teve uma arma apontada para a sua cabeça

coração através das veias e chega até o cérebro. Então,

por um traficante que não queria mais lhe vender, pois

a concentração da dopamina – hormônio responsável

ele não tinha mais dinheiro e já não era mais horário

pela sensação de prazer humano – dispara. Ela, por sua

do comércio de entorpecentes naquele local. Ou

vez, ativa o sistema de recompensa cerebral. A sensação

quando foi buscar crack e se viu em meio a um tiroteio.

é descrita como semelhante a um orgasmo. Porém, em menos de cinco minutos a ilusão se vai e o que resta é

RECUPERAÇÃO

vazio. A mente, dominada pelo encantamento do gozo

Com 17 anos, Lucas trabalhava com um advogado

súbito, automaticamente pede mais.

amigo do seu pai. Um dia, seu chefe efetuou a venda de um imóvel e recebeu uma grande quantia em

CAMINHO TORTUOSO

dinheiro vivo. “Passei a maquinar como iria roubar

Entre os 15 e os 17 anos de idade, Lucas percorreu

parte do valor”, conta. Passada uma semana, Lucas

o caminho tortuoso trilhado pela maioria dos usuários

pegou escondido cerca de 10 mil reais. “Durou 15

de crack. Ele cursava o ensino fundamental à noite em

dias”, relata e explica que gastou tudo com drogas,

Papo Reto |30| novembro


amigos e mulheres. “Não comprei nada pra mim, pois

uma vida normal, enquanto Lucas está há seis anos

não podia chegar em casa com coisas novas, pois meus

longe das drogas. Ambos sentem-se vencedores. Há

pais iriam desconfiar”. Porém, quem desconfiou foi seu

um ditado que diz que ser mãe é padecer no paraíso.

chefe, que comunicou ao pai de Lucas. Indignado,

Maria Lenira concorda. Ela jamais desistiu de ajudar

seu pai registrou a ocorrência em uma delegacia. O

o seu filho. “No dia que meu marido levou meu filho

delegado de plantão, consternado com a situação,

para a fazenda, foi junto uma parte de mim. Eu ia todas

deu duas opções ao garoto: ser recolhido à Fase

as sextas-feiras nas reuniões do Amor Exigente. Hoje,

(Fundação de Atendimento Socioeducativo) ou buscar

estou pensando em ir novamente para auxiliar mães

um tratamento para a dependência química. O jovem

que estão passando pelo que passei e que certamente

ficou com a segunda opção.

necessitam de apoio”, diz.

REINSERÇÃO

ESCOLA

Lucas passou onze meses em uma fazenda no

Na escola, Lucas repetiu algumas séries do ensino

município de Viamão. Lá, ele seguiu os doze passos

fundamental, o que levou ele a concluir esta fase

tratamento

dos

Alcoólicos

Anônimos e os outros doze dos Narcóticos Anônimos. Além disso, havia rodízio de tarefas entre os moradores-pacientes, como capinar o pátio, cuidar dos animais, faxinar

Não existe ex-drogado. O que se tem são dependentes químicos em recuperação

do

escolar no EJA (educação de jovens e adultos). Ele conseguiu o diploma poucos meses antes de ir para a fazenda terapêutica. Ao sair, foi cursar o ensino médio regular, aonde chegou a se tornar presidente do

a casa e cozinhar. Maria Lenira Santos, mãe de Lucas,

grêmio estudantil. No entanto, Lucas cursou somente

diz que ele amadureceu muito após o tratamento. E

até o segundo ano. “A pessoa que já usou drogas e se

conta que se agarrou em um tripé para se recuperar:

encontra limpo tem uma rapidez de raciocínio diferente

família, trabalho e espiritualidade. Lucas é médium

e dinâmica. Não conseguia ficar preso em uma sala

na Umbanda e não tem vergonha em contar pelo que

de aula”, explica. Ele pretende finalizar o terceiro ano

passou, pois espera poder auxiliar outros dependentes

para então cursar uma faculdade.

a se recuperarem. “Não existe ex-drogado. O que se tem são dependentes químicos em recuperação”, diz

FUTURO

ele, que, nesses anos “limpo”, nunca teve uma recaída.

Lucas sabe o que quer. Desde que saiu da fazenda,

Questionado sobre sua maior motivação para parar se

ele lê muito sobre psicologia e mente humana,

usar drogas, ele confessa. “Não tive vontade de parar.

principalmente textos que abordam a relação com as

Queria me esconder. Iria pra fazenda e quando saísse,

drogas. Ele quer ingressar na universidade para cursar

iria voltar pra rua.”

psicologia e ajudar outras pessoas a lidarem com seus problemas. Hoje, ele trabalha em uma empresa que

MÃE

presta serviços à Caixa Econômica Federal. Lucas faz

Maria Lenira, mãe de Lucas, conta que foi muito

suporte técnico de maneira remota aos computadores

difícil para ela, pois estava tratando de uma doença

do banco em todo o Estado. Ele sabe que jamais será

séria, a hepatite C. Ela diz que nunca pensou em desistir

curado de sua doença. “É algo genético”, fala. “Dizem

do seu primogênito. “Fui muito guerreira. Eu dizia pra

que a maconha é a porta de entrada para as drogas.

ele que eu estava lutando contra a minha doença e

Não é. Para mim, o álcool foi o começo de tudo”,

queria ver ele lutando contra a dele”, relata. Há dois

reflete. E conclui dizendo que o trabalho de prevenção

anos, ela conseguiu controlar a hepatite e hoje leva

deve ser realizado contra as drogas e em favor da vida. 31



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