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A força da comunidade na pandemia

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Rua do Lavradio

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Recursos doados pelo Parlamento apoiam ações sociais nas áreas mais carentes do estado

TEXTO JULIANA MENTZINGEN FOTO BANCO DE IMAGEM

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Levar comida a quem tem fome. A resposta da Cozinha da Frente não poderia ser mais objetiva, diante da gravidade dos desafios impostos pela pandemia aos moradores do Complexo da Maré, na Zona Norte da Capital fluminense. O projeto foi criado em 2020 por Vanusa Maria Borba, com a meta de oferecer 600 refeições semanais para famílias em situação de vulnerabilidade. Ele está entre as ações patrocinadas pelo Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas, que recebeu doação de R$ 20 milhões da Alerj, em janeiro de 2021. “A situação de vulnerabilidade de muitas famílias é grave. Falta água, higiene e renda para suprir as necessidades de uma família numerosa”, conta Vanusa, que usou os recursos para reformar e equipar o espaço de uma cozinha comunitária, além de implantar a logística de distribuição das quentinhas e cestas básicas.

A pandemia do coronavírus atingiu de forma mais expressiva as áreas mais carentes do Rio de Janeiro, devido à dificuldade da prática de distanciamento social e de acesso a políticas públicas, segundo dados do monito-

ramento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Essa precariedade foi rapidamente reconhecida pelo Legislativo, que destinou parte dos recursos do Fundo Especial do Parlamento fluminense para apoiar ações sociais selecionadas pela Fundação por meio de edital público, em março de 2021.

“Fizemos uma lei para produzir resultados imediatos de impacto no combate à fome, mas com um caráter de solução mais permanente na produção de alimentos e na geração de emprego e renda. É preciso dirigir recursos prioritariamente para salvar vidas e garantir a dignidade humana”, explica a deputada Renata Souza (PSol), autora original da Lei 8.972/20, que permitiu a doação.

Ao todo, 270 projetos foram inscritos na chamada pública, dos quais 120 foram aprovados para receber o aporte financeiro. Destes, 41 foram selecionados para atuar na vigilância sanitária da população em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Segundo o coordenador-executivo do Plano Fiocruz de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas, Richarlls Martins, a seleção foi realizada por um comitê misto, composto por pesquisadores da Fiocruz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da PUC Rio, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). “Aproximadamente 60% dos projetos selecionados estão na Capital. Os demais estão distribuídos entre outros 43 municípios do estado, com uma abrangência territorial muito significativa”, conta Richarlls.

Outro dado relevante é que 70% dos projetos selecionados são baseados em ações de enfrentamento à insegurança alimentar. Para a deputada Renata Souza, este número se justifica pela situação de miséria e fome, agravadas pelos altos índices de desemprego. “Temos pesquisas que apontam índices de insegurança alimentar acima de 50% nas favelas do Rio. É gente que acorda e não sabe se vai almoçar, gente que tem se tornado dependente de solidariedade para se alimentar”, ressalta.

COMIDA E EDUCAÇÃO Do lado oposto da cidade do Rio de Janeiro, o Coletivo TMJ Rocinha atua desde 2014 promovendo ações humanitárias para a população da Zona Sul. Numa comunidade em que mulheres solteiras, desempregadas e com filhos são maioria entre os chefes de família, o grupo desenvolve iniciativas de segurança alimentar e ampliou a atuação com a oferta de apoio à educação de crianças e adolescentes. Jovens universitários ministram aulas de reforço escolar na instituição, que também disponibiliza acesso à internet e materiais didáticos de apoio.

“Decidimos por um projeto que desenvolvesse atividades e materiais didáticos para mitigar a defasagem escolar das crianças causada pela pandemia. O projeto está em andamento e só pôde ser iniciado e executado graças à doação da Alerj”, disse o presidente da organização, Denis Neves.

Manter o vínculo de crianças e jovens com os estudos durante a pandemia exigiu mobilização das lideranças nas comunidades. O Instituto Golfinhos da Baixada, que há dez anos oferece aulas de natação à população carente de Queimados, passou também a disponibilizar reforço escolar para ajudar na conclusão do ciclo de alfabetização. A organização social atende a 100 crianças moradoras de áreas vulneráveis no município da Baixada Fluminense.

“As crianças do município ficaram praticamente sem aulas durante os anos de 2020 e 2021. A gente sabe que, futuramente, elas terão muita dificuldade de ter sucesso no âmbito escolar. O aporte financeiro da Alerj também nos permitiu fazer a contratação de uma assistente social e de uma psicóloga, para olhar mais de perto as demandas das famílias, orientando para possíveis programas e benefícios”, conta a coordenadora sociocultural do Instituto, Gisele Castro de Oliveira.

Com atuação consolidada em Niterói, há quase 30 anos, a BemTV Educação e Comunicação apostou na relevância do projeto Jovens Comunicadores. A proposta foi qualificar 70 alunos moradores de comunidades vulneráveis de Niterói e São Gonçalo para utilizar as tecnologias da informação como ferramentas de intervenção social. Os jovens produzem conteúdos, e as ações são compartilhadas por redes sociais, pretendendo alcançar mais de 17 mil pessoas simultaneamente.

“O objetivo é combater notícias falsas em relação à covid-19, promover a saúde a partir da boa informação e garantir formação de qualidade aos jovens no período de isolamento social, ampliando a capacidade de linguagem e de expressão de jovens da periferia”, explicou a coordenadora executiva da BemTV, Daniela Araújo.

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JOVENS DE PROJETOS Sociais participam de iniciativas coordenadas pela Fiocruz, com foco no combate à fome, vigilância sanitária e escolarização

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