PARÊNTESE 63

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resenha não ingênuas de autoajuda para pessoas em crise em tempos de mudanças, escrito ao mesmo tempo que aquele). No dia 2 de janeiro de 1996, aos 43 anos, Benesdra se suicidou atirando-se do seu apartamento no décimo andar. Sofrera com crises fortíssimas a vida toda, o que envolveu mais de uma internação em instituições psiquiátricas.

O tradutor, de Salvador Benesdra Théo Amon

E

ste volumoso romance , escrito por um autor que só deixou outro título (não ficcional), é um perfeito desconhecido fora da Argentina. Segundo averiguei, não está traduzido sequer em línguas de circulação mundial, como inglês ou francês. Pelas suas grandes virtudes, que tentarei expor abaixo, merece uma versão em português. Espero que, enquanto isso não acontece, os leitores se sintam movidos a lê-lo no original, atualmente em catálogo. 1

Primeiro, algumas palavras indispensáveis sobre o seu obscuro autor. Salvador Benesdra nasceu em Buenos Aires, em 29 de novembro de 1952, filho de uma família de judeus sefarditas. Teve formação em psicologia (com pós-graduação em importantes centros europeus) e, além desta, exerceu profissionalmente o jornalismo e a docência universitária. Leitor voraz e linguista talentoso, sabia sete idiomas e se envolveu em política de esquerda desde a adolescência. Sua obra publicada se resume a um único romance, O tradutor, finalista do Premio Planeta Argentina de 1995, mais um inesperado livro de autoajuda (O caminho total — técnicas (1) BENESDRA, Salvador. El traductor. Buenos Aires: Eterna Cadencia Editora, 2012. 3ª edição, 2ª reimpressão (2014). 670 pp.

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O tradutor foi publicado apenas postumamente (1998), graças a Elvio E. Gandolfo, autor do prefácio na edição que possuímos, que assegurou à obra uma bolsa da Fundación Antorchas e encontrou editora interessada — o próprio Benesdra tentara junto a cerca de dez casas, sem sucesso. Aparentemente, é um livro que ganhou fama de cult na Argentina, sendo muito estimado nos círculos leitores alternativos, embora se trate de um autor ainda largamente ignorado, o que é fácil de explicar pela sua morte precoce e uma obra ficcional reduzida a um título só. Mesmo sem eu conhecer a literatura argentina dos anos 90 em diante (minhas leituras só me levam até Cortázar, Bioy Casares e

Este volumoso romance, escrito por um autor que só deixou outro título (não ficcional), é um perfeito desconhecido fora da Argentina.


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