Etno Botanica

Page 1


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE BOTÂNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA VEGETAL LABORATÓRIO DE ETNOBOTÂNICA E BOTÂNICA APLICADA

ETNOBOTÂNICA DE PLANTAS MEDICINAIS USADAS PELA COMUNIDADE INDÍGENA PANKARARU, PERNAMBUCO, BRASIL

Paola Andrea Londoño Castañeda

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Biologia Vegetal, da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obtenção do titulo de Mestre em Biologia Vegetal.

Orientadora: Dra. Laise de H. C. Andrade-UFPE Co-orientador: Dr. Antônio Fernando Moraes de Oliveira - UFPE

RECIFE 2010


PAOLA ANDREA LONDOÑO CASTAÑEDA

Etnobotânica de plantas medicinais usadas pela comunidade indígena Pankararu, Pernambuco, Brasil

Banca examinadora:

Profa. Dra. Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Orientadora)

Prof: Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque (1° membro)

Profa. Dra Valdeline Atanasio da Silva (2° membro)

Recife 2010


A minha m達e, fonte de amor infinito, ao meu pai, luz na eternidade. DEDICO.


……..Nuestra flora indígena y silvestre, que comprende las ―malas hierbas‖ esta compuesta por plantas ingeniosas y complicadas que narran la maravillosa historia de los más heroicos esfuerzos del alma de la flor……


Maurice Maeterlinck AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, que me colocou no caminho certo com as pessoas justas. Agradeço especialmente á comunidade Pankararu, por sua confiança e acolhimento, ás lideranças que possibilitaram

a oportunidade de me aproximar a sua cultura, às famílias indígenas que me

receberam e geraram mágicos momentos que inevitavelmente inspiraram a elaboração deste manuscrito; imensa gratidão para à Tia Lia, Vasco, Luciene, Tiago, Argenor, Zé Lucia e Solange, entre muitos outros Pankararu, pela amizade e importante participação no desenvolvimento deste trabalho; a todos os curandeiros, rezadeiros e parteiras que fundamentaram este estudo e partilharam generosamente seu saber tradicional. Á professora Laise de Holanda Cavalcanti Andrade, pelos ensinamentos e principlamente pela sempre calma e enriquecedora orientação, pela compreensão, respeito e dedicação durante a experiência do mestrado e pelos ricos momentos de discussão. Ao professor Antõnio Fernando Morais de Oliveira (UFPE) e à bióloga Ieda Ferreira (UFRPE), pela cumplicidade e compromisso durante a realização de algumas atividades da pesquisa. Ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pela oportunidade de crescimento acadêmico pessoal e por gerar o espaço propício para construir novas amizades. À FACEPE, pela bolsa concedida durante a totalidade do mestrado; à Dra. Rita de Cássia Pereira, Iane Rego, Keyla Miranda, e equipe do Instituto Agronômico de Pernambuco, IPA, pela colaboração na identificação das espécies; especialmente ao Biólogo João Paulo Amazonas, técnico do Herbário Geraldo Mariz (UFPE), pela dedicação no manejo e cuidado das plantas depositadas no herbário, assim como a Olivia Cano, por seu valioso auxilio na identificação das espécies. Agradeço a Hildebrando Silva e Manasés Bispo, pela simpatia durante a realização das questões burocráticas. Ao professor Renato Athias que me apresentou frente ás lideranças Pankararu favorecendo minha aceitação na comunidade, suas apreciações e recomendações iniciais representaram um ponto de vista que diversificou a abordagem da etnobotânica neste estudo. Aos meus amigos Priscilla, Marcus, Marciel e Katarina, pela disposição incondicional, e colaboração em momentos chaves durante a elaboração da dissertação. Aos colegas de aula e festa, Raquel, Keyla, Tiago, Ivo e Aretusa, pelos momentos de alegria e diversão. A Regina pela criatividade e adequada comunicação, fundamental para a obtenção da arte que acompanha este trabalho. À antropóloga Claudia Mura, pelo carinho e troca de percepções e impressões na aproximação ao entendimento dos processos de cura entre os Pankararu. Meu mais profundo agradecimento a Nonata, ao compadre França e seu filho Lucas, por me acolherem no seu lar, por oferecerem sua amizade e representarem minha família em Recife: seu apoio foi fundamental durante a fase final do mestrado. A minha família do sangue, que sempre acompanhou de perto cada fase do mestrado, principalmente a minha mãe que com sua sabedoria inspirou meu


crescimento e formação pessoal; a meu pai, pelo seu amor incondicional, pelo seu orgulho desbordado e confiança em mim, por ter respeitado e apoiado sempre minhas escolhas; a minhas irmãs Claudia e Jazmin, pela presença, doçura e fortaleza a cada momento da minha vida e a minha sobrinha Maria Luna, pela alegria inspiradora. Finalmente a Carlos José e Lucho, pela oportuna colaboração no desenho da cartilha sobre a flora medicinal. Muitas outras pessoas de alguma ou outra maneira fizeram parte desta experiência; a todos estes meu mais sincero sentimento de gratidão, sem dúvida um pouco de mim agora pertence a este lugar do planeta e um pouco do Recife levo comigo para sempre.

A todos, Muito obrigada!!


SUMARIO

1. Introdução ........................................................................................................................................... 1 2. Fundamentação teórica ....................................................................................................................... 4 3. Referências bibliográficas ................................................................................................................... 8 4. Capítulo 1 – A etnobotânica do sistema de cura dos índios Pankararu, Pernambuco, Brasil .................................................................................................................................................................... 13 Resumo ...................................................................................................................................................... 14 Abstract ........................................................................................................................................... .......... 16 1. Introdução .............................................................................................................................................. 17 2. Material e Métodos ............................................................................................................................... 18 2.1. Caracterização da área de estudo e da comunidade estudada ........................................................... 18 2.2. Coleta de dados................................................................................................................................... 20 2.3. Análise dos dados .............................................................................................................. 23 3. Resultados e discussão............................................................................................................ 23 3.1. O sistema de cura Pankararu, ciência e espiritualidade ......................................................... 22 3.2. A flora medicinal nas práticas de cura Pankararu ................................................................. 27 3.3. Consenso entre os informantes sobre o conhecimento medicinal ........................................ 48 3.4. Padrões de uso e conservação ........................................................................................................... 52 Agradecimentos ………....………………………………......……………………........................… 55 5. Referências bibliográficas …………………………......……………….........................………… 57 7. Listas de figuras e tabelas ................................................................................................................... 62 5. Capítulo 2 – Plantas medicinais de uso feminino na comunidade indígena Pankararu, nordeste do Brasil.......................................................................................................................................................... 64 Resumo .................................................................................................................................................... 65 Abstract..................................................................................................................................................... 66 1. Introdução ............................................................................................................................................. 67 2. Materiais e Métodos.............................................................................................................................. 70 2.1. Descrição da área de estudo e fisionomia vegetacional..................................................................... 70 2.2. Coleta de dados etnobotânicos............................................................................................................ 72 3. Resultados e discussão........................................................................................................... 73 3.1 Especialistas do sistema de cura e saúde feminina ................................................................ 3.2 As plantas medicinais de uso feminino e seus padrões de uso ............................................

73 76


3.3. Indicações terapêuticas para a mulher e seu recém nascido ..............................................

84

3.5 Percepção tradicional sobre toxicidade de plantas medicinais ……..........................……… 91 4. Conclusões ....... ................................................................................................................................. 92 Agradecimentos ...................................................................................................................................... 93 5. Referências bibliográficas.................................................................................................................... 93

6. Capítulo 3 - Flora medicinal das tribos indígenas Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Arariboia, nordeste do Brasil ..................................................................................................................

101

Resumo .................................................................................................................................................. 102 Abstract .................................................................................................................................................. 103 1. Introdução .......................................................................................................................................... 104 2. Material e Métodos ............................................................................................................................ 106 3. Resultados e Discussão ..................................................................................................................... 108 4. Conclusões ......................................................................................................................................... 123 Agradecimentos ...................................................................................................................................... 123 5. Referências bibliográficas ................................................................................................................... 124 6. Listas de figuras e tabelas ................................................................................................................... 133

7. Capitulo 4 - Avaliação preliminar da atividade genotóxica e mutagênica de plantas medicinais usadas pelos índios Pankararu, Pernambuco Brasil ......................................................................................... 134 Resumo ................................................................................................................................................. 135 Abstract ................................................................................................................................................... 134 1. Introdução .......................................................................................................................................... 136 2. Materiais e métodos ........................................................................................................................... 137 3. Resultados ......................................................................................................................................... 138 4. Discussão ............................................................................................................................................ 138 5. Conclusões ......................................................................................................................................... 141 Agradecimentos ...................................................................................................................................... 141 6. Referências bibliográficas .................................................................................................................. 142. 8. Resumo ............................................................................................................................................. 145 9. Abstract ............................................................................................................................................ 146


1. INTRODUÇÃO

A evolução do homem junto à natureza gerou o desenvolvimento de um rico e dinâmico conhecimento sobre os usos potenciais dos recursos vegetais; povos ancestrais do mundo inteiro conservaram este saber acumulado durante milênios sendo permeados e transformados pelo intercâmbio cultural durante o processo de globalização e aculturação a escala local (Voeks 2006). Elisabetsky & Castillo (1990) descrevem a etnobotânica como a principal fonte de informação sobre o uso empírico das plantas que contribui para a compreensão e descrição das relações entre ambiente e cultura. Prance (1991) complementa, argumentando que esta linha de conhecimento estuda as diferentes dimensões da relação do homem com as plantas, expressadas no conhecimento ecológico tradicional, abordando de maneira múltipla a maneira como o homem percebe, classifica e utiliza as plantas. Em escala global os estudos relacionados a plantas medicinais têm atingido evidente destaque dentre as diferentes áreas de conhecimento da etnobotânica (Craker 2007; Hamilton et al. 2003). A importância do uso da biodiversidade vegetal na medicina tem sido historicamente demonstrada; nos Estados Unidos da América do Norte, por exemplo, entre 1959–1980, cerca de 25% das drogas farmacêuticas prescritas tinham princípios ativos derivados de extratos de plantas superiores. Até aquela data, 120 medicamentos usados na medicina ocidental eram derivados de plantas e mantiveram aplicação medicinal semelhante à originalmente indicada por curandeiros tradicionais (Farnsworth et al. 1985). Neste contexto, Voeks & Leony (2004) argumentam que nas regiões tropicais o uso medicinal dos recursos vegetais tem recebido maior atenção por parte de pesquisadores da etnobotânica, devido ao grande interesse nos estudos de ―bioprospecção‖ enfocados à descoberta de compostos para novas drogas. Albuquerque

&

Hanazaki

(2006) argumentam que ciências como a etnobotânica e etnofarmacologia têm demonstrado sua eficácia como ferramentas na busca de substâncias naturais de ação terapêutica. Cox (1994) conclui de maneira similar que o método etnobotânico é o meio mais rápido e eficiente de determinação de espécies vegetais de interesse para estudos mais aprofundados. A etnobotânica é apenas o primeiro passo na descoberta de novos medicamentos; estudos sobre os constituintes químicos responsáveis

pela ação terapêutica com a correspondente caracterização

fitoquímica e cromatográfica, análises farmacológicas e informações sobre efeitos colaterais e tóxicos, precisam ser realizados com o propósito de avaliar a eficácia e segurança das plantas de uso na medicina tradicional (Di Stasi 2005). Na área farmacêutica, as plantas e os extratos vegetais são de grande relevância, tendo em vista a utilização das substâncias ativas como protótipos para o desenvolvimento de fitofármacos e como fonte de matérias-primas farmacêuticas e para a elaboração de medicamentos à base de extratos vegetais (Schenkel et al. 2001). Neste contexto, no Brasil, foi estabelecida em 1995 uma legislação (Portaria


6/SVS de 31/1/1995), que define o fitoterápico como um medicamento com componentes ativos exclusivamente de origem vegetal, o qual precisa da comprovação da sua eficácia, assim como da segurança e qualidade; também foram estabelecidos prazos para a realização de estudos de eficácia e toxicidade dos produtos já comercializados. De maneira complementar, foi estabelecida no Ministério da Saúde e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) uma divisão direcionada para a regulamentação no desenvolvimento de fitoterápicos, com o intuito de melhorar a qualidade dos produtos comercializados.

A nível local o uso dos recursos vegetais para o cuidado da saúde nas comunidades

tradicionais carece mais ainda de segurança na ingestão de plantas medicinais, sendo o conhecimento empírico a única ferramenta disponível neste sentido. Por outro lado, apesar da forte dependência das comunidades tradicionais da diversidade biológica para a sua própria sobrevivência e suas práticas culturais, nas últimas décadas, o processo de aculturação social e econômica tem ocasionado a perda das práticas ancestrais que envolvem o conhecimento tradicional de uso e aproveitamento dos recursos naturais (Gross et al. 1979); conseqüentemente, muitas comunidades rurais estão substituindo o emprego dos recursos vegetais locais por medicamentos sintéticos. Esta situação é ainda mais agravante em países assistencialistas, onde as políticas nacionais de inserção do sistema biomédico em comunidades aborígenes podem minar o interesse dos indígenas pelas práticas tradicionais de cura; contudo, a erosão do conhecimento botânico tradicional e a forte pressão sobre os ecossistemas com a acelerada destruição dos bosques constituem uma dupla ameaça à conservação dos recursos vegetais com potenciais terapêuticos. Neste sentido, Voeks (2007) afirma que em países como Samoa, Kenia, e a região nordeste do Brasil a deflorestação em larga escala diminui a possibilidade de acesso às espécies medicinais. Exceto em umas poucas ocasiões, as práticas tradicionais de manejo dos recursos naturais não representam fortes ameaças aos recursos genéticos. Diegues (1996) explica neste sentido que, para as culturas nativas, suas tradições encontram-se carregadas de elementos da natureza que apresentam grande interesse social e cultural, o que implica a manutenção destes recursos no contexto natural; afirma também que geralmente recursos vegetais são usados com fins de subsistência, sem implicar comercialização e sim garantindo sua conservação. Devido à perda gradativa da biodiversidade e ao acelerado processo de aculturação, os estudos etnobotânicos sobre o conhecimento local dos recursos naturais têm atingido grande importância na conservação da vegetação nativa; sendo assim, os estudos que caracterizam as práticas tradicionais sustentáveis de uso e manejo da flora fornecem subsídios que devem ser considerados para definir estratégias e ações para a conservação e a recuperação dos recursos vegetais (Gazzaneo et al. 2005). Nos últimos anos, estudos etnobotânicos têm fornecido valiosas contribuições para o manejo e conservação dos recursos naturais; é por isto que cada vez mais autores abordam hipóteses ecológicas com implicações na conservação, através de estudos etnodirigidos. Uma importante referência nesta


dimensão da etnobotânica são os estudos realizados por Posey (1987) sobre os Kayapó,

que

desenvolveram um elaborado sistema de manejo sustentável das florestas onde subsistem. Na região nordeste do Brasil, poucos estudos têm sido desenvolvidos, em parte pelo pouco interesse que têm despertado as tribos indígenas nordestinas (Arruti 1996) e pela suscetibilidade e receio das comunidades nativas frente à realização de estudos que abordem o conhecimento tradicional para os processos de cura (Albuquerque 2001).Considerando a degradação dos ambientes naturais concatenada com a perda do saber ancestral sobre o uso medicinal das plantas, este estudo visa contribuir para o resgate e valorização deste conhecimento, implicando a conservação dos recursos vegetais. Neste sentido, são apresentadas informações sobre plantas de uso terapêutico pela comunidade indígena Pankararu, assentada em ambiente de Caatinga, com especial atenção para as espécies nativas, fornecendo subsídios para o aproveitamento de algumas espécies de maior importância para a comunidade.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O Brasil é mundialmente considerado como um dos países com maior diversidade genética vegetal e conta com mais de 55.000 espécies catalogadas, de um total estimado entre 350.000 e 550.000 para as regiões tropicais (Guerra & Nodari 2001). Os estudos realizados por Shaman Pharmaceuticals destacam que das 500 mil espécies da flora tropical a maioria não foi ainda descrita pelos cientistas; indicam, ainda, que um grande número de espécies foram examinadas muito superficialmente para a sua aplicação farmacológica e médica, e que menos de 1% dessas espécies tem sido amplamente investigadas quanto ao uso potencial como novos agentes terapêuticos (King et al. 1996). No final do Século XX, Gottlieb et al. (1996) comentavam que a maioria das plantas descritas com usos medicinais no Brasil eram desconhecidas quimicamente pela ciência. Nos tempos atuais, ainda existe um enorme vazio no conhecimento dos princípios ativos e da atividade biológica das espécies nativas, assim como uma grande carência de estudos básicos de toxicidade que forneçam insumos para o melhoramento e uso adequado e seguro destes recursos vegetais na preparação de fitoterápicos (Elisabetsky et al. 2001). Há cerca de uma década, Elisabetsky & Castillo (1990) afirmaram que o conhecimento das populações humanas sobre o uso medicinal é uma fonte básica de informações para a descoberta de espécies promissoras. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde considera fundamental a realização de estudos experimentais sobre os princípios ativos das plantas com potenciais terapêuticos. Assim, são necessários estudos que efetuem levantamentos sobre a flora medicinal nas diferentes regiões brasileiras, permitindo que algumas plantas sejam estudadas, validadas e posteriormente adotadas nos programas de atenção primária a saúde, com diversos benefícios, tanto sociais como econômicos (Matos 1997). Os primeiros estudos etnobotânicos se dedicavam a documentar o potencial de uso da flora local, empregando uma abordagem essencialmente descritiva, com o objetivo de registrar e catalogar plantas úteis (Oliveira et al. 2009). Atualmente, diversos aspectos têm sido abordados no desenvolvimento desta ciência interdisciplinar, implicando aspectos epistemológicos e metodológicos das ciências naturais e


sociais (Hamilton et al. 2003); um destes aparece através de interessantes sinergias que tem-se desenvolvido entre ciências como a etnobotânica e etnofarmacologia, no processo de validação dos recursos fitoterápicos (Albuquerque & Hanazaki 2006). No contexto acadêmico, a implementação de programas como Farmácias Vivas, desenvolvido no estado do Ceará, região nordeste do Brasil, sob a coordenação do Dr. Francisco José de Abreu Matos, evidencia a possibilidade de aproveitamento das plantas de uso local através da elaboração de fitoterápicos com atividade biológica cientificamente comprovada, que podem ser oferecidos a menores custos para comunidades economicamente limitadas (Matos 1997). Como apontado anteriormente, além do estudo dos efeitos farmacológicos dos extratos vegetais, as plantas com potencial terapêutico precisam também ser estudadas quanto à presença de substâncias com efeitos tóxicos, uma vez que espécies vegetais usadas popularmente para o tratamento da saúde fazem parte de um conhecimento que é obtido pela tradição oral. Deve-se lembrar, ainda, a crença popular de que remédios a base de plantas por serem naturais não fazem mal. Neste sentido, Gadano et al. (2006), em pesquisa realizada na Nigéria, demonstraram que, apesar das diversas vantagens das espécies validadas cientificamente,

comumente estas plantas possuem componentes potencialmente tóxicos,

mutagênicos, cancerígenos e teratogênicos desconhecidos pelos usuários. No Brasil, os índices do Ministério da Saúde apontam a ocorrência de cerca de 2.000 casos por ano de intoxicações com plantas, 95% deles com humanos. Algumas das espécies responsáveis pelos casos de intoxicação são Dieffenbachia pica (Lodd.) Scott., Jatropha curcas L., Jatropha gossypifolia L., Ricinus communis L. (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2010). Estudos realizados com comunidades tradicionais no Nordeste do Brasil revelam plantas com toxicologia conhecida mas que são de uso freqüente para o tratamento da saúde; entre a flora medicinal empregada tradicionalmente pela tribo indígena Tapeba, no estado do Ceará, se encontram espécies com efeitos tóxicos, teratogênicos e abortivos, tais como: Acanthospermum hispidum DC., Cajanus cajan (L.) Mill. Chenopodium ambrosioides var. anthelminticum (L.) A. Gray e Phyllanthus amarus Schum. et Thonn. (Morais et al. 2005). Albuquerque et al. (2007) reportaram a venda comum de Luffa operculata L., Ruta graveolens L., Chenopodium ambrosioides L., Symphytum officinale L. e espécies do gênero Jatropha como medicinais, embora possuam efeitos nocivos cientificamente comprovados; segundo estes autores, casos de intoxicações são devidos ao uso inadequado das plantas ou ao seu emprego como abortivas. Estudos etnobotânicos realizados nas regiões tropicais têm avaliado a utilização de recursos fitoterápicos com o propósito de apontar propostas para seu uso sustentável. Na Região Nordeste do Brasil Melo et al. (2008), Oliveira et al. (2007) e Silva & Andrade (2005), entre outros, têm fornecido importantes informações sobre os padrões de uso de espécies brasileiras. Quando avaliada a perda dos recursos naturais e do conhecimento tradicional em relação à origem dos recursos vegetais de importância nas comunidades tradicionais, Amorozo (2001) afirma que alterações antrópicas nos ecossistemas


naturais determinam mudanças nos padrões de uso local, ocasionando a diminuição na disponibilidade de espécies nativas e espontâneas; a esse respeito, Voeks & Leony (2004) encontraram numa comunidade rural brasileira que a perda do conhecimento sobre plantas medicinais apresenta correlação direta com o processo de modernização, quando relacionadas variáveis como idade, sexo, grau de analfabetismo e baixo nível de educação formal; no entanto, a influência extra-cultural nas comunidades tradicionais brasileiras continua sendo um tema controverso, já que diversos fatores podem determinar o emprego de espécies introduzidas na medicina tradicional, podendo ou não refletir na degradação ambiental. Segundo Voeks (2004), a alta proporção de espécies de plantas cosmopolitas nas listas de plantas medicinais pode ser interpretada como o resultado do processo dinâmico de enriquecimento da flora medicinal ao redor do mundo, resultando num repertório diversificado à disposição das comunidades para os cuidados da saúde. Todavia, entre comunidades indígenas o processo de aculturação é ainda mais intenso e merece maior interesse por parte de cientistas das etnociências. Entre os pesquisadores que têm efetuado estudos sobre o conhecimento botânico tradicional e o uso e conservação de plantas e animais nos diferentes ecossistemas do Brasil, se destacam para a região nordeste as pesquisas desenvolvidas por Albuquerque et al. (2008), Silva & Andrade (1998) e Silva et al. (2005, 2006), os quais têm documentado aspectos sobre as práticas de uso e aproveitamento dos recursos naturais pelas comunidades indígenas Fulni-ô e Xucuru, no ecossistema de Caatinga e nos ambientes de Brejo de Altitude, em áreas do interior do estado de Pernambuco. Por outro lado, como apontado anteriormente, apesar da maioria dos medicamentos modernos ter se desenvolvido a partir de plantas usadas tradicionalmente, pouco se conhece sobre a origem destas informações, principalmente em relação à descoberta de fármacos, e sua relação com o conhecimento dos povos indígenas nas florestas tropicais. Durante longo tempo, incontáveis abusos têm sido feitos às comunidades indígenas e de afro-descendentes, tanto por cientistas como por instituições de investigação e empresas farmacêuticas, ao ignorar os direitos de proteção do conhecimento tradicional das comunidades que têm uma história de uso e aproveitamento destes recursos naturais; além disso, existem escassas menções ao respeito dos benefícios equitativos gerados pelas pesquisas etnobotânicas em retribuição aos povos abordados. Elisabetsky (2003), no seu estudo sobre direitos de propriedade intelectual e distribuição de benefícios, sugere diversas formas de efetuar ações de reciprocidade frente às comunidades tradicionais. Autores vinculados à empresa Shaman Pharmaceuticals, cujo principal propósito é a bioprospecção em regiões tropicais para a descoberta de novos produtos farmacêuticos destacam que das 500 mil espécies da flora tropical a maioria não foi ainda descrita pelos cientistas; indicam, ainda, que um grande número de espécies foram examinadas muito superficialmente para a sua aplicação farmacológica e médica, e que menos de 1% dessas espécies tem sido amplamente investigadas quanto ao uso potencial como novos agentes terapêuticos (KING et al., 1996). Atualmente, se levanta a problemática mundial sobre a propriedade intelectual comunitária e os direitos que lhe são implícitos e explícitos. Surge, também, o aspecto crucial das patentes, individuais ou


comunitárias, temas que os protocolos dos convênios de Diversidade Biológica do Rio de Janeiro (1992) e Kyoto (1997) enfrentaram em sua regulamentação e implementação (Forero 2004). Albuquerque & Hanazaki (2006) descrevem algumas questões éticas das pesquisas etnobotânicas e etnofarmacológicas no panorama atual e lembram que o Brasil tem avançado no estabelecimento de políticas nacionais para a proteção dos recursos genéticos, através de uma Medida Provisória que regulamenta o acesso ao conhecimento tradicional associado aos recursos genéticos por meio da autorização de acesso deliberada pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) do Ministério do Meio Ambiente. No entanto, o processo burocrático que

esta medida acarreta limita a realização de pesquisas nas áreas

etnofarmacológicas, uma vez que as exigências do CGEN implicam uma quantidade de tempo muitas vezes indisponível para os pesquisadores. Nos Estados Unidos da América do Norte, Marinova & Raven (2006) concluem que a criação de políticas de proteção à propriedade intelectual é realmente difícil, devido às características do conhecimento tradicional nas diferentes etnias do mundo, sendo este concebido como de caráter holístico e coletivo, e argumentam que as possibilidades atuais de proteção à propriedade intelectual são limitadas ao reconhecimento dos direitos indígenas. Frente a esta realidade, o fato positivo é que hoje as comunidades tradicionais têm maior esclarecimento sobre o benefício econômico justo e eqüitativo derivado do acesso aos recursos genéticos e ao conhecimento associado a ditos recursos (Forero 2004). Além das restrições legais para a realização de estudos que envolvam acesso ao conhecimento tradicional e aos recursos genéticos, o respeito ao conhecimento tradicional dos curandeiros tradicionais e a procura de ações recíprocas que beneficiem as comunidades detentoras do conhecimento tradicional devem ser responsabilidade dos próprios pesquisadores que registram dito saber.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Albuquerque, U. P. 2001. The use of medicinal plants by the cultural descendants of African people in Brazil. Acta Farmaceutica Bonaerense 20: 139-144.

Albuquerque, U. P. & Hanazaki, 2006. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e perspectivas. Revista Brasileira de Farmacognosia 16: 678-689.

Albuquerque, U. P; Monteiro, J.M.; Ramosa, M. A.; Amorim, E. L. C. 2007. Medicinal and magic plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology 110:76–91.


Albuquerque, U.P.; Silva, V.A.; Cabral, M. C.; Alencar, N. L. & Andrade, L. H. C. 2008.Comparisons between the use of medicinal plants in indigenous and rural caatinga (dryland) communities in NE Brazil. Boletín Latinoamericano y del Caribe de Plantas Medicinales y Aromáticas 7:156-170.

Amorozo, M. C. M. 2001. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasílica 16(2): 189-203. Arruti, J. M. A. 1996. O Reencantamento do Mundo – Trama, história e arranjos territoriais Pankararu. Dissertação de mestrado, Museu Nacional, Rio de Janeiro.

Cox, P. A. & Balick, M. J. 1994. The ethnobotanical approach to drug discovery. Scientific American 6: 82-87.

Craker, L. E. 2007. Medicinal and aromatic plants - Future opportunities. In: Issues in new crops and new uses. Pp.248-259. In: J. Janick & A. Whipkey (eds.). ASHS Press. Alexandria, V.

Di Stasi, L.C. 2005. An integrated approach to identification and conservation of medicinal plants in the tropical forest - a Brazilian experience. Plant Genetic Resources 3:199-205.

Diegues, A. C. 1996. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: Hucitec. 169p.

Elisabetsky, E. 2001. Etnofarmacologia como ferramenta na busca de substâncias ativas. Pp. 91-104. In: Simões, C.M.O.; Schenkel, E.P.; Gosman, G.; Mello, J.C.P.; Mentz, L.A.; Petrovick, P.R. (eds). Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3ª ed. Porto Alegre: UFSC.

Elisabetsky, E. 2003. Direitos de propriedade intelectual e distribuição equitativa de benefícios no contexto de inovação tecnológica. In: Anais do I Simpósio de Etnobiologia e Etnoecologia da região Sul: aspectos humanos da biodiversidade. Florianópolis: SBEE, p. 170-174.

Elisabetsky, E. & Castilhos, Z.C. 1990. Plants used as analgesics byAmazonian caboclos as a basis for selecting plants for investigation. International Journal of Crude Drug Research 28: 309-320.

Farnsworth, N. R.; Akerele, O.; Bingel, A. S., Soerjato, D. D. & Guo, Z.G. 1985. Medicinal plants in therapy. Bull World Health Organization 63: 965-981.


Forero, L.P. 2004. Contribuciones de la Etnobotánica al desarrollo de la investigación en plantas medicinales. Pp. 1 -13. In: Libro de resumo do II Seminario Internacional de plantas medicinales y aromáticas y Foro sobre mercado. Palmira, Colombia, .

Gadano, A.; Gurni, A., López, P.; Ferraro, G.; Carballo, M. 2002. In vitro genotoxic evaluation of the medicinal plant Chenopodium ambrosioides.L. Journal of Ethonopharmacology 81: 11-16.

Gottlieb, O. R.; Kaplan, M. A. C. & Borin, M. R. M. B. 1996. Biodiversidade. Um enfoque químicobiológico. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.

Gross, D.R.; Eiten, G.; Flowers, N.M.; Ritter, M.L. & Werner, D.W. 1979. Ecology and acculturation among native peoples of Central Brazil. Science 206: 1043-1050. Guerra, M. P. & Nodari, R. O. 2001. Biodiversidade: aspectos biológicos, geográficos, legais e éticos. P. 13-26. In: Simões, C. M. O.; Schenlel, E.P.; Gosmann, G.; Mello, J. C. P.; Mentz, L. A.; Petrovick, P. R. (Orgs.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3.ed. Porto Alegre/Florianópolis: Editora da Universidade UFRGS / Editora da UFSC.

Hamilton, A.C.; Shengji, P.; Kessy, J.; Khan, A.A.; Lagos-Witte, S.; & Shinwari, Z.K. 2003. The purposes and teaching of applied Ethnobotany. People and Plants working paper 11. WWF, Godalming, UK.

King, S.R. ; Carlson, T. J.

& Moran, K. 1996. Biological diversity, indigenous knowledge, drug

discovery and intellectual property rights: creating reciprocity and maintaining relationships Journal of Ethnopharmacology 51: 45-57

Marinova, D. & Raven, M. 2006. Indigenous knowledge and intellectual property: a sustainability agenda. Journal of Economic Surveys 20(4): 587-605.

Matos, F. J. A. 1997. O formulário fitoterápico do Professor Dias da Rocha. 2ª ed. Editora UFC. Fortaleza, 124p.

Melo, J. G.; Amorim, E. L. C. & Albuquerque, U. P. 2009. Native medicinal plants commercialized in Brazil – priorities for conservation. Environmental Monitoring and Assessment 156:567-580.


Ministério da Saúde, Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. 2009. In: Nascimento Junhor,

J.

M.;

Torre,

K.R.;

Alves,

R.

M.

S.

(org)

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/plantas_medicinais.pdf. Acesso em 25 abril 2010.

Morais, S. M.; Dantas, J. P.& da Silva, A. R 2005. Plantas medicinais usadas pelos índios Tapeba do Ceará. Revista Brasileira de Farmacognosia 15(2): 169-177.

Oliveira, F. C.; Albuquerque, U. P.; Fonseca-Kruel, V. S. & Hanazaki, N. 2009. Avanços nas pesquisas etnobotânicas no Brasil. Acta botanica brasilica 23(2): 590-605.

Phillips, O. & Gentry, A.H. 1993. The useful plants of Tambopata, Peru: I. Statistical hypotheses tests with a new quantitative technique. Economic Botany 47(1): 15 . 32.

Posey, D. A. 1987. Manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados. In: Ribeiro, D. (org.) Suma etnológica brasileira. 2 ed. Petrópolis: Vozes, p.173 – 185,

Prance, G.T. 1991. What is Ethnobotany today. Journal of Ethnopharmacology 32: 209-216.

Gazzaneo, L.R.; Lucena, R.F. & Albuquerque, U.P. 2005. Knowledge and use of medicinal plants by local specialists in a region of Atlantic Forest in the state of Pernambuco (Northeastern Brazil). Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 1(9): 1-8.

Schenkel, E. P.; Gosmann, G. & Petrovick, P. R. 2001. Produtos de origem vegetal e desenvolvimento de medicamentos. P. 301 – 332. In: Simões, C. M. O.; Schenkel, E. P.; Gosmann, G.; Mello, J. C. P.; Mentz, L. A,;. Petrovick, P. R. (Orgs.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3.ed. Porto Alegre/Florianópolis: Editora da Universidade UFRGS / Editora da UFSC.

Silva , A. J. R. & Andrade, L. H. C. 2005. Etnobotânica nordestina: estudo comparativo da relação entre comunidades e vegetação na Zona do Litoral - Mata do Estado de Pernambuco, Brasil. Acta Botanica Brasilica 19(1): 45-60.

Silva, V. A. & Andrade, L. H. C. 1998. Etnobotânica Xucuru: plantas medicinais. Revista Brasileira de Farmácia 79(1/2): 33-36.

Silva, V. A.; Andrade, L. H. C. & Albuquerque, U. P. 2005. Variação intracultural no conhecimento sobre plantas: o caso dos índios Fulni-ô. Pp. 237-262. In: U P. de Albuquerque; C. F. C. B. R. Almeida


& J F. A. Marins (Orgs.). Tópicos em conservação, etnobotânica e etnofarmacologia de plantas medicinais e mágicas. 1 ed. Recife: Livro Rápido.

Silva, V. A.; Andrade, L. H. C. & Albuquerque, U. P. 2006. Revising the Cultural Significance Index: The Case of the Fulni-ô in Northeastern Brazil. Field Methods 18(1): 98-108.

Voeks, R. A. 2007. Are women reservoirs of traditional plant knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in northeast Brazil. Journal of Tropical Geography 28: 7–20.

Voeks, R. A. & Leony, A. 2004. Forgetting the forest: assessing medicinal plant erosion in eastern Brazil1.Economic Botany 58: 294–306.



A etnobotânica do sistema de cura dos índios Pankararu, Pernambuco, Brasil Paola Andrea Londoño Castañeda1*, Antônio Fernando Morais de Oliveira3 e Laise de Holanda Cavalcanti Andrade²

RESUMO(A etnobotânica do sistema de cura dos índios Pankararu, Pernambuco, Brasil). Pesquisas etnobotânicas e

etnofarmacológicas têm contribuído

com importantes

informações para o

desenvolvimento de novos medicamentos, conservação de espécies vegetais nativas e valorização do saber tradicional. Neste trabalho são abordados aspectos relacionados à farmacopéia indígena Pankararu, cujas aldeias distribuem-se nos municípios de Jatobá, Petrolândia e Tacaratu, no sertão de Pernambuco. A pesquisa foi realizada junto a 46 especialistas na medicina Pankararu, por meio de entrevistas semiestruturadas, com uso de formulários padronizados, oficinas participativas, permanência nas aldeias e visitas às áreas de cultivo e de vegetação natural. Foi caracterizada a flora medicinal local e os padrões de uso da mesma, incluindo forma de preparo, emprego, parte da planta utilizada, qualidades terapêuticas, efeitos colaterais e contra-indicações. Foi calculada a importância relativa (IR) das espécies vegetais e avaliado o consenso entre os informantes para cada espécie documentada (FCI). O sistema de cura Pankararu, caracterizado por fortes elementos xamânicos e religiosos, abrange um rico e vasto conhecimento sobre as qualidades terapêuticas dos recursos vegetais. As indicações terapêuticas tradicionais foram enquadradas em 19 sistemas corporais. Curandeiros (as), rezadeiros (as) e parteiras citaram 223 espécies com propriedades terapêuticas, das quais 190 foram identificadas e enquadradas em 75 famílias, destacando-se Euphorbiaceae, Asteraceae, Leguminosae e Lamiaceae. A predominância do uso da casca, com 38% da amostra total, em relação à folha (23%) e raiz (26%), foi atribuída à disponibilidade do recurso tanto na seca como nas chuvas. Todavia, na flora medicinal local destaca-se o uso de ervas, que correspondem a 42% da amostra, a maioria exótica. Dentre as 24 espécies que apresentaram IR > 1, destacaram-se Myracrodruon urundeuva Allemão, Ximenia americana L., Anacardium occidentale L., Hyptis mutabilis Briq., Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn., Caesalpinia pyramidalis Tul. e Chenopodium ambrosioides L., com valores que variam entre 1,85 e 1,45. Maior consenso entre os informantes (FCI >0,6) foi encontrado em relação às espécies citadas para os sistemas reprodutivo e respiratório, seguidos pelos sistemas digestório, circulatório, endócrino, renal e imunológico. A flora medicinal local encontra-se constituída tanto por espécies nativas como por exóticas, sendo o grupo das nativas composto principalmente por plantas lenhosas, das quais é empregada


intensamente a casca. Espécies da medicina tradicional apresentaram contra-indicações e restrições de uso, em concordância com a comprovação cientifica da presença de compostos com efeitos tóxicos. Se registra o emprego de plantas vasculares raras na medicina tradicional brasileira, como as pteridófitas Anemia tomentosa (Sw.) Sw.e Selaginella convoluta (Arn) Sprig e as espécies liquênicas Canoparmelia salacinifera

(Hale) Elix & Hale, Parmotrema wrightii Ferraro & Elix (Parmeliaceae) e Heterodermia

galactophylla (Tuck.) Culb. (Physciaceae), indicadas com ação no sistema digestório, sem relato etnofarmacológico prévio na região tropical.

Palavras-chave- caatinga, conhecimento tradicional, padrões de uso, líquen medicinal, plantas tóxicas.


ABSTRACT(The Ethnobotany of Pankararu Indians’ healing system, Pernambuco, Brazil). Ethnopharmacological and ethnobotanical studies have contributed with important information for new medicines development, conservation of native plant species and enhancement of traditional knowledge. In this work are examined aspects of Pankararu indigenous pharmacopeia, whose villages are distributed in the municipalities of Jatoba, Petrolândia and Tacaratu in Pernambuco. The survey was conducted among 46 experts in Pankararu medicine through semi-structured interviews, use of standardized forms, participatory workshops, stay in the villages and visits to areas of cultivation and natural vegetation. The local medicinal flora and its use patterns were characterized, including preparation, use, plant part used, therapeutic qualities, side effects and contraindications. The relative importance (RI) of plant species was calculated and the consensus among informants for each species documented was assessed (FCI). The Pankararu healing system, characterized by strong religious and shamanic elements, includes a rich and vast knowledge about the therapeutic qualities of plant resources. Traditional therapeutic indications were grouped into 19 body systems. Healers, mourners and midwives cited 223 species with therapeutic properties, of which 190 were identified and grouped into 75 families; highlighting the Euphorbiaceae, Asteraceae, Fabaceae and Lamiaceae. The prevalence of bark use with 38% of total sample in relation to the leaf (23%) and roots (26%) was attributed to resources availability in both dry and in rainy seasons. However, the use of herbs, most exotic, which represent 42% of sample, is highlighted in the local medicinal flora. Among the 24 species with RI> 1, Myracrodruon urundeuva Allemão, Ximenia americana L., Anacardium occidentale L., Hyptis mutabilis Briq., Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn., Caesalpinia pyramidalis Tul. and Chenopodium ambrosioides L. stood out with values ranging between 1.85 and 1.45. Greater consensus among informants (FCI> 0.6) was found for species cited for reproductive and respiratory systems, followed by the digestive, circulatory, endocrine, renal and immune. The local medicinal flora is constituted both by native and exotic species, with the native group mainly composed of native woody plants from which the bark is intensively used. Species of traditional medicine had contraindications and use restrictions in accordance with the scientific evidence for the presence of toxic compounds. If is recorded the use of rare vascular plants in Brazilian traditional medicine, such as the pteridophyta Anemia tomentosa (Sw.) Sw.e Selaginella convoluta (Arn) Sprig e as espécies liquênicas Canoparmelia salacinifera (Hale) Elix & Hale, Parmotrema wrightii Ferraro & Elix (Parmeliaceae) and Heterodermia galactophylla (Tuck.) Culb. (Physciaceae) indicated with action in the digestive system without prior ethnopharmacological account in the tropical region.

Keywords: caatinga, traditional knowledge, use patterns, medicinal lichen, poisonous plants.


1. Introdução Conhecimento tradicional refere-se ao saber acumulado durante anos e transmitido entre gerações, no decorrer do tempo (Martin 1995). Para algumas comunidades, a fitoterapia tradicional representa o único recurso acessível para o tratamento da saúde (Forero 2004); estima-se que nos países em desenvolvimento, como os localizados na Ásia e África, 80% da população depende da medicina tradicional para os cuidados básicos da saúde (Organização Mundial da Saúde 2008). A etnobotânica tem aumentado cada vez mais o conhecimento científico sobre as plantas utilizadas popularmente como medicinais, despertando o interesse por parte dos pesquisadores pelas substâncias nelas encontradas, visando a produção de novos medicamentos (Posey 1992). Estudos etnofarmacológicos fornecem bases científicas para a validação do conhecimento tradicional sobre o uso terapêutico de espécies vegetais (Di-Stasi et al. 1996) e muitas das espécies indicadas em pesquisas etnobotânicas foram validadas em laboratórios das áreas farmacêuticas e biomédicas, quanto a sua eficácia, propriedades terapêuticas e presença de substâncias biologicamente ativas. Neste sentido, DiStasi et al. (1996) sinalizam que cada vez mais estas espécies estão sendo amplamente utilizadas como base natural pela medicina alternativa. Albuquerque (2001) ressalta que as abordagens e implicações da etnobotânica, a partir da descoberta de substâncias bioativas de origem vegetal, possibilitam pesquisas visando a aplicação médica e industrial, incrementando nas últimas décadas o interesse pelos compostos químicos naturais no âmbito cientifico. A etnobotânica aplicada oferece assim benefícios potenciais para o desenvolvimento direcionado, ao criar oportunidades para a melhoria dos sistemas de saúde, reduzindo o consumo de fármacos que podem ser muito caros nos países em desenvolvimento (Hamilton et al. 2003). A aproximação ao conhecimento tradicional tem sido realizada quantitativamente, através de índices que avaliam a inter-relação das populações com os recursos naturais (Begossi 1996); conceitos ecológicos de diversidade têm sido aplicados nas análises destinadas a resolução de problemas ambientais


e de desenvolvimento sustentável (Ribeiro et al. 2002). Alguns autores propõem a implementação de índices que avaliem a importância das espécies como recursos úteis dentro de uma cultura (Prance et al. 1987; Phillips & Gentry 1993); acredita-se, que através destas ferramentas é possível priorizar a seleção de plantas para futuras pesquisas etnofarmacológicas. A abordagem qualitativa tem sido realizada por diferentes áreas das ciências com características interdisciplinares, entre as quais se incluem a etnobotânica e a antropologia cultural, que têm estudado os sistemas de cura, ritos e práticas xamânicas relacionadas com o cuidado da saúde nas culturas aborígenes. Estes estudos refletem que o conhecimento botânico tradicional, vinculado ao sistema de cura, manifesta uma forte relação entre o simbólico, o natural e o cultural, exigindo que o etnobiólogo ou antropólogo evite preconceitos típicos da sociedade à qual pertence, com o propósito que possa compreender a cultura da sociedade que observa, os conceitos metafísicos envolvidos e a interpretação da ―realidade‖ dos povos nativos. Segundo Martin (1995), nas tribos indígenas e quilombolas, a distinção entre interpretação e realidade se torna ainda mais complicada quando são considerados níveis mais elevados de abstração; o referido autor exemplifica esta questão com a existência de espíritos ou seres e forças mitológicos, que desempenham um papel importante dentro da cultura, em relação aos processos de cura. Assim sendo, é importante considerar que a aproximação ao entendimento do processo saúde-doença em povos ameríndios implica âmbitos não meramente físicos, uma vez que crenças e ritos operam nos níveis psicológico e psicobiológico na cura de sintomas (Langdon 1974). Neste estudo foi realizada a abordagem das práticas do sistema de cura Pankararu, a partir de entrevistas junto aos especialistas da medicina tradicional, empregando técnicas qualitativas e quantitativas da etnobotânica com o objetivo de caracterizar e documentar a flora medicinal local.

2. Materiais e métodos 2.1 Caracterização da área de estudo e da comunidade estudada A comunidade indígena Pankararu ocupa a área homologada pelo governo como ―Terra Pankararu‖, distribuída numa extensão de 8.100 ha entre a Serra Grande e a Serra da Borborema, próxima às margens do Rio São Francisco, nos municípios de Petrolândia, Tacaratu e Jatobá, demarcada nas coordenadas geográficas 09°07'16"S e 38°15'25"WGr ao norte e 09°11'56"S e 38°13'52"WGr ao sul (Fig. 1). Localizado em pleno sertão pernambucano, o território Pankararu limita-se com os estados de Alagoas e Bahia e é ocupado por uma população de 4.850 habitantes, distribuídos em 13 aldeias (Socioambiental 2005). Os Pankararu foram reconhecidos oficialmente pelo Estado brasileiro em 1938 e, como todas as comunidades indígenas do Brasil, tiveram conflitos fundiários de redistribuição do território, tendo dificuldades na demarcação das suas terras, deixando como conseqüência alterações profundas na sua cultura (Athias 2002). A agricultura de subsistência é a principal atividade produtiva na comunidade, apresentando fortes limitações quanto à disponibilidade de terra e sendo limitada pela forte sazonalidade


climática. As áreas férteis permitem o desenvolvimento de uma agricultura diversa onde predomina o milho, diferentes tipos de feijão, mandioca, cana-de-açúcar e fruteiras (Socioambiental 2005). A precipitação média anual registrada oscilou entre 266,6-786,5 mm; a pluviosidade apresenta o típico padrão para a região semi-árida, com picos pluviométricos nos meses de março e abril, sendo setembro e outubro os meses mais secos, com ausência de chuvas; a umidade relativa do ar para a região tem valores máximos de 76 % e mínimos de 59 % (Embrapa 2009). A espiritualidade e cosmogonia Pankararu estão fundamentadas na relação do homem com os encantados, estes últimos manifestados no mundo dos vivos através dos praiás1 e o grupo dos penitentes, ambos mediadores no sistema de cura mágico religioso (Matta 1996). Os primeiros são manifestados durante o Toré, que como na maioria das tribos nordestinas, é o principal rito dentre os Pankararu; esta dança ritual faz parte da principal celebração Pankararu na Corrida do umbu, e das outras celebrações mágico-religiosas que caracterizam esta tradição indígena, destacando-se também o Menino no rancho, outra importante celebração local. A Corrida do umbu acontece uma vez no ano, ligada ao aparecimento dos primeiros frutos do umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Câm.) e coincide com o período da Quaresma, no calendário da Igreja Católica; esta festa é realizada durante quatro finais de semana, iniciando com o ―flechamento‖ do imbu – quando o primeiro umbu maduro aparece, o fruto é envolto em uma folha e colocado numa forquilha a um metro do chão, para ser disparado pelos praiás com uma flecha e marcar assim o inicio do ritual – e continuando com outra série de rituais, como predição e augúrio das práticas agrícolas; este ritual acontece no final da estação seca, antes do período do plantio, cujo sucesso depende das chuvas (Matta 1996). O Menino no rancho é uma celebração realizada como pagamento de uma promessa à força encantada para cura de uma criança, sempre homem; esta celebração não tem data certa e sua realização depende exclusivamente do pai do menino, que é oferecido ao encantado para sua cura. Este rito é percebido dentro da cultura Pankararu como um ato de iniciação para os meninos (Athias 2002). Na área da saúde, dados epidemiológicos do diagnóstico elaborado durante a implantação do Distrito Sanitário Indígena (DSEI-PE), revelam que 32,5% dos Pankararu procuram com freqüência os chamados curadores e benzedeiras existentes nas aldeias; além disso, indicam que 104 das 112 famílias entrevistadas (92,2%), faziam uso de recursos caseiros para o tratamento de suas doenças, indicando ser esta a primeira etapa do itinerário terapêutico utilizado pelos Pankararu. Esses recursos são basicamente fitoterápicos, únicos ou combinados, havendo maior número de citações aos chás de erva-cidreira, mastruz, ameixa e capim-santo (Athias & Machado 2001). A comunidade de estudo encontra-se inserida no ecossistema da caatinga no semi-árido Pernambucano, sendo caracterizada por uma vegetação predominantemente caducifólia, espinhosa, com presença de caules suculentos e herbáceas anuais (Rodal & Sampaio 2002). Na época de seca destacam-se na 1

Os praiás representam os encantados, símbolos fundamentais dentro da religiosidade e sistema de cura Pankararu. São representados nos ritos tradicionais e incorporados por homens de identidade oculta, que vestem máscaras rituais elaboradas com croa, Neoglaziovia variegata Arr. Câm.


paisagem plantas da família das leguminosas pertencentes aos gêneros Acacia e Mimosa, e de Cactaceae típicas da caatinga, como espécies de Cereus e Pilosocereus. O mosaico vegetacional é diversificado, com formações diferenciadas da caatinga, como florestas serranas e cerrados originados nos enclaves úmidos e subúmidos que propiciam uma elevadariqueza florística (Fig 1 a-d) (Andrade-Lima 1973). A presença destes remanescentes de floresta evidencia maiores concentrações de umidade, não existindo dados precisos e sistemáticos para a área de estudo. Dados meteorológicos da estação agrometeorológica de Bebedouro, Petrolina, PE, localizada a 400 km da área de estudo, revelam que a temperatura média mínima e máxima nos últimos 10 anos foi de 21,1 °C e 32,9 °C.

2.2 Coleta de dados Para o desenvolvimento da pesquisa foi necessária a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, sediado na UFPE, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP, sediada em Brasília e do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN, Departamento do Patrimônio Genético, Secretaria Executiva, Ministério do Meio Ambiente. Após a obtenção das aprovações foi necessária a permissão da FUNAI (baseada em análise de mérito científico pelo CNPq), para o desenvolvimento das atividades de campo na terra indígena Pankararu. As informações etnobotânicas sobre a medicina tradicional Pankararu foram obtidas em 60 dias de atividades de campo, através de entrevistas semi-estruturadas, nas quais foram empregados formulários padronizados e registradas notas de campo sobre as indicações terapêuticas da flora local; entrevistas abertas com funcionários da FUNASA e junto a vendedores de material vegetal em feiras livres nos municípios de Jatobá e Tacaratú, foram realizadas para abordar respectivamente aspectos da saúde indígena e aspectos sobre as práticas de uso e comércio da flora local, com possíveis impactos nas populações naturais. A pesquisa foi direcionada para os especialistas da medicina tradicional, por meio da técnica ―bola de neve‖ (Albuquerque et al. 2008a). A amostra dos especialistas foi constituída por 46 médicos tradicionais, todos nativos da área indígena, com idades entre 29 e 82 anos, em média 57 anos, pertencentes ao sistema de cura tradicional. As entrevistas foram gravadas em formato de áudio e registradas nos formulários adequados e cadernos de campo (Apêndice 1). Grupos focais foram realizados com os especialistas locais, com o objetivo de gerar discussões sobre percepção tradicional sobre escassez e abundância dos recursos fitoterápicos, alternativas de uso sustentável das espécies da flora medicinal nativa e percepção tradicional sobre toxicidade das plantas usadas como medicinais. Visitas às áreas de vegetação natural, áreas de cultivo e quintais foram realizadas junto a alguns dos especialistas, para coleta de espécies indicadas por eles. Estas foram identificadas primeiramente com seus respectivos nomes populares, assim como aspectos fenológicos e ecológicos. Taxônomos especialistas foram consultados para confirmar a identificação dos espécimes, os quais foram incluídos


nos herbários Geraldo Mariz (UFP), da Universidade Federal de Pernambuco e Dárdano de AndradeLima (IPA), do Instituto Agronômico de Pernambuco.

Figura 1. Terra Indígena Pankararu, Pernambuco, nordeste do Brasil. Fonte: FUNAI, 2009, adaptado.


a

b

c

d

Fig. 2 a – d. Formações vegetais nas aldeias Pankararu,Pernambuco, Brasil. A. Caatinga, B. Campo cerrado, c - d. Brejo de altitude.

Dados do Sistema de Informação de Saúde Indígena Pankararu (SIASE) foram obtidos junto à coordenadora local do Posto de Saúde da FUNASA na terra indígena, e entrevistas nos mercados e feiras livres foram realizadas como complemento das informações etnobotânicas obtidas e percorridos nas áreas de coleta dos recursos fitoterápicos.

2.3 Análise dos dados As espécies medicinais foram enquadradas nas categorias de conservação, segundo a Lista oficial de espécies da Flora Brasileira ameaçadas de extinção fornecida pelo IBAMA (1992) e IUCN (2001), destacando-se as espécies nativas do Brasil segundo Lorenzi & Matos (2002) e, classificadas segundo as práticas de uso e manejo (espécies espontâneas, subespontâneas; cultivadas e adquiridas em feiras e mercados locais).


Com o propósito de analisar a importância das espécies indicadas entre os Pankararu, avaliou-se a versatilidade nos usos através do índice de Importância Relativa (IR) de Bennett & Prance (2000), onde a versatilidade das espécies pode ter valor máximo de ―2‖. Para este propósito as indicações terapêuticas e sintomas dentro do sistema médico tradicional Pankararu foram agrupados em 19 categorias segundo as diferentes ações nos sistemas corporais e outras categorias de doenças: sistema circulatório, cardiocirculatório; respiratório; imunológico; endócrino; ósseo-articular; músculo-esquelético; digestivo; renal; ocular; tegumentar; gênito-urinário; nervoso; gravidez, parto e puerpério; além destas categorias, adaptadas da classificação estatística internacional para doenças e problemas relacionados à saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS 2000), foram consideradas as indicações relacionadas com doenças culturais, sintomas e sinais gerais, e uso místico-religioso, adaptadas da proposta de Amorozo (2001). Baseado no índice proposto por Troter & Logan (1986) foi determinado o fator consenso entre os informantes acerca das espécies empregadas para as diferentes indicações terapêuticas, visando identificar em que categorias de doenças os especialistas apresentam maior concordância nas indicações etnobotânicas.

3. Resultados e discussão 3.1 O sistema de cura Pankararu, ciência e espiritualidade Ao pesquisar sobre a percepção dos cuidados da saúde entre os indígenas Pankararu encontrou-se que apesar da existência de um serviço de atendimento básico à saúde oferecido pela Fundação Nacional de Saúde do Ministério da Saúde 2 (FUNASA), os informantes consultados afirmaram que os “remédios do mato” indicados pelos curandeiros e benzedeiros tradicionais são a primeira opção para o tratamento de algumas queixas e doenças na comunidade. Este fato também pode ser constatado pela manutenção de espécies medicinais, tanto nativas como exóticas, em quintais e roças, prática comum na maioria dos lares visitados. Constatou-se um conhecimento aprofundado e rico nos especialistas do sistema de cura local, o qual é transmitido e conservado por via oral, geralmente herdado através do vínculo familiar. A importância dos profundos conhecedores da medicina indígena é evidenciada na credibilidade e reputação que apresentam a nível regional, os quais são procurados por moradores das aldeias indígenas e, regularmente, por pessoas de povoados vizinhos. O fato do saber medicinal estar conservado e concentrado em poucas pessoas da tribo estudada, aliado à tendência à substituição da medicina tradicional pela medicina ocidental, origina um evidente risco de que este conhecimento seja esquecido e sub-valorizado paulatinamente; portanto, como para a maioria dos grupos étnicos no mundo, existe a necessidade de conservar estes aspectos tradicionais. Durante o estudo foi possível reconhecer que a ―ciência da cura‖ na tribo Pankararu encontra-se caracterizada por uma continua experiência com o sagrado, com fortes componentes sociais e culturais, 2

A FUNASA oferece atenção emergencial e especializada nos hospitais de Tacaratú, Itaparica e Paulo Alfonso.


mediados principalmente pela fé em Deus, os símbolos da força encantada3 e os guias de luz4, num universo rico em misticismo e religiosidade, o qual pode ser considerado como um sistema de práticas xamânicas que se manifestam através de elementos religiosos durante as práticas de cura; assim, a eficácia terapêutica abrange dimensões da doença a nível físico e espiritual. Entre os especialistas do sistema de cura podem ser diferenciados os curandeiros (as), as parteiras, benzedeiros (as) ou rezadeiros (as) e pais de praiás5; estas categorias podem ser diferenciadas pela função e práticas realizadas dentro de cada uma delas. Os curandeiros trabalham mais profundamente com o uso terapêutico dos recursos vegetais direcionados a atuar num sistema corporal definido, seja por via oral ou de uso externo, dependendo da parte do corpo afetada e do modo de ação da planta; ao recomendar o uso de algum tipo de vegetal, informam as contra-indicações durante o tratamento, a dosagem adequada e os cuidados na alimentação durante o uso de algumas plantas. Comumente seus remédios envolvem a mistura de diversas espécies, como na preparação de garrafadas e lambedores, que são compostos por diversas plantas de similares indicações terapêuticas. Os benzedores ou rezadeiros costumam ser consultados mais freqüentemente nos casos de determinada doença ou mal estar que tenha relação com aspectos mágicos, referidos aqui como doenças culturais, ―.....doenças que homem branco de caneta não pode curar”, as quais passam por um tratamento místico-religioso no qual o benzedor (a) ou rezadeiro (a) reza ou abençoa o paciente; estes aspectos místicos não serão abordados nesta pesquisa por respeito ao sigilo dos aspectos secretos da tradição Pankararu. Os pais de praiás eram homens que antigamente cuidavam da saúde do povo. Hoje, como guardiães dos praiás, mesmo que pratiquem ou não a medicina tradicional, detém importante reputação moral dentro de sua cultura, sendo igualmente reconhecidos pelo seu dom de cura. As parteiras detêm um conhecimento amplo e relativamente uniforme sobre os remédios naturais para o cuidado da mulher e seu recém nascido. O parto com assistência domiciliar auxiliado por elas apresenta elevada freqüência segundo dados do Sistema de Informação Indígena Pankararu-SIASE. Além disso, devido ao maior reconhecimento ao trabalho das parteiras dentre os Pankararu e à qualificação da parteira nos últimos anos, algumas delas encontram-se vinculadas à FUNASA. Estas mulheres preferem efetuar seu trabalho nestes centros hospitalares e unir seu conhecimento tradicional às ferramentas e outros benefícios encontrados no atendimento hospitalar. No caso das parteiras Pankararu, pode se observar uma troca cultural que acontece por meio de apropriações mútuas entre o saber tradicional e a medicina oficial, legitimando o saber da comunidade indígena sobre a arte da cura, especificamente no saber empírico do atendimento ao parto. Sempre guiados pela sua própria tradição, com destaque dos encantados como guias e protetores da comunidade, os curandeiros podem ou não rezar para auxiliar o processo de cura, enquanto os 3

Os encantados são entidades que se manifestam nas práticas de cura; são reverenciados nas festas tradicionais Pankararu e representam os espíritos protetores pertencentes aos heróis míticos (Athias 2002). 4 Guias da luz são chamados aos seres desencarnados, os quais se encontram em comunicação com a deidade superior. 5 Pais de praiás são homens que zelam os praiás, física e espiritualmente, cuidando do vestido de croa no seu salão de cura.


benzedeiros sempre incluem esta prática espiritual dentro do seu trabalho. Nas últimas décadas, a importância dos curandeiros nos países tropicais tem sido destacada por diversos autores das ciências sociais e da etnobotânica; de maneira similar no contexto brasileiro, a prática da reza utilizando um galho de planta tem sido amplamente indicada pelas comunidades afro-brasileiras, indígenas e urbanas (Pimenta 1998).

a

d

b

c

e

f

Fig.3 a-f. Especialistas do sistema de cura tradicional Pankararu: a. Zé Lucia dos Santos, curandeiro; b. Julia Machado, curandeira; c. Fausto Monteiro da Silva, curandeiro; d. Luzinete Aciole do Nascimento, rezadeira; e. Rosa Maria da Conceição, rezadeira; f. Maria Antonia Avelina, parteira. Os especialistas Pankararu – curandeiros, benzedeiros e parteiras -

mantêm dentro de suas

vivendas partes secas de plantas de difícil acessibilidade e que podem ser conservadas desidratadas, para futuro emprego, como o pitó (sem identificação), catinga-de-cheiro (sem identificação), marcela (Egletes viscosa Less.), junco (Cyperus esculentus L.), ameixa (Ximenia americana L.), pau-para-tudo (Kalanchoe brasiliensis Cam.) e jatobá (Hymenaea coubaril L.). De maneira similar, as parteiras conservam entre


seus implementos para o parto sementes de gergelim (Sesamum orientale L.) e mostarda (Brassica integrifolia G. E. Schulz.), que são utilizadas em caso de debilidade da parturiente no momento de dar à luz. Ao redor do mundo, pesquisas sobre o conhecimento tradicional têm evidenciado que o conhecimento especializado sobre as qualidades terapêuticas das plantas encontra-se associado a pessoas de idade avançada, evidenciado pela relação direta entre número de espécies indicadas e idade dos informantes (Hernandez et al. 2005). Entre os especialistas Pankararu, todavia, registra-se a presença de pessoas relativamente novas dedicadas ao serviço da cura, pois para eles esta vocação tem relação com o chamado dos encantados, o qual pode acontecer mesmo sendo a pessoa ainda muito jovem. Em relação a sexo dos informantes, na tribo Pankararu encontrou-se preponderância do gênero feminino, com 60,8% da amostra total dos especialistas; deste percentual, 28 mulheres participam das práticas de cura, sendo 12 parteiras, 8 curandeiras e 6 rezadeiras, 12 homens participaram como curandeiros e 8 como rezadeiros. A elevada riqueza do saber encontrado nas mulheres para diversas comunidades nas regiões tropicais tem sido amplamente demonstrada, apresentando relação com o seu papel nos cuidados da saúde familiar; na região de estudo, comunidades rurais assentadas no Vale do Rio São Francisco, Pernambuco e na Chapada Diamantina, no estado da Bahia, confirmam esta tendência (Almeida et al. 2006 e Voeks 2004); entre os Fulni-ô, outra tribo nordestina, a prática de curanderia é restringida às mulheres (Silva et al. 2005).

3.2 A flora medicinal nas práticas de cura Pankararu Na tabela 1 se registram um total de 223 etnoespécies que são utilizadas nas práticas de cura Pankararu, das quais 123 foram coletadas e identificadas até gênero ou espécie; 71 táxons foram identificados em campo ou determinados por comparação com dados da literatura etnobotânica para a região; a riqueza na flora medicinal está representada por 115 gêneros e 64 famílias (Fig. 4 a-n). A Tabela 1 exibe a flora medicinal de uso pelos especialistas Pankararu, com suas respectivas famílias taxonômicas, indicações terapêuticas, partes da planta usadas, hábito, valor de importância relativa (IR), manejo e origem das espécies e número de voucher.

As informações foram fornecidas por

98% do total de especialistas reconhecidos como tal pela comunidade. A riqueza de espécies indicadas por eles é uma das maiores registradas nas pesquisas etnobotânicas nordestinas, superior ao referido por Gomez et al. (2007), Albuquerque & Andrade (2002) e Silva et al. (2005), sendo comparável ao encontrado por Almeida et al. (2006), que referem 187 táxons para o ecossistema da caatinga nos estados de Alagoas, Bahia e Pernambuco. As famílias mais importantes em termos do número de espécies foram Leguminosae, abrangendo 21 plantas medicinais: Mimosoideae (7), Caesalpinioideae (5), Papilionoideae (8) e Cercidae (2); seguem as Asteraceae, com 15 espécies indicadas, Euphorbiaceae (18),

Lamiaceae (8), Anacardiaceae e


Solanaceae, com 6 táxons referidos cada uma. Estas famílias foram igualmente destacadas em pesquisas etnobotânicas no Brasil, referidas por Silva & Andrade (1998) para os Xucuru, Silva et al. (2005) entre os Fulni-ô, ambos em Pernambuco, e Morais et al. (2005) junto aos índios Tapeba, no estado do Ceará. Diversas técnicas e formas de aproveitamento das espécies medicinais foram descritas pelos especialistas Pankararu, evidenciando a grande riqueza deste saber empírico. No entanto, os principais fitoterápicos indicados correspondem aos citados na maioria das pesquisas sobre flora medicinal brasileira, sendo de maior destaque o decocto (40%), seguido pela maceração (32%), técnica referida popularmente como ―deixar de molho‖, a qual pode ser realizada com a casca do tronco, folha ou flor. O tempo de extração pode ser só alguns minutos ou a noite inteira, dependendo provavelmente da concentração do composto ativo da planta; o uso da extração em álcool é comum, podendo ser preparada com vinho branco ou cachaça, de acordo com o tratamento e as condições do paciente (idade, sexo, durante a gravidez etc.). Geralmente estes preparos são usados via oral, podendo também ser utilizados em banhos, lavagem intra-uterina, gargarejo, nebulizações, uso tópico, emplasto e defumação.


Tabela 1. Lista das espécies de uso medicinal na comunidade indígena Pankararu. Manejo; e – espontânea, c – cultivada, com – comprada; Hab – Hábito, Her – Herbáceo, Arb – Arbustivo, Arv – Arbóreo, Th – Trepadeiras herbáceas; N – Nativa, E – Exótica.; epf = epífita; outros: líquen e cactos; A – Ameaçada, PC – Prioridade

de conservação. Táxon

Nome Comum

Indicações terapêuticas

Manejo

Hab.

Parte usada

Status

Acanthaceae Justicia gendarussa Burm. f.

Abrecaminho

banho, limpeza energética.

c

Her

folha

Justicia pectoralis Jacq.

Anador

pressão alta, febre, analgésico.

c

Her

folha

Justicia strobilacea (Nees.) Lindau

Beija, Flor-de-beija

febre, dor de cabeça, sinusite em recém nascido, dor nos olhos, corrimento, gripe em criança e doença cultural.

e

Arb

folha

Chapéu-de-couro

derrame (AVC), antiinflamatório, reumatismo.

e

Her

raiz

Allium cepa L.

Cebola branca

gripe, tose.

com

Her

raiz

Allium sativum L.

Alho, Alho-roxo

febre, reumatismo, resguardo quebrado, tosse, pneumonia; febre, limpeza energética.

com

Her

raiz

Beterraba

trombose, anemia.

com

Her

raiz

Anacardium occidentale L.

Cajueiro-vermelho

cicatrizante, derrame (AVC), antiinflamatório, leishmaniose, anemia, trombose, gastrite, vermífugo, febre, analgésico (dor nas costas), fratura, reumatismo, adstringente feminino, antiinflamatório, depurativo, antiséptico e cicatrizante no puerpério, regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério, gripe, anticético, ferida no mamilo, queimaduras e limpeza energética.

e

Arv

casca

Mangifera indica L.

Manga-espada

Complicações na circulação, antiinflamatória, doença cultural.

c,e

Arv

folha, casca

Myracrodruon urundeuva Allemao

Aroeira

doenças pulmonares, gripe, tosse, pneumonia, antiinflamatória, cicatrizante, gastrite, diabetes, reumatismo, adstringente feminino, analgésico, anti-séptico, depurativa e cicatrizante no puerpério, regula o ciclo menstrual, menorragia, feridas no mamilo e doença cultural.

e

Arv

casca

Schinopsis brasiliensis Engl.*

Braúna

analgésico, dor de cabeça, disenteria, hemorróida, indigestão, diabetes, reumatismo, cólica menstrual, dismenorreia, complicações no puerpério, tosse, gripe, doença cultural.

e

Arv

casca, raiz

Spondias mombin L.

Umbu-caja

gripe, antibiótico

e

Arv

casca, raiz

Spondias tuberosa Arr. Câm.

Umbú, Umbuzeiro

diarréia, disenteria, indigestão, dilata no parto, emenagoga, menorragia, segura o feto em risco de perda, doença cultural.

e

Arv

casca, raiz

Alismataceae Echinodorus sp. Liliaceae

Amaranthaceae Beta vulgaris L. Anacardiaceae

Anemiaceae

A, PC PC


Anemia tomentosa (Sw.)Sw.

Croazinho

febre, cólica menstrual, dismenorreia, doença cultural.

e

Her

folha

Annona Marcgravii Mart.

Araticum

mordida de cobra, doença cultural, antiinflamatório, febre após aborto, cicatrizante, reumatismo, tosse, gripe, dor de cabeça, analgésico.

e

Arv

raiz

Annona squamosa L.

Pinha

amígdalas inflamadas, dor de dente, expectorante, gripe, tosse, febre, mordida de cobra, analgésico, dor de cabeça.

c

Arv

folha, raiz

Coriandrum sativum L.

Coentro

cólica do bebe, dismenorreia.

com

Her

semente, parte aérea

Foeniculum vulgare Mill.

Endro

pressão alta, cólica infantil, dor de estômago, relaxante, analgésico durante o puerpério, cólica menstrual, menorragia.

c

Her

folha, flor, semente

Pimpinella anisum L.

Erva doce

cólica de bebe.

c

Her

folha

Pereiro

disenteria, dor de estômago, emenagoga, abortiva.

e

Arv

casca

Cocos nucifera L.

Coco-amarelo

corrimento, infecção geniturinária

c

Arv

fruto (casca)

Syagrus coronata (Mart.) Becc.

Ouricuri

dor de cabeça, antiinflamatório, complicações no puerpério, limpa os olhos, aflições nos olhos, dor de coluna, cólica menstrual, depurativo no puerperio, próstata, regula o ciclo menstrual.

e

Arv

raiz, fruto

Jarrinha

dor de cabeça, antiinflamatório, analgésico (dor de estômago), regula o ciclo menstrual, cólica menstrual, dismenorreia, cicatrizante, depurativa e cicatrizante no puerperio, complicações no puerpério, doença cultural, limpeza energética.

e, c

Th

folha, raiz

Algodão-de-seda

cólica infantil, analgésico, reumatismo.

c

Arb

látex

Espada-de-São-Jorge

doença cultural, limpeza energética.

c

Her

folha

Acanthospermum hispidum DC.

Federação

analgésico, dor de cabeça, febre, problemas na visão, complicações no puerpério, gripe, gripe infantil, sinusite, tosse, anticéptico.

e

Her

raiz, folha

Egletes viscosa Less.

Marcela

diabetes, complicações no puerpério, dor de estômago, indigestão, cólica menstrual, depurativo, emenagoga, abortiva, regula o ciclo menstrual.

e

Her

flor, semente, folha, raiz

Acmella uliginosa (Sw.) Cass.

Sarampina

sarampo.

e

Her

folha, talo

Ageratum conyzoides L.

Mentraste

cicatrizante, antiinflamatório, complicações no puerpério, depurativo no puerperio, anticéptico, analgésico (dor de cabeça), gripe, analgésico.

e

Her

folha, talo,

Artemisia sp.

Anador

c

Her

folha

Annonaceae

Apiaceae

Apocynaceae Aspidosperma pyrifolium Mart. Arecaceae

Aristolochiaceae Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc.

Asclepiadaceae Calotropis procera (Will.) R.Br. Asphodelaceae Sanseviera sp. Asteraceae


Bidens bipinnata L.

Carrapicho-de-agulha

problemas nos pulmões, cicatrizante, aflições da pele, aflições nos olhos, leishmaniose, sangue grosso, cólica infantil, sinal nos olhos, antiinflamatório, depurativo, emenagoga, abortiva, regula o ciclo menstrual, gripe infantil e doença cultural.

e

Her

raiz

Conocliniopsis prasiifolia (DC.)R. M. King & H. Rob. Helianthus annuus L.

Balaio-do-velho

emenagoga, abortiva, limpeza energética.

e

Her

parte aérea

Girassol

anemia, derrame (AVC), analgésico (dor nos ossos), doenças mentais.

c

Her

semente

Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera

Frechero

asma, dor nos pulmões, gripe, pneumonia, bronquite, anemia, dor de dente.

e

Her

raiz

Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera

Quetoco

antiinflamatório, dor de estômago, gastrite, adstringente, cicatrizante feminino, cólica menstrual, contraceptivo, corrimento, depurativo, regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério, emenagoga, menorragia.

e

Her

folha, talo, raiz

Tagetes minuta L.

Cravo-de-defunto

tosse, tuberculose, doença cultural.

Vernonia condensata Barker.

Boldo

dor de estômago, indigestão, cólica, antiinflamatória, analgésico (dor no corpo, no fígado, na vesícula).

Wedelia alagoensis Baker

Bem-me-quer

depurativo no puerperio, menorragia no puerperio.

Vernonia chalybaea Mart. ex DC.

Cravo-de-urubu-(lingua-do- cólica menstrual, corrimento, analgésico no puerperio. sapo)

NI

Pau-de-botão

Anemopaegma arvenses (Vell.) Stellfeld.

e

Her

folha

com, c

Arv

folha

e

Her

folha

e

Her

raiz, planta inteira

sarampo

e

Her

flor

Catuaba

derrame (AVC), reumatismo, impotência.

e

Arv

Crescentia cujete L.

Caco-de-cuia

resguardo quebrado.

Tabebuia caraiba (Mart.) Ber.

Craibeira

gripe, tosse, pneumonia, bronquite, emenagoga, abortiva.

Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex DC.) Standl

Pau-dárco

Bignoniaceae Arb

fruto

e

Arv

casca, entrecasca

antiinflamatório, gastrite, inflamações intestinais.

e

Arv

casca

Crista-de-galo

antiinflamatória, disenteria, dor de estômago, garganta inflamada, infecção no pulmão, complicações do recém nascido, , gripe.

e

Her

flor, folha, parte aérea

Ananas comosus (L.) Merr

Abacaxi

gripe.

c

epf

fruto

Bromelia antiacantha Bertol.

Croatá

vermífugo, abortiva, coceira na pele.

e

epf

talo, polpa

Bromelia laciniosa Mart. Ex. Schult.

Macambira

doença cultural.

e

epf

folha

Neoglaziovia variegata (Arr. Cam.) Mez.)

Croa

mordida de cobra, dor de coluna, reumatismo, dor nos rins, próstata.

e

epf

raiz, folha

Boraginaceae Heliotropium tiaridioides Cham. Brassicaceae Bromeliaceae

Burseraceae


Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett

Umburana-de-cambão

gripe, tosse, reumatismo, câimbra, dor de estômago, diarréia, disenteria, febre, anticéptico, limpeza energética, cosera na pele, doença cultural.

e

Arv

casca

Cereus jamacaru D.C.

Mandacaru

e

outro raiz, suco dos ramos

Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb.

Coroa-de-frade

regula a pressão, complicações do coração, diabetes, gripe, febre, dor de coluna, problemas respiratórios, emenagoga, pele resseca com desidratação. febre, cicatriza feridas, dor de cabeça.

e

outro caule (suco do caule)

Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. & Rowl.

Xique-xique

dor de cabeça, resguardo quebrado, regula o ciclo menstrual, dor de estômago.

e

outro raiz

Capparis jacobinae Moric. ex Eichler

Ico-preto

sintomas da primeira dentição, complicações no puerpério, diarréia.

e

Capparis yco Mart.

Ico-do-mato

complicações no puerpério.

Cleome spinosa Jacq.

Musambé

gripe, coceira, infecção genital.

e

Her

folha, raiz

Sabugo

febre, antiinflamatória.

c

Arb

flor

Bom-nome

antiinflamatória, sangue fraco, anemia, diabetes, doenças dos rins, reumatismo, corrimento, dilatação uterina, menorragia, complicações no puerpério, diminui a contração uterina (evita o aborto), cicatrizante.

e

Arb

casca, raiz

Mastruz

antiinflamatório, analgésico (dor de pancada), cólon inflamado, vermífugo, reumatismo (dor de coluna, juntas), fraturas, complicações no puerpério, asma, gripe, tosse, pneumonia, sinusite de recém nascido, , tuberculose, diabetes, febre, cicatrizante, mau olhado.

c

Her

folha, talo, raiz

Marianinha

mau olhado, alergia nos olhos, alergia no corpo, depurativo no puerperio, regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério e gripe.

e

Her

folha, raiz

Batata-de-purga

trombose, diarréia, verme, indigestão, infecção geniturinária.

e

Th

raiz

Kalanchoe brasiliensis Cam.

Pau-para-tudo

antiinflamatório, febre, febre depois do parto, anemia, dor de cabeça, dor nas costas, fraturas, analgésico no puerperio, regula o ciclo menstrual, cólica menstrual, dismenorreia, emenagoga na menopausa, abortiva, complicações no puerpério, diminui a contração uterina (evita o aborto).

e

Her

casca

Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.

Pensamento

analgésico (dor de estômago).

c

Her

folha

Cactaceae

Capparaceae casca

Caprifoliaceae Sambucus nigra L. Celastraceae Maytenus rigida Mart.

Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides L.

Commelinaceae Commelina erecta L. Convolvulaceae Operculina alata (Ham.) Urb. Crassulaceae

Cucurbitaceae


Citrullus vulgaris Schrad.

Melancia

febre.

c

Th

semente

Cucumis anguria L.

Maxixe

diabetes.

c

Th

fruto

Cucurbita pepo L.

Jerimum

vermifugo.

c

Th

semente

Luffa operculata Cong.

Cabacinha

corrimento, abortiva.

c

Th

fruto

Momordica charantia L.

Samelão

vermífugo, adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal, emenagoga, abortiva, coceira na pele.

e

Th

folha, talo

Wilbrandia sp.

Batata-de-teiu ou cabeça- mordida de cobra, analgésico, dor de dente, vermífugo, gastrite, de-negro reumatismo, corrimento, emenagoga, abortiva, próstata.

e

Th

raiz

Junco

febre, analgésico, dor de cabeça, dor no corpo, congestão nasal, amígdalas inflamadas, anticéptico de feridas, cansaço, diarréia, limpeza energética, doença cultural.

e

Her

raiz

Catuaba

derrame (AVC), reumatismo, impotência.

e

Arv

Acalipha multicaulis Mull. Arg.

Canela-de-nambu

descarrega o corpo, doença cultural.

Cnidoscolus urens (L.) Arthur

Cansansão

derrame (AVC), dor no corpo, apendicite, hérnia, dor de estômago, reumatismo, dor nos rins, corrimento, próstata, asma, gripe, doenças nos olhos, doença cultural.

e

Arb

folha, talo, raiz, látex

Cnidoscolus phyllacanthus (Mart.) Pax. e Hoff.

Favela

indigestão, anti-séptico, dor de estômago, cicatrização.

e

Her

casca

Croton argyrophylloides Mull. Arg.

Sacatinga, branco

e

Arb

Croton blanchetianus Baill.

Marmeleiro

dor no corpo, sangue grosso, anemia, gripe, analgésico (pancada), colesterol alto, pneumonia.

e

Arb

Croton micans (Swartz.) Mull. Arg.

Sacatinga

febre alta, dor de estômago, analgésico (dor de coluna), cólica menstrual, dismenorreia, anti-séptico, resguardo quebrado, disenteria.

e

Croton pulegioides Baill.

Velandinho

febre, epilepsia, reumatismo, cólica menstrual, gripe, pneumonia, trombose, doença cultural, limpeza energética.

e

Her

folha, parte aérea

Croton rhaminifolius Willd*

Velande

dor de cabeça, trombose, dor de coluna, amebas, febre, epilepsia, sinusite, alergia na pele, cicatrizante, reumatismo, limpeza espiritual.

e

Her

folha, látex

Croton sp.

Pau-de-cheiro,-Catinga-decheiro

expectorante, gripe, febre, dor de cabeça, doença cultural, indigestão, dor de estômago, febre, antiséptico, dor nos olhos, reumatismo, disenteria.

e

Arv

casca, raiz

Ditaxis malpighiacea (Ule) Pax & K. Hoffm.

Pau-de-mocó

catarata.

e

Arb

casca

Euphorbia phosphorea Mart.

Burra-leitera

analgésico (dor no corpo), complicações na amamentação.

e

Jatopha curcas L.

Pinhão-branco, manso

Cyperaceae Cyperus esculentus L.

Erythroxylaceae Erythroxylum vacciniifolium Mart. Euphorbiaceae

Marmeleiro-

pinhão dor de cabeça, vermífugo.

casca, folha casca

PC

e

Arv?? látex, casca Arb

folha


Jatropha gossypiifolia L.

Pinhão-roxo

doença cultural, limpeza energética, analgésico dor de cabeça, sinusite, antiinflamatório, cicatrizante e picada de inseto.

e

Arb

folha, látex

Jatropha mollisima (Pohl) Baill.*

Pinhão-bravo

doença cultural, limpeza energética, envenenamento, antiinflamatório.

e

Arb

folha, látex

Manihot esculenta Crantz

Macaxeira

anemia, dor de coluna.

c

Her

folha

Phyllanthus amarus Schumach.

Quebra-pedra

pedra nos rins, antiinflamatório, corrimento, infecção geniturinária, cólica menstrual, dismenorreia, emenagoga, abortiva, dor de estômago.

e

Her

planta inteira, raiz

Ricinus communis L.

Mamona

indigestão, dor de cabeça, hemorróida, cicatrizante, purgante, tumor, catarata, dor nos ossos, tira espinho da pele.

e

Arb

folha, semente

Carrapicho-de-boi

amenorréia, depurativo no puerperio, regula o ciclo menstrual, e doença cultural.

e

Arb

raiz

Leonotis nepetaefolia (L.) R.Br.

Cordão-de-são-francisco

doença cultural, mau olhado, fraqueza, dor de estômago, asma, gripe.

e

Her

folha, raiz

Hyptis martiusii Benth.

Alecrim-de-vaqueiro

gripe, febre, limpeza energética e doença cultural.

e

Arb

parte aérea

Hyptis mutabilis Briq.

Sambacaitá

antiinflamatório, gastrite, adstringente, (cicatrizante, depurativo, antiséptico no puerperio), antibiótico, febre, doença cultural, leishmaniose, dor de dente, dor de estômago, diabetes, febre, cólica menstrual, contraceptivo, abortiva, regula o ciclo menstrual, resguardo quebrado, gripe, pneumonia, sinusite, anemia, cicatrizante, antiséptico de feridas.

e

Her

parte aérea

Menta sp.

Hortelã-de-folha-miúda

disenteria, gripe, tosse.

c

Her

folha, talo

Ocimum americanum Hutch. & Dalziel .

Manjericão-branco

gripe, sinusite.

c

Her

parte aérea

Ocimum basilicum L.

Manjericão-roxo

dor de ouvido, dor de cabeça, gripe, febre, dor nos olhos, doença cultural.

c

Her

parte aérea

Ocimum campechianum Willd.

Alfavaca

gripe, sinusite, pressão alta, dor de cabeça, desinflama os rins, antiinflamatório no puerperio, desinfetar feridas, limpa os olhos, mau olhado, limpeza energética, doença cultural.

com

Her

parte aérea

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.

Hortelã-de-folha-grossa

analgésico (dor de estômago), asma, gripe, gripe de criança, estômago com hemorragia, dor de ouvido.

c

Her

folha

Rosmarinum officinalis L.

Alecrim-de-caco

tosse, defumador, limpeza energética.

c

Arb

parte aérea

Cinnamomum zeylanicum Blume.

Canela

bronquite, tosse.

com

Arv

casca

Persea americana C. Bauh

Abacate

pancada, analgésico (dor no corpo), doença nos rins.

c

Arv

folha, casca

Pau-ferro

anemia, derrame (AVC), debilidade, tumor, tranqüilizante, próstata, gripe, tosse, pneumonia, bronquite, dor nos pulmões, asma, doença nos rins, emenagoga, abortiva, doença cultural.

e

Arv

casca, semente

Krameriaceae Krameria tomentosa St. Hil. Labiatae, Lamiaceae

dor de

Lauraceae

Leguminosae, Caesalpinioideae Caesalpinia ferrea Mart.

PC


Caesalpinia pyramidalis Tul.

Catingueira

colesterol, derrame (AVC), sangue fraco, disenteria, gastrite, sintomas quando nascem os dentes, verme, febre, epilepsia, reumatismo, antiinflamatório, cicatrizante no puerperio, dilata, próstata dor nos pulmões, enjôo, expectorante, gripe, sinusite com sangue, bronquite, pneumonia, antiséptico, dor de estômago, diarréia.

e

Arv

casca, flor, raiz

Hymenaea coubaril L.

Jatobá

derrame (AVC), sangue grossa, diabetes, bronquite, tosse, gripe, pneumonia, regula o ciclo menstrual, complicações no puerperio, cicatrizante, anemia, antiinflamatória, doença cultural.

e

Arv

casca

Senna obtusifolia (L.) H.S.Irwin & Barneby

Fedegoso

colesterol, hipertensão, cansaço, indigestão, antibiótico, diabetes, cicatrizante feminino, emenagoga, abortiva, asma, bronquite, gripe, tosse, sinusite.

e

Arv

raiz, folha, semente

Senna cana (Nees & C. Mart.) H.S. Irwin & Barneby Sicupira

antiinflamatório, reumatismo, antiséptico de feridas.

e

Arv

casca, raiz, semente

Senna rizzini H. S. Irwin & Barneby

Flor-de-Besouro, Besourinho

abortiva, complicações na gravidez, regula a menstruação, dilatação uterina, dor no corpo, anemia, doenças mentais, complicações na primeira dentição, contração uterina (evita o aborto), abortiva.

e

Arv

casca, folha, raiz

Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.

Mororo

afina o sangue, anemia, sangue fraco, coceira, cansaço, colesterol, gripe, hipertensão, , diabetes, adstringente, dor nos pulmões, sinusite, tosse, bronquite, pneumonia.

e

Arv

casca, folha, raiz, semente

Bauhinia pentandra (Bong.) Vogel & Steud.

Pé-de-bode

diabetes, dor nos pulmões.

e

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan.*

Angico-de-caroço

gripe, tose, pneumonia, analgésico, diabetes, antiséptico, resguardo quebrado, cicatrizante,

e

Arv

casca

Mimosa sensitiva L.

antiinflamatória, corrimento, antiséptico, sinusite.

e

Her

folha, flor, raiz

Mimosa sp.

Malisa-de-vaqueiro (malícia) Jurema lisa

antiinflamatório, antiséptico no puerperio, gripe, caroços na pele.

e

Arv

casca

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir

Jurema-preta, Santa-maria

gripe.

e

Arv

casca, folha, flor.

Parapiptadenia zehntneri (Harms) M.P. Lima & H.C.Lima

Angico-monjola

antiséptico no puerperio.

e

Arv

casca

Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke

Espinheiro-branco

limpeza energética.

e

Arv

folha, talo

Prosopis julifora (Sw.)DC.

Algaroba

doença cultural, antiinflamatório, emenagoga, abortiva, cicatrizante, dor de cabeça, sinusite, alergia.

e

Arv

folha, casca, raiz, semente

Stryphnodendron sp.

Barbatimão

hemorróida, adstringente, corrimento, antiinflamatório do hemorragias, garganta inflamada, derrame (AVC), reumatismo.

útero,

e

Arv

casca

Umburana-de-cheiro

gripe, febre, tosse, disenteria, vermífuga, indigestão, dor de estômago, vomito, antibiótico, dor de cabeça, dor no corpo, cosera, doença cultural, uso místico, limpa a energia.

e

Arv

casca, semente

PC P

Leguminosae, Cercideae

PC raiz, folha

Leguminosae, Mimosoidae

PC

Leguminosae, Papilionoideae Amburana cearensis (Allemao) A. C. Sm.

PC


Cajanus cajan (L.) Millsp.

Anduzeiro

cefaléia, enxaqueca, mordida de cobra, sinusite de criança, gripe.

c

Arb

folha

Erythrina velutina Willd.

Mulungu, Diasepã

dor de cabeça, antiinflamatório, antibiótico, adstringente, cicatrizante feminino, gripe, tosse, gastrite, dente inflamado, insônia, tranqüilizante.

e

Arv

casca

Stylosanthes capitata Vog.

Arcançú

gripe, tosse brava, pneumonia, aflições pulmonares, amígdalas inflamadas, infecção intestinal.

e

Arb

raiz

Thephrosia cinérea Pers.

Sena

dor de cabeça, adstringente, cicatrizante genital, cólica menstrual, regula o ciclo menstrual, depurativa, sangue no dente, vermífugo, resguardo quebrado.

e

Her

raiz

Enxerto,-mata-pau

antiinflamatória, sangue por dentro.

e

epf

planta inteira

Murici

dor de cabeça, dor no corpo, fraqueza, complicações no resguardo, doenças mentais, diabete, reumatismo, amenorréia, cólica menstrual (amenorréia), regula o ciclo menstrual, emenagoga, abortiva.

e,c

Arv

raiz, fruta

Algodão

cólica de disenteria, tumor, abortiva, sinusite, cicatrizante.

c

Arb

folha, semente

Cedro

câncer

e

Arv

casca

Boldo

dor de estômago, indigestão, cólica, antiinflamatória, analgésico (dor no corpo, no fígado, na vesícula).

com, c

Her

folha

Amora

complicações cardiocirculatórias.

c

Arb

parte aérea

Banana, banana-prata

asma, tosse, tuberculose.

c

est

casca

Mamoscarda,-noz-moscada

derrame (AVC), doenças mentais, doenças culturais.

com

Arv

semente

Campomanesia sp.

Murici-do-mato

cólica menstrual, gripe, tosse.

e

Arb

folha

Eucaliptus sp.

Eucalipto

febre, gripe, sinusite, antiséptico.

c

Arv

folha

Myciaria cauliflora (Mart.) O. Berg.

Jabuticaba

anemia.

Psidium guajava L.

Goiabeira-branca

disenteria, dor de estômago.

Loranthaceae Struthantus polyrhizus Mart. Malpighiaceae Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K.

Malvaceae Gossypium barbadense L. Meliaceae Cedrela odorata L.

PC

Monimiaceae Peumus boldus Mol. Moraceae Morus nigra L. Musaceae Musa paradisiaca L. Mirysticaceaae Myristica fragans Houtt. Myrtaceae

c

Arv

fruto

c,e

Arv

casca

e

Th

raiz

Nyctaginaceae Boerhavia difusa L.

Batata-de-porco, pinto

Pega- hérnia, antiinflamatório, hemorróida, febre, febre no puerperio, corrimento, infecção geniturinária, antiséptico feminino, dor de estômago, infecção nos intestinos.

A


Guapira laxa L.

Pau-piranha, farinha-mole

anemia, adstringente, depurativo, dilatação uterina, libera a placenta, emenagoga (abortiva), menorragia por aborto, complicações no puerpério, antiinflamatório.

e

Arv

casca

analgésico, colesterol, cicatrizante, derrame, antiinflamatório, leishmaniose, sangue na cabeça, diabetes, sangue fraca, amígdalas inflamadas, adstringente feminino, amenorréia, cicatrizante feminino, contraceptivo, corrimento, depurativo e antiséptico no puerperio, emenagoga, abortiva, menorragia, regula o ciclo menstrual, resguardo quebrado, gripe, aflições pulmonares, anemia.

e

Umbuzeirinho

dor de estômago, aflições da primeira dentição, antiinflamatório.

e

Her

folha, flor

Cardo-Santo

derrame (AVC), reumatismo, limpeza energética, aflições nos olhos, gripe, tosse, pneumonia.

e

Her

planta inteira, raiz

Canoparmelia salacinifera (Hale) Elix & Hale

Flor de pedra

disenteria, vomito, complicações estomacais, doença cultural.

outro organismo enteiro

Parmotrema wrightii Ferraro & Elix

Flor de pedra

disenteria, vomito, complicações estomacais, doença cultural.

outro organismo enteiro

Passiflora edulis L.

Maracujá

pressão alta, insônia, relaxante.

c

Th

parte aérea

Passiflora foetida L.

Maracujá-de-estralo

febre, gripe, sinusite de criança, reumatismo.

c

Th

folha, fruto

Gergelim

debilidade durante o parto, anemia, derrame (AVC), enxaqueca, sangue fraco, sangue groso, cuida o resguardo.

com

Arv

semente

Flor de pedra

disenteria, vomito, complicações estomacais, doença cultural.

e

outro organismo enteiro

Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms

Pau-d´alho

gripe, tosse brava, doença cultural.

e

Arv

casca

Petiveria alliacea L.

Tipi

reumatismo, epilepsia, dor no corpo, doença cultural.

c

Her

folha, raiz, parte aérea

Pimenta-do-reino

dilatação no parto, resguardo quebrado, cicatrizante.

com

Her

semente

A, PC

Olacaceae Ximenia americana L.

Ameixa

Arb

casca

PC

Oxalidaceae Oxalis psoraleoides var. insipida (A. St.-Hil.) Lourteig Papaveraceae Argemone mexicana L. Parmeliaceae

Passifloraceae

Pedaliaceae Sesamum indicum L. Physciaceae Heterodermia galactophylla (Tuck.) Culb. Phytolaccaceae

Piperaceae Piper nigrum L. Plumbaginacea


Plumbago scandens L.

Louco

verrugas.

e

Her

folha

Cymbopogon citratus (DC) Stapf.

Capim-santo

controla a pressão, dor de cabeça, doenças do coração, cólica infantil, dor de estômago, febre, calmante.

c

Her

folha

Eragrostis tenella (L.) Roem. & Schult.

Grama

antiinflamatória, aflições nos rins, reumatismo,.

e

Her

planta inteira

Saccharum officinarum L

Cana-pitú

controla a pressão, dor de estômago, reumatismo, dilatação uterina, gripe.

c

Her

talo

Zea mays L.

Milho

sarampo.

c

Her

fruto (cabelo), folha

Giló

analgésico (dor nas costas, dor no corpo).

e

Her

raiz

Berduega

antiinflamatória.

e

Her

folha

Orelha-d´onça

analgésico (puerperio), emenagoga, abortiva, complicações no puerperio, dor de estômago, indigestão, febre.

e

Her

raiz

Romã

garganta inflamada, gastrite.

c

Arb

fruta

Juazeiro

tosse, gripe, bronquite, pneumonia, cicatrizante.

e

Arv

casca

Poaceae

Polygalaceae Polygala paludosa A. St. Hil. Portulacaceae Portulaca oleracea L. Proteaceae Roupala sp. Punicaceae Punica granatum L. Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart.*

indigestão, caspa, queimadura,

PC

Rubiaceae Borreria verticillata (L.) G. Mey.

Vasourinha-de-botão

disenteria em criança, vermífugo, gastrite, dor no fígado, complicações da primeira dentição, vomito, diabetes, febre, trombose, cicatrizante genital, adstringente, antiinflamatório, quentura no ventre, hemorróida, limpeza energética.

e

Her

raiz, folha

Chiococca alba (L.) Hitchc

Cipo-de-caninana

infecção nos rins, reumatismo, resguardo quebrado, sangue na cabeça, envenenamento,

e

Her

folha, raiz

Coutarea hexandra (Jach) K. Schum

Quina-quina

doenças mentais, contraceptivo, abortiva, bronquite, dor de cabeça, sinusite, febre, dor de estômago, reumatismo, gripe, congestão nasal, tosse, pneumonia.

e

Arv

casca

Genipa americana L.

Genipapo

antiinflamatório, anemia.

e

Arv

casca

Citrus aurantium L.

Laranja

pressão alta ou baixa, dor de estômago, apendicite.

c

Arv

folha

Citrus limon (L.) Burm. F.

Limão

gripe, febre, cicatrizante.

c

Arv

fruto, casca, folha

Ruta graveolens L.

Arruda

dor de cabeça, febre, dor de ouvido, analgésico, complicações no puerpério, reumatismo e doença cultural.

c

Her

folha, talo

PC

Rutaceae


Sapindaceae Allophylus edulis (St. Hil.) Radlk.

Brandão

antiinflamatório.

e

Arv??

Cardiospermum corindum L.

Capelina

dor nos olhos.

e

Th

folha, talo

Serjania glabrata Kunth.

Cipó-de-cururu

limpeza espiritual, cicatrizante, reumatismo, cansaço, doença cultural.

e

Her

folha, raiz

Quixabeira

dor no corpo, antiinflamatório, derrame (AVC), antiséptico de feridas, pancada (sangue por dentro), sangue fraco, antibiótico, câncer, febre, dor nas costas, fraturas, reumatismo, adstringente, cicatrizante vaginal, depurativo, analgésico (dor no útero), menorragia, regula o ciclo menstrual, gripe, tose, cicatrizante.

e

Arv

casca

Capraria biflora L.

Chá-do-mato, monturo

febre, indigestão.

e,c

Arb

folha

Scoparia dulcis L.

Vaçourinha-miuda

gripe, febre, tosse, diarréia, disenteria, dor de estômago, diabetes, bronquite, broncopneumonia, dor nos pulmões, mal olhado, cansaço, mordedura de cobra.

e

Her

raiz

Jirico, jericó

gripe, dor de cabeça, sangue grossa, antiinflamatória, febre, gripe, gripe de criança, tosse, sinusite, indigestão, cólica menstrual.

e

Her

planta inteira

Nicotiana tabacum L.

Fumo

vermífugo.

c

Her

folha

Solanum americanum Mill.

Santa maría

diabetes, limpeza energética.

Solanum capsicoides All.

Melancia-da-praia

febre, doença cultural.

Solanum paniculatum L.

Jurubeba

Solanum rhytidoandrum Sendtn.

Besourinho

Solanum tuberosum L.

Batatinha

Sapotaceae Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn.

Scrophulariaceae

Selaginellaceae Selaginella convoluta (Arn) Sprig Solanaceae e

Her

folha

e,c

Th

fruto, planta inteira

pressão alta, trombose, gastrite, diabetes, antiinflamatória, asma, gripe, tosse, pneumonia, tuberculose, cosera na pele.

c

Arb

fruto, raiz, semente

anemia, cansaço, complicações no puerperio, doenças mentais, complicações na gravidez, emenagoga, regula o ciclo menstrual, contração uterina (evita o aborto).

e

Arb

raiz, casca, folha

c

Th

raiz

Sterculiaceae Helicteres mollis K. Schum.

Orucuba

complicações no puerperio.

e

Arb

fruto

Melochia tomentosa L.

Imbira-vermelha

gripe, tosse, sintomas quando nascem os dentes. sarampo, dor de estomago, doença cultural.

e

Arb

casca

Waltheria indica L.

Malva

gripe, tosse.

e

Her

raiz

Arranca-estrepe

gripe, tosse, bronquite, tira espinhos da pele, aflições dermatológicas.

e

Her

raiz

Turneraceae Turnera ulmifolia L.


Ulmaceae Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg.

Bara de ferrão, Jumerín

doença cultural.

e

Arb

casca

Lantana camara L.

Chumbinho

febre, disenteria, sintomas quando nascem os dentes, antiinflamatório, gripe, tosse, pneumonia e doença cultural.

e

Her

raiz, flor, folha, planta inteira

Lippia alba (Mill.) Brown

Erva-cidreira, pau-pedro

controla a pressão, analgésico, dor de estômago, inapetência, calmante, sangue grossa, febre, antiinflamatório na gestação, contraceptivo, dilatação uterina.

c,e

Her

folha

Lippia gracilis Schauer

Alecrim-de-vaqueiro

gripe, febre, limpeza energética e doença cultural.

e

Arb

parte aérea

Lippia thymoides Martius & Shouer

Alecrim-de-caboclo

febre, tosse, dor de cabeça, dor no corpo, limpeza energética, febre e doença cultural.

e

Arb

folha, casca

Vitex agnus_castus L.

Jurema-de-caboclo

dor de cabeça, dor no corpo, leishmaniose, dor de dente, antiséptico de feridas, doença cultural.

c

Arv

casca, raiz, folha

Phoradendron microphyllum (Pohl ex DC.) Trel.

Enxerto

antiinflamatória, sangue por dentro.

e

epf

planta inteira

Xanthorrhoeaceae Aloe vera Baker.

Babosa

dor de cabeça, febre, colesterol, leishmaniose, dor de estômago, reumatismo, antibiótico, câncer, corrimento, próstata, cicatrizante, antiinflamatória, queda do cabelo, câncer no útero.

c

Her

folha

Alpinia speciosa Schum. (Blume) D. Dietr.

Colônia

pressão alta.

c

Her

folha

Zingiber officinale Roscoe.

Genjibre

sangue fraco, sangue novo, dor de dente, dor de estômago, cuida o resguardo, complicações no puerperio, caroços na pele.

com, c

Her

raiz

NI

Flor-de-arara

mau olhado, doença cultural.

e,c

Arb

folha

NI

Agabia

doença cultural.

NI

Alecrim-de-cheiro

febre, gripe, pressão, reumatismo.

NI

Alfazema

epilepsia, mal de sete dias

NI

Biratana

colesterol, diabetes, analgésico (dor de coluna), reumatismo, dor nos rins, e doença cultural.

NI

Buji

hérnia, resguardo quebrado, infecção geniturinária, testículos desiguais, complicações no sistema digestivo.

NI

Cabaceira

cosera na pele.

c

NI

Cabeça-de-Peba

mordedura de cobra, dor de cabeça.

e

NI

Cabecinha-branca

doença cultural.

NI

Cama-de-Prea

analgésico (dor nas costas).

Verbenaceae

Viscaceae

Zingiberaceae

planta inteira c

Arb

folha, casca

com

Her

folha

e

casca raiz, talo Th

raiz Th

e

folha raiz folha


NI

Cana-brava

doença cultural, mau olhado.

e,c

Her

talo

NI

Canudeiro

corrimento, vaginite, cólica menstrual.

e

Her

folha, talo

NI

Capim-boi

segura o feto.

e

Her

casca

NI

Casatinga-de-mulata, catinga-de-mulata

doença cultural.

e

casca

NI

Catinga-rasteira

corpo pesado, impotência.

e

raiz

NI

Chifre de boi

mal olhado.

e

folha (palha)

NI

Cordão-de-ouro

menorragia, regula o ciclo menstrual

e

NI

Coronha

problemas do coração.

e

NI

Erva-de-prea

cosera na pele, cicatriza.

e

Her

folha

NI

Feijão-bravo

bronquite.

e

Her

casca

NI

Imbiratana

regula a pressão, dor de coluna, dor nos rins.

e

casca

NI

Itamaracá

gripe

e

flor

NI

Magiroba, mangerioba

sinusite, hipertensão, cansaço.

e

NI

Malagueta

complicações no puerperio.

e

NI

Maná

asma.

e

NI

Manjericão-grande

gripe, ferida na boca.

c

NI

Novalgina

dor de cabeça, febre.

e

folha

NI

Peba

depurativo no puerperio, doenças sexuais, complicações no puerperio, alergia no corpo (sarna).

e

parte aérea, folha

NI

Pega-pega

doenças sexuais.

e

casca

NI

Pitó

febre, analgésico, dor de cabeça, dor de coluna, dor no corpo, gripe, sinusite, controla a pressão, gastrite, febre, diabetes, garganta inflamada, expectorante, fraqueza.

c

NI

Quepembe

gastrite.

e

raiz

NI

Santa-lucia

corrimento, vaginite, menorragia.

e

raiz

NI

Seguleira, segurelha

gripe, tosse, pneumonia.

e

folha, talo

NI

Sete-dor

gastrite, dor no corpo.

e

folha

NI

Turco

derrame, asma.

e

Her

folha, talo folha

planta inteira

Her

Arv

Arv

folha

casca

fruto, semente


a

c

b

d

Figura 4. a-d. Plantas de se uso medicinal na comunidade indígena Pankararu: Catingueira, Caesalpinia pyramidalis Tul.; Willd.; Umbu, Spondias tuberosa Arr. Câm. Umburana-de-cambão, Conmiphora leptoplheos Mart.

Mulungu, Erythrina velutina


F

f f e

g

h i

j

Figura 4. e - j. Plantas de se uso medicinal na comunidade indĂ­gena Pankararu: Jarrinha, Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc. Mandacaru, Cereus jamacaru D.C. Carrapicho de boi, Jarrinha, Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc. Mandacaru, Cereus jamacaru D.C., (Fonte: Marcus meiado), Carrapicho de boi, Santa Maria, Solanum americanum Mill. Alecrim de caboclo, Lippia thymoides Martius & Shouer Alecrim de vaqueiro, Lippia gracilis Schauer.


Alguns preparos são realizados por meio da desidratação da parte da planta usada (casca, folha e raiz) para elaboração do pó e preparo como café; outras formas de preparo são extração do sumo, elaboração do vinho; uso da parte vegetativa quente; flambado na cachaça; preparo de cinzas das folhas; e elaboração de sabão, entre outras. Como apresentado na Fig. 5, na flora medicinal Pankararu as ervas estão bem representadas (42%), incluindo as trepadeiras, que representaram 8% da amostra total, porém predominam as espécies lenhosas (47%), com 19% de arbustos e 28% de árvores; quatro plantas são bromélias terrestres, Ananas comosus (L.) Merr, Bromelia antiacantha Bertol., Bromelia laciniosa Mart. ex. Schult., Neoglaziovia variegata (Arr. Câm.) Mez.). Os cactos Cereus jamacaru D.C., Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb e Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. & Rowl, e os liquens Canoparmelia salacinifera (Hale) Elix & Hale, Parmotrema wrightii Ferraro & Elix e Heterodermia galactophylla (Tuck.) Culb. não foram incluídos neste percentual.

Figura 5. Hábitos das espécies no repertório local da flora medicinal Pankararu. O registro de espécies liquênicas de valor terapêutico tem sido pouco freqüente nas pesquisas etnobotânicas ao redor do mundo, sendo inexistente a documentação de liquens na medicina tradicional brasileira. Entre os Pankararu, foram registradas duas espécies pertencentes à família Parmeliaceae e uma pertencente às Physciaceae, todas denominadas flor de pedra. O uso referido para estas espécies está relacionado com problemas no sistema digestivo, no atendimento de sintomas como diarréia e vômito, sendo empregada a mistura das mesmas em extrato aquoso; outros usos foram indicados para estas espécies, para o tratamento de doenças culturais e epilepsia, por meio de defumador. As espécies liquênicas empregadas na fitoterapia Pankararu crescem em áreas protegidas do vento, nas proximidades da serra; no substrato rochoso, crescem contíguas ou em comunidades misturadas, podendo ser


diferenciadas pela cor e formato do talo. Apesar das espécies H. galactophylla , C. salacinifera e P. wrightii serem etnosinônimos, são diferenciadas pelos especialistas quanto ao grau de concentração do efeito terapêutico; segundo o conhecimento tradicional, os diferentes tipos de flor de pedra possuem contra-indicações de uso: enquanto P. wrightii, pertencente à família Physciaceae, não apresentou qualquer tipo de restrição, H. galactophylla é contra-indicada para crianças e mulheres grávidas e C. salacinifera também apresenta restrição no uso entre mulheres grávidas, sendo ambas da familia Parmeliaceae. Estudos fitoquímicos devem ser realizados com o propósito de identificar as substâncias de potencial ação terapêutica presentes em cada uma das espécies.

a

b

c

d

Figura 6.a-c. Liquens utilizados na medicina tradicional Pankararu a. Heterodermia galactophylla (Tuck.) W. Culb.; b. Canoparmelia salacinifera Hale; c. Parmotrema wrightii Ferraro & Elix, remédio tradicional, “flor de pedra”. Considerando a versatilidade no uso terapêutico, as espécies de plantas de maior importância relativa para os Pankararu são M. urundeuva (1,85), X. americana (1,83), A. occidentale (1,68), H. mutabilis (1,60), S. obtusifolium (1,54), C. pyramidalis (1,54), C. ambrosioides (1,48), C. esculentus (1,45) e Hymenaea sp. (1,42). Um total de 24 táxons apresentaram IR > 1, correspondendo a 11,7% do repertório local de etnoespécies, com 6 e 12 sistemas corporais indicados para cada planta (Tab. 2). A maioria das plantas de destaque entre os especialistas Pankararu corresponde a espécies nativas para o nordeste brasileiro, do ecossistema caatinga, de uso freqüente em outros povos tradicionais da região.


Segundo as práticas de manejo documentadas durante o estudo, foi evidenciada a importância do ecossistema caatinga para a comunidade indígena Pankararu, assim como dos recursos vegetais nativos e domesticados de uso pelos especialistas. Aproximadamente 69% das etnoespécies crescem espontaneamente nas áreas de caatinga, brejo de altitude e ambientes antropizados nas proximidades das aldeias, território que abrange as áreas de cultivo e pastagem; cerca de 26% das espécies registradas são cultivadas para uso medicinal e 6% são compradas nas feiras e mercados locais, como M. urundeuva, Stryphnodendron sp., S. obtusifolium , S. indicum, M. fragans. e E. viscosa (Tab1). Embora tenha sido evidenciada uma importante influência de espécies européias e africanas na medicina tradicional Pankararu, as espécies de maior importância segundo o número de citações e sua versatilidade no uso são nativas da caatinga; resultados similares foram encontrados junto aos Fulni-ô, outra tribo assentada no nordeste do Brasil (Silva 2003). A interferência extra-cultural na flora local tem sido comumente observada em estudos etnobotânicos realizados em comunidades brasileiras, mas a presença de um número significativo de espécies exóticas pode ser interpretada como um enriquecimento do repertório da flora medicinal local, incrementando assim a riqueza de espécies úteis para a comunidade (Albuquerque 2006; Albuquerque et al. 2008b). As áreas de coleta das espécies medicinais indicadas pelos especialistas locais situam-se geralmente cerca de 3 km de distância das aldeias e incluem áreas antropogênicas e de vegetação secundária. Os ambientes naturais descritos pelos próprios especialistas incluem o sertão, se referindo ao ambiente da caatinga, o brejo, que corresponde ao brejo de altitude; o riacho, consiste na vegetação ripária, serra e meia serra correspondendo às áreas com maior altitude e de vegetação tipo floresta serrana (ver Fig. 2).

Apesar de muitas das plantas de uso medicinal se encontrarem inseridas na paisagem

cotidiana e nas moradias das famílias Pankararu, os curandeiros preferem coletar os remédios em áreas mais afastadas, se estendendo até o topo das serras que circundam a terra indígena.

Tabela 2. Espécies vegetais com os maiores valores de importância relativa na medicina tradicional Pankararu e sistemas corporais atendidos. *Origem: B. Brasil, NB, Nordeste do Brasil, E. Exótica. Planta

Táxon

IR

Sistemas corporais (n°) 12

Aroeira

Myracrodruon urundeuva Allemao

1,85

Citações (n°) 86

Origem*

Ameixa Cajueiro-vermelho Sambacaitá Quixabeira

Ximenia americana L. Anacardium occidentale L. Hyptis mutabilis Briq. Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn.

1,83 1,68

88 85

10 11

B NB

Catingueira Mastruz

Caesalpinia pyramidalis Tul. Chenopodium ambrosioides L.

Jatoba Junco Pau-de-cheiro Pito

Hymenaea sp. Cyperus esculentus L. Croton sp. Não identificado

1,6 1,54 1,48 1,45 1,42 1,42

82 53 0 54 24 37

9 9 10 9 10 10

E NB B E B E

1,39

36

10

1,36

40

10

B


Cansansão Umburana-de-cheiro

Cnidoscolus urens (L.) Arthur Amburana cearensis (Arr. Câm.) A. C.

Vasourinha-de-botão Pau-ferro Alfavaca

Borreria verticillata (L.) G. Mey. Caesalpinia ferrea Mart. Ocimum campechianum Willd.

Pau-para-tudo Carrapicho-de-agulha Babosa Velande Bom-nome Fedegoso Jarrinha Quetoco

1,27 1,25 1,19 1,19 1,18

24 51 25 32 15

10 8 8 8 10

B B B B E

Kalanchoe brasiliensis Cam. Bidens bipinnata L.

1,13

21

8

B

Aloe vera L. Croton rhaminifolius Willd. Maytenus rigida Mart. Senna obtusifolia (L.) H.S. Irwin & Barneby Aristolochia brasiliensis Mart. ex Zucc. Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera

1,07 1,05 1,04

18 17 16

8 7 8

E E B

1,02 1,02

25 26

7 7

B E

1,02

35

7

B

1,00

38

6

E

.3 Consenso entre os informantes sobre o conhecimento medicinal Ao avaliar o fator de consenso entre os informantes Pankararu, observou-se maior concordância no conhecimento da flora empregada para o cuidado do sistema reprodutivo (FCI = 0,83); nesta categoria, 76 táxons foram referidos para o tratamento de complicações relacionadas à gravidez, parto e puerpério. Doenças do sistema respiratório apresentaram 85 espécies e FCI =0,80; seguem em ordem de concordância os sistemas digestório, circulatório, endócrino, renal e imunológico, todos estes com valores acima de 0,6 (Tab. 3). Segundo os dados do SIASE, localizado na aldeia Brejo dos Padres, os índices de assistência médica entre 2008 e 2010 evidenciam maiores registros de atendimento em doenças como hipertensão, anemia, problemas e perturbações mentais, problemas no sistema digestório, viroses e em menor proporção as relacionadas ao sistema respiratório. As plantas indicadas para tratar doenças relacionadas aos sistemas respiratório, circulatório e digestório tiveram maiores valores de FCI e representam alvo de estudos farmacológicos que possam contribuir para o melhoramento da saúde nas tribos indígenas nordestinas. Por outro lado, complicações relacionadas aos sistemas reprodutivo, endócrino, renal e imunológico parecem estar melhor atendidas, podendo ser beneficiadas tanto pela medicina tradicional em relação à eficácia das plantas como pelo atendimento do sistema oficial de saúde; neste caso, baseado nos resultados desta pesquisa e especialmente nos depoimentos dos especialistas Pankararu e funcionários do SIASE, acredita-se haver maior influência da medicina tradicional no cuidado da saúde. Pesquisas médicas nas aldeias Pankararu avaliaram os fatores de risco para poliparasitismo intestinal, encontrando que as parasitoses intestinais representam um importante problema de saúde pública, por atingirem a quase totalidade da população (Fontbonne et al. 2001).Três plantas foram citadas neste estudo para o tratamento da verminose, o jerimum (Cucurbita pepo L.), mastruz (C. ambrosioides) e pau ferro (C. pyramidalis), sendo esta última nativa da região nordestina.; as duas primeiras espécies apresentam atividade vermicida comprovada (Lorenzi & Matos, 2002). Em correspondência com os resultados aqui apresentados, valores elevados de FCI para as plantas empregadas no tratamento de problemas relacionados aos sistemas respiratório, digestório, endócrino,


circulatório e

imunológico tem sido documentados

em comunidades nordestinas

(Almeida &

Albuquerque 2002; Almeida et al. 2006; Albuquerque et al. 2007; Gazzaneo et al. 2005; Silva 1997), e em diferentes culturas neotropicais (Trotter & Logan 1986); contudo, espécies medicinais relatadas para o cuidado dos sistemas corporais com maiores valores de consenso entre os informantes merecem especial interesse, uma vez que têm maior probabilidade de ter um potencial terapêutico promissório na descoberta de novos fitoterápicos efetivos. Simultaneamente, estes padrões obtidos nas pesquisas etnobotânicas fornecem insumos para a aproximação ao conhecimento das possíveis causas dos distúrbios mais comuns nas comunidades tradicionais, criando assim uma importante oportunidade de reverter os resultados da pesquisa científica em benefícios sociais, principalmente para a comunidade detentora do saber tradicional em questão. A fragilidade do sistema digestório das comunidades tradicionais nordestinas tem sido amplamente citada e as plantas com ação terapêutica nas diversas queixas dentro deste sistema merecem maiores esforços em pesquisas de enfoque farmacológico. Baseado no número de espécies usadas para cada categoria utilizada neste estudo, o conhecimento entre os especialistas Pankararu reflete um maior aproveitamento da flora medicinal para os cuidados do sistema reprodutivo feminino, o que pode ter relação com a dominância do gênero entre os especialistas encontrados nas aldeias. Em adição a isto, foi constatado que o trabalho realizado nos últimos anos pelo grupo das parteiras tem conseguido homogeneizar e fixar um conhecimento específico sobre a prática do parto e cuidados reprodutivos nas mulheres Pankararu, incluindo neste saber o uso das plantas para o cuidado da saúde feminina. Segundo os dados do Programa da mulher da FUNASA, que oferece o acompanhamento no cuidado da saúde reprodutiva nas aldeias Pankararu, existem baixos índices de consulta de pacientes para doenças relacionadas ao sistema reprodutor feminino e doenças sexualmente transmissíveis. Já que foi encontrado um notável consenso no conhecimento sobre plantas para uso da mulher, se recomenda a realização de estudos sobre as possíveis qualidades terapêuticas dos banhos de assento e chás documentados aqui para o cuidado regular e limpeza interna da mulher, que possam refletir em benefícios tangíveis das indígenas Pankararu. Para o cuidado exclusivo da mulher e do recém nascido foi documentado o emprego de 98 plantas, com destaque de espécies nativas arbóreas, que corresponde a 70% da amostra total de espécies registradas neste estudo; cascas, folhas, raízes e sementes são empregadas para tratar distúrbios do ciclo menstrual, cuidados do sistema reprodutor, aspectos da reprodução, cuidados do recém nascido e puerpério. Para analisar o fator de consenso do informante, as plantas referidas para uso feminino foram enquadradas nos sistemas reprodutivo e endócrino, este último abrangendo as plantas usadas para regular o ciclo menstrual.

Dentre as indicações dadas pelos

informantes, a principal doença feminina é a ―dona do corpo‖, expressão que se refere ao mal-estar e dores manifestados em mulheres que não se cuidaram de modo adequado durante o puerpério. Baseado nas informações obtidas neste estudo, a dona do corpo pode ser interpretada como o útero, já que é uma parte inerente da mulher desde que nasce, mas que é referida como uma doença de grande importância


segundo os relatos dos especialistas; para o tratamento da ―dona do corpo‖ os especialistas recomendam o uso de uma garrafada especial, consistindo numa mistura de diversas plantas referidas na Tab. 1. Um dos aspectos abordados nas entrevistas foi a percepção tradicional sobre toxicologia e efeitos nocivos com o uso de fitoterápicos tradicionais. Foram registradas plantas com restrições de uso, baseado no conhecimento sobre ―o grau de veneno‖ que muitas delas possuem, assim como o efeito abortivo e as quantidades a serem empregadas,....―Tudo tem uma medida justa” , afirmaram sempre os curandeiros, parteiras e rezadeiros quando consultados sobre a dosagem. Alguns dos especialistas afirmaram ter experimentado as plantas antes de recomendá-las a outras pessoas e deram sempre as recomendações pertinentes quanto à dosagem, duração do tratamento, restrição do uso por parte de menores, gestantes e anciãos, assim como predisposições ocasionadas por outras doenças.

Apesar de conhecer o efeito

abortivo de muitas plantas comuns nas aldeias, todas as pessoas entrevistadas coincidiram em afirmar que não costumam dar esta indicação e sim as advertências no uso destas plantas. Para os especialistas consultados as plantas percebidas com gosto amargo são suspeitas de ter efeitos abortivos ou tóxicos; de maneira similar, a percepção olfativa apresenta relevante importância na identificação e classificação dos recursos vegetais.

Tabela 3. Consenso dos informantes para os diferentes sistemas corporais e outras categorias asignadas para as diferentes indicações terapêuticas no sistema de cura Pankararu. FCI*: Fator de consenso dos informantes. Sistemas corporais e outras categorias Reprodutivo (Gravidez, parto e puerpério)

Respiratório

Indicações terapêuticas ajuda na dilatação uterina, libera a placenta, contração uterina em risco de aborto, cicatrizante genital, antiinflamatória, adstringente, depurativo no puerperio, cuida o resguardo, resguardo (cuidados do puerperio) quebrado, hemorragia do pós-parto e no aborto, debilidade durante o parto, complicações na amamentação. gripe, tosse, afecções pulmonares, sinusite, pneumonia.

Circulatório

anemia, sangue grosso, derrame (AVC), sangue por dentro, sangue na cabeça, leishmaniose.

Digestivo

Renal

infecção intestinal, gastrite, parasitas, diarréia, enterite, indigestão, apendicites, enjôo na gravidez, hemorróida, sintomas quando nascem os dentes. colesterol, diabetes, infertilidade, câncer, tumor, hérnia, cólica menstrual (dismenorreia), emenagoga (restabelece a menstruação, abortiva), regula a menstruação, menorragia (excesso de fluxo menstrual), infecção, icterícia, contraceptivo. pedra nos rins.

Imunológico

febre.

Endócrino

doenças da pele, cicatrizante, infecção em feridas, alopésia (queda do cabelo), remoção de espinhos, prurido, bromidrose, verrugas, antiinflamatória (dente). Doenças do aparelho auditivo otite.

No. de citacões de uso

No. de espécies vegetais

FCI*

437

76

0,83

422

85

0,8

301

84

0,72

277

76

0,72

164

58

0,65

26 171

10 64

0,64 0,62

141

59

0,58

Tegumentar

Ósseo—articular

reumatismo, dor nas articulações, artrite.

5 87

3 48

0,5 0,45

Doenças do aparelho cardiocirculatório

hiper ou hipotensão, afecções cardíacas, antiinflamatória.

34

20

0,42


Geniturinário

infecção geniturinária, vaginite, próstata, doenças sexuais. analgésico (cefalea), epilepsia, insônia, ansiedade, tontura, calmante.

34

25

0,27

20

16

0,21

Ocular

limpa os olhos, catarata.

17

15

0,12

Músculo-esquelético

analgésico (dor nas costas, dor de coluna).

10

9

0,11

121 12

56 7

0,54 0,45

55

35

0,37

64

41

0,36

Nervoso central

Outras categorías Doença cultural

mau olhado, cansaço, fetiço, descarrega o corpo, outros.

Antiofídico

mordedura de cobra.

Mistico-religioso

descarrego, limpeza energética, defumador, banho de proteção, clareia a mente. dor no corpo, fadiga, fraqueza.

Doenças de difícil definição

No que refere a percepção dos especialistas acerca das contra-indicações e restrições no uso dos recursos vegetais, a maioria coincidiu em afirmar que todo remédio a base de planta requer uma dieta especial durante seu uso e distinguem que algumas plantas mais do que outras têm restrições em relação à alimentação; entre as que se destacam incluem-se Boerhavia difusa L. e Operculina alata (Ham.) Urb., ambas indicadas como vermífugas e para o tratamento de complicações do sistema digestivo; outras plantas foram referidas como potencialmente abortivas, como Prosopis julifora (Sw.)DC., X. americana, Conocliniopsis prasiifolia (DC.)R. M. King & H. Rob., Tabebuia caraiba (Mart.) Ber., Guapira laxa L., Senna obtusifolia (L.) H.S.Irwin & Barneby, A. brasiliensis, E. viscosa, S. tuberosa, H. mutabili, P. sagittalis e Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K. Algumas plantas só podem ser usadas em forma de lambedor (xarope), como A. vera, O. alata, Erythrina velutina Willd., B. verticillata (L.) G. Mey. e S. obtusifolia. Dez espécies não podem ser empregadas por via oral durante o período da menstruação: A. occidentale, S. obtusifolium, H. mutabilis, P. julifora, Ageratum conyzoides L., G. laxa, T. caraíba, Krameria tomentosa St. Hil., Senna rizzini H. S. Irwin & Barneby e Croton argyrophylloides Mull. Arg.. Três espécies, Turnera ulmifolia L., Acanthospermum hispidum DC. e S. obtusifolia, não podem ser ingeridas por mulheres que ainda não conceberam. Em relação à idade, E. viscosa, A. occidentale, S. obtusifolium, Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett, A. occidentale e M. urundeuva são exclusivas para uso em adultos. A maioria das plantas citadas com restrição, são consideradas amargas ou levemente tóxicas. A diversificação e especificidade no conhecimento encontrado entre os especialistas Pankararu evidencia um refinamento neste saber empírico que, não obstante, precisa ser avaliado sob métodos científicos que contribuam para um melhor aproveitamento da flora medicinal. Entre as espécies consideradas tóxicas ou abortivas encontram-se algumas plantas de uso comum na região, muitas delas nativas do ecossistema caatinga, de importância nas práticas de cura das comunidades tradicionais e de destaque segundo os valores de importância relativa no presente estudo: A. occidentale; A. pyrifolium; C. ambrosioides; C. esculentus; C. hexandra; C. pyramidalis, E. viscosa; H. mutabilis; M. urundeuva; S. obtusifolium, T. caraiba; e X. americana; Algumas das espécies indicadas pelos Pankararu têm toxicologia comprovada, como R. graveolens, C. ambrosioides, A. hispidum, M. rigida, X. americana, A. cearensis e O. alata (Lorenzi & Matos 2002; Dantas 2003). Informações


farmacológicas e avanços nos estudos de toxicologia encontrados na literatura sobre as espécies registradas neste estudo foram organizados e sistematizados para ser entregues à comunidade através de numa cartilha sobre a flora medicinal de maior importância cultural para a tribo indígena Pankararu.

3.4. Padrões de uso e conservação A casca do tronco é a parte da planta com maior freqüência de uso (38%), destacando-se a aroeira, ameixa, cajueiro, quixabeira, pau-ferro e jatobá. As folhas são a segunda parte mais usada (26%), seguidas da raiz (23%) (Fig. 7). O uso da casca e raiz na flora medicinal Pankararu assemelha-se a outras práticas da região nordeste brasileira (Melo et al. 2008). Este fato merece atenção em face do possível impacto das práticas de uso tradicional nas populações das espécies vegetais de interesse terapêutico (Fig. 8 a-c). Quando foram abordados os aspectos sobre a percepção de escassez dos recursos vegetais e as práticas de manejo sustentável, as reflexões levantadas indicam que os especialistas Pankararu consultados estão cientes da importância de conservar os recursos vegetais para o seu uso futuro. Para eles, as partes da casca coletadas não afetam negativamente as populações das espécies medicinais, já que pequenas peças do caule são extraídas de diferentes indivíduos, e que evitam coletar indivíduos percebidos como “muito novos”. Enfatizaram também que sempre recomendam a seus pacientes coletar apenas a quantidade a ser utilizada, com o propósito de não descartar o material coletado. No entanto, com base na dificuldade de obtenção dos recursos vegetais de crescimento espontâneo, para os especialistas algumas espécies têm se tornado ―escassas‖ nos últimos anos; entre estas se encontram arbustos como o carrapicho-de-boi (K. tomentosa.) e arcansú (Stylosanthes capitata Vog.), nas quais o uso da raiz implica a perda total do individuo, o que pode estar afetando as populações naturais destas espécies. No trabalho de campo encontrou-se com regularidade evidências de antigas coletas das cascas em diferentes indivíduos de aroeira, ameixa, cajueiro e angico, entre outros, geralmente em indivíduos afastados um do outro. Numa única ocasião foi observado um indivíduo de S. obtusifolium e outro de X. americana sobre os quais foi mencionado que morreram devido à sobre-exploração para uso medicinal. Estes dois indivíduos encontravam-se nas proximidades de uma das aldeias, o que possivelmente acrescentou a freqüência do uso do mesmo indivíduo por diversas pessoas, além dos especialistas. Apesar de não ter sido realizado um estudo quantitativo dos métodos de coleta e dos seus possíveis impactos sobre as plantas, aparentemente os recursos disponíveis das espécies arbóreas e a maioria das arbustivas conseguem subsidiar as necessidades da comunidade e manter aparente equilíbrio na estrutura das populações, uma vez que eles as utilizam unicamente para o consumo pela comunidade e nunca para a comercialização. Não obstante, uma vez que observações isoladas e percepção tradicional não são suficientes para determinar o impacto sobre as populações de espécies medicinais, existe a necessidade imperativa de realizar estudos que quantifiquem o consumo do material vegetal principalmente para


espécies de distribuição restrita (nativas e endêmicas), assim como avaliar os possíveis prejuízos do uso destes recursos pelas comunidades tradicionais. Por outro lado, em compensação, plantas arbóreas nativas de uso medicinal como a aroeira, angico, quixabeira e umbu, entre outras, são mantidas nas áreas de habitação e de cultivo nas aldeias; considerando que algumas destas espécies encontram-se ameaçadas de extinção, o manejo adequado pode contribuir para sua conservação.

Figura 7. Partes da planta usadas no preparo dos remédios tradicionais pelos especialistas Pankararu, Pernambuco, Brasil. Foi documentado o comércio de espécies medicinais efetuado por pessoas externas ás aldeias, regularmente eles participam das feiras livres nos municípios de Tacaratu e Jatobá, onde é comum a venda de cascas secas de espécies nativas como aroeira, cajueiro e barbatimão, cujos locais de extração não foram indicados pelos comerciantes. Outras plantas comercializadas são o gergelim, Sesamum indicum L. e a noz-moscada, Myristica fragans Houtt. (Fig. 9, a-c). Resulta preocupante que, no Brasil, as espécies mais importantes do ponto de vista etnobotânico incluem-se entre as mais vulneráveis, devido à exploração sistemática que vêm sofrendo (Oliveira et al. 2007); S. brasiliensis e M. urundeuva, por exemplo, constam na lista de espécies ameaçadas de extinção e merecem atenção especial no desenvolvimento de técnicas de manejo sustentável que promovam a manutenção das populações, garantindo a sua conservação. Neste sentido, segundo diversos autores, algumas espécies típicas da caatinga, geralmente lenhosas, terminam sendo mais vulneráveis uma vez que apresentam ciclos de vida mais prolongados e métodos de coleta às vezes destrutivos, incrementando assim a ameaça nas populações destas espécies de uso terapêutico (Melo et al. 2008; Oliveira et al. 2007;


Albuquerque et al. 2005; Albuquerque & Andrade 2002). Além disso, a pressão sobre estas espécies lenhosas é ainda maior considerando os usos extrativistas, além do medicinal, como o madeireiro, alimentar e artesanal (Albuquerque, 2001; Albuquerque & Andrade 2002; Albuquerque et al. 2005). Com os resultados apresentados aqui, pode-se concluir, que a área de habitação da tribo Pankararu abriga uma elevada diversidade de plantas medicinais, assim como a importância destes recursos para o cuidado da saúde nas aldeias. Existe um vasto conhecimento tradicional sobre os recursos fitoterápicos entre os especialistas Pankararu e uma forte dependência dos recursos fitoterápicos na suas práticas de cura. O conhecimento dos especialistas no sistema de cura é rico e aprofundado em temas como propriedades terapêuticas das plantas, contra-indicações e riscos no uso de espécies com efeitos tóxicos. É preocupante o consumo local de chás elaborados com plantas de toxicologia comprovada e são necessários estudos que validem o conhecimento tradicional, propiciando descobertas de novos fitofármacos, e o uso eficaz e seguro dos recursos vegetais. As práticas de manejo, em especial das espécies arbóreas e arbustivas, devem ser avaliadas quanto ao impacto nas populações naturais, exploração sustentável e viabilidade na domesticação de recursos nativos, mediante métodos quantitativos que contribuam para a elaboração de planos de manejo para as espécies mais vulneráveis, favorecendo o abastecimento sustentável em comunidades tradicionais e, por conseguinte, a conservação das práticas de uso tradicional destes recursos. Sugere-se maior atenção quanto às técnicas de coleta, em especial da casca e raiz das espécies nativas que sofrem intenso uso pelos curandeiros (as) locais, algumas das quais se encontram enquadradas nas categorias vulnerável e ameaçada de extinção (IBAMA 1992; IUCN 2001).

Agradecimentos Á comunidade indígena Pankararu, lideranças, especialistas e outros habitantes das aldeias pela receptividade e participação do estudo; à Dra Valdeline Atanázio da Silva, pela importante contribuição na leitura crítica deste artigo; à FACEPE, Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do estado de Pernambuco, pela bolsa de Pós-graduação IBPG-0113-2.03/08; à Olivia Cano, Dra. Rita de Cássia Pereira, Iane Rego pela identificação das espécies liquênicas, a Keyla Miranda pela colaboração na determinação das espécies da família Solanaceae, á Dra Iva C. L. Barros pela colaboração na identificação das samambaias e á equipe do Instituto Agronômico de Pernambuco, IPA.


a

b

c

Fig. 8 (a-c) Praticas de uso dos recursos fitoterรกpicos pelos especialistas Pankararu, coleta de raiz e casca; plantas secas conservadas..

a

b

Fig. 9. (a-c) Comercio local de plantas medicinais: A: Aroeira Myracrodruon urundeuva Allemao., B: Barbatimao, Stryphnodendron sp., Quixabeira, Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn; D: Gergelim, Sesamum indicum L. e Nozmoscada, Myristica fragans Houtt..

c


6. Referências bibliográficas

Albuquerque, U. P. 2001.The use of medicinal plantas by the cultural descendants of African people in Brazil. Acta Farmaceutica Bonaerense 20(2):139-144.

Albuquerque, U.P. 2006. Re-examining hypotheses concerning the use and knowledge of medicinal plants: A study in the Caatinga vegetation of NE Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, 2(30): 1-10.

Albuquerque, U.P., Lucena, R.F.P., Machado, E.F.L.N. 2008a Seleção e escolha dos participantes da pesquisa. Pp.21-40. In: U.P. Albuquerque, R.F.P. Lucena & L.V.F.C. Cunha (orgs.). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife: COMUNIGRAF 2ed.

Albuquerque, U.P. ; Monteiro, J.M.; Ramos, M.A. & Amorim, E.L.C. 2006. Medicinal and magic plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology 110:76-91.

Albuquerque, U.P.; Silva, V.A.; Cabral, M. C.; Alencar, N. L. & Andrade, L. H. C. 2008b.Comparisons between the use of medicinal plants in indigenous and rural caatinga (dryland) communities in NE Brazil. Boletín Latinoamericano y del Caribe de Plantas Medicinales y Aromáticas 7:156-170.

Almeida, C.F. & Albuquerque, U.P. 2002. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): um estudo de caso. Interciencia 27(6): 277-285.

Almeida C. F.; Amorim, E.L.C; Albuquerque, U.P. & Maia, M.B. 2006. Medicinal plants popularly used in the Xingó region – a semi-arid location in Northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine Research 2(15): 1-7.

Amorozo, M.C.M. 2001. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasílica 16(2): 189-203.

Athias, E.R. 1992. Espaço, fecundidade e reprodução entre os Pankararu. Pp.1-23. In: Anais. XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil.

Athias, E.R. & Machado, M. 2001. A saúde indígena no processo de implantação dos Distritos Sanitários: temas críticos e propostas para um diálogo interdisciplinar. Cadernos de Saúde Pública 17(2): 425-431.


Begossi, A. 1996. Use of ecological methods in ethnobotany: Diversity indices. Economic Botany 50(3): 280–289.

Bennett, B. C. & Prance, G. T. 2000. Introduced plants in the indigenous pharmacopoeia of Northern South America. Economic Botany 54: 90-102.

Dantas, I.C. & Guimarães, F.R. 2007. Plantas medicinais comercializadas no município de Campina Grande, PB. Revista de Biologia e Farmácia 1(1): 1-13.

Di Stasi, L.C. 1996. Conceptos básicos na pesquisa de plantas medicinais. Pp.23-27. In: Di Stasi, L.C. (org). Plantas medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo interdisciplinary. São Paulo. UNESP.

Fontbonne, A.; Frese E.; Duarte, M.; Amorim, G. & Pessoa, E. A. 2001. Fatores de risco para poliparasitismo intestinal em uma comunidade indígena de Pernambuco, Brasil. Cadernos de Saúde Pública 17(2): 2-14.

Forero, L.P. 2004. Contribuciones de la Etnobotánica al desarrollo de la investigación en plantas medicinales. Pp. 1 -13. In: Livro de resumo do II Seminario Internacional de plantas medicinales y aromáticas y Foro sobre mercado. Palmira, Colombia.

Gazzaneo, L.R.; Lucena, R.F. & Albuquerque, U.P. 2005. Knowledge and use of medicinal plants by local specialists in a region of Atlantic Forest in the state of Pernambuco (Northeastern Brazil). Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 1(9): 1-8.

Gomez, E. C.; Barbosa, J., Vilar, F. C.; Perez, J. O. & Ramalho, R. C. 2007. Plantas da caatinga de uso terapêutico: levantamento etnobotânico. Pp. 9 In: II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica. João Pessoa. PB.

Hamilton, A.C.; Sheingji, P.; Kessy, J.; Khan, A.A.; Lagos-Witte, S. & Shinwari, Z.K. 2003. The purposes and teaching of applied ethnobotany. People and plants working 11:1-74.

Hernández, T.; Canales, M.; Caballero, J.; Durán, A. & Lira, R. 2005. Análisis cuantitativo del conocimiento tradicional sobre plantas utilizadas para el tratamiento de enfermedades gastrointestinales en Zapotitlán de las Salinas, Puebla, México. Interciencia 9(30): 1-14.


IBAMA 2006. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Link: http://www.ibama.gov.br/flora/divs/plantasextincao.pdf. (acesso em 07/05/2010).

IUCN

2001.

The

International

Union

for

Conservation

http://www.iucn.org/about/work/programmes/species/red_list/resources/iucn_red_list,

of

Nature.

(acesso

em

07/05/2010).

Langdon, E. J. 1974. The Siona Medical System: Beliefs and Behaviour. Tese de Doutorado, New Orleans: Tulane University. (texto mimeografado).

Lorenzi H. & Matos F..J.A. 2002. Plantas Medicinais do Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Plantarum, 512 Pp.

Matta, P. 2005. Dois elos da mesma corrente, uma etnografia da corrida do Imbu e da Penitencia entre os Pankararu. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo. São Paulo.

Morais, S. M.; Dantas, J. P. & da Silva, A.R 2005. Plantas medicinais usadas pelos índios Tapeba do Ceará. Revista Brasileira de Farmacognosia 15(2): 169-177.

OMS - Organização Mundial da Saúde. 2000. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a revisão, São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, Vol. 1, 1191 p.

ONU - Organização das Nações Unidas. 1992. Convenção de Diversidade Biológica Rio de Janeiro. Protocolo de Kyoto (1997) De la convención marco de las Naciones Unidas sobre el cambio climático. http://unfccc.int/resource/docs/convkp/kpspan.pdf

Martin, G.L. 1995. Etnobotany: a people and plants conservation manual. London: Chapman & Hall, 268p.

Oliveira, R.L.; Lins Neto, E.M.F; Araujo, E.L. & Albuquerque, U.P. 2007. Conservation priorities and population structure of woody medicinal plants in an area of caatinga vegetation (Pernambuco State, NE Brazil). Enviromental Monitoring and Assessment 132: 189-206.

Pimenta, T. S. 1998.

Barbeiros-sangradores e curandeiros no Brasil. História, Ciências, Saúde-

Manguinhos 5(2): 1808-28.


Phillips, F. & Gentry, A.H. 1993. The useful plants of Tambopata, Peru: Statistical Hypotheses test with a new quantitative technique. Economic Botany 47(1):15-32.

Posey, D. A. 1992. Etnobiologia e etnodesenvolvimento: importância da experiência dos povos tradicionais. Pp. 112-117. In: Anais. Seminário internacional sobre meio ambiente, pobreza e desenvolvimento da Amazônia, Belém. PA.

Prance, G.T.; Balée, W.; Boom, B.M. & Carneiro, R.L. 1987. Quantitative ethnobotany and the case for conservation in Amazonia. Conservation Biology 1(4):296-310.

Ribeiro, A.E.; M; Galizoni, F. M. & Calixto, J. S. 2002. Regulação, normas e técnicas de extração de recursos naturais em áreas coletivas do alto Jequitinhonha. Pp. 591 – 610. In: Anais. XIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Ouro Preto: ABEP.

Silva, V. A. & Andrade, L. H. C. 1998. Etnobotânica Xucuru: plantas medicinais. Revista Brasileira de Farmácia 79(1/2): 33-36.

Silva, V. A.; Andrade, L. H. C. & Albuquerque, U. P. 2005. Variação intracultural no conhecimento sobre plantas: o caso dos índios Fulni-ô. Pp. 237-262. In: U P. de Albuquerque; C. F. C. B. R. Almeida & J F. A. Marins. (Orgs.). Tópicos em conservação, etnobotânica e etnofarmacologia de plantas medicinais e mágicas. 1 ed. Recife: Livro Rápido.

Silva, V. A.; Andrade, L. H. C. & Albuquerque, U. P. 2006. Revising the Cultural Significance Index: The Case of the Fulni-ô in Northeastern Brazil. Field Methods 18(1): 98-108.

Socioambiental. 2005. Instituto Socioambiental (ISA) http://pib.socioambiental.org/pt/povo/pankararu (acesso em 09/07/2009).

Trotter, R. & Logan, M. 1986. Informant consensus: a new approach for identifying potentially effective medicinal plants. Indigenous Medicine and Diet: Biobehavioural Approaches. Nova York. Redgrave.

Voeks, R.A 2007. Are women reservoirs of traditional knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in northeastern Brasil. Singapore Journal of Tropical Geography 28(1):7-20.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Terra Indígena Pankararu, Pernambuco, nordeste do Brasil. Fonte: FUNAI, 2009, modificada.

Figura 2 a - d. Formações vegetais nas aldeias Pankararu, Pernambuco, nordeste do Brasil. a. Caatinga, b. Campo cerrado, c – d. Brejo de altitude.

Figura 3 a - f. Especialistas do sistema de cura tradicional Pankararu: a. Zé Lucia dos Santos, curandeiro; b. Julia Machado, curandeira; c. Fausto Monteiro da Silva, curandeiro; d. Luzinete Aciole do Nascimento, rezadeira; e. Rosa Maria da Conceição, rezadeira; f. Maria Antonia Avelina, parteira. Figura 4. a – d. Plantas de uso medicinal na comunidade indígena Pankararu: Catingueira, Caesalpinia pyramidalis Tul.; Mulungu, Erythrina velutina Willd.; Umbu, Spondias tuberosa Arr. Câm. Umburanade-cambão, Conmiphora leptoplheos Mart.

Figura 4 e - j. Plantas de se uso medicinal na comunidade indígena Pankararu (continuação): Jarrinha, Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc. Mandacaru, Cereus jamacaru D.C. Carrapicho de boi, Santa Maria, Solanum americanum Mill. Alecrim de caboclo, Lippia thymoides Martius & Shouer Alecrim de vaqueiro, Lippia gracilis Schauer.

Figura 5. Hábitos das espécies no repertório local da flora medicinal Pankararu.

Figura 6.a - c. Liquens utilizados na medicina tradicional Pankararu: a. Heterodermia galactophylla (Tuck.) W. Culb.; b. Canoparmelia salacinifera Hale; c. Parmotrema wrightii Ferraro & Elix.

Figura 7. Partes da planta usadas no preparo dos remédios tradicionais pelos especialistas PankararuPernambuco - Brasil. Fig. 8 a – f. Práticas de uso dos recursos fitoterápicos pelos especialistas Pankararu, coleta de raiz e casca; plantas secas conservadas nas casas dos especialistas.

Fig. 9 (a - c). Comércio local de plantas medicinais: Aroeira- Myracrodruon urundeuva Allemao Barbatimão, Stryphnodendron sp., Quixabeira, Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn, Gergelim, Sesamum indicum L. e Noz-moscada, Myristica fragans Houtt..


LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Espécies de uso medicinal na comunidade indígena Pankararu. Status: A: Ameaçada, PC: prioridades de conservação, P: Em perigo; Manejo: c: cultivada, com: comprada; e:espontânea; Hab = Hábito: avo = árvore; arb = arbusto; erv = herbácea; trp = trepadeira; epf = epífita; outros: líquen e cactos.

Tabela 2. Espécies vegetais com os maiores valores de importância relativa na medicina tradicional Pankararu e sistemas corporais atendidos. *Origem: B. Brasil, NB, Nordeste do Brasil, E. Exótica.

Tabela 3. Consenso dos informantes para os diferentes sistemas corporais e outras categorias asignadas para as diferentes indicações terapêuticas no sistema de cura Pankararu. FCI*: Fator de consenso dos informantes.



Plantas medicinais de uso feminino na comunidade indígena Pankararu, nordeste do Brasil

Paola Andrea Londoño Castañeda¹, Antônio Fernando Morais de Oliveira² e Laise de Holanda Cavalcanti Andrade3 1. Programa de Pós- Graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco. 2. Laboratório de Etnobotânica e Botânica Aplicada (LEBA), Universidade Federal de Pernambuco. 3. Laboratório de Fitoquimica, Universidade Federal de Pernambuco. * Rua Prof. Nelson Chaves, s/n, Cidade Universitária - Recife - Brasil, CEP: 50.670-901 E-mail: paolalondonocastaneda@gmail.com

Resumo (Plantas medicinais de uso feminino na comunidade indígena Pankararu, nordeste do Brasil). O conhecimento tradicional sobre o uso das plantas para o cuidado da saúde representa um importante aspecto cultural e de sobrevivência na comunidade indígena Pankararu, assentada no sertão de Pernambuco, nordeste do Brasil. O presente trabalho objetivou estudar o uso medicinal das espécies vegetais indicadas por parteiras e curandeiros Pankararu direcionado para o tratamento das doenças e queixas femininas, assim como para o atendimento do nascimento, puerpério e cuidados do recém nascido. Empregando-se metodologias participativas e técnicas qualitativas e quantitativas da etnobotânica, se retratam aspectos etnofarmacológicos que incluem os diversos usos das plantas, indicações terapêuticas, formas de preparo e emprego, posologia e contra-indicações populares. As espécies citadas foram coletadas em áreas de caatinga e brejo localizadas nas proximidades das aldeias. Foram identificadas 98 espécies pertencentes a 50 famílias, sendo mais representativas as Leguminosae, Asteraceae, Euphorbiaceae e Anacardiaceae. As espécies mais utilizadas são: Myracrodruon urundeuva Allemao (aroeira); Anacardium occidentale L. (cajueiro vermelho); Ximenia americana L. (ameixa); Pterocaulon alopecuroides (Lam.)DC. (quetoco); Spondias tuberosa Arr. Câm.(umbuzeiro); Aristolochia brasiliensis Mart. ex Zucc.(jarrinha) e Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. et Rowl. (xique-xique). Os principais usos indicados foram: antiinflamatório, complicações no puerpério, cicatrizante e os relacionados à regulação do ciclo menstrual. O conhecimento tradicional sobre ações terapêuticas e restrições de uso de algumas plantas coincide com informações farmacológicas e toxicológicas encontradas na literatura

Palavras-chave: etnobotânica, parteiras, conhecimento tradicional, caatinga.

Abstract (Herbal medicine use by women in the indigenous community Pankararu, northeastern Brazil) Traditional knowledge about the use of plants for health care is an important aspect of survival in the cultural and indigenous community Pankararu, Pernambuco, northeastern Brazil. The present study investigated the use of medicinal plant species listed by midwives and healers from Pankararu directed to the treatment of female diseases, as well as for birth attending, postpartum and newborn care. Through the use of participatory methodologies and qualitative/quantitative techniques of ethnobotany, ethnopharmacological aspects were addressed which include the various uses of plants, therapeutic indications, preparation methods and use, dosage and popular contraindications. Cited species were collected in caatinga and upland forest located nearby villages. Were identified 98 species belonging to


50 families, being Leguminosae, Asteraceae, Euphorbiaceae and Anacardiaceae the most representative. The most commonly used species are: Myracrodruon urundeuva Allemao (aroeira); Anacardium occidentale L. (cajueiro vermelho); Ximenia americana L. (plum); Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC. (quetoco); Spondias tuberosa Arr. Câm. (umbuzeiro); Aristolochia brasiliensis Mart. ex Zucc. (jarrinha) and Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. et Rowl. (xique-xique). Primary uses listed include: anti-inflammatory, postpartum complications, scarring and related to regulation of the menstrual cycle. Traditional knowledge about therapeutic actions and restrictions on use of some plants coincides with pharmacological and toxicological information in the literature. Keywords: ethnobotany, midwives, traditional knowledge, caatinga.

1. Introdução


No mundo inteiro as parteiras têm desempenhado o importante papel de cuidar da saúde reprodutiva feminina, abrangendo o acompanhamento da gestação, parto, cuidados no puerpério e do recém nascido. O controvertido papel social das parteiras, considerando a sua relevância dentro das comunidades tradicionais, foi discutido por Jenkins (2003) no seu estudo na Costa Rica, onde destaca diversos valores da prática tradicional das parteiras, os quais são perdidos na institucionalização do parto no sistema médico ocidental. A qualificação das parteiras tem sido considerada uma das principais preocupações e um dos princípios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a partir do desenvolvimento do Milênio 5 (ODM 5), com enfoque especial nos países em desenvolvimento. Da mesma maneira, no contexto brasileiro, a partir de 2002, as diretrizes da Política da Saúde Indígena dentro do programa ―Articulação dos sistemas tradicionais indígenas de saúde‖ (Fundação Nacional de Saúde, 2002) re-valoriza e reconhece a importância do saber tradicional das comunidades nativas detido por parteiras indígenas e propõe legitimar este conhecimento articulando-o ao sistema oficial de saúde local. Nas últimas décadas, mais pesquisas têm se interessado em documentar aspectos etnobotânicos e farmacológicos relacionados com a saúde feminina (Martinez, 2006); além do registro de informações etnofarmacológicas, desde uma perspectiva social, estas pesquisas contribuem para o reconhecimento e valorização do saber detido nas parteiras tradicionais (Parra, 1993). No entanto, este saber empírico precisa ser verificado e aprimorado, com o propósito de contribuir para o melhoramento do emprego de fitoterápicos dentre as comunidades tradicionais. Bourdy e Walter (1992), por exemplo, no seu estudo no arquipélago Vanuatu, Nova Caledônia, abordam aspectos relacionados com a eficácia das espécies vegetais empregadas na saúde do ciclo reprodutivo feminino; estes autores selecionaram cinco espécies com atividade estrogênica para seu estudo farmacológico e concluem que os resultados encontrados foram insuficientes para determinar a efetividade in vivo das espécies analisadas. Na África, Varga e Veale (1997) e Steenkamp (2003) descreveram o uso de plantas medicinais durante a gravidez e para o tratamento de disfunções ginecológicas e destacam os possíveis efeitos tóxicos no uso dos fitoterápicos. Na América Central e Latina, os aspectos relacionados com saúde feminina, ciclo reprodutivo da mulher e cuidados pós parto, foram abordados por Arenas e Moreno (1977) que registram junto a obstetras, curandeiros e vendedores de plantas medicinais as espécies utilizadas para a regulação da fecundidade numa comunidade rural no Paraguai; Ososki et al. (2002), através da revisão bibliográfica e comparação com dados etnobotânicos obtidos junto a curandeiros na República Dominicana, estudando as mudanças nos padrões de uso, Ticktin e Dalle (2005) abordaram aspectos culturais e etnobotânicos acerca da saúde materno-infantil junto a 23 parteiras em Honduras, encontrando preponderância no uso de plantas invasoras; Martínez (2006) documenta as práticas tradicionais e usos das plantas utilizadas para o tratamento e cuidado da saúde reprodutiva feminina numa comunidade rural na Argentina, aspectos das praticas tradicionais associados aos cuidados da saúde


materno-infantil são discutidos, considerando as categorizações populares que fazem parte do entendimento tradicional da cura por meio de plantas medicinais. Neste estudo se descrevem 12 diferentes doenças relacionadas ao sexo feminino tratadas com 48 espécies vegetais. No Brasil, os poucos estudos realizados sobre a saúde da mulher indígena (Gil, 2007) descrevem as práticas tradicionais e geralmente foram desenvolvidos por pesquisadores das ciências sociais, principalmente da antropologia cultural. Desde outra perspectiva, médicos e enfermeiros têm se interessado em estudar os aspectos da saúde nos povos nativos, com alguns poucos estudos aprofundados sobre estes aspectos. Na região norte do Brasil, Chamilco (2004) realizou estudo sobre as práticas culturais no período da gravidez e do puerpério, junto às parteiras tradicionais no município de Santana, estado do Amapá; além de descrever diversos aspectos da saúde feminina, o autor refere o uso de plantas e cita os tipos de fitoterápicos preparados com 31 espécies vegetais. Como apontado por Coimbra e Garnelo (2004), para a região nordeste do Brasil estes estudos são quase inexistentes, dispondo-se como única referência a pesquisa sobre saúde e fecundidade entre os povos indígenas de Pernambuco (Athias e Machado, 2001). Especificamente na terra Pankararu, o estudo etnográfico de Athias (2002; 2004, 2007) abordou diversos aspectos culturais da sexualidade, reprodução e território indígena; apesar disso, foi verificada a ausência de trabalhos etnobotânicos sobre a saúde feminina para esta e as demais tribos nordestinas. As pesquisas etnobotânicas desenvolvidas na região nordeste do Brasil evidenciam que um valioso saber sobre os recursos vegetais encontra-se detido

nos especialistas, que se destacam dos demais

membros da comunidade por possuírem um domínio no conhecimento especifico sobre o uso terapêutico das plantas (Albuquerque et al., 2008; Gazzaneo et al., 2005; Silva e Andrade, 1998, 2002; Silva et al., 2005, 2006). De acordo com estes trabalhos, as práticas tradicionais de cura são desenvolvidas pelos denominados benzedeiros, curandeiros, raizeiros e parteiras, através de um sistema de cura xamã baseado na confiança tanto no efeito curativo das plantas como no poder espiritual dos médicos tradicionais. No entanto, é claro que ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas por este tipo de pesquisa junto aos povos indígenas nordestinos, principalmente as de tipo farmacológico e de sustentabilidade. A partir de uma visão antropológica, Athias (2002) descreveu a prática das parteiras Pankararu e sua importância e vigência na atualidade, indicando que, apesar desta prática ser conservada nas aldeias, mulheres novas dão preferência ao parto hospitalar. No entanto, a partir de 2005, a realidade das mulheres e parteiras Pankararu nas aldeias tem sido influenciada por um processo formativo com as parteiras tradicionais, o qual foi enfocado na efetivação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, valorizando os conhecimentos tradicionais, e qualificando o saber ancestral das parteiras através de oficinas e treinamentos especializados sobre aspectos do trabalho de parto; estas oficinas proporcionaram a aquisição de novos conhecimentos da área de saúde reprodutiva na qualificação do trabalho das parteiras com melhoramento na assepsia durante a utilização de equipamentos básicos, e no


fortalecimento das parteiras e aprendizes como grêmio dentro dos especialistas tradicionais no sistema de cura Pankararu (Saúde sem limites, 2009). Paralelamente, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), através do Distrito Sanitário Especial Indígena de Pernambuco (DSEI) oferece atendimento médico a todos os índios Pankararu cadastrados, incluindo acompanhamento na gestação e atendimento hospitalar do parto. Este contexto possibilitou o estabelecimento de uma articulação entre o saber tradicional do grupo das parteiras com o serviço de saúde indígena da FUNASA, com a vinculação de algumas parteiras como agentes e auxiliares de saúde no Posto de Saúde da FUNASA na aldeia Brejo dos Padres. Em conseqüência, criou-se um sincretismo que enriquece o serviço de saúde para a mulher nas aldeias, uma vez que conserva a tradição do papel das parteiras dentro da cultura Pankararu e favorece a qualificação das mesmas. Neste contexto, surgiu o interesse de aprofundar estudos sobre o conhecimento tradicional sobre a flora de uso para o cuidado da saúde feminina, detido nas parteiras e outros especialistas do sistema de cura Pankararu. Assim, este estudo documenta as plantas usadas para o tratamento da saúde feminina, caracterizando diversos aspectos do sistema de cura Pankararu em relação à saúde da mulher, e descreve o conhecimento e percepção tradicional sobre usos terapêuticos e toxicologia das espécies de uso pelos especialistas locais.

2. Materiais e Métodos 2.1 Descrição da área de estudo e fisionomia vegetacional De acordo com o censo da FUNASA/DSEI-PE a área homologada como Terra Indígena Pankararu tem uma extensão de 8.100 ha (Socioambiental, 2009), com uma população ao redor de 4.000 habitantes; as 13 aldeias da tribo distribuem-se entre a Serra Grande e a Serra da Borborema, próximas às margens do Rio São Francisco, no limites dos municípios de Petrolândia, Tacaratu e Jatobá, no sertão pernambucano (Fig. 1). Segundo a classificação climática de Köppen, o clima local é do tipo BSHs' (semi-árido de baixas latitudes), com temperatura média anual de 25°C e pluviosidade média anual em torno de 600 mm. A vegetação é do tipo floresta seca tropical, caracterizada por uma predominância de espécies xerofíticas e decíduas, particularmente dotada com uma grande variação florística e fisionômica. O estudo abrangeu nove aldeias Pankararu, principalmente a conhecida como Brejo dos Padres, por concentrar um maior número de especialistas da tradição de cura. A aldeia Brejo dos Padres se situa num vale entre a Serra Grande e a Serra de Tacaratu nas proximidades da margem esquerda do São Francisco, um dos principais rios do nordeste brasileiro. A área indígena Pankararu se encontra numa paisagem de aparência árida enquadrada no domínio da caatinga, caracterizada como florestas arbóreas ou arbustivas, com predominância de arbustos baixos freqüentemente com espinhos, microfilia e características xerofíticas. Entre as espécies lenhosas típicas se encontram Ziziphus joazeiro Mart. (Rhamnaceae), Schinopsis brasiliensis Engler (Anacardiaceae), Caesalpinia pyramidalis Tul., Bauhinia cheilanta

(Bong.)

Steud.

(Leguminosae,

Caesalpinioideae);

Maprounea

guianensis

Aubl.


(Euphorbiaceae) (Araújo et al., 1995), plantas suculentas das famílias Cactaceae e Bromeliaceae são igualmente típicas e as lianas escassas (Araújo e Martins, 1999).

Fig. 1. Localização do território da tribo Pankararu, Pernambuco, nordeste do Brasil. Fonte: Londoño, 2010.


Segundo Albuquerque e Andrade (2002a), comunidades tradicionais que habitam o ecossistema da caatinga preferem espécies silvestres arbóreas nas suas práticas de uso dos recursos vegetais, mesmo que impliquem maior esforço de coleta frente a espécies do estrato herbáceo e subarbustivo, que se desenvolvem intensamente na temporada de maior pluviosidade. Os Pankararu realizam práticas de agricultura de subsistência, abrangendo em alguns dos casos a comercialização informal nos mercados locais de produtos alimentícios, como a macaxeira (Manihot esculenta Crantz.), o milho (Zea mays L..) e o feijão (Phaseolus vulgaris L.). As aldeias encontram-se inseridas em áreas em estadios diversos de sucessão ecológica onde podem se observar com freqüência frutíferas nativas como o murici, Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K., e umbu, Spondias tuberosa Arr. Câm., assim como espécies madeireiras e medicinais. Os indígenas Pankararu têm acesso ao Posto de Saúde, estabelecido na aldeia Brejo dos Padres, ao serviço gratuito de atendimento e uso de remédios alopáticos para os

cadastrados no sistema da

FUNASA. A equipe do DSEI-PE/FUNASA conta com um total de 22 agentes de saúde, 12 auxiliares de enfermagem e três enfermeiros, que auxiliam aspectos gerais do cuidado da saúde nas aldeias Pankararu. O DSEI oferece também o Programa da Mulher Indígena, que possibilita a realização regular de exames para o cuidado feminino, atendimento do pré-natal, parto hospitalar e puericultura, assim como acesso a hospitais dos municípios onde se situam as aldeias. Não obstante, informações obtidas pelo diagnóstico elaborado durante a implantação do DSEI-PE nas terras Pankararu revelam a grande importância dos médicos tradicionais dentro da comunidade, assim como uma freqüência significativa no uso de remédios caseiros para o tratamento das principais doenças registradas (Athias e Machado, 2001). Todavia, de acordo com o Sistema de Informação da Saúde Indígena Pankararu (SIASE, FUNASA), 90% dos partos nas aldeias são domiciliares e os cuidados da mulher na gestação e puerpério são realizados pelas parteiras locais. Atualmente, mesmo no parto hospitalar, existe a possibilidade de contar com o acompanhamento de uma das parteiras Pankararu que, sendo auxiliar de enfermagem contratada pela FUNASA, articula os dois tipos de medicina, a tradicional e a oficial. Nas práticas tradicionais do sistema de cura Pankararu as plantas desempenham um papel crucial para a subsistência deste povo tradicional.

2.2 Coleta de dados etnobotânicos O estudo etnobotânico se realizou a partir do mês de março de 2010, em nove aldeias Pankararu, realizado com a participação de 46 especialistas do sistema de cura tradicional que abrangem parteiras, curandeiros e rezadeiros (Londoño, 2010) os quais foram selecionados por meio da técnica ―bola de neve‖ (Albuquerque et al., 2008). O enfoque do estudo foi caracterizar a flora medicinal empregada no tratamento das doenças e queixas femininas, assim como para o auxílio do nascimento, puerpério e cuidados do recém nascido. Através de entrevistas semi-estruturadas, com o uso de formulários padronizados, foram registrados dados sobre a medicina tradicional local e padrões de uso da flora


medicinal (Apêndice 1). Entrevistas abertas e reuniões de grupos focais junto aos médicos tradicionais ou especialistas complementaram a compreensão dos diversos aspectos das práticas de cura Pankararu, assim como permitiram uma aproximação à percepção sobre a relevância dos recursos vegetais na saúde da comunidade; o conhecimento empírico sobre possíveis efeitos tóxicos das plantas de uso popular e os diferentes cuidados e restrições conhecidas pelos especialistas foram descritos e contrastados com a literatura disponível. As entrevistas foram gravadas em áudio cassetes e as informações depositadas em cadernos de campo; fotos dos especialistas locais e das espécies indicadas foram registradas na base de dados. Os locais e épocas de coleta das espécies medicinais foram indicados pelos especialistas; as espécies citadas foram coletadas nas proximidades das aldeias, em roças, áreas em regeneração e áreas de uso diverso pela comunidade, sempre em companhia de um informante local. Exsicatas representativas das espécies registradas foram depositadas nos herbários Geraldo Mariz (UFP), da Universidade Federal de Pernambuco e Dárdano de Andrade-Lima (IPA), do Instituto Agronômico de Pernambuco. As espécies medicinais foram classificadas taxonomicamente, e caracterizadas quanto ao hábito, parte da planta usada, usos indicados e práticas de uso e manejo (espécies espontâneas, subespontâneas, cultivadas e compradas). Devido à dificuldade em determinar a origem dos recursos fitoterápicos documentados, foram destacadas apenas as espécies nativas para o Brasil e a região Nordeste, de reconhecida procedência (Flora brasílensis, 2010).

3. Resultados e Discussão 3.1 Especialistas do sistema de cura e saúde feminina Entre os Pankararu, quando a mulher adoece consulta os especialistas locais, os quais baseiam seu trabalho no uso de plantas e rezas. Na escolha do tipo de atendimento, interfere o tipo de doença, as vantagens das duas alternativas, já que alguns dos serviços oferecidos pela FUNASA são ineficientes. No que se refere aos principais aspectos do cuidado do sistema reprodutor feminino, cuidados do parto e puerpério, higiene íntima e distúrbios no ciclo menstrual, os remédios a base de plantas recomendados pelos especialistas são privilegiados frente aos medicamentos da medicina oficial disponíveis nas aldeias; além disso, algumas doenças e queixas femininas, como complicações durante o puerpério, não apresentam equivalentes na medicina oficial, enquanto os especialistas

tradicionais conhecem

perfeitamente este tipo de doenças e como tratá-las à base de plantas. Enfermidades como câncer uterino, infertilidade, doenças sexuais e complicações durante o parto, são principalmente atendidas nos centros hospitalares, sendo previamente encaminhados desde o posto de saúde na aldeia Brejo dos Padres, da FUNASA. O grupo dos especialistas do sistema de cura Pankararu está representado por 28 mulheres e 18 homens entre os quais se incluem 13 parteiras locais, 24 curandeiros (as), e nove rezadeiros (as), numa faixa etária entre os 29 e 80 anos. Apesar dos entrevistados terem em média 55 anos de idade, alguns especialistas são pessoas muito jovens, que herdaram dos seus pais ou avós o conhecimento sobre o uso


terapêutico das plantas e assumiram o serviço da cura como uma missão atendendo, segundo eles, o chamado por parte dos encantados e guias de luz6. O desempenho realizado pelos especialistas tradicionais nas suas práticas de cura encontra-se caracterizado pelo sincretismo religioso, com a forte influência do catolicismo e em menor grau das manifestações afro-brasileiras; é muito importante o papel dos encantados, figuras indígenas que guiam, ensinam e acompanham os diferentes aspectos do sistema de cura tradicional Pankararu. Dados do SIASE, FUNASA (2009 - 2010) consultados no DSEI, Pólo Base da FUNASA localizado na aldeia Brejo dos Padres, revelam porcentagens mínimas no atendimento hospitalar de doenças genitais femininas, assim como maiores registros de parto domiciliar frente ao parto hospitalar. Apesar de hoje a prática do parto domiciliar auxiliado por parteiras tradicionais ser muito menos freqüente que em anos atrás, muitas mulheres nas aldeias Pankararu ainda conservam o saber e a prática do parto, as quais tem se organizado e começado um processo formativo com mulheres mais novas. Desta maneira, o grupo das parteiras ativas na comunidade Pankararu está constituído por mulheres adultas entre 35 e 68 anos de idade e sete jovens se encontram em processo de aprendizagem através do acompanhamento nos partos, reuniões e capacitações esporádicas. Pode-se inferir que a importância das parteiras nos cuidados da saúde e reprodução das indígenas Pankararu encontra-se baseada nos aspectos culturais assim como nas crenças religiosas comuns entre parteira e mãe/gestante. A partir do parto surge um novo vínculo familiar com o símbolo da ―comadre‖, sendo esta a parteira que cuida do puerpério e do recém nascido; dessa forma, existe um relacionamento além do ato em si do parto, conservado no decorrer do tempo, baseado na confiança, afeto e familiaridade entre elas, o que não acontece nos centros hospitalares, onde os vínculos sociais e afetivos entre a gestante e os médicos são inexistentes. Os curandeiros e rezadeiros também evidenciaram um vasto e diverso conhecimento sobre as plantas com ações terapêuticas de uso feminino.

a

b

c

Guias da luz são chamados os seres desencarnados que se encontram em comunicação com a deidade superior e os médicos tradicionais.


d

e

Figura 2 a-. Parteiras tradicionais e implementos da prática do parto: a. Maria Antonia Avelina; b. Maria das Dores da Silva; c. Elementos místicos na prática do parto, d-e. Implementos e ferramentas de uso pelas parteiras. 3.2 As plantas medicinais de uso feminino e seus padrões de uso O estudo etnobotânico junto aos especialistas da medicina tradicional Pankararu, revelou o uso de 223 plantas, das quais 98 foram indicadas em relação à saúde feminina e os cuidados para o recém nascido, quase todas (92%) identificadas até gênero e espécie (Londoño, 2010). Nesta abordagem, foram documentadas 44 doenças e/ou sintomas que são tratados com plantas, cultivadas ou espontâneas, distribuídas em 50 famílias, destacando-se pelo maior número de espécies as famílias Leguminosae (16), Asteraceae (8), Euphorbiaceae (5) e Anacardiaceae (4). As espécies com maior número de indicações pelos especialistas foram: Hyptis mutabilis Briq., sambacaitá (49), Lamiaceae; Myracrodruon urundeuva Allemão, aroeira (47), Anacardiaceae; Anacardium occidentale L., A. occidentale L., cajueiro vermelho (45), Anacardiaceae; Ximenia americana L., ameixa (43), Olacaceae; Pterocaulon alopecuroides (Lam.)DC., quetoco (25), Asteraceae; Spondias tuberosa Arr. Câm., umbuzeiro (22), Anacardiaceae; Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. et Rowl., xique xique (20), Cactaceae e Aristolochia brasiliensis Mart. ex Zucc., jarrinha (20), Aristolochiaceae (Tabela 1). Pouco mais de um terço das espécies (36%) são nativas do Brasil, algumas especificamente para o ecossistema Caatinga, entre as quais se incluem M. urundeuva, Syagrus coronata, (Mart.) Becc. e Aspidosperma pyrifolium Mart.. Destacam-se as espécies de crescimento espontâneo (80%) frente às plantas cultivadas ou compradas;

o elevado número de espécies introduzidas entre as indicadas pelos especialistas

Pankararu não surpreende, desde que espécies exóticas de ampla distribuição nos neotrópicos têm sido freqüentemente indicadas por comunidades tradicionais, incluindo povos indígenas em todo o Brasil (Begossi et al., 2002; Bennet e Prance, 2000); segundo Albuquerque et al. (2008), a introdução de plantas exóticas na farmacopéia de comunidades tradicionais deve ser considerada como um aspecto positivo, pois representa o enriquecimento do repertório local. A quantidade de material vegetal a ser utilizada é determinada pela parte da planta empregada, pela percepção tradicional sobre ―concentração‖ da planta e pelo gosto (amargo ou doce). Quando são usados folhas, pedaços de casca


ou raízes sempre foi referido o uso de um número ímpar das partes empregadas. Plantas amargas são recomendadas com restrição e referidas para regular o ciclo menstrual em caso de amenorréia e como abortivas, embora algumas delas também possam ser empregadas para facilitar o parto. Alguns autores analisaram os critérios tradicionais para seleção das plantas para usos feminino em diferentes culturas. Browner (1985), por exemplo, no seu estudo em Oaxaca, México, analisou a etiologia da doença em relação às bases para a ação terapêutica, avaliando categorias como frias, quentes, amargas e irritantes, entre outras, como critérios para seleção das plantas atuantes em distúrbios menstruais, anticoncepção, desordens reprodutivas e nascimento; o referido autor comenta de que maneira o uso de plantas quentes e amargas

ocasionam o aquecimento do sangue, ocasionando contrações uterinas e agindo como

facilitadoras durante o parto ou como reguladoras do ciclo menstrual. Como documentado para o ecossistema caatinga (Albuquerque e Andrade, 2002b; Monteiro et al., 2006), o uso da casca do caule de arbustos e árvores apresentou maior número de registros nas indicações terapêuticas tradicionais. Dentre os Pankararu, o uso da casca do tronco no preparo dos remédios femininos corresponde a 27% em relação ao número total de espécies; o uso das raízes (geralmente para ervas e arbustos), apresentou o mesmo percentual, seguido pelas folhas (22%); é menos comum o aproveitamento da parte aérea de ervas (8%) ou da planta inteira (6%), assim como da flor, fruto sementes (3%) e do látex (1%). Existe uma variedade de formas de preparação dos remédios de uso local, destacando-se a maceração, a decocção e a infusão. Em relação ao número de citações feitas pelos especialistas locais, a técnica de maceração, conhecida entre os Pankararu como ―deixar de molho‖, teve 284 citações, correspondendo ao 44% das prescrições totais; esta técnica é empregada para uso da casca e raiz, raspadas ou trituradas e o tempo de extração do principio ativo varia de acordo com a espécie utilizada, sendo geralmente entre 10 e 25 minutos. Freqüentemente a maceração da raiz é feita deixando-a ao ar livre até o dia seguinte (no sereno), para ser ingerida em jejum. Geralmente a maceração é feita com uso de água natural como veículo, porém o uso de garrafadas preparadas com cachaça e no vinho branco é comum para o tratamento das diferentes doenças da mulher indígena. As garrafadas de uso popular contem diversas partes de plantas com similares indicações terapêuticas, as quais são privilegiadas no uso de tratamentos prolongados de doenças crônicas, como reumatismo e deficiência na circulação. Segundo os especialistas, estas garrafadas são mais eficientes na cura destas doenças do que remédios preparados com uma única planta; outras indicações com uso de garrafadas foram referidas para tratar problemas no puerpério, infecções geniturinárias ou regular o ciclo menstrual. Estes remédios em garrafas são elaborados por poucos curandeiros e parteiras, pois requerem um saber mais especializado, detido em poucos indígenas nas aldeias.


Tabela 1. Lista das espécies de uso terapêutico para o atendimento da saúde feminina e do recém nascido. PC – Por Confirmar, NI –Não identificada; Hab – Hábito, Her – Herbáceo, Arb – Arbustivo, Arv – Arbóreo, Th – Trepadeiras herbáceas; e – espontânea, c – cultivada, com – comprada; N – Nativa, E – Exótica.

Familia / Taxon

Codigo coleta

Nome Comum

No. Indicações

Habito

Parte usada

Indicação

Manejo

origem

e

E

com

E

Acanthaceae Justicia strobilacea (Nees.) Lindau

63

Beija, Flor-de-beija

2

Arb

folha

sinusite recém nascido.

PC

Alho

1

Her

raiz

complicações no puerpério.

Anacardium occidentale L.

31

Cajoeiro-vermelho

45

Arv

casca

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal, contraceptivo, dismenorreia, menorragia, regula o ciclo menstrual, analgésico, depurativo e desinfetante no puerperio, vaginite, ferida no mamilo, complicações no puerperio.

e

N

Myracrodruon urundeuva Allemao

99

Aroeira

47

Arv

casca

adstringente, antiinflamatório, desinfetante, cicatrizante vaginal, menorragia, regula o ciclo menstrual, analgésico, depurativo puerperio, ferida no mamilo.

e

N

Braúna

2

Arv

casca

dismenorreia, complicações no puerperio, diminui a contração uterina (evita o aborto)

e

N

88

Umbú, Umbuzeiro

22

Arv

folha

emenagoga (abortiva), menorragia, diminui a contração uterina (evita o aborto), contração para liberar o feto em caso de aborto.

e

N

66

Croazinho

1

Her

folha

cólica menstrual, dismenorreia.

e

E

Coriandrum sativum L.

PC

Coentro

2

Her

semente

cólica do bebê..

c

Foeniculum vulgare Mill.

25

Endro

7

Her

parte área

menorragia.

c

Pimpinella anisum L.

PC

Erva-doce

1

Her

folha

cólica do bebê..

c

E E E

PC

Pereiro

1

Arv

casca

emenagoga (abortiva).

e

N

PC

Coco-amarelo

1

Arv

fruta (casca da fruta)

infecção genito-urinaria.

c

E

Alliaceae Allium sativum L. Anacardiaceae

Schinopsis brasiliensis Engl. Spondias tuberosa Arr. Câm.

Anemiaceae Anemia tomentosa (Sw.)Sw. Apiaceae

Apocynaceae Aspidosperma pyrifolium Mart. Arecaceae Cocos nucifera L.


Syagrus coronata (Mart.) Becc

PC

Ouricuri

8

Arv

raiz

antiinflamatório, cólica menstrual (dismenorreia), depurativo pós parto, regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério.

e

N

22

Jarrinha

19

Th

folha, raiz

antiinflamatório, desinfetante puerperio, cicatrizante vaginal, depurativa puerperio, cólica menstrual (dismenorreia), emenagoga, regula o ciclo menstrual, dilatação uterina, cuida o puerpério.

e, c

N

91

Algodão-de-seda

3

Arb

flor

cicatrizante do umbigo, complicações do recém nascido, emenagoga, abortiva.

e

E

Acanthospermum hispidum DC.

28

Fideração

1

Her

raiz

complicações no puerperio.

e

Ageratum conyzoides L.

53

Mentraste

9

Her

planta inteira

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal, cuida o puerperio, depurativo pós parto, desinfetante.

e

E E

Bidens bipinnata L.

10

Carrapicho-de-agulha

5

Her

raiz, planta inteira

antiinflamatório, cólica do bebê., depurativo, emenagoga (abortivo), regula o ciclo menstrual

e

E

Egletes viscosa Less.

PC

Marcela

13

Her

flor, raiz

cólica menstrual (dismenorreia), depurativo pós parto, emenagoga (abortiva), regula o ciclo menstrual,complicações no puerperio,

e, com

E

Conocliniopsis prasiifolia (DC.)R. M. King & H. Rob.

18

Balaio-do-velho

2

Her

parte área

emenagoga, abortiva

e

E

Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera

92

Quetoco

25

Arv

casca, folha, talo, raiz

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal, cólica menstrual (dismenorreia), contraceptivo, vaginite, depurativo, desinfetante puerperio, emenagoga (abortivo), menorragia, regula o ciclo menstrual, complicações no puerperio

e

E

Vernonia chalybaea Mart. ex DC.

29

Cravo-de-urubu-(linguado-sapo)

3

Her

raiz, planta inteira

dismenorreia, vaginite, analgésico puerperio.

e

E

Wedelia alagoensis Baker

53

Bem-me-quer

2

Her

folha

depurativa depois do aborto, menorragia no puerperio

e

N

PC

Craiveira

2

casca

emenagoga, abortiva

e

E

35

Crista de galo

1

Her

parte área

complicações do recém nascido (olhos fechados)

e

N

120

Xique-xique

20

Arv

raiz

complicações no puerperio

e

N

Aristolochiaceae Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc.

Asclepiadaceae Calotropis procera (Will.) R.Br. Asteraceae (Compositae)

Bignoniaceae Tabebuia caraiba (Mart.) Ber. Boraginaceae Heliotropium tiaridioides Cham. Cactaceae Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. & Rowl.


Capparaceae Capparis jacobinae Moric. ex Eichler

100

Inco-preto

2

Arb

casca

complicações no puerpério, diarréia.

e

N

Capparis yco Mart.

101

Incó-do-mato

1

Arb

casca

complicações no puerpério.

e

N

PC

Bom-nome

6

Arv

casca

antiinflamatório, vaginite, dilatação no parto, menorragia, complicações no puerperio, contração uterina (evita o aborto)

e

N

8

Mastruz

2

Her

folha

antiinflamatório, complicações no puerperio

c

E

48

Marianinha

3

Her

folha, raiz

depurativa depois do aborto, menstrual,complicações no puerperio

e

E

PC

Batata-de-purga

1

Th

raiz

infecção genito-urinaria

e

N

PC

Pão-para-tudo

10

Arv

casca

analgésico, puerperio, cólica menstrual (dismenorreia), emenagoga (abortiva), febre depois do parto, regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério, diminui a contração uterina (evita o aborto).

e

N

e e

N E

e

E

e, c

E N N E

Celastraceae Maytenus rigida Mart.

Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides L. Commelinaceae Commelina erecta L.

regula

o

ciclo

Convolvulaceae Operculina alata (Ham.) Urb. Crassulaceae Kalanchoe brasiliensis Cam.

Cucurbitaceae Luffa operculata Cong.

Cabacinha

2

Th

fruta

vaginite, emenagoga (abortiva)

Momordica charantia L.

17

Samelão

7

Th

folha

adstringente, antiinflamatório, emenagoga (abortiva)

Wilbrandia sp.

PC

Batata-do-teiu, cabeça-denegro

2

Th

raiz

emenagoga (abortiva), infecção genito-urinaria

114

Junco

1

Her

raiz

antiinflamatório

Cnidoscolus urens (L) Arthur

34

Cansansão

1

Her

raiz

infecção genito-urinaria

e

Croton blanchetianus Baill.

104

Marmeleiro

1

Arv

raiz

amenorréia

e

Croton micans (Swartz.) Mull. Arg.

94

Sacatinga

5

casca

complicações no puerpério, dona do corpo, dismenorreia, desinfetante.

e

Croton pulegioides Baill.

65

Velandinho

1

Her

folha

cólica menstrual (dismenorreia).

Euphorbia phosphorea Mart.

PC

Burra-leitera

1

Her

látex

complicações na lactancia, uso místico.

cicatrizante

vaginal,

Cyperaceae Cyperus esculentus L. Euphorbiaceae

e, c e

E E


Phyllanthus amarus Schumach.

16

Quebra-pedra

4

Her

planta inteira

antiinflamatório, cólica menstrual (dismenorreia), emenagoga (abortiva), infecção genito-urinaria.

e

E

42

Carrapicho-de-boi

9

Arb

raiz

amenorréia, depurativo pós parto, depurativo pós parto, regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério, antiinflamatório, desinfetante vaginal.

e

E

Hyptis mutabilis Briq.

23

Sambacaitá

49

Her

parte aérea

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal, dismenorreia, amenorréia, menorragia, contraceptivo, depurativo pós parto, desinfetante puerperio, emenagoga (abortiva), regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério.

e, c

E

Ocimum campechianum Willd.

5

Alfavaca

1

Her

folha

antiinflamatório puerperio.

c

E

Caesalpinia ferrea Mart.

95

Pão-Ferro

1

Arv

casca

emenagoga (abortiva).

e

Caesalpinia pyramidalis Tul.

20

Catingueira

3

Arv

casca, flor

antiinflamatório, cicatrizante vaginal, dilatação uterina.

e

Cassia occidentalis L.

26

Fedegoso

6

Her

raiz

cicatrizante vaginal, emenagoga (abortiva).

e

Hymenaea coubaril L.

110

Jatobá

5

Arv

casca

regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério, antiinflamatório.

e

N N N N

Senna cana (Nees & C. Mart.) H.S. Irwin & Barneby

108

Sicupira

2

casca, raiz

desinfetante, antiinflamatório.

e

E

Senna rizzini H. S. Irwin & Barneby

47

Flor-de-Besouro, Besourinho

1

Arv

casca, raiz

abortiva, complicações na gravidez, regula a menstruação, dilatação uterina, contração uterina (evita o aborto), abortiva.

e

E

57

Mororo

1

Arv

folha

adstringente.

e

N

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan

PC

Angico-de-caroço

1

Arv

casca

desinfetante puerperio.

e

N

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir

PC

Jurema-preta

1

Arv

casca

gripe feminina.

e

Angico-liso

1

Arv

casca

complicações no puerpério.

e

E E

Krameriaceae Krameria tomentosa St. Hil.

Labiatae, Lamiaceae

Leguminosae, Caesalpinioideae

Leguminosae, Cercideae Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Leguminosae, Mimosoideae

Piptadenia zehntneri (Harms), M.P. Lima & H.C. Lima Mimosa sensitiva L.

69

Malisa-de-vaqueiro (malícia)

3

Her

folha, raiz, flor

antiinflamatório, vaginite, desinfetante vaginal.

e

E

Mimosa sp.

PC

Jurema lisa

2

Arv

casca

antiinflamatório, desinfetante no puerperio.

e

Prosopis julifora (Sw.)DC.

76

Algaroba

2

Arv

casca

emenagoga, abortiva.

e

E E

Leguminosae, Papilionoideae


Cajanus cajan (L.) Millsp.

39

Anduzeiro

1

Arb

folha

sinusite recém nascido.

c

Erythrina velutina Willd.

111

Mulungu, Diasepã

3

Arv

casca, folha

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal.

e

Thephrosia cinérea Pers.

12

Sena

8

Arb

folha, raiz

adstringente, cicatrizante vaginal, regula o ciclo menstrual, cólica menstrual (dismenorreia), depurativo pós parto, complicações no puerperio.

e

6

Murici

8

Arv

raiz, casca

amenorréia, cólica menstrual (dismenorreia), depurativo pós parto, emenagoga (abortiva), regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério.

e

N

PC

Banana

1

Arv

casca

ferida no mamilo.

c

E

PC

Mamoscarda

Arv

semente

debilidade durante o parto

com

E

Boerhavia difusa L.

13

Batata-de-porco, pegapinto

9

Th

raiz

antitérmico puerperio, vaginite, infecção genito-urinaria.

e

E

Guapira laxa L.

PC

Farinha-mole, pau-piranha

16

Arv

casca

adstringente, depurativo, dilatação uterina, libera a placenta, emenagoga (abortiva), menorragia por aborto, complicações no puerperio, antiinflamatório.

e

E

PC

Ameixa

43

Arv

casca

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal, dismenorreia, amenorréia, menorragia, regula o ciclo menstrual, complicações no puerpério.

e

N

64

Umbuzeirinho

4

casca

antiinflamatório no puerpério.

e

E

56

Maracujá, maracujá-deestralo

1

Th

folha

sinusite recém nascido.

c

E

38

Gergelim

2

Her

semente

debilidade durante o parto.

c, com

E

PC

Pimineta-do-reino

2

Her

semente

dilatação uterina, complicações no puerpério.

com

E

Cymbopogon citratus (DC) Stapf.

PC

Capim-santo

1

Her

folha

cólica do bebê..

c

Saccharum officinarum L.

PC

Cana pitu

1

Her

folha

dilatação uterina.

c

E E

E N

Malpigiaseae Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K.

Musaceae Musa paradisiaca L. Myristicaceae Myristica fragans Houtt. Nyctaginaceae

Olacaceae Ximenia americana L.

Oxalidaceae Oxalis psoraleoides var. insipida (A. St.-Hil.) Lourteig Passifloraceae Passiflora foetida L. Pedaliaceae Sesamum indicum L. Piperaceae Piper nigrum L. Poaceae


Proteaceae Roupala sp.

PC

Orelha de onça

3

Her

planta inteira

emenagoga puerperio.

Borreria verticillata (L.) G. Mey.

19

Vasourinha-de-botão

3

Her

raiz

Chiococca alba (L.) Hitchc

PC

Cipó de caninana

1

Her

Coutaérea hexandra (Jach) K. Schum

PC

Quina-quina

2

PC

Arruda

121

(abortiva),

analgésico,

complicações

no

e

E

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal.

e

N

folha

complicações no puerpério.

e

Arv

casca

contraceptivo, emenagoga (abortiva).

e

N

1

Her

parte aérea

complicações no puerpério, dona do corpo.

c

E

Cipo-de-cururu

1

Her

folha

ferida no mamilo.

e

E

73

Quixabeira

10

Arv

casca

adstringente, antiinflamatório, cicatrizante vaginal, depurativo pós parto, menorragia, regula o ciclo menstrual.

e

N

59

Jiricó

1

planta inteira

cólica menstrual (dismenorreia), antiinflamatório.

e

E

33

Jurubeba

1

Arv

fruta

antiinflamatório puerperio.

e

N

Helicteres mollis K. Schum.

45

Orucuba

1

Arb

fruta

complicações no puerpério.

e

Melochia tomentosa L.

60

Imbira-vermelha

3

Arb

casca, raiz

cólica menstrual.

e

E E

2

Arranca-estrepe

1

Her

raiz

complicações do recém nascido.

e

E

Lantana camara L.

27

Chumbinho

2

Her

raiz

antiinflamatório.

e

Lippia alba (Mill.) Brown

1

Erva-cidreira

3

Her

folha

desinflama uterina.

c

E E

Lippia thymoides Martius & Shouer

4

Alecrin-de-caboclo

1

Arb

folha

hemorragia por aborto.

c

E

PC

Babosa

1

Her

folha

anticancerígeno do útero.

c

E

PC

Genjibre

3

Her

raiz

cuida o puerpério, complicações no puerperio.

c

NI

Canudeiro

2

Her

parte aérea

vaginite, dismenorreia.

e

NI

Cordão de oro

3

Her

parte aerea

menorragia, regula o ciclo menstrual.

e

E E E

Rubiaceae

Rutaceae Ruta graveolens L. Sapindaceae Serjania glabrata Kunth. Sapotacea Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn. Selaginellaceae Selaginella convoluta (Arn) Sprig Solanaceae Solanum paniculatum L. Sterculiaceae

Turneraceae Turnera ulmifolia L. Verbenaceae

Xanthorrhoeaceae Aloe vera Baker.

mulher

grávida, contraceptivo,

dilatação

Zingiberaceae Zingiber officinale Roscoe.


NI

Malagueta

1

planta inteira

complicações no puerpério.

e

NI

Peba

3

parte aérea

depurativa depois do aborto, doenças sexuais,complicações no puerperio.

e

NI

Pega - pega

1

Her

casca

doenças sexuais.

e

NI

Santa-lucia

2

Her

raiz

vaginite, menorragia.

NI

Buji

1

raiz

complicações no puerpério.

e, c e

E E E E E


Destaca-se também o decocto no preparo dos remédios para a mulher, com 42% das citações, utilizado para diferentes partes das plantas. A infusão é menos utilizada (7% das citações), indicada quando se usa a raiz ou a folha. Algumas plantas utilizadas como medicamento são consumidas cruas, frescas ou trituradas, sem qualquer preparo, como os frutos da jurubeba (Solanum paniculatum L.) e do ouricuri (S. coronata); da mesma maneira se prepara a parte aérea do sambacaitá liquidificado (H. mutabilis) e as sementes de gergelim (Sesamum indicum L.), mostarda (Brassica integrifolia G. E. Schulz.) e pimenta do reino (Piper nigrum L.). A raiz da batata de teiu (Wilbrandia sp.), indicada para o tratamento de infecções geniturinárias, é utilizada após deixar no sereno durante a noite toda. Outros tipos de preparo na medicina tradicional para as mulheres Pankararu são o emplasto, mencionado para o uso diferenciado de A. brasiliensis, alho (Allium sativum L.), banana (Musa paradisíaca L.) e mastruz (Chenopodium ambrosioides L.). O lambedor (xarope) é preparado comumente com arranca estrepe (Turnera ulmifolia L.), chumbinho (Lantana camara L.), imbira (Melochia tomentosa L.) e vassourinha de botão (Borreria verticillata (L.) G. Mey.); o lambedor sempre foi recomendado em mínimas quantidades para complicações do recém nascido ou para tratar os sintomas das crianças quando nascem os dentes. O preparo do pó a partir da casca de A. occidentale teve duas menções assim como para a queima da flor de algodão (Gossypium barbadense L.); apresentou-se uma única indicação do esquentamento de folhas de A. brasiliensis para uso direto sobre o ventre em caso de cólica durante a gravidez-. Foi ainda mencionada a extração dos princípios ativos por queima do álcool do extrato alcoólico na cachaça das folhas em maceração de A. brasiliensis e Ruta graveolens L. para tratar a dona do corpo. O inadequado cuidado do puerpério e desatenção das recomendações populares para esta fase da maternidade geram o que é chamado popularmente como a dona do corpo. Esta doença ou desconforto físico/psíquico se refere a sintomatologias originadas no ovário, mas pode ser manifestada em várias partes do corpo da mulher. Para os Pankararu, toda mulher, desde criança, tem a dona do corpo ou camarada, crença fortemente arraigada na tribo, sendo que o ―resguardo quebrado‖ ocasiona enfermidade nela.

3.3. Indicações terapêuticas para a mulher e seu recém nascido Os diferentes usos de plantas para tratamento da saúde da mulher e do recém nascido documentados junto aos curandeiros e parteiras Pankararu foram inseridos nas seguintes categorias: ciclo menstrual; atendimento do sistema reprodutor; reprodução; cuidados do puerpério; cuidados do recém nascido (Tabela 2). Os distúrbios do ciclo menstrual constituem uma importante preocupação dentro da saúde da mulher indígena Pankararu, sendo documentadas no presente estudo 40 menções e referidas 19 espécies para seu tratamento, com destaque de X. americana occidentale (4) e Egletes viscosa Less. (3).

(5 registros), H. mutabilis

(4), A.


Pesquisas farmacológicas e de atividade biológica têm demonstrado os efeitos nocivos da ingestão de elevadas quantidades da decocção das cascas e folhas de X. americana , com relatos de náuseas, diarréia, convulsões e morte (Matos, 2001; Dantas, 2002). Dentre os especialistas Pankararu esta espécie figura com uso restringido quanto à dosagem. Esta e outras espécies, como M. urundeuva, relatada como abortiva por Sanguinetti (1989), são amplamente utilizadas por comunidades tradicionais no Brasil, mas merecem estudos sobre sua atividade biológica e toxicologia, que permitam maior segurança no uso popular de fitoterápicos. A irregularidade no ciclo menstrual pode apresentar-se através de diversas sintomatologias, que variam segundo a origem do sintoma; a menorragia, por exemplo, (excesso no sangramento menstrual), quando é ocasionada por aborto é tratada com farinha mole (Guapira laxa L.), enquanto no puerpério é tratada com Wedelia trilobata (L.) Hitch, conhecida como bem-me-quer, de uso comum no nordeste brasileiro. Para o tratamento da menorragia em mulheres novas, e sem causa aparente do sintoma, são empregados remédios de diversas plantas preparadas individualmente, as quais são concebidas com diferenças quanto a sua eficácia medicinal; a planta com maior número de indicações para este uso foi M. urundeuva, seguida por M. rigida, Foeniculum vulgare Gaertn., Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC., S. obtusifolium, Solanum americanum Mill., S. tuberosa Arr. Câm. e G. laxa. Dentre estas espécies, A. brasiliensis , W. trilobata e H. mutabilis apresentaram destaque no tratamento da cólica menstrual ou dismenorreia; este tipo de transtorno do ciclo menstrual recebeu 36 menções e pode ser tratado com 20 espécies da flora medicinal dos Pankararu. A amenorréia (supressão anormal do mênstruo) é tratada freqüentemente com X. americana, Croton hemiargyreus Muell. Arg., Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K. e Krameria tomentosa St. Hil.. Outros distúrbios no ciclo menstrual incluem o uso de pau-para-tudo (Kalanchoe brasiliensis Cam.), indicado como emenagogo para restabelecer o mênstruo durante a menopausa. O uso desta planta -também conhecida como courama- tem sido citado em diversas pesquisas etnobotânicas realizadas para o nordeste brasileiro, com várias indicações terapêuticas, incluindo o tratamento de inflamações ovarianas e uterinas. Foram obtidos 25 registros para tratamento de infecções genito-urinárias, para as quais 15 espécies foram indicadas, com predomínio no uso de P. alopecuroides e Boerhavia difusa L. A primeira espécie produz substâncias com atividade antifúngica, provavelmente cumarinas, presentes nas partes aéreas da planta (Stein et al., 2006), coincidindo com a indicação e forma de emprego documentada pelos Pankararu.

Tabela 2. Número de indicações terapêuticas nas categorias de doenças no sistema médico tradicional Pankararu.


Tabela 1. Número de indicações terapêuticas para a mulher indígena Pankararu e seu recém nascido Uso indicado

no. registros Ciclo Menstrual

Regula o ciclo menstrual

40

Cólica menstrual, dismenorreia

36

Menorragia

13

Amenorréia

7

Menorragia puerperio

2

Menorragia por aborto

1

Emenagoga na menopausa

1

Hemorragia por aborto

1

Cuidados do aparelho reprodutor Corrimento, vaginite

15

Infecção geniturinária

10

Depurativo geral

7

Ferida no mamilo

4

Doenças sexuais

2

Anticancerígeno do útero

1 Aspectos da Reprodução

Emenagoga, abortiva

36

Contração uterina (evita o aborto)

26

Dilatação uterina

19

Debilidade durante o parto

8

Contraceptivo

8

Libera a placenta

3

Infertilidade

1

Desinflama o corpo

1

Complicações na gravidez

1

Ajuda na liberação do feto em caso de aborto

1

Complicações na lactancia

1

Cuidados do recém nascido Cólica

7

Sinusite

4

Dor de estômago

3

Cicatrizante do umbigo

1

Dor de estômago

1 Cuidado do puerperio

Antiinflamatório

97

Cicatrizante vaginal

57

Complicações no puerpério

42

Antiséptico

34

Depurativo (depois do puerpério ou aborto)

29

Adstringente

23

Analgésico

7

Cuida o puerperio

4

Antitérmico

4


Foram registradas 34 citações para 13 espécies com uso como antisséptico vaginal, as quais podem ser usadas após o parto, aborto ou no caso de apresentar sintomas de infecção; dentre estas se destacam A. occidentale (8), X. americana (4), M. urundeuva (7) e H. mutabilis (4). A batata de purga, Operculina alata (Ham) Urbam, indicada entre os Pankararu para o tratamento de infecções geniturinárias por via oral, provoca irritação e inflamação dos intestinos (Figueiredo, 2005). É interessante destacar o tratamento anticancerígeno no aparelho reprodutor feminino relatado por um dos especialistas locais, que indica o uso contínuo de Aloe vera em supositório. A literatura cientifica refere a presença de antraquinonas de ação cicatrizante, antibacteriana, antifúngica e antivirótica em A. vera (Kuzuya et al., 2001; Steinert et al., 1996; Morais et al., 2005), assim como os efeitos tóxicos de altas doses no uso desta planta como lambedor, devido a sua ação nefrotóxica (Matos, 2000). Na medicina tradicional Pankararu, uma única espécie (X. americana) foi referida para o tratamento da infertilidade; como contraceptivo foram citadas X. americana, A. occidentale, P. alopecuroides, quina-quina (Coutarea hexandra (Jach) Schum) e H. mutabilis ; para uso como antiinflamatório durante a gravidez foi indicada uma única espécie, a erva cidreira (Lippia alba (Mill.) Brown). Algumas espécies vegetais de uso freqüente pelos especialistas Pankararu são carregadas junto aos equipamentos e ferramentas utilizadas pelas parteiras; entre estas foram mencionadas as sementes do gergelim (S. orientale) e da mostarda (Brassica integrifolia G. E. Schulz.), empregadas como energizantes, no caso da parturiente sentir debilidade. Segundo o Conselho Federal de Farmácia no Brasil, B. integrifolia apresenta contra-indicação no uso durante a gestação, devido aos efeitos como emenagoga e abortiva (Fitoterapia, 2010). Esta e outras espécies com efeitos abortivos e/ou teratogênicos devem ser usadas com muito cuidado nas práticas tradicionais, uma vez que geralmente o especialista da medicina tradicional desconhece os estudos e avanços na validação farmacológica das espécies de uso medicinal. Outras plantas de uso comum segundo as recomendações das parteiras e curandeiros são indicadas para diminuir a cólica durante o trabalho de parto, incluindo K. brasiliensis, H. mutabilis e Peperomia pellucida Humb. Bonplan & Kunth., conhecida como língua de sapo; seis espécies vegetais, conhecidas como besourinho (Senna rizzini H. S. Irwin & Barneby), bom nome (Maytenus rigida Mart.), cana pitu (Saccharum officinarum L.), catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.), cidreira (Lippia alba) e farinha mole (G. laxa), foram referidas para o auxílio na dilatação durante o trabalho de parto, sendo a última delas a de preferência e maior consenso no uso, com menções dadas por 11 especialistas locais; esta espécie foi referida também como facilitadora para retirar a placenta, sendo de uso regular dentre as parteiras locais. Terpenos, alcalóides, flavonóides e taninos, entre outros compostos, já foram identificados em M. rigida, de importância para a saúde dentre os Pankararu; no entanto, segundo Almeida (1993), seu uso apresenta restrição durante a gravidez e amamentação. Na situação de iminente risco de aborto, interpretado pela dor na parte baixa do ventre, ou temor de perder o bebê durante a gestação, S. tuberosa, M. rigida, Senna abtusifolia (Vogel.), S. brasiliensis e


K. brasiliensis

foram registradas, em 27 indicações referidas como ―segurar o feto‖, com forte

predominância de S.tuberosa (24 registros). Na abordagem das práticas de uso de plantas medicinais para a saúde da mulher indígena, pode-se perceber um evidente consenso entre as parteiras e curandeiros Pankararu quanto aos cuidados do puerpério. Este conhecimento inclui o tratamento antiinflamatório (97 registros), cicatrizante (57), desinfetante (34), depurativo (29) e adstringente (23), sendo a recomendação mais freqüente o uso do banho de assento e ingestão de uma pequena quantidade da mistura de M. urundeuva , A. occidentale , X. americana e H. mutabilis. O efeito antiinflamatório, assim como a ação cicatrizante da entrecasca de M. urundeuva foram avaliados farmacologicamente por Bandeira (2002) comprovando efeito significativo como antiinflamatório, antiulcerogênico e cicatrizante. Outras espécies de destaque são as indicadas como cicatrizantes: P. alopecuroides , S. obtusifolium

e A. brasiliensis; dentre as plantas de uso como

adstringentes foram indicadas também a B. verticillata e a quixabeira (S. obtusifolium ); o samelão (Momordica charantia L.), A. brasiliensis

e P. alopecuroides tiveram repetidas indicações como

antiinflamatórias, esta última espécie foi também indicada como depurativo durante o puerpério. Segundo os especialistas locais, a dona do corpo apresenta relação com a exposição a baixas temperaturas, sereno, alimentação desbalanceada ou a

levantar objeto muito pesado, entre outras

possíveis causas; segundo eles, estas situações ocasionam doenças e sintomatologias severas que costumam ser tratadas prolongadamente por meio de garrafadas e banhos. A dona do corpo foi referida por Silva (2007) no seu estudo sobre os Atikum, -uma tribo do nordeste Brasileiro-, e estaria associada à identidade feminina, expressa sob dupla personalidade com dubiedade moral, já que causa sofrimento mas simultaneamente é necessária para a perpetuação da vida, pois tanto mantém a vida como a retira (em caso de abortos). Esta doença não tem correspondência na medicina ocidental, mas representa a terceira indicação terapêutica de maior importância relativa entre os Pankararu, com 68 registros, sendo tratada com P. gounellei (18 registros), A. brasiliensis (4), E. viscosa Less. (4), B. crassifolia (3), S. coronata (3), Acanthospermum hispidum DC (1) e Chenopodium ambrosioides (1), entre outras. A presença de flavonóides e do acantostral, um germacranolídio com atividade inibitória de tumores cancerosos, em A. hispidum, popularmente conhecida como federação, pode ter levado ao uso para tratar complicações no resguardo, uma vez que os especialistas afirmaram que o descuido nesta sintomatologia pode desencadear câncer no útero. No entanto, o efeito abortivo e teratogênico de A. hispidum tem sido comprovado através de experimentos com ratos (Lemonica e Alvarenga, 1994). De maneira similar, C. ambrosioides, de uso freqüente nas comunidades tradicionais no Brasil e países tropicais, produz ascaridol, um potente anti-helmíntico porém com possíveis efeitos letais em humanos (Macdonald et al., 2004). Pilosocereus gounellei é empregada como antitérmico depois do parto; e por último, as feridas no mamilo, geradas durante a amamentação, são cicatrizadas com o chá da casca de M. urundeuva e A.


occidentale, a mucilagem de M. paradisiaca e decocto das folhas do cipó de cururu (Serjania glabrata Kunth.). Os cuidados do puerpério (antiinflamatório, cicatrizante, adstringente e depurativo), são realizados comumente com o uso da decocção da parte aérea de H. mutabilis e A. brasiliensis , misturadas com as cascas de M. urundeuva , A. occidentale e X. americana, para uso em banhos de assento e ingestão de uma pequena quantidade do preparo; o uso oral desta mistura teve sempre recomendações sobre a dosagem, já que várias plantas apresentam contra-indicação pelos especialistas Pankararu, por terem efeitos tóxicos, nocivos para a saúde humana. Os efeitos farmacológicos como cicatrizante de M. urundeuva e A. occidentale, assim como a atividade antimicrobiana, anti-séptica e fungicida de X. americana

e A. occidentale

são cientificamente comprovados (Lorenzi e Matos, 2002). Estudos

farmacognósticos foram realizados por Queiroz et al. (2002) para identificar e quantificar taninos presentes nas cascas de M. urundeuva e por Kato e Akisue (2002), para avaliar sua eficácia no tratamento de disenterias e úlceras gastroduodenais; nestas pesquisas, os referidos autores detectaram compostos fenólicos, óleos essenciais, fenóis totais, proantocianidinas e taninos que podem determinar a atividade biológica de uso tópico e interno como cicatrizante e antiinflamatória. De maneira similar Monteiro et al. (2005) determinaram a presença de taninos e derivados fenólicos nas cascas e folhas de M. urundeuva e A. colubrina, concordando com as informações etnobotânicas, que destacam estas espécies pelos seus usos como antiinflamatório, cicatrizante e para o tratamento de doenças no sistema geniturinário. A atividade antiinflamatória e reparadora na fase cicatricial em camundongos Mus musculos Swiss, foi testada por Schirato et al. (2006) para A. occidentale. Substâncias do metabolismo secundário nas folhas desta espécie foram caracterizadas por Jorge et al. (1996), que referem a presença de flavonóides, saponinas, compostos fenólicos e óleo essencial, consideradas como responsáveis pelos

efeitos

cicatrizante, antiinflamatórios e adstringentes (Bruneton, 1991). O efeito antiinflamatório e cicatrizante de X. americana indicado pelos especialistas Pankararu pode ser explicado pela presença de metabólitos secundários encontrados nos extratos aquosos e metanólicos da folha, casca do caule e raiz; carboidratos, saponinas, glicosídios cardiotônicos e antraquinonas estiveram presentes em todos os extratos, exceto nos extratos das folhas, onde não foram encontradas antraquinonas (James et al., 2007). A atividade cicatrizante relatada na literatura para X. americana pode ser atribuída à presença de elevado teor de taninos e flavonóides encontrados nas folhas, casca do caule e a raiz; no entanto, os taninos presentes nas cascas ainda não foram identificados quimicamente (Matos, 2007); a presença de polifenóis também pode ser um forte indicativo da sua atividade antiinflamatória (Brasileiro et al., 2008). Os cuidados com o recém-nascido são acompanhados pela parteira desde o inicio do trabalho do parto e geralmente durante os primeiros meses do bebê; a cólica do beb teve sete menções e é tratada com capim santo (Cymbopogon citratus DC.), carrapicho de agulha (Bidens bipinnata L.), coentro (Coriandrum sativum L.), erva doce (Pimpinella anisum L.) e endro (Foeniculum vulgare Gaertn.), sendo


esta última a espécie predominante para esta indicação. Matos (2000) atribuiu a ação calmante e espasmolítica leve de C. citratus ao citral presente no óleo essencial, onde também é encontrado o mirceno, responsável pela sua ação analgésica (Lorenzetti et al., 1991). A cicatrização do umbigo é realizada com o pó da flor do algodão, após ser queimada; quando o bebê nasce com os olhos colados, a decocção da flor e folha da crista de galo (Heliotropium tiaridioides Cham.), é utilizada para lavar levemente os olhos da criança. A sinusite do recém nascido foi referida por uma única curandeira, indicando três espécies para o tratamento desta doença através da inalação da decocção do anduzeiro (Cajanus cajan (L.) Millsp.), beija (Justicia strobilacea (Nees.) Lindau) e maracujá de estralo (Passiflora foetida L.).

3.5 Percepção tradicional sobre toxicidade de plantas medicinais As indicações do uso terapêutico dadas pelos especialistas Pankararu geralmente incluem o cuidado da dieta alimentar, assim como restrições nas quantidades exatas a serem empregadas na preparação dos remédios tradicionais. “...toda planta tem sua quantidade certa, não pode beber em excesso não, porque depois a pessoa adoece por causa disso, eu sempre digo às pessoas como e quanto usar, é assim que a gente aprendeu e tem que passar para os outros....” Zé Lucia, curandeiro tradicional Pankararu. Uma lista das espécies percebidas como tóxicas ou que “ofendem o corpo” foi elaborada durante o presente estudo, através de oficinas participativas e durante as entrevistas individuais realizadas com os especialistas. Diferentes espécies de uso medicinal pertencentes a várias famílias taxonômicas foram destacadas porque não podem ser usadas em excesso, pois podem ocasionar doenças e distúrbios na saúde; plantas de gosto amargo foram diretamente relacionadas com o efeito abortivo, assim como de maior risco para crianças e gestantes. Algumas plantas de uso popular como medicinais têm restrição de uso, não devendo ser ministradas a crianças e/ou gestantes, e as doses a serem empregadas são cuidadosamente informadas; no caso das plantas tóxicas, os especialistas coincidiram em afirmar que não indicam o seu uso por via oral apesar de indicarem o seu uso externo, desde que sejam levados em consideração os cuidados pertinentes. Curandeiros e parteiras Pankararu advertem, por exemplo, que o angico (A. colubrina) é fortemente tóxico e deve ser usado em mínimas proporções ou exclusivamente por via externa em banhos de assento; de maneira similar (Coutarea hexandra (Jach) Schum.), a quina-quina, é conhecida popularmente como fortemente tóxica, porém seu uso através de inalação e banho de cabeça foi relatado para o tratamento da sinusite com freqüência pelos entrevistados. Plantas abortivas foram consideradas neste estudo, uma vez que irregularidades no ciclo menstrual podem ser tratadas erradamente com plantas de efeito abortivo ou emenagogas; apesar dos especialistas se negarem a dar indicações do uso de plantas abortivas, existe um número importante de espécies conhecidas com esse efeito. Foram obtidos 35 registros para 23 espécies, destacando-se pelo maior


número de indicações C. occidentalis , H. mutabilis e E. viscosa (Tabela 1); a indicação do efeito abortivo do fedegoso, C. occidentalis e Luffa operculata Cogn.. encontra concordância com as informações encontradas na literatura para estas espécies (Fitoterapia, 2010; Lemonica e Alvarenga, 1994).

4. Conclusões Nos domínios da medicina tradicional Pankararu encontrou-se uma ampla riqueza de espécies enfocadas para a saúde feminina e o cuidado do recém nascido, com 98 espécies relatadas para o tratamento de 44 doenças ou sintomas, enquadrados em cinco categorias de sistemas corporais. O trabalho das parteiras e as práticas tradicionais de cura têm sido conservados e valorizados, apesar do permanente contacto com a sociedade envolvente. Observou-se um evidente consenso entre os especialistas quanto às indicações, formas de preparo e modo de emprego das principais espécies medicinais de uso feminino. A maioria das plantas apresenta mais de uma indicação terapêutica, podendo ser utilizadas isoladamente ou em mistura com outras espécies. Espécies nativas, comuns no nordeste do Brasil, como A. occidentale, M. urundeuva, X. americana, S. tuberosa, A. brasiliensis e P. gounellei destacam-se pela freqüência de indicações terapêuticas, e o uso de espécies cultivadas foi muito menor do que as espécies de crescimento espontâneo, implicando assim uma forte dependência da comunidade indígena Pankararu dos ambientes naturais e da conservação da flora local. Segundo a percepção dos especialistas locais, na comunidade estudada existe preferência da farmacopéia natural para o tratamento das doenças femininas, principalmente em relação aos distúrbios hormonais e durante o puerpério. Mesmo tendo possibilidades de acesso a atendimento médico oficial, as mulheres consultam os especialistas do sistema de cura tradicional, que proporcionam às indígenas Pankararu um amplo leque de plantas com atributos terapêuticos para tratar as diferentes queixas e distúrbios da saúde. Foi encontrado um rico conhecimento tradicional que inclui os efeitos tóxicos de algumas das plantas de uso popular. Dentre as espécies indicadas no presente estudo, algumas apresentam seus usos terapêuticos já validados em pesquisas etnofarmacológicas, assim como já foram realizados estudos sobre seu efeito tóxico. Mesmo assim, ainda existem lacunas quanto aos efeitos nocivos no uso de flora medicinal, e existe um risco no uso de fitoterápicos tradicionais, os quais devem ser aprimorados e considerados pelos autores das ciências envolvidas nesta área de conhecimento. Estudos sobre a atividade biológica e toxicidade das espécies de uso medicinal tradicional devem ser realizados e retornados às comunidades de onde foram originadas as informações fitoterápicas.

Agradecimentos Os autores agradecem aos médicos tradicionais Pankararu pela indispensável participação no presente trabalho; à FACEPE, pela concessão da bolsa de estudo da primeira autora; a Nelson Alencar, pelas suas


contribuições no presente artigo; à Olivia Cano, Dra. Rita de Cássia Pereira e equipe do Instituto Agronômico de Pernambuco, IPA pela colaboração na identificação das espécies.

5. Referências bibliográficas

Albuquerque, U.P., Andrade, L.H.C., 2002a. Uso de recursos vegetais da caatinga: o caso do agreste do estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil). Interciência 27, 336-346.

Albuquerque, U.P., Lucena, R.F.P., Costa-Neto, E.M.F.L. 2008. Seleção e escolha dos participantes da pesquisa, in: Albuquerque, U.P., Lucena, R.F.P., Cunha, L.V.F.C. (Orgs.). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. 2ed. Comunigraf, NUPEEA, Recife, pp. 21-40.

Albuquerque, U.P., Andrade, L.H.C., 2002b. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta botanica brasilica. 16, 273-285.

Araújo, F.S., Martins., 1999. Fisionomia e organização da vegetação de carrasco no Planalto da Ibiapaba, Estado do Ceará. Acta Botanica Brasilica 13, 1-13.

Araújo, F.S., Sampaio, E.V.S.B., Rodal, M.J.N., 1995. Composição florística e fitossociológica de três áreas de Caatinga de Pernambuco. Revista Brasileira de Biologia 55, 595-607.

Arenas, P., Moreno, A. R., 1977. Plants use as means of abortion, contraception, sterilization and fecundation by Paraguayan indigenous people. Economic Botany 31, 302–306.

Athias, E.R., 2002. Espaço, fecundidade e reprodução entre os Pankararu, In XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, 23 pp.

Athias, E.R., 2004. Corpo, fertilidade e reprodução entre os Pankararu: perspectivas e alcance. In: Monteiro, S., Sansone, L. (orgs.). Etnicidade na América Latina: Um debate sobre raça, saúde e direitos reprodutivos. Fiocruz, Rio de Janeiro. pp.189-209.

Athias, E.R., 2007. Sexualidade, fecundidade e programas de saúde entre os Pankararu. In: Scott, P., Athias, R., Quadros, M.T., de (orgs.). Saúde, sexualidade e famílias urbanas, rurais e indígenas. Editora Universitária UFPE, Recife. pp. 97-122.


Athias, E.R., Machado, M., 2001. A saúde indígena no processo de implantação dos Distritos Sanitários: temas críticos e propostas para um diálogo interdisciplinar. Cadernos de Saúde Pública 17, 425-431.

Begossi, A., Hanazaki, N.,Tamashiro, J.Y., 2002. Medicinal Plants in thow Atlantic Forest (Brazil): knowledge, use, and conservation. Human Ecology 30(3), 281-299. Bennett, B. C., Prance, G. T., 2000. Introduced plants in the indigenous pharmacopoeia of Northern South America. Economic Botany 54, 90 – 102.

Bandeira, M.A.M., 2002. Myracrodruon urundeuva Allemão (aroeira do sertão): constituintes químicos ativos da planta em desenvolvimento e adulta. Tese de doutorado, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza.

Bourdy, G., Walter, A., 1992. Maternity and medicinal plants in Vanuatu I. The cycle of reproduction. Journal of Ethnopharmacology 37, 179–196.

Brasileiro, M.T., Egito, A.A., Lima, J.R., Randau, K.P., Pereira, G.C., Costa-Neto, P.J., 2008. Ximenia americana L.: botânica, química e farmacologia no interesse da tecnologia farmacêutica. Revista Brásileira de Farmacia 89, 164-167.

Browner, C.H.,1985. Criteria for selecting herbal remedies. Etnology, 24(1),13-32.

Bruneton, J., 1991. Elementos de fitoquímica y da farmacognosia. Editora Acribia, Zaragoza.

Fundação Nacional de Saúde, 2002. Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Brasília: Ministério

da

Saúde.

Disponível

in:

http://www.funasa.gov.br/internet/arquivos/vigisus/MTI_politicaSauInd.pdf

Chamilco, R.A. da S.I. 2004. Práticas culturais das parteiras tradicionais na assistência à mulher no período grávido-puerperial. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Rio de Janeiro. 227. pp.

Coimbra, C., Garnelo, L., 2004. Questões de Saúde Reprodutiva da Mulher Indígena no Brasi, In: Monteiro, S., Sansone, L. (orgs.). Etnicidade na América Latina – um debate sobre raça, saúde e direitos reprodutivos. Rio de Janeiro, Fiocruz, pp.153-173.


Dantas, I.C., 2002. O raizeiro e suas raízes: um novo olhar sobre o saber popular. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande. 124 pp.

Figueiredo, C.A., 2005. Apostila de Fitoterapia. Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Ciências Farmacêuticas, Núcleo de Estudos e Pesquisas Homeopáticas e Fitoterápicas. João Pessoa.

Flora Brasiliensis, 2010. Disponível em: http://florabrasiliensis.cria.org.br

Gazzaneo, L.R.S., Lucena, R.F.P., Albuquerque, U.P., 2005. Knowledge and use of medicinal plants by local specialists in an region of Atlantic forest in the state of Pernambuco (Northeastern Brazil) Jornal of Ethnobiology and Ethnomedicine 1,1-8.

Gil, L. P., 2007. Possibilidades de articulação entre os sistemas de parto tradicionais indígenas e o sistema oficial de saúde no Alto Juruá, in: Brasil, Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, Projeto Vigisus II, Coordenação Técnica, Área de Medicina Tradicional Indígena, Luciane Ouriques Ferreira e Patrícia Silva Osório (orgs). Medicina Tradicional Indígena em Contextos - I Reunião e Monitoramento. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, pp. 23-36.

James, D.B., Abu, E.A., Wurochekke, A.U., Orji, G.N., 2007. Phytochemical and antimicrobial investigation of the aqueous and methanolic extracts of Ximenia americana. Journal of the Medical Sciences 2, 284-8.

Jenkins, G. L., 2003. Burning bridges: policy, practice, and the destruction of midwifery in rural Costa Rica. Social Science & Medicine 56, 1893–1909.

Jorge, L.I.F., Silva, G.A., Vicente, O.F., 1996. Diagnose Laboratorial Dos Frutos E Folhas De Anacardium Occidentale L. (Cajú). Revista Brasileira de Farmacognosia 1, 55-66.

Kato, E.T.M & Akisue, G., 2002. Estudo farmacognóstico de cascas Myracrodruon urundeuva Fr.All. Revista Lecta, Bragança Paulista 20, 69-76.

Kuzuya. H., Tamai, I., Beppu, H., Shimpo, K., Chihara, T. 2001.Determination of aloenin, barbaloin and isobarbaloin in Aloe species by micellar electrokinetic chromatography. Jornal of Cromatography 752, 91-97.


Lemonica L.P., Alvarenga C.M.D., 1994. Abortive and teratogenic effect of Acanthospermum hispidum DC. and Cajanus cajan (L.) Millps in pregnants rats. Journal of Ethnopharmacology, 43, 39-44.

Londoño, P.A. 2010. Etnobotânica de plantas medicinais usadas pela comunidade indígena Pankararu, Pernambuco, Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

Lorenzetti, B.B., Souza, G.E.P., Sarti, S.J., Santos Filho, D., Ferreira, S.H., 1991. Myrcene mimics the peripheral analgesic activity of lemongrass tea. Journal of Ethnopharmacology, 34, 43-48.

Lorenzi, H., Matos, F. J. A., 2002. Plantas medicinais no Brasil: Nativas e exóticas. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum.

Macdonald, D.; Vancrey, K.; Harrison, P.; Rangachari P.K.; Rosenfeld, J.; Warren, C., Sorger, G., 2004. Ascaridoleless infusions of Chenopodium ambrosioides contain a nematocide(s) that is(are) not toxic to mammalian smooth muscle. Journal of Ethnopharmacology 92, 215-221. Martínez, G.J., 2006. Tradicional Practices, Beliefs And Uses Of Medicinal Plants In Relation To Maternal-Baby Health Of Criollo Woman In Central Argentina. Journal Of Ethnopharmacology 24, 490502. Matos, F.J.A., 2000. Plantas medicinais – Guia de seleção e emprego de plantas usadas em fisioterapia no Nordeste do Brasil, 2 edição: Imprensa universitária da UFC, Fortaleza.

Matos, F.J.A., 2001.Plantas da medicina popular do Nordeste: propriedades atribuídas e confirmadas. UFC edições, Fortaleza.

Matos, F.J.A., 2007. Plantas medicinais: guia de seleção e emprego das plantas usadas em fitoterapia no Nordeste do Brasil. Fortaleza, Imprensa Universitária. pp. 122-124.

Monteiro, J.M., Albuquerque, U.P., Costa-Neto, E.M.F.L., Araújo, E.L., Amorim, E.L.C., 2006. Use patterns and knowledge of medicinal species among two communities in Brazil´s semi-arid northeastern region. Journal of Ethnopharmacology 105, 173-186.

Monteiro, J.M., Costa-Neto, E.M.F.L., Amorim, E.L.C., Strattmann, R.R., Araújo, E.L.; Albuquerque, U.P. 2005. Teor de taninos em três espécies medicinais arbóreas simpátricas da caatinga. Revista Árvore 29, 999-1005.


Morais, S. M., Dantas, J. P., da Silva, A.R., 2005. Plantas Medicinais usadas pelos índios Tapebas do Ceará. Revista Brasileira de Farmacognosia 15, 169-177.

Ososki, A. L., Lohr, P., Reiff, M., et al., 2002. Ethnobotanical literature survey of medicinal plants in the Dominican Republic used for women’s health conditions. Journal of Ethnopharmacology 79, 285–298.

Parra, P.A., 1993. Midwives in the Mexican health system. Social Science & Medicine 37, 1321– 1329.

Queiroz, C.A.A, Lemos, S.A.M. . 2002. Caracterização dos taninos da aroeira-preta (Myracrodruon urundeuva). Revista Árvore, 26(4), 485-492.

Sanguinetti, E. E., 1989. Plantas que curam. 2 ed. Porto Alegre: Rígel.

Saúde sem Limites, 2010. Disponível em: http://www.saudesemlimites.org.br

Schirato, G.V., Monteiro, F.M.F., Silva, F. O., Filho, J. L. L., Carneiro, A.M.A.L., Porto, A.L.F. 2006. O polissacarídeo de Anacardium occidentale L. na fase inflamatória do processo cicatricial de lesões cutâneas. Ciência Rural, 36(1), 149-154. Silva, G., 2007. Camarada ou inimiga: a ―dona do corpo‖ e as mulheres Atikum. In: Athias R. org. Povos indígenas de Pernambuco: identidade, diversidade e conflito. Ed. Universitária da UFPE. Recife.

Silva, V. A. & Andrade, L. H. C. 2002. Etnobotânica Xucuru: Espécies místicas. Biotemas 15(1), 45-57.

Silva, V. A. & Andrade, L. H. C. 1998. Etnobotânica Xucuru: plantas medicinais. Revista Brasileira de Farmácia 79, 33-36

Silva, V. A., Andrade, L. H. C., Albuquerque, U. P. 2005. Variação intracultural no conhecimento sobre plantas: o caso dos índios Fulni-ô. v. 1, pp. 237-262. In: Albuquerque, U P., Almeida, C. F. C. B. R., Marins, J F. A. (Orgs.). Tópicos em conservação, etnobotânica e etnofarmacologia de plantas medicinais e mágicas. 1 ed. Recife: Livro Rápido.

Silva, V. A., Andrade, L. H. C., Albuquerque, U. P., 2006. Revising the Cultural Significance Index: The case of the Fulni-ô in Northeastern Brazil. Field Methods 18(1), 98-108.


Socioambiental, 2005. Disponível em: http://www.socioambiental.org Steenkamp, V., 2003. Traditional herbal remedies used by South African women for gynaecological complaints. Journal of Ethnopharmacology 86, 97-108.

Stein, A.C., Alvarez, S., Avancini, C., Zacchino, S.; Poser, G.V., 2006. Antifungal activity of some coumarins obtained from species of Pterocaulon (Asteraceae). Journal of Ethnopharmacology 107, 95-98.

Steinert, J., Khalaj, S., Rimpler M., 1996. High-performance liquid chromatographic separation of some naturally occurring naphthoquinones and anthraquinones. of Ethnopharmacology 723, 206-209

Tabarelli, M., Santos, A.M.M., 2004. Uma breve descrição sobre a história natural dos brejos Nordestinos. Pp.17 -24. In: Pôrto, C.K., Cabral, J.J.P., Tabarelli, M. (orgs). Brejos de Altitude em Pernambuco e Paraiba: Historia Natural, ecologia e conservação. Brasília. Ministério do Meio Ambiente.

Ticktin, T., Dalle, S.P., 2005.Medicinal plant use in the practice of the Midwifery in rural Honduras. Journal of Ethnopharmacology 96, 233 – 248.

Varga, C.A., Veale, D.J.H., 1997. Isihlambezo: utilization patterns and potential heal the effects of pregnancy related traditional herbal medicine. Social Science & Medicine 44, 911 – 924 .



Flora medicinal das tribos indígenas Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Arariboia, nordeste do Brasil Paola Andrea Londoño Castañeda¹, Laise de Holanda Cavalcanti Andrade 2

Resumo (Flora medicinal das tribos indígenas Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Arariboia, nordeste do Brasil). Nas últimas décadas tem se evidenciado um forte incremento na realização de pesquisas etnobotânicas sobre plantas medicinais, principalmente nos ecossistemas tropicais; dentre as comunidades tradicionais estudadas as tribos indígenas têm representado um importante foco de interesse no estudo da relação do homem com a natureza. Estudos antropológicos e etnológicos que abrangem as práticas de cura e xamanismo têm sido freqüentemente realizados, incluindo a menção de plantas com indicação terapêutica, ritualísticas e místicas. Em geral as pesquisas etnobotânicas têm se centrado em descrever os padrões do aproveitamento das plantas através da elaboração de listas de espécies e descrição do seu aproveitamento tradicional. Em menor proporção, algumas pesquisas etnodirigidas visam fornecer informações para o preenchimento das lacunas existentes no conhecimento farmacológico das espécies indicadas como medicinais, com o propósito de garantir o uso seguro das plantas e contribuir no desenvolvimento de novos fitoterápicos. Este trabalho (1) revisa o conhecimento existente em tribos que habitam a Região Nordeste do Brasil, (2) estabelece comparações do elenco de espécies de uso medicinal nas tribos Pankararu, Fulni-ô e Xucuru (Pernambuco), Tapeba (Ceará) e Araribóia (Maranhão), (3) avalia a influência extracultural na flora medicinal encontrada e (4) caracteriza química, farmacológica e toxicologicamente as espécies de maior destaque segundo os índices da etnobotânica quantitativa. A diversidade de espécies nas zonas fitogeográficas onde vivem as diferentes tribos tem reflexos na flora medicinal indígena, com relativamente poucas espécies em comum entre as cinco tribos consideradas. Existe uma forte influência extracultural na flora medicinal das comunidades indígenas analisadas, implicando o cultivo de espécies exóticas e maior riqueza do repertório de uso local. A revisão da literatura farmacológica sobre as plantas de maior importância nas culturas indígenas do nordeste evidenciou que muitas das espécies utilizadas com fins medicinais não apresentam estudos de validação farmacológica nem foram avaliadas quanto a sua toxicidade.

Palavras chave: caatinga, cerrado, brejo de altitude, comunidades aborígenes, plantas nativas.

1. Programa de Pós- Graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco. 2. Laboratório de Etnobotânica e Botânica Aplicada (LEBA), Universidade Federal de Pernambuco. * Rua Prof. Nelson Chaves, s/n, Cidade Universitária CEP: 50.670-901 - Recife - PE. Fone: 55 (81) 2126.8943


Abstract (Medicinal Flora of the indigenous tribes Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba and Arariboia, northeastern Brazil). In the last decades has been shown a strong increase in ethnobotanical studies on medicinal plants, mainly in tropical ecosystems; among traditional communities studied, Indian tribes have played an important focus of interest for studying man's relationship with nature. Ethnological and anthropological studies that cover healing practices and shamanism have often been made, including the mention of medicinal, ritual and mystic plants. In general, ethnobotanical studies have focused on describing the use patterns of plants and therapeutic use, by drawing up lists of species for local medicine use description of its traditional use. To a lesser extent, some ethnodirected studies intended to provide information to fill the gaps in pharmacological knowledge of species of medicinal use, with the purpose to ensure safe use of plants and contribute to the development of new herbal drugs. This paper reviews the knowledge in tribes inhabiting the northeast region of Brazil and provides comparisons of the range of species of medicinal use in the tribes Pankararu, Fulni-ô and Xucuru (Pernambuco), Tapeba (Ceará) and Araribóia (Maranhão); evaluates the extracultural influence of the medicinal flora found and characterizes most prominent species chemical-, pharmacological and toxicologically according to the ethnobotany quantitative indices. The species diversity in phytogeographic areas where the different tribes live has influence on indigenous medicinal plants, with relatively few common species among the five tribes considered. There is a strong extracultural influence on medicinal flora of indigenous communities analyzed, implying the cultivation of exotic species and higher richness of the local use repertoire. The pharmacological literature review on plants of greatest importance in indigenous culture in the Northeast showed that many species used for medicinal purposes have no pharmacological validation studies or evaluation for toxicity. Keywords: caatinga, cerrado, montane forest, indigenous communities, native plants.

1. Programa de Pós- Graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco. 2. Laboratório de Etnobotânica e Botânica Aplicada (LEBA), Universidade Federal de Pernambuco. * Rua Prof. Nelson Chaves, s/n, Cidade Universitária CEP: 50.670-901 - Recife - PE. Fone: 55 (81) 2126.8943


1. Introdução A etnobotânica estuda as diferentes dimensões da relação do homem com as plantas expressadas no conhecimento ecológico tradicional, abordando de maneira múltipla a maneira como o homem percebe, classifica e utiliza as plantas (Prance 1991). Este saber ancestral tem sido aprofundado e especializado empiricamente durante milhares de anos, sendo acumulado e fixado na memória coletiva, difundido e conservado na maioria dos casos de forma oral, como única via de socialização (Martin 1995). É bem sabido que as comunidades aborígenes brasileiras encontram-se sujeitas à influência extracultural no repertório das plantas de uso local, com a introdução de espécies medicinais européias, africanas e asiáticas, que às vezes alcançam maior importância que as nativas (Silva & Andrade 2004; Hanazaki et al. 2000). Segundo Voeks (2007), a vulnerabilidade na erosão do saber ancestral sobre as utilidades dos recursos vegetais deve-se principalmente às influências da globalização, encontrando-se este conhecimento em risco de extinção. O papel da etnobotânica no resgate da sabedoria botânica tradicional tem sido amplamente discutido nos países neotropicais (Martin 1995; Amorozo 1996; Morais et al. 2005), sendo um dos principais objetivos originários desta ciência interdisciplinar. A descoberta de novas substâncias de ação terapêutica através de estudos etnobotânicos e etnofarmacológicos tem sido amplamente demonstrada (Albuquerque & Hanazaki 2006), assim como têm sido levantadas discussões em torno da importância da etnobotânica na conservação dos recursos vegetais, baseada nas práticas dos sistemas tradicionais de manejo sustentável dos ambientes naturais (Posey 1987). No Brasil, os ecossistemas da caatinga, cerrado e mata atlântica têm sido amplamente estudados quanto a sua riqueza em flora medicinal com a publicação de listas elaboradas a partir do conhecimento tradicional e caracterização dos padrões de uso dos recursos vegetais. Em complemento a estas aproximações ao conhecimento da relação das culturas com os recursos vegetais, alguns autores têm abordado estes padrões através de técnicas quantitativas com o uso dos índices da etnobotânica, como realizado por Monteiro et al. (2006) e Almeida et al. (2006). Para os ecossistemas de mata atlântica e cerrado alguns pesquisadores documentaram o uso medicinal dos recursos vegetais, como Gazzaneo et al. (2005), que abordaram o consenso entre os informantes numa comunidade rural; Amorozo (2002), que avaliou a diversidade da flora medicinal local numa comunidade habitante do cerrado em Mato Grosso; Begossi et al. (2002), que desenvolveram estudo sobre o conhecimento, uso e conservação dos recursos vegetais com propriedades terapêuticas no Rio de Janeiro e São Paulo.


Por outro lado, várias pesquisas tem se centrado em descrever e avaliar a comercialização de recursos fitoterápicos em mercados e feiras livres em municípios dos diferentes estados nordestinos (Albuquerque et al. 2007; Gomes et al. 2007; Dantas & Guimaraes 2007 e Oliveira et al. 2007a ), os quais fornecem informações úteis na elaboração de planos de manejo orientados à conservação das espécies medicinais nativas; neste sentido, Oliveira et al. (2007b) destacam as espécies maderáveis com propriedades terapêuticas de maior vulnerabilidade pelas suas características ecológicas e o uso local realizado por comunidades rurais no ambiente de caatinga. Autores como Almeida et al. (2006) e Oliveira et al. (2000) têm contribuído para a caracterização dos princípios ativos responsáveis pela atividade farmacológica, através de estudos fitoquímicos de espécies de uso medicinal na região nordeste do Brasil. Diante dos atuais avanços desta ciência interdisciplinar e considerando a relevância do conhecimento tradicional no desenvolvimento de novos fitofármacos, é de suma importância a validação científica deste saber ancestral, através de estudos etnobotânicos, etnofarmacológicos e bioensaios. No entanto, devido ao aproveitamento e exploração dos direitos sobre a propriedade intelectual das comunidades tradicionais, realizado recorrentemente, hoje existe uma maior preocupação por parte de alguns pesquisadores em realizar ações de reciprocidade que beneficiem tanto a comunidade científica como a detentora do saber original (Voeks 2007); neste sentido, pode-se observar que apesar de algumas pesquisas farmacológicas e toxicológicas validarem o conhecimento ancestral das tribos tradicionais, raramente estes avanços resultam em benefícios para o melhoramento do uso dos recursos vegetais pelas comunidades tradicionais. Considerando a complementaridade do saber ancestral e os aportes científicos das ciências farmacêuticas, o compromisso do pesquisador da etnobotânica inclui a sistematização e organização destas informações, as quais podem ser otimizadas na realização de atividades de retorno, tais como a socialização e divulgação dos estudos farmacológicos e toxicológicos para as comunidades tradicionais na região de estudo. Tal postura contribui para a validação deste saber ancestral, para o melhor aproveitamento dos recursos fitoterápicos e melhoramento da segurança no uso dos recursos vegetais locais. A respeito desse assunto, Elisabetsky (1986) lista algumas formas alternativas de retorno das informações às comunidades usuárias e conhecedoras de plantas medicinais. A visão de conjunto sobre o conhecimento indígena nordestino e os estudos etnobotânicos desenvolvidos nesta região do país levantam questionamentos no sentido de descobrir se as plantas nativas têm destaque na flora medicinal nas comunidades e se as mesmas são partilhadas entre as diferentes tribos. Apresenta também interesse etnobotânico comparar o saber tradicional destas comunidades aborígenes com os avanços nas ciências químicas e farmacêuticas, visando contribuir na validação do conhecimento indígena e na eficácia e segurança no aproveitamento dos recursos fitogenéticos na saúde.


O objetivo deste estudo foi analisar a literatura pertinente ao elenco de plantas medicinais usadas em tribos indígenas do nordeste brasileiro, incluindo dados etnobotânicos originais, recentemente documentados junto à comunidade indígena Pankararu, avaliar e comparar a importância das espécies nativas na flora medicinal de cinco tribos distribuídas em diferentes zonas fitogeográficas e compilar informações farmacológicas e toxicológicas sobre as espécies de maior destaque nas culturas estudadas.

2. Material e métodos Foram compiladas e analisadas informações sobre a etnobotânica das tribos indígenas no nordeste brasileiro, assim como as referentes aos avanços na validação fitoquímica, farmacológica e toxicológica das plantas medicinais mais importantes na região. São reconhecidas 46 tribos indígenas nos estados do nordeste brasileiro (Socioambiental 2010) porém foram localizados artigos sobre etnobotânica de plantas medicinais empregadas por apenas cinco delas, baseados em pesquisas realizadas junto aos Fulni-ô, Xucuru, Tapeba, Araribóia e Potiguara (Silva & Andrade 1998; Coutinho et al. 2002; Morais et al. 2005; Silva et al. 2005, 2006; Aguiar 2008). O estudo etnobotânico realizado por Aguiar (2008) na tribo Potiguara, estado da Paraiba, não foi considerado na análise quantitativa, por apresentar apenas as 28 espécies de maior importância para esta tribo nordestina. Foram consideradas informações de riqueza de espécies, uso e comércio da flora medicinal empregada por indígenas nordestinos em dois mercados populares da região nordeste do Brasil (Albuquerque et al. 2007; Dantas et al. 2007; Oliveira et al. 2007a). Os trabalhos etnobotânicos realizados junto aos Fulni-ô e Xucurú abrangem outros usos dos recursos vegetais, além do medicinal, e as pesquisas entre os Arariboia e Tapeba foram direcionadas para o estudo de plantas medicinais; por tanto a comparação sobre a riqueza de espécies da flora medicinal nas quatro tribos analizadas por outros autores e os Pankararu, considera as diferenças metodológicas quanto à intensidade da amostragem, devido ao interesse direcionado especificamente ao estudo de plantas com indicação terapêutica, já que nem todos os estudos considerados aqui tiveram este interesse particular. As comunidades indígenas analisadas no presente trabalho habitam distintos ambientes vegetacionais encontrados nos estados de Pernambuco, Ceará e Maranhão. As aldeias dos Pankararu e Fulni-ô estão assentadas no sertão pernambucano, em ambiente típico de caatinga, caracterizado por uma vegetação predominantemente caducifólia, com presença de gramíneas e herbáceas anuais, com destacada presença de plantas suculentas; arbustos e árvores esparsos são encontrados nas proximidades dos cursos d’água (Rodal & Sampaio 2002); destacam-se alguns gêneros de leguminosas e cactáceas típicos da caatinga, como Acacia, Mimosa, Cereus e Pilosocereus. Na estação da seca pode-se observar espécies de uso medicinal que conservam suas folhas, como Ziziphus joazeiro Mart e Spondias tuberosa Arr. Câm., com caducifolia parcial (Albuquerque & Andrade, 2002b); o estrato herbáceo-subarbustivo da caatinga se desenvolve intensamente na temporada de maior pluviosidade, encontrando-se plantas úteis típicas das matas secas, como Passiflora foetida L., Egletes viscosa Less. e Boerhavia diffusa L.


Na área de habitação da tribo Pankararu encontram-se também outros ambientes vegetacionais, como florestas serranas e cerrados ou tabuleiros, determinados pelas formações topográficas com leves ondulações, que propiciam maior umidade nas encostas das serras (Tabarelli & Santos, 2004). A tribo Fulni-ô se localiza naregião agreste do estado de Pernambuco, carcterizado pelo clima semi árido (Silva, 2003). Os Xucuru, assentados no agreste de Pernambuco, habitam áreas de floresta serrana conhecidas como brejo de altitude no nordeste Brasileiro; estas florestas densas, úmidas, estão associadas à floresta aberta nas escarpas médias e inferiores, com vegetação caducifólia espinhosa nas escarpas e, eventualmente, vegetação rupícola em locais com afloramentos de rocha (Pereira et al. 1993; Rodal et al.1998; Sales et al. 1998). Os Tapeba se encontram na região pré-amazônica do estado do Maranhão, apresentando influência fitossociológica dos domínios morfoclimáticos da floresta amazônica ao oeste, e do cerrado ao sul. O município de Caucáia, onde foi realizada a pesquisa junto aos Tapeba, encontra-se imerso no ecossistema cerrado (Fig. 1b) o qual, apesar de ter sofrido uma intensa devastação com as práticas de agricultura e pecuária, tem sido considerado um hot spot devido a que abriga uma vasta biodiversidade, com presença de muitas espécies endêmicas (Myers et al. 2000). A vegetação é do tipo Floresta Estacional Semidecidual, onde podem se encontrar matas de galeria, matas mesófilas e campos rupestres, entre outros ambientes; o cerrado encontra-se composto por gramíneas, arbustos e árvores esparsas, onde as famílias de maior predominância são Leguminosae, Malphiaceae, Myrtaceae, Rubiaceae e Melastomataceae; dentre a flora típica do cerrado, Qualea grandiflora Mart., da família Vochysiaceae, se destaca pela sua importância na medicina popular (Furley 1999). No estado do Ceará, as aldeias dos Araribóia distribuem-se nas proximidades do litoral, com maior influência do bioma Mata Atlântica (Fig. 1c), a qual tem sido caracterizada por diversos ambientes como são a floresta ombrófila densa, mista e aberta; floresta estacional decídua e semidecídua, com áreas de manguezais, restingas, campos de altitude e brejos. As famílias taxonômicas comumente citadas são Myrtaceae, Melastomataceae, Lauraceae, Celastraceae, Clusiaceae, Leguminosae, Anacardiaceae, Compositae, Rubiaceae, Monimiaceae e Ochnaceae (Joly et al. 1991). O estudo de similaridade entre as floras medicinais das tribos Pankararu, Xucuru, Fulni-ô, Tapeba e Arariboia, baseado na matriz presença/ausência, foi feito através do índice de similaridade (Sj) de Jaccard, seguido da análise de agrupamento. As espécies de maior importância medicinal para as tribos nordestinas estudadas até o momento sob o enfoque etnobotânico foram caracterizadas quanto aos dados farmacológicos, fitoquímicos e toxicológicos encontrados na literatura. Os critérios para a escolha destas espécies incluem: destaque realizado pelos autores consultados (Morais et al. 2005); maiores valores na importância relativa das espécies medicinais segundo os índices da etnobotânica utilizados nas pesquisas incluídas neste estudo (Silva & Andrade 1998; Silva et al. 2005, 2006), nos quais é considerado o número de citações por espécie,


B A

C

Figura 1. Distribuição dos biomas nas comunidades de estudo: A, caatinga, B, cerrado e C, mata atlântica,

no

nordeste

do

Brasil.

Fontes:

A,

http://www.biosferadacaatinga.org.br/imagens/mapa_limite_bioma.gif; http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/cerrado/imagens/cerrado25.jpg

B, e

C,

http://elparanaense.com.ar/img2008/mataatlanticamapa.gif. 3. Resultados e discussão Na realização deste trabalho foi evidenciada a carência de estudos etnobotânicos sobre as tribos indígenas nordestinas, assim como a limitação de acessibilidade nos meios digitais. A escassez de pesquisas em parte pode ser devida às exigências do governo brasileiro quanto ao acesso ao conhecimento tradicional associado a recursos genéticos; o atendimento à Medida Provisória n. 2.186-16, de 23 de agosto de 2001, regulamentada pelo Decreto n. 3.945, de 23 de setembro de 2001, e a necessidade da proposta de pesquisa ser avaliada pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, (CGEN) do Ministério do Meio Ambiente para que possa ser desenvolvida, além do aval do CNPq e FUNASA, requerem um tempo muitas vezes além do disponível pelos pesquisadores nesta área da ciência. Além dos aspectos burocráticos apresentados, o desenvolvimento de estudos sobre a flora medicinal de uso por comunidades nativas apresenta muitas limitações, pois as práticas de cura nas diferentes etnias encontram-se fortemente carregadas de elementos religiosos e místicos, considerados entre as tribos como segredos. Este fato pode ocasionar receio de partilhar conhecimentos e crenças sobre os processos de cura por parte dos indígenas e em decorrência eles podem se negar a participar de estudos que abordem os diferentes aspectos do sistema de cura indígena (Albuquerque & Hanazaki 2006). Por outro lado, as pesquisas com plantas medicinais implicam questões éticas e legais como a bioprospecção, direitos de propriedade intelectual comunitária e criação de patentes, entre outras, que limitam e desanimam aos pesquisadores a empreender este tipo de estudos.


Figura 2. Localização das tribos indígenas estudadas nos estados do Maranhão, Ceará e Pernambuco, Fonte: http://maps.google.es/

Reunindo as citações provenientes das cinco tribos obteve-se um total de 290 espécies de uso medicinal, das quais unicamente 60 táxons pertencem à flora brasileira, tendo maior representatividade as famílias Leguminosae (34), Euphorbiaceae (22), Asteraceae (17), Lamiaceae (13), Anacardiaceae (11), Myrtaceae (9) e Bignoniaceae, Rutaceae, Cucurbitaceae, Moraceae e Poaceae representadas por sete espécies cada (Tabela 1). Estas famílias correspondem às comumente citadas para comunidades não indígenas que habitam as diferentes regiões brasileiras, nos biomas Caatinga, Mata Atlântica, Cerrado e Amazonia (Almeida et al. 2006; Albuquerque & Andrade 2002a; Amorozo 2002; Begossi et al. 2002; Stasi et al. 2002; Hanazaki et al. 2000), assim como nos mercados livres nos estados de Pernambuco e Bahia (Albuquerque et al. 2007). Espécies pertencentes às famílias Asteraceae e Lamiaceae são citadas como medicinais em pesquisas ao redor do mundo, devido à presença de compostos secundários como terpenos, óleos essenciais e compostos aromáticos, entre outros, com ações terapêuticas no sistema digestório e respiratório, assim como com atividade antifúngica e antibacteriana (Lorenzy & Matos 2002); por este motivo, muitas delas estão sendo cada vez mais estudadas

quanto à presença de

substâncias com atividade farmacológica. Especialistas Pankararu citaram o emprego de 223 etnoespécies, das quais 123 foram identificadas e clasificadas taxonomicamente, com destaque para as famílias Leguminosae (21), Asteraceae (15), Lamiaceae (8), Anacardiaceae e Solanaceae com seis táxons e Verbenaneae e Cucurbitaceae com cinco.


O sistema corporal com maior número de citações foi o reprodutivo, porém o maior número de espécies indicadas destinam-se ao tratamento de problemas do sistema respiratório (Londoño 2010). Entre os 118 táxons com algum tipo de uso tradicional pelos Fulni-ô, 86 espécies apresentam usos terapêuticos (Tab. 1). As famílias com maior freqüência de citação são Anacardiaceae, Leguminosae, Euphorbiaceae; Lamiaceae e Myrtaceae, com destaque nas indicações para o tratamento de doenças do sistema gênito-urinário e do sistema reprodutivo (Silva et al. 2005). Na comunidade Xucuru a categoria medicinal é a segunda mais representativa, após a categoria construção. Entre as plantas utilizadas, 52 espécies são de uso medicinal, sendo as famílias Anacardiaceae, Leguminosae e Euphorbiaceae as mais representativas (Tab.1); os principais usos terapêuticos documentados foram transtornos dos sistemas digestório e respiratório e doenças gênitourinárias (Silva & Andrade 1998). Os indígenas Tapeba, que vivem no estado do Ceará, citaram 63 plantas medicinais (Tab. 1), encontrando maior número de menções nas famílias Anacardiaceae, Euphorbiaceae, Lamiaceae, Liliaceae e Leguminosae sensu lato (Morais et al. 2005). Os autores tiveram a iniciativa de agrupar as espécies mais citadas pelos indígenas segundo as informações químicas e atividade biológica disponíveis das mesmas, criando três categorias : 1. Plantas de uso validado; 2. Plantas de toxicidade estabelecida 3. Plantas pouco conhecidas quimicamente mas com atividade biológica detectada (Morais et al. 2005). Ver espécies de destaque na tabela 2 No estado de Maranhão, os agentes de saúde atuantes na comunidade indígena Araribóia indicaram 40 espécies vegetais de uso terapêutico local, com destaque para as famílias Anacardiaceae, Moraceae e Rutaceae, sendo os usos mais documentados o antiinflamatório, doenças sexualmente transmissíveis, malária e verminose (Coutinho et al 2002).

Tabela 1. Espécies de uso medicinal citadas nas comunidades Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Araribóia, nos estados de Pernambuco, Ceará e Maranhão, região nordeste do Brasil. Autores referidos: 1. Londoño 2010, 2. Silva 2003, 3. Silva & Andrade 1998, 4. Morais et al. 2005, 5. Coutinho et al. 2002; Status: A: ameaçada; PC: prioridades de conservação.

Familia / Espécie Acanthaceae

Nome Comum

Tribo indígena

Justicia gendarussa Burm. f. Justicia pectoralis Jacq.

Abrecaminho Anador

Pankararu

Chapéu-de-couro

Pankararu

Allium sativum L.

Alho

Allium aescalonicum L.

Pankararu, Tapeba

Autores

Origem Exótica

1, 4

Brasil

1

Exótica

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Cebola-branca

Pankararu, Fulni-ô, Tapeba

2, 4

Exótica

Beterraba

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Alismataceae Echinodorus sp. Alliaceae

Amaranthaceae Beta vulgaris L.

Status


Amarylidaceae Hypeastrum psittacinum Herb.

Cebola-branca

Xucuru

3

Exótica

Anacardium occidentale L.

Cajú

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia, Tapeba

1, 2, 3, 4, 5

Brasil

Anacardium giganteum Hancock

Cajueiro-do-mato

Araribóia

5

Exótica

Astronium urundeuva (Allemão) Engl.

Aroeira-do-sertão

Tapeba

4

Exótica

Litharae brasiliensis L.

Aroeira

Mangifera indica L.

Mangueira, itamaracá

5

Exótica

Myracrodruon urundeuva Allemao

Arroeira

Pankararu, Fulni-ô, Tabeba

Shinopsis brasiliensis Engl.

Baraúna

Pankararu, Fulni-ô

Spondias dulcis Forst.

Cajazeiro

Spondias purpurea L. Spondias mombin L. Spondias tuberosa Arr. Câm.

Anacardiaceae Xucuru,

Araribóia Manga- Pankararu, Xucuru, Araribóia, Tapeba

A

1, 3, 5, 4 1, 2, 4

Brasil

A, PC

1, 2

Brasil

PC

Araribóia

5

Exótica

Seriguela

Fulni-ô

2

Exótica

Umbu-caja, Cajazeira

Pankararu, Tapeba

4

Brasil

Umbú

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Croazinho

Pankararu

1

Exótica

Annona squamosa L.

Pinha, Ata

Pankararu, Fulni-ô, Tapeba

1, 2, 4

Exótica

Annona marcgravii Mart. Guatteria vilosissima St. Hil.

Araticum Pindaiba

Pankararu

1

Brasil

Araribóia

5

Exótica

Anemiaceae Anemia tomentosa (Sw.)Sw. Annonaceae

Apiaceae Coriandrum sativum L.

Coentro

Pankararu

1

Exótica

Foeniculum vulgare Gaertn.

Endro

Pankararu

1

Exótica

Pimpinella anisum L.

Erva-doce

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Tapeba

4

Exótica

Apocynaceae Aspidosperma pyrifolium Mart. Catharanthus roseus (L.) G. Don

Pereiro Boa-noite-branca

Peschiera affinis (Mull. Arg.) Miers

Grão-de-galo

Tapeba

4

Exótica

Comigo-ninguém-pode

Fulni-ô

2

Exótica

Cocus nucifera L.

Coco

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Syagrus coronata (Mart.) Becc

Licuri

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Syagrus picrophylla Barb. Rodr.

Catolé

Tapeba

4

Exótica

Aristolochia allemanie Hoehne

Angélico

Tapeba

4

Exótica

Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc.

Jarrinha

Pankararu

1

Brasil

Calotropis gigantea (L.) R. Br.

Ciúme

Tapeba

4

Exótica

Calotropis procera (Will.) R.Br.

Algodão-de-seda

Pankararu

1

Exótica

Avenca-mirim

Xucuru

3

Exótica

Sansevieria cylindrica Bojer

Rabo-de-tatu

Tapeba

4

Exótica

Sansevieria sp. Asteraceae

Espada-de-São-George

Araceae Dieffenbachia picta (Lodd.) Scott. Arecaceae

Aristolochiaceae

Asclepidiaceae

Aspleniaceae Asplenium formosum Will. Asphodelaceae Pankararu

Exótica


Acanthospermum hispidum DC.

Fideração, Delegado

Pankararu, Tapeba

1, 4

Exótica

Sarampina

Pankararu

1

Exótica

Ageratum conyzoides L. Artemisa sp.

Mentraste Anador

Pankararu

1

Exótica

1, 2, 3

Exótica

Bidens bipinnata L.

Carrapicho-de-agulha

Pankararu

1

Exótica

Conocliniopsis prasiifolia (DC.)R. M. King & H. Rob.

Balaio-do-velho

Pankararu

1

Exótica

Crysanthemum parthenium Pers.

Artemisia

Araribóia

5

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Acmella uliginosa (Sw.) Cass.

Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

Egletes viscosa Less. Helianthus annuus L.

Marcela Girassol

Pankararu

1

Exótica

Lactuca sativa L.

Alface

Fulni-ô

2

Exótica

Melanthera latifolia (Gardner) Cabrera

Frechero

Pankararu

1

Exótica

Quetoco

Pankararu

1

Exótica

Cravo-de-defunto

Pankararu

1

Exótica

Cravo-de-urubu-(linguade-sapo) Boldo

Pankararu

1

Exótica

1, 5

Exótica

Bem-me-quer

Pankararu

1

Exótica

Pau-de-botão

Pankararu

1

Exótica

Anemopaegma arvenses (Vell.) Stellfeld. Catuaba Ex. de Souza

Pankararu

1

Exótica

Crescentia cujete L.

Caco-de-cuia

Pankararu

1

Exótica

Lundia cordata D.C.

Cipó-de-vaqueiro

Xucuru

3

Exótica

Tabebuia sp.

Pau-dárco

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Tabebuia caraiba (Mart.) Ber.

Craibeira

Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera Tagetes patula L. Vernonia chalybaea Mart. ex DC. Vernonia condensata L. Wedelia alagoensis Baker Não identificada

Pankararu, Araribóia

Bignoniaceae

Pankararu

1

Brasil

Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex DC.) Paudarco Standl

Pankararu, Xucuru

3

Exótica

Tabebuia Nicholson

Tapebas, Araribóia

4, 5

Urucum

Tapebas, Araribóia

4, 5

Exótica

Crista-de-galo, Fedegoso

Pankararu, Tapeba

1, 4

Brasil

Brassica integrifólia G. E. Schulz.

Mostarda

Fulni-ô

1

Exótica

Rourippa pumila (Camb.) A. Lima

Agrião

Xucuru

3

Exótica

Ananas comosus (L.) Merr

Abacaxi

Pankararu

1

Brasil

Bromelia antiacantha Bertol.

Croatá

Pankararu

1

Brasil

Bromelia laciniosa Mart. Ex. Schult.

Macambira

Pankararu, Fulni-ô

serratifolia

(Vahl)

G. Paudarco

Bixaceae Bixa orellana L. Boraginaceae Heliotropium indicum L. Brassicaceae

Bromeliaceae

Neoglaziovia variegata (Arr. Cam.) Mez. Croa

Pankararu

1, 2 1

Brasil

Burseraceae Commiphora leptophleus (Mart.) J.B. Gillett Cactaceae

Umburana-de-cambão

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Cereus jamacaru D.C.

Mandacaru

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica


Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Coroa-frade Lutzelb.

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Pilosocereus gounellei (Weber) Byl. Et Rowl.

Xique-xique

Pankararu

1

Exótica

Maconha

Fulni-ô

2

Exótica

Capparis jacobinae Moric. ex Eichler

Ico-preto

Pankararu

1

Exótica

Capparis yco Mart.

Ico-do-mato

Pankararu

1

Exótica

Cleome spinosa Jacq. Caprifoliaceae

Mussambé

Pankararu

1

Exótica

1, 2

Exótica

2, 5, 4

Exótica

Cannabaceae Cannabis sattiva L. Capparaceae

Sambucus nigra L.

Pankararu, Fulni-ô

Sabugo

Caricaceae Carica papaya L.

Mamão

Fulni-ô, Araribóia, Tapeba

Cecropia adenopus Mart.

Imbaúba

Araribóia

5

Exótica

Cecropia pachystachya Trec.

Torém

Tapeba

4

Exótica

Maytenus rigida Mart.

Bom-nome

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Maytenus sp.

Bom-nome

Xucuru

3

Exótica

Tapeba

4

Exótica

1, 2, 5

Exótica

Cecropiaceae

Celastraceae

Chenopodiaceae Chenopodium ambrosioides anthelminticum (L) A. Gray Chenopodium ambrosioides L.

var. Mastruz Mastruz

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia

Castanhola

Fulni-ô

2

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Combretaceae Terminalia catappa L. Commelinaceae Commelina erecta L. Convolvulaceae

Marianinha

Merremia macrocarpa

Batata-de-purga

Araribóia

5

Exótica

Batata-de-purga

Pankararu

1

Brasil

Canela-viado

Fulni-ô

2

Exótica

Pensamento

Pankararu

1

Exótica

Pau-para-tudo, Courama

Pankararu, Tapeba

1, 4

Brasil

Oiticica

Tapeba

4

Exótica

Cayaponia tayuya Cong

Batata-de-teiu ou cabeçade-negro

Pankararu

1

Brasil

Citrilus vulgaris Schrad.

Melancia

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia

1, 2, 5

Exótica

Cucumis anguria L.

Maxixe

Pankararu

1

Exótica

Cucurbita pepo L.

Abóbora, Jerimum

Pankararu, Araribóia

1, 5

Exótica

Luffa operculata Cong.

Cabacinha

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Momordica charantia L.

Samelão, Caetano

Wilbrandia sp.

Batata-de-teiu ou cabeça- Pankararu, Fulni-ô de-negro

Operculina alata (Ham.) Urb. Costaceae Costus sp. Crassulaceae Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers. Kalanchoe brasiliensis Cambess. Crysobalanaceae Licania rigida Benth. Cucurbitaceae

Melão-de-são- Pankararu, Fulni-ô, Araribóia, Tapeba

1, 2, 4, 5 1, 2

Exótica


Cyperaceae Cyperus esculentus L.

Junco

Pankararu

1

Brasil

Catuaba

Pankararu

1

Brasil

Acalypha multicaulis Muell. Arg.

Canela-de-nambu

Pankararu

1

Exótica

Cnidoscolus urens (L) Arthur

Cansansão

Pankararu

1

Brasil

Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

1, 2, 3

Nordeste do Brasil

Marmeleiro, Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

1, 2, 3

Exótica

3

Exótica

1, 2

Brasil

Erythroxylaceae Erythroxylum vacciniifolium Mart. Euphorbiaceae

Cnidoscolus phyllacanthus (Muell. Arg.) Favela, Urtiga-branca Pax e Hoffman Croton argirophiloides Muell. Arg.

Sacatinga, Angolinha

Croton moritibensis Baill.

Velame-branco

Xucuru

Croton rhamnifolius Bomplan & Kunth.

Velame

Pankararu, Fulni-ô

Croton blanchetianus Baill. Croton sonderianus Muell. Arg.

Marmelero

Pankararu

1

Brasil

Marmeleiro

Tapeba

4

Exótica

Croton sp.

Velame

Tapeba

4

Exótica

Ditaxis malpighiacea (Ule) Pax & K. Hoffm. Euphorbia phosphorea Mart.

Pankararu

1

Exótica

Pau-de-mocó Burra-leitera

Pankararu

1

Exótica

1, 2, 4

Exótica

1, 5

Exótica

Jatropha curcas L.

Pinhão-branco, manso

pinhão Pankararu, Fulni-ô, Tapeba

Jatropha gossypifolia L.

Pinhão-roxo

Pankararu, Araribóia

Jatropha mollisima (Pohl) Baill.*

Pinhão-bravo

Pankararu

1

Brasil

Manihot esculenta Crantz

Macaxeira

Pankararu

1

Exótica

Maprounea cf. guianensis (Aubl.)

Pau-leite

Xucuru

3

Exótica

Pera ferruginea (Schott) Müll. Arg.

Chumbinho

Pankararu

1

Exótica

Phyllanthus amarus Schum. Et Thonn.

Quebra-pedra

Pankararu, Tapeba

1, 4

Exótica

Phyllanthus claussenii Muell. Arg.

Quebra-pedra-da-mata

Xucuru

3

Exótica

Phyllanthus niruri L.

Quebra-pedra

Fulni-ô, Xucuru, Araribóia

2, 3, 5

Exótica

Ricinus communis L.

Mamona

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia

1, 2, 5

Exótica

Caiubin

Xucuru

3

Brasil

Krameria tomentosa St. Hil. Labiatae, Lamiaceae

Carrapicho-de-boi

Pankararu

1

Exótica

Hiptys matiusii Benth.

Alecrim-de-vaqueiro

Pankararu

1

Brasil

Hyptis mutabilis Briq.

Sambacaitá

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Hyptis suaveolens (L) Poit.

Bamburral

Tapeba

4

Exótica

Lavandula sp.

Alfazema

Pankararu

1

Exótica

Leonotis nepetaefolia (L.) R.Br.

Cordão-de-são-francisco

Pankararu

1

Exótica

Menta sp.

Hortelã-de-folha-miúda

Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

1, 2, 3

Exótica

Ocimum americanum Hutch. & Dalziel.

Manjericão-branco

Pankararu

1

Exótica

Ocimum basilicum L.

Manjericão-roxo

Pankararu, Tapeba

1, 2, 3, 4

Exótica

Ocimum campechianum Mill.

Alfavaca

Pankararu, Xucuru

1, 3

Exótica

Ocimum gratissimum L.

Alfavaca

Fulni-ô, Tapeba

2, 4

Exótica

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.

Hortelã-de-folha-grossa, Malvarisco

Pankararu, Tabepa

1, 2, 3, 4

Exótica

Plectranthus barbatus Andrews

Malva

Tapeba

4

Exótica

Flacourtiaceae Casearia sylvestre Sw. Krameriaceae

Fulni-ô,

Fulni-ô,

Xucuru,

Xucuru,

PC

PC


Rosmarinum officinalis L.

Alecrim-de-caco, Alecrim

Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

1, 2, 3

Exótica Exótica

Lauraceae Cinnamomum zeylanicum Blume.

Canela

Pankararu, Fulni-ô

Ocotea sp.

Louro-branco

Xucuru

Persea americana Mill.

Abacate

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia

1, 2

Exótica

3

Exótica

1, 2, 5

Exótica

1, 2, 4

Brasil

Leg. Caeasalpinoideae Caesalpinia ferrea Mart.

Pau-ferro, Jucá, Barra-de- Pankararu, Fulni-ô, Tapeba Jucá

Caesalpinia pyramidalis Tul.

Catingueira

Pankararu

1

Brasil

Casia marthiana L.

Canafístula-de-lajeiro

Xucuru

3

Exótica

Cassia occidentalis L.

Fedegoso

Pankararu

1

Exótica

Copaifera langsdorfii Desf.

Pau-doía

Fulni-ô

2

Exótica

Jatobá

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia, Tapeba

1, 2, 4, 5

Brasil

Turco

Pankararu

1

Exótica

Pankararu

1

Brasil

Pankararu

1

Hymenaea coubaril L. Parkinsonia aculeata L

Senna cana (Nees & C. Mart.) H.S. Irwin Sicupira & Barneby Senna obtusifolia (L.) H.S.Irwin & Fedegoso, Pau-deBarneby Besouro, Besourinho

PC

Leguminosae, Cercideae Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.

Mororó

Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

1, 2, 3

Nordeste do Brasil

Bauhinia pentandra (Bong.) Vogel & Steud. Bauhinia ungulata L.

Pé-de-bode

PC

Pankararu

1

Exótica

Mororó,ou Pata-de-Vaca

Tapeba

4

Exótica

Espinheiro-branco

Pankararu

1

Exótica

PC

Espinheiro-branco

Fulni-ô

2

Exótica

PC

1, 2

Nordeste do Brasil

PC

Leg. Mimosoideae Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke Acacia pyauhiensis Bent. Anadenanthera Brenan

colubrina

(Benth.) Angico-de-caroço

Pankararu, Fulni-ô

Leucaena glauca Benth.

Linhaça

Tapeba

4

Exótica

Mimosa sensitiva L.

Malisa, Malisa-devaqueiro

Pankararu

1

Exótica

Mimosa sp.*

Jurema-branca

Xucuru

3

Exótica

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir

Jurema-preta, Santa-maria Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

1, 2, 3

Parapiptadenia zehntneri (Harms) M.P. Angico-monjolo Lima & H.C.Lima

Pankararu

1

Brasil

Piptadenia zehntneri Harms

Angico-liso

Pankararu

1

Exótica

Piptadenia sp.

Angico

Araribóia

5

Exótica

Prosopis juliflora D.C.

Algaroba

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Stryphnodendron sp.

Barbatimão

Pankararu

1

Exótica

Umburana-de-cheiro,Cumaru

Pankararu, Fulni-ô, Tapeba

1, 2, 4

Brasil

2, 5

Brasil

1, 2, 4

Exótica

Leg. Papilionoideae Amburana cearensis (Fr. Allemao) A. C. Sm.

Bowdichia virgilioides Humb., Bonplan Sucupira & Kunth.

Fulni-ô, Araribóia

Cajanus cajan (L.) Millsp.

Anduzeiro, Feijão-guandu, Pankararu, Fulni-ô, Tapeba feijão-cuandu

Copaifera sp.

Pau-dóia*, Copaíba

Xucuru, Araribóia

3; 5.

Exótica

Erythrina velutina Willd.

Mulungu, Diasepã

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Nordeste do Brasil

Machaerium sp.

Chifre de bode

Xucuru

3

Exótica

Myroxylum peruiferum L.

Balsamo

Fulni-ô

2

Exótica


Myroxylum sp.

Juduê

Xucuru

3

Exótica

Stylosanthes capitata Vog.

Arcançú

Pankararu

1

Exótica

Thephrosia cinérea Pers.

Sena-brava

Pankararu

1

Exótica

Tapeba

4

Exótica

Xucuru

3

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Liliaceae Nothoscordum pullchellum Kunth Loranthaceae Phoradendron sp.

Enxerco-de-passarinho

Struthantus polyrhizus Mart. Malpighiaceae

Enxerto, mata-pau

Byrsonima crassifolia (L.) H.B.K.

Murici

Pankararu

1

Exótica

Malpighia punicifolia L.

Acerola

Fulni-ô

2

Exótica

Gossypium barbadense L.

Algodão

Pankararu

1

Exótica

Gossypium herbaceum L.

Algodão

Araribóia

5

Exótica

Hibiscus bifurcatus Cav.

Algodao-do-mato

Tapeba

4

Exótica

Hibiscus esculentus L.

Quiabo

Tapeba

4

Exótica

Sida cordifolia L.

Malva

Pankararu

1

Exótica

Cedro

Pankararu

1

Brasil

Boldo

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Exótica

Artocarpus integrifolia L.

Jaca

Fulni-ô

2

Exótica

Brosimum gaudichaudii Tree

Inharé

Araribóia

5

Exótica

Brosimopsis acutifolium Moor

Mureré

Araribóia

5

Exótica

Chlorophora tinctoria Gaudich

Moreira

Araribóia

5

Exótica

Dorstenia brasiliensis Cambess.

contra-erva

Tapeba

4

Brasil

Morus nigra L. Musaceae

Amora

Pankararu

1

Exótica

Musa paradisiaca L

Banana, Banana-prata

Pankararu, Xucuru

1, 3

Exótica

Mamoscarda,-nozmoscada

Pankararu, Fulni-ô

1,2

Exótica

Batinga-branca

Xucuru

3

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Malvaceae

Meliaceae Cedrela odorata L.

PC

Monimiaceae Peumus boldus Mol. Moraceae

Mirysticaceae Myristica fragans Houtt. Myrtaceae Campomanesia sp. Campomanesia sp. Eucaliptus sp.

Murici-do-mato Eucalipto

Eugenia sp.

Guabiraba

Tapeba

4

Exótica

Eugenia uniflora L.

Pitanga

Fulni-ô

2

Brasil

Myciaria cauliflora (Mart.) O. Berg.*

Jabuticaba

Pankararu

1

Brasil

Psidium araça Raddi

Goiaba-araça

Xucuru

3

Exótica

Psidium guajava L.

Goiaba

Fulni-ô, Xucuru

2,3

Exótica

Syzygium jambolanum (Lam.) D.C.

Azeitona-roxa

Fulni-ô

2

Brasil

Boerhavia diffusa L.

Pega-pinto

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Boerhavia hirsuta Wiild.

Pega-pinto

Tapeba

4

Exótica

Guapira laxa L.**

Pau-piranha

Pankararu

1

Exótica

Pisonia sp.

Piranha-branca

Xucuru

3

Exótica

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia, Tapeba

1, 2, 4, 5

Nyctaginaceae

PC


Olacaceae Ximenia americana L.

Ameixa

Pankararu, Tapeba

1, 4

Brasil

Ximenia sp.

Ameixa

Fulni-ô

2

Exótica

barba-de-São-Sim

Xucuru

3

Exótica

Cardo-Santo

Pankararu

1

Exótica

Flor de pedra

Pankararu

1

Exótica

Canoparmelia salacinifera (Hale) Elix & Flor de pedra Hale Passifloraceae

Pankararu

1

Exótica

Maracujá

Pankararu

1

Brasil

Maracujá-de-estralo

Pankararu, Fulni-ô, Tapeba

1, 2, 4

Brasil

Sesamum indicum L.

Gergelim

Pankararu

1

Exótica

Physciaceae Heterodermia galactophylla (Tuck.) Culb.

Flor de pedra

Pankararu

1

Exótica

Pankararu

1

Exótica

1, 4

Exótica

1

Exótica

1, 4

Exótica

3

Exótica

1, 2, 3, 4, 5

Exótica

1

Exótica

2, 3

Exótica

Orquidaceae Pleurothallis rubens Lind. Papaveraceae Argemone mexicana L. Parmeliaceae Parmotrema wrightii Ferraro & Elix

Passiflora edulis L. Passiflora foetida L. Pedaliaceae

Phytolaccaceae Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms Petiveria alliacea L.

Pau-d´alho Tipi

Pankararu, Tapeba

Piperaceae Piper nigrum L.

Pimienta-do-reino

Pankararu

Louco

Pankararu, Tapeba

Coix lacrim-jobi L.

Milagre

Xucuru

Cymbopogon citratus (DC) Stapf.

Capim-santo

Pankararu, Fulni-ô, Tabepa, Araribóia

Eragrostis tenella (L.) Roem. & Schult.

Grama

Pankararu

Panicum sp.

Capim-de-frexa

Fulni-ô, Xucuru

Piresia leptophylla Soders.

Acanfor-remédio

Xucuru

3

Exótica

Pankararu

1

Exótica

1, 4

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Xucuru

3

Exótica

Berduega

Pankararu

1

Exótica

Orelha-d´onça

Pankararu

1

Exótica

Romã

Pankararu, Fulni-ô,Tapeba

1, 2, 4

Exótica

Joazeiro

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Nordeste do Brasil

Plumbaginaceae Plumbago scandens L. Poaceae

Saccharum officinarum L Zea mays L.

Cana-pitú Milho

Xucuru,

Pankararu, Tapeba

Polygalaceae Polygala paludosa A. St. Hil. Polypodiaceae

Jiló

Microgramma vaccinifolia (Langs Fich.) Samambaia Copel Portulacaceae Portulaca oleracea L. Proteaceae Roupala sp. Punicaceae Punica granatum L. Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart.

PC


Rubiaceae Borreria verticilata (L) G. Mey.

Vassourinha-de-botão

Pankararu, Xucuru

1, 3

Exótica

Chiococca alba (L.) Hitch.

Cipo-de-caninana

Pankararu, Xucuru

1, 3

Brasil

Coussarea sp.

Tá-branco

Xucuru

3

Exótica

Coutarea hexandra (Jach) Schum.

Quina-quina

Pankararu, Fulni-ô, Xucuru

1, 2, 3

Brasil

Genipa americana L.

Genipapo

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Tocoyena formosa (Ch. Schul.) Schum

Genipapo

Xucuru

3

Exótica

Citrus aurantifolia L.

Limãozinho

Araribóia

5

Ásia

Citrus auratium L.

Laranja

Pankararu, Fulni-ô; Tapeba

1, 2, 4

Exótica

Citrus limon (L.) Burm. F.

Limão

Pankararu, Araribóia

1, 5

Ásia

Citrus nobilis Lour.

Tanja

Araribóia

5

Exótica

Citrus sp.

Limão

Fulni-ô

2

Exótica

Esenbeckia sp.

Três-folhas

Araribóia

Ruta graveolens L.

Arruda

Pankararu, Tapeba

Rutaceae

5

Exótica

1, 2, 3, 4

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Fulni-ô

2

Exótica

1, 2

Nordeste do Brasil

Fulni-ô,

Xucuru,

Sapindaceae Allophylus edulis (St. Hil.) Radlk.

Brandão

Cardiospermum corindum L.

Capelina

Serjania glabrata Kunth. Serjania lethalis (Vell.) Brenan St. Hill.

Cipó-de-cururu Ariú

Sapotaceae Syderoxylon obtusifolium (Roem. & Quixabeira, Quixaba Schult.) T.D.Penn.

Pankararu, Fulni-ô

Scrophulariaceae Capraria biflora L.

Chá de monturo

Pankararu

1

Exótica

Scoparia dulcis L.

Vaçourinha-miuda

Pankararu

1

Exótica

Jirico

Pankararu

1

Exótica

Quina

Araribóia

5

Exótica

Japicanga-de-espinho

Xucuru

3

Exótica

Nicotiana tabacum L.

Tabaco

Pankararu, Fulni-ô

1, 2

Brasil

Solanum americanum Mill.

Santa-maría

Pankararu

1

Exótica

Solanum capsicoides All. Solanum paniculatum L.

Melancia-da-praia

Pankararu

1

Exótica

Pankararu

1

Brasil

1, 2, 4

Brasil

1

Exótica

1, 2

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Pankararu

1

Exótica

Selaginellaceae Selaginella convoluta (Arn) Sprig Simaroubaceae Quassia amara L. Smilaceae Smilax sp. Solanaceae

Solanum albidium Dunal.

Solanum rhytidoandrum Sendtn. Solanum tuberosum L.

Jurubeba Jurubeba, mato

Jurubeba-do- Pankararu, Fulni-ô, Tapeba

Besourinho, Besouro Batatinha

Pau-de- Pankararu Pankararu, Fulni-ô

Sterculiaceae Helicteres mollis K. Schum. Melochia tomentosa L.

Orucuba Imbira-vermelha

Waltheria indica L. Tiliaceae

Malva

PC


Triumpheta semitrilobata L.

Carrapicho-de-boi

Pankararu

1

Exótica

Turnera subulaya Sm.

Chanana

Tapeba

4

Exótica

Turnera ulmifolia L.

Arranca-estrepe

Pankararu

1

Exótica

Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. Urticaceae

Bara de ferrão, Jumerín

Pankararu

1

Exótica

Urera sp.

Cansansão

Pankararu

1

Exótica

Ipecacuanha

Tapeba

4

Brasil

Canela-de-ema

Xucuru

3

Exótica

Lantana camara L.

Chumbinho

Pankararu, Xucuru

1, 3

Exótica

Lippia sp.

Alecrin-de-caboclo

Fulni-ô

2

Exótica

Lippia alba (Mill.) Brown

Erva-cidreira, pau-pedro

Pankararu, Fulni-ô, Xucuru ; Tapeba

1, 2, 3, 4

Exótica

Lippia thymoides Martius & Shouer

Alecrim-de-caboclo

Pankararu

1

Exótica

Lippia gracilis Schauer

Alecrim-de-vaqueiro

Pankararu

1

Exótica

Vitex agnus_castus L.

Jurema-de-caboclo

Pankararu

1

Exótica

Xanthorrhoeaceae Aloe vera L.

Babosa

Pankararu, Araribóia

1, 2, 4, 5

Exótica

Alpinia speciosa (Blume) D. Dietr.

Côlonia

Pankararu, Fulni-ô, Araribóia

1, 2, 5

Brasil

Zingiber officinale Roscoe.

Gengibre

Pankararu

1

Exótica

Turneraceae

Ulmaceae

Violaceae Hybanthus ipecacuanha (L) Baill. Velloziaceae Xerophyta plicata Vel. Verbenaceae

Fulni-ô,

Tapeba,

Zingiberaceae

Quando comparada a flora medicinal em comunidades tradicionais que habitam diversos ecossistemas, como pode se constatar nas pesquisas mencionadas anteriormente, se observa sutis diferenças nas famílias de maior destaque em relação aos tipos de ambientes, como as familias Euphorbiaceae e Leguminosae para a caatinga e as familias Asteraceae, Lamiaceae e Solanaceae na mata atlântica.

Apesar da similaridade no destaque de algumas famílias taxonômicas entre os povos

nordestinos avaliados, diferenças ao nível de espécies na composição da flora medicinal eram esperadas, uma vez que as cinco tribos têm como fonte de recursos fitoterápicos diferentes ambientes vegetacionais. Baixos níveis de similaridade foram encontrados quanto à riqueza nos recursos fitoterápicos nas tribos indígenas nordestinas. As etnias Pankararu e Fulniô apresentaram agrupamento com 30% de similaridade e 65 espécies em comum, e a tribo Tapeba, apesar de encontrar-se a 900 kilômetros de distância das anteriores, apresentou agrupamento com as tribos Pankararu e Fulni-ô, obtendo15% de similaridade e 20 espécies em comum. A flora medicinal dos Xucuru é a mais diferenciada, com 17 espécies em comum com os Pankararu, 15 com os Fulni-ô, sete com os Tapeba e cinco com os Araribóia. A similaridade na riqueza de espécies medicinais entre as duas tribos pernambucanas (Pankararu e Fulni-ô) era esperada, uma vez que habitam ambientes similares e relativamente próximos espacialmente. Apesar dos Xucuru encontrarem localizados igualmente no sertão pernambucano, apresentaram evidente


distanciamento no dendrograma (10% de similaridade) o que parece estar relacionado com o ambiente do brejo de altitude, que difere fortemente do ambiente da caatinga

quanto às variáveis climáticas e

composição florística (Rodal et al. 1998). Considerando a totalidade da flora medicinal das comunidades indígenas registradas no Nordeste por Londoño (2010), Silva (2003), Silva & Andrade (1998, 2004), Silva et al. (2006), Albuquerque et al. (2008), Morais et al. (2005) e Coutinho et al. (2002) encontrou-se predominância das espécies introduzidas européias, asiáticas e africanas, cultivadas nos quintais e roças, assim como espécies de ampla distribuição na América do Sul e nos Neotrópicos, correspondendo a 74% da flora medicinal. Entre as espécies exóticas comuns para as cinco tribos incluem-se Mangifera indica L., Momordica charantia L., Ocimum basilicum L., Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng., Aloe vera L.. Eucaliptus sp., Cymbopogon citratus (DC) Stapf., Ruta graveolens L., Alpinia speciosa Schum. e Ocimum basilicum L., foram comuns entre as tribos nordestinas consideradas, sendo intensamente utilizadas, conhecidas e

Xucuru

Arariboia

Pankararu

Fulnio

Tapebas

cultivadas por seus usos terapêuticos.

0,9

0,8

0,7

Similarity

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

0,6

1,2

1,8

2,4

3

3,6

4,2

4,8

5,4

6

Figura 3. Dendrograma de similaridade na riqueza da flora medicinal segundo o indice de Jaccard entre as tribos indígenas Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Arariboia. Similarity=similaridade

Dentre as 33 espécies que apresentaram três ou mais ocorrências entre as cinco comunidades indígenas estudadas, apenas Anacardium occidentale L., Cnidoscolus phyllacanthus (Muell. Arg.) Pax e


Hoffman, Caesalpinia ferrea Mart., Hymenaea courbaril L., Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud., Amburana cearensis (Fr. Allemao) A. C. Sm., Passiflora foetida L. e Solanum albidium Dunal. pertencem à flora brasileira, o que evidencia maior importância das plantas introduzidas na farmacopéia tradicional nas tribos indígenas nordestinas. De maneira similar, Silva & Andrade (2004) apontam a forte influência extra-cultural na flora medicinal dos Xucuru, onde se destacaram plantas européias e africanas; o estudo comparativo sobre o uso de plantas medicinais entre uma comunidade indígena e outra rural, ambas habitantes do ecossistema da caatinga, evidenciou que a diversidade nos recursos vegetais de uso local encontra-se conformada em similar proporção de espécies nativas e exóticas nas duas comunidades, não reletindo influência evidente da flora nativa na diversidade de flora medicinal (Albuquerque et al. 2008). No entanto, vale a pena salientar que dentre as plantas de maior importância do ponto de vista etnobotânico nas cinco comunidades indígenas, se incluem espécies nativas, como é o caso de Myracrodruon urundeuva Allemao., Anacardium occidentale L., Caesalpinia ferrea Mart., Syderoxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D.Penn. e Ximenia americana L., cujas populações são apontadas por Oliveira et al. (2007) como fortemente vulneráveis devido à exploração sistemática para o comércio local e nacional. Quanto à concordância do conhecimento fitoterápico tradicional, ao comparar as indicações para as espécies de maior destaque em várias das comunidades indígenas estudadas algumas similaridades no uso foram documentadas para espécies introduzidas, como a arruda (Ruta graveolens L.), com indicação como analgésico para dor de cabeça e capim santo, Cymbopogon citratus (DC) Stapf., com uso para problemas estomacais (Londoño 2010, Silva 2003, Silva & Andrade 1998) . Dentre as espécies nativas, o cajueiro (Anacardium occidentale L.), foi indicado pelas cinco tribos indígenas consultadas, para o tratamento de gastrite, diabetes e como antiinflamatório de uso feminino; no entanto, quando comparadas as informações sobre as tribos Fulni-ô e Xucuru, fornecidas pela mesma pesquisadora, que empregou técnicas similares na obtenção dos dados etnobotânicos, para a maioria das espécies medicinais, encontrou-se diferenças nos sistemas corporais e indicações relatadas nas duas comunidades; de maneira similar, quando comparada a farmacopéia das cinco tribos, espécies comuns apresentaram diferenças nas indicações terapêuticas para as diferentes comunidades, evidenciando uma diversificação no uso e aproveitamento medicinal dos recursos vegetais (ver tabela 2). Algumas das espécies com usos similares relatados pelas tribos Pankararu, Fulni-ô e Xucuru são o mororo, Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.; a jurema preta, Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir, goiaba, Psidium guajava L. e capim santo, Cymbopogon citratus (DC) Stapf. Entre outras, o mororó foi recomendado para diabetes, tosse e gripe; a jurema, para dor de cabeça, a goiaba, para diarréia e o capim santo, para cólica e dor de estômago. Na revisão da literatura na área farmacológica encontrou-se que a maioria das espécies cosmopolitas, sejam cultivadas ou já domesticadas e com ocorrência nas áreas de floresta secundária, já foram estudadas através de testes fitoquímicos, de atividade biológica e estudos de toxicidade (Lorenzi & Matos 2002).


Todavia, o conhecimento farmacológico para as espécies nativas do Brasil é insuficiente, existindo lacunas quanto ao conhecimento acerca dos princípios ativos e estudos sobre a atividade biológica. Algumas das espécies de maior importância para as tribos indígenas estudadas (nativas e exóticas), como é o caso de Acanthospermum hispidum DC., Aloe vera L., Amburana cearensis (Arr. Câm.) A. C., Astronium urundeuva Engl., Bixa orellana L., Boerhavia hirsuta Willd., Caesalpinia ferrea Mart., Chenopodium ambrosioides var. anthelminticum (L.) A. Gray, Cymbopogon citratus (DC) Stapf., Hybanthus ipecacuanha (L) Baill., Justicia pectoralis Jacq.,Kalanchoe brasiliensis Cambess., Ocimum gratissimum L., Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng., Punica granatum L. e Tabebuia serratifolia (Vahl) G. Nicholson, a ação terapêutica relatada pelos informantes encontra concordância com estudos sobre a atividade biológica e testes farmacológicos. Dentre as espécies de maior importância etnobotânica listadas na Tab.2, M. urundeuva, A. hispidum, Maytenus rigida Mart., C. ambrosioides var. anthelminticum, Phyllanthus amarus Schum. Et Thonn., Hyptis mutabilis Briq., X. americana e P. granatum L. apresentam toxicidade cientificamente comprovada e Caesalpinia ferrea Mart., Amburana cearensis (Arr. Câm.) A. C. e Aloe vera L. devem ser usadas com precaução, preferivelmente em doses baixas, devido a suas ações tóxicas em concentrações mais elevadas (Lorenzi & Matos 2002).

4. Conclusões Encontrou-se elevada riqueza na flora medicinal nas cinco tribos indiígenas nordestinas, com maior número de espécies entre os Pankararu, o que evidencia a importância das práticas tradicionais no sistema de cura nesta tribo. Os Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Arariboia e Tapeba compartilham poucos elementos da sua flora medicinal, devido posivelmente à utilização de espécies que ocorrem distintamente nos diversos ambientes vegetacionais onde habitam, sendo as espécies em comum na maioria de origem exótica. Uma forte influência extracultural foi evidenciada no elenco de recursos fitoterápicos de uso nas cinco tribos,

refletindo a influência da sociedade envolvente nas práticas de uso dos recursos

fitoterápicos, o que pode ocasionar a substituição gradativa da flora nativa na medicina tradicional. Neste sentido, as pesquisas etnodirigidas podem contribuir para o registro, valorização e resgate do conhecimento empírico sobre o uso medicinal da flora original. A análise da literatura pertinente evidencia que pouco se conhece do ponto de vista farmacológico e toxicológico sobre as espécies medicinais nativas utilizadas por comunidades indígenas do nordeste brasileiro. Dessa forma, esforços para a validação deste saber empírico devem ser realizados com o propósito de contribuir para o melhoramento do uso de fitoterápicos e especialmente na utilização em comunidades tradicionais, onde o risco de emprego de plantas com potenciais tóxicos e efeitos secundários negativos é elevado.


Agradecimentos A lideranças e especialistas da cura tradicional Pankararu pela disposição e participação neste trabalho; à FACEPE, Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do estado de Pernambuco, pela bolsa de Pós-graduação; à Olivia Cano, Dra. Rita de Cássia Pereira, Iane Rego, Keyla Miranda, e equipe do Instituto Agronômico de Pernambuco, IPA pela colaboração na identificação das espécies.

5. Referências bibliográficas

Aguiar, F.B.O. 2008. Saber Potiguara em plantas medicinais. Editora Universitária. João Pessoa.

Akihisa, T.; Kokke, W.C.M.C; Tamura, T. 1991. Sterols of Kalanchoe pinnata: first report of the isolation of both epimers of 24-alkyl-d-25-sterols from higher plants. Lipids 26: 660-665.

Albuquerque, U.P. & Andrade, L.H.C. 2002a. Uso de recursos vegetais da caatinga: o caso do agreste do estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil). Interciencia 27(7): 336-346.

Albuquerque, U:P: & Andrade, L.H.C. 2002b. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta botanica brasilica 16(3): 273-285.

Albuquerque, U.P. & Hanazaki, N. 2006. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e pespectivas Revista Brasileira de Farmacognosia 16: 678-689.

Albuquerque, U.P.; Monteiro, J.M.; Ramos, M.A. & Amorim, L.C. 2007. Medicinal and magic plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology 110: 76 -91.

Albuquerque, U. P.; Silva, V. A.; Cabral, M. C.; Alencar, N. L. & Andrade, L. H. C. 2008. Comparisons between the use of medicinal plants in indigenous and rural caatinga (dryland) communities in NE Brazil. Boletín Latinoamericano y del Caribe de Plantas Medicinales y Aromáticas 7: 156-170.

Almeida, E.R.; Silva-Filho, A.A.S.; Santos, E.R.& Lopes, C.A.C. 1990. Antiinfl ammatory action of lapachol. Journal of Ethnopharmacology 29: 239-241.

Almeida C. F.C..B.R.; Amorim, E.L.C; Albuquerque, U.P. & Maia, M.B. 2006. Medicinal plants popularly used in the Xingó region – a semi-arid location in Northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine Research. 2(15): 1-7.


Amorozo, M.C.M. 1996. A abordagem etnobotânica na pesquisa de plantas medicinais. Pp. 47-68. In: DiStasi LC (Org.) Plantas medicinais: arte e ciência. São Paulo: Unesp.

Amorozo, M.C.M. 2002. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antônio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica 16(2): 189-203.

Antunes, S.A.; Da Silva, B.P.; Parente, J.P.& Valente, A.P. 2003. A new bioactive steroidal saponin from Sansevieria cylindrica. Phytotherapy Research 17: 179-182.

Azevedo, N. R.; Campos, I. F. P.; Ferreira, H. D.; Portes, T. A.; Seraphin, J. C.; De Paula, J. R.; Santos, S. C. & Ferri, P. H. 2002. Essential oil chemotypes in Hyptis suaveolens from Brazilian Cerrado. Biochemical systematics and ecology 30(3): 205-216.

Bandeira, M.A.M.; Matos, F.J.A. & Braz-Filho, R. 1994. New chalconoid dimers from Myracrodruon urundeuva. Natural Product Letters 4: 113-120.

Barbosa, P. P. P.& Barbosa, C. P. 1992 . Studies on the antiulcerogenic activity of the essencial oil of Hyptis mutabilis Briq. in rats. Phytotherapy Research 6(2): 114-15.

Begossi, A.; Hanazaki, N. & Tamashiro, J.Y. 2002. Medicinal Plants in two Atlantic Forest (Brazil): knowledge, use, and conservation. Human Ecology 30(3): 281-299.

Braga, R. 1976. Plantas do Nordeste especialmente do Ceará. Imprensa Oficial, 3a edição, Fortaleza.

Bravo, J.A.; Sauvain, M,; Gimenez, A.; Munoz, V.O.; Callapa, J.; LeMen-Olivier, L.; Massiot, G. & Lavand, C. 1999. Bioactive phenolic glycosides from Amburana cearensis. Phytochemistry 50: 71-74.

Bueno, A.X.; Moreira, A. T. S. ; Silva, F.T.& Estevam, M.M. 2006. Effects of the aqueous extract from Hyptis pectinata leaves on rodent central nervous system. Revista Brasileira de Farmacognosia 16 (3): 317-323.

Corthout, J.; Pieters, L.; Claeys, M.; Vanden Berghe, D.& Vlietinck, A. 1981. Antiviral ellagitannins from Spondias mombin. Phytochemistry 30: 1129-1130.


Corthout, J.; Pieters, L.; Claeys, M.; Vanden Vanden Berghe, D.; Vlietinck, A. 1992. Antiviral caffeoyl esters from Spondias mombin. Phytochemistry 31: 1979-1981.

Cruz, M.C.S.; Santos, P.O.; Barbosa Jr. A.M. Mélo, D.L.F.M.; Alviano, C.S.; Antoniolli, A.R.; Alviano D.S. & Trindade R.C. 2007. Antifungal activity of Brazilian medicinal plants involved in popular treatment of mycoses. Journal of Ethnopharmacology 111 (2):409-412. Coutinho, D.F.; Travassos, L.M.A. & Amaral, F.M.M. 2002. Estudo etnobotanico de plantas medicinais utilizadas em comunidades indígenas no estado do Maranhão – Brasil. Visão Academica 3(1): 7-12.

Correa, P.M. 1984. Dicionário de plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas. Ministério da Agricultura, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento, Florestal, Brasil.

Dantas, I. C. 2002. O Raizeiro e suas raízes: um novo olhar sobre o saber popular. Dissertação (mestrado interdisciplinar em saúde coletiva) – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande.

Dantas, I.C.& Guimarães, F.R. 2007. Plantas medicinais comercializadas no município de Campina Grande, PB. Revista de Biologia e Farmácia 6(1): 39-44.

Dantas, J.D.P. 2003. Contribuição científica à medicina tradicional dos Tapebas do Ceará: Astronium urundeuva (Allemão) Engl. – (aroeira-do-sertão). Monografía de graduação do curso de química da Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza. Elisabetsky, E. 1986. Etnofarmacologia de algumas tribos brasileiras. Suma Etnológica Brasileira. Vol. I, Etnobiologia. Petrópolis: Vozes, 1987. p.135-148. Ferreira, L.I.; Silva, G.A. & Ferro, V.O. 1996. Diagnose laboratoral dos frutos e folhas de Anacardium occidentale L. (Cajú). Revista Brasileira de Farmacognosia 1: 55-69.

Fleischer, T.C.; Ameade, E.P.K.& Sawer, I.K. 2003. Antimicrobial activity of the leaves and fl owering tops of Acanthospermum hispidum. Fitoterapia 74: 130-132.

Foo, L.Y.& Wong, H.Y. 1992. Phyllanhtusiin D, an unusual hydrolysable tannin from Phyllanthus amarus. Phytochemistry 31: 711-713.

Frasson, A.P.Z.; Bittencourt, C.F. & Heinzmann, B.M. 2003. Caracterização físico.química e biológica do caule de Caesalpinea férrea Mart. Revista Brasileira de Farmacognosia 13(1): 35-39.


Friedman, J.; Yaniv, Z.; Dafni, A. & Palewitch, D. A. A preliminary classification or the healing potential of medicinal plants based on a rational analysis of an etnopharmacological field survey among Beduins in the Negev desert, Israel. Journal of Ethnopharmacology 16: 275-287. Não foi citado

Furley, P.A. 1999. The nature and diversity of neotropical savanna vegetation with particular referene to the Brazilian cerrados. Global Ecology and Biogeography 8: 223-241.

Gadano, A.; Gurni, A. & López, P. 2002. In vitro genotoxic evaluation of the medicinal plant Chenopodium ambrosioides L. Journal of Ethnopharmacology 81: 11-6.

Gazzaneo, L.R.; Lucena R.F.P,& Albuquerque U.P. 2005. Knowledge and use of medicinal plants by local specialists in a region of Atlantic Forest in the state of Pernambuco (Northeastern Brazil). Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 1:1-8.

Hanazaki, N.; Tamashiro, J.Y.; Leitão Filho, H.F. & Begossi, A. 2000. Diversity of plant uses in two Caiçara communities from the Atlantic Forest coast, Brazil. Biodiversity and Conservation 9(5): 597615.

Hussain, R.A.; Lin, Y.; Poveta, L.J.; Bordas, E.; Chung, B.S.; Pezzuto, J.M.; Soejabto, D.D.& Kinghom, A.D. 1990. Plant-derived sweetening agents: Saccharide and polyol constituents of some sweet-tasting plants. Journal of Ethnopharmacol 28: 103-115.

Ibrahim, T.; Cunha, J.M.T.; Madi, K.; Fonseca, L.M.B.; Costa, S.S. & Koatz, V.L.G. 2002. Immunomodulatory

and

antiinflammatory

effects

of

Kalanchoe

brasiliensis.

International

Immunopharmacology 2:875-883.

Joly, C.B.; Leitão-Filho, H.F. & Silva, S.M. 1991. O patrimônio florístico. Pp. 96-128. In: Câmara, I. G., (Ed.), Mata Atlântica. SOS Mata Atlântica, São Paulo.

Kassuya, C.A.L.; Silvestre, A.A.; Rehder, V.L.G. & Calixto, J.B.

2003. Anti-allodynic and anti-

oedematogenic properties of the extract and lignans from Phyllanthus amarus in models of persistent inflammatory and neurophatic pain. European Journal of Pharmacology 478: 145-153.

Kliks, M.M. 1985. Studies on the traditional herbal anthelmintic Chenopodium ambrosioides L.: ethnopharmacological evalution and clinical fi elds trials. Social Science and Medicine 21: 879-886.


Leal, L.K.A.M; Ferreira, A.A,G.; Bezerra, G.A.; Matos, F.J.A. & Viana, G.S.B. 2000. Antinoceptive, antiinflamatory and broncodilatador activities of Brazilian medicinal plants containing coumarin: a comparative study. Journal of Ethnopharmacol 70: 151-159.

Lemonica, L.P. & Alvarenga, C.M.D.

1994. Abortive and teratogenic effect of Acanthospermum

hispidum DC. and Cajanus cajan (L.) Millps in pregnants rats. Journal of Ethnopharmacol 43: 39-44.

Londoño, P.A. 2010. Etnobotânica de plantas medicinais usadas pela comunidade indígena Pankararu, Pernambuco, Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

Lorenzi, H. & Matos, F.J.A. 2002. Plantas medicinais do Brasil: nativas e exótica cultivadas, Nova Odessa, SP : Instituto Plantarum.

Macdonald, D., Vancrey, K.; Harrison, P.; Rangachari, P.K.; Rosenfeld, J.; Warren, C. & Sorger, G, 2004. Ascaridoleless infusions of Chenopodium ambrosioides contain a nematocide(s) that is(are) not toxic to mammalian smooth muscle. Journal of Ethnopharmacol 92: 215-221.

Martin, G.L. 1995. Etnobotany: a people and plants conservation manual. London: Chapman & Hall.NY. Matos, F.J.A. 2000. Plantas medicinais – Guia de seleção e emprego de plantas usadas em fi toterapia no Nordeste do Brasil, 2 edição: Imprensa universitária da UFC, Fortaleza.

Menezes, A.M.S. & Rao, V.S. 1986. Anti-ulcerogenic activity of Astronium urundeuva. Fitoterapia 57: 55-57.

Menghini, A.; Mantilacci, G.; Pocceschi, N.& Tatani, N. C. 1996. Composition and in vitro antifungal activity of the essential oil of Hyptis suaveolens Poit. from Cameroun. EPPOS 7: 435-440.

Misra, T. N.; Singh, R. S.; Ojha, T. N. & Upadhyay, J. 1981. Chemical constituents of Hyptis suaveolens. Part I. Spectral and biological studies on a triterpene acid. Journal of Natural Products 44(6): 735-38.

MOBOT,

Missouri

Botanical

Garden,

2010.

http://www.tropicos.org/NameSearch.aspx?name=Hiptys+matiusii&commonname (acesado em 2010).


Monteiro, J. M.; Ulysses P. A.; Ernani M. F.; Araújo E. L. & Cavalcanti, E. L. 2006. Use patterns and knowledge of medicinal species among two rural communities in Brazil’s semi-arid northeastern region Journal of Ethnopharmacology 105: 173–186.

Morais, S. M.; Dantas, J. P.; da Silva, A.R. 2005. Plantas medicinais usadas pelos índios Tapeba do Ceará. Revista Brasileira de Farmacognosia 15(2): 169-177.

Myers, N., Mittermeier, R.A., Mittermeier, C.G., Fonseca, G.A.B. & Kent, J. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403:853-858.

Notka, F.; Meier, G. & Wagner, R. 2004. Concerted inhibitory activities of Phyllanthus amarus on HIV replication in vitro and ex vivo. Antivir Res 64: 93-102.

Oliveira, I.G.; Cartaxo, S.L. & Silva, M.A.P. 2007a. Plantas medicinais utilizadas na farmacopéia popular em Crato, Juazeiro e Barbalha (Ceará, Brasil) Revista Brasileira de Biociências 5(1): 189-191.

Oliveira, R.L., Lins Neto, E.M.F, Araujo, E:L: & E. Albuquerque, U.P. 2007b. Conservation priorities and population structure of Woody medicinal plants in na área of caatinga vegetation (Pernambuco State, NE Brazil). Enviromental Monitoring and Assessment 132: 189-206.

Oliveira, A.F.M.; Xavier, H.S.; Silva, N.H. & Andrade, L.H.C. 2000. Screening cromatográfico de Acanthaceae medicinais: Justicia pectoralis Jacq. e J. gendarussa Burm. Revista Brasileira de Plantas Medicinais 3(1): 37-41.

Oliveira, A.B.; Raslan, D.S.; Miraglia, M.C.M.; Mesquita, A.A.L.; Zani, C.L.; Ferreira, D.T. & Maia, J.G.S. 1990. Estrutura química e atividade biológica de naftoquinonas de Bignoniaceas brasileiras. Química Nova 13: 302-307.

Omer, M.E.F.A. & Elnima, E.I. 2003. Antimicrobial activity of Ximenia americana. Fitoterapia 74: 122126.

Peerzada, N. 1997. Chemical composition of the essential oil of Hyptis suaveolens. Molecules 2(11): 165-168.


Pereira, R.C.A.; Lima,V.C.; Silva, R.S. & Silva, S.Z. 1993. Lista das espécies arbóreas e arbustivas ocorrentes nos principais ―brejos‖ de altitude de Pernambuco, Recife. Instituto de Pesquisas Agronômicas de Pernambuco, IPA. Recife.

Posey, D.A. 1987. Manejo da floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados, Pp. 173-185, in: Ribeiro, D. (org.) Suma etnológica brasileira. Petrópolis.

Prance, G.T. 1991. What is Ethnobotany today. Journal of Ethnopharmacology 32: 209-216.

Queiroz, C.R.; Lemos, S.A. & Nascimento, E.A. 2002. Caracterização dos taninos da Aroeira-preta (Myracrodruon urundeuva) Revista Àrvore 26(4): 485-492.

Quinlan, M.B.; Quinlan, R.J. & Nolan, J.M. 2002. Ethnophysiology and herbal treatment of intestinal worms in Dominica, West Indies. Journal of Ethnopharmacol 80: 75–83.

Raphael, K.R &; Kuttan, R. 2003. Inhibition of experimental gastric lesion and infl ammation by Phyllanthus amarus extract. Journal of Ethnopharmacol 87: 193-197.

Randau, K. P.; Florêncio, D. C.; Ferreira, C. P. & Xavier, H. S. 2004. Estudo farmacognóstico de Croton rhamnifolius H.B.K. e Croton rhamnifolioides Pax & Hoffm. (Euphorbiaceae). Revista brasileira de farmacognosia 14(2): 89-96.

Rajeshkumar, N.V.; Joy, K.L.; Kuttan, R.; Ramsewak, R.S.; Nair, M.G. & Kuttam, R. 2002. Antitumour and anticarcinogenic activity of Phyllanthus amarus extract. Journal of Ethnopharmacol 81: 17-22.

Rao, K. V. R.; Rao, L. J. M. & Rao, N. S. P. 1990. An A-ring contracted triterpenoid from Hyptis suaveolens. Phytochemistry, 29(4): 1326-9.

Rocha, D. 1945. Formulário terapêutico de plantas medicinais cearenses, nativas e cultivadas. Progresso, Fortaleza.

Rodal, M.J.N., Sales, M.F. de & Mayo, S.J. 1998. Florestas serranas de Pernambuco: localização e diversidade dos remanescentes dos brejos de altitude. Imprensa Universitária. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.


Rodal, M.J.N. & Sampaio, E.V.S.B. 2002. A vegetacão do bioma caatinga. In: Sampaio, E.V.S.B., Giulietti, A.M., Virgínio, J., Gamarra-Rojas, C.F.L. (Eds.), Vegetacão e flora da caatinga. APNE, CNIP.

Rojas, A.; Hernandez, L.; Pereda-Miranda, R. & Mata, R. 1992. Screening for antimicrobial activity of crude drug extracts and pure natural products from Mexican medicinal plants. Journal of ethnopharmacology, 35(3): 275-83.

Sales, M.F.; Mayo, S.J.; Rodal, M.J.N. 1998. Plantas vasculares das florestas serranas de Pernambuco. - Um checklist da flora ameaçada dos brejos de altitude. Imprensa Universitária. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.

Mitchell, C.W. 1916. Influence of oil of Chenopodium on intestinal contractility. American Jounal of Physics 39: 37–52.

Silva, V.A. 2003. Etnobotânica Fulni-ô: uso, manejo e significado cultural de plantas da caatinga. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

Silva, V. A. & Andrade, L. H. C. 1998. Etnobotânica Xucuru: plantas medicinais. Revista Brasileira de Farmácia 79: 33-36.

Silva, V. A. & Andrade, L. H. C. 2004. O significado cultural das espécies botânicas entre indígenas de Pernambuco: o caso Xucuru. Biotemas 17:.79-94.

Silva, V. A.; Andrade, L. H. C. & Albuquerque, U. P. 2005. Variação intracultural no conhecimento sobre plantas: o caso dos índios Fulni-ô. v. 1, p. 237-262. In: U P. de Albuquerque; C. F. C. B. R. Almeida & J F. A. Marins. (Orgs.). Tópicos em conservação, etnobotânica e etnofarmacologia de plantas medicinais e mágicas. 1 ed. Recife: Livro Rápido.

Silva, V. A.; Andrade, L. H. C. & Albuquerque, U. P. 2006. Revising the Cultural Significance Index: The Case of the Fulni-ô in Northeastern Brazil. Field Methods 18(1): 98-108.

Socioambiental.

2005.

Instituto

Socioambiental

(ISA)

http://pib.socioambiental.org/pt/povo/pankararu (acesso em 13/10/2009).

Disponível

em:


Di Stasi, L.C., Oliveira, G.P., Carvalhaes, M:A:, Queiroz-Junior, M., Tien, O.R., Kakinami, S. H. & Reis, M.S. 2002. Medicinal plants popularly used in the Brazilian Tropical Atlantic Forest. Fitoterapia 73:69-91.

Stoffle, R. W.; Evans, M. J. & Olmsted, J. 1990. Calculating the cultural significance of american indian plants: Paiute and Shoshone etnobotany at Yucca mountain, Nevada. American Antropologist 92: 416432.

Summerfield, A.; Keil, G.M.; Mettenleiter, T.C.; Rziha, H.J. & Saalmüller, A. 1997. Antiviral activity of an extract from leaves of the tropical plant Acanthospermum hispidum. Antiviral Research 36: 55-62.

Tabarelli, M., Santos, A.M.M. Uma breve descrição sobre a história natural dos brejos Nordestinos. Pp.17 -24, 2004. In: Pôrto, C.K., Cabral, J.J.P., Tabarelli, M. (orgs). Brejos de Altitude em Pernambuco e Paraiba: Historia Natural, ecologia e conservação. Brasília. Ministério do Meio Ambiente. Turner, N. J. 1988. ―The importance of a rose‖: evaluating the cultural significance of plants in Thompson and Lillooet interior Salish. American Antropologist 90: 272-290.

Viana, G.S.B.; Bandeira, M.A.M.; Moura, L.C.; Souza-Filho, M.V.P.; Matos, F.J.A. & Ribeiro, R.A. 1997. Analgesic and antiinflammatory effects of the tannin fraction from Myracrodruon urundeuva Fr. All. Phytother Res 11: 118-122.

Viana, G.S.B.; Bandeira, M.A.M.& Matos, F.J.A. 2003. Analgesic and antiinflammatory effects of chalcones isolated from Myracrodruon urundeuva Allemão. Phytomedicine 10: 189-195.

Voeks, R.A 2007. Are women reservoirs of traditional knowledge? Gender, ethnobotany and globalization in northeastern Brasil. Singapore Journal Tropical Geography 28(1): 7-20.


Tabela 2. Relação dos estudos fitoquímicos, farmacológicos e toxicológicos para espécies de importância etnobotânica para as tribos Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Araribóia, região nordeste do Brasil.

Família / Espécie

Etnobotânica e Farmacologia em Povos Indígenas Nordestinos, caso Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Araribóia, Brasil Indicação tradicional Compostos químicos Atividade biológica comprovada Toxicidade estabelecida

Tribo indígena

Acanthaceae Justicia pectoralis Jacq.

hipertensão; outros autores indicaram para o tratamento do aparelho respiratório (Rocha, 1945; Braga, 1976; Correa, 1984).

cumarinas, flavonóides, saponinas doenças do aparelho respiratório, e taninos, sendo sua atividade antiinflamatória e borncodilatadora antiinflamatória e bronco (Leal et al., 2000). dilatadora demonstrada experimentalmente (Oliveira et al. 2000, Leal et al., 2000).

Pankararu, Tabeba.

reumatismo

saponina esteroidal sem efeitos inibição na permeabilidade capilar hemolíticos in vitro (Antunes et al., (Antunes et al., 2003). 2003).

Tabeba.

Agavaceae Sansevieria cylindrica Bojer

Anacardiaceae Anacardium occidentale L.

gastrite; azia, garganta inflamada, nas cascas da arvore tem tuberculose, problemas renais, flavonóides, saponinas, comp. antiinflamatório feminino, diabetes. fenólicos, óleo essencial, polissacarídeos. O pericarpo contém cardol e acido anacárdico com provável ação farmacológica ao nível de sistema nervoso central. No pedúnculo tem taninos, antocianinas, flavonóides, flavonóis, flavovononas, flavonóis, xantonas e triterpenóides. Teores de fenóis totais e proantocianidinas. (Ferreira et al., 2006, Queiros et al., 2002)

o liquido do caju foi comprovado tóxico em animais. como anti-septico, vermicida, , moluscida, para lepra, aczema, psoriase, filariose (Lorenzi & Matos, 2002).

Pankararu e Fulni-ô, Tabeba.


Myracrodruon urundeuva Allemao

antiinflamatório (geral e de uso feminino), dor de coluna, tosse, gripe, depurativo pós parto, asma, ferida, azia, para desinflamar garganta, dor de dente, corrimento, gastrite, tuberculose, anemia, câncer, analgésico. cicatrizante de feridas.

taninos (Viana et al., 1997), chalconas diméricas (Viana et al., 2003; Bandeira et al. 1994); cicloeucalenol e cicloeucalenona (Dantas, 2003). Foram isolados ainda compostos mais apolares como cicloeucalenol e cicloeucalenona a partir do extrato hexânico da entrecasca. (Dantas, 2003). compostos fenólicos (polifenois, fenóis totais, proantocianidinas), óleos essenciais e taninos do tipo profisetidinas nas cascas (Myiake & Akisue 2002, Queiroz et al. 2002; Almeida et al. 2004).

problemas dermatológicos e ginecológicos, antiinflamatório, antiulcerogénica, cicatriante, (Matos 2000); cicatrizante (Viana et al. 1995; antiinflamatória e antiulcerogênica (Menezes & Rao, 1986) chalconas diméricas antiinflamatórias (Viana et al., 2003; Bandeira et al., 1994) e taninos com ação analgésica e antiinflamatória (Viana et al., 1997). Atividade antioxidante (Dantas, 2003).

Spondias monbim Jacq.

Anemia

elagitaninos, geraniina e galoilgeraniina, com atividade antivirótica (Corthout et al., 1981); steres do ácido caféico ativos (Corthout et al., 1992)

atividade contra o vírus Coxsakii B e Herpes Simplex I (aftas dolorosas e herpes labial) (Corthout et al., 1981).

Planta tóxica, abortiva, contra Pankararu e indicado para mulheres grávidas e Fulni-ô, menstruadas (Sanguinetti 1989; Tabeba. Dantas, 2003). Baixo nível de toxicidade em ratos por via oral, exceto em ratas prenhas quando administrado durante longo tempo (Lorenzi & Matos, 2002).

Tabeba.

Aristolochiaceae Aristolochia brasiliensis Mart. & Zucc.

Diterpenos, e sesquiterpenos nas dor de cabeça, antiinflamatório, folhas de A. cymbifera Mart. & analgésico (dor de estômago), Zucc.; flavonoides no talo de A. regula o ciclo menstrual, cólica ridicula K. menstrual, dismenorreia, cicatrizante, depurativa e cicatrizante no puerperio, cuida o resguardo, dona do corpo, doença cultural, limpeza energética.

Asteraceae Acanthospermum hispidum DC.

Bignoniaceae

Gripe

terpeniodes e polifenóis (Hussain doenças infecciosas, antiviral, ação abortiva e teratogênica Pankrararu, et al. 1990). antimicrobiana, abortiva e (Lemonica & Alvarenga, 1994). Tabeba. teratogênica bronco dilatadora, hipotensora e antifúngica. Possível atividade antiviral contra o vírus da herpes (Summerfield et al. (1997); atividade antimicrobiana das folhas (Fleischer et al., 2003).


Tabebuia serratifolia Nicholson

(Vahl)

G. cáncer

lapachol (Matos, 2000).

forte atividade antimicrobiana, antialérgica, cicatrizante e antitumoral (Oliveira et al., 1990). Atividade antiinflamatória verificada experimentalmente (Almeida et al., 1990).

Tabeba.

Comprovada sua atividade estomáquica, tonificante do aparelho gastrointestinal, antidiarréica, antifebril, para palpitações do coração, crise de asma, coqueluche e gripe (Lorenzi & Matos, 2002).

Tabeba.

faringite e bronquite.

Outra espécie do gênero, C. Suas ações diurética e antiglaziovii Sneth., encontrada no hipertensiva foram demonstradas Centro-sul do Brasil, apresenta a experimentalmente (Matos, 2000). iso-vitexina, componente isolado da fração do extrato dotado de ação anti-hipertensiva (Matos, 2000).

Tabeba.

pancada, rins, fígado, asma, câncer, inflamação, anemia, afinar o sangue, garganta inflamada, distúrbio menstrual, coração.

maiteinina, alcalóide sesquiterpeno, triterpenóide, (Dantas, 2002), tanino pirogálico, fenóis, flavonóis, flavona, xantona, chacona, aurona, saponina, alcalóide, albumina e glicose (Dantas, 2002).

Bixaceae Bixa orellana L.

tosse, faringite, bronquite. proteção contém na semente: all-Econtra insetos e queimaduras, geranilgeraniol, monoterpenos e corante. sesquiterpenos oxigenados, carotenóides bixina e norbixina, e alfa e beta caroteno (Lorenzi & Matos, 2002).

Cecropiaceae Cecropia pachystachya Trec.

Celastraceae Maytenus rigida Mart.

Chenopodiaceae

Ações tóxicas: não deve ser usada Pankararu e durante a gravidez e amamentação Fulni-ô. (Almeida, 1993).


Chenopodium ambrosioides anthelminticum (L) A. Gray

var. pneumonia, fratura; também usada óleo de quenopódio, no tratamento de vermes do (Morais et al. 2005). intestino (Quinlan et al., 2002). No Nordeste do Brasil as folhas do mastruz são batidas no liquidificador com leite para tratamentos de gripe.

ascaridol anti-helmintico al.2002).

(Quinlan

et toxicidade comprovada (Paget, Pankararu, 1926); (Macdonald et al., 2004); o Tabeba. óleo provoca uma depressão da circulação, respiração e movimentos intestinais (Salant & Mitchell 1916). Aumento do número de aberrações cromossômicas e na freqüência de alterações de cromátides irmãs Gadano et al.(2002) não sendo encontrado na literatura científica relato de casos de severos envenenamentos ou mortes a partir da infusão aquosa de C. ambrosioides (Kliks, 1985).

Crassulaceae Kalanchoe brasiliensis Cambess.

tratamento de tumor; furúnculos, esteróis (Akihisa et al., 1991) inflamações ovaricas e uterinas,tose.

tratamento de furúnculos, inflamações ovaricas e uterinas, tosse, inmunomoduladora, antiinflamatória, leishmanicida. sendo comprovada sua atividade imunomoduladora, antiinflamatória (Ibrahim et al., 2002), além de uma ação leishimanicida potencialmente útil contra Leishmaniose cutânea (Lorenzi & Matos, 2002).

Pankararu, Tabeba.

Euphorbiaceae Phyllanthus Thonn.

atividade biológica inibitória da toxicidade em altas doses devido a Pankararu, replicação do HIV (Notka et al., presença dos alcalóides Tabeba. 2004), anti-alodinica, anti- pirrolizidínicos (Matos, 2000). endematogênnica (Kassuya et al., 2003), inibição de lesão gástrica e inflamação (Raphael & Kuttan, 2003), antitumoral e anticarcinogênica (Rajeshkumar et al., 2002). Croton rhaminifolius Bomplan & dor de estomago, regula o ciclo presença predominante de Pankararu e Kunth. menstrual, dor de coluna, anemia, alcalóides, terpenóides, polifenóis e Fulni-ô afina o sangue, colesterol, oses redutoras, proantocianidinas desintoxicante. condensadas e leucoantocianidinas foram indicadas pela primeira vez por Randau et al (2004). Lamiaceae

amarus

Schum.

Et cálculo renal.

lignanas (Kassuya et al., 2003), lignanas e alcalóides pirrolizidínicos; taninos hidrolisáveis (Foo & Wong, 1992).


Hyptis mutabilis Briq.

freqüentemente usado para gastrite, catarro, tosse, dor de cabeça, para cicatrizar feridas, como depurativo pós parto e inflamação uterina.

Hyptis suaveolens (L) Poit.

má digestão

sesquiterpenos; (Azevedo et al., 2002); constituintes triterpênicos nas folhas, cineol no óleo essencial (Rao & Rao et al., 1990).

Ocimum gratissimum L.

coceira na pele, catarro e gripe do recém nascido (Silva 2003) em mistura com eucalipto é usado para assepsia (Morais et al. 2005)

óleo essencial eugenol, cineol, metil-eugenol, γ-selineno, chavicol, nerol, timol, trans-cariofi leno, terpineno, canfeno, carvacrol, α e β-pineno (Matos et al., 2001).

Plectranthus Spreng.

amboinicus

Leg. Caeasalpinoideae

(Lour.) gripe, constipação, pneumonia, compostos aromáticos e tosse, regula o ciclo menstrual. oxigenados, carvacrol ((Roig 1974); flavonoides como: a apigenina, crysoeriol, cirsimarítina, criodictyol, luteolina querectina, salvigenina, taxifolina (Bricskorn 1979, Garcia 1996).

Atividade antiulcerogênica (Barbosa & Barbosa, 1992). Efeito teratogênico do extrato aquoso (EA) das folhas de Hyptis pectinata sobre o sistema nervoso central de roedores (Silva et.al. 2006, Bueno et al. 2006). atividade antigripal comprovada. Raízes possuem propriedades estomáquicas (Misra et al., 1981). Extrato benzênico das raízes inibiu o crescimento do fungo Helminthosporium orizae (Misra et al., 1981). Agente anti-infeccioso (Rojas et al., 1992) Extrato metanólico: atividade antimicrobiana frente a bactérias Grampositivas e Gram-negativas e atividade antifúngica contra Candida albicans (Rojas et al., 1992). Atividade antimicrobiana das folhas (Menghini et al., 1996). Atividades carcinogênica, antifertilidade, micotóxica, fitotóxica e inseticida (Peerzada, 1997). anti-gripal em crianças (Matos, 2000); atividade relaxante sobre o músculo liso do intestino e a ação fungicida contra quatro espécies do gênero Candida; atividade antihelmíntica (Lorenzi & Matos, 2002). efeito antitóxico do extrato aquoso e etanolico; atividade antimicrobiana do carvacrol; propriedades antiepilépticas do decocto das folhas; efeito antiepiléptico e antioxidante; ação antibacteriana, antioxidante; antimicrobiano, bacteriolítica (MLorenzi & Matos, 2002).

Pankararu e Fulni-ô

Tabeba.

Pankararu e Fulni-ô, Tabeba.

diversos estudios toxicológicos Pankararu e agudos realizados ao extrato Fulni-ô, aquoso liofilizado e etanolico do Tabeba. "orégano francês" demonstram que este é praticamente não tóxico por via oral (Rodriguez, 1995; Vizoso et al., 1996, Bhakuni, 1969; Tillan 1991).


Caesalpinia ferrea Mart. anemia, derrame (AVC), debilidade, tumor, tranqüilizante, próstata, gripe, tosse, pneumonia, bronquite, dor nos pulmões, asma, doença nos rins, emenagoga, abortiva, doença cultural.

determinação dos taninos e atividade antiinflamatória e a baixa toxicidade permite seu uso Pankararu e caracterização do extrato etanólico analgésica significativa (Lorenzi & com certa segurança (Lorenzi & Fulni-ô; bruto (Frasson et al. 2003, Matos, 2002). Matos, 2002). Tabeba. Gonzalez, Fabiana & Gaspar, 2005).

Hymenaea sp. derrame (AVC), sangue grossa, diabetes, bronquite, tosse, gripe, pneumonia, regula o ciclo menstrual, resguardo quebrado, cicatrizante, anemia, antiinflamatória, doença cultural. Leg. Cercideae Bauhinia ugulata L.

outra espécie do genero, Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. é usada pelos Fulni-ô para garganta inflamada, gripe, rouquidão, enxaqueca e diabetes.

presença de insulina nos atividade hipoglicemiante cloroplastos das células foliares comprovada (Lorenzi & Matos, (Lorenzi; Matos, 2002); óleo rico 2002). em all-E-geranilgeraniol, monoterpenos e sesquiterpenos oxigenados, além dos carotenóides bixina e norbixina responsáveis pela sua cor e alfa e beta-caroteno (Lorenzi & Matos, 2002). glicosídeos, triterpenos, lactonas e flavonóides (Silva et al. 2002).

Tabeba.

Leg. Papilonoideae Amburana cearensis (Arr. Câm.) A. diarréia, gripe, depurativa pós-parto, C. dor de dente, anti-inflamatório, dor de cabeça, cólica menstrual, febre, cólica, catarro, intestino.

cumarina e glicosídeos fenólicos (Bravo et al., 1999). óleo fixo constituído principalmente de glicerídeo dos ácidos: palmítico (18,6%), linoléico (7,1%), oléico (53,1%), esteárico (8,0%) e 4% de cumarina com um pouco de 6-hidroxicumarina. Nas cascas foram encontrados, cumarina, isocampferídio e traços de outros flavonóides, enquanto na madeira foram determinados a cumarina, 3,4-dimetoxicinamato de metila, ácido vanílico, afrormosina, 8-0metilretusina, 2,4metilenocicloartenol e betasistoterol (Lorenzi & Matos, 2002).

broncodidlatadora, antimalárico, antiprotozoária, antifúngica e antibacteriana in vitro (Bravo et al. 1999). Antiinflamatória, analgésica, possivel accao antittrombótica, antiespasmódica, broncodilatadora. contém também uma proteína capaz de inativar a tripisina e o fator de coagulação XII (Lorenzi & Matos 2002).

devido á alta toxicidade dos Pankararu, derivados da cumarina como o Fulni-ô, dicumarol deve-se evitar o uso em Tabeba. pessoas com antecedentes hemorrágicos e o uso concomitante com outros medicamentos. Usados em grandes doses, paralisam o coração e deprimem o centro respiratório, não deve ser administrado em pessoas com problemas cardíacos Figueiredo 2005). baixa toxicidade por via oral (Lorenzi & Matos, 2002).


Cajanus cajan (L.) Millsp.

inflamação.

elementos ativos como ureases, citisina, carbohidratos, proteinas, sais minerais e vitaminas.

ação abortiva e teratogênica Pankararu e (Lemonica; Alvarenga,1994). Fulni-ô, Tabeba.

fenóis, taninos, triterpenos e quinones (Almeida et.al. 2004) alcaloide indólico óxido de N,Ndimetiltriptamina, esteróides, falvonóides, triterpenoides, fenois (Lorenzi & Matos, 2002).

Pankararu e Fulni-ô

Leg. Mimosoideae Anadenanthera colubrina (Benth.) gripe, afina o sangue. Brenan

Liliaceae Aloe vera L.

azia, estomago

antraquinonas como aloenina, ação cicatrizante, antibacteriana, barbaloína e isobarbaloína; antifúngica e antivirótica (Kuzuya glicoproteínas e polissacarídeos et al., 2001; Steinert et al., 1996). (Reynolds; Dweck, 1999).(Kuzuya et al.,2001; Steinert et al.,1996).

fadiga pulmonar

3-O-xilosil-quercetina, glicosil-quercetina e epigalocatequina (Shui; 2004).

ação nefrotóxica em doses altas, Pankararu não deve ser usada como Fulni-ô, lambedor, pois nessa preparação o Tabeba. teor de seu princípio predominante é aumentado e pode causar severa crise de nefrite aguda (Matos, 2000).

Malvaceae Hibiscus esculentus L.

3-O- O extrato aquoso-etanólico do fruto (-)- apresenta atividade antioxidante Peng, (Shui; Peng, 2004), efeito antiulcerogênico do extrato aquoso (Gürbüz et al., 2003).

Tabeba.

Nyctaginaceae Guapira laxa L.

Boerhavia hirsuta Willd.

Olacaceae

Pankararu . sangue fraco, adstringente, depurativo, dilatação no parto, libera a placenta, emenagoga (abortiva), menorragia por aborto, resguardo quebrado (dona do corpo), antiinflamatório. Os indígenas Tapebas usam junto hexânico e etanólico. com delegado para a gripe. As folhas por infusão são usadas para doenças do fígado, do baço, dos rins, inflamação e febre (Coelho; da Silva 2004).

doenças do fígado, do baço, dos rins, inflamação, febre e leve antimalárica (Coelho; da Silva), Extratos hexânico e etanólico desta planta revelaram uma fraca atividade antimalárica ( Krettli et al. 2001).

Pankararu, Tabeba.

,


Ximenia americana L.

mistura com aroeira para uso como carboidratos, na forma de açúcares cicatrizante de feridas, com cajueiro e amido solúvel; saponinas, é usado para gastrite glicosídeos cardiotônicos, antraquinonas, flavonóides e taninos (Ogunleye & Ibitoye 2003); óleo volátil 69% de compostos aromáticos, 12,5% de compostos lipídicos e 13% de terpenos (Mevy et al. 2006). O constituinte encontrado em maior quantidade foi o benzaldeído (63,5%), seguido pelo cianeto de benzila (13%) e isoforona (3,5%). Taninos nas cascas ainda não identificados quimicamente (Matos, 2007).

atividade fungicida comprovada experimentalmente (Omer; Elnima, 2003). Atividade moluscicida significativa (Uchoa et al. 2006). Atividade antimicrobiana do extratos aquoso metanólico (James et al. 2007). Atividade antimicrobiana do extrato das folhas contra Escherischia coli, Pseudomonas aeruginosa e Candida albicans (Matos, 2007) e contra Enterococcus faecalis e Streptococcus pyogenes (Koné, 2004).

quando ingerido em dose elevada Pankararu, provoca a seguinte sintomatologia: Tabeba. náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréia, dificuldade de respirar, fraqueza muscular, vertigem, entorpecimento, convulsões e morte (Matos 1987, Dantas, 2002).

dor de dente

naftoquinona plumbagina (Paiva et atividade anticâncer, leishmanicida al, 2004) e bactericida, seu compostos químicos tem ação efetiva contra insetos (Paiva et al.,2004).

Pankararu, Tabeba.

má digestão

óleo essencial (Matos, 2000) e antiespasmódica, calmante, mirceno, responsável pela sua ação analgésica; pobre atividade analgésica (Lorenzetti et al., 1991). analgésica e grande efeito antibacteriano. Usado contra filaria, é antifúngico, antiinflamatório e antiespasmódico.

Pankararu, Fulni-ô, Tabeba.

Inflamação na garganta

alcaloides, taninos gálicos, óleo atividade anti-helmíntica fixo, ácido punícico (Lorenzi & comprovada (Amorim et al. 1995). Matos, 2002). Os extratos do pericarpo apresentaram atividade contra bactérias patogenicas, inhibicao do crescimento de tumores experimentais, taninos ativos contra o virus HVS-2 do herpes genital (Lorenzi & Matos, 2002).

não induziu alterações em células Pankararu, da medula óssea do fêmur de Fulni-ô, animais tratados. Letalidade aguda Tabeba. com administração oral de 4 g/kg de extrato desta planta (Amorim et al. 1995). Em altas concentracoes os alcaloides atingem o sistema nervoso central, pode produzir paralise dos nervos motores e morte por parada respirratoria (Lorenzi & Matos, 2002).

Plumbaginácea Plumbago scandens L.

Poaceae Cymbopogon citratus (DC) Stapf.

Punicaceae Punica granatum L.

Rhamnaceae


Zizyphus joazeiro Mart.

caspa, gripe, ferida, asma, Fenois, Taninos, Triterpenos actividade significativa antifúngica apresentou baixa toxicidade aguda Pankararu, constipação, garganta inflamada, (Almeida et al. 2005). contra Trichophyton rubrum, em modelos murinos (Cruz et al. Fulni-ô. coceira na cabeça, sarna, tosse. Candida guilliermondii, Candida 2007). albicans, Cryptococcus neoformans e Fonsecaea pedrosoi (Cruz et al. 2007).

Sapotaceae Syderoxylon obtusifolium (Roem. & antibiótico, antiinflamatório, Fenois, Taninos, Triterpenos, Schult.) T.D.Penn. desinfetante, gripe, tosse, febre, Quinones (Almeida et al. 2005). regula hemorragia na menstruação, analgésico, pancada, anemia.

Pankararu e Fulni-ô

Violaceae Hybanthus ipecacuanha (L) Baill.

tosse

cumarina, taninos e flavonoides atividade antinociceptiva, (Leal et al., 2000). antiinflamatória e bronco dilatadora doenças do aparelho respiratório (Leal et al., 2000).

Tabeba.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Distribuição dos biomas nas comunidades de estudo: A, caatinga, B, cerrado e C, mata atlântica, no nordeste do Brasil. Fontes: A, http://www.biosferadacaatinga.org.br/imagens/mapa_limite_bioma.gif; B,

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/cerrado/imagens/cerrado25.jpg

e

C,

http://elparanaense.com.ar/img2008/mataatlanticamapa.gif. Figura 2. Localização das tribos indígenas estudadas nos estados do Maranhão, Ceará e Pernambuco, Fonte: http://maps.google.es/

Figura 3. Dendrograma de similaridade na riqueza da flora medicinal segundo o indice de Jaccard entre as tribos indígenas Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Arariboia. Similarity=similaridade

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Espécies de uso medicinal citadas nas comunidades Pankararu, Fulni-ô, Xucuru, Tapeba e Araribóia, nos estados de Pernambuco, Ceará e Maranhão, região nordeste do Brasil. Autores referidos: 1. Londoño 2010, 2. Silva 2003, 3. Silva & Andrade 1998, 4. Morais et al. 2005, 5. Coutinho et al. 2002; status: A: ameaçada; PC: prioridade de conservação.

Tabela 2. Relação dos estudos fitoquímicos, farmacológicos e toxicológicos para espécies de importância etnobotânica para as tribos Fulni-ô, Xucuru, Tapebas e Araribóia, região nordeste do Brasil.


CAPITULO 4

Avaliação preliminar da citotoxicidade e genotoxicidade de plantas medicinais usadas pelos índios Pankararu, Pernambuco, Brasil

A ser submetido à revista Jornal of Ethnopharmacology


NOTA CIENTIFICA Avaliação preliminar da citotoxicidade e genotoxicidade de plantas medicinais usadas pelos índios Pankararu, Pernambuco, Brasil Paola Andrea Londoño Castañeda1* e Iêda Ferreira de Oliveira3 1. Programa de Pós- Graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco. 2.Laboratório de Citogenetica, Universidade Federal Rural de Pernambuco. * Rua Prof. Nelson Chaves, s/n, Cidade Universitária - Recife – PE, Brasil. CEP: 50.670-901 E-mail: paolalondonocastaneda@gmail.com Resumo (Avaliação preliminar da atividade genotóxica e mutagênica de plantas medicinais usadas pelos índios Pankararu, Pernambuco Brasil). Análises de genotoxicidade e potencial mutagênico de quatro espécies de uso medicinal na comunidade indígena Pankararu foram realizadas através do teste Allium cepa L. Os resultados obtidos evidenciam a inibição do tecido meristemático da raiz da cebola quando submetidas ao decocto de Myracrodruon urundeuva Allemão, assim como decréscimo no índice mitótico e anomalias na divisão celular sob a influência dos extratos da casca do tronco do cajueiro (Anacardium occidentale L.), folhas de sambacaitá (Hyptis mutabilis Briq.) e casca do tronco da quixabeira Syderoxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T.D. Penn. As quatro plantas medicinais são de uso corrente entre os Pankararu mas podem ocasionar alterações na divisão celular. Estudos testando diferentes concentrações dos extratos devem ser realizados para aprofundar no conhecimento do potencial toxicológico destas plantas. Palavras chave: plantas tóxicas, contraindicações, teste Allium cepa, micronúcleos, aberrações. Abstract (Preliminary assessment of genotoxic and mutagenic activities of medicinal plants used by Pankararu Indians, Pernambuco, Brazil). Analyses of genotoxic and mutagenic potential for four species of medicinal use in the Pankararu indigenous community were performed using the Allium cepa L. test. Results showed inhibition of onion’s root meristematic tissue when subjected to the decoction of Myracrodruon urundeuva Allemao, as well as decrease in mitotic index and abnormalities in cell division under the influence of cashew extracts (Anacardium occidentale L.), sambacaitá (Hyptis mutabilis Briq.) and quixabeira Syderoxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) TD Penn. It is concluded that medicinal plants in current use among Pankararu can alter cell division in vitro; therefore, in vivo studies with various extract concentrations should be conducted to deepen the knowledge about the toxicological potential of medicinal plants. Keywords: toxic plants, contraindications, Allium cepa test, micronuclei, aberrations. 1. Programa de Pós- graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Botânica, Universidade Federal de Pernambuco. 2. Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. * Rua Prof. Nelson Chaves, s/n, Cidade Universitária CEP: 50.670-901 - Recife – PE.


1. Introdução O uso de plantas medicinais para o cuidado da saúde é tão antigo quanto a espécie humana e o desenvolvimento deste saber aconteceu de forma empírica, por meio de tentativas, acertos e erros até constituir as espécies úteis as hoje conhecidas pela ciência. A etnobotânica é a ciência que se encarrega de estudar e documentar as inter-relações entre seres humanos e plantas (Ford, 1978). As pesquisas etnodirigidas através dos estudos farmacológicos, fitoquímicos e toxicológicos fornecem as ferramentas para a identificação de plantas úteis com potencial econômico e a preservação dos conhecimentos tradicionais sobre plantas nativas, com o propósito de avaliar sua eficácia e segurança (Di-Stasi, 1996). Nas últimas décadas, é notável o incremento na utilização de plantas medicinais e seus extratos naturais no desenvolvimento da indústria farmacêutica nos países do primeiro mundo (O’Neil e Lewis, 1993; Kingston, 1996; Harvey, 2000) assim como para o desenvolvimento de fitoterápicos (Schenkel et al., 2001). No entanto, ma maioria dos casos as espécies mais amplamente referidas em estudos sobre o uso medicinal dos recursos vegetais não contam com estudos científicos químico, farmacológico e da toxicidade suficientes que garantam seu uso seguro (Morais et al., 2005). Morais et al. (2005), Lorenzi e Matos (2002), Albuquerque et.al. (2007) e Londoño (2010) exemplificam como espécies com toxicidade estabelecida são usadas na medicina tradicional e inclusive comercializadas nos mercados populares no nordeste brasileiro. Neste contexto, no Brasil, foi estabelecida em 1995 uma legislação para a área de fitoterápicos (Portaria 6/SVS de 31/1/1995), que define o fitoterápico como um medicamento com componentes ativos exclusivamente de origem vegetal, o qual precisa da comprovação da sua eficácia, assim como da segurança e qualidade; também determinou prazos para a realização de estudos de eficácia e toxicidade dos produtos já comercializados. De maneira complementar no Ministério da Saúde e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), foi estabelecida uma divisão direcionada para a regulação no desenvolvimento de fitoterápicos, com o intuito de melhorar a qualidade dos produtos comercializados. O teste que utiliza as raízes de Allium cepa L. para avaliar o efeito mutagênico de extratos vegetais baseado nas alterações cromossômicas foi validado pelo Programa Internacional de Segurança Química (IPCS, OMS) e pelo programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) como um teste eficiente de análise e monitoramento in situ da genotoxicidade de substâncias ambientais (Menke et al., 2001). Plantas superiores são reconhecidas como excelentes modelos genéticos para detecção de agentes mutagênicos ambientais e são frequentemente usados em estudos de monitoramento (Sharma e Panneerselvan, 1990); entre as espécies de plantas, Allium cepa tem sido usada na avaliação de danos ao DNA, tais como aberrações cromossômicas e distúrbios no ciclo mitótico (Grant, 1982; Fiskesjö, 1985). O ensaio com A. cepa é de baixo custo e de fácil e rápida execução. Aberrações cromossômicas têm sido um dos


parâmetros mais usados para detectar genotoxicidade, enquanto o índice mitótico e algumas anormalidades nucleares são usados para avaliar a citotoxicidade e a análise de micronúcleos verifica a mutagenicidade (Fiskesjö, 1985). Frente a este panorama, este estudo objetivou investigar o potencial mutagênico e citotóxico de plantas importantes na medicina tradicional na região nordeste do Brasil por meio do teste Allium cepa, contribuindo para o conhecimento sobre o potencial toxicológico dos recursos fitoterápicos.

Materiais e métodos A tribo Pankararu habita a região semi-árida do Estado de Pernambuco, no vale do Rio São Francisco, entre os municípios Jatobá, Tacaratu e Petrolândia. O ecossistema caatinga predomina na área de estudo, caracterizado por vegetação caducifólia espinhosa e árvores que perdem suas folhas na época seca (Rodal et al., 1992). As espécies-alvo deste estudo foram selecionadas com base em informações etnobotânicas obtidas através de entrevistas semi-estruturadas, uso de formulários padronizados e reuniões focais junto a 46 especialistas da medicina tradicional da tribo Pankararu. Foram abordados aspectos etnobotânicos sobre a flora de uso medicinal, indicações terapêuticas, técnicas de preparo, uso, dosagem, assim como percepção tradicional sobre restrições de uso e efeitos tóxicos das plantas medicinais. Do ponto de vista etnobotânico, as espécies Myracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. All.; Anacardium occidentale L.; Hyptis mutabilis Briq. e Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn. apresentam notável importância entre as comunidades tradicionais na região nordeste do Brasil (Lorenzi e Matos 2002; Gazzaneo et al., 2005; Albuquerque et al., 2006 e Londoño, 2010) e foram apontadas como plantas tóxicas pelos especialistas Pankararu. Para a realização deste estudo foram obtidas as respectivas permissões emitidas pela FUNAI e Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGEN, Ministério do Meio Ambiente. Amostras de ramos floridos das quatro espécies foram coletadas, identificadas e incluídas nos herbários Geraldo Mariz (UFP), da Universidade Federal de Pernambuco e Dárdano de Andrade-Lima (IPA), do Instituto Agronômico de Pernambuco. Partes da casca seca do tronco de M. urundeuva, A. occidentale, S. obtusifolium e folhas frescas de H. mutabilis foram coletadas das áreas de vegetação natural nas aldeias Pankararu, durante o mês de março de 2010 (Fig. Anexo 1). Posteriormente, foram preparadas infusões segundo as indicações dadas pelos especialistas da tribo, cujas concentrações correspondem a dose individual indicada para um adulto: M. urundeuva = 240 mg/ml; A. occidentale = 20 mg/ml; H. mutabilis 16 mg/ml e S. obtusifolium = 16 mg/ml. Adicionalmente, infusões de concentração duas e quatro vezes superior foram igualmente preparadas como parte dos tratamentos. A influência dos extratos aquosos das plantas selecionadas sobre o meristema das raízes de cebola foi avaliada pelo teste A. cepa L. (Fiskesjo, 1985) com modificações (Akintonwa et al., 2009). As cebolas foram colocadas em um frasco plástico contendo água destilada, de modo que apenas sua base ficasse em contato com o líquido, mantidas em temperatura ambiente (TA) e protegidas da incidência


solar direta. Após 48 horas, a água foi substituída pelas respectivas soluções de tratamento e as raízes foram deixadas crescer por mais 24h. Após esse período, as raízes de cada cebola com mais de 10 mm foram coletadas pela base, fixadas em solução de etanol:ácido acético (3:1) e acondicionadas sob refrigeração. Controles negativo (água destilada) e positivo (dicromato de potássio, 1,75 mg/l) foram preparados simultaneamente com os extratos vegetais. Três réplicas (bulbos de cebolas) foram realizadas para cada tratamento e três raízes de cada cebola foram observadas ao microscópio. Todas as raízes de cada amostra foram coletadas e hidrolisadas em solução de ácido clorídrico 5N durante 30 minutos em TA. A análise microscópica foi realizada em três raízes para cada tratamento. Segundo o procedimento proposto por Guerra e Souza (2002) com modificações, o meristema foi isolado, macerado e corado com solução de orceína acética 1% por três minutos, após o esmagamento entre lâmina e lamínula, o material foi analisado ao microscópio óptico. Aproximadamente 1.000 células do meristema apical foram observadas por lâmina para determinar o índice mitótico e verificar a presença/ausência de aberrações ou anormalidades na divisão celular. O índice mitótico foi considerado como o número de células em divisão, multiplicado por 1.000, dividido pelo total de células analisadas. Para avaliar os efeitos dos extratos vegetais no crescimento das raízes foram observadas características macroscópicas como comprimento, cor e textura; foram calculados os valores da média e desvio-padrão para os comprimentos maiores que 10 ml. e a presença de aberrações cromossômicas como: micronúcleos, células bi-nucleadas, cromossomos ou fragmentos de cromossomos livres, c-mitose, anáfase multipolar e pontes anafásicas e telofásicas, também foram quantificadas e fotografadas em câmera Sony.

Resultados Na tabela 1 observa-se variações no comprimento das raízes quando submetidas ás diferentes concentrações dos extratos vegetais; todas as espécies analisadas induziram a diminuição do crescimento radicular, principalmente com o aumento das concentrações dos extratos. Em relação ao controle negativo, as raízes submetidas aos extratos de A. occidentale e M. urundeuva apresentaram valores mínimos na concentração mais elevada (80mg e 96mg respectivamente). Inversamente, o extrato de S. obtusifolium estimulou o crescimento da raíz da cebola na concentração de uso tradicional (16mg/ml). Em alguns casos para as quatro espécies testadas, as raízes apresentaram desenvolvimento anormal, como presença de tumores, coloração escura e textura áspera. De um modo geral, os resultados indicam a diminuição do índice mitótico com o acréscimo da concentração dos extratos, diferindo do controle positivo, onde foram encontradas células nas diferentes fases da divisão celular, sob os tratamentos de M. urundeuva se observou inibição total da divisão. Contrariamente, S. obtusifolium e H. mutabilis exibiram os maiores valores no índice mitótico, embora não foram superiores aos do controle negativo. A exposição aos extratos da aroeira (M. urundeuva) causou a morte celular no tecido radicular e a inibição da divisão celular, sugerindo um possível efeito citotóxico. Nas análises microscópicas foi possível


observar aberrações na divisão celular de Allium cepa, No controle positivo dez aparentes micronúcleos foram observados (Fig. 1); fragmentos cromossômicos foram observados no controle positivo e no tratamento de S. obtusifolium na concentração básica; se observou e vagrant cromosomes no tratamento com S. obtusifolium na concentração básica; as raízes submetidas ao chá de H. mutabilis apresentaram a ocorrência de c-mitose e finalmente, células bi-nucleadas foram observadas nas raízes submetidas á ação dos extratos de A. occidentale e H. mutabilis. Tabela 1. Efeitos macroscópicos e microscópicos dos extratos de plantas medicinais sob o meristema apical radicular de Allium cepa L. DP: Desvio padão. Espécies e concentrações dos tratamentos (mg/ml) Anacardium occidentale (Cajueiro vermelho) 20 40 80 Hyptis mutabilis (Sambacaita) 16 32 64

Índices fenotípicos Comprimento médio da raiz

Aberrações cromossômicas e celulares

DP

nº de células em divisão

Índice mitótico

Micronúcleos

Pontes e fragmentos

c-mitose

vagrante chromosomes

Células binucleadas

6,00 6,63

1,87 3,04

23 24

13 7,6

0 0

0 0

0 0

0 0

2 0

5,13

0,90

34

8,4

0

0

0

0

7

15,10 12,8

2,18 86,97

80 66

29,9 39,18

0 0

0 0

1 0

0 0

2 3

8,20

24,04

102

19,9

0

0

0

0

30

3,80 7,50

0,00 1,84

0 0

0 0

0 0

0 0

0 0

0 0

0 0

Myracrodruon underdeuva (Aroeira) 24 48 96

2,60

0,55

0

0

0

0

0

0

0

Sideroxylon obtusifolium (Quixabeira) 16 32 64

19,97 5,07 6,60

1,63 1,59 1,41

115 10 8

62 3,03 3

0 0 0

2 0 0

0 0 0

1 0 0

0 0 0

Controle negativo Controle positivo

14,83 7,90

0,78 0,21

169 64

106 0.5

0 10

0 1

0 1

0 0

0 0

Discussão As espécies alvo deste estudo são amplamente utilizadas na farmacopéia tradicional brasileira e já foram avaliadas quanto a sua atividade farmacológica em quanto sua atividade farmacológica por diferentes autores, sendo as mesmas amplamente utilizadas na farmacopéia tradicional brasileira (Matos e Lorenzi, 2002). Plantas nativas como a aroeira, M. urundeuva e o cajueiro, A. occidentale têm sido


a

b

c

d

d

e

Figura 1. Aberrações cromossômicas nas células meristemáticas da raiz da cebola submetidas aos extratos vegetais: a. Micronúcleo, tratamento controle positivo (Dicromato de potássio); b e c. Fragmentos de material cromossômico e vagrant cromosomes no tratamento com Sideroxylon obtusifolium, quixabeira; d. c-Mitose em sambacaita (Hyptis mutabilis) e células bi-nucleadas em Anacardium occidentale e H. mutabilis.


recomendadas no seu uso oral sem indicação de toxicidade na preparação recomendada (Lorenzi e Matos, 2002); não obstante segundo os especialistas Pankararu estas plantas apresentam efeitos abortivos e seu uso por mulheres grávidas e menores de idade é restritivo; eles recomendam seu uso via oral em baixas concentrações para o resto da população. Sambacaitá, H. mutabilis e quixabeira, S. obtusifolium também foram referidas entre os especialistas Pankararu como plantas de uso restrito. Uma vez que outras espécies com as mesmas restrições tradicionais entre os especialistas Pankararu possuem atividade tóxica comprovada como R. graveolens; C. ambrosioides; A. hispidum; M. rígida; X. americana; A. cearensis e O. alata (Lorenzi & Matos 2002), as informações etnobotânicas sobre restrições no uso e dosagem permitida na ingestão de extratos vegetais, é aqui destacada, evidenciando a importância do conhecimento empírico das comunidades tradicionais na seleção de espécies vegetais para estudos de atividade biológica por meio de testes in vivo e outras análises de toxicidade. Segundo as observações realizadas no presente trabalho, extratos vegetais testados causaram aparentemente efeitos citotóxicos e genotóxicos sobre as células do meristema da cebola, produzindo a morte celular, assim como a inibição da divisão celular. No entanto, estes resultados podem não ser realmente uma limitação para o uso de plantas medicinais para cuidados primários de saúde, Os resultados apresentados não indicam a suspensão imediata do uso destas plantas medicinais para cuidados primários da saúde, uma vez que outros testes farmacológicos devem ser realizados. Outras variáveis não testadas aqui devem ser consideradas na determinação dos efeitos tóxicos das plantas tais como as conseqüências do acumulo de substancias pelo uso continuo de uma mesma planta e concentração real a nível corporal após da ingestão. A pesar que o teste de genotoxicidade e citotoxicidade Allium cepa, seja um teste simples e apenas um avanço inicial no conhecimento da toxicidade de algumas plantas de uso terapêutico, as correspondência entre os resultados obtidos neste estudo com as indicações terapêuticas tradicionais neste caso a tribo Pankararu, sugere a realização de futuros estudos com bioensaios em animais e testes in vivo que forneçam informações importantes no melhoramento da segurança dos recursos fitoterápicos. Conclusões Neste estudo foram evidenciados os efeitos inibitórios da divisão celular com o aumento das concentrações de exposição dos extratos vegetais testados e a ocorrência de aberrações cromossômicas ocasionadas por plantas de uso medicinal de importância local em diferentes comunidades tradicionais nordestinas.

Agradecimentos Á Prof. Dra Laise de Holanda C. Andrade, pela sugestão do tema e orientação no desenvolvimento deste trabalho; à Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do estado de


Pernambuco-FACEPE, pela bolsa de Pós-graduação; à comunidade indígena Pankararu, lideranças, especialistas e outros habitantes das aldeias, pela receptividade e trascendental participação no estudo. Ao Professor Reginaldo de Carvalho, UFRPE, por disponibilizar os equipamentos para execução do trabalho. A UFRPE pela concessão do material de informática (Edital Pró-pesquisador Permanente - UFRPE).

Referências bibliográficas

Fiskesjö, G. 1985. The Allium test as a standard in environmental monitoring. Hereditas 102: 99-112.

Menke, M.; Chen, I. P.; Angelis, K. J.; Schubert, I. 2001. DNA damage and repair in Arabodopsi thaliana as measured by the comet assay after treatment with different classes of genotoxins. Mutation Research 493: 87-93.

Sharma, C. B. S. R.; Panneerselvan, N. 1990. Genetic toxicology of pesticides in higher plant systems. Plant Science 9: 409-442.

Grant, W.F., Owens, E.T. 2001.Chromosome aberration assays in Pisum for the study of environmental mutagens. Mutation Research 188: 93-118.

Akintonwa, A.; Awodele, O., Afolayan, G.; Herbert A.B. Coker, H.A.B., 2009. Mutagenic screening of some commonly used medicinal plants in Nigeria. Journal of Ethnopharmacology 125: 461- 470.

Almeida C. F. C. B. R; Amorim E. L. C.; Albuquerque U. P.; Maia M. B. S., 2006. Medicinal plants popularly used in the Xingó region – a semi-arid location in Northeast Brazil. Journal of ethnobiology and ethnomedicine 2:1-7.

Albuquerque, U. P., Monteiro, J.M., Ramos, M.A., Amorim, E.L.C., 2007. Medicinal and Magic plants from a public market in northeastern Brazil. Journal of Ethnopharmacology 110,76-91. Di Stasi, L.C. 1996. Conceptos básicos na pesquisa de plantas medicinais. Pp.23-27. In: Di Stasi, L.C. (org). Plantas medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo interdisciplinary. São Paulo. UNESP.

Ford, R.I. 1979. Etnobotany historical diversity and synthesis. In: RI Ford (ed.). The nature and status of ethnobotany. Museum of Anthropology, University of Michigan. Antropological Papers 67: 33-49.


Gazzaneo, L.R.; Lucena, R.F.; Albuquerque, U.P. 2005. Knowledge and use of medicinal plants by local specialists in a region of Atlantic Forest in the state of Pernambuco (Northeastern Brazil). Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine 1: 1-8.

Guerra, M.; Souza, M. J. 2002. Como observar cromossomos: um guia de técnicas em citogenética vegetal, animal e humana. 1. ed. Ribeirão Preto: FUNPEC 131 p.

Harvey, A., 2000. Strategies for discovering drugs from previously unexplored natural products. Drug Discovery Today 5: 294–300.

Kingston, D. G.I. 1996. Natural products as pharmaceuticals and sources for lead structures. P. 101-114. In: Wermuth, C. (ed). The practice of medicinal Chemistry. San Diego.

Londoño, P.A. 2010. Etnobotânica de plantas medicinais usadas pela comunidade indígena Pankararu, Pernambuco, Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

Lorenzi H.; Matos P.J.A. 2002. Plantas Medicinais do Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Plantarum, 512 p.

Morais, S. M.; Dantas, J. P.; da Silva, A.R., 2005. Plantas medicinais usadas pelos índios Tapeba do Ceará. Revista Brasileira de Farmacognosia 15: 169-177. O’neil, M.J.; Lewis, J. A. 1993. The renaissance of plant research in the pharmaceutical industry. P. 4855.In: Kinghom, A.D.; Ballandrin, M.F. (Eds), Human Medicinal Agents from Plants. Washington: American Chemical Society. Schenkel, E. P.; Gosmann, G.; Petrovick, P.R. 2001. Produtos de origem vegetal e desenvolvimento de medicamentos. P. 301 – 332. In: Simões, C. M. O.; Schenkel, E. P.; Gosmann, G.; Mello, J. C. P.; Mentz, L. A.; Petrovick, P. R. (Org), Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3.ed. Porto Alegre/Florianapolis: Editora da Universidade UFRGS / Editora da UFSC.



ANEXO 1

Figura 2. Plantas medicinais potencialmente tรณxicas, A aroeira do sertรฃo, M. underdeuva (Engl.) Fr. All.Cajueiro vermelho, A. occidentale l. Quixabeira, S. obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn. Sambacaitรก, H. mutabilis Briq.


Resumo Este trabalho documenta a utilização de recursos vegetais para o cuidado da saúde na comunidade indígena Pankararu, no Vale do Rio São Francisco, municípios de Jatobá, Tacaratu e Petrolândia, Pernambuco, Brasil. Entrevistas abertas e semi-estruturadas, oficinas de grupos focais, exploração das áreas de vegetação natural e antrópica, coleta e identificação das espécies indicadas possibilitaram caracterizar as práticas de cura desempenhada por 46 especialistas da medicina tradicional Pankararu (curandeiros, rezadeiros e parteiras). A consulta à literatura etnobotânica e etnofarmacológica, particularmente a referente às tribos e comunidades tradicionais da região nordestina, permitiu a complementação e comparação do conhecimento empírico local com o conhecimento científico. Os resultados obtidos são apresentados e discutidos em quatro capítulos. No primeiro capitulo, se registra a utilização de 223 plantas medicinais, as quais foram caracterizadas quanto aos usos terapêuticos, formas de emprego e padrões de uso das espécies; 190 táxons foram determinados taxonomicamente representando 64 famílias de angiospermas, com destaque para as Leguminosae, Euphorbiaceae, Asteraceae e Lamiaceae; são incluídas ainda as pteridófitas Anemia tomentosa (Sw.) Sw.e Selaginella convoluta (Arn) Sprig. Refere-se pela primeira vez para tribos indígenas brasileiras o uso medicinal de liquens, representados por Canoparmelia salacinifera (Hale) Elix & Hale, Parmotrema wrightii Ferraro & Elix (Parmeliaceae) e Heterodermia galactophylla (Tuck.) Culb. (Physciaceae), conhecidas pelo nome comum de flor de pedra. A casca do tronco e as folhas e, em menor proporção, a raiz, flores, frutos, sementes e látex das plantas são preparados de múltiplas formas, sendo mais comum o decocto e a maceração. Espécies nativas, como Myracrodruon urundeuva Allemão, Ximenia americana L., Anacardium occidentale L., Hyptis mutabilis Briq., Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn. e Caesalpinia pyramidalis Tul. obtiveram elevados valores de importância relativa. O segundo capítulo trata do conhecimento tradicional e etnofarmacológico dos recursos fitoterápicos direcionados para o cuidado da saúde da mulher Pankararu, abordando aspectos reprodutivos e do recém nascido. A percepção tradicional acerca dos cuidados e restrições no emprego de ―medicinas populares‖ foi abordada e analisada em relação ao conhecimento científico atual das espécies de maior importância na medicina tradicional Pankararu. No terceiro capítulo, a flora medicinal da tribo estudada foi comparada com a encontrada em fontes bibliográficas para outras tribos da região nordeste do Brasil. A similaridade na composição florística com potencial terapêutico apresentou relação com as zonas fitogeográficas nas áreas de habitação indígena. No último capítulo, foram avaliadas as indicações tradicionais sobre os efeitos tóxicos do chá de quatro espécies medicinais, empregando-se o teste de citotoxicidade e genotoxicidade no tecido meristemático da raíz da cebola (Allium cepa L.). O extrato aquoso de M. urundeuva inibiu o crescimento da raiz, enquanto o chá de A. occidentale, H. mutabilis e de S. obtusifolium provocou anomalias na divisão celular. Através do teste Allium cepa se comprova que plantas medicinais de uso corrente entre os Pankararu podem alterar a divisão celular durante a mitose, e recomenda-se estudos para aprofundar o conhecimento do potencial tóxicológico destas plantas de uso tradicional no Nordeste do Brasil. Palavras-chave- caatinga, conhecimento tradicional, padrões de uso, líquen medicinal, citotoxidade.


Abstract This paper documents the use of plant resources for health care in the indigenous community Pankararu, Vale do Rio São Francisco, municipalities of Jatoba, Tacaratu and Petrolândia, Pernambuco, Brazil. Open and semi-structured interviews, workshops on focus group, exploration of antropic and natural vegetation areas, collection and identification of suitable species enables to characterize the healing practices performed by 46 specialists in the Pankararu traditional medicine (healers, midwives and mourners). Search in ethnobotany and ethnopharmacology literature, particularly refering to tribes and traditional communities in the Northeastern region, allowed the complementation and comparison of local empirical knowledge with the scientific knowledge. Results are presented and discussed in four chapters. First chapter records the use of 223 medicinal plants, which were characterized with regard to their therapeutic uses, use forms and species usage patterns; 190 taxa were determined taxonomically representing 64 families of angiosperms, highlighting Leguminosae, Euphorbiaceae, Asteraceae and Lamiaceae; the Pteridphyte Anemia tomentosa (Sw.) Sw. and Selaginella convoluta (Arn) Sprig. are also included. The lichens medicinal use represented by Canoparmelia salacinifera (Hale) Elix & Hale, Parmotrema wrightii Ferraro & Elix (Parmeliaceae) and Heterodermia galactophylla (Tuck.) Culb. (Physciaceae) and known by the common name of stone flower is referred for the first time for Brazilian Indian tribes. The bark and leaves and to a lesser extent, root, flowers, fruits, seeds and plant latex are prepared in various ways, being most commonly the decoction and maceration. Native species such as Myracrodruon urundeuva Allemão, Ximenia americana L., Anacardium occidentale L., Hyptis mutabilis Briq., Sideroxylon obtusifolium (Roem. e Schult.) T.D. Penn. and Caesalpinia pyramidalis Tul. obtained high values of relative importance. The second chapter deals with traditional and ethnopharmacological knowledge on herbal resources directed to women's health care in the Pankararu, addressing newborn and reproductive aspects. The traditional perception about care and limited use of "folk medicine" was discussed and analyzed in relation to current scientific knowledge of the most important species in traditional Pankararu medicine. In the third chapter, the tribe’s medicinal flora was compared with that found in bibliographic sources for other tribes in northeastern Brazil. The similarity in floristic composition with therapeutic potential was correlated with phytogeographic zones in Indian housing areas. In the last chapter, traditional indications of tea toxic effects of four medicinal plant species were evaluated, using the test of cytotoxicity and genotoxicity of root’s meristematic tissue of onions (Allium cepa L.). The aqueous extract of M. urundeuva inhibited root growth, while the tea of A. occidentale, H. mutabilis and S. obtusifolium caused abnormalities in cell division. Through the Allium cepa test is proved that medicinal plants in current use among Pankararu can alter cell division during mitosis; however, in vivo studies should be conducted to deepen the knowledge on the toxicological potential of plants traditionally used. Keywords: caatinga, traditional knowledge, use patterns, medicinal lichen, cytotoxicity.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.