tr3sdoi2 #10

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no10

literatura, HQ, design, humor, arte

jan_2019



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ois é. Aí vai a última edição desse fanzine descompromissado. Com grande atraso, para manter a tradição. Evidentemente, poderei retomar o projeto no futuro, caso eu fique famoso por algum motivo e tenha a possibilidade de conseguir mais leitores além desses poucos guerreiros que me acompanham (valeu, moçada!). Mas estou aqui de volta para fechar o ciclo. Provavelmente tenho um diagnóstico nunca diagnosticado de transtorno obssessivo-compulsivo. Se eu não fechar a tr3sdoi2 em dez números redondos, perco noites de sono. Vamos lá. Volto a publicar material meu, já que essa é a edição do foda-se. Depois, um pouco de Juliana Frank, cujo texto muito me agrada. Trata-se de um conto que ficou famoso por lançar seu nome aos quatro ventos tropicais e por gerar comentários indignados dos leitores da Folha de São Paulo, pela alta carga desbocada. Chama-se A viúva de quatro. Temos também uma história em quadrinhos que, sugerem algumas evidências, teve sua ideia central plageada e transformada numa das HQs brasileiras mais premiadas do universo. O nome é Feliz aniversário, feliz obituário, de Jefferson Costa e Rafael de Oliveira, e a versão-plágio seria Daytripper, de Fábio Moon e Gabriel Bá. Um artigo explica o caso. A conferir. Finalmente, fechando a edição, uma crônica de Eduardo Affonso sobre as velhinhas das piscinas de condomínios. Fui!


Crarge

Desconhecido

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Baleias na mídia Crônica

Hidroginástica no condomínio

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Eduardo Affonso Contos

Alfredo Albuqerque

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O quarto anel de Saturno Juliana Frank

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A viúva de quatro Artigo

Melhores do Mundo

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O caso Daytripper HQ

Jefferson Costa & Rafael de Oliveira

Feliz aniversário, feliz obituário

Email tr3sdoi2@gmail.com Facebook www.facebook.com/groups/tr3sdoi2/ Editor Alfredo Albuqerque Capa Labirinto gerado no site mazegenerator.net Contracapa Resposta

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CHARGE

DESCONHECIDO

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CONTO

ALFREDO ALBUQERQUE

O quarto anel de Saturno

-Q

ue é isso? — O quarto anel de Saturno. Ela ri. — Sério? E onde você arrumou isso? — Roubei. Igual naquela música chata. Sabe? Por você vou roubar os anéis de Saturno... — Roubou? Mesmo? Você, um ladrão de anéis? — Eu, um ladrão barato de um anel de casamento. O riso cessa, desconcertado. — Casamento? Você está me pedindo em casamento com o quarto anel de Saturno, roubado... sei lá de quem? — Isso. Aceita? — Beleza. E a gente vai morar, tipo, em Plutão? — Plutão não existe mais. Existe, mas não é mais um planeta. Foi rebaixado. — Rebaixado a quê? — Sei lá... A asteroide. Ou pedra. — E de quem você roubou esse anel? — Da praia. — Você encontrou esse anel enterrado na areia? —Quando eu estava caminhando na praia, vi o brilho na minha frente. Tinha uma parte virada para o sol. 4


— Engraçado alguém perder um anel. Não é como uma correntinha, que cai. A pessoa tem de tirar o anel, eu acho. — Estava na praia, era da praia. E agora é seu, porque eu roubei e te dei. — E por que é o quarto anel de Saturno? — Porque o quarto anel de Saturno é o que fica mais perto de Saturno. Como eu quero ficar de você. Ela curva a extremidade direita dos lábios, num sorriso quase protocolar. — O quarto anel é o mais interno? — É. — Eles contam de fora pra dentro? — Eles contam de fora pra dentro do primeiro até o quarto, e depois voltam a contar para fora, em direção ao universo. Cada anel é uma letra. O mais interno é o D. São seis: D, C, B, A, E, F. Depois ainda tem um enorme, que fica bem distante dos outros, que, inclusive, atravessa uma das muitas luas de Saturno, e que se chama Phoebe. Ninguém vê porque é da mesma cor do universo. — Que lindo! E o que tem nos anéis? — Pedras. — Só isso? — É. Planetas são meio pedras também, né? — E a Rita Lee? — O quê? — Você não gosta dela? — Não. — Por quê? 5


— Muito chata. Não gosto! — Te irritei? — De jeito nenhum. Só estava sendo categórico. — E o anel? — O quê? — É sério? — Seríssimo. Ela não sabe o que fazer. — Posso pensar? E começa a pensar na carta que enviará de outra galáxia, rebaixando o namoro à inexistência de um Plutão.

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CRÔNICA

EDUARDO AFFONSO

Piscinas em condomínios

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magine um clube que aceite qualquer um como sócio. Prédio com piscina é assim. O corretor enche a boca e estufa o peito para dizer que é um apartamento com garagem, vista para o mar, “serviços” e ... piscina! 7


Como se a piscina fosse sua. Daquelas em que você deixa cair o roupão (branco) no deque de madeira, abandona os chinelos (ou as pantufas) na borda, mergulha olimpicamente e emerge cinquenta metros adiante feito um Netuno (ou um Aquaman), com aquele ar de fastio dos que venceram na vida sem fazer muita força, pronto para tomar uns bons drinques ao cair da tarde. Sozinho. Ele (o corretor) omite que a piscina pertença também a 600 outros condôminos. E seus parentes e visitantes. Parentes e visitantes estes que não têm piscina. Que nunca tiveram piscina, e cujo único objetivo na vida é estragar o prazer de quem tenha. Ou ache que tem. Prédio com “serviços” costuma ter, entre os 600 condôminos e seus visitantes, muitas velhinhas (os velhinhos morrem antes, e as velhinhas se mudam, sozinhas e serelepes, para os prédios com “serviços”). Um dos tais “serviços” é a hidroginástica. Velhinhas adoram hidroginástica. Não pelos exercícios (que elas não fazem), mas porque a conjunção de maiô, chapéu e cloro ativa o metabolismo daquela parte do córtex responsável pela fala, ao mesmo tempo em que a profusão de “macarrões” coloridos (de espuma) e as coxas do instrutor inibem completamente sua capacidade auditiva. Aí elas desandam a falar todas ao mesmo tempo, como se estivessem num filme do Altman. E gritam. O que obriga o instrutor a gritar mais alto. E, se você fechar os olhos, terá a impressão de que aquilo não é uma piscina num sábado de 8


manhã, mas um engradado de marrecos ao meio dia no Mercadão de Madureira. Aquilo não é Prédio com piscina tem uma desvantauma piscina gem adicional. Ele te desanima de ir à praia. num sábado Que fica ali em frente. A piscina é mais perto. Não tem areia. Tem chuveiro e água gede manhã, lada. Não precisa levar cadeira nem guardamas um sol. Não precisa pedir para ninguém olhar engradado de suas coisas enquanto você dá um mergumarrecos ao lho. Até porque você não leva nada roubámeio dia no vel (dinheiro, identidade, celular). Não tem Mercadão de onda para te dar caixote, nem vendedor de espetinho de queijo-coalho queimando sua Madureira perna com aquela lata em brasa. Em compensação, tem as velhinhas. Que, de terça a sexta (segunda é dia de trégua) dá para ouvir perfeitamente daqui, do oitavo andar, de janela fechada e ar ligado. E aos sábados, quando me animo a descer, é como se acionassem um martelete nos meus tímpanos e entrassem com bigorna e martelo em punho para um bagunço pelos canais auditivos adentro. Quando, de mandíbulas exaustas, as matracas da melhoridade se recolhem à sombra, fugindo do sol das dez horas, começam a chegar os visitantes – invariavelmente portando crianças e celulares com ligações ilimitadas e baterias infinitas. Imagine um clube que aceite qualquer um como sócio. Prédio com “serviços” - e piscina - é assim. 9


CONTO

JULIANA FRANK

A viúva de quatro

E

stou viva! Estou viva! Essa frase cotidianamente repetida por mim é uma mensagem galhofenta aos fantasmas de meus quatro finados maridos. Eles me fitam de lá, da tediosa nuvem azul. Eram todos tão avarentos. Espero que os mortos vivam de graça! Sei que usam pijamas blue-escolares. Vez por outra, tocam violino. E quando, por intermédio das coincidências (ou má distribuição da renda celestial), acabam se encontrando, cumprimentam-se de forma civilizada, na comunhão silenciosa de quem sabe o quanto o outro penou. “Arlette”, um nome vilanesco, brada o coro dos quatro excelsos do céu em direção ao inferno. Vai que o diabo é surdo. Que esses quatro, que desejam minha partida, saibam: o paraíso se abrirá para mim em vida, já que na morte terei de derrubar a porta. E só saio deste inferno por um que arda melhor. De qualquer forma, não morrerei de tédio, não apodrecerei de células revoltas, tampouco hanseníase na língua hei de ter. Eu, a Highlander de calcinha, morrerei contente, sem nenhuma cicatriz. Foda-se o além-túmulo e o lugarejo para onde me enviarão. O que importa é a vida vivente e meus olhos incendiários, que ainda e por muito esmagarão cromossomos ípsilon. 10


Seguindo meu pensamento, rebolo sem música nas calçadas de passos apressados em meio à cidade maluca. São Paulo tem muitos homens que desejam a demissão, o divórcio, a invencível solidão por uma boceta que se saiba pensante e é. Minha profissão está diretamente ligada à minha boceta. Tentei ser quenga, relutei para seguir minha real inclinação. Sou uma vidente do passado. Tudo começou na puberdade, época em que as tardes inúteis me inspiravam a massagear o clitóris. De repente, tive o superpoder de alcançar o passado de meus vizinhos. Aqueles vizinhos óbvios, que fofocavam, nem podiam imaginar onde eu guardava seus segredos. Na xana cassandríca! Na visioboceta! Paro diante dela, faço movimentos confusos para que a dita não delire, orgástica que é, e enfim recebo revelações vivenciadas em pretéritos imperfeitos. Todo passado é infausto. A visioboceta, no correr dos anos, passou por violentas tribulações com meus ex-maridos, completamente invaginados por mim. Isso a deixou mais afiada. Quem sofre sabe alguma coisa, e não é diferente com os órgãos reprodutores de visiones. Em menos de três segundos ela consegue ver o seu passado, a sua mãe de banhas multiplicadas. A vista que seu pai viu, o princípio que te pariu a filhosofar-te. Uma pena, minha visioboceta não pôde ver a morte de meus três maridos, nem eu, ocupada que estava em transar com o coveiro em meio ao fogo-fátuo. Nicolau, meu quarto varão enterrado. Imprescindível em minha biografia! Morreu de burrice vitae, tolo e inócuo como nasceu. Dos outros três 11


lembro-me apenas de “Roverfal”, ou “Falfal”, ou “ponta firme pau mole”, eis o melhor marido em matéria de herança, merece a lembrança. Não matei nenhum deles, como sua maldade há de imaginar. Todos morreram por justa causa. Se me recordo vagamente de cada um, é devido às ações retropremonitórias que acabam por ocupar os fundamentos de minhas partes baixas. Deixo as memórias para meus clientes, sequiosos por visões proclamadas em gemidos. Sim, eles tentam tocar-me, mas a vidência é sexualmente transmissível. “É tudo muito turvo”, diz a boceta profética, “é tudo embaçado”, assim ela começa, depois vai mostrando fatos episodiais. “Como quando sua mãe revelou que o seu pai era uma foto emoldurada na parede” - geme a boceta a um cliente.

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ARTIGO

PODEROSO PORCO

Daytripper é uma das HQs brasileiras mais premiadas aqui e no exterior. Tem um belo traço, uma trama bem construída e uma ideia bastante criativa. Só que essa ideia criativa já estava presente em uma pequena história publicada antes. Esse artigo conta a história.

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a última GibiCon tomei ciência de uma notícia trazida por um leitor do MdM que me deixou angustiado e tenso. Num resu­ mo: uma HQ curta, publicada originalmen­ te em 2005 e que possuía elementos muito similares com a premiadíssima HQ de Fábio Moon e Gabriel Bá, publicada pela Vertigo em 2010, fazia com que a segunda fosse um possível plágio da primeira. A HQ copiada seria Feliz aniversário, feliz obituário, de Jefferson Costa (arte) e Rafael de Oliveira (roteiros), e lá mesmo em Cu­­ 13


ritiba tive acesso à história, num post publicado em 2012 no blog do Quadro a Quadro. Foi estarrecedor. As semelhanças entre Feliz obituário... e Daytripper saltam aos olhos. E é a respeito delas que eu vou falar. Primeiro, se você já leu Daytripper, vá até o final desse artigo e leia Feliz aniversário, feliz obituário. Vai lá, eu espero. Voltei a BHCity One com a cabeça fervilhando, precisava tirar a prova dessa história. Veja bem: não é porque uma fonte, mesmo confiável como é o caso do Lucas Pimenta do Quadro a Quadro, diz que algo está num determinado lugar que ele de fato está. O Pimenta poderia ter sido induzido ao erro por alguém que disse que “… Feliz obituário…” foi publi­ cada na Front #16, mas não tivesse ido conferir. Publicação de antologia da Via Lettera (durou entre 1999 e 2008, em edições temáticas, fora os especiais), a Front era uma revista cara e um tanto irregular: por isso mesmo, pouco consumida e conheci­ da. Para se ter uma ideia, pra escrever este post eu procurei a revista com alguns amigos colecionadores hardcore e nem entre eles achei. Por sorte, consegui encontrar a edição 16 nos encalhes de uma livraria aqui da cidade. Como eram temáti­ cas, a edição 16 da Front tratava de morte. E sim: entre as páginas 83 e 94 estava, impressa em preto e branco, Feliz aniversário, feliz obituário. Como eu disse, as semelhanças são inegáveis: dividida em 10 capítulos, Daytripper sempre termina cada um deles com seu protagonista, Brás de Oliva Domingues, morrendo em algum momento da sua vida (a HQ é não-linear). No primeiro capítulo, inclusive, ele morre no dia de seu aniver­ 14


sário. No último quadro de cada capítulo, um pequeno obi­ tuário (Brás os escreve/escrevia no jornal) contando de seu falecimento. Por ser uma história curta, Feliz aniversário, feliz obituário não tem capítulos, mas situações, e ao final de cada uma vemos seu protagonista, Miguel Verdi, morrer. A narrativa é linear e, apesar de morrer no final de uma cena, na seguinte Miguel escapa da morte e segue a vida, apenas para morrer logo mais à frente. A trama se passa no aniversário de Miguel e, após cada morte, um obituário conta de seu faleci­ mento. Se essas semelhanças não fossem incômodas o suficiente, ainda tem algumas mais específicas: filho de um escritor, o protagonista de Daytripper sonha em ser escritor também, e tem em seu nome uma referência a um clássico da literatura – Brás, personagem principal de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Por sua vez, Miguel Verdi é músico, assim como Giuseppe Verdi, compositor de óperas como Aida e Nabucco. Tanto Brás de Oliva quanto Miguel Verdi têm como contraponto um amigo negro de cabelo afro (Jorge e Emílio, respectivamente). As duas HQs tratam da efemeridade da vida e a imprevisibilidade da morte. Claro, pesa a diferença de volume entre as obras, o que acaba obri­ gando Daytripper a ter mais tramas paralelas, mais situações e desdobramentos ficcionais, indo parar em outro lugar. Mas a essência das duas e alguns elementos-chave da execução dessa essência seguem sendo muito, mas muito parecidos mesmo. Na melhor das hipóteses, poderíamos dizer que “… 15


feliz obituário” é uma proto-Daytripper, ou o argumento do que veio a ser Daytripper. Pode ser um caso de uma bizarríssima coincidência? Pouco provável, mas não impossível. É aí que a coisa ganha detalhes mais complexos: quando fiquei sabendo da notícia, soube também que os autores de “…feliz obituário” tinham sido alunos do Fábio e do Gabriel num curso da Quanta Academia de Artes em 2004, ocasião em que produziram a HQ e mostraram para ser avaliada pelos gêmeos. Sendo essa informação verdadeira, aí ficaria bem difícil descartar a hipó­ tese de plágio. Era uma informação que precisava ser apurada e, depois de algum corre entre a galera do mundo dos quadri­ nhos, consegui os contatos do Jefferson e do Rafael. Era hora de tirar as coisas a limpo. E veio a confirmação: de fato ambos fizeram um curso na Quanta em 2004, não somente com os gêmeos Bá e Moon, mas também com um grande número de quadrinistas dife­ rentes, como Guazelli, Orlando, Fábio Yabu, Renato Guedes, Ivan Reis, Laerte e alguns outros (confirmei com o pessoal da Quanta: o curso se chamou “Quadrinhos avançado”, durou um ano e tinha aulas semanais, aos sábados). Cada artista minis­ trava pequenos workshops e os alunos deveriam montar um portfólio a ser apresentado aos professores. Segundo Rafael e Jefferson eles estavam começando a produzir juntos HQs cur­ tas, para serem publicadas em fanzines. “…feliz obituário” foi uma delas, e entrou pro portfólio do Jefferson, chegando às mãos dos professores do curso – Guazelli, Orlando, Yabu, Renato Guedes, Fábio Moon e Gabriel Bá… 16


Segundo os autores, ainda em 2003 pintou uma sonda­ gem para publicar na Front aquela história, na edição sobre morte – o que veio a acontecer em 2005. Mas a grande pergunta permanecia: por que, quando Daytripper saiu, os autores de Feliz aniversário, feliz obituário não botaram a boca no trombone? Segundo os próprios auto­ res, medo – medo de serem taxados de aproveitadores, medo de embarcarem numa batalha judicial contra uma megacor­ poração (a DC/Time-Warner) e as infinitas despesas decorren­ tes disso. O lance era fazer carreira do zero, sem contar com os méritos de Feliz aniversário, Feliz… Daytripper. Mas como nada fica muito tempo escondido embaixo do céu e em cima do chão, a história acabou vindo a público. Caso encerrado? Não mesmo – como diz o Menino Maluquinho, cada lado tem seu lado e eu sou meu próprio lado, então não seria muito justo não ouvir o que os gêmeos Bá e Moon têm a dizer. A versão que eles contam sobre a origem de Daytripper nós já sabemos: que a história veio num banho, imaginando o aglomerado perto de casa e a pergunta: “E se lá der uma zebra e uma bala me acertasse?”. Pronto, “nascia” Daytripper. Mas… será mesmo? Por isso, entrei em contato com eles por e-mail e Twitter, sendo que o primeiro foi respondido pelo Gabriel Bá. A resposta, transcrita abaixo, diz seguinte: Não lembro de ter visto esta HQ antes, mas fomos procurar e tem algumas semelhanças, essa coisa do personagem morrer, mostrar um obituário, depois continuar a história, depois morre de novo, etc. Podem ter mostrado e eu esqueci, mas não lembro. 17


Gosto muito do Jefferson, ele é muito bom. O Rafael não acompanho tanto assim o trabalho. Mas claro que não tem nada a ver. Eu não levaria a sério. Além disso, tive a ideia inicial do Daytripper em 2002. Pra terminar, não é o personagem morrer várias vezes que torna o Daytripper no que ele é. Atenciosamente, Gabriel

A essência das duas e alguns elementoschave da execução dessa essência seguem sendo muito parecidos

Conforme já me referi antes, não é o fato de o personagem morrer várias vezes que faz Daytripper, mas isso é um detalhe importante na condução da trama. Assim como os obituários (que eu não me lembro de ser um recurso utilizado antes daquela forma nos quadrinhos), o fato do protago­ nista ser um escritor e ter seu nome reme­ tendo a uma famosa obra literária, ou o amigo negro (com nome de músico negro) pra fazer contraponto. São pequenos deta­ lhes, mas que acabam ganhando corpo e solidez quando são percebidos em duas obras diferentes, com um lapso de cinco anos de publicação entre uma e outra. A situação me soa complexa demais para não

ser levada a sério. Certamente podemos fazer conjecturas em outros senti­ dos, bastante improváveis, mas não impossíveis: por exemplo: 18


e se, invertida a ordem, foram os gêmeos que comentaram sobre o argumento de Daytripper, como um case, no workshop deles na Quanta e isso influenciou, de alguma forma, Rafael e Jefferson? Era uma possibilidade, mas que ambos descartam de partida. Segundo eles, a HQ já estava pronta quando parti­ ciparam do workshop. O que sim, é um dado subjetivo e difícil de ser comprovado (“já estava pronta antes do curso“), mas que acaba tendo o mesmo (pouco) peso da afirmação do Bá de que a ideia de Daytripper surgiu em 2002. O que acaba tendo mais relevância com certeza são os dados objetivos: cinco anos separam a publicação formal de Feliz aniversário, Feliz Obituário e Daytripper. E num texto de maio de 2004 (“Dia do Julgamento”) Gabriel Bá não só cita o trabalho de Jefferson Costa como também a vindoura edição sobre morte da Front. Eu queria muito fechar esse post com uma conclusão do tipo “é plágio” ou “não é plágio”, mas eu acho que nem preci­ sa. São fatos poderosos, sólidos e, dizem, contra fatos não há argumentos. Fica uma sensação péssima, são artistas admira­ dos, cuja produção eu e muita gente acompanhamos com atenção, não sendo o tipo de coisa que se esperaria deles, sobretudo no que tange ao seu trabalho mais elogiado e pre­ miado. Enfim, aí estão os dados, nobres bacharéis. Conclusões, cada um com a sua… Texto extraído do blog Melhores do Mundo, assinado por Poderoso Porco. 19


HQ

JEFFERSON COSTA & RAFAEL DE OLIVEIRA

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Os au tomรณve i s e s tรฃ o ca ga nd o e andando

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