O Abajour Público

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José Geraldo Corrêa

O Abajur

Público 2015


Copyright © 2014 Alma Literária Editora Ltda. ISBN 978-85-67766-14-0

Autor: José Geraldo Corrêa Coordenação editorial: Maristela Carneiro Coordenação gráfica:Algo+ soluções Editoriais Capa: Neilton Lima Imagem de Capa: Autor Projeto gráfico e diagramação: Neilton Lima Revisão: Eveline Machado Impressão: Singular Digital

Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da editora. Não é responsabilidade da editora nem do autor a ocorrência de eventuais perdas ou danos a pessoas ou bens que tenham origem no uso desta publicação. Apesar dos melhores esforços do autor, do editor e dos revisores, é inevitável que surjam erros no texto. Assim, são bem-vindas as comunicações de usuários sobre correções ou sugestões referentes ao conteúdo ou ao nível pedagógico que auxiliem o aprimoramento de edições futuras. Os comentários dos leitores podem ser encaminhados à Alma Literária, pelo e-mail:atendimento@algomaissolucoes.com.br

ALMA LITERÁRIA EDITORA LTDA. Rua Senador Dantas, 117/1340 20.031-204 – Centro Rio de Janeiro – RJ Tel: (21) 3549-4621 – 1ª edição: Fevereiro de 2015


Prefácio

Ao poeta, não basta o talento. É preciso bem mais que o domínio das palavras para traduzir em versos o sentimento da alma. É imperativa a inquietação. Um desejo permanente de se redescobrir a todo momento. De mergulhar em si e trazer à tona novas versões da realidade. A esse chamado, meu pai responde ao lançar sua terceira obra, O Abajur Público. Mais do que um novo livro, marca uma nova fase da vida deste mineiro radicado no Rio de Janeiro. Uma fase em que os sonhos e a realidade dão as mãos e reatam um namoro interrompido, há algum tempo, pelas necessidades da vida adulta. Há um ano, com Sentenças do Corpo, José dividia com leitores e amigos sua incapacidade de parar de escrever e recolocava os versos no centro da própria vida. Hoje, ele renova esse compromisso à medida que se reinventa. O Abajur Público dá asas à intimidade e ilumina uma nova poesia. E “é impossível amanhecer impassível à publicação da paixão”. Pedro Corrêa, Um filho orgulhoso.


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O Abajur Público

Sumário

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Prefácio dedicatória Agradecimentos

19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46

manhã Canção do futuro fastio a geometria por strauss O abajur público Estéril A volta das orquídeas Desabafo da madrugada A porta mentiras da criação A constituição da vida dores de ontem a guerra do pão doce tributo química memórias tardes urbanas céu e manhã vitrine despedida sonho limpo hipocrisia orgasmo liberdade versos transversos receituário humano rimas da chuva

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Agradecimentos

Obrigado ao passado por ter feito o esboรงo, ao presente por consolidar o oposto e ao futuro por marcar o meu rosto!



O Abajur Público

manhã

A roupa limpa na manhã de pele lisa, O frescor do perfume atípico do mar, Mente virgem e areias sem pegadas, Os pés tateando o princípio de andar. A voz ensaiando cordas e mentiras, Os olhos em pálpebras de fotocópia, Mãos engatilhando os dedos lentos, Face branda na embalagem própria. Estado de devora em minuto e hora, Acordou também na ânsia inquieta, O dia trará urinas, ruínas e sonhos, No filme mágico da retina do poeta.

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José Geraldo Corrêa

Canção do futuro

Vai chegar o tempo de em arrepios despertar, A substituição do lamento, o vento só da noite, Pela felicidade cadente do céu, bocas de beijar, Abraços de apertar o momento do futuro feliz. E pessoas como pessoas, mãos atadas em paz, Decantadas as revoltas, enferrujadas as espadas, Como almas encantadas, descampadas em luz, Ferramentas esquecidas, todas as faces enluaradas. E a concórdia, mel desse grande painel humano, Registrará as faces coloridas do nosso doce estar, Ódios incinerados e todos os poemas encenados, Ficará apenas mutante e aguda missão de cantar.

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O Abajur Público

fastio

O humano se enfastia com a realidade, Vem desse berço o nascer da saudade, É preciso ocultar as células da verdade, E deixar de lado a certeza que se viveu. E com o entorno a nascer ensandecido, E a gravidade da gravidez do esquecido, Descer do ventre o alívio desconhecido, Em se alcançar a vida que se devolveu. E esculpindo calafrios, artesão da tara, Vendo a lápide do futuro, cara a cara, Ferve o frio do anoitecer em cena rara, A retomar do destino o que se atreveu.

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José Geraldo Corrêa

a geometria por strauss

O triângulo aberto perdeu um vértice reto, Por milímetros se perderam noventa graus, E na vida também é assim, atrás do objeto, Esquecemos a riqueza da valsa de Strauss. E dentro do necessário espelho do armário, Olhamos os desenhos dos sulcos do tempo, Os lacres da sorte, última página do anuário, As fechaduras da morte, luz final do evento. E dentro dos obscuros corpos da matemática, Permito-me contar por fórmulas e reformas, As histórias conformadas, curta vida temática, Local donde rabisquei meus sonhos e normas. Então vou estender o polígono a cada respirar, Vou acatar tudo, do frio da noite ao calor do dia, Vou juntar a louça do almoço à minha covardia, E abraçar cada nota da melodia no meu jantar.

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O Abajur Público

O abajur público

Um poste de luz faz a sombra da cruz na calçada, Enlaçada à figura, a procura do beijo bêbado seduz. E o casal contorceu os corpos em desenhos de abajur, Refletido pela íris da Lua, fez da rua a febre do seu nu. E para camuflar o amor, o calor da saliva, água da carne, Ativa a cortina da madrugada, a cobrir o tremor da amada. É impossível amanhecer impassível à publicação da paixão.

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José Geraldo Corrêa

Estéril

Penso tenso sobre os poemas extensos, Cansado de soletrar da alma os avessos, E costurar estrofes como hábil alfaiate, Apático, fica o molde do verso suspenso. No andaime da construção abandonada, No lodo verde, as vigas, pilares, fungos, Esqueleto sem carne, poesia infeccionada Pelo abandono pagão da solitária criação. Encanto pirotécnico de luz opaca, sem fim...

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O Abajur Público

A volta das orquídeas

As orquídeas nasceram de novo sobre a árvore grande, Dois cachos paridos antecipando uma feliz primavera, Pingentes naturais argolando leve o tronco permissivo. As parasitas da alma de alguém, que sonhava colorido, Alugaram a cobertura nobre num tronco de mangueira, Fregueses sazonais da natureza, aquarela programada. Na verdade elas se preparam sempre para a explosão, Ao longo do ano são mendigas, as excluídas e despidas, Agora são rainhas cortejadas pelos súditos transeuntes. Não percebem solidão, descaso, vivem só para os vivos, Para os colegas de estação que pousam um tempo curto, Na admiração da vida escassa, fixada em simples beleza.

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