C opyright © 2021 L iLy Freitas
C opyright © 2022 aLLBook editora
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AllBook Editora
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Direção Editorial
Beatriz Soares
Ana Paula Rezende Capa
One Minute Designer
Projeto Gráfico e Diagramação: Cristiane Saavedra | Saavedra Edições
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados
Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos ou estabelecimentos é mera coincidência.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
F936a Freitas, Lily
O amor do príncipe / Lily Freitas. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Allbook, 2022. 392 p.; 16 x 23 cm. (Homens dominantes ; 1)
ISBN: 978-65-80455-33-1
1. Romance brasileiro. I. Título. II. Série.
22-79183
2022
PRODUZIDO NO BRASIL. CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM
CDD: 869.3
CDU: 82-31(81)
AVISO IMPORTANTE!
NESTE
LIVRO VOCÊ VAI
ENCONTRAR
TEMAS QUE PODEM
CAUSAR
desconforto, como prostituição, tráfico de drogas, tortura, sequestro e assassinato.
Se você é sensível a esses temas não siga com a leitura, pois as cenas, em sua maioria, são descritas de maneira detalhada.
Todos os temas complexos são tratados com a devida responsabilidade que sempre tive ao longo dos meus seis anos de escrita.
E por favor, não tente comparar os acontecimentos desta história à vida real, deixe sua mente ganhar asas e apenas curta a intensa história desse príncipe fora dos padrões.
Um forte abraço.
UM POUCO SOBRE A SÉRIE...
A SÉRIE HOMENS DOMINANTES NASCEU DE UM SONHO EXTREMANTE
realista que eu tive. Todo o prólogo do primeiro livro foi o que sonhei, essa foi uma experiência inédita, uma vez que consegui captar as emoções, o cheiro que pairava no ambiente e a fúria de todos os envolvidos na cena.
Acordei às 5h da manhã, com a mente fervilhando e louca para escrever tudo o que vi no sonho. A intensidade das minhas emoções foi tão forte, que escrevi além do prólogo mais dois capítulos, mesmo sem ter montado a base estrutural do livro.
O Amor do Príncipe foi uma criação que fugiu do meu habitual, eu vivi 44 dias ao lado de Mitchell e Kimberly de maneira intensa e a história deles me consumiu inteiramente.
No meio desse caminho um personagem se destacou, Paolo Torcasio, um mafioso cruel, que em uma única cena me dominou e exigiu a sua história. Atrás dele veio Domênico Pirzzorni, o Consigliere do Paolo e Thomas Cassel, irmão do Mitchell.
Esses homens entraram com tudo na minha vida e acabaram formando um quarteto intenso, charmoso e muito dominante. Daí o nome da série, os mocinhos poderosos dominaram o coração desta autora e acabei me tornando cativa de suas histórias.
Espero que vocês se apaixonem por esta série assim como eu me apaixonei. Beijos e boa leitura.
PRÓLOGO
A FUMAÇA DENSA PAIRA NO AR, ASSIM COMO O CLIMA TENSO
entre os participantes da mesa. Tamborilo os dedos sobre a mesa, demonstrando toda a minha calma, ainda que por dentro a adrenalina pelo desenrolar da reunião estivesse borbulhando por cada miligrama do meu sangue.
Uma das vantagens de ser príncipe é aprender desde cedo a não demonstrar seus verdadeiros sentimentos. Cresci sob a tutela do meu pai e do seu Conselheiro Real. Ambos são homens frios e ensinaram-me a nunca temer o perigo, ainda que ele esteja bem na minha frente, como agora.
Percorro meus olhos por Raul Diaz, esperando pelo seu posicionamento. Ele parece querer me engolir vivo, no entanto, sabe que não pode fazer nada comigo. Não quando eu tenho guardas reais bem atrás de mim, prontos para intervirem e acabarem com os seguranças que o acompanham.
Solto uma respiração cansada, demonstrando que já estou no limite com a sua indecisão. No fundo ele sabe que deve seguir os termos que eu impus, mas sua soberba é mais forte. Eu o entendo de verdade, sei como é difícil ser encurralado, mas nesta vida precisamos entender quando não temos para onde fugir.
— Tenho um acordo de anos com o rei Martin, o que aconteceu para que houvesse essa mudança? — questiona ele, contendo sua fúria.
Não respondo de imediato, antes provo do meu uísque escocês, mirando diretamente os seus olhos. Contenho um sorriso ao percebê-lo piscar o olho esquerdo, um tique nervoso que demonstra o quanto está perto de perder o controle.
— O que aconteceu é que você mudou o acordo quando começou a oferecer produtos que não são autorizados no nosso país e seus homens andam digamos... — faço uma pausa fingindo pensar na palavra a dizer — achando que são donos das ruas de Vichi.*
Aperto os olhos em sua direção.
— No meu país, quem tem a palavra final sou eu. Ele trinca os dentes.
— Até onde sei, Vichi é de Martin, não sua.
— Rei Martin — eu o corrijo. — Você não tem autorização para ser informal com sua majestade.
Ele bufa, irritado.
Diaz bem sabe que em Vichi não temos todos os rituais protocolares iguais ao da realeza britânica. Meu pai transformou seu reinado em algo mais leve, menos burocrático. Desde que assumiu o trono, ele modernizou diversos setores do nosso país.
— Menino, eu conheço seu pai desde que fizemos faculdade juntos, temos muitas histórias nos unindo.
— A história de vocês não tem nada a ver com os protocolos reais.
Ergo meu copo pedindo mais uísque. Na verdade, eu quero apenas irritá-lo, apesar de ele ser um antigo amigo do meu pai, nunca gostei desse merda.
— Estou aqui como representante legal do rei, não esqueça que sou seu sucessor direto e sou o responsável por controlar as atividades recreativas de Vichi.
Abro um sorriso irônico, que é prontamente rechaçado por Diaz.
— Os produtos que disponibilizo a Vichi continuam sendo os mesmos.
O desgraçado tem a audácia de mentir para mim.
Um novo copo é colocado em minha mão e, prontamente, sorvo o líquido âmbar para conter minha impaciência.
— Você perdeu o controle de Ibiza e da Riviera Francesa, vai realmente deixar escapar Vichi com suas mentiras? — Eu o pressiono. — Baltez está disposto a seguir rigidamente as nossas exigências, e também a nos pagar uma porcentagem maior.
O soco que Diaz dá sobre a mesa assusta a todos, menos a mim, que não ligo para a sua ira. Ele pode espumar na minha frente, mas não será capaz de me intimidar como faz com os seus outros aliados.
— Se não fosse filho do meu amigo, eu o mataria agora mesmo apenas por falar o nome desse maldito.
— Que nome? — Ergo a sobrancelha em deboche. — Baltez? — Sorrio, quando ele pressiona as suas mãos sobre a mesa querendo avançar sobre mim.
— Calma, senhores — Allan intervém. — Podemos resolver isso de maneira pacífica, como deseja o rei. — Reviro meus olhos irritado. Allan é diplomático demais, ele sempre tenta estragar meu divertimento. A sorte dele é que somos como irmãos, se não fosse isso, teríamos sérios problemas.
— E por que seu rei não está aqui, Allan? — Diaz questiona. — Por que ele mandou esse fedelho conversar sobre nossos negócios?
— Vai se foder, Diaz! — Agora é minha vez de bater sobre a madeira maciça da mesa.
— Eu sou a porra do príncipe de Vichi e exijo respeito. — Troco um olhar furioso com ele.
— Se quer vender as merdas das suas drogas nas ruas do meu país, fará como estou falando, caso contrário darei a Baltez o monopólio da distribuição de entorpecentes.
Perco a pouca paciência que possuo.
Vichi é um reino paradisíaco europeu, banhado pelo mediterrâneo. Somos mais disputados pelos ricos e famosos do que Ibiza e Riviera Francesa. Antes do meu pai assumir o trono, éramos mais fechados, com algumas tradições arcaicas que foram abolidas. Papai começou a investir no turismo, principalmente entre os jovens e acabou entendendo que o comércio de entorpecentes era algo que dava muito lucro ao país.
Ao contrário de outros países, papai percebeu que não adiantaria fechar os olhos para o comércio de drogas que existia em nossa região, por isso ele decidiu que iria tomar conta de perto da venda de entorpecentes e atrair um número estrondoso de turistas para nossa região.
Ele conseguiu atingir o seu objetivo legalizando o uso de algumas drogas e permitindo a sua venda de maneira segura, com isso Vichi passou a ser o destino preferido da elite mundial, que encontrava em nosso território segurança para se divertir e usar drogas sem risco.
Claro que nem todas as drogas vinham de maneira legal, até porque a quantidade liberada não era algo que pudesse satisfazer aos usuários, era aí que os homens do Diaz entravam e proporcionavam o entretenimento que os consumidores desejavam.
O problema é que para a segurança dos próprios usuários, existiam certas drogas que eram proibidas, inclusive o GHB, uma droga utilizada para dopar em especial mulheres e estuprá-las.
Diaz sabia dessa proibição, ainda assim seus homens passaram a comercializar a droga e, no último mês, tivemos um estouro assustador de casos de mulheres que foram à polícia informar que foram dopadas em nossas boates.
Isso causou um burburinho entre as autoridades locais, que foram cobrar diretamente de mim uma atitude contra os homens do Diaz. Apesar dos países do bloco econômico europeu não se meterem com o que acontece dentro de nossas fronteiras, eles não podem se calar se surgir na impressa um escândalo sobre mulheres estarem sendo estupradas em Vichi. Isso acabaria causando um problema difícil de resolver e nos traria muito prejuízo, não só econômico, como também em relação ao nosso turismo.
Por isso estou aqui, para pressionar Raul Diaz pessoalmente e mostrar que não iremos tolerar qualquer quebra de acordo que pré-estabelecemos desde que fechamos a nossa parceria.
Nós não somos a monarquia mais correta do mundo, no entanto, tentamos ser a mais justa possível. Cuidamos do nosso povo e de todo cidadão que entra em nossas terras.
— Você decide o que deseja, não mudarei meus termos — sentencio a Diaz. — É pegar ou largar. Ou segue o acordo e a nova porcentagem de pagamento, ou cai fora. Não admitirei que mais nenhuma mulher seja abusada no meu país, é inaceitável algo assim.
Ele pragueja baixinho em espanhol, sabendo que não tem para onde fugir.
— Não adianta xingar, Diaz, não mudarei a proposta — finalizo minha bebida. — Ou você aceita agora, ou estou indo embora negociar com Baltez — dou meu ultimato.
Os olhos dele ardem de ódio, percebo que está se controlando para não explodir. Sustento seu olhar, demonstrando que não temo sua raiva.
— Vocês ainda se arrependerão por me confrontar — ameaça ele.
— Está deliberadamente ameaçando sua majestade real? É isso mesmo que entendi? — Inclino a cabeça para o lado o avaliando.
— Pense o que quiser. — Ele ergue-se abruptamente. — Avise que não aceito a porcentagem de sua majestade. — Os olhos dele viram uma fenda.
— Mande seu pai rever a proposta. — Ele alisa seu terno sob medida.
— Quanto ao GHB ele será banido das ruas de Vichi.
Descanso meu corpo contra a cadeira, exibindo um sorriso de canto debochado.
— Não vamos mudar a porcentagem — afirmo decidido.
— Allan, converse com Martin, você tem muito mais juízo do que esse garoto. — Faço menção de levantar, mas Allan me impede.
— Diaz, o rei não vai mudar a proposta.
— Para o bem do seu monarca, é melhor mudar, avise ao Martin que espero uma ligação dele. — Ele faz um rápido aceno com a cabeça.
— Mitchell, pode apostar que negociar comigo é muito melhor do que com aquele colombiano sujo, ele trará problemas para vocês — comenta ele antes de se virar e ir embora.
Não respondo nada, apenas observo ele e seus homens se afastarem.
Odeio esse maldito, se dependesse de mim, já o teríamos colocado para fora do jogo há muito tempo.
— Mitchell, eu não gostei dessa conversa — Allan comenta. — Nunca vi Diaz tão alterado.
Um novo copo de uísque é colocado à minha frente, degusto a bebida lentamente antes de respondê-lo.
— Ele não gosta de perder, mas nada nessa vida é como desejamos — comento tranquilo.
— Quando lidamos com homens do tipo do Diaz, precisamos ter em mente que os desejos dele podem ser a única opção. — Olho para o meu melhor amigo, que também é meu assessor especial.
— Está querendo dizer que devo recuar? — pergunto de certa maneira ofendido.
— Apenas estou querendo alertar que você deve ter cuidado, ele também tem seu próprio poder, tanto que domina o tráfico em regiões estratégicas da Europa e América do Norte.
— No meu reino ele não tem poder. — Faço um sinal para que um dos meus guardas reais se aproxime.
— Traga um pouco de diversão, precisamos relaxar.
— Só um minuto, senhor. — Ele reclina a cabeça e se afasta sabendo exatamente o que necessito.
— Esqueça Diaz, amigo, vamos aproveitar nossa noite com muito sexo e bebida. — Allan faz um sinal de desgosto, mas no final sorri.
— Você deveria levar a vida mais a sério — comenta ele em tom recriminatório.
— Eu levo meu amigo, pode apostar. — Apoio a mão em seu ombro, sorrindo.
Não estou mentindo, sou muito responsável no que estou designado a fazer por meu pai, mas isso não me impede de aproveitar a vida. Mulheres, no meu conceito, são os melhores prazeres que um homem pode ter e eu como amo uma aventura, não me privo em ter uma bela mulher na minha cama. Sou um homem livre, que gosta de uma novidade a cada dia, ao menos era isso o que eu pensava. O que eu não sabia era que o destino tinha sua própria escolha e que me faria enveredar por um caminho totalmente diferente.
CAPÍTULO 1
CAMBRIDGE, MASSACHUSETTS
Kimberly
SOLTO UMA RESPIRAÇÃO DE ALÍVIO QUANDO VEJO MINHA NOTA EM
literatura, essa era a última prova para encerrar meu período antes de entrar de férias. Estive estudando como louca para não correr risco de tirar alguma média baixa. Prezo pelo meu currículo, não admito notas menores do que um B+.
Desde criança sou exigente com minhas notas, sempre me esforcei para ser a primeira da turma e quando entrei para a universidade mantive o meu padrão.
— O que significa esse sorriso? — Levo um susto quando Thomas aparece de surpresa ao meu lado.
— Mais um desafio vencido — Ergo minha prova exibindo meu A+ para ele.
— Você é muito foda, Kim. — Ele passa o braço por meus ombros e beija o meu rosto.
— Hoje a noite é por minha conta, vamos comemorar. Não contenho o sorriso que nasce em meus lábios, a animação do Thomas é sempre revigorante.
— Promessa é dívida — digo quando começamos a andar pelo corredor lotado de alunos.
A rotina que nos une
— E quando foi que não cumpri uma promessa?
— Nunca, alteza. — Implico com ele e ganho em troca um olhar eprovador.
Thomas além de ser o meu melhor amigo, também é um príncipe no sentindo literal da palavra. Quando nos conhecemos, no início dos nossos cursos, eu fiquei incrédula quando ele revelou a sua origem.
A princípio não acreditei na sua história, achei que ele estava tentando fazer uma pegadinha comigo, mas aí vi algumas notícias na imprensa dizendo que o príncipe do paradisíaco país de Vichi, estava nos Estados Unidos para estudar em Harvard.
Apesar do seu status, tanto Thomas quanto o seu pai se esforçaram para manterem a discrição sobre a sua presença na universidade.
Claro que a procura por ele era algo bem obsessivo pelos sites de fofoca, porém Thomas manteve a discrição e, com a ajuda do serviço secreto do seu país, conseguiu manter a mídia afastada a maior parte do tempo.
Já dentro do campus ele despertou um alvoroço entre os alunos, porém com o tempo e seu jeito simpático de ser, acabou tornando-se apenas mais um estudante.
Quando tive a plena certeza de que ele era um príncipe, fiquei em choque, jamais imaginei encontrar um, na minha cabeça os monarcas não se misturavam com os pobres mortais.
De acordo com Thomas, seu pai é um rei moderno, que dispensa tradições. Eles são o oposto da monarquia inglesa, em Vichi não existem todos os protocolos da família real britânica.
— Pode parar de brincadeira? — reclama comigo por chamá-lo de alteza.
— Não tente estragar o meu dia com suas piadinhas, Miller. Eu adoro quando ele fala todo formal comigo, é bonitinho vê-lo nervoso.
— Gosto de te provocar.
O meu corpo tomba para frente quando um braço enlaça meu pescoço fazendo peso sobre mim.
— Estou oficialmente de férias, o que vamos fazer para comemorar? —
A voz animada de Stuart tremula ao meu lado.
— Thomas disse que a bebida é por conta dele.
— A sua bebida, não a desse merda. — Stuart faz cara de ofendido.
— Qual é meu brother? Você é o cara do dinheiro, precisa pagar bebida para os seus amigos.
— Não diga o que devo fazer com o meu dinheiro — a reposta do Thomas vem quando seu celular toca.
Ele enruga a testa para o aparelho quando lê a mensagem.
— Problemas?
— Meu irmão quer falar comigo. — Sua mão corre pelo seu cabelo castanho, em um claro gesto de desagrado.
— E qual o problema? — pergunto.
Até onde eu sabia, ele se dá muito bem com o irmão. Eles são extremamente ligados, eu, inclusive, sentia certa inveja da amizade deles, queria ter o mesmo tipo de relação afetiva com a minha meia-irmã.
Infelizmente a minha família não possui a mesma solidez que a dele, eu me dou melhor com os meus amigos do que com meu pai e minha irmã.
— Meu pai quer que eu volte para Vichi ainda esta semana e Mitchell está encarregado de realizar os desejos de sua majestade — diz ele, ironicamente.
Eu, mais do que ninguém, sei o quanto ele odeia toda a responsabilidade que vem com o seu título. Thomas quer ser um jovem estudante como outro qualquer, infelizmente a usa origem real, em certos momentos, o impede de ser apenas isso.
— Thomas, você vai passar as férias em um paraíso no mediterrâneo, isso é muito foda. — Stuart, se pudesse, mudava de lugar com ele, nunca vi alguém amar tanto uma mordomia.
— Prefiro mil vezes ficar aqui ou ir viajar com vocês como fazemos todos os anos, do que ir para Vichi.
Desde que veio para a América, Thomas fica em seu país apenas duas semanas das férias. Ele prefere viajar com nossos amigos a ter que ficar envolvido nos compromissos oficiais.
— Vai passar rápido. — Tento consolá-lo no instante que alcançamos seu carro. — Quando você piscar, já estará de volta para nosso último ano juntos.
— Esse é o grande problema, Kim. — O seu rosto ganha um tom triste.
— Quando eu voltar estará muito perto de nos afastarmos de vez. — Thomas captura uma mecha do meu cabelo e enrola no dedo.
— Vai ser um inferno não ter todos vocês comigo enquanto me especializo em direito, nunca me senti tão livre como me sinto quando estou ao lado de vocês.
A minha garganta fecha sempre que penso que está perto de cada um seguir sua vida sem termos mais tanto contato.
Thomas virou mais que um amigo, para mim ele é meu muro de sustentação, meu guardião, a pessoa que me consola quando tudo ao meu redor parece ruir.
— Nós sempre estaremos juntos — afirmo confiante enquanto o abraço.
— Rola uma carona? — Stuart pergunta interrompendo o nosso momento de afeto.
— Sempre rola. — Os olhos de Thomas vão para o alto. — Vai com a gente, Kim?
— Não, preciso falar com o Tony. — Nenhum dois esconde a careta, eles odeiam o Tony e eu não os julgo, ele não faz por onde ser querido por meus amigos.
— Podem parar — Ralho com ambos.
— Te pego mais tarde, Kim, aviso a hora que vou chegar, se cuida.
— Certo. — Aceno para os dois e espero que eles se afastem, seguidos logo de perto pelo carro que estava parado do outro lado da rua, fazendo a segurança de Thomas.
Realmente deve ser uma merda ter a posição dele, eu já me sinto sufocada pelo meu pai ser um advogado bem-conceituado, não gosto de pensar no peso de ter um título real nas costas.
Assim que o carro deles desaparece, caminho pelo campus até à cafeteria onde costumo encontrar Tony. Não demoro muito a localizá-lo em uma mesa, nos fundos do estabelecimento.
Eu e o Tony namoramos desde o colegial, no entanto vivemos mais separados do que juntos. Como bem diz minha amiga Clover, acostumei-me com ele e toda a loucura que envolve o nosso conturbado relacionamento.
No fundo sei que ela tem razão, mas não me sinto disposta a entrar em um novo relacionamento quando toda a minha vida está focada nos estudos. Estar com Tony não exige cobranças, ele também só pensa em se formar e não me pressiona a dedicar-me mais profundamente ao nosso namoro.
A grande verdade é que estamos confortáveis com o que temos, funciona quando não estamos brigados, como agora.
Os olhos dele captam a minha presença quando me aproximo da mesa, e pelo franzir da sua testa percebo que ele não está feliz.
— E aí? — Puxo uma cadeira e sento-me. — O que aconteceu? — Ele remexe o copo à sua frente.
— Harley. — Pela maneira que fala o nome da irmã, sei que não é boa notícia.
— O que foi que aconteceu?
— Não quero falar sobre isso. — O seu semblante demonstra cansaço. — Como foi a sua nota? Você estava apreensiva.
— Passei com a nota que eu queria — digo sorrindo.
— Um gênio, como sempre. — Fico envaidecida com o seu elogio. — Precisamos comemorar.
Imediatamente sinto meu corpo ficar tenso, quando ele souber que estarei hoje à noite com os meus amigos, entraremos em um novo problema.
Anthony morre de ciúmes do Thomas, na cabeça dele meu amigo tem interesse amoroso por mim, o que é absurdamente ridículo. Sempre fomos amigos, nunca rolou nada que me fizesse pensar ao contrário. O que ninguém sabe é que o interesse dele está em Clover.
— Hoje vou sair com o pessoal, todos passamos com boas notas e queremos brindar ao nosso sucesso. — Como esperado o rosto dele se transforma.
— Claro, esqueci que sua prioridade é a sua turma.
— Vai começar? — Encaro-o chateada.
— Quem sou eu para começar algo, nunca tenho o seu apoio quando seus amigos estão por perto.
— Anthony, quantas vezes vamos ter a mesma discussão? — É cansativo demais esse seu ciúme.
— Vai passar as férias grudada neles também? Agora que a Beth se foi, eu esperava poder te levar em algum lugar nas férias.
A menção ao nome da minha avó faz meus olhos pinicarem, ela faleceu tem pouco mais de seis meses, ainda assim não deixa de doer saber que nunca mais poderia vê-la.
— Nem sei se quero voltar para casa, pensar em lidar com Wanda e Sandy é desanimador. Ainda estou avaliando o que fazer agora que Beth se foi. — Ele segura a minha mão.
— Eu sei que dói, mas ela descansou. — Não digo nada, apenas faço um discreto gesto de cabeça.
Sei que no final da sua vida ela sofreu com o câncer agressivo, ainda assim não consigo deixar de lamentar sua ausência.
— E quanto à sua madrasta e irmã, ignore-as, não vale a pena se estressar com ambas.
— É um pouco difícil, você sabe. — Vejo a compreensão em seus olhos.
— Quando terminar de beber com seus amigos, se quiser me ligue, podemos terminar a noite juntos. — Ele acaricia as pontas dos meus dedos.
— Pela euforia dos meninos, acho que vou terminar a noite bêbada, não serei uma boa companhia.
— Você sempre é. — Esse é um dos motivos por eu gostar dele e insistir no lance estranho que temos, Tony sabe ser muito fofo e eu me derreto inteira.
— Se eu não ligar hoje, ligo amanhã e podemos passar a noite juntos.
— Combinado. — Um discreto sorriso ilumina sua boca volumosa.
— O que você vai querer comer? Pedi apenas um suco enquanto te esperava.
— O de sempre — ele assente e se levanta para ir até ao balcão fazer nossos pedidos.
Olho para o seu corpo grande enquanto ele conversa com a atendente e solto um longo suspiro. Não sei em qual momento deixei a minha vida entrar nessa rotina que nos une, a única coisa que tenho plena consciência é que está tudo errado.
Eu preciso encontrar forças para afastá-lo em definitivo do meu caminho, ele merece alguém que o ame, que seja uma verdadeira parceira e que o deseje de verdade. Faz muito tempo que meu coração não acelera por ele, não é nada justo mantê-lo preso a mim, quando eu apenas sinto-me confortável quando estou na sua presença.
Ele não merece isso, assim como eu também mereço algo que sacuda as minhas estruturas e que faça a minha vida pacata ficar mais interessante.
CAPÍTULO 2 O Convite
Kimberly
VIRO DE UMA VEZ O SHOT DE TEQUILA QUE TENHO EM MÃOS, A bebida parece rasgar minha garganta, ainda assim sorrio. Estou em um leve estado de embriaguez, sinto-me flutuar.
— E aí, quando você viaja? — Clover pergunta ao Thomas.
Desde que chegamos ao bar, evitamos falar sobre a nossa separação nas férias. Este ano cada um vai para o seu lado durante todo o verão, será a primeira vez que ficaremos tanto tempo separados desde que nos conhecemos. A rotina das nossas férias sempre foi eu passar a maior parte dela ao lado da minha avó na Califórnia. Como ela já estava em tratamento contra o câncer quando entrei na universidade, dediquei as férias de verão somente a ela. Passava apenas uma semana na casa do meu pai e isso para mim era o inferno, ainda assim Beth me obrigava a manter esse contato frio com ele.
Para o meu pai eu serei sempre a lembrança da minha mãe e tudo o que aconteceu entre eles. Por mais que ele se esforce para esquecer o passado, basta encontrar-me que vejo a dor se formar no seu olhar.
E não ajuda em nada sua nova esposa me odiar e achar que eu disputo com a filha dela o amor do meu pai. Wanda é uma egocêntrica e contamina Sandy com todo o seu rancor.
Por este motivo ficava apenas uma semana com eles e depois ia para algum lugar onde passava as duas últimas semanas na companhia dos meus três melhores amigos, antes de voltar às aulas.
Essa última parte das minhas férias era um momento especial, porque quando eu os reencontrava, já estava morrendo de saudades e doida para ouvir as histórias deles sobre as aventuras que tiveram.
Ao contrário de mim, Clover, Stuart e Thomas passavam quase um mês juntos, sempre em algum lugar diferente.
Só que desta vez Thomas tem a exigência do seu pai em ficar todo o verão em Vichi e ele está chateado por conta disso.
— Se dependesse do meu irmão, eu estaria agora mesmo em um avião — ele comenta com desgosto.
— Por que eles estão tão desesperados para que você vá embora? — Stuart parece desolado em não ter por perto seu amigo de aventura.
— São os compromissos oficiais, tenho negligenciado todos desde que vim para a América.
A grande verdade é que a vida de todos nós é recheada de problemas, cada um com a sua complexidade. Enquanto eu vou ter que enfrentar a casa da minha família, ele vai ter que ficar preso a compromissos de Estado.
— Infelizmente você não pode negar sua origem — digo após um longo suspiro. — Não podemos ter tudo o que queremos. — Por mais que eu não queira soar dramática, a minha voz não esconde a tristeza.
— Você vai conseguir vir alguns dias antes de retornarmos às aulas? Só para a gente manter a tradição de ir para algum lugar juntos? — Clover pergunta esperançosa.
— Vou fazer o possível, linda. — Ele beija o cabelo dela.
— Então, vamos beber mais um shot e torcer para o Thomas voltar antes. — Começo a encher nossos copos.
— Estamos aqui para nos divertir e, não pensar em quão fodido será ficar o nosso verão separados.
— Isso aí, Kim! — Stuart pega o seu copo. — Vai passar rápido, quando piscarmos, já estaremos de volta a Harvard.
Brindamos e mais uma vez sinto a tequila queimar dentro de mim, porém não ligo, agora só quero fugir da realidade e de tudo o que me espera nessas férias.
O teto da sala do Thomas não para de rodar, estou começando a ficar enjoada com o movimento constante dele. Coloco meu braço sobre os olhos, tentando conter a vertigem que me assola.
Depois de bebermos uma quantidade obscena no bar, terminarmos a noite no confortável e elegante apartamento dele. O bom de ser amiga de um monarca, é que você tem carona de agentes oficiais a hora que quiser.
O serviço secreto que o protege nos trouxe em segurança para casa e agora estamos completamente embriagados, deitados no tapete persa de sua sala, ainda lamentando a nossa separação.
— Estou pensando seriamente em ficar neste apartamento lindo enquanto Thomas está fora só para não dormir com minha irmã — Clover diz com a voz embolada. — Ela não consegue parar de falar nem por um minuto.
Não sei bem o motivo que me faz rir, mas quando dou por mim estou rindo histericamente, sendo acompanhada de todos eles. Quando nossa crise de riso encerra, eu respiro fundo.
— Ao menos sua irmã gosta de você, pior é a minha que me odeia.
O silêncio se estende pela sala, todos sabem o quanto sofro por não ter o amor da minha família. Quando Beth era viva tudo ficava mais calmo, mas sem a sua presença, sinto-me sozinha.
— Eu já sei — Thomas repentinamente senta e fecha os olhos com força tentando estabilizar a visão. — Vocês vão para Vichi comigo, assim eu passo pela sessão de tortura social, que meu pai vai me impor, com mais serenidade. O que acham?
Ninguém o responde, todos nós permanecemos calados. Durante o tempo que nos conhecemos, Thomas nunca nos convidou para ir ao seu país, ele sempre preferiu viajar conosco para outros lugares. Começamos a acreditar que ele não queria nos apresentar à sua família, mas não ousamos ir a fundo nesse assunto. Ouvir esse convite é inusitado, ainda que estejamos bêbados.
— E o que o seu pai acharia de três universitários plebeus na casa dele?
— Stuart é o primeiro a quebrar o silêncio.
— Ele não acharia nada, meu pai mora em uma mansão tão grande, que vocês podem passar um ano lá e ele não seria capaz de esbarrar em vocês se não quisesse.
Mesmo a minha mente não raciocinando direito, penso em como deve ser o castelo do pai dele. Já fui uma vez nas ruínas de um castelo na Inglaterra e ele era imenso, eu não conseguiria viver em um lugar assim.
— Não quero passar minhas férias em um castelo — digo com certo esforço.
— Que castelo, Kim? Está bêbada? — Thomas ri da própria piada, uma vez que bêbada não exemplifica meu estado. — Meu pai mora em uma casa imensa.
— Mas vocês são reis, deveriam morar em castelo.
— Não somos a monarquia inglesa, Miller. — Ele se debruça sobre mim. — Vou pedir que coloquem vocês próximos do meu quarto, assim podemos passar as noites bebendo, enquanto conto histórias sobre o meu país, vai ser divertido.
O seu sorriso é largo, ele está empolgado com a ideia de irmos passar as férias com ele.
— Acho que não é uma boa ideia. — Corro a ponta do dedo pelo seu nariz. — Seremos expulsos de Vichi, assim que seu pai descobrir que não temos bons modos.
Outra sessão de risos histéricos cai sobre nós, estamos bêbados demais para levar qualquer assunto a sério.
— Vou arrumar minha mala quando minha coordenação motora estiver funcionando — Stuart decreta. — Não queria voltar para casa de qualquer maneira, então será bom ter um tempo de mordomia em um castelo.
— É uma mansão, idiota — Clover o recrimina com a voz sonolenta. — Eu vou também, mas só amanhã, agora preciso dormir. — Ela vira o corpo para o lado e abraça uma almofada.
— Amanhã vou providenciar tudo e até o final da semana viajaremos para o meu paraíso particular.
Eu não respondo nada, porque estou entrando em um mundo paralelo. Porém, sei que não vou fazer parte dessa aventura, não acho uma boa ideia aparecer em um lugar onde os proprietários não estão preparados para nos receber.
Thomas certamente está movido pela bebida, amanhã quando acordarmos, ele sequer se lembrará que nos convidou.
***
— Acho tudo isso uma loucura — sussurro ao pressionar uma garrafa de água gelada na testa.
Eu não sei no que estava pensando para beber tanto ontem. Parece que a minha cabeça vai explodir a qualquer momento.
— Não tem loucura nenhuma — Thomas rebate. — Já disse que não tem problema vocês irem comigo.
— Claro que tem. — Apesar da dor, não deixo de contestá-lo. — Seus pais não estão preparados para receberem visitas de última hora, ainda por cima, três pessoas.
— Sério, Miller? — pergunta ele, sorrindo. — Por acaso você acha que minha mãe vai ter que preparar os quartos de vocês? Ou correr ao supermercado para abastecer a despensa? — Ele ergue uma sobrancelha em minha direção.
A minha cabeça dói tanto, que não consigo acompanhar seu raciocínio, muito menos a sua cara de deboche.
— Kim, a mãe dele é rainha, ela não vai precisar mexer nenhum músculo se chegarmos lá agora — Clover comenta sorrindo. — Se realmente não tiver problema eu vou, não queria mesmo ir para casa, passar minhas férias tomando conta da minha irmã e arrumando a casa.
— Também topo. — Stuart se pronuncia. — Entre ficar sozinho no apartamento dos meus pais e uma aventura num paraíso europeu, claro que eu fico com a última opção.
Todos me olham, esperando pela minha posição.
Não me sinto capaz de tomar nenhuma atitude agora, ainda me sinto embriagada, tenho medo de aceitar o convite e acabar arrependida quando minha mente voltar a funcionar.
— Continuo achando invasivo aparecermos lá de última hora — mantenho minha opinião. — Se vocês querem ir tudo bem, boa viagem.
Thomas bufa e pega o celular, ele faz uma rápida busca e toca na tela. Os olhos cor de mel dele prendem os meus e vejo o quanto está aborrecido com o meu posicionamento.
— Droga! — Pragueja ele quando retira o telefone de perto da orelha.
— Queria descobrir pra que meu pai tem um celular se ele nunca atende.
— Você vai pedir autorização ao seu pai para irmos com você? — Clover pergunta ansiosa.
— Não. — Thomas faz uma nova busca no celular. — Só quero mostrar que ele não vai se importar quando eu avisar que estarão me acompanhando.
— Ei, como está?
Pelo sorriso dele deve estar falando com seu irmão mais velho.
— Ainda não, Mitch, me dê ao menos um tempo para comemorar com meus amigos mais uma etapa conquistada na universidade.
Pelo pouco que Thomas nos conta, o irmão é extremamente envolvido com os assuntos oficiais do país deles. Mitchell assumiu desde cedo seu destino em ser o sucessor direto do rei, não sei muito sobre eles, não me interesso pela vida de celebridades.
— Tentei falar com o papai, mas como sempre ele não atende ao telefone, então decidi ligar para você e te informar de uma mudança nos planos da minha viagem.
Se existe uma coisa que aprendi desde que conheci essa criatura, é que ele é teimoso demais. Quando cisma com algo, não muda de ideia de jeito nenhum.
— Vou levar meus amigos para conhecerem o nosso país, sempre passamos as férias juntos e como este ano eu não posso fugir dos meus compromissos, quero ao menos ter minhas horas de folga com eles. — O irmão diz algo e faz Thomas rir. — Será que pode falar isso novamente no viva voz? Só assim para a Kim deixar de ser teimosa, ela é a única que acredita que vai incomodar.
Meu Deus! O que deu nesse garoto para ser tão chato?
— Fale com eles, Mitch, em especial com a cabeça-dura da Kim.
— Oi, Kim. — Uma voz profunda preenche toda a cozinha e faz os pelos da minha nuca se eriçaram.
— Oi também para o restante dos amigos do meu irmão — ele solta uma risada rouca, que causa um efeito completamente inusitado pelo meu corpo. Fico imaginando como deve ser essa risada ao pé do ouvido, sob lençóis, depois de...
Sacolejo a cabeça horrorizada com o tipo de pensamento que acabei de ter. Nunca vi o irmão do Thomas pessoalmente e estou pensando nele de uma maneira completamente inapropriada.
Que merda deu em mim?
— Vocês serão muito bem-vindos em Vichi, será uma honra ter os amigos do meu irmão na nossa casa, digo isso em nome do rei, sei o quanto ele ficará contente em receber vocês.
Clover levanta e começa a fazer uma dancinha ridícula, já Stuart soca o ar todo feliz em saber que vai ter uma viagem dos sonhos. Eu fico em
silêncio, ainda tentando assimilar a estranha sensação em ouvir a voz do irmão do Thomas.
— Ouviu, Kim? — Meu amigo me pergunta e espera a minha resposta, mas apenas dou de ombros, não me sinto em condições de falar nada agora, quando meu corpo ainda está abalado não só pela voz de Mitchell, como pelo pensamento impuro que tive por um desconhecido.
— Ela ouviu? — seu irmão pergunta com a voz descontraída.
— Ouviu, mas acho que ainda está bêbada e não consegue falar muito.
— Você deveria ser mais responsável e não deixar uma dama de ressaca, isso é um ato falho, irmão. — Os dois dividem uma risada, claramente Mitchell está implicando com Thomas.
— Vá a merda! — Ele ralha. — Prepare tudo para a viagem, acredito que em três dias estaremos prontos. — Arregalo os olhos com o prazo tão curto.
— Ótimo, me avise quando virão, já vou deixar a aeronave oficial de sobreaviso, buscamos vocês a hora que quiserem.
— Perfeito, nos falamos em breve — ele encerra a ligação. — Então pessoal, vamos nos mover para voarmos o quanto antes para Vichi, estou ansioso para mostrar cada parte do meu país a vocês.
— Meu Deus eu vou conhecer um rei e uma rainha — Clover diz encantada. — Se um dia alguém me dissesse que eu estaria no meio da monarquia europeia eu teria uma crise de risos.
— Na verdade, eu estou prestes a ter uma crise de risos agora mesmo
— Stuart fala, segundos antes de iniciar uma gargalhada constrangedora.
— Vocês são loucos. — Não consigo acreditar que tenho amigos tão sem noção.
Kim, você vai com a gente, né? — Os olhos de Thomas estão ansiosos, aguardando meu posicionamento.
— Thomas, como nós vamos viajar em três dias? E nossos vistos? Precisamos avisar nossas famílias, quem sabe até visitá-los e tem nossa bagagem, precisamos...
— Não precisam de nada. — Ele toca a minha mão. — Deixe tudo por minha conta, leve apenas itens necessários, em Vichi vocês compram o que precisarem e sobre a família de vocês, avisem que estarão comigo, se quiserem vocês voltam antes de mim e finalizam as férias com eles.
Difícil rebatê-lo quando ele já tem tudo organizado, sei que ele não vai desistir de me levar junto e quer saber? Eu vou. Ninguém da minha família
vai lamentar a minha ausência nas férias, na verdade, eles ficarão aliviados em não ter a minha presença.
— Certo. — Por fim concordo. — Vamos arrumar nossas malas Clover, não podemos perder tempo.
— Isso aí, menina. — Ela se anima esquecendo completamente da nossa ressaca.
Espero não estar cometendo um equívoco, porque se esse rei não gostar da gente eu não tenho grana para voltar de última hora para casa e, Deus me livre ter que pedir algo ao meu pai, seria a minha ruína se algo assim acontecesse.