Estrada para lugar nenhum - Primeiros Capítulos

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TRADUÇÃO: DÉBORA ISIDORO

1ª EDIÇÃO RIO DE JANEIRO

Copyright © 2016. road to Nowhere by M. robiNsoN

Copyright da tradução © 2020 allbook editora

Direção Editorial

Beatriz Soares

Tradução

Débora Isidoro

Preparação e Revisão

Gabriela Peres

Capa

Flavio Francisco

Modelo

Marshall Perrin

Fotografia de capa

Wander Aguiar

Projeto Gráfico e Diagramação

Cristiane Saavedra | Saavedra Edições

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Ficha elaborada por: Vanessa Mafra Xavier Salgado CRB-7/6644

R556e Robinson, M.

1.ed. Estrada para lugar nenhum : viva e morra por aqui... / M. Robinson ; tradução Débora Isidoro. - 1. ed. - Rio de Janeiro : AllBook, 2020.

304 p.; 16 x 23 cm.

Tradução de: Road to nowhere Continua com: Tudo termina aqui ISBN: 978-65-80455-24-9

1. Ficção americana. I. Isidoro, Débora. II. Título. III. Série.

20-62404

CDD 813

CDU: 82-3(73)

2020 PRODUZIDO NO BRASIL. CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM

Para todos os meus leitores e meus VIPS!

Obrigada por me deixarem fazer o que amo todos os dias da minha vida. Isso não seria possível sem vocês!

Amo vocês!!!

Chefe: Palavras não são capazes de descrever o quanto eu te amo. Obrigada por ser SEMPRE meu melhor amigo. Eu não conseguiria sem você.

Pai: Obrigada por sempre me mostrar o que é trabalho duro e o que se pode conquistar com ele. Por sempre me dizer que posso fazer qualquer coisa a que me dedicar.

Mãe: Obrigada por SEMPRE me apoiar incondicionalmente. Você é minha melhor amiga.

Julissa Rios: Te amo e tenho orgulho de você. Obrigada por ser um pé no saco e por ser minha irmã. Sei que posso contar com você sempre que precisar.

Ysabelle & Gianna: Amo vocês, meus bebês.

Rebecca Marie: OBRIGADA por uma capa INCRÍVEL. Eu não saberia o que fazer sem você e sua fabulosa criatividade.

Heather Moss: Obrigada por tudo que você faz! Não sei o que eu faria sem você! Você. É. A. Melhor. Secretária. Que. Existe!! NUNCA vai me abandonar! BJ

Silla Webb: Muito obrigada por suas edições e formatação! Amei tudo isso e amo você!

Erin Noelle: Obrigada por tudo!

Michelle Tan: Melhor beta de todas! Argie Sokoli: Eu não teria conseguido sem você. Você é minha pessoa preferida. Tammy McGowan: Obrigada por todo apoio, feedback e errinhos que encontra! Fico feliz por ter

feito você chorar. Michele Henderson McMullen: Te amo, amo, amo!! Dee

Montoya: Nossa amizade é mais importante que qualquer coisa. Obrigada por ser sempre honesta. Rebeka Christine Perales: Você sempre me faz sorrir.

Alison Evan-Maxwell: Obrigada por vir na última hora e resolver tudo. Mary

Jo Toth: Seus erros são sempre ótimos! Obrigada por tudo que você faz na VIP! Ella Gram: Você é uma pessoa muito doce e surpreendente! Obrigada por sua bondade. Kimmie Lewis: Sua amizade significa tudo para mim.

Tricia Bartley: Seus comentários e opiniões sempre me fazem sorrir! Kristi

Lynn: Obrigada por toda sua honestidade e por se juntar à equipe M. Pam

Batchelor: Obrigada por todas as sugestões. Jenn Hazen: Obrigada por tudo!

Laura Hansen: Eu. Te. Amo. Patti Correa: Você é incrível! Obrigada por tudo! Jennifer Pon: Obrigada por todo feedback e sugestões! Você é incrível!

Michelle Kubik Follis: Bem-vinda de volta! Também senti saudade! Deborah

E Shipuleski: Obrigada por todo feedback honesto rápido! Kaye Blanchard: Obrigada por querer participar da equipe M! Beth Morton Conley: Obrigada por tudo! KR Nadelson: Te amo! Bri Partin: Obrigada por tudo que você faz! Mary Grzeszak: Obrigada por todas as informações militares! Você é incrível! Patti McDaniel Adams: Obrigada por todas as informações sobre membros de um motoclube! Você é demais! Danielle Stewart: Obrigada por vir depois da hora e ajudar! Mel LuvstooRead: Muito obrigada por tudo!

Você ajudou muito! Lily Garcia: Te amo! Allison East: Obrigada!

Michael Joseph: Obrigada por todo o conhecimento militar e sobre motoclubes!

Wander Aguiar: Muito obrigada pela sessão de fotos e por ser incrível.

Marshall Perrin: Obrigada pela incrível foto de capa! Você fez o Creed perfeito.

A todos os companheiros autores

Jettie Woodruff: Você me completa.

Erin Noelle: Eu. Te. Amo!

Para todos os blogueiros: um enorme obrigada por todo amor e apoio que vocês têm me dado. Fiz amizades incríveis com vocês e as guardo com carinho. Sei que sem vocês eu não seria nada! Não tenho como agradecer! Agradecimentos especiais a Like A Boss Book Promotions por receberem minhas tours!

Por último, mas não menos importante. VOCÊS.

Meus leitores.

OBRIGADA!!

Sem vocês...

Eu não seria nada.

Creed

MIA RYDER.

Mia Ryder, porra.

Estava sentado no trilho do trem. Tentando desesperadamente não pensar nela, mas era mais fácil falar do que fazer. Ela entrou na minha vida como um furacão, destruindo tudo que encontrava no caminho. Uma garota do lado direito dos trilhos, que por alguma razão eu não conseguia compreender nem por um cacete.

E se apaixonou por um homem como eu.

Eu havia cometido erros, erros demais até para contar, porra, mas na vida não tem como voltar atrás. Tudo que me restava era aceitar esses erros, aceitar até com entusiasmo. Eles se tornaram parte de mim, tanto quanto todas as tatuagens que cobriam meu corpo. Cada uma delas significava alguma coisa para mim. Eram minhas cicatrizes de batalha. Muito piores que aquelas que ganhei na guerra. Do ponto de vista dos outros, eram só arte colorida, complexa.

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Mas para mim...

Eram meu consolo e minha dor.

Nada havia mudado desde a última vez que morei nesta porra de cidade esquecida por Deus. Não teve festa de boas-vindas da família ou dos amigos, nem agradecimentos ou desfiles dos habitantes da cidade pelo serviço prestado ao nosso país.

Nada.

Porra nenhuma.

Tudo que fiz foi por minha família, pelo motoclube, por ela...

Lutei por meus irmãos, cacete.

Lutei pela porcaria do meu país.

Lutei por minha garota.

Nunca percebi...

Que podia morrer por eles também, porra.

Do pó viemos, ao pó retornaremos, essa merda toda. Uma vez li que todo guerreiro esperava ter uma boa morte. Eu estava sempre procurando a minha, mas nem mesmo a Ceifadora me queria. Pensei que lutar por alguma coisa em que acreditava faria de mim um bom homem.

No fim, isso nunca teve importância. Eu estaria sempre do lado errado dos trilhos, e eles sempre me levariam à estação errada. Mudar as pessoas, lugares e coisas ao longo dos anos não ajudou a mudar o resultado das escolhas que eu havia feito. Das coisas que havia feito.

No fim das contas...

Eu já estava pregado na cruz.

Nasci pregado nela.

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Creed

— ISSO AÍ NÃO VAI SE CHUPAR SOZINHO, GATA — FALEI COM cara de predador, olhando a loira peituda da cabeça aos pés.

Era uma vadia nova no clube, com um corpo de deixar qualquer um maluco: peitos grandes, bunda em forma de coração e uma porra de uma maquiagem exagerada na cara tímida. Estava me comendo com os olhos desde que apareceu no clube, alguns dias antes. Nunca fui muito de me meter com as garotas que apareciam por ali e pulavam de pau em pau, mas isso não queria dizer que não deixava uma ou outra me chupar. Depois do dia que tive, porra, eu merecia.

— Aqui? Na sua moto? — ela perguntou, acanhada, enquanto olhava em volta. Tentando fingir que nunca tinha feito isso antes.

Estávamos atrás de uma fileira de árvores no terreno do clube. Meu canto da rapidinha, e único lugar onde eu podia ir de moto. Meu pai tinha me dado uma Harley Davidson Sportster novinha de presente de aniversário quase dois anos antes, quando fiz dezesseis. Aposto que ele não pagou pela

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moto, mas não ia reclamar, já que era uma moto irada. Instalei todos os acessórios na cor preta fosca, para-lamas, assento e tanque de combustível com o logo do clube pintado nele. E ainda tinha o motor incrível e o sistema de escapamento, visível nas laterais. Um guidão encurtado e um farol enorme completavam aquela máquina fodona.

Era quase impossível ver o prédio do clube à distância, o que significava que ninguém conseguia nos ver. Não que eu ligasse para isso.

— Você disse que queria sair.

— Não, gata. — Dei uma risada. — Eu disse que alguma coisa ia “sair” da minha calça para você. — E apontei para o meu pau.

Ela arregalou os olhos. Escuros e dilatados. Mordeu a boca vermelha que eu queria muito sentir no meu pau.

— Mas entendo que tenha se confundido — acrescentei sarcástico, agarrando uma mecha de cabelo platinado.

O lugar das mulheres na vida de um m.c., o integrante de um motoclube, era sempre em segundo plano. O clube vinha em primeiro lugar. Todos tínhamos os mesmos princípios, honra, respeito e fraternidade. Uma família feita de filhos da mãe implacáveis até os ossos. Todos comandados pelo filho da puta mais desonesto que o mundo já conheceu.

Meu pai.

Ele era o Pres* do primeiro grupo, o Devil’s Rejects, em Southport, Carolina do Norte. O primeiro grupo estabelecido, o que fazia dele o chefão fodido dos m.c. Embora cada grupo abaixo desse tivesse um presidente próprio, as filiais não podiam tomar decisões executivas sem a aprovação do presidente da sede. Receber uma visita dele era coisa que só podia acabar em morte. Ele só interferia se fosse muito desacatado ou se tivessem jogado merda no ventilador de um jeito bem catastrófico.

Com exceção disso, as filiais faziam o que bem entendessem, era uma porra de uma casa da mãe Joana. Todo mundo achava que meu velho não errava, mas a verdade era que isso era tudo o que ele fazia. Os bolsos dos policiais eram recheados com dinheiro sujo para que fingissem não ver todas

* Presidente.

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as nossas atividades ilegais. Aonde quer que fôssemos, todo mundo olhava para o outro lado e saía da frente. Devil’s Rejects era conhecido por todos, espalhado pela comunidade, pela nação, até pelo país.

Todos os lugares.

Nosso único inimigo era a lei.

Ela sorriu, pendeu a cabeça para o lado, lambeu os lábios carnudos bem devagar enquanto segurava a frente do meu colete. Provocante, deslizou os dedos por ele sem nunca desviar os olhos cheios de pecado dos meus.

— Creed — murmurei, porque queria ouvir meu nome saindo daquela boca.

— Eu sei que seu nome é Creed. O meu é...

— Não interessa, não é?

Ela arqueou uma sobrancelha, depois baixou os olhos para o tecido grosso do meu jaco.

Nossos coletes de couro preto, ou jacos, como a gente os chamava, eram a marca do m.c., a assinatura que todo mundo reconhecia, especialmente mulheres e pessoas comuns. Eram a identificação de cada filial, quem éramos e o que defendíamos. Nas costas havia as cores do clube, uma pin-up tatuada com cara de fodona, peitos grandes e orelhas e rabo de diabo. Montada em uma chopper customizada, segurando um crânio com chamas saindo dos olhos em uma das mãos e um rifle AK-47 na outra. Acima do logo havia uma faixa vermelha em formato de crescente com a inscrição “Devil’s Rejects” em letras pretas. Abaixo do logo, outra faixa em formato crescente com Southport, NC bordado nela.

Na frente, do lado esquerdo, o colete tinha uma aplicação “um por cento” que usávamos com orgulho, uma indicação de que éramos fora da lei. Não havia regras a seguir, exceto em relação aos clube e aos nossos irmãos. A porra da lei tinha se tornado obsoleta. O Devil’s Rejects existia desde os anos 1940 e tinha provado sua lealdade ao mundo dos m.c. Havia rapidamente se tornado um dos clubes mais temidos na sociedade. Um dos poucos selecionados que podiam ostentar o título de “um por cento”. Éramos motoqueiros durões que não excluíam nada, nem mesmo assassinato, para provar nosso valor. Motoqueiros cheios de honra.

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Eu tinha visto a brutalidade em primeira mão. Não era uma imagem bonita. Neandertais do cacete que não levavam desaforo para casa, não sem retribuir. Nada acontecia em Southport sem nosso conhecimento ou controle.

Nada mesmo.

Os jacos eram nosso santo graal.

Os dedos dela deslizaram pela parte da frente do colete, passaram por cima do bordado “MC” que só os verdadeiros motoclubes exibiam. Nenhum motoqueiro de Harley Davidson usa essa identificação, porque, vamos combinar, são só uns frouxos pagando de motoqueiros em cima de motos caras, gente que nunca aceita sujar as mãos.

— Onde estão os outros bordados, Creed? — ela ronronou. — Todos os outros motoqueiros têm uma data embaixo desse bordado de MC. Ainda não serviu por tempo suficiente?

Estreitei os olhos para ela, ficando mais irritado a cada segundo. Nunca fui de ficar de papo furado.

— Você não fala muito, não é?

Apontei para o “Potencial” bordado do lado direito do colete, onde meu nome e posto estariam assim que eu completasse dezoito anos. O couro preto era uma tela em branco, por ora, mas com o tempo seria coberto de bordados aleatórios, todos representando o que eu tinha feito e o que faria pelo clube e pelos irmãos.

Por enquanto, eu ocupava uma posição na base da cadeia, esperando meu dia chegar. Não podia reclamar muito, porém, porque ser filho do Presidente tinha suas vantagens. Respeito era uma delas. Qualquer um que atravessasse meu caminho, teria que enfrentar o velho também. Uma sentença de morte que ninguém queria receber.

Passei os últimos dezessete anos da minha vida vendo como ele comandava com mão de ferro, destruindo o que muitos Jameson tinham construído antes deles. Meu futuro foi definido no dia em que meus pais descobriram que eu tinha um pinto. Eu seguiria a longa linhagem masculina da família, e um dia seria o Presidente.

Mas agora, era só mais um porra de membro em potencial fazendo servicinhos de merda que não queria fazer. Ficava disponível o tempo todo,

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fosse para cavar uma porra de sepultura, sujar as mãos de várias maneiras, ou ir buscar comida para os filhos da mãe preguiçosos. Já tinha visto e feito mais merda de que qualquer mãe jamais se orgulharia, mas isso nunca teve importância. Fui jogado aos lobos mais vezes do que podia contar, só para ver se eu conseguiria sair vivo. E saí vivo todas as vezes, sempre com um sorriso no rosto e tão durão quanto o resto da irmandade.

Sempre provando meu valor para o clube, mas, acima de tudo, para o meu pai. Ele simplesmente não permitia que eu dedicasse minha vida a outra coisa. Queria que eu desse meu sangue pela causa. Mantinha todas as merdas que eu tinha feito como uma espada sobre minha cabeça. E me lembrava que, caso algum dia eu saísse da linha, seria muito fácil, para ele, usar toda a influência que tinha para me fazer voltar ao lugar onde eu tinha que estar. Obedecendo novamente a ele, o Presidente; suas regras, sua autoridade, sua palavra final. Em breve, eu teria meu bordado de irmão, querendo ou não.

Não era um estilo de vida. Era um meio de vida.

O único que eu conhecia.

Pus a mão em sua nuca, segurei firme e a puxei para mim sem sair de onde estava, em cima da moto. A súbita mudança de atitude a surpreendeu. Paciência nunca foi uma das minhas virtudes. Era uma característica Jameson que corria em meu sangue. Eu determinava quem, o que, quando e onde na vida.

E quem não concordasse, podia ir se foder.

Resumindo, eu vivia e respirava por minha mãe e meus irmãos mais novos, Luke, catorze anos, e Noah, onze. Todo o resto, para mim, era só um meio para um fim.

— Eu...

— Shhh... — Eu a silenciei com o dedo indicador e aproximei minha boca da dela. Sua respiração ficou mais acelerada, meu hálito atacou seus sentidos. — A única coisa que quero dessa boca — falei antes do selinho — é senti-la no meu pau — continuei, enfatizando as últimas palavras com o polegar dentro de sua boca carnuda.

Ela o chupou como uma profissional, enquanto as mãos ansiosas abriam a fivela do meu cinto.

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— Boa menina — elogiei, tirando meu dedo com um ruído molhado e puxando sua cabeça para mais perto. — Agora, pega meu pau — gemi em sua orelha, e senti a pele ficar mais quente embaixo da minha mão. Ela obedeceu com mãos trêmulas, sem desviar os olhos dos meus.

Eu nem sabia a porra do nome dela. E nem queria saber. Essas garotas não me interessavam. Além do mais, nunca fui bom com nomes.

— Alisa. Mais forte — ordenei, e fui beijando o pescoço e descendo até os peitos, que agora estavam à mostra.

— Assim? — ela murmurou.

Gemi, segurei seus seios e enfiei o rosto neles.

— Isso, gata. Assim mesmo — gemi de novo, agora em seu peito. Puxei sua cabeça para trás pelo cabelo e a empurrei para o chão. Só parei de empurrar quando a pus de joelhos na minha frente. Ela soltou meu pau de repente quando eu o segurei, massageando para cima e para baixo bem na frente de seu rosto.

A garota olhou para mim com os olhos pesados, louca para sentir meu gosto. Continuei me alisando até ela enfiar a cabeça do meu pau naquela boca gulosa. Depois foi descendo devagar, me engolindo inteiro, centímetro por centímetro.

— Mais fundo — exigi, agarrando uma mecha de cabelo. Senti que tocava o fundo de sua garganta e ouvi o som que ela fez ao sufocar, mas a mão continuava me alisando. Sem dificuldade, ela logo encontrou um ritmo que me fez pender a cabeça para trás e entreabrir a boca.

Mas os olhos continuavam fixos nela, vendo a garota chupar meu pau como se tivesse que provar alguma coisa. Uma das mãos acompanhava os movimentos da boca, enquanto a outra acariciava minhas bolas no mesmo ritmo. Minha respiração ficou ofegante, alimentando a necessidade de mover o quadril acompanhando os movimentos da cabeça dela. Só queria assumir o controle e foder na cara dela.

— Vou gozar — grunhi.

Não era um babaca completo. Pelo menos avisei antes.

Ela tentou tirar meu pau da boca, mas eu a segurei pela parte de trás da cabeça e a empurrei para frente. Projetei o quadril para frente pela última

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vez e gozei no fundo de sua garganta. Aliviado, puxei o pau daquela boca com um estalo alto.

— Engole — ordenei, autoritário.

Ela me olhou por entre os cílios e obedeceu à ordem. Limpou os cantos da boca e tentou ajeitar o batom vermelho, que agora pintava todo meu pau. Guardei o pau na calça e fechei o cinto, enquanto ela levantava, deslizando o corpo no meu de forma sedutora, mirando minha boca.

Recuei.

— Se quisesse sentir o gosto da minha porra, eu lamberia sua cara, gatinha. Tem um pouco bem aqui. — Apontei o lugar no canto da minha boca.

Ela se afastou, furiosa.

— Vai se foder!

Sorri e me afastei.

— Não, valeu. Tenho critérios para esse posto, e você não serve, benzinho.

— Seu bab...

— Creed! — Ouvi a voz de Luke ecoando em meio às árvores. — Está aí fora?

Acelerei a moto algumas vezes, me preparando para ir embora.

— Qual é? Vai me deixar aqui? — Ela bateu o pé como uma criança de três anos, o que me fez lembrar por que eu nunca ficava por perto depois de esvaziar as bolas.

— Use as pernas para alguma outra coisa que não seja abri-las — debochei grosseiro, e arranquei com a moto, enquanto ela ficava para trás gritando algumas coisas. Subi pela trilha que desembocava na clareira e fui encontrar Luke, que estava sorrindo quando me aproximei.

Ele balançou a cabeça.

— Outra? É a terceira, e hoje ainda é sexta-feira — gritou, porque era o único jeito de ser ouvido com o barulho da moto.

— Cuida da sua vida, irmãozinho.

Ele revirou os olhos e chutou umas pedrinhas do chão.

— O que está fazendo aqui? Saiu da escola agora? Cadê a mãe? — perguntei, parando a moto na frente dele. Usei a ponta do coturno preto para abaixar o descanso lateral.

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Eu também devia ter ido à escola, mas tinha passado o dia todo em cima da moto, preparando tudo para a reunião do motoclube. Já estava atrasado em várias matérias, porque faltava muito. Eu me recusava a ficar sentado naquele inferno, ouvindo um bando de professores dizer o que eu tinha que fazer com a minha vida. Não era como se eu precisasse estudar para garantir meu futuro.

— Ela está lá dentro com o papai, os dois estão cuidando dos negócios.

Dei risada e apontei para a sede do clube.

— Christa está lá dentro. Ele não vai gostar de saber que ela apareceu sem ser convidada de novo.

— E quando é que ele fica feliz?

Dei risada, porque ele estava certo.

Christa era uma das principais trepadas do meu pai. Mais uma vadia que mal tinha desmamado. Eu já tinha visto meu pai trepando com tantas piranhas do clube que até perdi as contas. O filho da mãe nunca fez questão de esconder que enfiava o pau em qualquer vagabunda que abrisse as pernas para ele. Eu não conseguia pensar em uma época em que ele não estivesse traindo minha mãe, e que ela não chorasse até cair no sono por causa das infidelidades do marido. Era de se esperar que, depois de tantas traições, ela acordasse para vida e largasse meu pai. Mas não, ela continuava ao lado dele, agindo como se não houvesse nada de errado, dando mais filhos ao cara. Provavelmente, torcendo para que isso fosse suficiente para provar sua lealdade a ele e ao clube.

O que era uma bela merda, se quer saber minha opinião. Ou ela só queria lembrar a todo mundo que ainda era a mulher dele. Mas as esposas não eram convidadas para ir à sede, exceto quando havia alguma grande festa, quando elas eram necessárias na cozinha, que era o lugar delas, e cozinhavam para os membros. Nesses dias, o espaço era liberado para todo mundo. A regra liberava os irmãos da preocupação com brigas que pudessem acontecer por terem molhado o pau em uma boceta que não era a da esposa deles. Se as senhoras achavam que seus homens mantinham o pau dentro das calças, mereciam ser enganadas pela burrice. Minha mãe já sabia o que meu pai fazia, não era nenhum segredo. Ele estava pouco se

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lixando para os sentimentos dela em relação a isso; sabia que ela perderia muito, se o abandonasse.

Desliguei o motor da moto e peguei o maço de cigarros no bolso da frente do colete. Encaixei o bastão cheio de nicotina entre os lábios, acendi e soprei a fumaça para cima, longe de Luke. Ele odiava o cheiro de cigarro, me atormentava havia anos com essa história de como eu estava me matando lentamente a cada tragada, essas bobagens. Recentemente ele havia desistido, reconhecendo que essa era uma causa perdida. Fumar era meu vício, me tornei dependente da nicotina que me acalmava.

Era o refúgio da tempestade de merda em que eu vivia.

Fui exposto a isso durante minha vida toda, todo mundo à minha volta fumava um cigarro atrás do outro. Dei a primeira tragada aos onze anos, e pouco depois disso, fumei o primeiro baseado com os irmãos. Não era tão grave, eu podia ter me metido em coisa bem pior. Drogas e álcool faziam parte da minha rotina, tanto quanto as mulheres. Meu corpo já estava coberto de tinta.

Só mais um vício.

— Qual é? — perguntei, e deixei o cigarro no canto da boca.

— Bom... eu meio que... tipo... — começou, atrapalhando-se com as palavras enquanto movia os pés no chão. Olhava para todos os lugares, menos para mim.

— Desenrola, Luke.

Ele respirou fundo, finalmente olhou para mim e falou:

— Preciso de um conselho.

Inclinei a cabeça, curioso.

— É sobre... tipo... a vida, essas coisas...

— Boceta? — perguntei com as sobrancelhas erguidas, indo direto ao ponto.

— Deixa para lá. Esquece.

De repente ele virou para se afastar de mim, mas eu não ia deixar meu irmão escapar tão fácil. Desci da moto e o segurei pelo braço.

— Não, espera. Fala logo.

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Luke virou e me encarou.

— Como sabe que quero falar sobre uma garota?

Soltei o braço dele e sorri.

— Sempre é sobre uma garota. Está comendo ou quer comer?

— Eu tenho uma garota, Creed.

— Você tem um pau, Luke. É isso que tem. Para de enrolar e fala logo qual é o conselho, se não é alguma coisa sobre se deve ou não comer a menina. E é melhor comer daquele jeito — declarei, fazendo um gesto para indicar que ele tinha que usar camisinha.

— É... sim... eu sei...

— Você vai fazer quinze anos. Suas bolas vão descer a qualquer momento.

— É que... tipo... quando você...

— Onze. Acordei no meio da noite com meu pau dentro daquela boca. Depois que ela sentou em mim, durou uns vinte segundos. — Dei risada, lembrando que já fui o cara de uma bombada só.

— Ela era...

— Não sei dizer como era, estava escuro. O pai queria ter certeza de que o primogênito ia gostar de boceta tanto quanto ele gosta, queria ter certeza de que não estava criando um gay.

Ele recuou, surpreso com a revelação. Foram exatamente essas palavras que meu pai usou na manhã seguinte. Lembrei a ele que eu só tinha onze anos, o que me rendeu um tapa na cara. E um sermão, porque eu devia estar grato pelo que ele tinha me proporcionado, em vez de criticar.

Afastei a lembrança.

— Tudo bem, Luke. Não foi violência, eu fiquei a fim. — Ri. — Sabe que vou ser sempre honesto com você. Não vou dourar a pílula, não tenho tempo nem paciência para isso. Tive que aprender as coisas do jeito mais difícil, não quero isso para você. Tudo que faço é pela mãe, por você e por Noah. Não se esqueça disso nunca.

Estamos todos nessa vida por um bom tempo, e temos que lidar com a porra da sorte. Não era culpa de Luke ou Noah. Eles não pediram para nascer neste mundo fodido, como eu também não pedi. Eu morreria por

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meus irmãos mais novos, e uma parte minha ainda alimentava a esperança de que eles não precisariam levar essa vida para sempre. No fundo, eu sabia que era um grande idiota, como minha mãe. Ela se agarrava à ideia de um marido e pai melhor, enquanto eu me agarrava à ideia de uma vida melhor.

Meu pai morreria fazendo os filhos seguirem seus passos. De um jeito ou de outro, não tínhamos poder algum sobre nosso destino. Ele já estava traçado para nós.

Especialmente o meu.

— Eu sei. Só... gosto dela de verdade, sabe? Não quero estragar tudo.

— Está dizendo que a conversa não é sobre boceta, é sobre amor? — Ri, desconfortável.

Ele assentiu e enfiou as mãos nos bolsos, esperando alguma coisa que eu não sabia o que era.

Passei por ele e fui sentar em cima da velha mesa de madeira no fundo da sede do clube. Com os cotovelos apoiados nos joelhos, bati a cinza do cigarro na grama.

Estava me esforçando muito para pensar em algum conselho. Pensando em todas as comédias românticas a que minha mãe assistia com inveja. Sempre a mesma merda: garoto conhece garota, garoto pede garota em casamento, e eles vivem felizes para sempre com três filhos, um cachorro e uma cerquinha branca. Um monte de bobagem que não era a vida real, mas tinha que ter alguma coisa que eu pudesse tirar da bunda para dizer a ele.

— Olha, Luke... acho que não sou a melhor pessoa para dar conselhos amorosos. Amor é... bom, amor é foda... — Dei de ombros e puxei mais uma tragada do cigarro, sem saber o que dizer.

O ronco de motores de moto ecoou de repente à nossa volta, vindo da frente da sede do motoclube. Logo o lugar estaria apinhado com a elite da elite, e eu teria que entrar a qualquer segundo.

— Tudo bem, vai nessa. Sei que tem obrigações com o pai e o clube — disse e suspirou, desapontado. Tinha visto eu girar o relógio no pulso.

Ignorei a sugestão.

— Gosta dela? Tipo, quer namorar e ver o que acontece, é isso?

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— É — respondeu meu irmão sem rodeios, e sentou-se na mesa ao meu lado. — Ela é diferente, Creed. Não é como as garotas daqui, isso é certo — contou enquanto massageava a nuca. Tentava agir como um homem, mas ainda era um menino.

Acho que nunca vou conseguir parar de ver meus irmãos mais novos como minha responsabilidade. Tem sido assim desde o dia em que eles nasceram. Minha mãe não era ruim, mas já tinha muita coisa com que se preocupar. E no fim, ela só não sabia o que fazer. Criar três meninos não era fácil, e meu pai não ajudava em nada. Tudo que ela fez foi se apaixonar pelo cara errado e engravidar cedo. Desde que cheguei, ela tentava crescer. Mas amava todos nós e tentava demonstrar afeto sempre, compensando a falta de carinho do meu pai.

Ele não dava a mínima para nada que não fosse o motor clube.

— Ela acabou de se mudar para cá, veio de Dallas, Texas — Luke informou, interrompendo minha reflexão. Dei mais uma tragada no cigarro, depois bati as cinzas na minha frente. — O pai dela trabalha com vendas. Ganha muito dinheiro. Ela usa roupas legais todos os dias, tem cabelo castanho e comprido, olhos azuis e um cheiro delicioso. Sorri e olhei para ele, vi seu rosto se iluminar quando falava da garota. Seria mentira se eu dissesse que não estava orgulhoso por ele querer jogar limpo com ela. Era bom saber que nossa criação não tinha distorcido sua opinião sobre as mulheres e o amor, como fez comigo.

— Enfim, a gente tem saído depois da escola. Ainda não teve beijo. Então, lembrei que você tem muita experiência com as mulheres e... talvez possa me dar algum conselho. E queria perguntar se pode me levar até a casa dela amanhã à noite, depois deixar a gente no cinema. Eu podia pedir para a mãe, mas...

— Ela te faria passar muita vergonha. — Demos risada, porque era verdade. — Deixe-me ver se entendi. Não quer só trepar com ela, quer brincar de casinha. É isso?

Ele se inclinou para frente, pendeu a cabeça para o lado e assentiu.

— Está se sentindo bem? — Estendi a mão e toquei a testa dele. Meu irmão pulou de cima da mesa e se afastou de mim. — Você sabe que é um Jameson, não sabe?

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— Vai se foder! Deixa para lá. Esqueça que eu falei alguma coisa. Eu me viro sozinho, seu otário. — Ele empurrou meu ombro, e minha reação foi imediata. Gemi de dor e agarrei a articulação, tentando impedir a dor latejante.

— Ah, que inferno, não aguenta uma piada, irmãozinho? Vê se cresce — provoquei, rindo.

— O que aconteceu? — Ele tentou tocar meu ombro. Afastou minha mão, o colete e a camiseta. — Por que está com esse curativo no ombro?

— Luke, não é nada.

— Bobagem. Levou um tiro? Para onde o pai tem mandado você...

Eu o empurrei.

— Não preciso de babá, Luke. Está tudo bem. Sério — garanti, e levantei três dedos no ar. — Palavra de escoteiro.

— Desde quando você é escoteiro?

— Desde quando comi uma escoteirinha. Agora, volte aqui com essa bunda magra e termine o que estava dizendo.

Ele riu, embora ainda estivesse preocupado, e sentou-se ao meu lado.

— Ela sabe que você está a fim dela? — perguntei, mudando de assunto.

— Acho que sabe.

— Então vai fundo, Luke. Se gosta dela, demonstre. Trate a garota com respeito. É isso aí. Pense e aja com o cérebro e o coração. — Levei a mão ao peito. — Em vez do pau. — E cutuquei seu ombro. — Sacou?

Ele respirou fundo, pensando no que ia dizer. Estudei meu irmão com atenção.

— Também quero dar isto aqui para ela. O que acha? — Luke tirou uma corrente do pescoço.

Eu sabia exatamente a que ele se referia antes de ver. Meu pai deu a cada filho uma medalha de São Columbano, o padroeiro dos motociclistas, quando nascemos. A medalha ficava em uma corrente de prata. Servia para nos manter seguros, protegidos, e significava a vida em que nascemos.

A vida de m.c.

O verso de cada medalha era gravado com a data de nascimento do proprietário e as palavras “Moto ou Morte”. Quando éramos bebês, minha

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mãe prendia a medalha no macacão, mas quando crescemos, passamos a usá-la pendurada no pescoço.

— Luke, acho que não...

— Ah, você está aí, seu bosta. — A voz do meu pai retumbou da porta de tela no fundo do clube, interrompendo minha resposta. — Ficou surdo? Não ouviu as motos chegando? Entra logo, antes que eu me arrependa de ter deixado você participar.

— Pai, a culpa foi minha — Luke falou.

— Não. — Levantei a mão para silenciar meu irmão.

— Eu deixei você falar? Você é exatamente como a porcaria da sua mãe, sempre falando quando tem que ficar quieto. É fraco e imprestável, assim como ela. — Ele saiu, desceu os três degraus, agarrou Luke pela camisa e o puxou de cima da mesa. A corrente escapou da mão dele e caiu na terra à minha frente. — Vou ter que te dar outra lição, menino?

Vi Luke fechando as mãos. Com o rosto vermelho, ele começou a abrir a boca para dizer alguma coisa de que ia se arrepender.

— Você é um babaca — Luke resmungou.

— Como é que é? — Meu pai o puxou para perto do rosto.

Levantei e apaguei o cigarro na madeira. Imediatamente, puxei Luke pelo braço e o tirei do alcance do meu pai. Dei um passo para me colocar entre os dois e empurrei Luke para trás de mim.

— Ele não tem culpa. Fui eu. Não vai mais acontecer — disse, tentando manter a calma. — Luke, vai embora. — Virei e o empurrei.

— Vai, menino, deixa de ser franguinho. Fala mais alto, o que foi que disse? — meu pai provocou, sentindo necessidade de extravasar a agressividade em alguém.

Normalmente eu.

Lancei um olhar sério para Luke, tentando avisar que era melhor ficar de boca fechada. A última coisa que eu queria era trocar socos com nosso pai, mas não hesitaria, se ele levantasse a mão para meus irmãos ou minha mãe na minha frente. Acho que ele sabia que não devia ultrapassar esse limite comigo. Por isso nunca agrediu nenhum deles na minha presença, o que não o impedia de expressar a fúria com os punhos, mesmo assim.

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— Nada, senhor — Luke respondeu, entendendo meu aviso silencioso.

— Agora, sai daqui. Os homens de verdade têm coisas importantes para resolver. Quando tiver duas bolas, vai poder brincar também — ele provocou, querendo ter a última palavra.

Meu pai viu Luke andar na direção do carro de nossa mãe, onde ela o esperava com uma expressão de sofrimento e pesar. As coisas sempre ficavam piores quando ela tentava defender os filhos; a raiva do meu pai só se voltava contra ela. Ele ficava furioso e alegava que ela nos criava para ser um bando de molengas, quando ele só estava tentando nos transformar em homens.

Abaixei e peguei a corrente de Luke. Guardei-a no bolso antes que meu pai visse. Não podia esquecer de devolvê-la mais tarde para meu irmão.

Ele acenou com a cabeça para mim.

— Entra. — Depois, virou e subiu a escada dos fundos.

— Obrigada, querido — minha mãe falou depois que ele entrou, chamando minha atenção.

Sorri e acenei. Olhei para Noah, que estava sentado no banco do passageiro balançando a cabeça. Ela beijou o rosto de Luke e cochichou alguma coisa em seu ouvido.

Respirei fundo. Olhei para a única coisa que era realmente importante para mim.

Minha família.

Depois que os vi ir embora, olhei novamente para a sede do clube. O Presidente tinha convocado a Igreja, e eu não estava falando sobre aquela capela onde as pessoas se sentam para rezar para o senhor no céu, pedindo perdão por seus pecados.

Porque Deus não nos queria.

E o Inferno nos cuspiria para fora.

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ROBINSON
M.

Creed

ENTREI NO VELHO GALPÃO DE MÁQUINAS QUE HAVIA SIDO transformado em sede do clube décadas atrás. O prédio dilapidado ficava no meio do nada, na periferia da cidade, cercado por acres de campos abertos. Era uma organização autônoma, governada pelas próprias leis. O exterior era pintado de preto, com um enorme mural ostentando o logo do motoclube na frente do galpão. Sobre a grande porta de aço ficava a placa do clube com a inscrição “Devil’s Rejects m.c., Southport, NC”.

O prédio também abrigava vários apartamentos tipo loft, onde os membros trepavam com as vagabundas que estavam sempre por ali, ou que usavam para dormir, de vez em quando. Alguns membros até moravam ali. As putas eram maioria no m.c., e trepavam com qualquer irmão a qualquer hora. Às vezes, recebíamos garotas que estavam só de passagem pela cidade, procurando um bad boy e uma boa trepada. Elas sabiam que ali encontrariam as duas coisas. Algumas eram legais, tinham passado por dificuldades na vida, só isso, e encontraram abrigo nessa porra de lugar. A maioria delas,

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no entanto, vivia pulando de pau em pau, torcendo para um dos irmãos ser idiota o bastante para fazer delas sua mulher, um dia.

— Fica com essa porra de boca fechada, ouviu bem? — Meu pai ameaçou com um tom que eu conhecia bem. Ele estava parado ao meu lado, em frente à porta.

— Vai me deixar entrar? — perguntei, inclinando a cabeça para o lado e me referindo à reunião.

— Depois do que fez hoje pelo clube... Você merece. — Ele bateu nas minhas costas. — Logo vai fazer dezoito, não teremos mais problemas. Vai conquistar seu lugar de direito. Do meu lado, filho. Bem do meu lado — ele afirmou com orgulho.

Eu só assenti.

Assumi meu lugar ao lado da porta, vigiando a entrada e confiscando armas e celulares antes de os convidados entrarem; uma ação necessária, quando gente de fora comparecia aos eventos. Todos os irmãos identificados pelos patches ocuparam seus lugares em torno da mesa retangular e comprida, onde irmãos se sentavam à direita, e convidados, à esquerda. Meu pai sempre ocupava a ponta da mesa com o martelinho à mão. Normalmente, essas reuniões, a Igreja, como as chamávamos, eram sempre iguais.

Ao lado dele estava o vice-presidente, Striker, que fazia parte do m.c. havia mais de duas décadas. Ele era mais que o braço direito de meu pai. Os dois eram como irmãos de sangue, tinham crescido juntos. Eu cresci com o filho dele, mas não ia muito com a cara do filho da mãe. Pessoalmente, sempre achei essa amizade uma bela merda.

E tinha o Diesel, que passou de nômade a Sargento de Armas. Nômades eram os Ceifadores, eles trabalhavam para o clube e matavam qualquer um que a gente dissesse que tinha que desaparecer, matavam sem pensar duas vezes e sem pedir explicações. Ele me levou à minha primeira boate de strip quando eu tinha catorze anos, e até me pagou uma lap dance com final feliz de uma jovem morena de boca carnuda, bunda gostosa e boceta apertada. Era o irmão de quem eu mais era próximo.

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Abaixo dele vinha Stone, o Secretário. Viera da filial do Arizona e estava com a gente desde o ano passado. Tenho certeza de que meu pai o incumbiu de “comprar minha moto”. Tinha vinte e poucos anos e nunca falava muito, mas quando falava, fazia a gente morrer de rir. Era o filho da puta mais engraçado que já conheci. Fazia piadas nas horas mais impróprias. Gostava de mulher quase tanto quanto de fazer as pessoas rirem. As mulheres eram atraídas por seu senso de humor.

Por último, mas não menos importante, tinha Phoenix, o tesoureiro do Devil’s Rejects. Contava nosso dinheiro, e também controlava nossas drogas. Foi esse drogado que me tatuou pela primeira vez, quando eu tinha dez anos de idade, e depois fiz várias outras tatuagens com ele. Parei de contá-las alguns anos atrás. Era difícil negar, porque ele oferecia o tempo todo. Era um artista chapado, passava a maior parte do tempo drogado, mas isso só o fazia melhor no que fazia.

As reuniões mensais restritas aos irmãos com patches eram menos formais, comparadas àquelas que contavam com a presença de pessoas de fora. Meu pai preferia que a Igreja com os parceiros comerciais acontecesse em nosso território, para poder continuar no controle. Caso desse alguma merda, o que acontecia de vez em quando, os irmãos trocavam tiros por cima da mesa. Não só andavam armados, como também havia armas presas sob a mesa quando eles chegavam.

Ninguém mais entrava armado, além dos irmãos.

Ninguém.

— Termine aqui, faltam só mais alguns dos que estamos esperando. A reunião vai começar em quinze minutos, tranque a artilharia e entre. Fique no fundo, preste atenção e boca fechada, ouviu bem?

Assenti novamente, mas não estava ouvindo nada do que ele dizia; estava prestando atenção às armas que recolhia. Ele entrou na sala de reuniões, e quando eu me preparava para fechar a porta, vi uma limusine preta de vidros escuros estacionar na frente da tela de segurança sobre a porta. Não precisei adivinhar quem era, sabia quem estava atrás do vidro escuro. O motorista desceu e abriu a porta de trás, por onde saíram vários homens, inclusive um alto, com cabelo bem preto e pele bronzeada. A confirmação do que eu já sabia.

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Um gângster corrupto da cidade de Nova York, alguém que era temido por todos que já haviam cruzado seu caminho. Era chamado de El Diablo, ou alguma merda assim. Eu não gostava dele. Jamais gostei. Mas era o único homem que fazia meu pai se acovardar, o que, provavelmente, devia significar alguma coisa para mim.

Não significava.

Ele aparecia sem aviso prévio de tempos em tempos. Saía da limusine usando seus malditos ternos chiques e sapatos de grife. Nenhum fio de cabelo fora do lugar. Sempre cercado por vários guarda-costas. Todos armados e prontos para matar ou morrer por ele. Eu não conseguia nem imaginar por que meu velho tinha medo dele. Para mim, o cara parecia um covarde escondido atrás de um terno caro e de seus homens. Meu pai não conseguia entender que Martinez trabalhava para nós, não o contrário. O m.c. era seu fornecedor de armas e algumas drogas.

Ele precisava de nós. Simples assim.

O homem abotoou o paletó, cobrindo as armas que levava presas ao corpo, e acenou para que os homens ficassem parados onde estavam, como se fossem cachorros obedientes.

— Olha aí, se não é Creed Jameson — Martinez anunciou ao passar pela porta de aço. — Da última vez que te vi, ainda mamava nas tetas da sua mãe. — Parou, me olhando da cabeça aos pés com ar condescendente.

— Belas tetas, se me lembro bem — provocou, e parou na minha frente, as mãos nos bolsos da calça social. O rosto transbordava arrogância. — Sabe quem eu sou, filho?

Não hesitei. Não dava a mínima para quem ele era. Ninguém entrava no meu território desrespeitando minha mãe.

— Não sou seu filho. — Contraí a mandíbula e cruzei os braços, olhando-o de cima a baixo.

Eu estaria mentindo se dissesse que sua compleição física sólida, evidente por trás do terno, não me impressionava um pouco. Tínhamos a mesma altura, 1,90 m, ambos de ombros largos e robustos. Mas eu tinha a porra da

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juventude do meu lado. Martinez devia ter quase cinquenta anos, mas ainda tinha aquele rosto de menino bonito.

— Sei exatamente quem você é — falei sem recuar. Expressando minha opinião. — Um fracote que se esconde atrás de ternos caros. Os capangas também chupam seu pau?

Ele deixou escapar uma risada rouca e jogou a cabeça para trás.

— Você tem bolas de ferro, filho — debochou, tentando passar por mim e batendo no meu ombro. Estendi o braço saudável na frente de seu peito. Impedi a passagem do homem antes que ele alcançasse a porta.

— Vai ter que entregar todas as armas — falei, olhando para ele. — Inclusive essa Glock presa na sua perna.

— Que gracinha. — Ele sorriu. — Nem fodendo, merdinha. Já vou entrar sem meus homens. Não vou entregar minhas armas, muito menos para um merdinha cabeça-dura que ainda nem tem bolas direito. Quer me enfrentar? Posso meter uma bala em uma dessas bolas. — Ele aproximou o rosto do meu.

Não vacilei, agarrei as lapelas de seu paletó e, com o olhar fixo no dele, respondi:

— Leia a placa, filho da mãe. Nenhuma arma além desse ponto. Ou respeita meu clube, ou caí fora, porra. — Sorrindo, larguei suas lapelas e alisei os amassados que tinha deixado nelas. — Vamos começar de novo. Entregue as armas — repeti com um tom pretensioso.

— Que porra é essa? — gritou meu pai, passando pela porta como um furacão e parando ao se ver diante de Martinez.

— Estou decepcionado, Jameson. Devia dar um pouco de educação ao seu garoto. Ou eu mesmo ensino? — rosnou Martinez, então levantou uma sobrancelha e levou a mão à parte interna do paletó.

Meu pai olhou para mim, depois para ele de novo.

— Sugiro que diga para esse fedelho calar a porra da boca e me deixar passar. Sou seu chefe. Ou entro armado, ou não entro.

— Peço desculpas pelo comportamento do meu filho. Esqueci de avisar que você é a única exceção. Não vai acontecer de novo.

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— Não vai mesmo. Se acontecer, ele não vai sobreviver para contar a história — Martinez ameaçou, encarando-me com um olhar faiscante.

Meu pai também olhou para mim.

— Creed, sai da frente, garoto. Martinez é convidado aqui no clube. Ele não precisa deixar as armas.

Pendi o corpo para trás.

— Está tirando uma com a minha cara? — reagi, pego de surpresa pelo anúncio.

— Creed! Chega! Eu falo com você depois. Martinez, entre, já vamos começar. — E apontou para a porta.

Martinez parou, bateu com o ombro no meu e me fez encolher de dor. Mas eu não saí do lugar, continuei ereto e resisti ao impulso de empurrar o cara contra a parede e detonar aquele rostinho de menino bonito. Furioso, meu velho foi atrás dele, lançando-me um olhar ameaçador.

Recuei e meneei a cabeça, surpreso com o que tinha acontecido ali. Tranquei o armário com as armas e fui atrás deles, fechando a porta depois de passar por ela. Ocupei minha posição perto da parede oposta, de onde podia ficar de olho no filho da mãe.

Martinez riu como um tonto quando me viu, reclinando-se em sua cadeira. Com um tornozelo apoiado sobre a perna, desabotoou o paletó para mostrar a todos na sala que continuava armado. Aquilo alimentou minha raiva.

Ele pôs a mão sobre a mesa.

— Desde quando crianças podem participar das reuniões? — provocou.

— Desde que velhos como você...

Meu pai pigarreou, chamando a atenção do visitante. Se um olhar pudesse matar, nesse momento eu estaria caído em uma poça de sangue.

Resignado, fechei a boca, embora tivesse muito mais a dizer.

O martelinho bateu três vezes na mesa, anunciando que a Igreja entrava em sessão. Todos os presentes se calaram e olharam para o Presidente. Era a primeira vez que eu tinha permissão para entrar na Igreja com outros associados presentes, e assisti fascinado ao meu pai ocupar o centro do palco.

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Sua atitude expressava domínio e controle, retratando a imagem perfeita do líder destemido, poderoso e invejado a que ele se agarrava com tanto desespero.

Quanto mais velho eu ficava, mais minha mãe adorava me lembrar de como eu era parecido com ele. Desde os olhos cinzentos e fundos, passando pelo rosto estreito, as maçãs do rosto proeminentes, o queixo quadrado e o nariz pontudo, até a personalidade teimosa, obstinada. O corte de cabelo, sempre longo em cima e raspado nas laterais, me lembrava um corte militar. Mas a cabeça do meu pai era salpicada de fios grisalhos. Nós dois éramos altos, esguios e muito tatuados. Ele me fez começar a malhar assim que minha voz começou a engrossar, e eu o acompanhava bem nos treinos. Meu pai me ensinou a atirar com qualquer arma, de pistolas a rifles de repetição, acertando alvos a setenta metros desde que eu tinha catorze anos.

— Vamos evitar os rodeios e tratar do problema de uma vez por todas. Surgiram desentendimentos nas últimas semanas, o que nos levou a descobrir que um grupo chamado Sinner’s Rejoice entrou em nosso território. Querem roubar nossos negócios, nossas mulheres, e agem como se fossem do nosso grupo. Chegam a usar nosso nome. — Ele fez uma pausa, olhando em volta até encontrar Striker. — Sabe alguma coisa sobre isso, por acaso?

Todo mundo olhou para Striker, nosso vp * e, provavelmente, o filho da puta mais sórdido do Devil’s Rejects.

Ele se levantou, ajeitou as bolas, enfiou mais tabaco na boca e respondeu:

— Não ouvi merda nenhuma, Pres, mas é só falar quem tenho que procurar, e o filho da puta vai estar no chão antes de o sol nascer.

A risada de meu pai ecoou pela sala.

— Vou ter que discordar, fodão.

Alguém diminuiu a iluminação, e uma foto iluminou a parede atrás do meu pai. Não precisei olhar para as imagens para saber o que eram. Tinha passado as últimas semanas colado no rabo dele, justamente tirando essas fotos. E era por isso que meu velho estava tão orgulhoso de mim.

— E aí, Striker, que porra acha que está fazendo nessas fotos? Porque com certeza não está vendendo biscoitos das Escoteiras, não mesmo.

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* Vice presidente.

— Não é o que parece, Pres — ele reagiu, olhando para as imagens em que aparecia conversando com membros da gangue rival.

— Ah, não é? E essa aqui? Também não é o que parece?

Outra foto apareceu na parede, e nela Striker entregava a um daqueles homens um dispositivo de armazenamento usb. Foto após foto, as evidências acumuladas iam, aos poucos, derrubando um membro de confiança.

Striker levantou as mãos em um gesto de rendição.

— Não, não, não, isso é um mal-entendido. Eu... eu... eu... Meu pai ficou em pé.

— Você o quê? Deu informações ao inimigo? Traiu cada pessoa desta sala? O que, Striker? — E se afastou da mesa, andando em minha direção.

— Para mim, é exatamente isso que parece. E agora, não é só um traidor. Está se comportando como um covarde de merda.

De repente ele deu um soco na mesa, e ninguém pulou. Só Striker.

— Vou contar até três, é o tempo que tem para falar a verdade — meu pai avisou sem tirar o punho da mesa. — Um... — começou em voz baixa, tranquila.

— Eu... eu... — Striker gaguejou, passando as mãos pelos cabelos grisalhos enquanto tentava achar as palavras.

— Dois...

— Pres, por favor, não é o que parece. Somos irmãos! Amo você. Amo essa porra de clube. Por favor, você é minha família! Eu... eu...

Olhei para Striker, depois para meu pai. Um silêncio sinistro dominava a sala. A calmaria antes da tempestade.

Ele encarou Striker, inclinou a cabeça para um lado e murmurou:

— Três. — Antes mesmo de terminar de pronunciar a palavra, puxou a semiautomática que estava embaixo da mesa e a apontou diretamente para a cabeça de Striker. — Bang, bang, bang, filho da puta! — A voz do meu pai retumbou, seguida por uma gargalhada profunda. — Fiz você tremer, não fiz?

Striker abaixou as mãos e as colocou no peito, rindo com meu velho.

— Não vou mentir... Por um segundo você me enganou, mesmo, seu babaca.

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Meu pai girou a arma pendurada no indicador algumas vezes, parando cada vez que o cano apontava para Striker, como em um jogo de roleta-russa. Durante todo o tempo, ele o olhava de um jeito ameaçador.

— Pensando bem...

A arma disparou e o tiro acertou o ombro de Striker. Depois a virilha, a centímetros do pau, fazendo o corpo estremecer com os impactos inesperados. Suas costas bateram com força na parede, e ele caiu no chão gemendo de dor. Uma das mãos segurava o ombro, a outra apertava a perna. O sangue escorria entre os dedos.

Eu não sabia o que era pior: ninguém na sala ter sequer piscado, ou eu não ter piscado. Ninguém ali estava chocado com as atitudes do meu pai. Ninguém se surpreendia com as consequências de traição. Mas, mais que tudo, ninguém se impressionava com a imagem de um homem sangrando diante de nós.

Quatro passos calculados, e meu pai estava ao lado dele, agachando-se lentamente perto do corpo ferido. Chegou bem perto de seu rosto, mantendo a arma a centímetros do coração de Striker.

— Tem um cigarro? — ele perguntou do nada.

Striker apoiou a cabeça na parede, e um filete de sangue escorreu do canto da boca cheia de tabaco. Como se soubesse qual era seu destino e a única coisa que restasse fosse aceitá-lo. Eu sempre soube que meu pai não era um homem que alguém ia querer desafiar, Striker também sabia disso. Eu queria que tudo isso fosse um grande mal-entendido. Por mais que pensasse que ele era um filho da puta pilantra, ele amava meu pai e o clube. Havia provado sua lealdade muitas vezes.

— Não, por quê? — Strike gritou.

Meu pai abriu um sorriso diabólico e aproximou o rosto do dele.

— Porque gosto de fumar um cigarro depois que me fodem.

— Pres, eu não...

Ele empurrou o cano da arma contra o peito de Striker.

— Shhh... economize fôlego para o diabo, todo mundo aqui sabe que você vai para o inferno. — E chegou mais perto, fazendo o sinal da cruz

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enquanto murmurava: — Do pó viemos, ao pó retornaremos. E toda essa merda. — E puxou o gatilho.

Um tiro certeiro.

Matou o melhor amigo sem piscar. Mas dessa vez minhas mãos estavam sujas de sangue. Eu forneci a evidência, vendi a alma dele ao Pres, e assinei sua sentença de morte em poucas horas. Meu pai pode ter puxado o gatilho, mas ele nunca o teria matado.

Não fosse por mim.

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