Enzo - Primeiros Capítulos

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Enzo

Autora best-seller da Amazon

PALOMA MAZZON

1ª EDIÇÃO – 2022 RIO DE JANEIRO
LIVRO
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Copyright © 2022 paloma mazzon

Copyright © 2022 allBook Editora

Preparação e Revisão

Clara Taveira, Raphael Pelosi Pellegrini e AllBook Editora

Direção Editorial

Beatriz Soares

Capa

Flavio Francisco

Projeto Gráfico e Diagramação: Cristiane | Saavedra Edições

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados

Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos ou estabelecimentos é mera coincidência.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439

M429e

Mazzon, Paloma

Enzo / Paloma Mazzon. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Allbook, 2022. 120 p.; 23 cm. (Irmãos Lazzari ; 3)

Sequência de: Giovanni

Continua com: Alessa

ISBN: 978-65-80455-50-8

1. Romance brasileiro. I. Título. II. Série.

22-81250

CDD: 869.3

CDU: 82-31(81)

2022 PRODUZIDO NO BRASIL. CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM
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PRÓLOGO

Há uma mulHer, bem no centro do jardim, berrando ordens para todos os lados. Pessoas correm de um lado para o outro, homens carregando grandes jarros com flores brancas, enquanto algumas mulheres levam utensílios de mesa, louças ou até mesmo mais arranjos de flores, só que menores, claro.

Estão preparando um casamento.

Eu não faço ideia de quem são os noivos. A única coisa que sei é que mamãe me ligou ontem avisando que um avião particular da empresa do seu novo marido estava indo para Londres me buscar, para que eu viesse. Juntando isso e a forma apressada com que as pessoas estão circulando e gritando, concluo que se trata de um casamento de última hora.

O lado bom é que eu não precisei enlouquecer atrás de um bom vestido, pois assim que entrei no quarto reservado para mim, na mansão Lazzari, estendido sobre a grande cama king size estava um vestido azul-celeste, de alças finas, longo, com as costas nuas e uma única fenda do lado direito. Perto dele, há os acessórios, uma pulseira e brincos de diamantes e, claro, uma sandália de salto alto na cor prata. Além disso, eu também poderei encontrar minha mãe, que não vejo há um ano. Sem contar a comida. Ela está maravilhosa.

O lado ruim é que estou sendo obrigada a ficar fora do hospital por dois dias inteiros. Para quem está estagiando, é como se fossem dois anos sem fazer aquilo que você mais gosta de fazer na vida.

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Quase sem perceber, começo a balançar a perna cruzada enquanto observo a agitação lá fora no jardim, sentada em uma das banquetas da grande ilha da cozinha. Eu enfio minha colher de sobremesa na delícia de abacaxi e a levo à boca. Em seguida, viro a colher para baixo para lamber o que restou. Faço isso algumas vezes, distraída, rindo, quando alguém tropeça em seus próprios pés na correria. Eu até chego a desejar que alguém pelo menos se corte para que eu possa fazer alguma coisa que envolva cuidados médicos.

Egoísta e muito horrível da minha parte, eu sei, mas estou sem pegar em um bisturi há mais de doze horas. É como estar num inferno, pelo amor de Deus!

— Cara, eu não gosto de ternos, sabe disso. Dois caras, um aparenta ter uns vinte e dois anos e o outro, pouco mais de dezessete, entram na cozinha. Eles são bonitos e lembram o marido da minha mãe. Hetor tem três filhos, então esses devem ser dois deles. Ninguém nota minha presença, então fico feliz. Não sou muito sociável e fico confortável assim.

O que parece ser mais velho vai até a geladeira e retira uma garrafinha de água.

— Você vai usar um, Lucca — ele diz, sua voz é tão boa de ouvir, baixa, rouca, com um toque de coisas indecentes… Seus lábios repuxam levemente de lado, num sorriso cínico. Com a boca da garrafa quase encostando os lábios avermelhados, ele completa: — Se você quer mesmo ser um arquiteto em breve, terá que se acostumar com ternos e gravatas. — Então começa a beber a água.

Eu acompanho, hipnotizada, cada movimento que seu pomo-de-adão faz, para cima e para baixo, seus olhos, incrivelmente e azuis estão olhando de forma divertida para o mais novo, Lucca.

Ele é lindo. Alto, cabelos desgrenhados, olhos azuis, sorriso de matar, voz de molhar minha calcinha… Ele parece ter saído de um livro de romance erótico. Lucca bufa, revirando os olhos, tão bonito quanto o possível irmão, só que mais novo.

— Acredite em mim, Enzo, eu nunca usarei isso por livre e espontânea vontade — ele garante.

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O nome dele é Enzo.

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Bonito nome. Não tão bonito como o dono, mas, ainda assim, . Um nome fácil de gemer.

Enzo ri, tampando a garrafa e devolvendo para a geladeira.

— Claro, se você diz.

, que voz!

Eu me remexo o mais silenciosamente que consigo, sentindo minha calcinha ensopando cada vez mais enquanto meus olhos continuam sobre ele.

Será que é bom na cama?

Bom, eu não sei, mas eu gostaria de saber. Quem sabe um dia, certo? Para minha surpresa, ele se vira para mim. Quer dizer, não , mas na minha direção. E abre um sorriso aliviado.

— Aqui está ela! — ele diz, começando a se aproximar. Meu coração dispara, engulo em seco, me sinto sufocada por sua beleza.

Ele sorri para mim.

— Você pode pegar essa caixinha atrás de você? — ele me pergunta. Eu levo um tempo para entender as palavras que saíram de seus lábios bonitos. Eu sacudo a cabeça antes de responder.

— Ah… É… Claro. — Desajeitada, alcanço uma pequena caixinha de veludo, vermelha, atrás de mim, e entrego a ele.

— Obrigado. — Ele acena com a cabeça para mim e se vira para Lucca. — Raquel me mataria se perdesse.

— Então guarde-a. — Lucca sorri, zombando. Ele olha para mim e sorri quando Enzo sai da cozinha. — Você deve ser Juliet, não é?

Abro a boca para responder, mas ainda estou muito afetada pela beleza do seu irmão, então fecho e apenas faço que sim.

— Bom, sou Lucca, e aquele idiota que estava aqui é o Enzo — ele se apresenta, com um sorriso bonito no rosto. — Também tem o Giovanni, que você logo vai conhecer. Helena fala muito de você.

Eu sorrio abertamente, mas ainda não respondo.

— Então, Juliet — Ele se inclina sobre a ilha, me olhando seriamente.

— Alguma dica para escapar do terno e gravata?

Ergo uma sobrancelha, divertida.

— Que tal você usá-la durante a cerimônia, e assim que a festa começar, você retira a gravata, tira o terno e desabotoa alguns botões da camisa?

É sexy.

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Os olhos azuis, em um tom mais escuro que os de Enzo, se arregalam com minha ideia. Ele ri, genuinamente aprovando a sugestão e aponta para mim quando diz:

— Eu gostei de você, garota! — Então sai correndo para fora da cozinha, me deixando sozinha, com seu irmão na cabeça.

O vestido, como eu imaginava, cai bem no meu corpo magro. Nem preciso vesti-lo para saber. Mamãe sempre foi boa em comprar roupas para mim, nem precisava me fazer experimentá-las. A fenda do lado direito mostra bem minha perna, e eu me pergunto se Enzo vai notá-la. Aos vinte anos, apesar de não ter realmente seios bem evidentes, de tão pequenos que eles são, optei por usar adesivos, pois imaginei que assim que pusesse meus olhos sobre o enteado da minha mãe, os mamilos apareceriam sob o tecido fino.

Eu paro diante do espelho, no quarto de hóspedes, e me pergunto se alguma vez eu já estive pensando em um cara como eu estou pensando em Enzo. O que é insano, já que eu o vi apenas uma vez em toda minha vida. Eu tive alguns namorados na adolescência, fiquei com outros quando comecei a faculdade, mas mesmo estando com eles o tempo todo, nunca tive uma reação dessas a eles, como a que estou experienciando com cara. Sorrio radiante para minha imagem no espelho.

O jardim da mansão está lindo, repleto de flores brancas e pessoas elegantes. Aparentemente, a elite do país inteiro está presente hoje, o que prova que Hetor Lazzari é um grande homem, com um nome poderoso.

Mamãe me coloca na primeira fila assim que chego ao local. Com os olhos castanhos, da mesma cor dos meus, brilhando, ela suspira:

— Você está tão linda, querida… — E toca meu rosto, levemente maquiado por uma maquiadora profissional. — Estou feliz que esteja aqui hoje. Estava com saudades. É uma pena que você já esteja de partida amanhã, nem teremos um tempo juntas.

Pego sua mão e beijo a palma pálida com carinho.

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— Teremos outra chance, mamãe. Por agora, eu também estou feliz por ver você.

Eu não falei essa parte em voz alta, mas tenho a consciência de que ela não vai demorar a descobrir.

Minha mãe sempre descobre.

— Bem, olha, lá vem o noivo! — ela diz, com orgulho na voz.

Eu sigo seu olhar, e posso sentir meu coração seguindo todo o caminho até o chão.

Não. Não, não, não! Eu não me apaixonei por um cara que vai se casar! Enzo está perfeito em um smoking feito sob medida. O cabelo está arrumado, penteado para trás, de uma forma sexy. Ele abre seu sorriso perfeito enquanto caminha entre amigos e parentes, agradecendo toda vez que alguém lhe parabeniza. Até seu andar é confiante, apesar de ele parecer um pouco tenso.

Ninguém pode culpá-lo por isso, certo? É seu casamento, afinal. Todo mundo em seu lugar ficaria tenso.

Instintivamente, sinto vontade de chorar. Eu não me lembro de me sentir daquela forma quando botei meus olhos sobre ele. Foi apenas uma vez, mas eu já estava fantasiando sobre o momento em que ele me veria nesse vestido bonito. Eu até soltei o cabelo e deixei que me maquiassem, e eu quase nunca faço isso.

Quando ele se aproxima, não me olha, mas sorri para minha mãe.

— Então, como eu pareço agora? — ele pergunta, abrindo os braços para que ela o veja por inteiro.

Eu perco o fôlego quando olho para os olhos dele.

Mamãe toca seu rosto com carinho, da mesma forma que faz comigo.

— Você parece um homem, querido — ela diz para ele. — Um homem bom e bonito.

E eu dou tudo de mim para não gemer na frente deles.

é uma palavra muito pequena para descrever a beleza dele, mamãe.

Ele sorri amplamente para minha mãe, devolvendo seu carinho, quando um de seus amigos enrosca um braço em volta do seu pescoço, pedindo licença para minha mãe, arrastando Enzo para longe.

— Espera um pouco, cara. Você vai me desarrumar todo — Enzo reclama, mas está sorrindo, se divertindo. Toda a tensão se foi nesse momento.

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Mas não a minha. Eu me sento em meu lugar e aperto as mãos. Oh, Deus. Eu estou atraída por um cara que está prestes a se casar. E todos parecem muito felizes com isso.

está muito feliz com isso. Ele deve amá-la de verdade para casar aos vinte e dois anos, eu acho. Não sei ao certo sua idade. Isso ou ele engravidou a garota e os pais dela o obrigaram a se casar. Mas, nesse caso, ele não sorriria dessa forma.

A cerimônia segue, a noiva faz uma entrada triunfal, em um belo e deslumbrante vestido branco, provavelmente mais caro que qualquer outra coisa nesse lugar. E ela é linda. Tão linda quanto ele. Tem longos cabelos castanhos, olhos castanho-claros e grandes, um sorriso largo, e as maçãs de suas bochechas saltam quando ela sorri. O decote do vestido mostra claramente que seus seios são fartos, ao contrário dos meus, tão minúsculos, que duvido que alguém os chame de . Eles formam o casal perfeito: lindos, educados e ricos.

Quando o juiz declara que o noivo pode beijar a noiva, eu perco um pedacinho do coração. Tento desviar o olhar, mas estou tão hipnotizada com a forma como ele olha para ela: como se ela fosse a mulher mais linda no mundo inteiro.

E ela, de fato, é.

No momento em que eles separaram os lábios, ela olha em minha direção e sorri tão largo, que suas maçãs saltam coradas.

Eu sorrio fracamente de volta, porque não sou capaz de esconder meu coração partido. É ridículo, porque acabei de conhecê-lo, mas não é assim que acontece o tal “amor à primeira vista”? Você o vê, seus olhos se encontram, e então você está apaixonada pelo restante da sua vida, mesmo se casando com outra pessoa e tendo vários filhos?

E esse é o meu fim.

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CAPÍTULO 1

Juliet

consertar corações e salvar vidas. É o que eu costumo fazer. É o meu trabalho.

Eu conserto corações de pessoas que vêm até mim para que eu dê um jeito nelas. E eu faço com a maior facilidade. Para mim, pegar um coração nas mãos, costurá-lo, trocá-lo ou até mesmo ressecar tumores dentro de caixas torácicas é como um pintar um desenho infantil.

Mas só quando estou cuidando dos outros. Comigo é diferente. Eu não consegui evitar que meu próprio coração fosse se quebrando aos poucos cada vez que eu me lembrava ao longo de oito anos.

Eu mergulhei nos estudos, me concentrei em ser uma das melhores cirurgiãs cardiotorácicas da Inglaterra. Em seguida, subi no ranking e fiquei em décimo primeiro lugar entre as melhores e mais procuradas cirurgiãs cardíacas do mundo, com apenas vinte e oito anos, depois de realizar um estudo sobre congelamento de corações. Eu namorei, quer dizer, apenas transei com alguns caras também, e tudo isso tentando esquecer a imagem dele, que insistiu em ficar grudada na minha mente desde o dia em que o vi pela primeira vez.

No dia de seu casamento.

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No dia em que meu coração se partiu pela primeira vez, quando descobri que era o noivo.

Mas oito anos se passaram, e de alguma forma, cheguei a acreditar que essa obsessão era coisa da minha cabeça. Que eu não sentiria mais nada quando o encontrasse outra vez.

Porém, eu estava errada.

Estou de frente para ele agora, vendo-o conversar com um dos convidados do seu pai, com as mãos casualmente enfiadas nos bolsos de sua calça preta. E meu coração perde mais um pedacinho quando meus olhos absorvem sua beleza inquietante. Seus cabelos estão mais longos que da última vez, assim como a barba, que toma conta de seu queixo e mandíbula. Enzo parece mais velho também, e não é só porque se passaram oito anos e ele tem trinta agora. Embora sua postura esteja perfeitamente ereta, como de costume, ele parece cansado.

E seu sorriso… não apareceu em nenhum momento em que estive olhando para ele. E eu me lembro de ter amado seu sorriso, antes mesmo de começar a amá-lo por inteiro.

— Se passaram tantos anos, mas você ainda é uma menina apaixonada.

— A voz suave da minha mãe soa calma, porém com um toque de diversão.

Só ela, além da minha melhor amiga, sabe do meu encantamento pelo filho mais velho de seu marido.

Eu suspiro e dou um sorriso, piscando para ela; em seguida, balanço a cabeça, negando.

— Não, não sou. Estou apenas olhando essas pessoas desconhecidas.

Mamãe sorri, divertida, se inclina e beija minha bochecha.

— Oh, sim. Sei… — Ela passa a mão pelos meus cabelos, colocando alguns fios para trás da minha orelha. Seu sorriso é carinhoso, assim como seu olhar, e ela suavemente coloca a mão na lateral do meu rosto. — Estou feliz que esteja aqui, querida.

— Eu também estou — digo, segurando sua mão e inclinando meu rosto contra ela.

Eu senti falta do carinho dela, do seu cheiro, sua voz, seus conselhos. Senti falta de tudo, desde que ela resolveu vir morar com seu novo companheiro. Eu tive de ficar na Inglaterra por causa da faculdade. Eu ainda vivo em nossa casa, com todas suas coisas lá, mas não é a mesma coisa que a

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ter em casa todos os dias. De vê-la quando chego em casa, depois de um dia cansativo no hospital. De comer sua comida.

Eu tinha vinte anos quando ela veio para os Estados Unidos, mas senti como se tivesse apenas doze. Eu tinha de ligar quando precisava colocar roupas para lavar ou quando inventava de cozinhar sem saber como, ou quando algum cara me chamava para sair, e eu não sabia se devia aceitar ou não.

Mamãe se afasta um passo apenas para me olhar de corpo inteiro. Eu cheguei há apenas três horas, e fui direto para o hotel – contra sua vontade – então ela ainda não tinha me visto, até agora.

— Você está tão magrinha… — repreende, torcendo os lábios em desgosto.

Não consigo evitar sorrir, então a puxo para um abraço forte, de verdade. Quando me afasto, passo meus polegares abaixo de seus olhos, limpando as lágrimas que resolveram aparecer por ali.

— Mamãe, você não precisa chorar! — eu digo, sorrindo. — Eu sou uma cirurgiã. Eu passo mais tempo dentro de uma sala de cirurgia do que fazendo qualquer outra coisa. É normal que eu esteja mais magra que antes, quando eu era apenas uma estudante.

Ela toca minha cintura em ambos os lados, como se tivesse me medindo.

— Mas você precisa se alimentar, Juliet!

— E eu tento, eu juro! — eu digo e pego seu rosto entre as mãos, abaixando minha cabeça para beijar sua bochecha. — Quando não consigo fazer algo que preste na cozinha, peço em algum restaurante próximo. Mas isso é quando eu consigo, pelo menos, seis horas de folga. No hospital, eu preciso me contentar com torradas e cafés. Muitos cafés.

Ela me olha com reprovação, mas acaba suavizando e sorri, quando eu ergo uma sobrancelha brincalhona.

Por instinto, meus olhos voltam a percorrer a grande sala dos Lazzari, até que se chocam novamente com.

Ainda está conversando com o mesmo homem de antes, mas o grupo aumentou com a chegada de seus irmãos e mais alguns senhores de meia-idade. Quando seu irmão mais novo, Lucca, segura em seu braço e se inclina para falar em seu ouvido, Enzo abaixa o queixo e franze as sobrancelhas para ouvir; seu olhar se fixa em algum ponto no chão. Ele ouve atentamente o que o irmão está dizendo, em seguida, concorda com a cabeça, confirmando alguma coisa e volta a ficar com a postura ereta.

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— Como ele está, mãe? — Eu me pego querendo saber. Não preciso especificar , porque ela sabe muito bem.

Eu soube que, há onze meses, Enzo perdeu a mulher em um acidente de carro. Um lado egoísta e muito ruim meu ficou animado e feliz por saber que ele está livre, mas o outro lado – o bom e protetor – ficou arrasado por ele. Mesmo querendo vir para o enterro, eu não pude, tinha cirurgia marcada. Mas eu estava sempre ligando e mandando mensagens para minha mãe, querendo saber como ele e sua filha estavam.

A resposta era sempre a mesma: destruídos. Arrasados.

E toda vez que eu fechava os olhos e o imaginava dessa forma, algo dentro de mim enlouquecia, e eu só queria chorar por Enzo.

Ouço um suspiro do meu lado, e minha mãe segue meu olhar.

— Ele está na medida do possível — diz ela, com uma voz triste. — Não há mais aquela luz de antes. Ele mal sorri agora, a não ser quando está diante de Mia. Talvez porque não quer que ela fique triste. Eu não sei… está sendo claramente difícil de superar.

Eu concordo distraidamente, antes de desviar meus olhos dele e focar em meus pés. Eu sei que deve estar sendo bastante difícil para ele, porque eu tenho que lidar com perdas o tempo inteiro dentro do hospital; muitas das vezes, sou eu a responsável por dar a notícia aos parentes. Então, sim, eu sei quão difícil está sendo.

Mas eu levanto a cabeça e forço um sorriso para minha mãe.

— Certo. Mas você precisa me apresentar às pessoas novas dessa família — eu digo e estendo a mão para pegar uma taça de vinho na bandeja de um garçom que está passando por nós. — Eu soube que Lucca e Giovanni casaram. E, meu Deus, os dois têm filhos agora?

Mais tarde, no quarto de hotel, tento relaxar o corpo com um banho de banheira, logo depois falo ao telefone com meu pequeno Jax. Eu precisei deixá-lo em Londres por causa das aulas, mas me certifiquei que alguém estivesse em casa quando ele chegasse.

Ele odiou, claro. Insistiu várias e várias vezes que tinha idade suficiente para ficar sozinho e que eu ficaria velha rápido se não parasse de me

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preocupar tanto. Ele até teve a ousadia de dizer que estava vendo cabelos brancos em mim!

E ele só tem quatorze anos!

Após ter certeza de que ele está bem, eu me enrolo no roupão macio do hotel e me deito na espreguiçadeira do lado de fora do quarto. Eu gosto e sou acostumada com o frio e a chuva constante de Londres, mas também gosto muito da brisa de verão da Califórnia. Eu poderia tomar um banho de praia à noite aqui, que não ficaria com o frio que eu sinto em Londres só de tomar alguns chuviscos leves.

Eu me ajeito na espreguiçadeira e fecho os olhos. Imagens de Enzo começam a passar em frente aos meus olhos, como slides lentos e preguiçosos. Sua barba por fazer, o maxilar duro, assim como sua expressão, os olhos azuis desbotados, o modo que os cabelos se agarram em sua nuca…

Eu estou toda derretida sobre a cadeira, mesmo que Enzo sequer tenha olhado para mim por mais de dez segundos; tampouco nos vimos mais de três vezes.

A primeira vez que o encontrei foi um dia antes de seu casamento. Outra, no dia de seu casamento.

E a terceira, hoje.

Eu o via às vezes em blogs e revistas. Apenas quando ele permitia que o fotografasse ou quando saía alguma matéria sobre grandes empresários do mundo.

E eu o mantive em minha cabeça por todos esses anos. Eu nem sei se ele sabe realmente quem eu sou, uma vez que a única oportunidade que tivemos para conversar não foi mais que sete palavrinhas de sua parte, e uma palavra da minha.

Mas aqui estou eu. Uma mulher de vinte e oito anos, com uma carreira que dá inveja a muitas pessoas por aí, suspirando apaixonadamente por um homem que há onze meses não via outra mulher à sua frente que não fosse sua esposa.

Resumindo: eu sou um caso perdido.

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No dia seguinte, eu acordo às sete horas e vou ao hospital UCLA Medical Center para conhecer o paciente pelo qual precisei vir até aqui. Eu passo a manhã inteira me inteirando sobre seu caso com seu antigo médico.

Na hora do almoço, envio uma mensagem para que minha mãe me encontre em um restaurante de comida local, a duas quadras do hotel em que estou hospedada. Ela chega em um SUV preto, e um homem de terno, com postura militar, abre a porta traseira e a ajuda sair.

Sorrindo, eu deixo minha água de lado enquanto assisto minha mãe vir até mim, toda “senhora Lazzari”, com um vestido amarelo e um salto alto, porém confortável.

— Olha só… — começo, provocando-a quando ela se senta em uma cadeira do outro lado da mesa. — Aquilo é um motorista, mãe?

Ela olha para trás, para onde seu motorista a aguarda numa postura profissional, encostado contra o grande carro, e então se volta para mim com um sorriso um pouco envergonhado. Ela bufa.

— Sim. Hetor faz questão que eu tenha um.

— Bom. Porque eu estava tentada a te carregar de volta para Londres, mas vejo que Hetor está lhe tratando como a rainha que é.

Eu pisco, sorrindo para ela, e aceno para um garçom. Peço uma salada com batatas fritas e um suco de laranja com pouco açúcar, ignorando o olhar feio que minha mãe está me enviando.

— Venha jantar hoje conosco. Hetor quer vê-la melhor — diz quando o garçom se afasta com nosso pedido. — E assim poderá comer comida de verdade, saudável.

Suspirando, eu puxo meu cabelo para cima do ombro e olho para ela, com um sorriso.

— Eu adoraria. Ontem não deu para falar com ninguém, com tantas pessoas circulando por lá.

Ela me oferece um sorriso largo, radiante e animado.

— Ótimo. Todos estarão lá… .

Meus lábios se espremeram em uma linha fina quando pesco sua sugestão.

— Pode parar, mamãe — peço, ignorando as borboletas em minha barriga que começam a sapatear alegremente. — Se eu for a esse jantar, com certeza não será por causa do Enzo. Não faz nem um ano que ele perdeu a mulher.

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Minha mãe concorda com a cabeça, mas seu sorriso ainda está no rosto, com um toque malicioso. Ela não irá desistir assim tão fácil. Eu a conheço. Ela tem a mesma expressão de pouco antes da minha formatura do ensino médio, quando botou na cabeça que eu deveria ir ao baile com Chad Michael, o garoto mais popular da escola e minha paixão de adolescente. Eu pedi para ela deixar para lá, porque provavelmente ele iria com Emma Reese, a garota mais popular, mas minha mãe não ficou quieta, e eu acabei indo ao baile ao lado de Chad.

Foi a noite mais feliz da minha adolescência, mesmo que, no meio da noite, Emma e suas amigas tenham conseguido derramar bebida em meu vestido.

O lado ruim? Eu precisei voltar para casa mais cedo.

O lado bom? Chad me ofereceu seu casaco e voltou para minha casa comigo. Nós terminamos a noite lá, no telhado da minha casa, tomando chocolate quente e olhando as formas que as estrelas faziam.

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CAPÍTULO 2

Juliet

eu preciso estar na casa da minHa mãe dentro de uma Hora, mas ainda nem comecei a me vestir. Eu não tenho roupa para um jantar. Não trouxe nada além de algumas peças básicas para ir ao hospital, o vestido que usei na noite passada e um macacão de tecido, na cor preta. Eu olho para ele, espalhado sobre a cama do hotel enquanto coço a mandíbula. É minha única opção, na verdade. É ele, ou o vestido que eu já usei em outra ocasião, ou um par de jeans. Eu realmente não tenho que pensar muito, então tiro o roupão e visto o macacão.

Ele é longo, com a cintura alta e alças fininhas. Fica bom no meu corpo magro, e eu não preciso usar sutiã, uma vez que meus seios são minúsculos, e o macacão faz bem o trabalho de escondê-los.

Eu também não tenho muitas opções de sapatos, então calço a mesma sandália alta que usei ontem, assim como a mesma pulseira grossa. Eu deixo meus cabelos soltos e faço uma maquiagem para noite com batom vermelho. Quando termino, me olho no espelho e meu nariz se enruga. Eu só preciso de maquiagens e saltos altos quando tenho algum evento médico para ir. Até mesmo quando eu preciso ir à escola do Jax, apenas prendo o cabelo em um rabo de cavalo e visto um jeans.

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Quando desço do táxi em frente à mansão Lazzari, sou um poço de nervosismo. É necessário que eu conte até dez antes de entrar na casa.

Já estão todos aqui dentro. E minha mãe não estava brincando quando disse “todos”, porque realmente a casa está cheia.

Eu cumprimento um por um com um beijo no rosto, menos Enzo. Ele está distante de todos, sentado em uma poltrona perto da parede de vidro com vista para os jardins. Ele está inclinado para frente, os cotovelos nos joelhos, enquanto balança a mão para mexer o uísque em seu copo; tudo que faz é olhar para mim por alguns instantes. E eu prendo a respiração nesses mínimos segundos.

— Espero não ter me atrasado — digo, forçando um sorriso quando minha garganta fica seca. Eu sento ao lado da minha mãe, e carinhosamente ela segura minha mão. Olho para ela, agradecendo. Estava tão nervosa por estar tão perto dele…

— Ora, . — Alessa, que era só uma menininha quando a conheci, sorri para mim. — Ainda estamos esperando por alguém. Lucca se levanta em um pulo quando um menininho rechonchudo vai engatinhando para o centro da sala.

— Por aí não, filhão! — Ele pega o menino em seus braços e olha para mim. — Na verdade, você chegou cedo. Do jeito que o Ethan é, nós vamos jantar à meia-noite.

Sorrio e dou um suspiro aliviado. Eu estou tão ciente de que Enzo está bem atrás de mim, que sinto minhas mãos tremendo. Meu corpo, assim como minha mente, em alerta. Tenho noção de que basta mover a cabeça para o lado, na direção de Alessa, para que eu seja capaz de visualizá-lo pela visão periférica.

A conversa se mantém tranquila enquanto jantamos. São assuntos aleatórios, em sua maioria sobre as crianças. Enzo não fala sequer uma palavra. Ele apenas está sentado, comendo, vez ou outra, ajuda Mia a cortar a carne.

— Então, Juliet — Hetor chama. — Soube que você veio de tão longe apenas a trabalho.

Eu concordo enquanto limpo minha boca com o guardanapo, em seguida o devolvo para meu colo.

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— Sim. É a verdade, infelizmente — digo. — Se trata de um menininho que não tem condições de viajar, então a me chamou aqui. O lado bom é que eu pude ver minha mãe e vocês, claro.

— Mas o que exatamente você veio fazer nesse menininho? — Melissa, a esposa do Lucca, pergunta.

— Um transplante de coração — respondo. Estou tentando olhar diretamente para ela, ignorando o fato de que Enzo está bem do seu lado esquerdo. — No caso dele, é um procedimento raro ainda, mas eu já o fiz três vezes em Londres.

Melissa acena, com curiosidade, mas antes que possa falar qualquer outra coisa, o barulho do arrastar de uma cadeira contra o piso soa, e Enzo se levanta. Engulo em seco após o pequeno susto e olho para baixo, para meu prato, porque eu simplesmente não posso olhar para sua direção agora.

— Desculpem. Eu preciso de um pouco de ar — ele diz, sua voz tão bonita e baixa.

E eu tremo.

Eu literalmente tremo.

E então estou batendo meus indicadores contra os talheres, sentindo meu rosto inteiro esquentar. Eu só consigo pensar em como seria melhor para minha sanidade ter ficado no hotel. Eu teria ficado melhor lá. Eu pediria alguma comida e estudaria mais um pouco os exames do meu paciente, até umas onze da noite, quando poderia ligar para minha casa em Londres e pegar o Jax acordado para uma chamada de vídeo, antes de ele sair para a escola.

Mas, não. Em vez disso, eu escolhi aceitar o convite da minha mãe, e aqui estou, sentada na mesa da nova família da minha mãe, e por algum motivo, me sentindo culpada pelo silêncio que se estabeleceu sobre a mesa nesse momento.

Eu olho para minha mãe quando ouço os passos pesados – que eu presumo serem do Enzo – começarem a sumir. Ela me oferece um olhar carinhoso e preocupado. Minha mãe é o principal motivo de não estar cem por cento arrependida de ter vindo. Eu queria passar mais tempo com ela, então não seria uma paixãozinha absurda de oito anos atrás que estragaria isso.

Após alguns instantes, eu retiro o guardanapo do meu colo.

— Eu posso usar o toalete? — Eu preciso me inclinar na direção da minha mãe, para que a pergunta saia apenas para ela.

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— Claro. Você ainda lembra onde fica?

Eu confirmo com um sorriso, tentando tranquilizar seu olhar preocupado, e peço licença a todos antes de sair.

No banheiro, passo uns instantes me olhando no grande espelho. Meu rosto está bastante corado, do jeito que imaginei. Exatamente da forma que fiquei nas poucas vezes em que estive perto . Eu não quero estragar a maquiagem, então molho minha mão e toco no meu pescoço um pouco suado pelo nervosismo. Eu faço o mesmo com a nuca, afagando um pouco para aliviar a tensão. Quando termino, enxugo com um lenço de papel e saio para o corredor.

Eu estou fechando a porta quando uma figura alta em uma varanda chama minha atenção.

Enzo está lá, a uns sete ou oito passos de mim. Ele está de costas, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça; sua cabeça levantada levemente para cima, como se estivesse olhando para o céu. O vento sopra, bagunçando seus cabelos, e traz seu perfume para mim.

E, novamente, eu tremo.

Ele está tão longe, mas cheira tão bem. Eu queria poder chegar mais perto e enfiar meu nariz em seu pescoço para sentir melhor. Enzo se move um pouco para frente, segurando na grade da cerca, e abaixa a cabeça, deixando-a pender entre os ombros largos.

— É o primeiro jantar em família sem a Raquel.

Eu tomo um pequeno susto quando a voz baixa de Alessa soa atrás de mim. Eu me viro e a vejo de braços cruzados, olhando na direção da varanda, sua testa franzida em preocupação.

Ela olha para mim e me oferece um pequeno sorriso, quase que se desculpando.

— As pessoas disseram que ele superaria com o tempo, e ele estava indo bem, mas então hoje a Mia perguntou o motivo de a Pérola e o Ben estarem com suas mamães, e ela não.

Eu observo suas costas e vejo quando os músculos tensionam levemente quando ele balança a cabeça, retirando o cabelo do rosto. Eu posso sentir meu peito se apertando. Eu odeio muito saber que ele está sofrendo. Enzo não merece isso. merece.

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É .
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— Ela era sua mulher e mãe de sua filha — eu falo baixinho para Alessa. — O tempo pode fazer com que ele se acostume com a dor, não a supere. É óbvio que ele a amava demais. Ninguém nunca supera uma perda assim.

Meu peito aperta mais a cada palavra que sai da minha boca. Eu tinha a noção de que o homem pelo qual eu estou – de alguma forma desconhecida – sentindo algo nunca me notaria, ou notaria qualquer outra mulher, da mesma forma que via a esposa. Eu nem sabia o motivo pelo qual eu me apaixonei por ele. Nós moramos tão longe um do outro, e por mais que eu tenha passado esses oito anos com Enzo na cabeça, eu imaginava que era apenas uma paixãozinha idiota, um tesão reprimido, já que o homem é um deus italiano que grita “sexo” em cada movimento.

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CAPÍTULO 3

Juliet

quando voltei para o Hotel após o jantar, eu estava mentalmente exausta, e ainda um pouco nervosa. Eu troquei minhas roupas por uma mais confortável e procurei ocupar minha mente.

No caminho de volta, no banco traseiro de um táxi – o qual eu precisei insistir para pegar –, meus pensamentos insistiam em voltar para Enzo. Eu via seu rosto com a expressão perdida enquanto ele jantava, o olhar vazio que me dirigiu quando cheguei, o modo como seu corpo estava tenso naquela varanda… É o tipo de coisa que eu jamais poderei mudar. Talvez nunca tenha nem a chance de .

Eu sou apenas a garota, a filha da esposa de seu pai que apareceu uma vez justo no dia de seu casamento, e depois no primeiro jantar em família sem sua esposa.

Nada vai tirar da minha cabeça que, por algum motivo, foi minha culpa Enzo ter se levantado daquela mesa.

Meu peito ainda está um pouco pesado quando me sento de frente para meu computador e chamo por Jax. São onze horas aqui em Los Angeles, o que significa que já está quase na hora de ele sair para escola em Londres. Ele aparece já de banho tomado, mas seu cabelo ainda está uma bagunça molhada.

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— Oi, J1 — ele diz enquanto coloca alguns livros dentro da mochila.

— Ei, J2. — Eu sorrio, o peso no peito diminuindo na medida em que meus olhos permanecem nele através da tela do computador.

Eu tenho criado Jax desde que ele tinha apenas nove anos. Sua mãe era minha melhor amiga de infância. Nós fazíamos tudo juntas, até decidimos fazer a mesma faculdade para não nos separarmos. Estava tudo ótimo. Tínhamos empregos bons, no mesmo hospital, e quando minha mãe veio para os Estados Unidos, ela se mudou para minha casa. Até que, há pouco mais de cinco anos, ela sofreu um acidente – bem parecido com o da Raquel – e morreu por causa de um traumatismo craniano. Como o pai de Jax nunca procurou por ele, eu era a pessoa mais próxima, então o assumi e venho cuidando dele desde então. Apesar de nossa relação ser parte mãe e filho e parte irmã e irmão, eu o amo como um filho.

J1 e J2 é uma coisa apenas nossa, já que nossos nomes começam com .

Jax fecha a mochila e a coloca para baixo, então pega sua caneca de vitamina e a leva para boca.

— Eu achei que você não ligaria hoje. — Ele toma mais um gole de sua vitamina e pisca os olhos negros para mim. Eu ajeito as pernas sob meu corpo.

— Não deixaria de ligar, sabe disso. Não consigo dormir sem antes saber como você está.

Ele revira os olhos, divertido.

— Tirando o fato de que tenho uma babá, estou bem — diz. — Eu tenho estudado para as provas na semana que vem, mas… Arqueio a sobrancelha quando vejo que ele hesita.

— Mas…?

— Mas convidei uma garota para sair na sexta à noite. Vamos ao cinema. — Ele para e me olha com expectativa. Muitas expectativas. — Se você deixar, claro.

Eu sou pega de surpresa. Eu abro a boca para falar, mas a fecho em seguida, e então solto uma pequena e silenciosa exclamação, um pouco chocada. Eu tinha noção de que ele estava crescendo, mas não imaginava que pediria para sair com uma garota aos quatorze anos.

— Eu acho que por mim… — eu digo ainda um pouco surpresa. — Apenas tome cuidado e volte para casa antes das dez, por favor.

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E o que acontece em seguida é um dos motivos pelo qual faço de tudo por ele. Jax sorri. Ele sorri, e seu sorriso é o mais lindo que eu já vi em um menino tão jovem. A forma como sua covinha única, na bochecha direita, se forma me faz imaginar quantas garotas vão se derreter por esse sorriso no futuro.

Jax se inclina para pegar a mochila e a pendura sobre o ombro.

— Certo, J1. Eu mando mensagem para você saber que horas eu saí e que horas vou chegar. — Ele pisca um olho para mim. — Você vai ligar amanhã?

— Pode apostar que sim — eu digo, sorrindo pra ele. — Tenha um bom encontro, e, por favor, Jax, penteia esse cabelo antes de sair para a escola.

— e u levanto os ol H os do tablet e vejo um m É dico se aproximando. Eu mudo meu peso de perna e observo enquanto ele caminha até mim. Ele aparenta ter uns trinta e dois ou trinta e três anos. Seus cabelos são de um tom de louro queimado e os olhos são pequenos e verdes. Quando para na minha frente, estende uma mão.

— Sou Peter Anderson, chefe da plástica. — Ele está sorrindo para mim, e eu não posso deixar de notar que é um sorriso bonito. é um homem bonito. Peter também é alto; pelo menos uma cabeça a mais que eu. Eu pego sua mão e balanço.

— Prazer em conhecê-lo, dr. Anderson.

Seu sorriso bonito amplia enquanto ele mantém seus olhos nos meus.

— Peter, por favor — ele pede. — Seremos colegas de trabalho por um tempo, certo?

— Um mês — eu esclareço. — E você pode me chamar pelo primeiro nome.

— E qual seria? — Ele ainda não largou minha mão, mas eu não estou fazendo nenhum movimento também.

— Juliet.

Um brilho divertido toca seus olhos verdes. Ele levanta uma sobrancelha, e minha boca se abre em um “O” quando percebo que ele está brincando comigo. Eu rio.

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— Desculpe, não pude evitar. Você é Juliet Harret! Eu acho que todos aqui te conhecem bem. Especialmente eu.

Eu faço minha melhor expressão de surpresa.

— Oh. Então você é um fã?

— Eu não disse isso. — Peter olha o relógio em seu pulso, em seguida, toca meu braço, em um ato de despedida. — Tenho cirurgia agora, mas, se quiser, podemos tomar um café mais tarde. Adoraria saber como você pensou no lance de congelar corações.

Sorrio e confirmo com um aceno de cabeça.

— Eu adorarei contar para você, em detalhes, doutor.

Duas horas mais tarde, tenho meu celular na mão enquanto espero a ligação do hospital onde se encontra meu doador. Eu estou andando pela emergência do hospital, ansiando pelo telefonema, quando vejo uma menininha de cabelos claros, muito familiar, sentada em uma das camas.

Preocupada, eu me aproximo.

— Mia, o que houve? — pergunto, mas não é preciso ouvir sua resposta. Quando ela se vira para mim, vejo o corte no alto de sua testa. Há sangue escorrendo pela sua têmpora, bochechas e pescoço.

— Cristo! O que aconteceu? — Eu pego seu rosto pequeno em minhas mãos para examinar a profundidade do corte.

Não é tão fundo, para meu alívio, mas vai precisar de pontos.

— Eu estava na piscina e escorreguei — ela responde. Mia está calma, sem chorar, o que é uma coisa boa. Geralmente as crianças choram horrores quando se machucam, mas, pelo visto, não ela.

Eu pego o kit de sutura da enfermeira que veio atendê-la e digo que eu mesma farei. Puxo um banquinho e me sento de frente para ela. Enquanto eu coloco as luvas, ofereço um sorriso para logo depois desmanchá-lo.

— Quem te trouxe, Mia?

Ela aponta para o outro lado da sala, onde uma jovem está assinando os papéis de forma muito nervosa.

— Treena. Papai a deixa cuidando de mim.

Tentando ignorar as borboletinhas em minha barriga, eu sorrio de forma mais carinhosa possível.

— Tudo bem. Você se lembra de mim, certo? Sabe quem eu sou?

Ela assente.

— Você é a filha da minha vovó. Eu vi você ontem.

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— Isso. Meu nome é Juliet. — Eu pego o algodão e a água. — Olha, eu vou limpar todo esse sangue, e depois nós vamos fechar esse corte, tudo bem?

Ela me olha desconfiada.

— Vai doer?

Sacudo a cabeça.

— Prometo que não. — Começo a limpar o sangue com cuidado. Minha garganta está coçando para lhe fazer a pergunta, mas estou procurando uma forma de fazer isso sem demonstrar o quanto me afeta, mesmo ela sendo apenas uma criança de sete anos. Eu jogo o algodão usado em uma lixeira próxima. — Seu pai já está sabendo?

Ela encolhe levemente os ombros.

— Treena disse que ligaria pra ele. Você acha que ele vai ficar bravo?

— Não foi culpa sua ter escorregado, querida. As crianças costumam cair bastante, em várias circunstâncias.

— Eu sei — ela diz, mas sua voz abaixa alguns tons, como se quisesse que apenas eu escutasse. — Mas eu não quero que ele fique bravo comigo.

— Ele não vai ficar. — Eu olho em seus olhos, garantindo isso.

Eu estou prestes a terminar a sutura quando Enzo entra na emergência como se fosse o próprio furacão. Ele corre até nós, com uma expressão beirando o pavor. Ele segura o rosto pequeno de sua filha nas mãos, analisando os pontos, mas só quando Treena se aproxima, ele diz alguma coisa:

— Onde você estava, que não viu isso acontecer?

A mulher se encolhe pelo olhar duro de Enzo.

— E-eu sinto muito, senhor. Fui só pegar um copo de suco para ela.

— Eu tenho quinze pessoas trabalhando na minha casa por um motivo!

— Enzo grita, interrompendo-a e assustando a todos no local. Inclusive .

Eu olho chocada ao redor, vendo os pacientes e algumas enfermeiras e médicos olhando para nós, até que vejo sua filha de olhos arregalados.

— Enzo, você precisa se acalmar — eu digo pra ele enquanto retiro minhas luvas. — Está tudo bem agora. Foi só um corte.

Ele se vira e olha para mim.

. Ele olha mim. Seus perfeitos, incríveis e quase insuportáveis olhos azuis estão fixos em mim. Nos meus olhos, no meu rosto. Em .

O meu coração bobo pula algumas batidas, e meu interior esquenta, mas por fora mantenho minha expressão profissional.

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— Juliet? — Ele parece surpreso quando pronuncia meu nome, mas eu não me importo, porque eu adoro o modo como soa saindo de sua boca. Soa quente. Ou pelo menos é o que parece para mim.

Eu concordo e jogo as luvas fora.

— Sim. Eu mesma cuidei dela, não precisa se preocupar. Acidentes acontecem.

— Acidentes matam pessoas — diz ele, ríspido.

Eu sei que Enzo está se referindo ao acidente que matou sua esposa, então eu me arrependo de ter dito isso. Eu passei oito anos para falar com ele novamente, e quando faço, não é uma coisa boa.

Respiro fundo e coloco minhas mãos dentro dos bolsos do jaleco quando forço meus olhos a encontrarem os seus. Nesse momento, vejo algo negro ali se misturando com a tempestade azul.

— Escuta, eu entendo, tudo bem? Eu tenho um menino de quatorze anos em casa, então eu sei o que é isso. Mas eles são crianças, e crianças se machucam o tempo todo. É da natureza deles. A sua filha teve apenas um pequeno corte na testa, que eu já resolvi. Ela nem chorou. — Eu olho brevemente para Mia e pisco um olho para ela. — Ela estava apenas com medo de que você ficasse bravo — completo.

Seus olhos aliviam um pouco, mas ele continua me encarando.

Eu sou capaz de ouvir os batimentos do meu coração através da veia pulsando em meu pescoço, mas não desvio os olhos. Eu apenas luto para Enzo não notar o quanto me afeta.

Após alguns instantes – que mais parecem um milênio –, ele assente duramente e retira os olhos dos meus, antes de passar ambas as mãos pelo rosto e cabelos. Ele suspira pesado e, em seguida, me faz prender minha respiração quando toca meu braço e deixa sua mão no local por uns segundos:

— Me desculpe, eu perdi a cabeça. Obrigado por ter cuidado da Mia.

Eu forço um sorriso amarelo, meus olhos um pouco arregalados, cientes do formigamento em meu braço onde sua mão está. Eu fico parada em meu lugar, com o ar preso na garganta enquanto vejo-o pegar Mia no braço.

Enzo olha para mim uma última vez, olhando bem nos meus olhos, e acena em despedida. Então eu o vejo sair, carregando Mia, com Treena logo atrás, ainda um pouco assustada.

Só quando eles somem do meu campo de visão, deixo meus pulmões trabalharem.

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