Realidade Inesperada - Primeiros Capítulos

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1ª EDIÇÃO – 2021 RIO DE JANEIRO
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TRADUÇÃO: CAROLINA CAIRES COELHO

COPYRIGHT © 2016. UNEXPECTED REALITY BY KAYLEE RYAN COPYRIGHT © 2021. ALLBOOK EDITORA.

Direção Editorial BEATRIZ SOARES

Assistente Editorial MARIANA MARTELOTE

Tradução

CAROLINA CAIRES COELHO

Preparação e Revisão

CLARA TAVEIRA e RAPHAEL PELOSI PELLEGRINI

Projeto de capa original PERFECT PEAR CREATIVE COVERS

Modelo de capa DAVID JUTEAU MARINEAU

Fotógrafo de capa JOSÉE HOULE

Assistente de fotografia MARC-ANDRE RIOPEL

Adaptação de capa FLAVIO FRANCISCO

Projeto Gráfico e Diagramação: CRISTIANE | SAAVEDRA EDIÇÕES

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Leandra Felix da Cruz Candido – Bibliotecária – CRB-7/6135

R955r Ryan, Kaylee

1.ed. Realidade inesperada / Kaylee Ryan; tradução Carolina Caires Coelho - 1. ed. – Rio de Janeiro: AllBook, 2021. 320 p.; 16 x 23 cm.

Tradução de: Unexpected reality

ISBN: 978-65-86624-40-3

1. Romance americano. I. Coelho, Carolina Caires. II. Título.

21-70311

2021

PRODUZIDO NO BRASIL.

CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM

CDD 813

CDU: 82-31(73)

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PRÓLOGO

Melissa

ESTE BAR ESTÁ ÓTIMO PARA FAZER UMA PAUSA. ESTOU DIRIGINDO HÁ HORAS sem destino. Não tenho para onde ir, nenhum lugar para estar e ninguém que me procure. Essa é a minha realidade.

Sempre tentei ser positiva com a vida que tenho. Sempre tive três refeições quentes por dia e um lugar seguro para descansar a cabeça à noite. Eu sou uma das pessoas sortudas que vivem sem precisar se preocupar. Jeff e Maggie foram ótimos pais temporários e ainda melhores pais adotivos. Eles cuidaram para que eu tivesse tudo de que precisava e, por minha vez, fiz o que esperavam de mim. Fazia minhas tarefas, meus deveres de casa e nunca infringia as regras.

Rebelde, eu sei.

Meu peito literalmente dói só de pensar em Jeff e Maggie. Eu agradeci a eles o suficiente, mostrei como eu era grata por eles terem me levado para sua casa? Meus olhos começam a arder pelas lágrimas.

Perdi a única família que tive.

Eu estava extremamente feliz, uma semana depois de me formar na faculdade, voltando para casa para ajudar Jeff e Maggie em seu escritório de advocacia. Eu escolhi ser assistente jurídica por causa deles. Eu queria me envolver nos negócios da família.

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Já se passou um mês desde que recebi o telefonema. Trinta dias desde que meu mundo desabou.

— Invasão de domicílio.

— Duas mortes.

— Você precisa vir para casa. Esses são os detalhes que me lembro da ligação. A noite em que perdi a família que me escolheu. A família de Jeff e Maggie não era tão receptiva como eles foram. Eles achavam que era uma idiotice poder conceber seus próprios filhos, mas decidir me adotar. Eu era a única. Eles disseram que não queriam ter de compartilhar seu amor. Nem preciso dizer que agora que eles se foram, sou só eu. Estou sozinha no mundo mais uma vez, sem família e sem amigos próximos. Tenho conhecidos, mas passo todo o meu tempo livre na biblioteca. Não fui a festas ou jogos de futebol. Eu estudei. Eu queria fazer isso tudo por eles para mostrar o quanto eu valorizo tudo o que eles me deram. Tudo o que fiz na vida foi por eles. Agora eles se foram. Para onde eu vou agora?

O letreiro néon à frente pisca na vitrine anunciando diferentes tipos de cerveja. Não me importa que tipo seja, só preciso de algo para ajudar a aliviar a dor. Do outro lado da rua, há um hotel. Boa. Eu pretendo beber até me esquecer. Atravesso a rua rapidamente e reservo um quarto. Na verdade, é perfeito que eu não precise dirigir. Pego meu cartão de débito e o entrego à jovem recepcionista. Eu tenho dinheiro, muito dinheiro. Jeff e Maggie me deixaram tudo, apenas algo mais para adicionar à lista das coisas de que suas famílias não aprovavam. Eu estava prestes a devolver tudo, dizer a eles que podiam enfiar a grana onde quisessem. Aquele dinheiro não trará de volta os únicos pais que tive. Não trará de volta minha família. Só quando o advogado me entregou uma carta deles, dos meus pais, mudei de ideia. A carta dizia que eu trouxe alegria para suas vidas, que fui sua maior realização. Eu memorizei o conteúdo dela.

“Fique com ele, Melissa. Queremos ter a certeza de que você sempre será bem-cuidada. Viva sua vida e siga seus sonhos. Viva para você, doce menina. Para mais ninguém.”

Eles sempre me diziam isso.

“Escolha uma carreira que você ame, Melissa. Não por nós, mas por você.”

Eu vivia para eles e, por causa deles, minha vida é boa. Como faço para aprender a viver sem eles? Aprender a viver para mim?

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— Assine aqui. — A recepcionista me entrega uma caneta. Rabisco meu nome no recibo, pego minha chave e volto a sair. Não quero mais sentir essa dor. Eu só quero que essa dor no meu peito vá embora. O sinal de néon piscando me chama. Talvez eu possa beber e esquecer.

Abrindo a porta, o cheiro de fumaça e álcool invade meus sentidos. O lugar — Danny’s, de acordo com a placa — está lotado para uma noite de quinta-feira. Vou até o bar e vejo um banquinho vazio no final. Perfeito, sou só eu. Tudo bem, por mim, ficar escondida, contanto que o barman continue servindo bebidas.

Eu mal tinha acabado de me acomodar quando uma mulher de quase cinquenta anos ou mais veio perguntar qual era meu pedido. Não sou muito de beber, mas Maggie costumava beber vodca e suco de cranberry, então peço isso.

— Já está saindo. — Ela sorri, fazendo com que as linhas de expressão ao redor dos olhos fiquem mais proeminentes. — Aqui está, querida. Você quer uma comanda? —pergunta, limpando o bar.

— Sim, pode mandar mais. — Viro o copo que a mulher acabou de colocar na minha frente, bebendo tudo.

Ela me observa.

— Você vai dirigir?

— Não. Estou num quarto do hotel do outro lado da rua. Ela balança a cabeça, aceitando minha resposta, e então começa a preparar outra bebida.

Eu bebo a segunda devagar. Não tenho para onde ir.

Perdi a noção do tempo, perdida em pensamentos, esperando que o álcool diminua a dor. Não sei mais quantas bebidas tomei, depois de perder as contas disso também, mas minha mente está finalmente começando a se desligar.

— Posso pedir outra rodada para a nossa mesa? — uma voz grave diz ao meu lado.

Olho para cima e o vejo. Alto, cabelo escuro, tatuagens. Não é alguém por quem uma boa garota deveria se sentir atraída, mas eu me sinto. Ele está vestindo uma camisa justa que mostra seu abdômen marcado. Meu Deus, ele é sexy. Voltando o olhar para minha bebida, tento afastar os pensamentos.

Quando ele pega a carteira, seu cotovelo bate no meu.

— Nada como estar ao lado de uma mulher bonita. — Ele pisca. Eu sorrio timidamente.

— Sorte a minha — eu digo, olhando para a frente e voltando a me concentrar na minha bebida. Eu não posso acreditar que esse cara está

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realmente flertando comigo. Tenho certeza de que ele está apenas sendo simpático. Fico igualmente surpresa por ter retribuído o flerte. Isso não é algo que eu costumo fazer.

— O que uma coisinha linda como você está fazendo aqui sozinha?

— ele questiona.

— Só de passagem — eu respondo. Novamente, olho para a frente. Tenho medo de, se não desviar o olhar, começar a babar por esse cara. Estou fora do meu normal aqui.

— Imaginei que fosse isso. Eu teria me lembrado de você. — Ele pisca novamente. — Estive muito aqui nos últimos meses.

— Ah, é? — Puta merda. Eu luto contra a vontade de limpar as mãos suadas na minha calça jeans.

— Sem dúvida. — Ele desce esses olhos castanhos lentamente pelo meu corpo. — Olha, por que você não se junta a mim e aos meus amigos?

Não faz sentido beber sozinha.

A Melissa sóbria recusaria tal convite. A Melissa embriagada não quer ficar sozinha. Esse cara parece estar interessado em mim; que mal pode ter me sentar com eles? Servirá como outra distração, vai me ajudar a esquecer.

— Certo. — Pego minha bebida e minha bolsa, saindo do banquinho. Eu tropeço, e o estranho sensual me segura. — Obrigada... — Nem sei o nome desse cara.

— Ridge. — Ele segura meus braços para me firmar. — Você está bem...?

— Melissa. — Eu me afasto. — Eu passei um tempo sentada ali, desculpa. — Enrubesço de vergonha. Não estou tão bêbada, então só pode ter sido Ridge. Não sei se já conversei com alguém que se parecia com ele antes. Na faculdade, eu ficava sozinha, e os caras nem se importavam. Por que ir atrás de alguém por quem você tem de batalhar se há outras ali tão dispostas a se entregar de graça?

Eu saí com dois caras. O primeiro era um meio para um fim. Um negócio do tipo “vamos acabar com isso de uma vez.” O cara número dois era amigo da minha colega de quarto. Foi a primeira e única vez em que fiquei completamente bêbada. Eu nem me lembro do que rolou, sério. Patético, eu sei, mas essa é a minha vida. Não deixo de notar a ironia de que hoje quero ficar bêbada assim de novo, se não mais. Quero esquecer a dor, a perda, a sensação de estar sozinha. Por sorte, meu novo amigo Ridge parece estar disposto a me ajudar.

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— Gente, esta é a Melissa. Eu a encontrei bebendo sozinha, então a convidei para se juntar a nós — diz ele quando chegamos à mesa. Quatro caras, todos tão gostosos quanto meu novo amigo Ridge, me observam. Sinto o rosto esquentar sob seus olhares. Receber atenção não é algo a que estou acostumada. Todos eles me cumprimentam de alguma forma, e eu estupidamente aceno em resposta.

— Você pode se sentar ao meu lado — Ridge diz sussurrando próximo ao meu ouvido.

O calor de sua respiração contra minha pele provoca arrepios na minha espinha. Sem jeito, tomo o assento que ele puxa para mim, juntando minhas mãos sobre a mesa.

— Tudo bem, então temos aqui Seth, Tyler, Mark e Kent. — Ridge aponta para cada cara enquanto diz seu nome.

— É um prazer conhecer vocês — digo educadamente, mal olhando para cada um, ainda envergonhada com ser o centro das atenções.

— Então, mocinha, você mora por aqui? — o que está à minha direita pergunta. Kent, eu acho.

— Não, só estou de passagem. E vocês? Moram aqui?

Tomo um gole da bebida nova que acabou de ser colocada na mesa, na minha frente.

— Não — Ridge responde, apoiando o braço no encosto da minha cadeira. — Estamos na cidade a trabalho.

Observo as camisetas da Construções Beckett que todos estão usando.

— Construções — eu digo, como uma idiota. Esses homens são sensuais e intimidantes.

— Sim. — Ridge bebe sua cerveja toda, e eu me distraio observando sua garganta enquanto ele engole. Como eu disse, ele é sensual.

— Crescemos juntos — diz um dos rapazes.

Não consigo me lembrar qual era o nome de quem está sentado ao lado de Ridge. Mark, talvez?

— Então estão só curtindo depois de uma longa semana de trabalho? — Fico tentando imaginar como seria ter amizades de infância. Sinto uma pontada de inveja e tristeza no peito, então viro o copo e bebo tudo, querendo esquecer.

Os cinco riem.

— Mais ou menos isso — responde aquele com cabelo mais comprido.

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E é assim que a noite passa. Os caras são engraçados, charmosos e ficam me paquerando. Algumas outras mulheres se juntam a nós, mas Ridge continua perto, pedindo bebidas para mim. Eu até compro uma ou duas rodadas e relaxo com seus toques. Toques simples, como a mão no meu ombro, sua mão no meu braço e, claro, um sussurro em meu ouvido. Parei de tentar esconder o arrepio que isso me causa cerca de, talvez, três bebidas atrás.

Sinto atração por ele, e ele sabe disso.

Um por um, os caras formam pares, deixando apenas Ridge e eu na mesa.

— Onde você vai dormir hoje? — Sua mão repousa na minha coxa.

— Eu... reservei um quarto no hotel do outro lado da rua.

— Hum, é onde nós também estamos hospedados. — Inclinando-se para perto, sua respiração se mistura com a minha quando o barman anuncia a última rodada. — Vou te acompanhar até o hotel. Ridge se levanta e me oferece sua mão, e eu a pego sem hesitação. Há algo em seus olhos, na maneira como esteve ao meu lado a noite toda. Eu confio nele. Não sei como tomar a iniciativa, mas quero ele comigo, no meu quarto, esta noite. Não estou pronta para deixar de lado a maneira como ele faz com que eu me sinta.

Ridge mantém seu braço ao redor da minha cintura enquanto nos dirigimos para o bar. Eu pago minha conta, depois de muitos protestos dele. Sinto o ar frio da noite gostoso contra minha pele aquecida. Ele me puxa contra seu peito, e novamente eu vou de boa vontade.

— Qual é seu quarto? — ele pergunta.

— O 119 — digo, tão baixinho, que fico surpresa por ele ouvir. Seu toque faz meu corpo desejá-lo. Chegamos à minha porta, e tiro a chave do bolso traseiro. — Você gostaria de entrar? — Estou olhando para os meus pés, de costas para ele. Seguro a maçaneta da porta, me preparando para sua rejeição. Aproximando-se, ele alinha o corpo com o meu. Uma mão descansa em meu quadril enquanto a outra afasta meu cabelo para um ombro.

— Não sei se é uma boa ideia. — Ele beija meu pescoço.

— Oh — eu digo, desanimada.

— Eu não vou conseguir não tocar em você — ele continua, pressionando sua ereção em meu traseiro. Minha nossa. A excitação toma conta de mim. Está acontecendo. Eu saí da zona de conforto horas atrás, e é assustador, mas meu instinto me diz que Ridge é um cara bacana. Que, para uma transa de uma noite, eu

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não poderia ter escolhido ninguém melhor. Bem, exceto talvez seus quatro amigos. Todos eles parecem caras ótimos.

— E se eu quiser que você me toque? Seus lábios percorrem meu pescoço.

— Abra a porta, Melissa. Atrapalhando-me com a chave, faço o que ele diz. De repente, o zumbido do álcool se foi, e em seu lugar apareceu pura luxúria. Eu quero. Eu quero uma noite com ele. Uma noite para me sentir desejada por esse deus grego. Dentro do quarto, Ridge arranca a camisa e a joga na cadeira. Eu o observo — seu abdômen firme e marcado, as tatuagens que quero percorrer com a língua.

— Se ficar me olhando desse jeito, isso vai acabar antes mesmo de começar — ele me avisa.

Olho para o chão, com vergonha de ter sido pega olhando.

— Ei. — Ele se aproxima, levantando meu queixo com o dedo indicador para encará-lo. — Você não fez nada errado. Só quis dizer que o jeito com que você estava me olhando me deixou prestes a perder a cabeça. — Ridge observa minha expressão em seguida. — Você já fez isso antes, Melissa?

Merda. Não é bem uma conversa boa para uma transa de uma noite.

— Duas vezes — eu deixo escapar. Ridge fecha os olhos e respira fundo.

— Você quer continuar?

— Mais do que eu poderia explicar.

Suas mãos pousam na minha cintura e me puxam para perto.

— Eu vou cuidar de você. — Seus lábios cobrem suavemente os meus. E cuida mesmo. Ele me mostra uma intensidade como eu nunca conheci. Em pouco tempo, me deixa maluca, e eu grito seu nome. Depois, ele não vai embora como eu esperava. Em vez disso, se aconchega ao meu lado e cai no sono. Fico deitada por horas, até cair a ficha do que acabei de fazer. Eu tive uma transa casual sem arrependimentos. Eu queria fazer isso. Eu o queria. No entanto, não quero o constrangimento do dia seguinte. A tal da manhã seguinte esquisita sobre a qual li tantas vezes. Eu não quero isso. Eu não quero dar a ele a chance de arruinar essa minha animação. Não vou dar a ele a chance de me rejeitar.

Silenciosamente, eu deslizo para fora da cama, pego minhas coisas e saio pela porta. Não levei roupas, só reservei o quarto e fui direto para o bar.

Ridge me deu uma noite para guardar na memória e uma noite para esquecer. Serei eternamente grata a ele.

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CAPÍTULO 1

Ridge

— MAIS UMA DOSE? — A GARÇONETE PERGUNTA.

— Pode mandar, linda. — Kent pisca.

Eu vejo seu rosto ficar vermelho, e ela se afasta. Os caras e eu estamos tomando uma bebida merecida após a longa semana de trabalho. Já faz alguns anos que vamos ao Bottom’s Up. É um lugar pequeno, com uma jukebox cheia de músicas clássicas. O ambiente é descontraído, e as garçonetes são sempre uma distração agradável. Não que eu tenha aproveitado. Tenho passado por um período de seca nos últimos meses.

Meus olhos estão grudados na pista de dança improvisada, quando Seth pergunta:

— Você está escolhendo seu pós-festa? — Ele sorri para mim.

— Ainda não decidi. E você?

— Como se você precisasse perguntar — Mark interrompe.

— Quero saber por que você ainda não decidiu — acrescenta Tyler.

Eu dou de ombros.

— Só não estou a fim — eu digo honestamente.

— Quem é você e o que você fez com Ridge? — Kent comenta.

— Você se preocupa com o seu pau, e eu vou me preocupar com o meu. — Olho para ele como se o mandasse recuar.

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— O Pequeno Ridge deve estar se sentindo abandonado. Quanto tempo faz? Quatro, cinco meses? — Seth pergunta.

Porra! Esse é o problema de ter amigos de uma vida inteira: eles não deixam nada quieto e conhecem a gente perfeitamente bem.

— Por aí — digo, pegando a cerveja que a garçonete bonitinha colocou na minha frente. Viro metade de uma vez.

— Desde a… qual era o nome? — Tyler coloca o dedo no queixo.

— Merda. Isso mesmo, o trabalho que fizemos fora da cidade. Coisinha fofa. Qual era o nome dela? — pergunta Mark.

— Melissa... — eu murmuro.

— Sim! — Os quatro dizem em uníssono.

— Foi tão bom assim? — Kent pergunta.

Sim. Ela tinha algo, como se estivesse desesperada por conexão. Definitivamente não era como as mulheres com quem eu costumava sair, mas o fato de ter ido embora no meio da noite mexe com um homem. Estou acostumado com aquelas que grudam, que imploram por um novo encontro e pedem meu número. Aquelas que frequentam o Bottom’s Up só para ter a chance de voltar para casa comigo. As que vão se agarrar a mim e fingir que estão dormindo só para passar a noite. É com isso que estou acostumado. Acordar sozinho em um quarto de hotel? Isso não acontece.

Pelo menos não comigo.

Nenhum bilhete, nem mesmo uma peça de roupa para provar que ela esteve lá. É como se ela fosse uma invenção da minha imaginação.

— Está tudo bem, amigo. — Seth coloca a mão no meu ombro. — Todos nós passamos por um período de seca. — Ele está se esforçando para não rir.

— A gente te ajuda — Mark interrompe.

— Vamos ver se nossa escolha da noite tem uma amiga. E vamos deixá-la toda bêbada, para que ela queira ficar com você — diz Tyler.

— Certamente podemos convencê-la — acrescenta Kent.

— Vão se foder.

— Ai, acho que tocamos no ponto fraco — provoca Seth.

— Eu não preciso de ajuda para encontrar uma mulher que esteja a fim — eu resmungo.

— Será? — Kent pergunta.

— Senhores, acho que temos um desafio em nossas mãos. — Tyler esfrega as mãos com empolgação.

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— Sim. Nós escolhemos a garota. — Mark sorri. Pego minha cerveja e levo aos lábios, deixo que eles falem. Nunca tive problemas com as mulheres. São os cabelos escuros e as tatuagens. Todas elas têm a fantasia de estar com o bad boy, o rebelde que fará com que elas sintam adrenalina e a vida. O cara sobre o qual a mãe delas fez alertas. Além disso, há mulheres que simplesmente veem o que gostam e querem pagar para ver. Elas pensam que sou eu, mas as aparências enganam. Sim, eu tenho uma aparência sombria e misteriosa — cabelo preto, olhos castanhos escuros e tatuagem. Não significa que eu seja um cara mau. Claro, já estive com muitas mulheres, mas sou um cara jovem e solteiro. Nada de errado nisso.

— Alguma solicitação? — Seth pergunta.

Eu olho os quatro ao redor da mesa.

— Não — digo, levando a cerveja à boca.

— É hora de definir os termos — diz Mark.

— Nenhum termo necessário. Escolha a garota, e eu selarei o acordo — eu digo a eles com confiança.

— Meio arrogante, não? — Tyler acusa.

— Pessoal, eu acho que precisamos dificultar. O sr. Exibido acha que pode pegar qualquer uma, então só temos que aumentar as apostas. — Kent se senta na cadeira, apoiando os cotovelos na mesa.

Eu não digo nada, só olho para eles. Posso praticamente ver as engrenagens girando em suas cabeças, decidindo meu destino. Sempre fomos assim, nunca fugimos de um desafio.

— Deixa comigo! — Mark exclama. — Três meses. Nós escolhemos a garota, e você a mantém por perto por três meses. — Ele se recosta na cadeira, sorrindo descontroladamente.

Porra! Três meses. Isso é coisa de relacionamento e gera sentimentos e bastante drama quando termina. Às vezes, até os encontros de uma noite se tornam complicados, mesmo que elas saibam que só se trata disso. Três malditos meses. O quê? Só pelo direito de me gabar?

— Estou curtindo — Seth concorda.

Ouço todos eles concordando.

— Quais são as recompensas? — eu pergunto. — Três meses é relacionamento. Vou precisar de mais do que o direito de me gabar.

— Cem dólares cada — sugere Kent. — E você só pode ficar com ela, sem nenhuma outra.

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Sério?

— Não preciso do dinheiro — digo, sinalizando para a garçonete nos trazer outra rodada.

— Não, mas se você ganhar, teremos que pagar. A menos, claro, que você já esteja recuando? — Seth me incita.

Quatrocentos dólares e o direito de me gabar. Vale a pena? Quatro pares de olhos travessos me observam, esperando que eu recuse.

Que homem concordaria em manter uma mulher qualquer, escolhida a dedo por seus amigos em um bar enfumaçado, por três meses? Isso seria louco, certo?

— Assustado? — Mark pergunta.

— Façam sua escolha, meninos. — Eu sorrio. Foda-se! São três meses, e eles não disseram quanto tempo eu teria que ficar com ela, apenas que ela teria que ficar por perto por três meses. Fiquei três meses sem sexo, então isso não é um problema.

Mark e Kent imediatamente começam a procurar na multidão. Seth parece confuso, como se não achasse que eu concordaria. Tyler está sorrindo.

A vingança é uma merda, rapazes.

— Certo, então devemos procurar. Ridge, meu caro, já voltamos — diz Tyler.

Eu vejo quando os quatro se levantam e vão para o bar.

Em que diabos eu acabei de me meter?

A garçonete bonitinha traz outra rodada, embora os rapazes estejam no bar. Eu rapidamente pego a minha e tomo tudo, batendo a garrafa vazia na mesa.

O jogo começou.

— Ridge, esta é Stephanie — diz Mark enquanto os outros caras se sentam. Quando me viro, vejo uma loira com pernas compridas e seios bonitos olhando para mim. Eu prefiro loiras.

Talvez isso não seja tão ruim quanto eu pensava.

Levantando da minha cadeira, pego sua mão e a puxo para meus lábios.

— Prazer em conhecê-la, Stephanie. Posso pegar uma bebida para você?

— Oi. — Ela fica vermelha. — Minhas amigas estão no bar. — Aponta para trás.

Eu não afasto meus olhos dela, dando-lhe toda a minha atenção.

— Você pode sentar ao meu lado. — Eu pisco, puxando a cadeira para ela.

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— Obrigada. — Ela sorri. Pelo resto da noite, eu me concentro nela. Ela parece... normal, não uma das malucas. Suas amigas são legais e conversam com os meus amigos. Todos estão se divertindo, e sinto um pouco do pavor desaparecer. Talvez, apenas talvez, eu não tenha aceitado passar três meses no inferno. Conforme a noite avança, os caras continuam bebendo, mas eu mudo para a água. É hora de ir, então eu preciso manter meu juízo, manter a senhorita Stephanie interessada. Como se pudesse ler meus pensamentos, ela boceja.

— Desculpa. — Esconde a boca com as mãos. — Estou acordada desde as cinco da manhã e estou exausta.

— O que você faz?

— Trabalho com decoração de interiores. Tive uma reunião final hoje de uma casa que terminamos.

Linda e segura no trabalho.

— Vou te levar para casa — eu sussurro em seu ouvido.

— Eu... adoraria, mas amanhã tenho que acordar cedo de novo — diz enquanto olha para as mãos entrelaçadas.

— Por mais que eu queira dormir na sua cama com você essa noite, não foi isso que eu quis dizer. Você está cansada e bebeu. Vou te levar para casa, para ter certeza de que você chegou segura.

Ela hesita. Tenho certeza de que ela está tentando avaliar se pode confiar em mim.

Ela olha em volta para as amigas, que obviamente estão em pares.

— Steph, Mark vai para casa comigo. Você está pronta para ir? — sua amiga pergunta. Não me preocupei em tentar memorizar seus nomes.

Isso não poderia ter dado mais certo. Eu trouxe Mark, a amiga dela a trouxe. Ela precisa de uma carona.

— Só uma carona — eu sussurro em seu ouvido.

Ela acena com a cabeça.

— Ridge disse que poderia me levar — diz à sua amiga, que está grudada em Mark.

Mark sorri.

Eu luto contra o desejo de chutar a bunda dele. Em vez disso, levanto-me e ofereço minha mão a Stephanie. Ela pega, qualquer hesitação que podia ter desaparece. Eu aceno para a mesa e a levo para a minha caminhonete.

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Ajudando-a a entrar, a espero prender o cinto de segurança, fecho a porta e, em seguida, paro atrás da caminhonete e respiro fundo. Ela parece tranquila, mas quem sabe o que os próximos três meses trarão? Esta pode ser a primeira aposta que eu perco. Balançando a cabeça para afastar esse pensamento, eu puxo minha cueca boxer e sento no lado do motorista.

— Então, para onde estamos indo?

— Não é longe daqui, na verdade.

Eu ouço as instruções gerais antes de sair do estacionamento.

— Você mora aqui há muito tempo? — pergunto.

— Não. As meninas e eu nos mudamos para cá há cerca de três meses. Os pais de Carla são os donos da empresa para a qual trabalhamos. Por um tempo, eles planejaram expandir, então quando todas nós nos formamos, foi o que eles fizeram. Nós três conseguimos empregos logo após a faculdade.

— Que beleza.

— Tivemos sorte, com certeza.

A cabine do caminhão fica silenciosa. Estou preocupado com o que acabei de fazer e com Stephanie... Bem, não tenho certeza do que está passando pela cabeça dela agora.

— Segunda casa à direita — diz, quebrando o silêncio. Paro o carro, coloco em ponto morto, mas não desligo o motor. — Obrigada. — Ela estende a mão para a porta. Merda! Eu preciso dar continuidade ao programado aqui.

— Stephanie. — Eu estendo a mão e agarro seu braço. — Posso te ver de novo? — Minha voz é suave. Não quero fazê-la pensar que sou algum tipo de desesperado.

— Sim, ahn, claro.

— Me dá seu telefone, querida.

Ela hesita antes de puxá-lo de sua bolsa e entregá-lo para mim. Eu rapidamente digito meu número e envio uma mensagem para mim mesmo. Este ato por si só é contra todas as regras que já tive. Eu não me envolvo — muito drama, muito... do mesmo.

Devolvo o telefone dela e sorrio quando o meu toca, alertando-me para a mensagem que acabei de enviar. Stephanie acena com a cabeça, depois abre a porta da caminhonete e salta para fora. Eu rapidamente faço o mesmo e a sigo até a porta. Eu deveria estar tentando selar o acordo aqui, mas, porra,

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não tem como. Eu preciso me concentrar no que acabei de concordar. Este deve ser o meu acordo mais idiota em uma de nossas apostas. Quando ela dá o último passo para a varanda da frente, sei que o tempo está se esgotando. Eu tenho de dizer algo, mas ela me vence:

— Você quer entrar? Se quero? Claro que quero. Ela é bonita. Em minha mente, tento rapidamente imaginar os próximos três meses. Talvez, se eu a mantiver como um contatinho, posso conseguir. Sem compromisso. Porra, na pior das hipóteses, fico sem quatrocentos dólares. Essa não é a parte que me incomoda, no entanto. É o direito de me gabar e não ter de ouvir as zombarias dos caras pelos próximos vinte anos — ou pelo menos até que outra aposta, melhor do que essa, apareça.

— Pode ir na frente, linda.

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CAPÍTULO 2

Ridge

NO FIM DAS CONTAS, STEPHANIE CONCORDOU COM A IDEIA DE SERMOS “AMIGOS coloridos”. Ela afirma que seu trabalho a mantém ocupada e ela não tem tempo para nada mais sério, então concordamos em ficar quando ambos tivéssemos vontade e tempo, sem expectativas. Ela também insistiu para não dormirmos com mais ninguém durante esse período. Por mim, tudo bem. Já faz dois meses que nos conhecemos. Ficamos juntos uma vez por semana, e até agora está funcionando muito bem. Vejo minha carteira ficar quatrocentos dólares mais cheia muito em breve. Os caras não poderiam ter escolhido uma garota melhor; ela é tão desapegada quanto eu. Além disso, o sexo é bom, então só vi vantagem.

— Você quer jogar baralho hoje à noite? — Kent pergunta.

— Vou sair com Steph — digo a ele.

— Oh, sim, sua namorada. Ela te prendeu direitinho, irmão? — Tyler entra na conversa.

— Vá se foder. Nada disso, nós dois estivemos ocupados esta semana. Hoje é a única noite para ficarmos juntos. — Eu preciso de algum alívio, mas não digo isso a eles. Por que botar lenha na fogueira?

— Pode levar ela — sugere Mark.

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— Talvez — eu digo, sem me comprometer. Estou pensando em como fazer isso funcionar. Precisamos jantar, passar algumas horas com os caras e ainda encontrar tempo para ir para a cama.

— Quanto tempo faz? Cinco, seis semanas? Ela já te pegou pelas bolas.

— Seth ri.

— Oito. Riam, meninos, mas eu sei que minha noite vai acabar muito bem. Vocês podem dizer o mesmo? — Eu sorrio.

— Ridge, vamos lá, cara. É noite de baralho. Leve ela — Kent diz, exasperado.

A noite de baralho tem sido nossa tradição nos últimos anos. Nós nos revezamos na casa um do outro, levamos lanches e cerveja e só relaxamos. Não perdemos essa noite por nada, muito menos por causa de um encontro ou aposta.

— Tudo bem, nós estaremos lá. Agora, volte ao trabalho.

Paro na frente da casa da Stephanie às seis horas. Corri do trabalho para casa, tomei um banho rápido e fui direto para lá.

— Ei — Steph diz, abrindo a porta.

— Linda. — Eu me inclino e a beijo. — Você está pronta?

— Sim. — Ela pega a bolsa e as chaves e saímos pela porta. — Como está sendo sua semana?

— Corrida, como sempre. Termino o trabalho de Allen amanhã, espero. Só finalizando umas coisas. E a sua?

Steph passa a me contar sobre seu dia, e eu ouço enquanto vamos ao mercado.

— O que estamos fazendo aqui?

— Noite de baralho. Eu preciso pegar alguns lanches. Eu não tinha planejado ir, mas os caras me cobraram. Eu volto já. — Eu rapidamente saio da minha caminhonete e entro no estabelecimento. Pego alguns pacotes de batatas fritas, molho e uma daquelas bandejas de tacos antes de ir ao caixa. Cinco minutos depois, estou dentro do carro de novo.

— Noite de baralho? — ela pergunta quando dou a partida. Seus braços estão cruzados, então posso dizer que ela não está muito contente. Eu deveria me sentir mal ou algo assim, certo? Então por que não me sinto?

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— Sim, é algo que fazemos uma vez por mês. Há anos — explico.

— E você escolheu logo hoje para nós ficarmos juntos?

— Eu te disse, eu não iria, mas eles me convenceram hoje. Qual é o problema? Faremos uma parada na casa do Kent, jogaremos um pouco, comeremos pizza e lanches e depois vamos embora. — Eu me estico e pego a mão dela. — Então veremos o que podemos fazer para aliviar o estresse da sua semana. — Eu pisquei. Ela não está contente.

— Ridge — ela resmunga. Que diabos? Isso é novo. Eu não vi esse lado dela. Claro, geralmente somos só nós dois saindo para comer e indo para a cama. Consegui evitar sair com os amigos dela ou com os meus até agora. Isto não é um comportamento normal dela.

— Você quer que eu te leve de volta para casa? — Não vou lidar com lamentações. Se ela quer foder, tem que aguentar a noite de baralho. Simples assim.

— Ai! Tudo bem, mas não quero ficar muito tempo.

Eu agarro o volante com força. Uma garota nunca me diz o que fazer. Claro, nunca fico por perto tempo suficiente para que isso aconteça. Ela está delirando se pensa que só porque ela é a única pessoa que estou fodendo agora pode ditar o que eu faço.

De jeito nenhum, querida. Parando na frente da casa de Kent, pego a sacola de lanches e espero na frente da minha caminhonete por Stephanie. Eu não sou um idiota total. Batendo uma vez na porta, entro, pois podemos entrar livremente na casa uns dos outros. Somos uma família.

— Ei, ei! — chamo. Eles repetem nos cumprimentando quando entramos na cozinha.

— Stephanie, certo? — Mark pergunta. Ela parece surpresa por ele se lembrar.

— Sim.

— Bem-vinda. Você joga pôquer? — Kent cumprimenta. Filho da puta, ele sabe que ela não joga. Eu mordo o lábio para não rir.

— Não.

A cara dela não tem preço. Parece até que acabamos de pedir para ela dormir com os cinco ou algo assim. Isso é outra coisa que comecei a notar

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nela. Ela é toda “certinha e adequada”, nunca tem tempo para apenas relaxar — isto é, é claro, a menos que estejamos no quarto. Tirando isso, ela fica sempre tensa. Precisa aprender a se soltar de vez em quando; a vida é curta demais para ser tão séria o tempo todo.

— Não se preocupe, querida. Podemos te ensinar — Seth diz, jogando o braço sobre o ombro dela.

Ela olha para mim — por que, não sei.

— Não precisa — diz, afastando o braço dele.

— Como quiser. Está tudo pronto? — pergunto.

— Sim — Tyler confirma, pegando uma tigela de batatas fritas e colocando-a sobre a mesa.

— Puxe uma cadeira, ou a sala de estar fica ali, caso você queira assistir TV — digo a ela. Steph abre a boca. O que esperava? Eu não vou mimá-la. Ela não é minha namorada e, francamente, não gosto desse seu lado.

Ela revira os olhos e caminha em direção à sala de estar.

— Quem começa? — Eu me sento à mesa.

— Problemas no paraíso? — Mark pergunta.

— Paraíso? Você sabe o que está rolando, irmão. Dê as cartas. — Passamos as próximas duas horas jogando cartas, comendo e mandando ver. Só quando ouço Stephanie pigarrear é que me lembro que a levei comigo. Merda!

— Você está pronto? — ela pergunta. Seus braços estão cruzados sobre o peito, e ela está batendo o pé, com a cara fechada.

Tudo bem, foi idiota me esquecer da presença dela, mas fala sério. Ela escolheu se separar de nós. Olhando a hora, vejo que são nove.

— Sim. Esta é a última rodada.

Ela parece irritada por eu não simplesmente me levantar e sair, mas estarmos no meio de uma rodada. Tudo se desenrola rapidamente, com Seth arrecadando os ganhos.

— Vamos embora — eu digo, levantando e me espreguiçando. — Até amanhã, moças. — Eu olho para Stephanie. — Vamos?

Ela não responde, apenas se vira e sai pela porta da frente. Os caras riem, e não posso deixar de rir com eles. Ela está se comportando como uma estrela. Eu aceno para me despedir enquanto a sigo até a minha caminhonete.

— Apenas me leve para casa, Ridge — ela resmunga.

Não dou a ela o gostinho de uma resposta, apenas ligo a caminhonete e a levo para casa.

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Eu paro na frente da casa e não me incomodo em desligar o motor. Ela está brava e, sinceramente, não me importo.

— Eu queria te perguntar uma coisa, mas você estava muito envolvido com os meninos para passar algum tempo comigo.

Isso é um sinal de alerta. Na verdade, não chamamos isso de “passar tempo juntos” — comemos e transamos, só isso.

— O que era? — digo, levando-a a continuar. Ela sopra o cabelo do rosto e respira fundo.

— Tem um baile semana que vem. É importante, para mostrar meus trabalhos. Eu não quero ir sozinha.

Ai, saco.

— Que dia?

— Sexta.

— Que horas?

— Precisamos sair da minha casa às sete. Começa às oito, mas quero chegar cedo.

Eu penso na aposta. Merda, é o mínimo que posso fazer. Estou na reta final e logo nosso tempo juntos vai acabar de qualquer maneira.

— Sim, o que eu preciso vestir? Seu rosto se ilumina.

— Um terno? — ela diz.

— Entendi. Até lá, então. Ela hesita.

— Vamos nos encontrar nesse fim de semana? Não.

— Tenho muita coisa para fazer depois no trabalho de Allen. Acho que não terei tempo. Pego você às sete na sexta-feira.

Ela não se dá ao trabalho de responder enquanto sai da minha caminhonete. Eu mantenho os faróis acesos na direção de sua porta e a espero entrar para partir com o carro.

Mais quatro semanas.

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CAPÍTULO 3

Ridge

HOJE FOI UM DESASTRE APÓS O OUTRO. PRIMEIRO, O TRABALHO QUE LICITAMOS na Southern Avenue ligou para me informar que estávamos com o lance inferior. Tenho muito trabalho, mas ainda assim odeio perder. Com aquele trabalho em particular, eu estava mais para baixo do que nunca. Não tenho certeza de como o empreiteiro vencedor vai ganhar dinheiro sem economizar. Outra coisa que odeio.

Quando cheguei ao meu local de trabalho atual, descobri que tinham entregado materiais errados. A Lumber Yard misturou as obras de Jefferson e Williams. Levei duas horas no telefone para que trouxessem um caminhão a cada local para trocar tudo. A confusão deles custou a mim e aos meus rapazes um dia de trabalho, atrasando-nos um dia no cronograma e deixando-me com a tarefa de ligar para o cliente para informá-los. O que levou à minha situação atual. Eu já falei que odeio estar atrasado no cronograma?

Passei a tarde no local da obra de Jefferson, o último caminhão tinha acabado de entregar os suprimentos corretos. A sra. Jefferson estava com medo de os materiais estarem errados novamente, mas garanti a ela que estariam corretos. Ela falou muita coisa e insinuou que era melhor que estivessem mesmo. Ela é durona e insistiu para que o trabalho fosse concluído antes da visita da irmã e do cunhado, que chegariam da Califórnia no próximo

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mês. Para acalmá-la, fiquei até o caminhão chegar e verifiquei o conteúdo do pedido. Um lado ruim do trabalho é manter os clientes satisfeitos.

Eu deveria estar “de folga” — se isso é realmente possível para o dono de um negócio — por volta das cinco, porque tenho o baile de gala hoje à noite com Stephanie. Várias vezes hoje pensei em ligar para cancelar, mas dei minha palavra a ela, e isso não é algo que eu leve na brincadeira. Em vez disso, aqui estou eu, deixando a obra de Jefferson às seis e meia quando, para encerrar este dia de merda, o céu se fecha e começa a chover.

Os limpadores de para-brisa estão no máximo no vidro. Eu desacelero quando vejo um carro na beira da estrada à frente. Quando me aproximo, vejo uma mulher chutando o que parece ser seu pneu furado.

Merda. Não posso, em sã consciência, não parar e ajudá-la. Duvido que ela saiba como trocar um pneu, de qualquer forma.

Ligo o pisca-alerta e paro no acostamento, estacionando atrás dela.

A mulher está usando o que parece ser um uniforme de enfermagem e seu cabelo está encharcado. Alcançando o porta-luvas, pego duas capas de chuva que tenho à mão; você nunca sabe quando a Mãe Natureza vai decidir abrir as comportas. Trabalhando na construção, meu estoque tem sido útil mais vezes do que posso contar.

Rasgando um pacote, coloco a capa na cabeça. Pego a outra para ela e saio da caminhonete. Ela está me observando, com os braços cruzados sobre o peito. Eu vejo as chaves do carro dela entre seus dedos como se ela estivesse preparada para usá-las contra mim. Garota esperta.

— Oi — eu grito mais alto do que a chuva. — Parece que você precisa de ajuda. — Eu entrego a ela a capa de chuva.

Ela hesita, mas a chuva aumenta, e ela cede, lentamente estendendo a mão para pegar o que ofereço. Observo enquanto desdobra rapidamente a capa e a coloca na cabeça.

— Eu sou Ridge. — Aponto de volta para minha caminhonete com o logotipo da Construções Beckett. — Acabei de sair do local de trabalho e vi que parece que você precisava de ajuda. Você tem um pneu reserva? — pergunto.

Ela ainda parece hesitante; como disse, acho que ela é esperta.

— Vou enfiar a mão no bolso e pegar minha carteira — aviso. Lentamente, alcanço o bolso de trás e puxo a carteira. Abrindo-a, pego um cartão de visita que tem meu nome completo e informações de contato e entrego a ela.

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A chuva continua a cair, e eu preciso fazer com que ela decida se vai confiar em mim para que possamos dar um jeito no carro. Já estou atrasado e já posso ouvir Stephanie choramingando.

Ela lê o cartão e então, muito lentamente, levanta a cabeça e sorri calorosamente. Estendendo a mão, se apresenta.

— Dawn Miller. Obrigada por parar. Não faço ideia do que estou fazendo.

— Eu te ajudo. — Eu pisco para ela. Mesmo encharcada, ela é linda, com grandes olhos azuis e longos cabelos loiros. — Abra o porta-malas e entre no carro. Não há necessidade de nós dois ficarmos aqui fora, nos molhando. Ela acena, como se rejeitando minha preocupação.

— Eu não vou derreter. Não poderia sentar no carro enquanto você estivesse aqui, eu me sentiria culpada. Agradeço muito por isso, muito mesmo. Ela abre o porta-malas, e eu rapidamente libero o pneu sobressalente e o macaco. Assim que encaixo o macaco, a chuva cessa. Eu me ocupo tirando o pneu furado e rapidamente substituindo-o pelo reserva.

— Você vai ter que cuidar disso. Espero que você não precise ir muito longe. Não é seguro dirigir nestas estradas molhadas. — Eu aponto para o pneu menor.

— Não muito. Vou cuidar disso amanhã — ela promete. Depois de verificar se as porcas estão apertadas, coloco a placa e as ferramentas de volta no porta-malas.

— Está tudo pronto — digo a ela, fechando o porta-malas.

— Muito obrigada. Quanto eu te devo?

— Nada, apenas dirija com cuidado. Foi um prazer conhecê-la, Dawn.

— Eu estendo minha mão a ela.

Dawn desliza a dela contra a minha e nós trocamos um aperto de mãos.

— Igualmente, Ridge. Muito obrigada novamente. Com um aceno de cabeça, eu solto sua mão e corro de volta para a minha caminhonete. Eu observo enquanto ela se acomoda atrás do volante e sai dirigindo. Pegando meu telefone, envio uma mensagem rápida para Steph.

Eu: Atrasado, foi um dia infernal.

Stephanie: Sério, Ridge? Você prometeu.

Eu: Não tive como evitar. Chego logo.

Eu jogo meu telefone no porta-copos e volto para a estrada. Quando a Mãe Natureza decide que não vai mais me torturar hoje, a chuva mais uma

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vez começa. Gotas enormes e pesadas atingem o para-brisa, e eu tenho que diminuir a velocidade, a visibilidade praticamente inexistente. Espero que Dawn chegue ao seu destino.

Uma rajada de vento atinge a caminhonete, e tenho de lutar para mantê-la na estrada. Esta tempestade apareceu do nada. Reajustando minha posição, agarro o volante e me inclino para a frente, mantendo os olhos grudados na estrada. Meu telefone pisca, avisando que tenho uma nova mensagem, mas isso vai ter de esperar. Meu instinto me diz que é Stephanie querendo me incomodar por estar atrasado. Se fosse Stephanie ou minha irmã, Reagan, na beira da estrada, eu gostaria que um cara decente como eu parasse e as ajudasse. Há muitos maníacos por aí, e não é seguro. Ela vai superar isso, e se não superar... paciência.

Com os olhos colados na estrada, eu fico olhando fixamente, tomando o cuidado para não bater em galhos de árvores perdidos — droga, até mesmo em outro carro, na verdade. Há destroços por toda a estrada, então eu desacelero, sabendo que as curvas dos Jacksons estão logo adiante. O velho Jackson vive bem no meio de um conjunto infernal de curvas, e já vi mais acidentes neste trecho de estrada do que gostaria de contar.

Assim que passo pelas primeiras, vejo luzes. Luzes que vêm do outro lado do pequeno aterro. Porra! Isso não é um bom sinal. Hoje não é meu dia.

Eu paro a caminhonete no acostamento. Abro o porta-luvas e pego uma lanterna. Eu ainda estou usando minha capa, não tive tempo de tirá-la porque sabia que a Stephanie estava brava. Sem saber o que vou encontrar do outro lado do barranco, pego meu telefone e o coloco no bolso.

Assim que abro a porta, o vento me atinge e quase me derruba. Eu luto contra as rajadas para conseguir fechar a porta, então ligo a lanterna e verifico os dois lados antes de correr pela estrada. É muito perigoso, mas meu instinto me diz que o tempo é essencial nesta situação. Torço para estar enganado. O que eu encontro me faz entrar em ação. Uma pequena SUV está virada de lado. Começando a descer o barranco lamacento, eu perco o equilíbrio. Escorregando e deslizando, luto para encontrar equilíbrio. Eu finalmente chego à frente do veículo, mas os faróis estão me cegando, tornando impossível ver se alguém ainda está lá dentro. Tenho o cuidado de não me apoiar no carro, não estou disposto a correr o risco de fazê-lo tombar e rolar morro abaixo. Está muito escuro para avaliar a situação, e a chuva ainda está caindo forte. Melhor prevenir do que remediar.

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Com muito cuidado, chego à porta do motorista. Eu ilumino a janela e vejo uma mulher deitada de lado. Seus olhos estão fechados. Merda! Eu sei que não devo tentar movê-la. Enfio a mão no bolso, pego meu telefone e ligo para obter ajuda. Preciso tentar três vezes, pois minhas mãos estão tremendo e molhadas por conta da chuva.

— 911, qual é a sua emergência?

— Aconteceu um acidente — grito mais alto do que a chuva forte. — Na saída da Anderson Drive com a Jackson.

— Senhor, está ferido?

— Não, eu não. Eu vi faróis, então parei. Há uma mulher presa. — Eu sei que provavelmente não estou falando coisas com sentido, mas minha cabeça está muito confusa. Eu preciso ajudá-la.

— Fique com ela, a ajuda está a caminho. Chega em menos de cinco minutos.

— O que eu posso fazer? — pergunto. Estou pressionando o telefone na orelha para poder ouvi-la. A chuva torna isso uma façanha quase impossível.

— Aguente firme, a ajuda está a caminho. Não tente movê-la, a menos que sinta que ela esteja correndo grave risco — ela diz na linha, fria como um pepino. Acho que é por isso que ela tem esse emprego. Depois dos cinco minutos mais longos de toda a minha vida, tenho certeza de que ouço as sirenes.

— Eles estão aqui — digo à atendente.

— Bom, por favor, deixe que eles façam o trabalho deles. Que diabos? Isso é sério?

— Entendi — digo e encerro a ligação. Enfiando meu telefone de volta no bolso, eu balanço os braços. — Por aqui! — chamo. Os dois paramédicos deslizam cuidadosamente descendo a colina, carregando uma prancha. Assim que eles me alcançam, um caminhão de bombeiros e um xerife param na beira da estrada. A cavalaria chegou. Obrigado, Senhor. Espero que esta mulher esteja bem.

— Senhor, está ferido?

— Não, eu estava passando e vi os faróis. Estou aqui há pouco mais de cinco minutos. Não toquei no carro, apenas iluminei a janela. A mulher ao volante parece estar inconsciente. Pelo que percebi, ela é a única passageira. Eu estava com medo de movê-la ou o carro — eu grito para ele.

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— Fez muito bem — ele grita de volta. Saio do caminho e os deixo trabalhar. Meu telefone vibra no meu bolso. Stephanie.

Ela vai ter que esperar.

Eu fico plantado na encosta, apenas para o caso de eles precisarem de ajuda. Observo enquanto os bombeiros se juntam a nós e examinam o carro, avaliando o risco enquanto acenam e fazem sinais com as mãos. Eles devem dizer que tudo está seguro, porque imediatamente começam a trabalhar para tentar abrir a porta. Os paramédicos estão por perto, esperando para chegar ao paciente.

Eu não movo um músculo; fico no meu lugar, encharcado, e espero para ver se ela está bem. Eu gostaria de ter feito mais. Eu faço uma promessa de pelo menos obter meu certificado de RCP. O que eu poderia ter feito realmente se ela estivesse acordada ou se precisasse tentar arrastá-la para fora do carro se houvesse perigo mais iminente?

Meu telefone vibra novamente e continuo a ignorá-lo. Meus olhos estão grudados na cena à minha frente. Eu vejo como a porta — que só vai abrir um pouco — é cortada e retirada do carro. Os bombeiros estão trabalhando com cuidado, mas com firmeza. Assim que a porta é removida, um dos homens a pega e tira pela traseira do carro. Tenho certeza de que eles estão trabalhando com pura adrenalina; é o trabalho deles chegar até ela o mais rápido possível. Você vê isso no cinema, ouve no noticiário, mas estar presente e testemunhar a determinação e dedicação desses homens e mulheres é inspirador. Os paramédicos entram e verificam a motorista. Vejo agora que um deles está no banco do passageiro. Acho que aquela porta abriu perfeitamente. Todos trabalham juntos avaliando a situação. Quando eles gritam pedindo a maca, meu batimento cardíaco acelera. Ela vai ficar bem? Eles podem tirá-la? Eles têm de cortá-la? Um milhão de perguntas vão passando pela minha cabeça, mas ainda mantenho os olhos grudados no carro. Nela. Eu preciso ver se ela está bem. Minutos, horas — perdi a noção do tempo. Só respiro fundo quando os vejo lenta e muito gentilmente tirando-a do carro e colocando-a na maca. Pela dor em meu peito, é como se eu nunca tivesse me sentido assim. Os paramédicos trabalham para prendê-la na maca. Um bombeiro joga um grande cobertor sobre seu corpo, seguido pelo que parece ser uma lona, uma tentativa de mantê-la seca neste aguaceiro torrencial. A Mãe Natureza está implacável hoje. Lágrimas do céu, como minha mãe sempre diz.

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Quatro deles cercam a maca e começam a caminhada lenta e escorregadia morro acima até a ambulância. Na escuridão da noite, eu os perco de vista até eles alcançarem a luz do farol.

— Ei, cara, você está bem? Está machucado? — Um dos caras coloca uma mão hesitante no meu ombro.

Eu nego com a cabeça.

— Não, só parei para ajudar — tento explicar. Ele balança a cabeça, indicando que me ouviu. Essa chuva maldita dificulta uma conversa normal.

Virando-se, ele se dirige ao carro, se enfia lá dentro e puxa uma bolsa. A bolsa dela.

E se ela acordar sozinha no hospital? Quanto tempo sua família vai demorar para chegar aqui? Ela vai ficar com medo. É esse pensamento que me toma enquanto subo a colina. Vou ao hospital só para saber se ela está bem, se não está sozinha. Vou esperar até que sua família chegue. Talvez eu possa responder a quaisquer perguntas que ela possa ter. Posso pelo menos informá-la sobre o ponto em que a encontrei em seu carro. No topo do morro, eles já a colocam na ambulância. Estou indo na direção do carro quando o delegado me impede.

— Com licença, senhor, você conhece a vítima? — ele questiona.

— Não. Eu estava passando e vi os faróis acima do barranco — explico. Ele assente.

— Vou te fazer algumas perguntas. — Ele olha para a chuva que ainda cai. — Você pode ir à delegacia?

— Não. Vou acompanhá-los até o hospital. Inclinando a cabeça para o lado, ele me observa.

— Eu pensei que você não a conhecesse.

— Eu não conheço. No entanto, sei o que aconteceu aqui esta noite... depois que eu a encontrei, pelo menos. Eu não quero que ela acorde sozinha. Vou ficar até a chegada da família. — Dou a ele os detalhes do que acabei de decidir minutos antes.

Ele parece entender.

— Eu te encontro lá.

Aceno rápido para ele e atravesso a estrada até minha caminhonete. Ligando o aquecedor, pego meu celular. Várias chamadas perdidas e uma mensagem de texto de Stephanie.

Stephanie: Não acredito que você me deu um bolo.

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Sério? Ela acha que sou desses?

Eu: Houve um acidente. Parei para ajudar. Indo para o hospital agora.

Eu vou me redimir por isso.

Depois de enviar, coloco o telefone no porta-copos e estendo a mão para pegar o meu cinto de segurança, prendendo-o. Espero a ambulância sair, vou segui-los, sem saber ao certo para onde a estão levando. Não tenho de esperar até a sirene soar e eles partirem. O delegado sai atrás deles, estendendo a mão para fora da janela para eu seguir.

Grato pela escolta, coloco a caminhonete em movimento e o sigo de perto. Todo o caminho, rezo para que ela esteja bem. Não sou realmente um homem de oração. Eu rezo, mas não faço disso um hábito. Mas algo dentro de mim precisa que ela esteja bem.

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