Um Amor em Nova York - Primeiros Capítulos

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Tradução: Carolina Caires Coelho

1ª edição Rio de Janeiro

Copyright © 2018. Bossy Nights

Copyright da tradução © 2020 allBook Editora

Direção Editorial

Beatriz Soares

Tradução

Carolina Caires Coelho

Preparação e Revisão

Clara Taveira e Raphael Pelosi Pellegrini

Modelo Masculino

Stuart Reardon

Fotógrafo

Scott Hoover

Foto da modelo e cenário

Shutterstock

Adaptação de Capa

Laura Machado

Projeto Gráfico e Diagramação

Cristiane Saavedra | Saavedra Edições

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Publicado perante acordo com a Bookcase Literary Agency.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária CRB-7/6439

M858a Morris, Liv.

1.ed. Um amor em Nova York / Liv Morris ; tradução Carolina Caires Coelho. - 1. ed. - Rio de Janeiro : AllBook, 2020.

240 p.; 16 x 23 cm.

Tradução de: Bossy nights

ISBN: 978-65-86624-01-4

1. Romance americano. I. Coelho, Carolina Caires. II. Título.

CDD 813

CDU: 82-31(73) 20-63663

2020

PRODUZIDO NO BRASIL.

CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM

CAPÍTULO 1

Tessa

ASSIM QUE A PORTA DO HOTEL SE FECHA, DEPOIS DA SAÍDA do carregador de malas, jogo a bolsa na cama, caminho até a janela e puxo a cortina para o lado. Os prédios comerciais de Manhattan, majestosos do jeito que a mão do homem consegue fazer, se erguem até encontrarem o céu do pôr do sol. Olho para a calçada, vejo as pessoas andando em todas as direções. Milhões de táxis passam voando, e a cena toda tem uma energia maluca que dá a impressão de que a coisa está viva, que pulsa. E pensar que eu quase não vim.

Tenho um objetivo durante minha semana na cidade: encontrar um emprego que me dê dinheiro suficiente para viver aqui de vez. Provavelmente é um sonho impossível, porque eu acabei de me formar na faculdade e não tenho muita experiência de trabalho.

Minha melhor amiga, Magnolia, nome de gente nascida no Sul, o que é o caso para nós duas, pretende vir morar comigo se eu realmente conseguir emprego esta semana, então fracassar não é uma opção. Há anos planejamos morar nesta cidade, mesmo que para isso uma tenha

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que cortar o cabelo da outra e sobreviver comendo macarrão instantâneo para conseguir pagar o aluguel.

Encostada no vidro, murmuro rezando para que em algum lugar dessa selva de pedra maluca, meu currículo de recém-chegada ao mercado de trabalho caia nas mãos certas.

Pego minha bolsa e tiro meu celular e embalagens de plástico prateado – também conhecidas como preservativos. Mas o que é isso?

— Maggie — falo baixinho.

Jogo as embalagens dentro do cesto pequeno de lixo ao lado da cômoda, procuro o número de Maggie no meu telefone e pressiono “ligar”. Precisamos conversar.

— Finalmente, Tessa! Você está me ouvindo? — Maggie diz com a velocidade e a voz estridente de sempre.

— Encontrei suas camisinhas — digo, apesar de não estar surpresa.

— E se minha bolsa fosse revistada no aeroporto e um segurança as visse?

— Ele provavelmente teria pedido seu número. Relaxa, tá? Quais são os planos para hoje à noite? — ela pergunta, pulando a parte em que precisa pedir desculpas.

— Não sei. — Eu não estou morrendo de vontade de sair sozinha à noite logo na primeira vez. Tem uma pasta do serviço de quarto na mesa ao meu lado, e eu abro a capa. — Talvez eu peça comida e coma no quarto mesmo. — Ao ver os preços rapidamente, eu me retraio e repenso a ideia.

— Você só pode estar de brincadeira. Tessa, é sua primeira vez sozinha em Nova York! Você precisa fazer três coisas hoje.

— Pode me dizer quais são? — Suspiro, sabendo bem onde ela quer chegar. As ideias dela nunca mudam.

Maggie vem tentando que eu faça sexo desde o ensino médio. E pela primeira vez, concordo com isso. Mas sou uma moça realista, e já assisti a todos os episódios de Sex and the City, por isso sei que encontrar um amor de verdade neste lugar de relações sem compromisso não vai ser fácil. Tenho que estar aberta às opções, até mesmo aquelas nas quais

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ainda não pensei. Mas uma noite de sexo casual para uma virgem é uma coisa complicada. É difícil esconder a falta de experiência.

— Olha só — Maggie continua falando. — Primeiro: quero que você desça até o restaurante do hotel para jantar. Nada de se esconder pedindo serviço de quarto. Segundo: puxe assunto com um homem, de preferência um homem gostoso. Terceiro: leve-o para seu quarto e tenha uma noite de sexo incrível.

Percebo a euforia na voz de Maggie. Ela deve estar me imaginando ligando para ela amanhã cedo para contar que fui comida por algum cara no bar. De jeito nenhum. Não mesmo.

— O primeiro, sim. O segundo… talvez. O terceiro, você é hilária e maluca. — Termino rindo e balançando a cabeça. — Nunca beijei nenhum cara que eu não conhecia, então por que você acha que eu levaria um homem qualquer para o meu quarto?

— Viva um pouco. Não tem nada de mais. Não vai te fazer mal — Maggie cantarola o lema da vida dela em meu ouvido.

Ela tem razão. Eu deveria viver, mesmo, mas isso significa agarrar o primeiro homem disposto e disponível pela gravata e arrastá-lo para meu quarto?

— Olha, estou mais do que pronta há muito tempo. Mas ainda preciso conhecer um que mereça ser aquele que vai tirar minha virgindade.

— Você ainda sofre de estresse pós-traumático por causa daqueles idiotas de Montevallo — diz ela, mencionando a faculdade na qual nos formamos, no Alabama, há uma semana. — Esqueça todos eles. Você está recomeçando num lugar novo. Ninguém sabe da sua deficiência de sexo nem que na sua família tem um monte de policiais de dois metros de altura.

— Cidade nova, vida nova — digo com todo o entusiasmo que consigo, o que não é muito, levando em conta o trauma com que lidei durante a faculdade.

Assim que espalharam que eu ainda era virgem, no segundo ano, um alvo invisível foi colocado entre minhas pernas. Durante três longos anos, eu tive muitos primeiros encontros cheios de conversa mole e mãos

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bobas. Ninguém me queria por quem eu era. Eles queriam os direitos de ostentação por ser o primeiro a transar comigo. Estremeço só de lembrar e torço para que essas lembranças tenham morrido na faculdade. Às vezes, eu me sinto a Oitava Maravilha do Mundo. Espero que alguém lute por mim… Tomara.

— Tire essa calça jeans, passe um batom e desça. Não fique no quarto. Está bem?

— Certo. — Afinal, eu não gastei uma grana das minhas economias para simplesmente ficar sentada na cama assistindo às reprises de Friends. Vim para Nova York para tentar me encontrar, e preciso sair deste quarto para que isso aconteça.

Depois de desligar o telefone, concluí que minha camiseta da Taylor Swift e a calça jeans skinny me deixam com cara de menina de 14 anos, não uma mulher de 23. Determinada a parecer apresentável, abri a mala e encontrei um vestido cor-de-rosa no estilo ciganinha.

Depois de me trocar depressa, calço as sandálias nude, passo um batom rosa claro e pego a bolsa. Está na hora de enfrentar meus sonhos de frente, ainda que eles me assustem mais do que sou capaz de admitir.

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CAPÍTULO 2

Tessa

CAMINHANDO PELO SAGUÃO, RESPIRO FUNDO AO ME APRIximar do restaurante. A hostess está toda vestida de preto, o que faz com que eu me pergunte se deveria mesmo ter vestido rosa.

— Boa noite. Quero uma mesa para jantar, se tiver alguma disponível — digo de modo tranquilo, dando a impressão de que estou no controle da situação. Não preciso expor minha ansiedade por estar sozinha em uma cidade onde não conheço ninguém.

— Claro, senhorita — ela diz com um leve sibilar. Isso me incomoda um pouco, mas ignoro. — Sua família também vem?

Ai. Essa doeu.

— Não, só eu — respondo, derrotada pelas palavras dela e me sentindo como uma menina de 15 anos que fugiu de casa.

Depois de revirar os olhos, a vaca da hostess pega um menu e me leva para uma mesa quadrada e quadrada.

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— O garçom virá logo — diz ela, olhando com certo desdém para mim, mas logo se retira. Já vai tarde. Depois que me sento, olho ao redor. O restaurante tem uma vibe “Velho Mundo recebe os hipsters” com as mesas desgastadas e as paredes de tijolos aparentes. Há luzes fracas no teto, o que dá ao espaço um aspecto sombrio. Escolhi o Hammond Hotel porque ele tinha boa pontuação no quesito modernidade, e realmente cumpre o que promete.

Analiso a carta de vinhos, que tem muitas páginas, e me concentro nos tintos servidos por taça. Não vejo Pinot Noir nem Merlot entre as opções, por isso vejo os espumantes, e finalmente encontro um que é familiar: meu querido prosecco. É minha versão de champanhe barato. Um homem de 30 e poucos anos, com camisa branca de mangas compridas e calça preta, para à minha mesa.

— Boa noite. Eu me chamo Jeffrey e vou te atender. — Abro um sorriso receptivo para ele, que retribui. — Quer beber alguma coisa?

— Sim. Pode me trazer um prosecco, por favor? — respondo, fechando a carta de vinhos.

— Claro — ele responde e se inclina na minha direção. — Mas preciso ver seu documento.

Pelo menos ele diz isso bem baixinho. Mas eu deveria ter esperado algo assim depois dos comentários da hostess. Na verdade, estou surpresa por ela ter me entregado a carta de vinhos.

Pego a carteira de dentro da bolsa e pego a minha habilitação do Estado do Alabama. Jeffrey confere e finalmente sorri. Ufa.

— Eu sabia que você era do Sul, Contessa Holly — ele diz, devolvendo meu documento. Não deixo de reparar no olhar malicioso de paquera que lança a mim. — E seu primeiro nome é bonito. Combina com uma jovem bonita.

— Obrigada. — Olho na direção do meu colo, sentindo o rosto todo corar. Será que todos os homens aqui são tão diretos assim?

— Você gosta que te chamem de Contessa? — ele continua, apesar de eu só querer que vá buscar minha bebida.

— Só Tessa — digo, olhando para ele de novo.

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Talvez, quando tiver uns 30 anos, eu tente a versão que parece mais velha. Sempre senti que precisava ser mais realizada na vida para combinar com meu nome. Quem sabe depois que eu me tornar uma executiva sênior, ou depois que me casar e tiver alguns filhos. Mas, com todo o azar que tenho, será um milagre conseguir um único encontro.

— Tessa combina com você. Já volto com um prosecco para a bela mulher de rosa. — Ele dá um tapinha na mesa, me lança um sorriso sutil e caminha em direção ao bar.

Abro o cardápio do jantar e observo as opções. Arregalo os olhos quando vejo os preços. Todas as entradas custam mais de 25 dólares, até os pratos de macarrão com frango, que costumam ser mais baratos.

O fato de eu não estar mais no Alabama me pega de jeito, e eu noto uma verdade pesada: preciso de um emprego onde eu ganhe um bom dinheiro para conseguir sobreviver aqui. Por fim, escolho uma das opções menos caras: sopa de lentilha. Vai me saciar e, se eu tiver sorte, pode ser que venha com pão.

Enquanto espero que o atendente volte, um homem mais velho, vestido com um terno escuro e elegante, entra sozinho no restaurante, chamando minha atenção. Um homem de terno sempre me chama atenção. É minha versão de lingerie masculina.

Os ombros dele são largos, e ele tem uma postura firme. Todo mundo para e observa enquanto ele caminha pelo restaurante como se fosse o dono do lugar. Os cabelos grossos e ondulados são bem pretos, chegam a brilhar de um jeito a causar inveja a muitas mulheres – a mim, inclusive.

Esqueça o simples ato de vestir roupas. O terno dele parece ter vida própria no corpo. Terno de sorte. O passo dele se torna mais lento quando se aproxima do bar, que por acaso fica perto da minha mesa. Sorte a minha.

O bíceps avantajado se flexiona quando ele puxa um banco do bar e se senta. Droga. Agora só consigo ver suas costas – não estou reclamando. Ele tem um belo traseiro.

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— Sinto muito por fazê-la esperar, senhorita. Aqui está sua bebida. — Jeffrey parece estar sem fôlego quando coloca a taça de espumante cheia de líquido borbulhante à minha frente.

— Obrigada — digo antes de tomar um gole.

Quando o líquido gelado toca a minha língua e desaparece em seguida, o belo homem de negócios se vira no banco. Observa o salão, parando ao me ver, e me encara.

Nossa…

Seus olhos escuros e intensos me observam inexpressivos. Eu estou congelada, com a taça ainda encostada nos lábios e com dificuldade para respirar. Minha nossa, ele é o homem mais lindo que já vi, tirando os dos filmes e das revistas – e, mesmo assim, não me lembro de ter visto um cara mais gostoso do que ele.

Eu me viro na cadeira e olho atrás de mim, esperando muito encontrar alguém de pé ali, como uma mulher linda digna da beleza dele. Mas não há ninguém. Olho para a frente de novo, meus olhos se conectam a esse lindo desconhecido, e eu fico impressionada por ele estar me dando atenção total.

Ele balança a cabeça, e noto seus lábios carnudos esboçando um sorriso. No instante seguinte, abre um sorriso matador para mim, e sinto uma onda de calor muito estranha.

Acho que estou passando mal por perceber que sou o alvo da sua atenção. Mas ele não é nenhum dos caras com carro esportivo que já conheci; é um homem de 30 e poucos anos, de terno, um deus sexy sentado em um bar na bendita cidade de Nova York.

Faço uma careta quando olho para meu vestido. A parte de cima me faz lembrar do vestido de noiva de Molly Ringwald na comédia Gatinhas e Gatões. Talvez esteja na hora de dar uma atualizada nesse look de mocinha.

Retribuo com um sorriso tímido, e já acho isso um baita feito, já que não consigo nem me lembrar do meu nome. Ele leva um copo de líquido amarelo aos lábios. Não desvia o olhar do meu quando beberica, exibindo suas habilidades de sedutor experiente.

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Ele passa a língua pelos lábios, e aquele sorriso arrebatador retorna, virado bem para mim. Meus mamilos reagem, tentando atravessar o tecido fino de algodão do vestido. Eles nunca encontraram um homem assim, na verdade, nunca encontraram homem nenhum, mas esse homem não tem nada a ver com os da faculdade. Ele me parece arriscado e meio velho para mim. Talvez…

— Com licença, senhorita. Já decidiu o que pedir? — Jeffrey está de pé na minha frente com uma caneta na mão, impedindo que eu veja o bonitão que estava me encarando, jogando um balde de água fria na minha empolgação.

— Ah, sim, pedir — murmuro enquanto Jeffrey espera uma resposta.

— Sim, imagino que esteja aqui para jantar, ou talvez esteja esperando alguém chegar? — Ele ergue as sobrancelhas, em dúvida.

— Desculpa — consigo dizer e me endireito na cadeira. — Pode me trazer a sopa de lentilha?

— E o prato principal? — Jeffrey pergunta.

— Só a sopa. — Ai. Preciso encontrar um lugar onde eu possa fazer uma refeição por menos de 50 dólares.

— Mais um prosecco? — ele pergunta, mas com certeza eu não preciso beber mais, porque já estou meio alegre. Além disso, preciso sair à procura de um emprego amanhã, não tenho tempo para curar ressaca.

— Não, obrigada. Só água.

Assentindo depressa, Jeffrey coloca o cardápio embaixo do braço e caminha em direção aos fundos do restaurante lotado.

Incapaz de resistir ao homem lindo de morrer, eu me viro e o vejo ainda sentado no banco, virado para mim. Está concentrado no telefone, com os dedos compridos e ágeis em movimento. Maggie tem uma teoria meio doida. Ela acha que o pênis de um homem é mais ou menos o dobro do tamanho de seu polegar, o que faria com que esse homem à minha frente fosse extremamente abençoado lá embaixo.

A barba dele não é muito cheia, é curta. Seria um crime contra a Mãe Natureza e os seres humanos do convívio dele cobrir totalmente um rosto como o seu.

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Depois de alguns minutos, ele coloca o telefone no bar. Com um leve sorriso, pega a bebida e a ergue para fazer um brinde… a mim. Não acredito que ele ainda está me olhando. Em que universo estou?

Ergo meu copo como ele fez e beberico, mas nada chega aos meus lábios. Afasto o copo da boca e dou uma olhada. Vazio. Ele ri da minha situação, e eu também dou risada. Ele ergue um dedo, pedindo para que eu espere, e se vira para a frente no banco, fazendo um sinal para chamar o garçom.

Durante a conversa, ele aponta para mim, e o garçom assente e se vira. O moreno alto, bonito e sensual faz um sinal de positivo, então acho que está me comprando uma bebida. Não acredito que isso está acontecendo. Devo a Maggie por insistir para que eu saísse do quarto. Nunca pensei que eu iria além da primeira sugestão dela. Bem, não falei com ele, mas comprar uma bebida para mim é como dizer “olá” numa paquera entre adultos.

Digo “obrigada” sem emitir som e enrolo uma mecha de cabelo no dedo – um hábito de nervosismo que tenho desde sempre, que faz com que eu pareça infantil. Enfio as mãos embaixo da mesa para controlar meus dedos trêmulos.

Ele sorri para mim, assentindo depressa, mas há um quê de doçura no modo com que ele olha para mim. Isso me acalma, apesar de meu coração estar aos pulos. Quando se afasta do bar e fica de pé com a bebida na mão, suas roupas parecem se ajustar como mágica no corpo dele. Ele não precisa nem ajeitar a gravata.

Perco o fôlego quando ele caminha na minha direção, e meus batimentos cardíacos chegam ao nível de exercícios aeróbicos. Seria possível que ele realmente estivesse se aproximando de minha mesa?

Essa ideia me excita e me assusta. Ele é todo refinado e mundano, enquanto eu estou aqui, sentada com meu vestido Forever 21 como se eu tivesse acabado de me formar na faculdade… e acabei mesmo.

Antes que ele possa dar dois passos na minha direção, uma mulher para na sua frente. Droga. Ela está usando roupas de alta-costura, uma saia lápis preta e justa e uma blusa de seda branca para dentro da saia.

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Os cabelos pretos estão presos em um coque alto no topo da cabeça. Não consigo ver seu rosto, mas eu a observo beijá-lo no rosto e, infelizmente, ele retribui da mesma forma.

Eles trocam algumas palavras, e ele olha para mim por cima do ombro. Nossos olhos se encontram, e ele sorri enquanto inclina a cabeça, quase como se estivesse tentando se desculpar. Pelo que, não sei bem. A mulher vira a cabeça, acompanhando o olhar dele, e encontra o meu.

E, claro, ela é linda de morrer, e mais próxima da idade dele e de seu nível de sofisticação. Maquiagem perfeita, cabelo perfeito, roupas perfeitas – a aparência perfeitamente polida que eu nunca vou conseguir nem mesmo com uma transformação total feita pelo consultor de moda Tim Gunn e um banho de imersão na Sephora. Com um olhar atento, a mulher me inspeciona com aquela encarada típica do instinto feminino e então diz algo a ele. O homem assente para ela – ou para mim?

Totalmente em choque, não consigo fechar a boca. Ele está ali com uma mulher que claramente é mais do que uma amiga, e ainda assim está me paquerando. Que safado. Um safado lindo de morrer, mas um safado, mesmo assim.

O safado lindo me dá uma piscada rápida, e então coloca a mão na lombar da moça, guiando-a para fora do restaurante, fazendo com que eu questione a curta interação que tive com ele.

Observo o casal até que desapareça em direção ao lobby. Ainda bem que a mulher com quem ele estava chegou antes de ele se aproximar da minha mesa. Prefiro ver a verdade de longe a tê-la esfregada na minha cara. Respiro fundo e tento exalar todas as sensações malucas que aquele cara despertou dentro de mim. Nenhum outro homem já me deixou excitada e perturbada assim – nem tão irada. Depois de suspirar mais duas vezes, eu me sinto menos ansiosa e noto que Jeffrey está vindo em minha direção segurando uma bandeja.

— Sua sopa de lentilha, senhorita — ele diz, colocando a tigela quente na minha frente. — Um cesto de pão. Coloquei umas fatias a mais — ele sussurra.

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— Obrigada — digo, pronta para comer.

— E outro prosecco de um admirador no bar. — Ele se vira para onde o homem que me olhou estava sentado. — Ah, parece que ele se foi. Estranho.

— Sim, muito. Ainda mais porque ele saiu com uma mulher.

— Você sabe quem ele era? — Jeffrey se inclina para mim, como se ele estivesse me contando algo que não deveria contar.

— Ele me comprou uma bebida antes de partir com a namorada. Acho que ele a trai. — Cruzo os braços à frente do peito, bufando. Só pensar no olhar daquele desconhecido me deixa toda nervosa de novo.

— Sério? — Jeffrey pousa a bandeja na mesa. — Eu o conheço há alguns anos. Na verdade, ele é o dono deste hotel… bom, a família dele, e eles são incríveis para os empregados aqui.

— Espere… ele é dono deste hotel?

— Sim, a família Hammond. Você sabe, a mesma família dona da editora Hammond.

— Como ele se chama? — pergunto, porque tenho tentado fazer essa editora responder aos meus quinhentos e-mails com meu currículo anexado. Acho que já me candidatei a todas as vagas que eles postam on-line, até aquelas que exigem dez anos de experiência. Quero demais um emprego.

— Barclay Hammond — Jeffrey diz.

— Você só pode estar brincando comigo. Pensei que ele tivesse uns 70 anos.

— Barclay Hammond, o pai, sim, mas o homem que estava no bar é o filho dele, Barclay Júnior.

— Nossa. — Fui reduzida a uma palavra, o que é bem triste, se considerarmos que me formei com honra ao mérito em Inglês.

— Olha, preciso voltar ao trabalho. — Ele pega a bandeja e inclina a cabeça para a direita. — Eles estão me olhando de cara feia.

— Desculpa, desculpa — digo, afastando-o com um gesto de mão.

— Ah, por falar nisso, ele deixou seu jantar pago.

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— Sério?

— Você deve tê-lo impressionado de verdade — ele acrescenta com os olhos brilhando.

Apesar de essa tigela pequena de sopa e a bebida custarem o dobro do que custariam na minha cidade, parece errado aceitar que Barclay Hammond pague, sabendo que ele é um típico playboy de Manhattan.

Queria que ele voltasse para eu poder dizer o que acho dele, e então jogar meu prosecco na cara linda dele e observar as gotas pingando de sua gravata Armani. Mas seria desperdiçar minha bebida preferida.

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CAPÍTULO 3

Barclay

— BARCLAY. — MINHA IRMÃ, VICTORIA, ESTÁ SENTADA À minha frente enquanto jantamos no Four Seasons, em Midtown. Paro de olhar para meu prato, agora vazio, e a vejo olhando para mim com olhos semicerrados quando se recosta na cadeira, empurrando a bandeja em direção ao centro da mesa. — Há 15 minutos você não diz nada, só comeu a carne e as fritas.

— Desculpa, mana. Aconteceu muita coisa no trabalho hoje. — A mentira sai fácil.

Eu mal me lembro de ter comido, e minha distração nada tem a ver com trabalho. Tem a ver com a moça linda que vi no bar do hotel depois de sair do escritório. Ela me fez lembrar de como eu adoro a atração inicial e a paquera ao conhecer uma mulher – o desejo viciante de chamar sua atenção e ver se ela sente a mesma química forte que percebo entre nós.

Minha mente tem repassado a imagem daquela mulher deslumbrante vestida de cor-de-rosa. É um loop contínuo que perde a força durante minhas partes preferidas, como quando ela olhou para trás sem

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acreditar que eu estava prestando atenção nela. Como eu poderia não notar aquela beleza de vestido cor-de-rosa sensual? Ele deixava exposta a pele clara de seus ombros, os cabelos loiros ondulados sobre eles. Caramba, ela era linda.

Sorrio, pensando no corar de seu rosto quando notou que eu olhava para ela, sim. Não consigo me lembrar da última mulher que vi corando por causa de um simples contato visual.

Ela já tem idade para beber, mas é jovem demais para lidar com um homem como eu. Eu provavelmente partiria seu coração e me odiaria por isso depois. E a verdade é que não tenho tempo para investir em um relacionamento. Passo todos os minutos do dia trabalhando.

— Hum, entendi — minha irmã diz, olhando para mim por cima do copo. — Você sabia que acabou de sorrir? E não vejo seu sorriso há meses.

Droga, ela me pegou. Tiro o sorrisinho do rosto enquanto Victoria procura a verdade em meus olhos. Minha inexpressão como disfarce provavelmente é inútil, já que nunca fui capaz de esconder nada dela, o que lhe dá uma vantagem injusta. Só Deus sabe que não faço ideia do que está acontecendo em sua cabeça, mas tenho certeza de que ela vai me contar.

— Quando foi seu último encontro?

— Não estou pronto para um relacionamento.

— Não estou falando de namorada. Um encontro simples. Sabe, aquela coisa de dois adultos se encontrarem para comer alguma coisa e bater papo? — Ela suspira, frustrada, colocando a taça de vinho na mesa. O assunto é dela agora, que droga.

Com os cabelos pretos presos no topo da cabeça, olhos azuis sérios e perguntas intrometidas, ela se parece com minha mãe, o que me faz me perguntar se minha velha e querida mãe pode ser, de alguma forma, responsável por essa conversa intrusiva.

— Que tal pedir uma sobremesa? Eles têm um bolo delicioso de chocolate sem farinha.

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Eu sempre conseguia distraí-la com doces quando éramos crianças. Se eu mostrasse um saco de balas, ela se esquecia totalmente da louça que eu tinha quebrado.

— Bela tentativa de fugir da minha pergunta, mas me preocupo por você não ter vida fora da empresa. — Seu olhar se suaviza, e ela inclina a cabeça. — Faz dois meses que você e a Amanda terminaram. Está na hora de seguir em frente.

— Estranho. Não senti nenhuma dor, o que é tão comum de acontecer depois de um término. Depois de quatro anos juntos, eu deveria sentir a perda, não?

— Talvez você não sentisse a coisa certa por ela. Afinal, ela te deu um ultimato e você não concordou.

— Não é que eu não queira me casar. É só que… — Paro de falar, sem saber como terminar a frase.

— É onde quero chegar. Ela não era a pessoa certa para você. Não é sua culpa. Não escolhemos por quem nos apaixonamos ou não. Mas não vai acontecer se você não namorar ninguém.

— Minha falta de namoro não tem nada a ver com Amanda. Tem mais a ver com o tempo. É sério. — Ergo o dedo num juramento de escoteiro. — Estou dedicado a levar a editora Hammond Press para o próximo nível no mercado da publicação. O mundo do livro está mudando, e eu não quero que o que meu pai construiu sucumba na poeira.

— Nem eu, mas não deixe o trabalho dominar sua vida. você viu o que aconteceu com o pai. Pelo menos ele tem a gente para apoiá-lo. Eu me retraio falando sobre isso. Meu pai deixou a editora há um ano quando os médicos disseram que seu esquecimento era mais do que apenas coisa da idade. Eu tentei intervir e assumir seu lugar como CEO, mas ainda preciso me esforçar para corresponder às expectativas. Por enquanto, o quadro de diretores aprova minhas ações, e planejo mantêlos contentes, e também aos nossos investidores.

— Prometo voltar à ativa no verão. Talvez eu conheça alguém nos Hamptons.

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— Ah, por favor, nada de arranjar uma daquelas mulheres interesseiras. — Minha irmã revira os olhos, e não posso dizer que discordo dela. Quero que a mulher por quem eu me apaixone seja verdadeira. Não cheia de frescura e interessada em se destacar socialmente. Esse tipo de mulher me entendia depois do primeiro gole de champanhe.

— Você me conhece. Estou sempre à procura do diamante na lama. E quando digo lama, eu me refiro ao pântano da paquera em Manhattan.

— Tá, você venceu. Vamos mudar de assunto. A mamãe quer que você vá a Greenwich para o aniversário do papai daqui a três semanas.

— Eu não perderia isso. Vou ligar para ela amanhã para contar a novidade.

— Já se prepare porque ela vai falar para você levar uma namorada. — Victoria ri, mas sei que ela tem razão. Minha mãe quer o melhor para mim, e, para ela, o melhor seria uma esposa e dois filhos.

— Pensando bem, por que não conta para ela que vou?

— Nada disso, Barc. Você precisa de um empurrãozinho. Afinal, está com quase 40 anos. E você sabe o que dizem sobre homens de quase 40 que nunca se casaram.

— Não, mas tenho certeza de que você está prestes a me contar.

— Eles têm fobia de relacionamentos.

— Certo. Vou levar alguém comigo ao Prêmio Warwick no sábado para provar que você está enganada. — Minhas mãos transpiram quando tamborilo os dedos na mesa. Não tenho tempo para me preocupar com isso, mas as táticas de persuasão de minha mãe são piores do que as de minha irmã. Preciso que o garçom traga algo doce para Victoria comer agora mesmo. É minha única esperança. — Mas, por favor, diga à mamãe que estarei lá em três semanas.

— Vou deixar passar dessa vez, mas se você não tiver um par, vou encontrar um para você para a festa de aniversário do papai. — Ela ri, e eu sei que não poderei enfrentar o encontro que está armando, que provavelmente será com uma de suas amigas. — Ah, tem uma condição para o encontro desse sábado. Ela não pode ser ninguém que você já conheça. Quero que você batalhe dessa vez.

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Nunca fiquei desesperado o suficiente para contratar uma acompanhante, mas meu velho amigo Trevor faz isso. Ele usa os serviços quando precisa de companhia para ir a um evento ou a uma ocasião discreta. Se as coisas ficarem complicadas, posso telefonar para ele e pedir o número, mas pensar nisso embrulha meu estômago.

É uma atitude de fracassado contratar um serviço de acompanhante, ainda mais sabendo que minha irmã vai perceber a farsa de cara.

Basicamente, estou ferrado.

— Mais uma coisa. A festa de três anos do meu casamento com Danton acontece na semana que vem, e a mãe de nossa babá vai passar por uma cirurgia. Você pode cuidar da Beatrice para nós? — O sorriso dela é sarcástico, o que quer dizer que ela sabe que ganhou dessa vez também.

— Pensei que você quisesse que eu me acertasse com alguém, não que quisesse me assustar. Olha, nunca troquei uma fralda na vida. — Minha sobrinha de três meses é uma adorável versão em miniatura de minha irmã, o que quer dizer que ela também é bem determinada. Que Deus me ajude. — Você sabe ser malvada.

— É só para você cair na real.

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