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1ª EDIÇÃO – 2021 RIO DE JANEIRO
COPYRIGHT © 2020. EDUARDA GOMES.
COPYRIGHT DA TRADUÇÃO © 2021. ALLBOOK EDITORA.
Direção Editorial
Beatriz Soares
Preparação e Revisão
Clara Taveira e Raphael Pelosi Pellegrini
Modelo de capa
Sahib Faber
Capa
Barbara Dameto
Projeto Gráfico e Diagramação:
Cristiane Saavedra | Saavedra Edições
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439
G613i Gomes, Eduarda
1.ed. Indecente / Eduarda Gomes. - 1. ed. – Rio de Janeiro:
AllBook, 2021. 320 p.; 16 x 23 cm.
ISBN: 978-65-86624-38-0
1. Romance brasileiro. I. Título.
21-69077
2021
PRODUZIDO NO BRASIL.
CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM
CDD 869.3
CDU: 82-31(81)
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RIDE
SoMo
FIRST
SoMo
SKIN
Rihanna
ONE
Ed Sheeran
SUGAR
Maroon 5
ROCKET
Beyoncé
DIAMONDS
Rihanna
IS IT A CRIME
Sade
SUFFER
Charlie Puth
DOWNTOWN
Anitta, J Balvin
UNCONDITIONALLY
Katy Perry
LOVE FACE
Trey Songz
STRONGEST
Ina Wroldsen
PORN STAR
August Alsina
SEX THERAPY
Robin Thicke
CLOSE
Nick Jonas, Tove Lo
MANIAC
Michael Sembello
SLOW MOTION
Trey Songz
SEX WITH ME
Rihanna
SAY IT FIRST
Sam Smith
LLEGASTE TÚ
CNCO, Prince Royce
DEIXA
ACONTECER
Grupo Revelação
YOU CAN BUY EVERYTHING
SoMo
MAR DE SÁBANAS
Jaime Kohen
WICKED GAMES
The Weeknd
CRAZY IN LOVE
(REMIX)
Beyoncé
ONDE ANDA VOCÊ
Tiago Nacarato
FALLING LIKE THE STARS
James Arthur
YOU GIVE LOVE A BAD NAME
Bon Jovi
DANCE LIKE WE’RE MAKING LOVE
Ciara
ALL THE MAN THAT I NEED
Whitney Houston
BUTTONS
The Pussycat Dolls, Snoop Dog
REFRÃO DE BOLERO
Engenheiros do Hawaii
ROCKABYE
Clean Bandit, Sean Paulo, Anne-Marie
LOVE SEX MAGIC Ciara feat. Justin
Timberlake
JAI HO!
The Pussycat Dolls, A.R. Rahman GET ON YOUR KNEES
Nicki Minaj, Ariana Grande
PlAyLIST
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PrÓLoGo
“Você vai crescer e ter uma vida boa Eu vou fazer o que eu tenho qu e fazer”
R������� – C���� B�����, S��� P���, A���-M����
Dias antes Ayla
Acaricio os cabelos do Antônio, o único que me faz levantar da cama todos os dias e buscar ganhar o mundo. Sorrio enquanto leio o livro do Pinóquio para ele pela terceira noite seguida, já decorando quase todas as falas. Mudo meu tom de voz em cada uma delas, e isso o diverte, o que me consola muito.
— Fim — digo, dirigindo o meu olhar a ele.
Seus olhinhos brilham na penumbra que o abajur da sua mesa de cabeceira cria no ambiente. Puxo o cobertor do Batman, cubro Antônio e beijo sua testa.
— Boa noite, meu filho.
— Vai trabalhar, mamãe...? — sussurra.
— Sim. — Sorrio. — Sua tia vai ficar lá na sala enquanto eu não chego, como todos os dias. Agora durma, você tem aula amanhã.
Fecho o livro, deixando sobre a mesa de cabeceira, e deixo que Antônio descanse. O vejo fechar os olhinhos brilhantes e se aconchegar embaixo do cobertor, aquecendo também o meu coração.
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— Nunca vou poder pagar o que você está fazendo — digo à minha irmã, parada na porta do quarto.
— Não se preocupa... A gente mora na mesma casa, não é nada de mais ficar de olho no meu sobrinho enquanto ele dorme.
Balanço a cabeça, me afastando e indo pegar a mochila a fim de sair para o trabalho. Minha irmã me acompanha até a porta principal do pe‑ queno apartamento.
— Tome cuidado, Ayla.
— Não se preocupa, Ana... Vou me virar. — Comprimo os lábios. — Me ligue se algo acontecer.
— Ele vai ficar bem.
Dou as costas e me dirijo ao elevador, ouvindo a porta ser fechada atrás de mim. Hoje começarei o turno estendido, preciso de dinheiro para manter meu filho na escola e pagar o aluguel do apartamento. Depois que aquele cafajeste sumiu do mapa, eu preciso me virar para que a criança não precise de nada dele.
Quando as portas do elevador se abrem, o meu celular começa a vibrar na bolsa, atraindo minha atenção. Entro rapidamente e aperto o botão, e somente depois procuro o aparelho. Ao ver o nome do Régis na tela, hesito em atender, mas o faço logo em seguida; pode ser algo importante.
— Régis.
— Será que a minha mais nova ex-garçonete está perto de chegar? O bar está lotando por causa da sua estreia.
— Oh, meu Deus! — exclamo. — Estou muito nervosa, não sei se vou conseguir.
— Para de frescura, menina. — Ele ri. — Você ensaiou exatamente como eu ensinei?
— Claro que sim, apesar de achar aquilo muito ousado.
— É sensual, eletrizante... Vai deixar os marmanjos babando por você, sem nunca ser perturbada por eles. Nem vão ver o seu rosto.
— De qualquer forma, já estou deixando o prédio, chego aí em vinte minutos.
Encerro a ligação e volto a guardar o celular na bolsa. Corro para sair da recepção e abrir o portão enferrujado. De longe, vejo meu ônibus parar no sinal e me apresso em direção ao ponto mais próximo do prédio.
No caminho até lá, não consigo deixar de pensar no que me aguarda esta noite. Régis me viu dançar enquanto recolhia as coisas das mesas, depois que
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o bar havia fechado, e me propôs ser a nova atração. Eu não terei de me expor além do necessário, e isso é o que realmente me fez aceitar esse trabalho. Entro pelos fundos do bar e já escuto a música alta tocar. Cumprimento todos ao cruzar a cozinha revestida em cerâmicas brancas e balcões em metal. Ao chegar no corredor, abro a porta, onde vejo “camarim” escrito, e paro ao ver Régis.
— Minha deusa chegou. — Ele sorri, acenando para que eu me aproxime. — Venha, vamos te arrumar.
Largo a bolsa em uma cadeira e me aproximo da penteadeira luminosa, repleta de maquiagem, pentes, secadores, aparelhos de babyliss e grampos de cabelo. Encaro o reflexo do corselete preto, transparente, no espelho. Estou prestes a entrar em pânico e largar tudo isso.
— Aquele projetor não vai falhar, não é? — pergunto, encarando o meu amigo pelo espelho.
Ele abre um sorriso, inclinando o corpo e colando a bochecha na minha e me olhando através do espelho.
— Deusa, eu estarei lá para que seu segredo não seja revelado. — Toca levemente o meu queixo. — Seu lindo rostinho não será visto.
Respiro fundo e aceno levemente com a cabeça. Só aí Régis alcança o se‑ cador de cabelo e começa a me preparar para a estreia. Fecho os olhos, me con‑ centrando e acalmando a respiração. Vou conseguir fazer isso, pelo meu filho.
Visto as meias pretas e o corselete com a ajuda de Régis, que continua me dizendo o quanto estou deslumbrante no traje. Por fim, ele pinta os meus lábios de vermelho vivo e decreta que estou pronta. O pequeno ato faz meu coração disparar dentro do peito. É agora, não há mais como fugir. Deixo o camarim com ele, que me relembra as instruções dadas ontem, enquanto passamos por um corredor mal iluminado que nos leva direto aos degraus do palco.
— Espere aqui, querida — diz ele. — Vou anunciar você.
Aceno levemente com a cabeça, jogando os cabelos para o lado em se‑ guida. Agora não há mais volta.
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CAPÍTuLo 1
Atualmente Edgar
Declaro a reunião encerrada e fico de pé, empurrando a cadeira metálica para trás e aguardando que todos os funcionários se retirem da sala de reuniões e abram a concessionária. Olho, pela janela panorâmica da sala, no primeiro andar, a rua movimentada.
Solto um longo suspiro, volto à grande mesa marfim e recolho os papéis que me foram entregues. Abotoo o paletó e cruzo a sala revestida em madeira, com detalhes claros e muito bem iluminada pela luz do dia. Deixo o local em direção à minha sala, um pouco mais adiante no corredor.
Sigo diretamente até a minha mesa, também na cor marfim, impecavel‑ mente arrumada. Sento na cadeira, de costas para a janela panorâmica, passo as mãos nos cabelos e coloco os papéis sobre a mesa.
Apoio o cotovelo no braço da cadeira de metal, e o dedo indicador vaga pelo queixo, mexendo na barba por fazer, pensando no novo investimento nas ações que tenho desde a época da faculdade. Elas fizeram com que a nossa fortuna aumentasse um pouco desde que o meu pai me presenteou com elas. Fez o mesmo com minha irmã.
— No que tanto pensa, irmão?
Ergo o olhar e vejo minha irmã, quatro anos mais velha, entrar na sala, elegante como sempre, balançando os cabelos loiros tingidos. Sorrio e ergo
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o corpo da cadeira para lhe receber. Helena se equilibra em saltos finos e traz um pacote de compras na mão.
— Tenho alguns problemas a resolver, nada de mais — respondo, bus cando decifrar o motivo de sua visita. — De onde vem?
— Fui ao shopping encontrar algumas amigas e, bom... comprei algo para você.
Franzo o cenho, surpreso ao ver que ela me estende o pacote.
— Para mim?
— Sim, achei a sua cara... Pegue.
Faço o que ela me pede e me concentro em abrir a bolsa de papel preto com o emblema dourado de uma loja. Retiro uma caixa enquanto sorrio para a minha irmã, desconfiado, antes de abrir e revelar um relógio prateado muito elegante.
— Obrigado, Helena — digo, sem desviar o olhar da bela peça. — Real mente gostei. Obrigado.
— Sabia que gostaria. — Dá de ombros. — Mas isso era somente um pretexto para ver você... Temos nos visto tão pouco ultimamente...
— Tenho andado ocupado fazendo isto aqui girar desde que o nosso pai se foi.
Helena não trabalha, depende exclusivamente do dinheiro gerado pela concessionária, que também é sua, já que é igualmente herdeira. Tomo todas as decisões aqui dentro, cuido de cada detalhe para não perdermos nenhum cliente sequer. Ela só vem à empresa quando realmente precisa de dinheiro ou quando sua mente meticulosa pretende fazer algo.
— Sinto falta do meu irmãozinho.
— Você não sente minha falta, Helena. — Sorrio. — Diga de uma vez o que quer.
— Que bom que me conhece tão bem, ó poderoso Edgar Montenegro.
— Ergue uma sobrancelha, cruzando os braços. — Quero saber por que fui notificada da redução da minha parte na empresa.
Bingo.
Helena nunca se preocupou com o bem estar de ninguém, exceto o seu próprio. A única coisa que a preocupou na morte do nosso pai foi saber que eu faria da sua vida um inferno.
— E ainda pergunta? — Cruzo os braços. — Quem não trabalha, não tem direitos... Fui misericordioso deixando um cartão à sua disposição.
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Raivosa, ela se aproxima de mim, pensando que me causa algum tipo de medo. Mantenho os braços cruzados, inabalável.
— Eu tenho tanto direito quanto você a tudo isso.
— Não vou sustentar mais nenhum dos seus luxos, Helena. — Bato na mesa. — Ou você vem e trabalha como qualquer pessoa, ou eu reduzirei ainda mais o seu poder sobre a empresa.
— Você não pode fazer isso! — berra.
— Sim, eu posso. — Sorrio. — Nosso pai deixou bem claro e registrado antes de morrer. Helena Montenegro, você está nas minhas mãos.
— Mentiroso.
Dou de ombros e, calmamente, sigo até o cofre que fica entre os livros da estante próxima à porta. Não via a hora de poder colocar em ação as coisas que meu pai deixou encaminhadas. Se nem ele mesmo aguentava a filha sangues suga, por que eu deveria? Ele sabia o que se passaria quando morresse, e isso o fez deixar alguns papéis, passando para mim mais uma boa porcentagem da empresa se ela se recusasse a trabalhar. A esta altura, ela tem somente quarenta por cento, e é por isso que está tão raivosa.
Digito a senha rapidamente, me certificando de que Helena não está por perto, e abro a porta de metal do cofre embutido na parede. Retiro uma pasta com o logotipo da concessionária e volto a sorrir, me aproximando dela. Minha irmã toma de mim a pasta, a abrindo em seguida e lendo o conteúdo.
Seu olhar de ódio só se intensifica a cada linha. Ela não pode perder toda a participação, mas papai soube fazer tudo muito bem. Espero calmamente enquanto ela processa todas as coisas que está lendo.
— Você e o papai... dois conspiradores!
— E você, primogênita, uma sanguessuga. — Tomo a pasta das suas mãos.
— Se acostume com a ideia e volte a trabalhar, não vou facilitar sua vida.
— Odeio você.
Fico em silêncio, assistindo minha irmã raivosa deixar a sala. Não deixarei essa mulher fútil acabar com todo o esforço de anos do nosso pai, e ele também estava disposto a não deixar que isso acontecesse. Helena nunca foi um exemplo de irmã, sempre tinha gestos cruéis comigo por eu ser mais novo e ter mais atenção. Quando cresci, deixei a casa e comprei o meu apartamento, me livrei de sua convivência tóxica, manipuladora e fútil. Ela só consegue pensar no próprio umbigo, assim procura tirar proveito de todas as situações que puder. Nem parece ser filha do nosso pai.
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Volto a guardar a pasta dentro do cofre, travo e arrumo os livros que afas‑ tei do lugar. Respiro fundo algumas vezes antes de retornar à mesa, guardar o presente que recebi e terminar de avaliar as planilhas. Todavia não consigo sequer voltar a ler porque Joaquim irrompe à porta.
— Edgar, vim te convidar para um lugar incrível. — Ele, além de meu amigo, é o gerente da loja.
— Que romântico — comento.
— Olha aqui, seu filho da puta ranzinza. — Ele ri, sentando na cadeira diante de mim. — Vou relevar seu mau humor porque sua irmã é um pé no saco e porque o lugar é mesmo muito bom.
— Estou ouvindo.
— Conheci um bar, tem uma apresentação de uma gata maravilhosa. — Recosta na cadeira. — E muito misteriosa.
— Não frequento cabarés, prefiro selecionar melhor antes.
Joaquim revira os olhos, cruzando os braços.
— Mas quem disse que é um cabaré? A moça não se vende, ela apenas se apresenta e não mostra o rosto.
Agora ele conseguiu ter a minha total atenção.
— Está bem, vou conhecer esse lugar e essa “gata maravilhosa”.
— À noite, depois do expediente. — Fica de pé e coloca um cartão de vi sita sobre os meus papéis. — Aí está o cartão, se quiser verificar as redes sociais. Meu amigo arruma a camisa e se afasta em direção à porta, deixando mi nha sala em seguida. Desço o olhar para o cartão preto, com detalhes brilhantes em vermelho. Analiso rapidamente os dados no pequeno cartão e alcanço meu celular. Digito o nome do usuário estampado no verso do pedaço de papel e espero a página carregar. Desço pelas fotos de drinques diferenciados e placas em neon e me detenho na publicação em que há a silhueta de uma mulher contra diversas luzes que parecem emanar de um projetor. Amplio a foto com os dedos, analisando a “gata maravilhosa” que Joaquim falou.
— Deve ser você — digo, olhando fixamente a bela imagem diante de mim. Desperto do meu transe quando lembro que preciso voltar a analisar as planilhas. Saio da rede social e retomo o trabalho, agora estou realmente curioso para conhecer este bar.
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Ayla
Desligo a boca do fogão, me aproximando rapidamente da pia para lavar as mãos. A van escolar já deve estar chegando com Antônio. Solto os cabelos rapidamente e arrumo minha blusa e o short. Pego as chaves do apartamento e saio para ir buscar meu filho lá embaixo.
Ao chegar ao térreo, cumprimento o porteiro gentil do turno da manhã e já vejo o carro parar na rua. Eu me aproximo, ajudo o meu filho a descer e agradeço ao motorista, que sorri em resposta. Pego na mão de Antônio a fim de voltar ao prédio e alimentar o esfomeado.
— Como foi a escola hoje? — pergunto.
— Aprendi muitas coisas novas.
— Isso é ótimo, é bom lembrar de tudo quando formos fazer a lição mais tarde.
O menino abre um sorriso nervoso, me mostrando que vai me dar um pouco de trabalho. Enquanto espero a subida do elevador, lembro do dia em que descobri que estava grávida daquele homem infeliz. Foi um baque na mi‑ nha vida. Precisei desistir da faculdade, por ser muito nova e não ter apoio de ninguém além da minha irmã. Mas não me arrependo de nada, somente de o pai do Antônio ser um canalha.
Quando as portas metálicas do elevador se abrem, seguro sua mão nova mente, e saímos juntos em direção ao nosso pequeno lar. Abro a porta, e isso faz meu filho correr imediatamente para o seu quarto.
— Lembre se de lavar as mãos e não deixar a farda jogada no chão — digo. — Dobre.
— Sim, mamãe.
Deixo a chave sobre o móvel da televisão depois de trancar a porta e sigo em direção à cozinha, começando a servir o nosso almoço.
— Querido, venha — chamo. — A comida vai esfriar.
Dentro de instantes, ele me obedece, vindo somente de cueca até a mesa. Coloco o prato diante dele, que lambe os lábios antes de pegar o garfo e atacar a comida. Sirvo um prato para mim e me junto a ele.
— Mamãe, eu sonhei que o meu papai vinha me ver. — Dá uma garfada na comida.
Ergo o olhar em sua direção e fico em silêncio por alguns instantes. Eu nunca fiz a cabeça do meu filho contra o pai, ele sempre soube a verdade, e eu
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o deixo falar nele sempre que tem vontade. Lúcio não quis assumir o menino, sua intenção era me enganar e levar o pouco dinheiro que eu tinha juntado para o nosso casamento. Na certidão do meu Antônio não há o nome do pai, e meu filho sabe que aquele miserável foi embora.
— Talvez ele venha mesmo algum dia, Toninho — digo, tentando não mostrar meu incômodo.
— Você fica triste quando falo dele, mamãe?
— Não, meu anjo... Você nunca me deixa triste. — Aliso seus cabelos, idênticos aos meus. — Vamos, coma antes que fique frio. Meu filho me obedece, um pouco desconfiado, e eu volto a sorrir, tor‑ cendo que esqueça esse assunto. Odeio falar sobre Lúcio porque sempre lembro de tudo o que me fez, de todas as coisas que eu vi e ouvi. Mas nada disso tem importância mais, o que importa é o bem estar do Antônio. Desde que o meu filho nasceu, seis anos atrás, eu não tive mais tempo para pensar na minha vida amorosa ou em alguma forma de consertar meu coração quebrado. Nunca dei oportunidade a homens outra vez, nenhum deles. Todos que tentaram aproximação, fiz questão de afastar.
Depois do almoço, lavo a louça, e Antônio faz questão de me ajudar com o que pode, para que eu possa ajudá‑lo com as lições de casa em seguida. Dou boas risadas com ele, mas logo assumo meu lado mãe séria quando ele faz manha com os deveres de casa. Observo atentamente enquanto escreve cada palavra, me sentindo orgulhosa do seu avanço.
— Mãe, quando eu terminar aqui, assiste televisão um pouquinho co migo? — pede.
— Está bem. — Olho para ele. — O que vamos assistir?
— Carros!
— De novo? — Sorrio.
— Sim! Eu amo esse filme!
— Ok. Vamos assistir.
A tarde com o Antônio foi maravilhosa, depois que o ajudei com as tare fas, assistimos a alguns desenhos que ele gosta e brincamos juntos. Agora estou penteando meus cabelos para poder ir ao trabalho, não posso me atrasar. Ana, minha irmã, aparece na porta do meu quarto, e eu a olho através do espelho perto da cama.
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— Como foi o dia de trabalho hoje? — pergunto. — Chegou calada e foi direto para o quarto.
— Exaustivo. — Cruza os braços. — Tivemos uma reunião com o dono da concessionária antes de abrir a loja hoje.
— Algum problema?
— Não, só a irmã mimada do homem, que estava usando alguns recursos da empresa, e isso acarretou alguns problemas... Ele é um bom patrão, mas ela só pensa em como pode tirar vantagem do fato de ser uma herdeira da empresa.
— Não entendo gente rica — brinco. — Sempre há algo errado com eles.
— Ainda bem que a bomba não é minha irmã... Aquela mulher vai des‑ truir a empresa se continuar dessa maneira.
Coloco o pente no móvel ao lado do espelho, giro o corpo e pego a bolsa sobre a cama. Chego perto de minha irmã, a abraço rapidamente e passo por ela, saindo do quarto. Ao abrir devagar a porta do quarto do meu filho, o vejo dormindo.
— Vá tranquila — diz Ana quando fecho a porta. — Cuidarei dele.
— Obrigada.
Saio apressada rumo ao ônibus que me levará ao trabalho. Fico feliz que a ideia do Régis quanto ao SKIN tenha dado certo, tanto para mim quanto para ele. Agora tenho uma remuneração um pouco maior, e ele tem mais clientes no bar, portanto estou conseguindo dormir mais aliviada quanto às contas que temos e às dívidas que Lúcio deixou.
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CAPÍTuLo 2
Edgar Merda.
Não sei por que inventei de acompanhar Joaquim até este bar, eu só que‑ ria ir para casa depois de um dia fodido de trabalho na loja. Ao adentrar no ambiente escuro, observei os quadros em neon pelas paredes e as mesas con‑ fortavelmente organizadas. Nós nos sentamos a uma mesa um pouco afastada do palco, mas que tem uma boa visão.
Imagens são projetadas no palco, e eu deduzo que a apresentação da tal “gata maravilhosa” esteja prestes a começar. Joaquim me garantiu que ela é boa, e eu acho bom que seja mesmo, não quero perder uma noite por nada. Uma música, com batidas lentas e sensuais, começa e faz o bar inteiro silenciar.
Estreito o olhar e me atento fixamente ao palco, onde surge uma bela mulher ondulando o corpo no ritmo da música. Noto seus cabelos longos e castanhos soltos e o corselete — a meu ver, o tipo de lingerie mais sexy que existe. Há um sofá no meio do palco, atrás dela.
Entreabro a boca quando ela rebola um pouco travada enquanto desliza as mãos pelas próprias curvas. Em seguida dá as costas e caminha até o sofá. A mulher senta, e, logo em seguida, deita‑se e arqueia o corpo de maneira provocante enquanto encara a plateia. Não consigo distinguir seu rosto, já que ela dança sob as imagens do projetor.
— Ela realmente nunca mostra o rosto? — pergunto, interessado.
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— Não.
Observo seu corpo se movendo no sofá, dançando, sensualizando, e sua maestria na arte de seduzir. Ela é divina. Eu a vejo sentar, fazendo um movi mento circular com o pescoço e jogando os longos cabelos para trás. Em um impulso ardente, levanto, decidido a ir até ela. Ouço o meu amigo protestar, mas não dou atenção, preciso sentir essa provocação de perto. Subo no palco determinado a contemplar a deusa de perto, mas ela faz um sinal. Nesse momento o projetor é apagado junto com as luzes do palco, deixando o bar apenas com as luzes das placas em neon espalhadas pelas paredes. Paro de andar, pensando que ela vai mandar parar a música, mas a mulher não o faz.
Somente assim retomo minha aproximação. Ela continua dançando, de pé desta vez, facilitando um pouco para mim, mesmo com o palco na penumbra. Eu me coloco atrás dela, segurando firmemente em sua cintura, e a acompanho em sua dança completamente sensual.
— Diga me o seu nome — peço. Uma risada de mulher safada emana de seus lábios. Mesmo com a música, eu a ouço nitidamente. Inspiro o seu cheiro adocicado fechando os olhos, louco para senti‑la melhor. Lentamente, ondulando os quadris, a mulher sai da minha frente e inverte a posição, passando as mãos atrevidas pelas minhas costas.
— Me chame de Sereia — sussurra. — É o que pode saber sobre mim. Deliciosa. Como deve ser gostoso ouvir seus gemidos.
— Agora sente ali — ordena, apontando o sofá. Obedeço sem demora, ansioso para saber o que ela quer fazer comigo. Abro bem as pernas quando a moça se aproxima vagarosamente, e não ouso tirar o olhar da sua linda silhueta na penumbra. Entreabro os lábios, assistindo, enquanto ela monta no meu colo, fazendo o meu pau pulsar.
Não tenho tempo de fixar o olhar em seu rosto, uma luz é acesa em cima de nós, em um lugar estratégico, para que me ofusque e eu não a veja como quero. Porra.
— Encontre me fora daqui — insisto, evitando tocá la.
Em resposta, a Sereia rebola, silenciosa, e eu a vejo curvar o corpo e colar sua bochecha na minha.
— Você é capaz de me satisfazer? — pergunta.
— No que quiser, Sereia.
Sem responder, ela volta a erguer o corpo, a fim de manter a postura ereta sobre mim, enquanto dança no meu colo.
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— Gosto da sua ousadia...
— Posso assegurar que vai gostar muito mais se aceitar sair comigo daqui hoje — digo, notando que a música chega ao final.
— Não. — Para de se mover e se afasta cuidadosamente. — Me encontre.
Sua frase fica no ar, e eu não tenho tempo de perguntar como ou onde, a mulher simplesmente caminha até os fundos do palco e some por uma porta. A plateia aplaude, e eu resolvo ficar de pé e seguir a Sereia, o seu perfume ainda nítido nas minhas narinas. Sigo em sua direção, mas sou impedido de passar por uma mão dura no meu peito.
— Não pode passar daqui — diz o segurança.
“Me encontre.”
— Eu só preciso falar com...
— Não vai rolar. — O sujeito me empurra. — Volte para a sua mesa, agora.
— Tire a porra das mãos de mim, entendeu?
Antes que eu possa empurrar o segurança, meu amigo me puxa e me arrasta de volta à mesa.
— Está louco? — pergunta. — É só uma dançarina, porra... O que ela te disse provavelmente diz para todo mundo que ousa subir lá.
— Me solta.
Joaquim obedece, mas nega com a cabeça, sem entender o que deu em mim. O pior é que nem eu entendo.
— Ela dança aqui todos os dias?
— Sim — diz ele. — O que ela te disse que te deixou desse jeito?
— Me mandou encontrá la... Eu quero encontrá la.
— Ninguém aqui viu essa mulher, Edgar. — Ele sorri. — Ela brincou com você, esqueça isso, amigo.
— Eu a reconhecerei... Se eu a ouvir novamente, a reconhecerei. — Bufo.
— Voltarei amanhã, estou decidido.
— Seja lá qual for o feitiço que ela jogou em você, foi dos bons.
— Vamos pedir uma bebida. — Aceno a uma garçonete alta e loira.
Volto a sentar à mesa depois de fazer o pedido e vejo um homem agra decer à plateia pela noite de hoje. Ele nos pede que esperemos para ver mais do espetáculo e nos convida a ver mais amanhã. Com certeza voltarei para vê‑la outra vez.
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Ayla
Entro no camarim ainda trêmula devido a ousadia do homem de subir ao palco. E da minha também, por dançar para ele e me deixar levar por seu corpo. Suas mãos seguraram com firmeza a minha cintura, como se eu pertencesse a ele. Eu quis aquilo, seu belo rosto está gravado na minha memória.
Apesar de o palco estar escuro quando nos falamos, eu o vi se aproxi mando, e ele tem uma beleza impressionante. Sentar naquele colo e sentir seus músculos duros sob a roupa me fizeram aquecer de uma maneira que há muito não acontecia. Balanço a cabeça, querendo me livrar da sensação que me toma. Ele deve ser casado e estar em busca de sexo fácil.
— Ayla! — Patrícia entra no camarim, e eu já posso imaginar do que se trata. — Quem era aquele? Vocês pareciam bem íntimos no palco.
— Não o conheço.
Viro em sua direção, preocupada.
— Não sabe?
Balanço a cabeça, negando rapidamente em resposta. Ela ergue as sobran‑ celhas, cruzando os braços.
— E pedi que me encontrasse... — murmuro.
— Que safada! — Ela ri. — Pensei que fossem conhecidos, pela forma que se deram bem. Mas que é um gostoso, isso ele é.
— Engraçadinha, você sabe que dançar aqui é um segredo nosso e do Régis... Não quero ser reconhecida por isso, só quero ter uma renda melhor.
— Bufo, retirando o bracelete. — Anda, me ajuda, ainda tenho que voltar lá e dançar outras músicas.
— Vai mesmo deixar aquele maravilhoso passar?
— Provavelmente é casado, como o último que tentou subir no palco e conseguir algo. Não vai rolar. — Dou de ombros.
Visto minhas roupas por cima do corselete que usei na apresentação de hoje e amarro os cabelos em um rabo de cavalo. Paty está me esperando, mas de cara feia, porque vou desperdiçar aquele pedaço de mau caminho.
Sento diante da penteadeira e começo retirar a maquiagem, ignorando o protesto silencioso da minha amiga. Assim que pego o algodão e molho com o de‑ maquilante, a porta é aberta por Régis. Olho seu rosto pelo espelho sem me abalar.
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— Mas o que diabos foi aquilo com aquele gostoso, dona Ayla de Oliveira?
— pergunta, colocando as mãos na cintura. — Estou com calor até agora só de ver a encoxada que aquele homem deu em você.
— Você também? — Sorrio. — Paty está com a mesma coisa... É todo de vocês, estou fugindo de tudo que possa me trazer mais problemas.
— Ah, e você não está toda quente? Engraçadinha... Se ele não tivesse causado alguma coisa, você não teria dançado no colo dele. O homem está louco lá fora.
Mantenho o sorriso no rosto e não respondo à ousadia do meu amigo. A palavra homem é um problema por si só, e homem bonito, cheiroso e gostoso é um quarteto de problemas, não vou conseguir lidar.
Por fim, fico de pé a fim de deixar o camarim, preciso sair pela cozinha a fim de não correr o risco de ser reconhecida. Escuto Régis me chamar e paro, esperando meu amigo se aproximar.
— Vou dar uma carona a vocês, não gosto ver as duas correndo perigo saindo daqui de madrugada.
— Hoje vou aceitar, estou exausta. — Sorrio. — Vou esperar lá fora.
— Tá bom, minha deusa, só vou buscar minhas coisas.
— Não posso aceitar, vou dormir na casa do meu amado hoje... É caminho oposto ao de vocês. — Paty dá de ombros, sorrindo. — Beijos e até amanhã. Cumprimento os funcionários da cozinha e saio pela porta de serviço, cruzando os braços ao sentir frio quando chego na calçada. Eu me aproximo do carro de Régis e apoio a lombar, o aguardando. Olho para o lado e avisto o homem que subiu ao palco se aproximar vagarosamente dentro de um carro. Engulo em seco, confirmando quão bonito ele realmente é. Dirijo meu olhar para a frente, rezando que ele não pare e me pergunte nada. Será que vai mesmo levar o meu pedido a sério? Oh, merda! Falei demais na hora da adrena lina e agora vou ter de lidar com isso. Vejo Régis sair e sorrir enquanto caminha na minha direção. Olho por sobre o ombro e noto que o carro está parando.
— Régis, me beije.
— O quê? — Franze o cenho. — Enlouqueceu a essa hora? Sabe quantos anos faz que beijei uma mulher?
— Me beije agora! — Faço pressão. Mesmo sem entender, meu amigo me puxa pela cintura e me beija de forma intensa. Passo os braços por seu pescoço, ficando na ponta dos pés para
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ter um melhor acesso ao seu beijo gostoso. Quando ouço o carro acelerar e se afastar, solto Régis, que me olha sem entender.
— Mas que porra foi essa?
— Desculpe — peço, pensando em algo a dizer. — Eu senti medo daquele carro que passou aqui.
Régis olha em direção ao automóvel já distante e logo depois se volta para mim.
— Viu como pode ser perigoso? — diz ele. — Vamos.
— Vamos. — Sorrio. — Você beija muito bem.
— Você pare com isso, sua safada, vai acabar se apaixonando pela minha bela pessoa.
Assinto, ainda com um sorriso no rosto, e abro a porta do carro logo depois de ouvir que foi destravada. Não sabia que aquele homem levaria algo simples tão a sério, e o pior de tudo é que fiquei mexida quando senti seu toque duro contra a minha cintura. Como isso pôde acontecer? Eu nunca o vi na vida. Sigo o caminho todo em silêncio, sentindo o corpo exausto e desejando ape nas a minha cama. Olho Régis, completamente sério dirigindo, e sorrio, pensando no beijaço que trocamos na saída do bar. Trabalho com ele desde que saí da licen‑ ça‑maternidade e fui demitida do buffet onde trabalhava. Ele e Paty sempre me ajudaram com tudo que precisei. Antes de começar a dançar, eu era garçonete no SKIN, e sou imensamente grata a ele por ter me empregado e confiado em mim.
— Tá rindo do que, sua palhaça?
— Da loucura que você aceitou fazer comigo. — Cruzo os braços.
Obrigada.
— Que nada. — Ele sorri também. — Por você e pela Paty, eu faço qual quer coisa, você sabe disso.
Ele estaciona o carro diante do meu prédio, eu o abraço rapidamente, me despedindo, e saio do veículo. Entro no edifício, cumprimento o porteiro do turno da noite e sigo em direção ao elevador. Meu corpo está implorando por um pouco de descanso, mas ao olhar o relógio, lembro que tenho algumas coisas a fazer.
— Farei o almoço e, quando estiver pronto, acordarei o Antônio, em seguida o organizo para ir à escola — enumero, organizando minhas tarefas.
— Somente depois disso vou dormir a manhã toda.
Entro em casa, retiro os sapatos e sigo diretamente até a cozinha, a fim de retirar algumas coisas da geladeira e preparar o almoço. O cansaço me domina
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de uma forma quase incontrolável, mas me mantenho firme e fazendo o mí‑ nimo de barulho possível, porque a minha irmã acorda cedo. Ana trabalha como vendedora em uma concessionária há algum tempo e recentemente foi promovida e passou a ganhar um pouco mais. Seu salário ajuda muito com as despesas da casa e com as contas que o canalha do Lúcio deixou no meu nome. Não sei como pude ser tão burra a ponto de me apaixonar por aquele infeliz. Eu confiava tanto nele, parecíamos realmente um casal feliz, tínhamos planos juntos. Tudo mudou quando eu descobri que estava grávida e resolvi contar a ele. Foi assim que descobri que estava sendo traída. Eu era jovem e inexperiente demais, acreditei naquele amor, minha inocência não viu maldade nele. Lúcio foi embora dois dias depois da descoberta da gravidez, simples‑ mente sumiu do mapa, alegando que não poderia assumir a criança.
Hoje eu agradeço a ele por ter me dado o meu pequeno.
Quando termino de preparar tudo, noto os raios de sol entrando pela pe quena janela da cozinha. Olho o relógio na parede e solto um suspiro, exausta.
— Você ainda está acordada? — A voz da minha irmã me assusta.
Vejo sua imensa cara de sono, e sorrio.
— Deixando tudo pronto para descansar um pouco mais — justifico. — E quero ver a carinha de sono do Antônio quando acorda.
— Tá bom. — Ela sorri também. — Tenha um bom descanso.
— E você tenha um bom trabalho.
Beijo o seu rosto e sigo até o quarto de Antônio, preciso acordá lo e ajudar com o banho, a farda e o café da manhã. Em seguida, finalmente deitarei na minha cama e dormir.
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CAPÍTuLo 3
Edgar
Abro a página da rede social do bar da noite passada, mas não há nenhuma pista que possa me revelar quem é a bela mulher que me mandou encontrá‑la. Estou à beira da loucura desde que ela me disse aquilo, levei suas palavras a sério. Quero e vou encontrar aquela sereia, e o seu encanto será meu por pelo menos uma noite.
Abro a foto da apresentação de ontem, a imagem projetada na mulher, o seu corpo arqueado com elegância no sofá... extremamente sexy. Respiro profundamente, lembrando do seu aroma delicioso.
— Com licença, senhor Montenegro. — A chefe do departamento de vendas me tira dos pensamentos.
— Entre, Ana — digo. — Aconteceu algo?
— Desculpe interromper, senhor. — Ela se aproxima da minha mesa sutilmente. — É que há um cliente lá embaixo requisitando a sua presença.
— Onde está o Joaquim?
— Está resolvendo o problema das peças que faltaram para a manutenção dos clientes.
— Está bem. — Fico de pé, abotoando o paletó, e guardo o celular no bolso lateral da calça em seguida. — Vamos.
Ana assente levemente, e eu aceno para que siga na minha frente. Ela sempre foi a vendedora mais dedicada da concessionária, nunca olhou de forma
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diferente para mim, como algumas outras fazem. É uma mulher competente e extremamente profissional, por isso foi promovida há alguns dias a chefe de departamento.
Detesto a ideia de me envolver com pessoas do meu trabalho, não é certo e muito menos ético, isso pode soar como vantagem. Minha concessionária é séria e tem muitos anos no mercado, não posso me dar ao luxo de colocar prazer no meio do trabalho.
Desde que me divorciei de Penélope, há dois anos, não tive interesse em passar por mais nenhum relacionamento. O que vivi com ela foi bom, fomos felizes, mas passou. Fui precipitado em me casar, o meu pai a adorava, e foi isso que me fez tomar a decisão. Nosso divórcio foi uma bomba para ele, mas estávamos bem com isso.
Sigo em direção às escadas, com Ana, e desço rapidamente ao notar que um casal olha especialmente uma das nossas motos mais potentes e mais ca ras. Abro um sorriso e me aproximo do casal, que notam a minha chegada no mesmo instante.
— Em que posso ajudá‑los? — pergunto.
— Estamos aqui por essa beleza — diz o homem.
— É uma bela escolha. Já sabem de todas as qualidades do veículo?
Envolvo os dois em uma conversa agradável, já que desejaram ser atendidos exclusivamente por mim. Explico um pouco mais sobre a potência, o conforto e a qualidade do produto que estão escolhendo, para que não haja dúvidas de que estão investindo no veículo e no lugar certo.
O casal fica tão interessado, que fecha de cara o negócio. Eu os deixo sob a responsabilidade de Ana, a mais competente da categoria, quando vejo minha irmã entrar na loja retirando os óculos escuros. Eu me aproximo dela, que exibe sua cara de nojo habitual.
— Passei muito tempo pensando nas condições que você me deu.
— Que o nosso pai estabeleceu — corrijo. — Não se esqueça disso.
— Que seja — resmunga. — Não me resta outra opção a não ser vir para cá. Satisfeito?
— Não pense que a ideia de ter que conviver com você aqui dentro me agrada, Helena... Eu sou o responsável por essa empresa, não vou deixar que acabe pelas suas mãos.
Minha irmã revira os olhos.
— Não vim aqui brigar, querido irmão, vim realizar o desejo do papai.
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Engulo minha vontade de dar uma boa resposta e sorrio ao notar que os clientes estão atentos. Estendo o braço para que Helena siga na minha frente e suba as escadas primeiro.
— Vamos conversar na minha sala.
Eu me despeço dos clientes e os agradeço antes de seguir com Helena pelas escadas. No caminho, fecho os olhos, tentando me acalmar e não dizer nada que possa se virar contra mim depois. Minha irmã é uma das pessoas mais ardilosas e vitimistas que já conheci, então não vou permitir que saia ganhando dessa vez.
Sigo diretamente até minha sala e deixo que Helena entre primeiro, con‑ centrando todas as minhas forças em me manter calmo. Não vou perder a linha por causa dela, eu ainda preciso investigar aquela bela dançarina.
— Então, querido irmãozinho, estou aqui... Onde é a minha sala?
— Sua sala? — Sorrio.
— O que esse sorriso quer dizer, Edgar?
— Você não tem uma sala, Helena. — Retiro o paletó, me mantendo apenas com a camisa social e o colete. — Terá somente quando se adaptar e aprender tudo o que precisa saber.
— O quê?
— Você ficará na sala com o Joaquim, lá embaixo, aprendendo o básico da concessionária.
— Está fazendo isso de propósito, Edgar? — Aponta o dedo para mim. Seguro firme seu pulso e afasto o dedo do meu rosto. Não permitirei que Helena se sinta no direito de fazer o que quer dentro desta empresa.
— Você vai aprender o que precisa para trabalhar aqui, como todo mundo, isso não está em discussão. — Passo a mão nos cabelos depois de soltar seu braço. — Não me provoque.
— Ou o quê? Vai me bater? — Ela abre um sorriso. — Farei da sua vida aqui dentro um inferno, Edgar, você não perde por esperar.
— Vamos ver quem faz a de quem um inferno primeiro, irmã. Tiro o telefone do gancho e interfono para a sala de Joaquim. Enquanto espero que ele atenda, encaro minha irmã seriamente e ela faz o mesmo. Re cordo o que Ana disse que ele estaria fazendo e torço que já tenha terminado.
— Edgar — atende.
— Preciso que venha à minha sala imediatamente.
— Está bem, subo em instantes.
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Volto a colocar o telefone no gancho e aponto a cadeira diante da minha mesa para ela. Sigo até a outra cadeira e ocupo o meu lugar, trocando farpas silenciosas com minha irmã. Helena sempre fez questão de deixar claro que nunca gostou de mim, e, com o tempo, eu aprendi a fazer o mesmo. Não permitirei nunca que acabe com as memórias do nosso pai nesta empresa, sei que é o seu maior desejo.
Instantes depois, Joaquim bate à porta e entra, aproximando se da mi nha mesa.
— Pois não, Edgar?
— Joaquim, deixarei você encarregado de ensinar a Helena sobre as coisas mais básicas da concessionária e sobre como funcionamos aqui.
Meu amigo tem um ar de riso, mas logo volta à sua seriedade habitual.
— Como quiser — diz ele. — Cuidarei bem dela. Devemos começar agora?
— Depois de uma conversa nossa. — Olho Helena. — Pode nos dar licença um minuto, irmã querida?
A mulher me lança um olhar mortal antes de ficar de pé, pegar a bolsa e deixar a sala, caminhando sobre os seus saltos. Não se pode negar, ela é mesmo uma bela mulher, mas o que tem de bonita, tem de podre por dentro. Tenho pena dos homens que já se apaixonaram por Helena, sei que partiu o coração de todos por pura maldade.
— Ela não me parece nada contente em trabalhar comigo, Ed.
— Eu sei, teremos trabalho com ela. — Solto um suspiro. — Mas não poderia deixar que Helena gastasse todo o dinheiro da família, ela precisa saber de onde vêm os seus luxos.
Joaquim fica em silêncio, apenas me ouvindo.
— Você já foi avisado previamente dos truques da minha irmã, sabe que ela vai tentar te seduzir e fazer com que ceda aos seus caprichos.
— Sei. — Balança a cabeça. — Não se preocupe.
— Obrigado, Joaquim. — Sorrio. — Ela é toda sua.
Meu amigo sorri de volta, ficando de pé e arrumando a camisa social, e vira de costas antes de sair. Solto um suspiro quando vejo a porta ser fechada e recosto na cadeira, sentindo a cabeça fervilhar. Espero que esteja enganado, mas creio que Helena não vai mesmo me deixar em paz.
Volto ao computador, dando ao meu trabalho a concentração que de‑ manda. Amanhã um carregamento com novas motos vai chegar, e tudo precisa estar preparado, o espaço na loja, a segurança e os trâmites fiscais.
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Inesperadamente, imagens da dançarina do SKIN voltam, perturbando minha atenção. Não consigo esquecer sua rebolada firme enquanto dançava em cima de mim. A imagem que tenho na mente está repleta de fachos de luz que me impediram de ver o seu rosto, mas não serei capaz de esquecer sua voz e o seu cheiro adocicado.
O que diabos aquela mulher fez comigo?
Ayla
Deixo Antônio na sala assistindo os seus desenhos animados, depois de passarmos a tarde juntos. Sigo ao meu quarto e trato de colocar a música Sex Therapy, do Robin Thicke, a fim de ensaiar uma última vez a coreografia. Fecho os olhos ao lembrar do belo homem que veio até mim ontem, ele me deixou com frio na barriga e eu ainda posso senti lo se fechar os olhos.
Rebolo no ritmo da música, ainda com os olhos fechados, o olhar duro daquele homem, seu maxilar quadrado e perfeito, a sua voz encantadora e a sua barba por fazer me deixam ofegante somente por lembrar. Este homem misterioso exala uma sensualidade sem tamanho, e eu não gostaria de estar sentindo isso.
Confesso que estou torcendo que o homem vá ao SKIN e me assista outra vez. Eu me senti estranhamente bem dançando para ele, é como se tivéssemos uma conexão antiga, mesmo nunca o tendo visto antes.
Sinto o mesmo calor que me tomou quando estava com aquele homem voltar, uma vontade absurda de ter mais dele. Faço os passos que Régis me passou, mas ainda com os pensamentos distantes.
Não consigo parar de pensar naquele atrevido indecente.
Ouço o barulho da porta principal do apartamento sendo aberta e vou veri‑ ficar, mas vejo o meu menino sentado no sofá. Sorrio e vou receber minha irmã.
— Hum... Me recebendo na porta? — Ela sorri, entrando no apartamento.
— Pensei que Antônio estivesse tentando sair de novo — explico.
Dou meia volta, retorno ao quarto e continuo meu breve ensaio antes da apresentação. Depois de algum tempo, noto a hora avançada e decido colocar Toninho na cama, para que eu possa sair sem maiores complicações. Visto o corselete por baixo da calça jeans e da blusa desta vez, quero conversar um pouco com Régis antes de me apresentar, precisarei de um pouco de tempo livre.
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Eu me despeço da minha irmã e lhe desejo uma boa noite antes de sair do apartamento com a minha bolsa pendurada no ombro, partindo para mais uma noite de trabalho. Não demora muito, chego ao SKIN, já que a hora de pico já passou. Ao entrar no camarim, dou de cara com o Régis organizando tudo.
— Boa noite, deusa. — Toca o meu queixo quando me aproximo. — Sente se, que eu vou endeusar você ainda mais.
— Boa noite. — Sorrio levemente. — Régis, podemos conversar um pouco?
Ele me olha, completamente sério desta vez. Sento na cadeira diante da penteadeira, e o meu amigo me encara através do espelho.
— Mas é claro, Ayla... diga.
— Eu passei o dia inteiro pensando naquele homem que subiu ao palco ontem...
— É mesmo? — Abre um sorrisinho sacana. — E por que está com essa cara de enterro?
— Porque eu não penso em ninguém dessa maneira há anos, entende? Não tenho mais tempo para esse tipo de coisa.
— Nem comece com esse seu espírito do século passado, Ayla! — Alisa os meus cabelos e me faz encarar minha imagem no espelho. — Olhe como você é linda, é jovem... desimpedida. Pode e deve pensar no próprio prazer, buscar se satisfazer.
— Não sei mais como se faz essas coisas.
— Sexo? — Ele ri. — Ninguém desaprende essas gostosuras da vida, não, querida.
— Estou falando sério — digo, prendendo o riso. — Não transo há tempos.
— Isso vai mudar hoje então. — Pega o pincel e o blush e passa um pouco nas minhas bochechas. — O bofe magia está aí, aguardando a sua apresentação.
— O quê?
— É isso mesmo, ele gostou tanto, que voltou... Hoje essa periquita levanta voo.
Eu lhe dou um tapa no braço, o que o faz sorrir junto comigo.
— Nada vai levantar voo aqui, eu nem o conheço. — Faço uma pausa. — Só estou pensando nesse homem mais do que o necessário.
— Isso é o tesão de anos querendo sair da caixinha. Aproveita que o bofe é lindo e gostoso.
Fico em silêncio, encarando meu reflexo no espelho, pensando no que Régis acabou de me dizer. Aquele homem é mesmo uma tentação, mesmo
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nunca o tendo visto antes, estou pensando nele desde o momento em que notei sua aproximação.
— E se ele for casado?
— Já verifiquei isso enquanto você estava lá fora... Na verdade, a Paty foi quem verificou e me passou a informação. — Passa mais um pouco do blush no meu rosto. — Não vimos nenhuma aliança. Se joga.
O meu amigo faz um sinal pedindo que eu aguarde, virando se em seguida em direção à sua bolsa. Através do espelho, o vejo buscar algo, empenhado. Por fim, ele ergue o corpo, voltar até mim e se posiciona atrás da minha cadeira.
— Trouxe isso para você hoje. — Estende uma máscara veneziana preta.
— Vai poder contemplar mais do rostinho e corpinho dele.
— Não vale nada mesmo. — Sorrio.
Régis encaixa a máscara no meu rosto com cuidado, prendendo a por baixo dos meus cabelos e a fixando bem com grampos de cabelo. Ela cobre até o meu nariz, deixando meu rosto quase completamente escondido. Logo em seguida, ele pega um batom vermelho e pinta os meus lábios com cuidado e precisão.
— Pronto, está uma verdadeira deusa grega. — Toca meu queixo para que eu o erga. — Agora retire essas roupas e vire uma deusa completa.
Balanço a cabeça, eternamente grata por Régis ter conseguido essa más‑ cara. Estou eufórica por saber que o homem indecente está aqui outra vez, quero ter o seu olhar e as suas mãos sobre mim novamente. Fico de pé, já começando a retirar as minhas roupas, ficando somente com o corselete preto.
— As meias estão na sua bolsa? — pergunta.
— Estão, vou calçá las.
— Estou ansioso para ver vocês dois pegando fogo lá fora.
— O que está dizendo, seu depravado? — Sorrio, me dirigindo à minha bolsa. — Eu disse que não transo há anos, e você me vem com uma dessas. Régis solta uma risada sincera, me fazendo negar com a cabeça. Visto as meias também pretas e prendo as ligas do corselete nelas, subo no salto e contemplo a minha imagem no espelho. Toco a máscara no rosto, querendo me reconhecer por trás dessa personagem que assumo todas as noites.
— Está pronta, meu bem?
— Sim — respondo, respirando fundo. — Estou. Penso no olhar duro daquele homem misterioso e sinto minha pele ar‑ repiar somente por saber que ele estará lá me assistindo. Por fim, sigo com o Régis para fora da sala, ajustando a meia na coxa.
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Ao chegar ao palco, vejo quando ele faz um sinal, e a música eletrônica para. O rapaz responsável pelo som traz o microfone até ele e me cumprimenta rapidamente. Respondo com um breve aceno. Fecho os olhos quando Régis se afasta, vai cruzar as pesadas cortinas vermelhas e começa a falar, me anunciando.
Quando escuto meu apelido, empurro as cortinas e apareço sob as luzes do projetor. A música que ensaiei esta tarde começa a ecoar pelo salão, me levando a fazer a coreografia sensual. Deslizo o olhar por todas as mesas, bus cando desesperadamente encontrar aquele homem.
Eu o vejo sentado em uma mesa próxima ao palco, sozinho. Fixo meu olhar nele, executando a coreografia e notando que está em uma posição favorável.
Jogo os cabelos para frente e para trás, subindo as mãos pela minha barriga, seios e pescoço, até alcançar os cabelos pela nuca e guiar os fios para um lado em seguida.
Tomo coragem, buscando o lado mais ousado dentro de mim, enquanto a voz sensual e deliciosa do Robin Thicke me incentiva. Eu me aproximo das escadas dianteiras do palco e as desço devagar, parando em cada degrau e ondulando o quadril. Tomo o cuidado de permanecer no ritmo da música. O olhar do homem não desvia do meu um minuto sequer, me devorando. Desfilo lentamente até parar diante das suas pernas abertas, ao erguer o olhar em minha direção, noto a surpresa estampada em seus olhos. Estou tão surpresa quanto ele com a minha ousadia. Suas roupas sociais me fazem ob servar todo o seu corpo demarcado enquanto deslizo as mãos pelo meu corpo, rebolando diante do homem. Ele tensiona os músculos quando toco em seus ombros e monto em seu colo devagar, mantendo o olhar no seu.
— Sereia.
Sorrio, gostando de ouvir o apelido na sua bela voz grave e compassada. Inclino o corpo e aproximo a boca de sua orelha, sendo atingida em cheio pelo delicioso perfume.
— Que bom que veio me encontrar — digo, voltando a erguer o corpo e continuando rebolando.
Levanto de suas pernas e dou um passo para trás, mas ele segura minha mão. Ousado.
— Não negaria um pedido tão tentador...
Mordo o lábio inferior, sentindo o corpo aquecer por ter sua atenção sobre mim. Esse homem atrevido e indecente tem um ímã, meus pensamentos não conseguem se distanciar dele.
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Continuo ali, dançando um pouco afastada dele, mas sem soltar de sua mão firme e quente. Jogo os cabelos de um lado para o outro, deslizando o olhar por toda a plateia de homens famintos. Todavia, este, sentado à minha frente, tem toda a minha atenção. Seu olhar devastador sobre mim faz meu tesão adormecido há anos, despertar.
A música entra nos seus acordes finais, e eu torno a coreografia mais lenta, rebolando e jogando os cabelos no ar uma última vez. Quando a melodia acaba, curvo o corpo para agradecer aos aplausos e toco a máscara no rosto, ouvindo uma música ambiente começar a tocar. Assim que o meu olhar encontra o do belo homem outra vez, ele me estende a mão, ficando de pé. Vejo o segurança se aproximar ao nosso lado, mas ergo a mão para que se mantenha distante, quero saber até onde iremos com isso. Estendo a mão, aceitando a sua, e recebo um sorriso torto de homem safado, completamente sacana. Minhas pernas ficam bambas assistindo a este pecado ambulante.
— Venha comigo — pede, suplicante.
— Eu ainda vou dançar hoje — digo suavemente. — Não posso sair.
— E como posso ter um momento com você?
— Não estou à venda, senhor... Eu apenas me apresento aqui.
— Edgar... meu nome é Edgar — diz, apressado. — E eu sei que você não está à venda, mas percebi que está tão interessada quanto eu. Ou não teria vindo até mim.
Fico em silêncio por alguns instantes, olhando atentamente cada traço de seu belo rosto enquanto ele espera uma resposta. Aperto sua mão, ainda na minha. Eu quero ceder, mas não me sinto segura em sair com um desconhecido.
— Sabe de uma coisa, Sereia? — Ele sorri, me interrompendo quando abro a boca para lhe responder. — Eu gosto de um bom desafio, e ter esse mistério diante de mim está me deixando com muito tesão.
— Isso fará você voltar?
— Claro. — Beija o dorso da minha mão. — Sem dúvidas.
— Sereia — Régis chama. — Querida, temos a próxima apresentação ainda.
— Estou indo. — Olho rapidamente meu amigo e volto a olhar Edgar.
— Preciso voltar a dançar agora.
— Eu estarei bem aqui vendo você.
Edgar solta a minha mão cuidadosamente, e eu sinto o coração disparado dentro do peito. Viro de costas e acompanho Régis, mas me detenho no mesmo instante e olho o homem indecente por sobre o ombro.
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— Gostei de você — digo.
Ele não me responde, apenas lança um sorriso torto, sacana e passa a mão na barba por fazer, sexy. As mechas dos seus cabelos sedosos estão bagunçadas, e algumas caem sobre os olhos. Jamais serei capaz de esquecer esse belo rosto; o desejo que estou sentindo só cresce.
Por fim, sigo com Régis, vendo Edgar voltar a se sentar à mesa. Solto um suspiro quando adentro o corredor, seguindo meu amigo. Ao entrarmos no camarim, ele cruza os braços e me encara, provavelmente esperando que eu conte tudo o que conversamos.
— E aí? Vai trepar hoje, criatura? Me conta logo, que está me dando uma síncope já.
— Não sei, Régis.
— Como não sabe? — Franze o cenho. — A boceta não é sua?
— Claro que é. — Dou risada. — Mas estou insegura, não me sinto pronta.
— Tá bom, minha Sereia. — Ele me abraça. — Vai como você preferir, o importante é se sentir confortável e gozar bem gostoso.
Balanço a cabeça, sorrindo enquanto me dirijo à penteadeira. Eu quero isso, estou realmente muito interessada naquele homem de olhar intenso. Olho a imagem refletida no espelho, o rosto quase inteiramente coberto pela máscara veneziana.
— Você foi divina na primeira coreografia e...
— Régis, eu quero a sua ajuda — interrompo.
— Para o quê? — Ergue as sobrancelhas.
— Quero deixar aquele homem pensando em mim antes de realmente sair com ele... Se for mesmo sair com ele... quero que me deseje.
— Bom... — Leva a mão ao queixo lisinho. — Eu tenho uma ideia. Fico em silêncio, esperando que pense melhor e me diga o que pode‑ mos fazer.
— Você vai presentear esse homem... Vai dar algo a ele, de preferên cia perfumado.
— O que eu poderia dar? — pergunto.
Régis olha em volta, pensando um pouco, mas logo sorri ao se dirigir até sua mochila. Ele vasculha um pouco até encontrar uma fita na cor do meu corselete.
— Você trouxe o seu perfume?
— Sim. — Viro ‑me na cadeira. — Está na minha bolsa.
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Meu amigo segue até lá, alcança o pequeno vidro e borrifa algumas vezes no tecido em suas mãos. Depois vem até mim, me faz ficar novamente de frente para o espelho e amarra a fita na minha cabeça. O laço é dado por baixo dos meus cabelos, e ele arruma os fios logo em seguida.
— Está linda. — Coloca os meus cabelos sobre os ombros. — Agora vá lá, dance lindamente e deixe aquele homem maluco com esse presentinho.
— Farei isso.
— Com certeza vai fazer muitas coisas com essa fitinha assim que chegar em casa. — Ele me dá uma piscadela. — Se é que me entende.
— Oh, Deus. — Dou risada. — Seu safado.
— Vamos, faça o seu melhor naquele palco.
Deixo o camarim ainda rindo das brincadeiras do meu amigo e sigo dire‑ tamente até o palco. Ele gosta de mistérios, e eu estou gostando dessa tensão que está sendo criada entre nós. Vou aproveitar essa situação e tentar me abrir outra vez ao sexo, quero voltar a saber o que é sentir prazer. Régis e Patrícia estão certos, eu preciso voltar a viver, a me divertir.
Quando a música Rocket, da Beyoncé, começa a soar, respiro fundo e entro em cena, sendo coberta pelas imagens do projetor. Encaro toda a plateia, evitando o olhar do homem, que disse se chamar Edgar, por enquanto. Bato as mãos nas coxas e as subo até o meu quadril, rebolo e viro de costas, parando junto com a breve pausa que a música faz.
A batida firme e sensual retorna, e eu viro a cabeça, pausando novamente, olhando Edgar por sobre o ombro. Vejo um leve sorriso surgir em seus lábios enquanto beberica sua dose de uísque. Ele me devora com o olhar. Trago a mão ao laço da fita embaixo dos meus cabelos e o puxo pela ponta, o desfazendo. Estendo o tecido diante de mim e seguro a outra ponta.
Passo a fita pelo pescoço, busto e a deslizo por entre os meus seios, sobre o corselete. Somente depois desço as escadas, ordenando os meus movimentos com o ritmo da música. Paro diante do palco, rebolando, ondulando as partes principais do meu corpo.
Giro a cabeça sensualmente, jogando os cabelos para um lado, séria. Em seguida volto a caminhar até ele, que se prepara para me receber no seu colo outra vez. Jogo a fita, passando a por seu pescoço e monto em seu colo, pu xando o tecido e aproximando nossos rostos.
— Meu presente para você, Edgar — sussurro próximo aos seus lábios.
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Deixo a fita pendurada nele, mas antes que eu possa me afastar, Edgar segura firme a minha cintura.
— Diga outra vez... o meu nome. Diga outra vez — pede.
— Edgar — sussurro.
— Porra. Está me provocando tanto. Sorrio levemente, sem deixar de executar os passos, mesmo sentada nele.
— Quer me tocar?
— Oh, como quero, Sereia. — Faz uma breve pausa. — Quero tanto, que mal estou me contendo.
Meu corpo está quente, um calor se espalha dentro de mim, e eu sinto von‑ tade de beijar os seus belos lábios agora mesmo, mas me contenho. Seguro suas mãos na minha cintura, as deslizo pelas minhas coxas, me desvencilho levemente.
Arrasto uma cadeira da sua mesa e paro diante do palco, sentando e abrindo as pernas. Jogo os cabelos, ouvindo elogios da plateia, mas não me atenho a eles. Fecho as pernas, sentindo a força do tesão me dominar como nunca. Rebolo na cadeira, deslizando as mãos pelo corpo, imaginando as mãos daquele homem indecente em mim.
Volto a ficar de pé, dando as costas à plateia, trazendo as mãos ao meu bumbum e balançando o quadril de um lado a outro. Somente assim volto a caminhar até Edgar, curiosa, louca por sua reação. Paro diante dele, curvando o corpo e fazendo uma expressão suplicante antes de cantar:
Punish me, please
Tell me what you’re going to do with all of this ass.*
O homem entreabre os lábios, ele está entendendo o que estou cantando. Edgar segura a fita entre os dedos e logo a leva ao nariz e aspira o cheiro en‑ quanto me observa fixamente. Solto um beijo para ele antes de me afastar e passear por entre as mesas, cumprimentando todos os meus expectadores. Quando a música encerra, volto ao palco e curvo o corpo em agradeci mento enquanto sou aplaudida. Por fim, lanço um longo olhar a Edgar e saio pelas cortinas, sentindo o coração inquieto no peito. Régis abre um sorriso quando me vê e assente rapidamente.
— Conseguiu, querida... Ele vai passar não só a noite, mas o dia todo amanhã pensando em você.
EDUARDA GOMES 34
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* Me puna, por favor. Me diga o que você vai fazer com toda essa bunda.
— Acha isso? — pergunto.
— Tenho absoluta certeza, eu vi o jeito que ele estava naquela cadeira, quase arrancando fora seu corselete.
Sorrio, gostando de ouvir as palavras do meu amigo. Tenho de admitir que também pensarei nele, não vou conseguir esquecer suas mãos em mim e seu olhar intenso. Eu o desejo, mesmo sendo um completo desconhecido.
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