O Manual da Conquista - Primeiros Capítulos

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Tradução: Débora Isidoro

Copyright © 2016.

the MatChMaker’s playbook by raChel Van Dyken

Copyright Da traDução © 2020. allbook eDitora

Direção Editorial

Beatriz Soares

Tradução

Ana Carolina Consolini

Preparação e Revisão

Clara Taveira e Raphael Pelosi Pellegrini

Modelos

Nick Bateman & Caitlin Carver

Crédito das imagens

Passionflix

Designer de Capa

Flavio Francisco

Projeto Gráfico e Diagramação

Cristiane Saavedra | Saavedra Edições

Esta edição é possível sob um acordo de licença originário da Amazon Publishing, www.apub.com, em colaboração com Sandra Bruna Agencia Literaria.

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Leandra Felix da Cruz Candido - Bibliotecária - CRB-7/6135

P161d Dyken, Rachel van

1.ed. O manual da conquista / Rachel van Dyken ; tradução Débora Isidoro. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Allbook, 2020

284 p.; 16 x 23 cm.

Tradução de: The matchmaker’s playbook

ISBN: 978-65-86624-14-4

1. Romance americano. I. Isidoro, Débora. II. Título.

20-65289

2020 PRODUZIDO NO BRASIL. CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM

CDD 813

CDU: 82-31(73)

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Para Jilly. Obrigada por publicar este meu livro e me ouvir surtar com todas as cenas que eu sabia que devia fazer mais picantes. Você me faz sorrir.

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Capítulo 1

O CHÁ? DE CANELA.

A cafeteria? Isolada. Meio escura. Convidativa.

A garota? Atrasada.

E não era só um atraso descolado, mas o tipo de atraso que me fazia pensar que ela não ia aparecer, o que era comum em um primeiro encontro. Pelo menos 15% das nossas clientes não apareciam. Era nervosismo. E medo de que nosso sistema não funcionasse para elas e as deixasse em situação pior que antes.

A cadeira de madeira rangeu quando me recostei nela e examinei o pequeno estabelecimento. Há um ano, pessoas estariam pedindo meu autógrafo. Há um ano, eu havia acabado de ser contratado pelo Seattle Seahawks.

Massageei o joelho quando a dor voltou, causando uma irritação imediata que fez o peito arder.

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Olhei para o relógio de novo, mordendo a boca, contrariado.

Vinte e três minutos atrasada.

Suspirei e peguei a xícara de chá pela última vez, bebendo enquanto olhava por cima da borda. Mais vinte minutos, e eu iria embora.

A porta de vidro se abriu bruscamente, bateu em uma cadeira vazia, e o sino em cima dela quase caiu no chão. Uma garota miúda, com cabelo castanho e liso entrou. Sua pele clara ficou vermelha quando ela tocou as faces e, nervosa, olhou para o salão.

A maioria não olharia duas vezes para ela.

Mas eu não era a maioria.

Fiquei olhando.

Encarando.

Quando os olhos inquietos finalmente se detiveram em mim, ela corou ainda mais. Não era uma reação feia, só reveladora.

Empurrei a cadeira para trás e levantei.

Tinha a sensação de que ela queria fugir.

Elas sempre ficavam nervosas. Era esperado. Além do mais, eu conhecia bem minha aparência. Não era vaidade, era só uma conclusão lógica que resultava da soma de quantas vezes eu tinha sido levado para cama e quantas vezes me perguntaram se eu era modelo de cuecas.

Definido? Sim.

Cabelo loiro-caramelo que nunca perdia o volume ou as ondulações? Sim.

Uma covinha do lado direito do rosto? Sim.

Sorriso sexy meio de lado? Sim.

Cicatriz no queixo que criava um ar de durão e perigoso? Sim.

Olhos cor de avelã? Sim.

E nem vou começar a falar do tamanho do pênis. Sério, tudo vai ficando melhor na medida que seus olhos descem, confie em mim.

Ela recuou um passo e, meio desequilibrada, tropeçou no rack de revistas.

Várias cópias do Seattle Weekly se espalharam pelo chão.

Ela se abaixou, agitada.

O jeans rasgou nos joelhos.

Sim, eu ia ter de salvá-la. Ela já era um perigo para si mesma.

O MANUAL DA CONQUISTA 7

Com um suspiro paciente, me aproximei devagar. Abaixei, recolhi todos os jornais tranquilamente, depois levantei.

Ela estava paralisada.

Acontecia. Com frequência. E, infelizmente, sempre era um enorme desperdício de tempo.

Porque meus negócios eram muito prósperos, e tempo era dinheiro. Ela estava atrasada.

E isso significava que não estava me fazendo perder apenas tempo, mas dinheiro também. Normalmente, eu encontrava as clientes em outro lugar, mas estava com pouco tempo e queria vê-la em ação. Mas já estava me arrependendo muito, enquanto ela pegava um punhado de guardanapos de papel, assoava o nariz e enfiava os guardanapos no bolso da frente.

— Levanta — eu disse, tentando não deixar a irritação transparecer na voz.

Ela olhou para mim de boca aberta, com os olhos arregalados, passando de corada a pálida em poucos segundos.

— Ou — cochichei, cravando nela meu olhar penetrante — você pode sentar aí mesmo. Mas duvido muito que seja a melhor maneira de chamar a atenção do barista que está tentando não encarar desde que chegou.

— Mas eu não...

— Não adianta desmentir. — Assenti com um olhar animador. — E se não levantar agora, vai perder sua chance com ele. Muitos especialistas acreditam que o ciúme é a emoção mais crucial que um homem sente antes de se apaixonar. — Estendi a mão.

Ela a estudou.

— Não vou te morder. — Fiz uma careta debochada, depois me inclinei e cochichei em seu ouvido. — Ainda.

Ela não disfarçou o espanto.

— Segura minha mão. — Assenti discretamente. — É para isso que estou aqui, lembra?

Relutante, ela segurou minha mão e levantou, apesar das pernas trêmulas. Olhei para o barista com irritação debochada enquanto ajudava minha nova cliente a se acomodar na cadeira.

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— O que é isso? — Ela apontou para o copo vermelho sobre a mesa, diante dela.

— Chá. — Bocejei. — Mas o seu esfriou, provavelmente.

— Odeio chá.

— Não. — Balancei a cabeça e me inclinei para frente, colocando as duas mãos no copo e o empurrando para mais perto dela. — Você ama chá.

Ela franziu a testa.

— Sorria.

— Quê?

— Vai logo.

Ela forçou um sorriso, que transformou seu rosto de um jeito muito positivo. Dentes demais e entusiasmo falso, mas sei trabalhar com entusiasmo. Apatia, desânimo, desespero... aí não é tão fácil.

— Oi... vocês, hum... precisam de alguma coisa? — O Barista Ciumento perguntou ao se aproximar de nossa mesa. Qualquer babaca com meio cérebro saberia que, se precisássemos de alguma coisa, pediríamos no balcão.

— Não. — Nem olhei para ele de novo.

— Ah. — Ele não se afastou. Idiota. — É que...

— Se eu precisar de alguma coisa, minha namorada vai buscar, pode ser? — Dessa vez o encarei. Às vezes, era fácil demais. Sério. Os olhos dele me penetraram, as narinas inflaram, as mãos se fecharam. O cara podia usar uma placa pendurada no pescoço com a palavra “minha” e uma seta apontando para a Descabelada.

— Mas obrigada — minha cliente esganiçou, ajeitando aquele cabelo escorrido atrás da orelha de um jeito meio nervoso, que o idiota devia achar fofo.

Teríamos de trabalhar com esse tom esganiçado. Era uma graça... Como um cachorrinho gordo que não sabia andar. Mas para chamar a atenção do barista? Ela precisava evoluir do filhotinho rechonchudo para uma coisa mais perdigueiro — elegante, bonito, único.

O Barista Ciumento se afastou.

— Ele me odeia. — Ela desmoronou na cadeira. Suspirei, irritado, segurei a mão dela e apertei.

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Dedos úmidos. Meus favoritos, disse homem nenhum, nunca.

— Para de dar chilique e senta direito. — Apertei sua mão novamente.

Seu peito arfava como se ela tivesse corrido uma maratona. Merda, se precisasse cuidar de mais um desmaio, eu iria embora.

— Desculpa. — Ela bufou ao se inclinar sobre a mesa. — É que ele falou comigo poucas vezes, e só para perguntar se eu queria açúcar no café.

— Ele odeia café — cochichei. — Cada vez que alguém pede café, ele praticamente rosna. É difícil perceber, se não estiver prestando atenção. Mas ele levanta o nariz, aperta um pouco os olhos e o filho da mãe mostra os dentes, como se tomar café fosse a mesma coisa que chapar atrás da caçamba de lixo.

— Mas... — Ela mordeu o lábio inferior. Era cheio. Suculento.

Finalmente! Alguma coisa com que eu podia trabalhar. — Ele trabalha em uma cafeteria.

A impaciência me dominou.

— E você corre 9 quilômetros todos os dias às 15h, e odeia correr. Todo mundo faz o que tem que fazer para conseguir o que quer. Quer ter um corpo legal? Você trabalha para isso. Ele quer comprar peças para a moto? Ele trabalha para isso.

Droga, eu tinha de parar de conversar com clientes quando estava sem dormir.

— Eu preciso anotar tudo? — ela perguntou baixinho.

— Você ama chá. Odeia café. — Estendi o braço e passei o polegar por seu lábio inferior. — Ele não gosta de demonstrações de afeto em público, provavelmente porque gostaria de estar envolvido com uma garota que não consegue tirar a mão de seu homem.

Ela inclinou a cabeça para mim, fechou um pouco os olhos e apoiou o rosto em minha mão. Bingo!

— Me toca — instruí.

— Mas...

— Agora.

Ela engoliu em seco, estendeu o braço sobre a mesa e pôs a mão no meu ombro.

No. Meu. Ombro.

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— Mais para baixo.

— Mas... — Ela olhou para o balcão.

— Para de olhar para lá, ou paramos por aqui.

Ela deixou a mão escorregar por meu peito, e o indicador roçou no mamilo. Provavelmente por acidente, mas a reação do barista foi a mesma.

— Agora ria.

— Rir? — Ela riu, nervosa, baixinho.

— Isso também funciona. — Sorri, vaidoso. Essa era sempre minha parte favorita, a parte que fazia de mim um gênio reconhecido. E rico também. O momento em que o cara percebe de repente que tem alguma coisa fermentando entre ele e a garota que tenta chamar sua atenção há semanas, anos, tanto faz.

O Barista Ciumento voltou.

— Shell, se quiser mais alguma coisa além do chá, é só me avisar.

— Ele inflou o peito e cruzou os braços. Lutei contra o impulso de revirar os olhos e mostrar o dedo do meio para o idiota.

— Não. — Shell olhou para mim com uma relutância que se transformou lentamente em triunfo. — Acho que é só o chá.

— Você odeia chá — ele comentou.

— Não — eu disse. — Ela ama chá.

— Babaca — ele resmungou antes de se afastar.

— Ele sabe meu nome.

Shell deixou escapar um suspiro sonhador.

De novo, o impulso de revirar os olhos foi tão forte, que minhas bochechas tremeram.

Dei de ombros e me encostei na cadeira.

— Quem é você? — ela perguntou.

— Ian Hunter. — Assenti. — Cupido profissional e sua única chance de conseguir — levantei as sobrancelhas e deixei escapar um suspiro — aquilo.

O Barista Ciumento nos olhava com os lábios comprimidos.

— Quando começamos? — ela falou tão depressa, que as palavras quase se atropelaram.

Eu sorrio.

— Há três minutos.

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Capítulo 2

SHELL RECITAVA UM MONÓLOGO. PARA SORTE DELA, EU estava acostumado com as clientes tagarelando de nervosismo, empilhando as palavras até eu sentir a cabeça começar a doer. Enquanto meu chá quente ficava gelado, eu a deixei falar, tirar do peito tudo que a sufocava.

— E aí meu gato começou a ficar doente, e não conseguimos descobrir qual era o problema.

Fiz que sim com a cabeça.

— Estou tão chateada com minha mãe! Ela nunca me disse que sou bonita!

Tapinha de leve na mão.

— Acha que sou bonita?

Carinha fofa seguida de uma piscada.

— Isso me deixa furiosa. O jeito como os homens me ignoram, como se eu fosse uma nerd. Se eu soubesse usar batom, eu usaria a porcaria do batom! Queria que o gostosão me notasse só uma vez.

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— Entendo completamente. — Eu precisava pegar a roupa na lavanderia em dez minutos, e ela estava demorando mais do que eu tinha programado.

— Eu sei. — Shell suspirou, desanimada, adotando uma postura que me fazia sentir vontade de amarrá-la na cadeira com as costas eretas e colocar um livro sobre sua cabeça. — Eu queria...

Sabe o que eu queria? Poder voltar no tempo e remarcar essa cliente na agenda do meu braço direito, Lex. Caramba, ela falava demais.

— Burrice, não é?

Merda. Deixei cair a bola. O que ela queria?

— Acho que nada do que você diz é burrice.

Comentário seguro.

Ela sorriu.

Na mosca.

— Obri... obrigada. — Mais um sorriso. — Sabe, você é um bom ouvinte.

Elas sempre esqueçam que me pagam para ouvir. Sempre.

Shell olhou para minha boca. Ai, lá vem. Tinha de admitir, ela estava evoluindo pelos estágios da minha cartilha muito mais depressa do que eu esperava.

— Você é bem... gato.

— Eu sei — respondi em um tom entediado. — Mas não esqueça, você é minha cliente. Estou ajudando você a se ajudar.

Shell fez cara de intrigada.

— Quer dizer que nunca sai com suas clientes?

Não, porque todas elas estavam apaixonadas por outra pessoa, e eu não tinha tempo para brincar de herói. Quase sempre criava uma catástrofe da qual o crush tinha de salvá-las, fortalecendo esse relacionamento e as afastando de qualquer ideia de heroísmo que pudessem ter sobre mim. Fazia sentido, se você pensasse bem nisso. As mulheres com quem eu lidava eram tão carentes de atenção masculina, que tinham dificuldade para distinguir entre minha encenação e sentimentos verdadeiros. Por isso eu sempre deixava minhas regras muito claras.

— Nunca — respondi em um tom incisivo. — Shell, meu bem. Vou mandar um e-mail com a agenda da próxima semana. Avise se tiver algum problema com os horários, mas nada de telefonemas, entendeu?

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Ela assentiu devagar.

— Só mensagens de texto e e-mails. Não falamos por telefone. E se me vir pelo campus, finja que não me conhece. Fora da relação comercial, somos estranhos. E se alguém perguntar sobre a Cupidos S.A.* ...

Ela suspirou.

— Já sei, já sei. Entrego o cartão vermelho com o logo do Super-Homem na frente e o C gigante no verso.

Pisquei. Nosso cartão era genial. Parecia só um cartão bobo do Super-Homem, mas, na verdade, a mensagem estava no verso. A mensagem está sempre nos detalhes aos quais as pessoas raramente prestam atenção.

— Ótimo. — Levantei e estendi a mão. — Só preciso de sete dias.

Ela olhou para o barista, que continuava nos fuzilando com os olhos.

— Espero que esteja certo.

Revirei os olhos, a puxei para um selinho rápido e cochichei:

— Eu nunca erro.

— Seu perfume é picante.

Ah, que fofa, um elogio. Talvez eu só precise de seis dias. Afinal, um dos dias é dedicado ao aprendizado de como afagar o ego de um homem. Olha só, minha pequena gafanhota, ela aprendia depressa!

— Obrigado. — Pus a mão na parte de baixo de suas costas e a guiei para fora da cafeteria.

— Tchau, Ian.

Ela se afastou e entrou em um Honda vermelho. Caramba, pensei que ela fosse o tipo de garota que dirige um Jetta verde. Bom, não dá para acertar todas.

No minuto em que entrei no Range Rover, meu celular tocou.

— Como ela é? — Lex bocejou do outro lado da linha. Imaginei que ele estivesse atolado em e-mails, já que o ano tinha começado há duas semanas, e todo mundo que respira faz promessas de Ano Novo para mudar de vida — Porque sua lista de espera é enorme, e se ela não for promissora, tenho aqui uma garota que me prometeu favores sexuais se eu puser o nome dela no topo.

— Tira da lista — respondi. — Se ela sabe como oferecer esse tipo de favor, também sabe como descolar o homem que quer.

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* Wingman Inc. no original.

— Anotado. — Lex riu, contido.

Não podia esquecer de verificar se ele realmente havia retirado a garota da lista, em vez de fazer promessas falsas só para poder pegar alguém.

— Ah — disse Lex. — Gabi disse que se você não chegar até a hora do jantar hoje à noite, ela vai colar sua mão no pênis. Mas ela foi mais explícita.

— Sempre é. — Sorri. — Manda uma mensagem para ela e avisa que estou indo.

— Ok. — Ele desligou.

Eu não escolhi essa vida. Não acordei um dia dizendo: “Puxa, não seria demais ajudar mulheres sem-graça a descolar aquele cara?”. E antes de sair bufando, encare os fatos. Quase 60% das mulheres casam com alguém abaixo de suas expectativas, o que significa que a maioria se conforma com um homem estragadinho. O cara que, provavelmente, ganha menos que elas; nunca se exercita; come cachorro-quente no café da manhã, no almoço e no jantar; e, vamos encarar, precisa de Viagra aos quarenta anos.

Uma pesquisa rápida na internet, e você encontra os fatos.

Mulheres são, por natureza, criaturas inseguras, e se aos 35 anos elas ainda não se casaram, provavelmente vão casar com o cara careca e de bom coração.

E não tem absolutamente nada de errado nisso.

É como quando você adota um cachorro e escolhe o de olhar preguiçoso porque sente pena dele, e tem certeza de que o filho da mãe não vai fugir nunca.

Então, qual é a diferença entre um se acomodar e outro se acomodar?

O primeiro é fofo. O cachorro de olhar preguiçoso, ou, nesse caso, o homem realmente é o melhor para a mulher. Um encontro de almas gêmeas. Esses são os casais que você vê de mãos dadas e se pergunta se a garota tem algum problema de visão. É a mãe alta e gostosona e o pai baixinho. A musa da faculdade e o cara com barriguinha de cerveja. A líder de torcida e o nerd.

Por alguma razão, o universo aceita isso. Eu aceito.

O que não aceito? O se acomodar que é inseguro, de natureza desesperada.

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Reconheço que é mais raro. Mas está se tornando cada vez mais comum.

É quando uma garota nunca atinge todo seu potencial, se acomoda com menos do que merece. É a garota quietinha que nunca teve alguém que ensinasse a ela como usar maquiagem. A gordinha que come os próprios sentimentos, mas tem uma personalidade hilária e devia, com toda certeza, ser par do quarterback.

São as almas gêmeas que nunca se encontrarão. É minha irmã.

Quieta, tímida, um pouco desesperada, mas linda. Ela era apaixonada por um cara do meu time. E quando digo apaixonada, quero dizer que ela bateu com o carro na caixa de correspondência uma vez, quando o levei para passar o feriado do Quatro de Julho em casa.

O mais maluco? Ele estava a fim dela, mas por ser insegura e acanhada, ela nunca deu sinal verde para ele. Teve medo de dar um passo adiante e percorrer sua metade do caminho.

Eu era egoísta demais para me importar, e ela me fez jurar que eu nunca interferiria. Um ano passou. Ele cansou de esperar; ela cansou da “rejeição”.

E ela se acomodou com o parceiro de laboratório, Jerry.

Hoje ela é casada com um fracassado que acha que videogame é um esporte olímpico e deve acreditar que, quando a cerveja acaba, a fada cervejeira enche a geladeira à noite, enquanto ele dorme. O idiota provavelmente acredita que os búfalos também foram extintos.

E o meu amigo? Acabou de ser contratado pelo Steelers e fez uma propaganda da Nike recentemente.

Eu estava na festa de aniversário da minha irmã há nove meses, sentado no sofá da casa dela, quando minha vida deu um estalo. Meu joelho doía muito, mas essa dor não era nada, comparada àquela de ver a expressão de total desolação no rosto dela ao ver meu amigo na televisão, enquanto Jerry gritava para ela pegar o bebê, porque ele queria continuar jogando no Xbox.

Minha irmã merecia mais que isso. Merece mais. E enquanto aplicava gelo no joelho, graças a um incidente infeliz sobre o qual não quero falar, tive uma revelação.

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Se ela fosse mais segura, se soubesse ler os sinais, soubesse como conquistar o homem que merecia, ela seria mais feliz. Um grama de confiança teria mudado a vida dela, e saber como ler um homem, como ler uma situação? Caramba, aprender só uma regra da minha cartilha teria mudado a vida dela.

Não estaria estagnada em Yakima, Washington, o lugar que é conhecido como a Palm Springs de Washington, mas, na verdade, se quer saber minha opinião, é um centro de drogas e gangues, pior que Los Angeles.

Ela é uma garota de Seattle cercada de vacas, drogas, tratores, e sai uma noite por semana para ir ao Applebee’s.

Para piorar as coisas, ela não pode voltar para Seattle, porque o marido assumiu o controle da empresa de tratores da família e todo o clã vive lá há mais de quarenta anos. Não havia nada que eu pudesse fazer. Nada que ela pudesse fazer, exceto mandar uma mensagem ou telefonar de vez em quando.

Então, basicamente, ela estava presa no inferno até alguma coisa mudar essa situação. Mas pelo jeito... A paz mundial chegaria antes disso.

Não posso fazer nada por ela.

A única família que me restou.

Além de Gabi, mas ela eu nem conto, porque não é parente de sangue e, provavelmente, me atacaria com o objeto pontiagudo mais próximo se eu a chamasse de irmã. Isso tem a ver com ela não querer que todos os homens disponíveis fujam quando descobrem o vínculo entre nós. Uma vez. Ameacei um cara no colégio uma vez, e agora ela se recusa a me contar qualquer coisa sobre sua vida sexual, ou a falta dela.

Dei de ombros. Sempre que ela usa uma saia curta, a única coisa que sinto é a necessidade de protegê-la e aprender a costurar, porque assim posso acrescentar mais pano ao comprimento da saia.

Então, sim, essa é minha história.

Foi assim que a Cupidos S.A. começou.

Pense em namorar como você pensaria em um jogo de futebol. Os treinadores têm suas cartilhas, regras que os jogadores decoram durante dias, semanas, anos até, e elas funcionam. Não é suficiente saber jogar o jogo; você precisa saber ler as jogadas, ler seu adversário.

É com isso que a Cupidos S.A. tem a ver. E se você pudesse estudar uma cartilha do namoro? Temos regras para todo tipo de cenário

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de relacionamento, e nosso processo funciona. Basicamente, criamos uma versão de Minority Report para relacionamentos. Vemos o “desastre afetivo” antes que ele aconteça e fazemos os ajustes necessários.

Nenhuma aflição nisso. Não sou um cretino triste e solitário que precisa de terapia porque meus pais me ignoraram quando eu era pequeno — embora tenham me ignorado, e provavelmente ainda me ignorariam, se não tivessem morrido em um acidente aéreo bizarro quando eu tinha sete anos.

Não sofri de amor pela vizinha que finalmente me notou, mas me trocou pelo meu melhor amigo. Fala sério. Você já me viu?

E não, não estou tentando compensar as coisas em doses homeopáticas.

Acho que já ficou claro que tudo vai bem no departamento físico.

Sou rico.

Sou brilhante — pergunte aos meus professores.

Tenho mais mulheres que um homem consegue manter, mesmo que seja um homem com o meu apetite. E sou basicamente o Super-Homem moderno, salvo as mulheres delas mesmas, enquanto meu melhor amigo, Lex, entra em cena no papel de meu ajudante.

Antes que você pergunte... sim. Isso é uma droga. Estou furioso por não poder jogar na NFL.

Mas quando um homem não pode jogar... ele ensina.

E eu fui mais que um simples jogador de futebol.

Eu fui o jogador.

O astro dos esportes.

E... das mulheres.

O melhor de todos.

Então quem pode ser melhor que um jogador de verdade para ensinar às mulheres como não cair em joguinhos?

Exatamente.

Não é como se eu tivesse virado a página; só aprendi a usar os dois lados da folha. Brilhante? Absolutamente.

— Merda. — Quase bati no Corolla na minha frente quando o toque personalizado do número da Gabi explodiu nos alto-falantes. — Sim? — Atendi. — A que devo a honra?

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— Não sou sua cliente, Ian! — Gabi gritou. — Pode parar com essa vozinha mansa de coach do amor. Você prometeu!

— Prometi. — Que diabo eu tinha prometido? Cinema hoje à noite? Era o que eu achava que tinha prometido. O semáforo ficou verde. Meus pensamentos continuavam em branco. O motorista de trás buzinou, e eu acelerei.

— Você esqueceu, não é?

— Sobre nosso programa hoje à noite? — Eu ri. — É claro que não.

— Às vezes, me pergunto por que somos amigos.

— Porque você gosta de olhar para mim enquanto durmo?

— Uma vez, Ian! — Ela rosnou um palavrão. — Sua sorte é que eu não guardo rancor. Vou fazer uma festa de boas-vindas para as duas garotas novas na casa, e você ficou de trazer batatas e molhos. E a festa começou há meia hora.

A lavanderia ia ter de esperar.

— Essa festa estava na minha agenda?

— Você e essa droga da agenda! — ela gritou. — Desculpa, não tenho tempo para acessar o Gmail e editar a agenda para você ter tempo para mim.

— Seria bem mais fácil para o Lex, se você fizesse isso.

— Você sabe que o Lex é mais sua vadia que seu amigo atualmente?

— Afe. — Tossi. — Torce para eu não contar isso para ele. Ela ficou em silêncio. Porque era isso que fazia quando falávamos sobre o Lex. Fingia que não tinha planos para pôr fogo na cama com ele, e eu fingia não notar que, mesmo quando eles estavam brigando, ela ainda parecia suplicar pela atenção dele, mesmo que fosse negativa. Mas nós dois sabíamos que o elefante continuava na sala, com a cara estampada em tudo.

Suspirei.

— Desculpa, Gabs. Chego aí em quinze minutos, ok?

— Acho bom — ela resmungou. E desligou.

A música voltou quando entrei no estacionamento do primeiro mercado que vi e corri como um louco para comprar o que tinha prometido. Quanto mais ocupado ficava, mais minha memória piorava, e era por isso que eu tinha uma agenda física e outra on-line, que até meus professores sabiam acessar, caso eu não estivesse em sala de aula, já que

O MANUAL DA CONQUISTA 19

eu era monitor da turma. Eu era um aluno excelente; treinei meus professores para administrar bem minhas agendas, e era um bônus quando eu podia dar aula no lugar deles, porque assim eles podiam fazer coisas mais importantes.

Peguei todos os pacotes de batatas e molhos que consegui encontrar, promessas de calorias vazias, e gemi ao ver que só havia um caixa aberto, e o cara na minha frente tinha dez cupons.

Eu toparia pagar suas compras, se ele me deixasse passar primeiro.

— Posso atendê-lo aqui, senhor — uma voz animada anunciou à minha direita.

Um sorriso lento se espalhou por meu rosto quando virei.

— Ah, puxa, obrigado.

A menina ficou vermelha e acendeu a lâmpada do caixa.

— Hum, vai a alguma festa?

O leitor de código de barras apitava a cada item registrado.

— É para minha irmã. Bom, ela é praticamente minha irmã. E eu sou o tonto que esqueceu de levar os petiscos.

— Não parece um tonto. — A voz ficou rouca quando ela arqueou as sobrancelhas.

— Talvez deva dizer isso a ela, assim eu não teria que rastejar...

Os olhos dela se iluminaram.

— Saio em dez minutos.

— Ah, eu só levaria cinco. Top.

— Quê?

— Seu top. — Apontei para a camiseta branca e lisa. — Ficou lindo com seu tom de pele.

Vi suas pupilas dilatarem.

Às vezes, era fácil demais.

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Capítulo 3

— FINALMENTE! — GABI GRITOU AO ABRIR A PORTA E ARRANcar as compras da minha mão. — Você não disse quinze minutos?

— Eu disse quinze? Podia jurar que falei vinte. E aquela caixa precisava da minha ajuda, então... Gabi estreitou os olhos.

— Está cheirando a perfume barato.

— Horrível, não é? Quem ainda usa Campos de Baunilha? Acho que sua avó ainda compra essa merda, mas ela tem oitenta anos. Adquiriu o direito de ser uma criatura cheia de hábitos.

— Fez de novo?

— Fiz o quê?

Fingi inocência enquanto Gabi tirava as compras das sacolas. Gabi morava a alguns quarteirões do campus da Universidade de Washington, e eu morava alguns quilômetros distante da casa dela. Era conveniente para nós dois.

O MANUAL DA CONQUISTA 21

Eu garantia que nenhum idiota a atormentasse só por existir.

E ela cozinhava para mim.

De vez em quando, até preparava e embalava um almoço infantil com carinhas sorridentes. Provavelmente, eu morreria de fome sem ela. Algo que ela gostava de enfatizar todos os dias.

Gabi revirou os olhos verdes e prendeu rapidamente o cabelo castanho e comprido em um coque bagunçado.

— Às vezes, eu quero te matar. — Ela suspirou. — Nossa, me sinto muito melhor sem isso me sufocando.

— É para isso que estou aqui. — Pisquei. — Sou sua terapia pessoal. Ela torceu o nariz.

— Falando sério. Esse cheiro é horrível, cara. Levantei a camisa e fiz uma careta.

— Como é que cinco minutos com a Garota do Mercado me transformaram em um comercial ambulante de perfume?

Gabi suspirou e apontou para o andar de cima.

— Vai. Banho. Eu cuido da comida. Ainda tem roupa sua no meu quarto. Só... — ela espirrou e torceu o nariz — se livra desse fedor.

— Ela tem nome — brinquei. Não que eu lembrasse. Mas não era minha culpa. Enquanto ela ocupava a boca comigo, sua cabeça escondia o crachá de identificação. Viu? Não era minha culpa.

— Um dia. — Gabi balançou a cabeça. — Você vai ser fisgado.

— Ela franziu a testa. — Ou é pescado?

— Uuuh. — Fingi um arrepio e me inclinei para beijar sua testa.

— Essa sacanagem eu não conheço. Mal posso esperar. Ela me empurrou e deu um tapa na minha bunda.

— Sobe. Vai, antes que comece a atrair mais.

— Atenção?

— Garotas sem futuro. — Gabi assentiu com ar sério. — Sabe, dessas que gostam de uma rapidinha...

— Lex! — Eu a interrompi decidido quando meu melhor amigo entrou na cozinha. 1,80m de pura galinhagem musculosa. Pior que eu.

O que significava que ele merecia uma medalha, provavelmente. Ou um distintivo.

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Ou um patch bordado com a letra P de “putaria”. O distintivo da sacanagem.

Gabi ficou tensa ao meu lado.

— Vou tomar uma ducha — avisei, e os deixei sozinhos. Eu sabia bem que, em relação a esses dois, a melhor coisa era ficar fora do caminho.

Odeio apartar briga. Na última vez, ganhei um olho roxo e um chute no saco, tentando manter a paz.

E com todas as clientes que tinha agendadas para o restante do semestre, a última coisa que eu queria era aparecer em uma reunião com os dois olhos inchados.

Subi a escada pulando os degraus, bati na porta do banheiro antes de entrar, tirei a roupa rapidamente e entrei na área do chuveiro.

Tudo de que eu precisava continuava onde eu tinha deixado, no armário do canto.

E antes de começar a me olhar com desconfiança, não esqueça, Gabi é como uma irmã para mim, tanto que a única vez que sequer pensei em beijá-la foi durante a noite da patinação no oitavo ano, e tenho certeza de que foi porque alguém batizou minha Mountain Dew.

De qualquer maneira, beijei, e foi horrível. Ela vomitou, sério. Mas temos certeza quase absoluta de que foi virose, e não minha falta de jeito para beijar que provocou a reação.

Fizemos um acordo alguns dias depois disso.

Juramos segredo.

E nunca mais voltamos a ter problemas.

Então, não, não sinto ciúme da fascinação dela por Lex, mas provavelmente, se algum dia ele correspondesse, eu o penduraria em um poste de telefone e colocaria fogo em suas bolas. A obsessão dela era fofa, e eu sabia que nunca daria em nada. Porque ela era virgem.

Ele não era.

E homens como Lex sabem que mulheres como Gabi valem ouro. Ele não poderia pagar esse preço, nem se vendesse sua alma corrompida.

O cheiro conhecido do meu sabonete líquido Molton Brown pairava no ar, ardendo no nariz, mas, ao mesmo tempo, me fazendo relaxar.

Eu só deixava o Molton na casa da Gabi.

Em casa, era Jean Paul Gaultier.

O MANUAL DA CONQUISTA 23

E se passava a noite fora de casa e tinha reunião com alguma cliente marcada para o dia seguinte, levava Old Spice. Era outra coisa que envolvia números. Pelo menos 30% dos caras na faculdade usavam Old Spice, o que significava que a garota começava a associar meu cheiro com o de outros homens, o que relaxava seus limites e a deixava à vontade. Porque, como qualquer especialista em relacionamentos sabe, o olfato é o caminho mais fácil para estabelecer lembranças e conforto.

Não tem como errar nessa.

Outro motivo pelo qual Lex tem um valor inestimável para a empresa: ele adora gráficos, dados e fatos curiosos.

A batida forte fez a porta tremer.

— Juro pelo deus do banho, se não sair daí logo, vou arrombar a porta e dar a descarga.

— Cinco minutos, Gabs.

— Você e seus prazos irreais!

Desliguei o chuveiro, enrolei uma toalha na cintura e fui para o quarto dela.

Suspirei, fechei a porta, soltei a toalha e acendi a luz.

Ela comprou uma cômoda nova?

A dela era marrom.

Essa era preta.

E o perfume em cima da cômoda era novo. Curioso, peguei a embalagem de Prada e cheirei, e nesse momento a porta do quarto abriu.

— Santo Garfield e lasanha! — disse uma morena alta com uma quantidade exorbitante de cabelo escuro e ondulado. Ela cobriu o rosto com as mãos e recuou tropeçando. A porta tinha começado a fechar atrás dela, e a maçaneta encontrou sua bunda. Ela gemeu, cambaleou para frente e se apoiou no cesto de roupa suja perto de onde eu estava.

O cesto era de plástico.

Não era de aço.

Então, naturalmente, no minuto em que ela apoiou o peso, ele quebrou. A roupa suja se espalhou pelo chão, ela caiu de joelhos, e o horrível short preto de basquete subiu, revelando coxas musculosas.

Sorrindo, me inclinei e, ainda nu, apontei para a calcinha fio-dental cor de rosa.

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— Dá para ver que você é o tipo de garota que gosta de shorts masculinos.

A moça de cabelo castanho cobria o rosto como o Primo Itt da Família Adams. Lentamente, ela tirou o cabelo da frente dos olhos.

— O que está fazendo no meu quarto? — Sua voz baixa era acusadora, meio sexy, se eu fechasse os olhos e a imaginasse em outro corpo.

— Quer dizer, o quarto da Gabi.

— Não. — As narinas dela dilataram. — É meu quarto.

— E você é quem? — Estendi a mão, porque era um cavalheiro, em primeiro lugar, um galinha, em segundo, e porque minha avó costumava bater na minha bunda toda vez que eu me apresentava sem um aperto de mão firme.

Ela mirou de olhos arregalados para o meu corpo nu.

— Tudo bem — decidi, dando de ombros. — Mas tenho só três minutos, literalmente, antes de Gabi acabar comigo. Prefere a cama ou o chão, já que já está aí?

E Gabi dizia que eu não era caridoso? Droga, olha só para mim, pronto para distribuir orgasmos de graça.

— Quê? — Os olhos errantes da garota nova finalmente encontraram os meus. Caramba, algumas pessoas cobravam por esse tipo de olhar. — Do que está falando?

— Bom, agora só temos dois minutos e meio. Não vou dizer que não é difícil, mas acho que consigo fazer alguma coisa que provoque pelo menos uns gemidinhos. Talvez um ou dois gritos.

— Gritos? — ela repetiu, e franziu a testa. — Do que está falando? E por que está pelado?

— Estava procurando as roupas, antes de você invadir minha privacidade.

— No meu quarto.

— Olha só. — Olhei para o meu relógio. — Estamos entrando em território perigoso. Já me chamaram de Super-Homem na cama, mas não sei se consigo repetir 2014, apesar de adorar a ideia de quebrar mais um recorde. Então, se vamos fazer isso mesmo, você tem que se apressar e tirar a blusa, pelo menos.

— Você é — seu rosto ficou vermelho — um stripper para a festa?

O MANUAL DA CONQUISTA 25

Hummm. A ideia tinha seu valor. Eu podia fazer um show gratuito, o que me transformaria em um santo, considerando o que costumava cobrar de cada cliente.

— Não. — Estendi a mão.

Ela não a segurou, e tomei a iniciativa de levantá-la do chão e colocá-la em pé. Ela esperneou. Até tentou me morder. Agora sim. Um pouco de entusiasmo!

— Me põe no chão! — Ela se debateu. Eu a soltei longe de mim e cruzei os braços.

— Sinto muito, o tempo acabou. Você só tem dez segundos, e nem eu consigo fazer um milagre desse — apontei para a camiseta larga, o short enorme e, puta merda, ela usava meias três quartos — calibre. — Engoli a saliva. — Só um palpite, mas você estudou em casa? Homeschooling?

Seu rosto ficou vermelho de vergonha ou raiva.

— Não! E eu moro aqui. Este é meu quarto!

— Mas é o quarto da Gabi.

— Trocamos hoje de manhã! — Ela bateu o pé no chão. A garota usava um chinelo Adidas, modelo antigo. Eles ainda fabricavam esse modelo? Hummm. Era como ver um T. Rex de verdade. — Por que está olhando para os meus pés?

— Isso aí deve valer uma nota. — Bati com um dedo no queixo e continuei olhando para o chinelo horroroso. — Impressionante. Realmente impressionante.

— Está me ouvindo? — ela gritou. — Veste uma roupa e sai do meu quarto. Ou não veste nada e só sai do meu quarto. Tanto faz.

— Exatamente. — Assenti com ar sério. — Era o que eu ia fazer, quando você entrou. Agora — falei lentamente —, você disse que trocaram de quarto?

Ela confirmou balançando a cabeça.

— O que significa que o quarto de Gabi...?

Ela apontou para o corredor. Tive uma vaga lembrança de Gabi ter comentado que mudaria para o quarto menor, porque as duas novas moradoras dividiriam o quarto.

— Ah, você deve ser Serena.

— Blake — ela grunhiu. — Serena é a loira.

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E aposto que ela também era gostosa. Serena era nome de mulher gostosa. Blake? Era o nome que se dava a uma menina que o pai esperava que fosse menino e, portanto, projetava nela todos os seus sonhos de criar um garoto. Dez pratas como o pai a tinha obrigado a praticar todos os esportes, e ela era produto de um divórcio, ou foi criada por mãe ou pai solteiro.

— Por que ainda está aqui... pelado? — Dessa vez ela desviou o olhar, cobrindo o rosto com as mãos.

— O que tem de errado em estar nu? Sabe que todo mundo nasce assim, certo?

— Apenas... — ela não olhou de novo, mas apontou para a porta — saia.

— Quem perde é você. — Eu ri. — Podia ter dado uma sacudida no seu mundo.

— Meu mundo não precisa ser sacudido. Parei no meio do caminho para a porta, voltei, cheguei bem perto para garantir que meu hálito roçasse seu pescoço, e sussurrei:

— É aí que você se engana, Blake. Toda mulher precisa de uma sacudida em seu mundo, pelo menos uma vez. Ou melhor, se for eu quem vai sacudir? Duas vezes.

A postura dela era rígida, e a única dica que eu tinha abalado suas emoções era a respiração acelerada, junto com o pulso. Inclinei-me ainda mais e lambi uma parte daquele pescoço que me provocava. Depois me afastei.

— Foi um prazer te conhecer.

A batida da porta quando eu saí quando acertou meu traseiro. Não dá para ganhar todas. Não que eu quisesse ganhar a Garota Adidas. Meu prato já estava cheio demais. A última coisa de que precisava era uma moleca sexualmente reprimida que usava moletom porque era confortável.

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