Nutshell - Primeiros Capítulos

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TRADUZIDO POR ANA CAROLINA CONSOLINI

1ª EDIÇÃO – 2020 RIO DE JANEIRO

Nutshell by Giulio berruti

© 2018 MoNdadori electa s p a., MilaNo © 2020 MoNdadori libri s p a copyriGht da tradução © 2020 allbook editora

Direção Editorial

Beatriz Soares

Tradução

Ana Carolina Consolini

Preparação e Revisão

Clara Taveira e Raphael Pelosi Pellegrini

Ilustração

Giulio Berruti

Adaptação de Capa

Flavio Francisco

Projeto Gráfico e Diagramação: Cristiane Saavedra | Saavedra Edições

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Camila Donis Hartmann – Bibliotecária – CRB-7/6472

B452n Berruti, Giulio, 1984-

1.ed. Nutshell : diário de um aprisionado / Giulio Berruti ; tradução Ana Carolina Consolini. – Rio de Janeiro : AllBook, 2020.

176 p.; 16 x 23 cm.

Tradução de: Nutshell

ISBN: 978-65-86624-32-8

1. Ficção italiana. I. Consolini, Ana Carolina. II. Título.

20-67458

2020 PRODUZIDO NO BRASIL.

CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM

CDD 853

CDU: 82-3(450)

Para meus avós, pele da minha pele.

Para meu pai, pilar da minha vida.

Ao irmão Domênico e suas “zampe di mosche razziste” no boletim.

Para o padre Giorgio Testa, estou encomendando as gavetas.

Ao professor Zuccaro e sua dívida em filosofia, obrigado, porque nunca mais esquecerei Aristóteles.

Agradecimentos especiais à Miriam Dubini, por me apoiar, com a paciência de uma mãe, nesta longa e intensa jornada. Este livro também é seu.

“Caminhar é perder por um momento seu equilíbrio e depois encontrá-lo.”
Daniel Ezralow

Atrás de nós está a praia, na hora mais fria antes do amanhecer. É tão lívida quanto nossos rostos. O mar desaparece na escuridão da noite, como nossos olhos em suas órbitas. Fazemos parte de uma paisagem coerente, uma pincelada sutil em uma pintura. Além da borda da tela, a água é transparente como vodca, e a areia, amarelada como coca. Este é nosso lugar. Costumamos vir aqui com frequência. Gostamos de voltar.

— A lua hoje à noite decidiu não aparecer. Como o motor de Aristóteles, que tudo move e governa enquanto permanece ali, estático e soberano. Aqui, se houvesse uma garota, eu conversaria com ela sobre algo assim, uma das poucas lembranças que tenho das aulas de filosofia na escola. É um tópico que sempre funciona, também porque na maioria das vezes ninguém sabe do que diabos você está falando e, portanto, não sabe o que responder: o importante é nos dizer o que você pensa, desde que você não pare de falar. Como as perguntas de filosofia do velho professor Celli.

Muitas vezes, quando conheço uma garota, tento esconder a timidez assumindo o controle: eu gosto de ouvir, mas é um pouco como quando nos apresentamos. Estamos tão concentrados, tão empolgados com a ansiedade de dizer corretamente o próprio nome, que acabamos não escutando nem um pouco o outro.

Sabe, a mente é estranha: ela registra e lembra apenas com base em emoções, que nada mais são do que reações químicas em nosso cérebro — como o professor Santini sempre dizia durante suas aulas de química —, nada mais.

Aqui, estou procurando essas reações, e, como muitas vezes acontece, do outro lado não encontro nada.

Tocar o corpo é fácil, tocar a mente, nem tanto.

— Nico, que porra você está falando? — diz o Conde.

R O M A

De repente, percebi que o que eu acreditava ser apenas uma reflexão minha, dentro da minha cabeça, tinha sido um fluxo de consciência perfeitamente pronunciado em voz baixa, mas bem audível.

— Deve ser essa erva, com certeza esse material é de Cristo — diz ele.

Sim, o Conde: alguém que representa o verdadeiro sentido do título. Estatura mediana, meio atarracado até, uma barriga descontraída com uma mistura de definição com excesso de sustância, alguns pelos de barba aqui e ali, roupas de grife, mas que não combinam, e sempre em busca das coisas “de Cristo”, como ele diz: na sua própria língua, significa “legal”.

Ele conta as notas no bolso. Não faz isso de propósito, está em seu DNA. Seu pai é um grande investidor nos mercados financeiros, ou pelo menos parece.

Uma vez, em sua casa, manchei minha camisa com molho enquanto comíamos; já estava um pouco tarde, e apesar do serviço seis estrelas de luxo da casa do Conde, não havia vestígio dos empregados. Decidi me virar sozinho, e abrindo um armário, encontrei uma embalagem de detergente. Mas, em vez de sabão, descobri uma montanha de notas de quinhentos euros.

— Deixe-as aí, porque meu pai as conta todo fim de semana antes de sair

— disse o Conde.

— Desculpe, mas que tipo de trabalho seu pai tem? É banqueiro?

— pergunto.

— Não, investimentos...

— Realmente! Mas como?

O Conde pareceu surpreso.

— Tipo... Coisas importantes... Mercados importantes... Para clientes importantes...

Eu olhei para ele, no meio do caminho entre divertimento e incredulidade, tentando entender se ele estava realmente falando sério ou se estava repetindo uma daquelas coisas que ensinam quando criança se você nasce nesse lado do país.

— Cara, se te perguntarem, só diga que não sabe.

— Foda-se, Nico, por que você está me olhando assim? Não sei o que diabos ele faz, mas não toque no dinheiro, que ele percebe na mesma hora e fica me incomodando!

Algum tempo depois, uma investigação financeira revelou o mistério para o mundo: o pai do Conde, que ninguém mais tinha visto, lavava uma roupa luxuosa, lavava o dinheiro de pessoas importantes... Para empresas

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importantes... Mercados importantes... Em suma, nem o TG1 conseguiu explicar isso.

Mas no final não importa: eu amo o Conde.

— Ok, mas eu sou a coisa do motor? — ela sussurra.

Morena, cabelos cacheados... Esqueci que ela estava lá conosco. Lavínia — se não me engano —, nos conhecemos há alguns minutos e já estou ansioso para levá-la para casa.

Mas meu objeto não é foder com outra pessoa, penso comigo mesmo, esperando que não me ouçam.

Ela é bonita, mas não é “a coisa do motor”.

Eu não posso fazer isso.

— Nico tem uma fixação em motores — diz Ale, um amigo de longa data.

— Nico sempre volta.

Sim, os motores...

Lembro-me perfeitamente da primeira vez em que vi um carro de corrida passando.

Eu tinha onze anos, estava fora da escola esperando minha mãe me buscar: fui suspenso porque havia entrado no segundo tempo com uma justificativa inventada, segundo o professor de matemática.

De fato, era verdadeira, a única que minha mãe, uma espécie de oficial da Gestapo, já havia feito.

Mas eu era tão bom em copiar assinaturas de outras pessoas, que há anos assinava.

E não apenas para mim. Eu tinha uma longa lista de pessoas que me deviam favores, começando com aquele gordo, o imbecil da turma, que gostava tanto de me ferrar com os trabalhos de matemática.

Em suma, aquela assinatura, aquela maldita assinatura original, parecia falsa. Entendeu essa piada do destino?

Na tentativa de encontrar outra justificativa para tudo isso, absorvido em meus pensamentos, eu estava sentado naquela mureta, do lado de fora da escola, na Piazza di Spagna, junto com Ale, que, na época, a mando da mãe, tinha um corte de cabelo horrível que, segundo ela, melhorou ligeiramente o efeito dos cachos indomáveis. Quanto dano os pais causam sem perceber. De repente, no entanto, fiquei em alerta: um estrondo metálico, um surdo e ácido barulho estoura como um tubo que dispara e depois aspira ar, faminto.

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Um murmúrio baixo e intermitente semelhante a um barco de pesca que atraca no porto. Eu não podia acreditar nos meus olhos: uma Ferrari F40, um carro daqueles que são vistos apenas uma vez na vida. Uma mistura de asas, tubos de ferro, engenharia e loucura: pesando 1100kg, 500 cavalos e duas turbinas IHI do tamanho de dois aquecedores de água (daqueles das casas à beira-mar, que são feios, mas funcionam muito bem quando está frio lá fora), irmãs mais velhas, muito mais velhas que a turbina que equipou o lendário Lancia Delta Integrale, para você entender, um carro que na época venceu todas as competições de rali neste planeta.

O F40 estava ali, irreverente.

Um carro incrível.

Para dirigi-lo — mas guiando a sério —, você precisava de bolas quadradas. E parafusos sextavados, eu diria. E bem apertados com o compressor.

Sem ajuda.

Só você, uma armação de fibra de vidro e tubos, muitos tubos, todos construídos ao seu redor.

Que agradariam até ao velho Ennio Doris.

E um motor potente. Pequeno, compacto e muito poderoso, controlado por três pedais que, se tocados da forma correta, dariam vida a uma sinfonia melhor que a Nona de Beethoven.

O F40 era capaz de aterrorizar até o piloto mais experiente. Um sonho.

— Você está estranho, cara. Basicamente, toda vez que você fuma, faz viagens estranhas, fala sozinho... Mas você é que sabe que porra quer fazer. Quem está falando é Fra, o avançado do grupo. Aos 14 anos, já tinha tatuagens — meio boxeador, Rolex de ouro no braço, o que me faz pensar em bilionário, filho de ex-pastores que haviam feito uma fortuna com a habitação popular de Borgata Ottavia. Meio forçado, mas limpo. Viciado em jogos de azar e haxixe, tanto que, toda semana, acabava com cerca de cinquenta gramas, misturando com o licor de café Borghetti que ele aparentemente também tomava no café da manhã.

Áspero, mas tudo bem. Como um fazendeiro, casca grossa, mas com o cérebro afiado.

— Sim, de fato! — diz Fra. — Traga-nos de volta, se ficarmos ruins por um tempo.

— Sim, vamos lá, vamos nos livrar do merdinha. — Aqui vem o quarto amigo inseparável das mil noites de problema. E bolas de aço. Luca. O pai dele é cirurgião, e a mãe, uma famosa negociante de arte. Ele sempre

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procurava um limite para ultrapassar e uma viagem mais cara do que a do mês anterior. Possivelmente de barco.

Luca sempre desaparece no meio da noite, geralmente procurando por uma mulher. Mas, no final, ele sempre volta para nós.

O cheiro do mar nos lembra que estamos longe de casa e que devemos retornar. O sol nasce e não espera por ninguém.

É hora de ir.

O estacionamento da fábrica, ainda fechado para o inverno, mantém minha alegria, minha filha favorita, ela que sempre faz meu coração bater e que acelera só para mim.

Eu a ligo. Saboreio seu som perfeito e fecho os olhos por um momento. Um suspiro depois dos alto-falantes Harman Kardon, Jerry Cantrell começa a tocar sua guitarra lenta e initerruptamente. Como algo que cai sem nunca tocar o chão.

Ao meu lado, Luca afunda no assento.

— O que diabos está ouvindo...? Está muito mal, Ni.

— Sim, realmente. Vamos colocar Red Hot.

Silêncio.

É a voz de Lavínia. Ela ainda está conosco.

Não há nada pior do que uma mulher que, de repente, com tanto frio, quer romance. E Red Hot Chili Peppers!

É como um arroto. Romance é pior do que uma mulher com uma bolsa Chanel falsa. Daqueles modelos horríveis. Quando você cai na armadilha do romance, você está fodido. Especialmente por aqui. E especialmente se você tentasse fazer com que todos acreditassem que você era da realeza ou algo assim, já que passou a noite toda bebendo com o dedo mindinho levantado. A partir de agora, você só pode gostar de pessoas como o Fra. E considerando todos os benefícios, não é nada ruim.

— Realmente, Ni, Lavínia está certa: você está viciado nessas coisas. É uma merda de música. Coloque Red Hot — responde Fra. Acho que há algo acontecendo entre Francesco e Lavínia.

Imagino um casamento com um bolo de oito andares, mil convidados vestidos de azul e rosa e um cardápio de doze pratos, a lua de mel em Zanzibar e muitas crianças. Omar, Erik, Marikah ou Debborah, Chantal. Seriam uma boa família, poderiam ficar bem juntos. Eu acho, de verdade, sem sarcasmo.

Eu sorrio. Acelerando.

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O céu começa a clarear.

A estrada em direção à Roma coloca o amanhecer à nossa frente. Você não pode mentir para o amanhecer. Por um momento, olho no espelho retrovisor e me vejo: foda-se, estou morto de cansaço, olhe para meus olhos. E ainda tenho de levar todo mundo para casa, mas é a última vez que faço isso, juro. Não acredito que vou sentir falta.

— De qualquer forma, eu não gosto — responde o Conde, surpreso. — Na verdade, esse cara tem a voz baixa... Resumindo, é ruim. Mas ele canta e não tem vergonha. Não é fácil dizer ao mundo quão ruim você é por dentro. O Conde é assim, sempre direto. Mas certeiro. Como um boxeador que bate enquanto você ainda está com a guarda alta.

Por um momento, ninguém diz nada. Nós ouvimos a música. As palavras.

My gift of self is raped. My privacy is raked. And yet I find, and yet I find, repeating in my head If I can’t be my own, I’d feel better dead.*

— Mas o que isso quer dizer? — pergunta Lavínia.

— Que ele preferiria estar morto — traduz Luca, que, além de mim, é o único que entende algo em inglês.

— Sim, mas se ele tiver que morrer, deixe-o. Tanto faz. Eu não posso passar a noite inteira tentando e me foder, ah, desculpe... — aponta Fra. Lavínia ri, Luca também.

Conde, por outro lado, permanece em silêncio. Por um momento, sinto o constrangimento de quem entende e se identifica.

Na besteira geral daquele momento, tudo o que posso fazer é olhar o rosto do Conde pelo espelho retrovisor, enquanto ele está perdido entre seus demônios, olhando pela janela.

Eu me sinto próximo a ele, e sua maneira estranha de se comunicar com o mundo sempre me passa tanta solidão.

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* Meu amor-próprio é violado. Minha privacidade é revirada. E ainda encontro, ainda encontro. Repetindo em minha mente. Se não posso ser eu mesmo. Eu me sentiria melhor estando morto.

Um brilho. Um momento.

Talvez um feixe de luz através do vidro.

Pareço melhor.

Dois faróis amarelos, lâmpadas de halogênio, coisas dos anos 90, digo a mim mesmo com insistência e arrogância para sair do meu rabo.

Da pista ao lado de Ale, em seu carro, ele sorri para mim e gesticula para que eu olhe para trás: uma caixa de metal com formas desajeitadas e o capô deformado está vindo como uma bala.

Não.

Ninguém faz isso com meu bebê.

Especialmente se forem faróis dos anos 90 e se eu estiver ao volante. Em um milésimo de segundo, passo duas marchas e a potência do meu BMW deixa as árvores para trás, acorda de seu sono tranquilo e, com um golpe, nos lança para a frente como uma bala de canhão. A estrada se deforma e se estreita, o som da guitarra de Cantrell é dominado pelo som do mais poderoso cilindro disponível no mercado, um rosnado alto e agudo, o silêncio de todos.

Em alguns instantes, Ale e seu carro desaparecem atrás de mim.

Atrás do horizonte.

Mas esses malditos faróis não.

Eles insistem. Piscam. Olho para o conta giro: 8300 rotações por minuto, hora de trocar. Engreno a quinta. 200. A sexta, 220... 230... 240... Mas nada, eles ficam lá, colados na minha traseira. Tenho cento e oitenta quilos a mais, somos em cinco, um quilômetro à minha frente, o trecho em que o Aurelia desce e depois sobe uma longa curva para a esquerda, mas que fecha na saída. A 240, com cinco no carro, vai ser difícil, mas ao mesmo tempo em que penso, o tempo para.

Apenas o silêncio ao meu redor.

Um quadrado amarelo passa por mim como o Ritmo der Cipolla no Vacanze di Natale. Uma silhueta estranha a bordo. Não consigo me concentrar, mas mesmo estando próximo dos 250, são momentos que fluem com uma velocidade diferente para mim, uma clareza que nunca encontro em outro lugar. Um movimento indistinguível do braço: aquele tipo que me diz que ele engrenou a sexta marcha.

Sim, ele ainda estava na quinta.

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O som ganha vida novamente, acrescenta ao meu, ouço apenas uma respiração forte sair daquela caixa hedionda que prossegue incansavelmente em direção ao amanhecer laranja: estamos em Roma, e aqui é assim, você passa por um Uno Turbo de 1992 a 240 que ainda não engrenou a sexta marcha, e, nesse momento, eu espero encontrar Totti no volante.

E então acordo.

Entendo que tudo foi um pesadelo.

Mas não foi.

No trecho da descida, ele vai mais cem metros e se mantém durante a subida, mas é forçado a levantar o pé. De repente, me encontro atrás dele: há uma grande curva, e apostamos tudo aqui. Não tiro o pé do acelerador, espero que os pneus estejam quentes, e procuro a trajetória perfeita, rezando para não ficar vivo no caso de perder o controle, porque sei que nenhum de nós permaneceria intacto nesse trecho da rua e a essa velocidade.

Uma voz rouca de medo sussurra por trás.

— Ni, pa... — Mas o medo às vezes é muito forte e faz calar até os mais famosos faladores.

Nenhuma distração para mim, apenas clareza, lucidez, loucura.

A adrenalina que bombeia nas veias apagou todos os vestígios de qualquer outra substância que não seja açúcar para o meu cérebro e sangue para os meus músculos, todos com a intenção de me manter firmemente preso ao assento. A informação, para o meu sistema nervoso, fria, cínica, meticulosa, flui livre e precisa. Acredito que seja a descendência alemã da minha mãe, a atitude de controle que se torna uma elegância gelada, supremacia na medida: eu uso dessa maneira para romper a barreira do som a bordo do meu carro.

O Uno amarelo é forçado a frear novamente, o chassi do carro é feito de arame e estanho — também é possível dobrá-lo com as mãos —, e isso é uma vantagem para mim. A 270, você percorre cerca de cem metros por segundo, uma bala calibre 45 viaja nessa mesma velocidade. Só para você entender...

Em um instante, estou atrás dele novamente. Toco no freio com o pé esquerdo, sem soltar o acelerador com o direito, apenas para abaixar a extremidade dianteira o suficiente para esmagar os pneus no chão e ter a aderência necessária para desviar o máximo possível minha trajetória o mais rápido possível, sem perder a rotação do motor. Então, pegamos o ponto

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de corte perfeito, presos um ao outro, e saímos da mesma maneira, usando cada milímetro da pista para recolocar os pneus retos o mais rápido possível e deixar a emoção correr.

Agora é entre nós, e não há como voltar.

Por quarenta segundos, que me parecem quarenta anos, ou seja, o dobro da minha vida, persigo o ponto amarelo bombardeado contra o sol. Por breves momentos, gloriosos, no trecho das curvas que ficam para trás, sem nunca passar por ele.

O cara que dirige é bom, muito bom. O que ele fez com o motor do carro é um trabalho refinado que eu quero olhar de perto, tocar.

Nós falamos a mesma língua, vejo como ele corta as curvas.

Mas eu não o vejo.

De repente, freia muito forte, sem aviso, sem sinalização, tão forte, que preciso pensar em como reduzir dos 250, e, asseguro, é como estar em um acidente de trem. O carro produz uma espécie de vazio interno, outra dimensão, que envolve tudo dentro de si. As forças liberadas são imensas, sinto o chassi girando, e o nariz do carro parece tocar o chão, os freios picam os discos até se deformarem, produzindo uma vibração muito lenta, mas, no final, felizmente, consigo evitá-la.

Paro seiscentos metros à frente. Mais três carros disparam atrás do Uno amarelo. Depois vem o de Ale. Então silêncio.

Ouço Carlo vomitar, o Conde.

Nesse momento, percebo a loucura em que arrastei meus amigos. Eles têm seus rostos brancos, muito pálidos. Eu tenho de sair, o cheiro é insuportável, e a adrenalina é demais para domar. Eu gostaria de segui-lo a pé se pudesse, mas não posso deixar de parabenizá-lo depois que me ultrapassou, de maneira brutal e animalesca, naquele pedaço da estrada que eu conheço de cor, em direção à rampa que leva a Fiumicino.

E essa não é a nossa área, penso comigo mesmo.

Para os não iniciados, Roma é uma cidade dividida em duas.

A fronteira entre o Reino do Norte e o Sul é obscurecida na geografia, mas indelével na alma de seus habitantes e naqueles “reles mortais”, acrescentaria o nativo do Sul.

O que parece ser uma blasfêmia livre, tomada no sentido literal, é uma verdade simples: Ale afirma que Remo era do Norte de Roma, e Rômulo, do Sul, por exemplo.

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O povo do Sul é geralmente mais sincero, pobre e descuidado com sua direção. O do Norte é mais sofisticado — ou é o que pensam os nativos —, rico e indiferente aos pobres e às distâncias seguras.

No entanto, permanece um grande mistério: se o romano de origem sulista pode ser chamado de “o forçado do Sul”, como se chama o do Norte de Roma?

“Covarde” é restritivo e adequado para alguns, “piada” é impreciso e enganoso, “babaca” é infantil. Então? “Imbecil de merda”. Pronto. Se você nasceu por aqui, deve ser um idiota. É uma característica cromossômica que é passada de pai para filho, de idiota para idiota, e se pensa dessa maneira sobre o Sul de Roma, desde que saiba o que significa “característica cromossômica”. Mas uma coisa é certa: se no Sul de Roma havia naquele momento um “imbecil de merda”, bem, a julgar pela forma como meus amigos olhavam para mim, certamente eu seria ele.

Francesco quebra o silêncio.

— Você está com raiva, Ni. Você está louco, não está no controle da sua cabeça mais.

O cheiro dos freios, o Conde e o medo se misturam com o dia. E com todos os seus tormentos.

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Um inseto.

Grande, a julgar pelo barulho que faz. Não é apenas um zumbido. Há algo vibrando. Felizmente, longe, mas sem paz.

Eu tento voltar a dormir. Tento com todas as minhas forças, mas o barulho aumenta.

É um helicóptero, e está do lado de fora da minha janela. Sinto claramente as janelas tremendo, e, tenho certeza, em breve elas serão quebradas por uma equipe de combate que invadirá meu quarto sem problema nenhum, devastando para sempre minha juventude.

Estou aqui? O que eles querem de mim? Eles interceptaram minhas conversas? Eles sabem que eu excedi os limites de velocidade com muita frequência e vontade? Eles sabem que eu coloquei em risco a vida dos meus amigos?

Sim, deve ser isso. E eu devo fugir.

A bordo do meu bebê, eu os deixaria em cinco minutos. Aqui está o plano: corro para o corredor, pego as chaves e desço as escadas. Sem elevador. O elevador é para os fracos dos joelhos.

Mas, enquanto estudo em uma fuga sensacional, o zumbido se torna um rugido. Ele se aproxima, está ao meu lado, está dentro do meu quarto. Não pode ser um helicóptero. É algo muito maior. Um tsunami?

Mas estamos em Prati, não há mar aqui. Ou é o que me parece...

Tudo começa a tremer, os tímpanos perfurados por vibrações ultrassônicas.

Compreendo.

Eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.

Eu esperava pelo menos me formar para dar essa alegria ao meu avô. Mas, não. Isso veio primeiro.

O dia do julgamento.

Eu tenho de sair daqui imediatamente. Eu tenho de calçar meus sapatos e sair daqui.

G E N E R A L G U E N

Ou, pelo menos, chegar à porta da frente.

Ou, pelo menos, dar o fora do meu quarto.

Ou, pelo menos, fora da cama.

Eu avalio as hipóteses.

Eu me esforço.

Eu falho.

Desisto.

Basicamente, existem coisas mais importantes na minha vida.

Afinal, mais dez minutos de sono nunca mataram ninguém, eu acho.

— Acorde, Nico — diz uma voz do submundo. — São duas e meia.

Abro os olhos e vejo minha mãe. Zumbindo como um zangão, tem uma coisa branca na boca. Ela a afasta e me cumprimenta.

— Bom dia, amor. — Eu me concentro na coisa branca. É uma escova de dentes. — Elétrica — ela ressalta. — Remove 100% mais placas que as escovas de dente comuns.

Ela sorri para mim, e seus dentes estão realmente limpos como espelhos. Mas é uma coisa de família, somos saudáveis. Eu ainda não, tecnicamente. Mas é apenas uma questão de tempo.

— Desligue, por favor — eu imploro. Isso me faz feliz.

O mundo não vai acabar essa manhã. E é tudo graças a mim. Eu sorrio, agradeço a Deus pela paz que segue ao zumbido da escova de dentes elétrica e me levanto.

Nenhum helicóptero fora da minha janela. Apenas um azul perfeito: o céu de Roma. Eu inspiro profundamente.

— O que está pensando? — pergunta minha mãe.

— Você não vai querer saber — eu garanto.

Ela olha para mim por um momento e sai. Isso sempre funciona.

Enquanto percorro o trajeto do meu quarto até a cozinha, lembro que tenho uma prova para me preparar, mas não há neurônios disponíveis no momento.

Encontro meu pai sentado à mesa. Café quente e jornal.

— Oi, papai — eu falo timidamente.

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Eu sei que é domingo. Eu entendo isso pelo clima que está no ar. No domingo, meu pai não trabalha e, portanto, está sempre irritado. Estar com a família não é necessário para ele; de fato, seria melhor para ele abolir qualquer forma de atividade coletiva que não seja algo relacionado e útil para seu trabalho e para a expressão contínua de seu ego enorme.

— Eu vou sair em meia hora. Você vem comigo — diz ele. Ele ainda não olhou para mim, como sempre acontece no domingo. Eu olho para ele, perplexo.

— Golfe com os funcionários do escritório — continua, sem me olhar. Só agora reparo as roupas do típico advogado do Norte de Roma, pronto para o campo, junto com a discreta bolsa cheia de tacos e acessórios próprios para o jogo.

Eu não respondo. Mas ele não repara. Eu ouço o tique-taque do relógio de pêndulo na sala marcando meus pensamentos. E meus nervos.

Mais cedo ou mais tarde, pegarei um daqueles tacos de golfe e quebrarei a linda mesa de cristal que a tia Tarsila nos deu, assim como o relógio, assim talvez eu tenha alguns segundos de sua atenção.

Mas hoje estou feliz e adio essa decisão.

— Haverá pessoas que você conhece, pessoas com quem é importante ter um bom e contínuo relacionamento. Os contatos são tudo nessa área. Apresse-se — diz meu velho.

E eu pensei que, em vez disso, nessa profissão, era importante defender os fracos, buscar a verdade, exercer a justiça.

— Eu tenho que estudar, tem a primeira prova do período, pai.

Eu não quero ir.

Sorrisos falsos, pessoas que eu odeio, que me odeiam, que nos odeiam. Fodam-se eles, nunca vão me pegar! E especialmente não no domingo.

— Não estou lhe perguntando, estou lhe informando. Estude hoje à noite.

Eu acho que meu pai assiste muita televisão: ele lê enquanto minha mãe assiste a filmes antigos e repetidos, e ele acaba falando algumas falas dos personagens, como nesse caso.

— Essa frase é do filme Snatch, de Guy Ritchie, pai. O que a mãe vê a cada quatro dias, aquele em que Brad Pitt é um cigano.

— Você é que vai virar um cigano se não começar a trabalhar direito. Agora vá se arrumar.

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Olho por um momento. O rosto arruinado pelo sol do golfe e por muitas preocupações, dois olhos brilhantes, olhos de alguém que, além de um imbecil, também é uma velha raposa à espreita.

Ele olha para mim, me julgando.

Eu não sou adequado.

Nunca. Nunca chego aos seus pés. Ele não é feliz comigo, exceto quando fala sobre isso com os outros, mas sempre em relação a si mesmo.

Meu pai é assim. Um homem que não pode amar. Um cara durão. Puro idiota. Talvez a teoria do Norte de Roma tenha suas razões, eu acho.

— Tenho muitas coisas para estudar, acho que não vou conseguir.

— São duas e meia, Niccolò. Você poderia ter acordado mais cedo. Na sua idade, eu sustentava quatro pessoas. Dormir é um luxo que você deve poder pagar.

Estou sobrecarregado com sono e quem mais sabe com o que e, foda-se, eu te odeio e se eu for com você, há uma séria possibilidade de que seus estimados colegas nunca mais desejem vê-lo.

— Estou pedindo para você dar uma volta no gramado, dar um par de sorrisos e beber um Prosecco. Será que você pode fazer isso?

— Sim, mas não é só isso...

Meu pai pega a colher, enche com açúcar três vezes e três vezes ele a esvazia na xícara que está usando.

— Você sabe qual é o seu problema? — ele ataca, misturando o café e olhando, desinteressado.

Não responda, Nico. É uma pergunta retórica. Você está discutindo com seu pai há anos, deveria ter aprendido alguma coisa. Fique quieto. Cale a boca. Agora vem a parte de “sempre ter tudo ao seu alcance”.

— Você sempre teve tudo ao seu alcance, tudo de mão beijada, meu caro Niccolò.

Aí está!

— Sem esforço, sem luta para ter tudo isso. — E para ser ainda mais claro, desenha um círculo no ar com a colher, falando com aquele maldito tom de professor.

Gostaria de lembrar a meu pai que não sou seu aluno, que não tenho uma prova dele para fazer em breve, que ele não precisa testar meus conhecimentos, mas sim que sou seu filho e ele também pode simplesmente me dar um abraço e me dizer que está tudo bem, que se eu tiver medo, é normal, e que talvez ele tenha medo às vezes, e que o medo pode ser um

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grande incentivador, se bem canalizado. Mas ele não conhece a empatia, exceto no sentido literal.

É como se anos de causas, batalhas, lutas e encontros com a mais recente discussão tivessem transformado nosso relacionamento no que ele ensina: um manual perfeito de direito.

Totalmente sem afeto.

Afinal, sempre permanecemos os mesmos, e meu pai é assim, em seu perfeccionismo, ele é intolerante a erros. Costumo pensar que sou isso para ele: um erro, algo para consertar no golfe e no Prosecco. Um sorriso amargo aparece no meu rosto. Dessa vez ele me vê.

— Do que você está sorrindo? Hein? Você acha que vai se livrar disso porque é patético? As pessoas o julgam em dois segundos: ou você é relevante ou é inútil. Vivemos em um mundo que não tem tempo para suas bobagens, Niccolò, você só tem a coragem que nasceu com você...

Uma confusão de frases retóricas. Nada que preveja minha presença, minha resposta, minha opinião. Nem minha própria existência.

Gostaria de ficar, eu juro. Gostaria de estar orgulhoso de sua humilde origem, o trabalho e os enormes sacrifícios que fez para chegar onde chegou, a generosidade com que ele colocou à minha disposição uma brilhante carreira na alta-sociedade romana e em seu escritório, a solidez do império que construiu com tanto afinco para me dar um futuro, em um tempo no qual as pessoas com vinte e um anos não sabem onde vão colocar suas cabeças.

Mas eu não posso.

Não é o que, mas o como, é uma questão de estilo. E ele nunca teve. Eu só queria que você pudesse me dizer que me ama, mas sei que não.

E sinto muita raiva por isso. Eu me odeio porque eu o amo. Há um ponto em que não há retorno nesse tipo de conversa, e sei que não devo ultrapassá-lo.

Mas não posso, é mais forte do que a minha força de vontade.

— Você já parou para pensar de que eu não dou a mínima para tudo isso?!

Meu pai mexe o café. Desatento.

— Vá se arrumar. Está tarde.

— Querido, você acordou? — pergunta minha mãe, saindo do corredor com uma roupa de golfe.

A voz calma, o ritmo medido, o olhar determinado do general que deve manter suas tropas unidas. Ela me silencia com um olhar e se dedica ao outro soldado insubordinado.

21

— Vou com você, Filippo — diz ela. — Sou muito mais simpática do que vocês dois juntos. Até porque há Augusto e sua esposa, não os vejo há um tempo, gostaria de cumprimentá-los.

— Guen, eu não acho...

— Acha, sim — interrompeu Guendalina.

Ele pega a xícara nas mãos e sai.

— Você vai estudar — ela ordena, virando as costas para mim. — E hoje à noite vamos revisar juntos.

É a maneira dela de dizer: “vou te fazer perguntas.” Sem brincadeiras. Minha mãe nunca brinca sobre isso.

Eu me tranco no quarto. A mesa com esse pano verde e muitos objetos me faz pensar no golfe e no meu pai. Fico chateado comigo mesmo porque tenho de tentar ser superior, mas como você pode ser superior sempre sendo deixado de lado e com suas necessidades esquecidas? São muitas questões. Estou com dor de cabeça.

Abro o livro de filosofia do direito. Eu leio as palavras. Cada uma delas é muito clara, é o conceito geral que me ilude completamente. Continuo lendo com o ritmo constante e implacável de um maratonista na última parte do percurso, não vou parar até terminar esse capítulo.

Infelizmente, porém, no meio da página, o telefone toca.

Não, não. Não posso parar agora!

Até minha mãe me possibilitaria um momento para falar com vovô William. E então conversar com ele é a melhor coisa que posso fazer agora. E sempre.

— O que você está fazendo em casa no domingo à tarde? — ele pergunta. Sinto o cheiro do sabão de barbear de eucalipto aqui. E me acalmo um pouco.

— Estudando.

— Garoto, você pode mentir para seus pais, não para mim.

— Então vamos apenas dizer que eu estou tentando estudar.

— Agora, sim. Mas está conseguindo? — Ele ri. — Sua voz está cansada, está tudo bem?

— Sim. Silêncio.

— Não consigo me concentrar — admito.

22 GIULIO BERRUTI

— O que acontece?

— Adivinha...

— Seu pai. Silêncio.

Eu amo os silêncios do meu avô. Eles significam muitas coisas sem que ele precise dizer uma única palavra.

— Por que ele não me ouve? Por que nunca olha para mim? Ele está sempre nervoso, parece que sou filho de outra pessoa. Ele só está interessado no trabalho, me mandando estudar e ir a festas importantes com ele. Eu odeio aquelas festas de merda, vovô, cheias de pompa, elas são mesmo mais importantes que eu?

— Você sabe que não é assim. Às vezes, o carinho não é o que estamos acostumados a receber: seu pai faz sacrifícios por você, faz com que não te falte nada... Você tem que cumprir seus deveres como filho, e ele faz o melhor possível para você.

— Quero um pai, vovô, não um general que me dê ordens. Já tenho você para isso.

— Sua mãe que é assim. Ela que é o general da casa, você sabe — meu avô orgulhosamente fala.

— Exatamente, ela também faz isso. Eu não a suporto, quando estão juntos, ela se transforma em outra pessoa, eu juro que não é ela: ela diz que está tudo bem sempre, que eu tenho que entender meu pai, que o pai dele morreu quando era jovem... Eu parei de tentar, meu pai parece competir comigo. Juro para você, vovô, não aguento mais, isso me machuca, me machuca muito.

— Sua mãe defende suas tropas, como uma boa general, sabe que o inimigo está lá fora. E então ela trabalha muito também, você tem que entendê-la, ela faz o melhor que pode. Ser pai ou mãe não é fácil.

— Eu sempre devo entender todo mundo, vô.

— Sim, porque você é inteligente.

Tão abençoados são os tolos, eu acho. Mas eu não digo isso, eu também o irritaria.

Meu avô é um homem com mais de dois metros, cem quilos e todas as minhas reclamações.

Ele foi general do primeiro regimento dos “granadeiros da Sardenha”, o mais antigo corpo militar da Itália, e durante quarenta e três anos ele sempre acordava às seis e meia da manhã.

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Ele até ordenou que seu funeral fosse celebrado às oito horas, pontualmente, horário em que ele sempre foi trabalhar.

— Sabe, as pipas só voam com o vento contrário a elas — repete meu avô suavemente. — Você só perdeu uma batalha com seu pai, não a guerra.

Você fará melhor da próxima vez — ele me garante. Chega de “próximas vezes”. Eu preciso de um tempo.

— Eu quero fazer uma viagem, sair um pouco daqui.

— Termine suas provas, faça seus trabalhos e depois... Por que, não?

Me parece uma boa ideia. Para onde gostaria de ir?

— Eu não sei.

— Por experiência pessoal, não recomendo a Rússia. — Eu sorrio. Percebo que a raiva se foi. Ele percebe isso também. — Estou indo agora, tenho que levar sua avó para fazer compras. — Ele se despede. Volto ao meu livro.

Isso me aliviou dos meus pensamentos por um tempo.

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BERRUTI
GIULIO

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