Nero, Os Mafiosos - Primeiro Capítulo

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nero OS MAFIOSOS : LIVRO 1 A U T O R A B E S T- S E L L E R D O U S A T O D AY

SARAH BRIANNE Tradução: Débora Isidoro

1ª edição – 2021 Rio de Janeiro


© 2014. NERO BY SARAH BRIANNE © 2021. ALLBOOK EDITORA

Direção Editorial Beatriz Soares

Assistente Editorial

Ana Carolina Consolini

Tradução

Débora Isidoro

Preparação e Revisão

Clara Taveira e Raphael Pelosi Pellegrini

Capa original

Young Ink Press

Adaptação de Capa e Diagramação

Cristiane Saavedra | Saavedra Edições

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439 B86n

Brianne, Sarah

1.ed. Nero / Sarah Brianne; tradução Débora Isidoro. – Rio de Janeiro: AllBook, 2021. 304 p.; 16 x 23 cm. Tradução de: Nero ISBN: 978-65-86624-41-0 1. Romance americano. I. Isidoro, Débora. II. Título. III. Série. CDD 813 CDU: 82-31(73)

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2021 PRODUZIDO NO BRASIL. CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM


´ 1 CAPITULO desistentes do colégio

ELLE ESTAVA NA AULA DE ESPANHOL, OLHANDO PARA O RELÓGIO.

Podia jurar que a temperatura na sala de aula beirava os quarenta graus. A três minutos do almoço, sentia muita saudade dos dias de folga no Natal. Durante todo esse tempo, não havia tido esse enjoo horrível. Não fazia diferença quantas vezes a sensação dominava seu corpo, nunca se acostumava com ela. Era um sentimento de desgraça iminente. Odiava a escola. Não, desprezava com todas suas forças. Só sobrevivia graças a única amiga que tinha no mundo, Chloe Masters. Chloe precisava dela. Sim, Elle era vítima de bullying, mas Chloe era torturada. Elle faria qualquer coisa para garantir sua segurança. Ela merecia proteção, especialmente depois do que tinha acontecido. Todo dinheiro que havia economizado trabalhando nas férias de Natal foi para pagar o colégio. Caso contrário, seria expulsa, e isso significaria não poder proteger Chloe. Felizmente, Elle tinha uma bolsa quase integral por causa das notas, mas precisava pagar o que faltava, e para isso trabalhava na lanchonete quase todas as noites. Dois minutos para o almoço. Pensou que o tempo passava mais devagar por estar encarando o relógio. Elle temia o almoço. Os alunos não atormentavam as duas desde o último dia de aula antes das férias, o que significava que extravasariam toda a agressividade reprimida nelas. Que Deus as ajudasse. 5


Um minuto para o almoço. Elle olhou para Chloe, já que o relógio não servia para mais nada. Sentiu o coração se partir. A amiga estava de cabeça baixa, é claro, torcendo as mãos sobre o colo. Era isso que ela fazia sempre que estava nervosa. Imaginou o rosto doce atrás da cortina de cabelos, um rosto marcado por cicatrizes profundas. Uma se estendia desde a testa, acima de uma sobrancelha, até a parte mais funda da bochecha; o outro corte começava uns dois centímetros acima dos lábios e terminava uns dois centímetros abaixo deles. Os dois do lado direito do rosto. Elle arrepiou-se ao lembrar a primeira vez que a viu depois das novas cicatrizes e pulou ao ouvir o sinal. Ela agarrou a mochila e ficou em pé. Você consegue. Mas a sensação ruim era porque, na verdade, não acreditava que seria capaz. Ela se dirigiu à porta e sentiu Chloe logo atrás. Era ali que sempre estava, bem atrás de Elle, e era assim há três anos e meio. Lentamente, havia se aproximado um centímetro todo dia, até que, agora, andava praticamente colada nela. Elas haviam aprendido que andar lado a lado era oferecer um alvo maior. Elle entrou na fila no corredor e seguiu para a cantina com passos lentos. Havia criado um sistema para enfrentar o corredor nos intervalos: ia pelo caminho mais curto para a próxima aula, a menos que houvesse muita gente nele. Muita gente significava o grupo que as atormentava, como Cassandra, a abelha-rainha do colégio. Sabia que era melhor não demorar muito fora da sala, porque estariam mais protegidos lá dentro; os professores costumavam permanecer em suas salas durante os intervalos, esperando a próxima turma. Por último, nunca olhava ninguém nos olhos. Mas também não andava de cabeça baixa; seria uma má ideia e, de qualquer maneira, ela não era esse tipo de pessoa. Mas esse era o único horário em que estavam seguras nos corredores. A cantina oferecia perigos maiores para ela e Chloe. Elle chegou ao refeitório e estudou as opções. Ali havia duas filas. A fila um mudava todos os dias caso fosse pizza, peru ou bolo de carne; o que fosse decidido quando o cardápio era organizado no início de cada mês. A linha dois era sempre igual: hambúrguer de frango ou de carne e batata frita todos os dias. No entanto, as duas não tinham essas opções, só escolhiam a fila onde houvesse menos gente assustadora. E isso significava que, normalmente, acabavam na fila para a comida que não era tão boa.

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Aproximou-se do fim da fila mais curta. Todos os outros alunos achavam a outra opção melhor. Olhou para lá e teve de concordar com eles. Muito melhor, pensou. Ela viu duas pessoas furarem a fila. Mas ela e Chloe não fizeram nada, não reclamaram. Era melhor não chamar atenção. — Não me ligou nem mandou mensagem nas férias. Não sentiu saudade de mim? — Cassandra enlaçou o pescoço de Nero com os braços. Nero a segurou pela cintura. — Desculpa, baby. Estive ocupado. Nero Caruso. Ele era a definição de moreno, alto e bonito. Era mais musculoso que quase todos os outros veteranos, mas permanecia esguio. Chamava esse tipo físico de “rasgado”. Dava para ver que ele havia cortado o cabelo nas férias. Era estranho, porque ele sempre usou o cabelo mais comprido e penteado para trás. Agora que estava bem mais curto, o cabelo tinha movimento. Ela gostava mais desse jeito. — Isso quer dizer que vai estar ocupado demais para mim hoje à noite? Elle notou que Cassandra estufava o peito para levantar os seios. No instante seguinte, Nero percebeu que Elle o encarava. Sustentou o olhar com aqueles olhos verdes, depois se inclinou para cochichar alguma coisa no ouvido de Cassandra. — Vão para um quarto! — alguém gritou na fila. Cassandra olhou para trás, viu que eles estavam se encarando e olhou para Elle com ar ameaçador. Foi o que a ajudou a interromper o contato visual. Sentia-se constrangida por ter sido pega olhando para eles. Tinha se treinado para nunca encarar nenhum aluno, especialmente durante demonstrações públicas de afeto. Caramba, qual o problema comigo hoje? Era só o que faltava, irritar Cassandra. Tinha esgotado sua cota disso no primeiro ano, quando um menino de quem Cassandra devia gostar elogiou o cabelo de Elle. Cassandra garantiu que ela virasse o alvo do colégio, e o menino nunca mais se aproximou dela desde aquele dia. A fila andou, e elas conseguiram pegar uma bandeja. Lasanha, vagem e purê de maçãs. Honestamente, poderia ser pior. Ela pegou uma água da geladeira e parou na frente da funcionária para fornecer seu número: — 1089.

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— Só pode ser assim na primeira semana, Elle, depois você precisa depositar dinheiro na sua conta ou trazer dinheiro todo dia. — A mulher falou mais alto do que Elle achava necessário. — Não vamos repetir tudo isso este ano. Ela duvidou que a sensação de enjoo pudesse ficar mais forte. — Certo. Deu um passo adiante para Chloe poder dar seu número. — 1072. Descobriu que o enjoo podia aumentar quando viu a cara de medo de Chloe, que sabia que agora teriam de ir para a mesa. Começou a caminhar para o lugar de sempre. Havia várias mesas espalhadas pela cantina. Os alunos mais estudiosos ocupavam as que ficavam mais perto das filas; não eram maltratados, só ignorados. As mesas no fundo da cantina eram usadas pela turma dos populares. Elle e Chloe comiam na mesma mesa há três anos e meio — a que ficava mais perto da porta. Era a mesa que ficava entre os dois lados, mas mais perto dos estudiosos. Só uma mesa cheia de nerds separava as duas dos populares. Os robôs. Elle sentava de costas para a porta. Gostava de ter visão total da cantina. Chloe sentava na frente dela, queria ficar de costas para o resto do mundo. — Você dormiu essa noite? — perguntou, solidária. Sabia que Chloe nunca dormia muito por causa dos pesadelos, mas hoje ela parecia não ter dormido nem uma hora na noite passada. Estava pálida como um fantasma. O cabelo preto agora estava reto, uma tentativa de esconder o lado direito do rosto. Dava para ver as olheiras sob os olhos duros, cinzentos. — Não muito. Acho que não queria voltar para a escola. — Chloe for‑ çou um sorriso. Elle olhou para ela. — Não se preocupe, Chloe. Este é nosso último semestre do ensino médio. Depois, nunca mais teremos que ver a cara dos robôs. Além do mais, quarenta e cinco minutos podem passar mais depressa do que a gente imagina — disse, tentando tratar a situação com leveza. — Só tivemos três semanas de férias, Elle, não três anos. — Ei, muita coisa pode acontecer em três semanas. Os robôs podem ter pedido um coração de presente de Natal. — As duas riram disso. — Se fosse assim, todo meu tempo no ensino médio foi um longo pesadelo, e eu vou acordar... — Chloe fechou os olhos e os abriu um segundo depois.

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— Agora. Bem, parece que ninguém pediu ajuda à Glinda, a Bruxa Boa do Sul. — Elle riu alto, e Chloe riu com ela. Ficava feliz quando Chloe relaxava. As duas começaram a comer, enquanto Elle se mantinha atenta às mesas dos robôs. Aquele lado era bem diversificado. Havia as mesas dos atletas, distribuídas em uma mesa inteira para o time de futebol americano e o resto, que era uma mistura de beisebol, softball, basquete e futebol. Além disso, havia só mais algumas poucas mesas. A que ela mais odiava era a mesa fashionista, onde só havia roupas de grife e líderes de torcida. Cassandra estava na ponta dessa mesa, é claro. A mesa ao lado era a dos podres de rico, e é sério quando falo podres. Era só de meninos, e o irmão gêmeo de Cassandra, Sebastian, se sentava na ponta da mesa. Elle tremia de medo não só quando o via, mas quando ouvia o nome dele. E resta só a última mesa, que Elle realmente não conseguia descrever. Eram sempre os mesmos três garotos: Nero, que era basicamente o rei da Legacy, e mais dois, sua equipe, como a escola gostava de chamá-los. O grandão era Amo, e o menor era Vincent; ambos do último ano. Mas Elle notou que havia um garoto novo sentado com eles. “Deve ser calouro”. Elle se perguntou quem era. Tudo que conseguia ver era a nuca de cabelo loiro-escuro. De repente, ela sentiu que alguém tinha entrado em seu espaço pessoal. Foi então que percebeu que havia cometido um enorme erro: tinha baixado a guarda. — Passei o dia todo te procurando. Fiz uma sujeirinha, preciso da garçonete para limpar por mim. — Cassandra pegou o prato de Elle e o jogou da mesa. Em seguida, sua voz aguda gritou: — Vai, limpa isso aí, garçonete. Toda a cantina ficou em silêncio. A palavra “garçonete” fez Elle arrepiar, apesar de ser quase seu nome de batismo para eles. Elle pensou em suas duas opções. A primeira era ignorar a ordem ou fingir que não a tinha escutado, e a segunda era dar uma resposta engraçadinha ou dizer umas poucas palavras curtas. Ela escolheu a primeira e olhou para Chloe, mas se arrependeu ao ver sua expressão de pânico. — Vadia, eu sei que você ouviu. — Cassandra pegou o prato de Chloe e o segurou sobre a cabeça dela. Chloe tentou se afastar depressa, mas duas falsas loiras da turma de Cassandra se posicionaram perto dela, uma de cada lado, forçando-a a continuar sentada. — Limpa essa sujeira como uma garçonete deve fazer, ou a bizarrinha vai ter a própria sujeira para limpar.

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“Bizarra” era a única outra palavra que fazia sua pele arrepiar mais do que garçonete. Elle sentiu um pano molhado bater em seu rosto, cortesia de Sebastian. Olhou para Chloe e viu que ela torcia as mãos. Não queria isso para ela. Que beleza, pensando bem, não podia ser pior. Ótimo dia para servirem as três comidas mais grudentas. Elle engoliu o orgulho e pegou o pano de limpeza. E engoliu o orgulho de verdade quando se abaixou para limpar o chão. Quando terminou de passar vergonha, ela se aproximou de Chloe. — Vem, Chloe. Vamos. — E estendeu a mão. Sabia que Chloe nunca a aceitaria, mas entenderia a mensagem para saírem dali. — Com licença, faltou um pedaço. — Cassandra se preparava para virar o prato sobre a cabeça de Chloe, e Elle reagiu da única maneira possível. Empurrou o prato para o outro lado, para cima de Cassandra. A cantina foi invadida por emoções mistas. Alguns não conseguiram segurar o riso, enquanto outros ficaram tão chocados, que nem reagiram. Elle sentiu um enjoo maior do que havia sentido em toda sua vida. Estava quase vomitando o pouco que tinha comido, antes de seu almoço ser jogado no chão. — Vadia desgraçada! — A voz de Cassandra era mais aguda do que qualquer pessoa acreditava ser possível. — Vou acabar com você. Elle sabia que agora restava apenas uma opção. Correr. Ela agarrou a parte de trás da blusa de Chloe. Mesmo em choque, Chloe não atrasou a fuga. Elle correu para a porta; era por isso que sentavam na mesa mais próxima da saída. Antes de passar por ela, porém, Elle viu o sr. Evans parado na soleira. O sr. Evans era seu professor de inglês, o único na Legacy Prep que acreditava que era possível ser produtivo em inglês; sem mencionar que era bonito. Todas as garotas tinham um crush nele desde o início do ano, quando ele veio lecionar na escola. Merda, estava encurralada. Elle parou, consciente de que estava perdida. Ninguém que fizesse uma coisa dessa com Cassandra poderia escapar. — Elle, Chloe, voltem para a sala de aula — o sr. Evans disse com tom calmo, talvez calmo demais, mas ela não perderia nem um segundo dessa chance de ouro. Tinha acabado de ganhar na loteria. As duas saíram correndo do refeitório. Quando estavam saindo, elas ouviram o sr. Evans dizer:

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— Srta. Ross, limpe a sujeira que acabou de fazer. Não posso permitir que outros alunos pensem que podem fazer a mesma coisa, não é? Ah, e quando acabar, vá me encontrar na diretoria e... — A voz dele foi ficando mais longe. Eu estou muito ferrada. Não, estou mais que ferrada. Quando elas entraram na sala de espanhol e fecharam a porta, Elle falou: — Desculpa, Chloe. Foi uma reação automática. Não queria que ela jogasse a comida em você. — Eu sei, mas o que vamos fazer? Ela vai matar a gente. Sabe disso. Elle não sabia se Chloe estava ofegante por causa da corrida ou se era medo. Ela se sentou e apoiou a cabeça na mesa. — Não faço a menor ideia. — E olhou de novo para Chloe. — Algu‑ ma sugestão? — Sim, a gente pode desistir do colégio. — O tom de Chloe era sarcástico, mas ela não poderia ter dito nada mais próximo da realidade.

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