Com amor, sinceramente, sua - Primeiros Capítulos

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SARA NEY & MEGHAN QUINN TRADUÇÃO

ALICE J. SILVA

1ª EDIÇÃO – 2021 RIO DE JANEIRO

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COPYRIGH © 2018. LOVE SINCERELY YOURS BY MEGHAN QUINN & SARA NEY COPYRIGH © 2021. ALLBOOK EDITORA

Direção Editorial Beatriz Soares

Asisstente Editorial Mariana Martelote

Tradução

Alice J. Silva

Revisão

Clara Taveira & Raphael Pelosi Pellegrini

Capa Original RBA Design

Modelo

Fabian Castro

Fotógrafa

Rafa Catala

Adaptação de capa, Projeto gráfico e Diagramação

Cristiane Saavedra | Saavedra Edições

Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Os direitos morais do autor foram declarados.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Camila Donis Hartmann – Bibliotecária – CRB-7/6472 P547d Perry, Devney Desejos de aniversário / Devney Perry; tradução Ana Carolina Consolini. – 1. ed. – Rio de Janeiro: AllBook, 2021. 324 p.; 23 cm.

FICHA CATALOGRÁFICA

Tradução de: The birthday list ISBN: 978-65-86624-52-6 1. Ficção americana. I. Consolini, Ana Carolina. II. Título.

CDD 813 CDU: 82-3(73)

21-72561

2021 PRODUZIDO NO BRASIL. CONTATO@ALLBOOKEDITORA.COM

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PRÓLOG O

Peyton Vivian: Cara, por que ele é tão idiota? Kimberly: A pergunta certa é: pobrezinho do George, por que ele nunca está preparado? Peyton: George passa mais tempo na máquina de café do que no computador, é por isso. E veja como ele é alegre, parece um Papai Noel fofinho… Vivian: Suspiros. A esposa dele faz a melhor torta de maçã que já comi. Kimberly: Ah, merda, Vivian, cuidado… Ele está caminhando na sua direção.

— Vivian, qual foi o resultado da sua pesquisa? — A voz de um homem interrompe a nossa conversa em grupo e pega desprevenida nossa colega de trabalho, que se atrapalha ao abrir suas anotações no iPad.

Kimberly: Merda. Viv está desesperada. Peyton: Estou com pena dela. Ela está ficando vermelha.

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Kimberly: Sim, Viv, você está MUITo vermelha. Peyton: Viv, você precisa ver suas orelhas… Kimberly: Talvez se o próprio demônio não estivesse respirando no cangote dela, ela não estaria suando tanto. Peyton: A verdade é que estamos no meio de uma reunião. Ela deveria estar preparada, não fingindo fazer anotações e conversando online. Kimberly: Verdade. Olha como ele está irritado. Parece prestes a soltar fumaça. Peyton: Sim… olha o rosto dele. Parece um dragão prestes a incendiar a sala.

Viro-me para estudá-lo de onde estou, do outro lado da mesa de reuniões, o longo tampo de madeira entre nós dois. Ele está na cabeceira, ostentando seu domínio e a língua afiada como uma espada afiada. Ninguém escapa de seu desprezo. Observo enquanto ele repreende minha amiga do departamento de marketing – sua pequena sala fica a duas portas da minha –, colocando as mãos na mesa e se inclinando para ela. — Não tem novas ideias para trabalhar. Mas que por…? — Ele para de praguejar no meio da frase para respirar fundo e começar de novo, passando aquelas mãos másculas pelo cabelo escuro. — Que diabos você faz no escritório o dia todo? Fica olhando pelas drogas das janelas esperando inspiração? Quero você em campo, caralho. Vá escalar a porra de uma montanha. Somos uma agência de turismo de aventura, cacete. Vá fazer pesquisa de campo. Ele encara – um olhar duro e sem emoção – um cara enorme e musculoso chamado Branson. — Inovação é um dos seus trabalhos, Branson. Monte uma barraca e encontre uma maneira de melhorá-la. Ele está respirando com dificuldade. Está irritado. — Eu sei que acabamos de sair da temporada de férias e que todo mundo está cansado, mas se não conseguirmos avançar com alguns

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projetos para impulsionar as vendas, o faturamento este ano será uma merda completa. Ele continua, a voz profunda ecoando pelas paredes enquanto ouvimos calados, prendendo a respiração. Vivian: Ei, ei, gente? Vocês acham que ele ainda quer as minhas anotações? Kimberly: Que se fodam as suas anotações, Viv. Não fale mais nada, a menos que elas sejam boas. Peyton: Creio que você tenha perdido o momento certo antes de ele se levantar e começar a andar feito um tigre enjaulado. Vivian: Graças a Deus. Eu não tinha nada de novo para adicionar.

Continuo observando-o enquanto Vivian suspira de alívio, um sorriso malicioso brincando nos lábios pintados de rosa-chiclete. Seus dedos ágeis tocam a tela do iPad apoiado na mesa, e sei que a próxima mensagem não será para a gente. Kimberly: Você não tem anotações porque estava flertando com o cara online que é… Como você o denominou…? Peyton: Pedaço de mau caminho? Kimberly: Sim, esse mesmo. Aquele pedaço de mau caminho. Vivian: Não sou responsável pelas minhas ações. Eu preciso flertar. Peyton: Você nem sabe se ele é real. Vivian: Não me importo. Ele é uma distração perfeita.

— Eu quero que todos voltem para as suas salas e se virem para encontrar uma ideia até o meio-dia. Este é um verão para “ficar agressivo”. Nosso

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público-alvo, Harry pode fornecer os dados, é millennial e yuppy. Se vocês não sabem o que é um yuppy, pesquisem no Google. Se não sabem como se faz isso, podem cair fora. À menção de seu nome, Harry empalidece, um contraste pouco atraente para a cor verde-musgo de sua camisa xadrez de manga curta. O pescoço assume um tom vermelho brilhante que destaca a barba por fazer. Kimberly: Vocês viram isso? Harry enxugou a testa, ele está suando. Peyton: Sim, eu vi. Nojento. Parece que vai vomitar. Você ouviu o que aconteceu? Vivian: Não, o que foi? Peyton: Há boatos de que a cópia do anúncio que ele revisou para a Mountain Man Magazine tinha três erros. Kimberly: não, não É PoSSÍVEL. Vivian: TRÊS??? Aaaah, merda… Peyton: Sim, três.

Nosso chefe olha para o Harry com tanta intensidade, que até me contorço, mesmo que não estejam voltados para nenhum ponto em minha direção. Graças a Deus. O chefão levanta três dedos. — Como você pôde ter deixado passar três porr…? — Ele se detém novamente, passando a mão pelo cabelo espesso e despenteado. — Como você conseguiu deixar passar três erros pela revisão? Você tinha um trabalho, Harry. Um. Impedir que pareçamos analfabetos. Ele está certo, o anúncio não tem mais de cem palavras. — Eu sinto muito, Rome. Eu, hm, tive uma terrível dor de cabeça naquele dia. — Harry agita um lenço, presente da esposa, bordado com suas iniciais e um coração, o que é fofo de morrer. Pena que ele o está usando para enxugar o suor de nervoso no rosto.

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Essa cena não é legal de ser ver — com ninguém. — Você está me causando dor de cabeça. — O chefe volta a se sentar, com a cabeça entre as mãos. — Sinto muito, Rome, eu… — Não, Harry, sou eu quem sente muito. — Sua expressão não podia ser mais óbvia: lamento ter te contratado. Estou arrependido. Se foder tudo mais uma vez, eu te demito. — Não haverá uma segunda chance. Ele endireita a postura, dirigindo-se aos servos. — Pelo amor de Deus, alguém me traga algo até o meio-dia. Estou prestes a enviar outra mensagem para as minhas amigas, mas me detenho. São dez e quinze. Ele quer ideias até o meio-dia. Tenho um compromisso com ele às onze. Merda. Antes de voltar o olhar para a minha tela, nossos olhos se cruzam. Sobrancelhas escuras, uma pequena ruga. Lábios carnudos, impassíveis. Ele é tão bonito. Lindo, até. Tanto desperdício para um homem sem sentimentos. Mesmo assim. Quando nossos olhares se prendem — um pouco demorado demais para ser coincidência —, um calor sobe pelo peito, pescoço e bochechas, colorindo todo o meu rosto e me fazendo passar a mão pela bochecha. É uma sensação gostosa. Eu me arrepio toda. Tenho um compromisso com ele às onze. E ele não vai gostar do que tenho a dizer.

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CAPÍTULO 1

Rome POR QUE DIABOS ELA ESTÁ ME ENCARANDO DESSE JEITO?

Ela não disse uma só palavra — verifico o relógio — em três minutos. Permitindo que os segundos passem, apesar de seu desconforto, ou possivelmente por causa dele, deixo o silêncio perdurar. Manter situações desconfortáveis e desafiadoras é o que faço de melhor. Eu prospero com elas. Tic. Tac. Não se preocupe, meu sorriso sarcástico diz. Tenho tempo. Vinte minutos reservados só para ela, a pedido dela, para ficar sentado aqui, desperdiçando meu precioso tempo. Esperando-a abrir a boca bonita e falar o que pensa. Em vez disso, ela fica se remexendo na cadeira, a saia cinza — que, de tão justa, ela não consegue puxar para baixo — abraçando os quadris. Uma camisa branca de botões, também justa, complementa o visual. Seu olhar, por cima dos óculos de aros pretos posicionados na ponta do nariz, é de surpresa. O visual não se parece em nada com o das coordenadoras de marketing que conheço. Na verdade, eu nem fazia ideia de quem alguém como ela trabalha para mim. Abaixo de mim.

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Quatro andares abaixo. Ela parece mais com uma contadora. Ou secretária. Ou a diretora de uma escola particular da Costa Oeste. Giro a cadeira de couro antes de pegar uma caneta da minha mesa e girá-la entre os dedos, estudando-a com atenção. Fingindo tédio. Estou sentindo tudo, menos isso. Clico a caneta uma, duas vezes, observando os grandes olhos castanhos desta mulher acompanhando meus movimentos do outro lado da mesa gigantesca. Suas sobrancelhas se franzem, a paciência velada se esgotando. Peyton. Merda, quando vi o nome dela na minha agenda, presumi que a reunião fosse com um homem. Imagine minha surpresa quando vi que a mão delicada batendo gentilmente na minha porta pertencia à mulher sentada à minha mesa de reuniões esta manhã. Ela estava no celular durante a reunião, aposto a minha bola direita. Pego a folha de papel e olho cada letra de seu nome. Nunca conversei ou tive uma reunião com essa mulher desde que começou a trabalhar na minha empresa. Há cinco anos. Mesmo com um histórico de resultados sólidos — de acordo com a espionagem da minha secretária —, ela nunca esteve no meu escritório. Peyton Alguma-Coisa, com um sobrenome que não consigo pronunciar, nem vou perder meu tempo tentando. Quem se importa? Ela está a um passo de cair fora da minha empresa. Decido terminar o silêncio. — Seu supervisor sabe que você está aqui? — Ainda não — ela começa e endireita a coluna, os seios se pronunciando na camisa engomada. — Eu queria… — Ela pausa, respirando fundo de nervoso. — Por que você não foi ao rh primeiro? Esse é o protocolo. Gosto de ser direto. Odeio fazer rodeios.

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— Eu queria comunicar meu aviso prévio pessoalmente. Achei que seria mais gentil. Ela está falando sério? Quem faz isso? — Você está pedindo demissão. Acha que eu dou a mínima para a sua gentileza? — Ou cortesia? Ou para ela tentando ser atenciosa? Essas características não têm lugar neste trabalho. Aqui é um escritório, não uma creche. Estamos aqui para ganhar dinheiro, não para agradar ou ter preocupações em não ferir sentimentos. Outra pausa, antes de Peyton falar com a voz trêmula: — Pensei que, como é a sua empresa, achei conveniente o fazer para não fechar as portas para mim. Conveniente. Ela não é adorável? De repente, eu a imagino em uma pequena cidade no meio do nada nos Estados Unidos, onde pais ensinam boas maneiras aos filhos e passam bons momentos juntos aos finais de semana. Noites de cinema em família e toda essa besteira confortável. Bufo, clicando na caneta. Peyton, que nome esquisito. Parece nome de homem. — Você não quer fechar as portas — repito, sorrindo com desprezo e passando o dedo pelo papel que ela colocou na minha mesa quando entrou. A carta de demissão foi impressa em papel timbrado. — Eu não apenas fecho portas. Eu derrubo pontes, dreno os rios e os encho com concreto. Depois acampo às margens do que sobrou dele. E como proprietário de empresa no ramo de atividades ao ar livre, encontrar uma barraca é fácil. A boca de Peyton se franze em surpresa, ela está chocada ou enojada com a minha sinceridade, dá para ver. Leio o papel que ela me entregou. — Aqui não diz para onde você está indo. Não vai precisar de uma carta de recomendação? Porque devo dizer, Peyton… — Inclino-me para trás na cadeira, fazendo com que ranja com as dobradiças velhas e enferrujadas. — Pedir demissão é uma maneira muito ruim de arrancar uma de mim.

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Ela balança a cabeça e o coque arrumado na nuca não se move nem um centímetro. Só faltava usar uma rede de cabelo. Deixo os olhos vagarem das pontas de seus saltos agulha brilhantes até o colarinho da camisa engomada e fico curioso. — Você sempre se veste assim para trabalhar? Ela olha para a blusa, tocando um botão de pérola preso na altura da garganta. — Quando eu tenho uma reunião importante, sim. — Estamos na porra de uma agência de turismo, e você está vestida como uma bibliotecária. Ela enrijece, os olhos caindo para a gravata azul de seda no meu pescoço, os ombros largos do meu paletó sem dúvida me rotulando de hipócrita. Pois é, é minha empresa. Faço o que eu quiser. E também tenho uma reunião importante à tarde com publicitários. Não posso comparecer de camisa xadrez de lenhador com as mangas enroladas nos cotovelos. Peyton toca em um dos brincos de argola de ouro. — Pensei que a nossa reunião justificasse um pequeno esforço extra. — Bem, você poderia ter se poupado desse trabalho. Quando alguém sai da Roam Inc., eu não tenho mais tempo para essa pessoa. — Mas, Rome, eu tinha esperança… Ela usa meu nome em vez do sobrenome, enquanto coloca uma mecha de cabelo que não existe atrás da orelha. Um hábito nervoso que já a vi fazendo várias vezes. Ela não consegue passar os dedos no cabelo porque ele está preso para trás naquele coque de velha. — Eu vim dizer que, apesar de estar indo trabalhar por conta própria, meus serviços ainda podem ser úteis para você. — Seus serviços? — Solto uma gargalhada de deboche. Quando penso em serviços, minha mente vai logo para a sacanagem: acompanhantes, boquetes e mulheres fáceis. Pode me julgar por pensar em sexo. Ela deve ter lido meu olhar sacana, porque o dela se arregala e a pele do pescoço exposto fica vermelha.

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— Sim, meus serviços como designer. Eu finalmente… — Tenho certeza de que ficaremos bem sem você. — Agitado pelo brilho animado em seus olhos, a interrompo. Ela está pedindo demissão e tem a cara de pau de me oferecer serviço terceirizado? Nem fodendo, querida. Inclino-me para frente, as mãos cruzadas em cima da mesa. — Eu não sou bem-sucedido porque gasto meu tempo delicadamente estagiando todo mundo que precisa. Isto aqui são negócios, não um hobby. E já que você insistiu nesta reunião, me deixe dar um conselho, uma lição valiosa que pode ser útil para o seu próximo emprego, se quiser. — Estou ouvindo. Eu olho para ela com uma expressão rígida. — Se está pensando, nem que seja por um segundo, em trabalhar para o concorrente, sugiro que repense. Remexo os papéis em cima da mesa, pego seu contrato de trabalho, assinado quando foi admitida pela Roam Inc, e aponto o dedo para a cláusula de não-concorrência. É rígida e irrevogável por um ano após o término de seu contrato, e não pensarei duas vezes em acioná-la judicialmente se for preciso. Pois é. Ela que ouse trabalhar para a concorrência. Ela ergue o queixo em desafio. — Eu nunca faria isso. — Isso é o que todo mundo diz. Ela olha para a minha boca alguns segundos antes de negar com a cabeça. — Eu não vou trabalhar para ninguém novamente. Finalmente vou trabalhar por conta própria, e se você não consegue respeitar a minha decisão, acho que te subestimei. Eu me inclino para frente, botando as mãos na mesa. — Me subestimou? — É. Pensei que você fosse mente aberta. E como começou a própria empresa do zero, me iludi achando que pudesse me dar uma chance. — Ela se levanta e me entrega uma pasta-arquivo de cartolina. — Meu trabalho

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com design gráfico é bom. Até mesmo fantástico. Se você não consegue enxergar isso, então, bem. Você… você é um… Minhas sobrancelhas sobem até a linha do meu cabelo. — Eu sou o quê? — Um bundão. — Depois de dizer a última palavra, ela se levanta bufando e sai da minha sala. Um bundão? Sério? Já ouvi coisas piores. Volto a mexer no notebook, à procura dos contatos da empresa. Eu preciso de mais informações. Peyton Lévêque. Digito o sobrenome dela errado três vezes antes de finalmente acertar. Aperto enter.

Peyton O som da porta de Rome Blackburn se fechando me tira do estupor. Perco a ilusão criada nas últimas semanas, pensando que talvez, apenas talvez, ele me contratasse como freelancer quando eu saísse da empresa. Estava apostando que me daria uma chance. Que merda eu fiz? Invadi o escritório do Senhor Aventura para pedir demissão com um portfólio em mãos? Para apresentar a minha nova empresa? Para ficar olhando sua cara fechada enquanto cuspia insultos? Foi o que eu fiz. Ai, Deus, foi o que eu fiz. E ainda o chamei de bundão. Honestamente, sua expressão ficará na minha memória para sempre. Insultá-lo foi um tiro no pé. E eu ainda queria manter uma porta aberta. Mas ele nem me deixou falar… Bem, acho que falei uma ou outra coisa, dei uma gaguejada de leve.

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Bom trabalho, Peyton. Bela maneira de representar o futuro da Fresh Minted Designs, perdendo a coragem quando você mais precisa dela. Como obter sucesso dessa forma? — Como foi? Passo por Lauren — que está sentada à mesa —, a assistente de Rome, mas seu sussurro me faz parar de andar. Ela olha em direção ao corredor e depois para mim e gesticula com o dedo para eu me aproximar. — Tudo bem? Como foi? Você não demorou muito tempo lá dentro. Eu olho de volta para a porta por onde acabei de sair, me sentindo derrotada. — Não foi mesmo como eu esperava, e agora sei o porquê da fama. Sua personalidade é tão sombria quanto a alma. Lauren pede que eu me aproxime ainda mais, e me encosto na mesa e solto um longo suspiro. Ela me olha com pena. — Tão ruim assim? — Pior. — Eu não ouvi gritos. Não pode ter sido tão ruim. Eu a encaro, surpresa. — Gritos? — Exato. Você pediu demissão. Rome Blackburn não aceita quando as pessoas pedem para sair de sua empresa. Como se eu não soubesse disso. Senti na pele sua ira. — Você conseguiu falar do aviso prévio? — Não. A conversa desandou quando ele começou a falar sobre a cláusula de não-concorrência. Lauren ri, digitando algo no teclado. — Sim, ele geralmente manda as pessoas arrumarem suas coisas na mesma hora quando elas pedem para sair da empresa. Não se surpreenda se seus pertences já estiverem encaixotados quando você voltar à mesa. — Sério? Não brinca! — falo com sarcasmo, mas fico tensa.

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Espero que ele me deixe cumprir o aviso-prévio. Eu preciso das semanas de aviso prévio. — Ele construiu essa empresa com sangue, suor e lágrimas… — Querida, eu sei. — Dou um tapinha no ombro de Lauren. — Você não precisa defendê-lo. Eu entendi. Sei que não é nada pessoal. É trabalho. Eu só queria que ele tivesse me dado uma chance de… No final do corredor, uma porta se abre. A dele. O corpo de Lauren fica rígido, os dedos digitando mais rápido. Eu fico tensa, e meus sentidos entram em ação, me fazendo ficar em alerta. O cheiro de sua colônia é forte e masculino — com um ar de poder —, misturado com um aroma inconfundível e ridiculamente intoxicante; e que merda estou dizendo? Rome Blackburn é floresta, rios e aventura. Ele é excitação. E um escroto. Rome Blackburn é um cretino filho da puta. A energia do ar muda. Passos firmes se movem na nossa direção e param atrás de mim. — Senhora L… — O idiota nem tenta pronunciar meu sobrenome. É tão difícil assim? — O que você ainda está fazendo aqui? Não tem um aviso prévio para dar ao seu supervisor? Ele não está me expulsando. Não está me expulsando. — É Lévêque. — Se pronuncia lê-véck. — O quê? — Meu sobrenome. Olhos prateados intensos me encaram com curiosidade. Uma sombra de barba por fazer cobre o maxilar esculpido. Sua postura é dominante. Faz o ambiente parecer pequeno e o ar escasso. Ele está de braços cruzados, fazendo os bíceps esticarem o tecido da camisa azul. — Lê-véck — ele repete, testando a pronúncia. Encaro seus lindos lábios carnudos. — Sim.

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— Então por que diabos não se soletra dessa forma? — É francês. Ele me olha com mais intensidade ainda, se é que é possível, a mandíbula travada, e a enfia as mãos nos bolsos. — Lauren, por favor mostre à sra. Lê-véck o elevador. O tempo está passando enquanto ela fica por aqui. — Sim, sr. Blackburn. Dirigindo um olhar de desculpas para mim, a assistente se levanta e me guia, mãos nos meus ombros, me empurrando para frente, até os elevadores. — Eu sinto muito. Mais tarde a gente conversa — ela sussurra, apertando o botão do elevador, que se abre automaticamente. Entro e pressiono o botão do meu andar, quatro abaixo. — Recursos humanos primeiro, Senhorita Arrumadinha — Rome informa, um sorriso malicioso no rosto. — É nessa direção. Ele aponta para o teto. Babaca. Ele é alto, de ombros largos e cintura estreita, e a melhor parte é sua atitude chocante, o que me atrai cegamente e me intriga absurdamente. Quando as portas do elevador começam a se fechar, minha única visão é de Rome me observando, a testa franzida acentuando suas belas sobrancelhas escuras. Só porque sinto a necessidade de ser agradável, apesar de ele ter me tratado de forma rude, murmuro: — Obrigada, sr. Blackburn. Abro um sorrisinho ao saber que a última palavra foi minha. Mas quando fico sozinha, sinto o peso da minha decisão e me encosto na parede em busca de apoio, deixando escapar um suspiro triste. Notificar uma demissão já é bastante difícil. Agora, fazer isso diretamente para um homem como esse? Mais difícil ainda. Poderia ter sido melhor.

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Não foi nada como imaginei quando ensaiei o discurso para o meu cachorro, um vira-lata resgatado que chamei de Scott, porque acho hilário dar nomes de pessoas aos meus animais de estimação. — Scott e sr. Blackburn. Muito obrigada por me receberem, sei que seu tempo é valioso. — Pigarreei. — Oh, o que foi? Gostou da minha saia? (risadinha) Muito obrigada. Eu a escolhi só pra você. Mas ele não gostou da minha saia e ainda zombou. Gaguejei de nervoso, não consegui dizer o que pretendia e ainda fiquei paralisada de medo. Eu tinha ideias diferentes de como poderia ter acabado. Sonhos, na verdade. Louvor e gratidão deveriam ser jogados no meu caminho. Emoção por uma nova parceria, para crescer. Talvez um high-five, cumprimentos profissionais ou um soquinho de mãos para selar o acordo. Arrumo minha saia lápis justa de tweed, sentindo o abraço do tecido, a abro atrás, deixando espaço para respirar, então abro os dois primeiros botões da blusa sufocante. Envergonhada pelo desafio ao qual acabei de passar, volto ao meu pequeno escritório, que na verdade é apenas um cubículo arrumadinho, passando por muitos colegas de trabalho incrivelmente curiosos. Deixo a porta aberta. As rodas da cadeira rangem no tapete plástico que protege o carpete quando me sento. Inclinando-me para frente, aperto a testa com uma das mãos e repasso a reunião várias vezes na cabeça. A postura casual e intimidadora de Rome Blackburn. Seus longos dedos brincando com aquela droga de caneta. A cintura da calça bem costurada enquanto me observava antes de as portas do elevador se fecharem. O cabelo bagunçado apontando em todas as direções como se Rome tivesse puxado os fios sedosos castanhos ao tomar decisões para sua empresa criada do zero e citada na Fortune 500. E aqueles olhos. As sobrancelhas escuras quase cobrindo as piscinas prateadas — nem azuis nem cinza… prateadas — que, pela primeira vez, estive perto o suficiente para ver a cor.

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A cor ia escurecendo à medida que ele ficava mais irritado comigo. Comigo. Ugh. Rome Blackburn é insensível, petulante e calculista. Mas naquele breve momento em que nos encaramos, eu vi um olhar fugaz de vulnerabilidade por trás da fachada arrogante. Um lampejo de… Toc, Toc. Antes de ver quem está batendo na divisória do meu cubículo, já sei que é a minha melhor amiga, Genevieve. — E aí, como foi? — Genevieve trabalha como ti da Roam Inc. e tem me apoiado bastante na minha decisão de pedir demissão e começar minha empresa de branding e consultoria. Gen se senta em um pequeno arquivo e cruza as pernas, pronta para ouvir. Girando devagar na cadeira, me inclino em sua direção. Mordo o lábio. — Como acha que foi? Sua expressão se contorce. — Imagino que não tão bem? — ela responde como se fosse uma pergunta. — Sr. Blackburn não parece ser um homem compreensivo. Está sempre irritado. Eufemismo do ano. — Deus, Gen, eu fui uma cagona. Estou tão envergonhada. E nem cheguei a falar sobre minhas ideias ou planos. — Balanço a cabeça. — Onde eu estava com a cabeça? Rome Blackburn me cortou antes que eu tivesse a chance de abrir a boca. Sorrio, agora mais calma, lembrando que a reunião chegou a ser cômica. — Pelo menos tem uma boca bonita — brinca a minha amiga. — Ele nem sabia meu sobrenome nem quem eu era. Impressionante. Isso faz Genevieve gargalhar. — Ele parece tão refinado. Como poderia não saber o seu sobrenome? — Ele não conseguia pronunciar. E nem se esforçou. — Dou de ombros. — Ou talvez tenha sido o seu jeito de me insultar.

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Minha amiga, atenciosa e solidária, me consola com um afago nas costas. — Essa atitude só o fez parecer idiota. — Ela balança as pernas, os saltos para cima e para baixo. — Ei, escuta, esqueça ele. Você está indo embora e vai arrasar na sua empresa. Vai fazer nome no mercado, e ele vai se arrepender de ter te perdido. Balanço a cabeça com alegria. — Não vai, não. Você é tão besta. — Ela considera isso um apelido. — Estou te dizendo, ele vai se arrepender. Pego um clipe de papel, brinco com o metal e o deformo. É um tique nervoso que tenho. Quando eu era mais nova, costumava enfiar qualquer coisa de metal nos dentes para fingir que usava aparelho ortodôntico. Como agora sou crescidinha, devolvo o objeto à mesa. — Alguma fofoca nova para me distrair? Genevieve sempre sabe de tudo. E, na minha opinião, tem o melhor emprego da empresa. Ela monitora as contas de mensagens instantâneas, observando qualquer tipo de má conduta ou mau uso do tempo. Cria novas contas para funcionários e e-mails. Exclui as antigas. Faz capturas de tela aleatórias nos computadores dos colegas de trabalho. Basicamente, os olhos e ouvidos da Roam Inc. A melhor parte? Ninguém sabe exatamente o que ela faz. Todos acham que seu trabalho é montar estações de trabalho e consertar computadores de vez em quando, o que significa que ela pode descobrir muita sujeira das pessoas. — Hmmm — ela cantarola, batendo um dedo no queixo. — A namorada do Calvin, do financeiro, vai botar silicone na segunda-feira que vem, e ele é quem vai bancar tudo. — Está brincando. Ela balança a cabeça. Eu rio silenciosamente, meus ombros sacudindo. — E Rose e Blaine? Ela pega uma bala do meu pote de doces e a coloca na boca. Enrola a embalagem e a arremessa na lata de lixo ao lado da minha mesa.

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— Ainda em um impasse. Ele não admite que tem uma quedinha por ela. E ela não admite que o beijou na última festa do escritório quando os dois estavam bêbados. Parece que a boa teimosia à moda antiga vai atrapalhar o amor verdadeiro. — Que pena. — Jogando meu clipe de papel no livro, pego um novo. — E a Sally do financeiro, ela ainda está falando merda sobre mim para a Jessica? Genevieve revira seus brilhantes olhos azuis. — Sempre. Disse que você está vestida como uma vagabunda e que foi ao escritório do chefe pra tentar dar pra ele. — Ela emite um bufo suave. — Como se alguém quisesse aquele pau de gelo. Mordo o canto do lábio e olho para o chão. Alguém talvez queira transar com ele. Na verdade, poderia nomear uma pessoa agora mesmo. Eu. Eu, eu, eu… Eu transaria com Rome Blackburn num piscar de olhos. Minha amiga continua tagarelando, distraída. Deus, se ela soubesse os pensamentos que tenho com o nosso chefe…? Ela morreria. — Ahh! — Ela se anima, sentando-se reta. — Ainda está de pé amanhã à noite a comemoração do trigésimo? — Ela bate palmas, animada. Tem gente que tem medo de fazer trinta anos, mas eu, não. Estou animada por sair da casa dos vinte, ser levada mais a sério e ter a minha empresa. Estou pronta para este novo capítulo da vida, apesar do início ligeiramente negativo. — Claro. Vou precisar de uma bebida forte. Minha amiga ri. — Uma bebida forte e um pau forte dentro de você. — Com certeza isso não vai rolar. — Por que, não? Porque, por alguma razão desconhecida, minha vagina e eu queremos um único homem. Um que não me quer: Rome Blackburn.

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[miolo] Com amor, sinceramente, sua.indd 22

SARA NEY & MEGHAN QUINN

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