TattooArt 02

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Monique Peres Lady Ink Tattoo São Carlos - Brasil

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Sumário 18

Akemi Higashi

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mundo afora o dia mágico

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pelo mundo dan smith

destaque led´s


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perfil phernadu nunes

52 46

sonora slim rimografia e thiago beats Galeria Vip

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Cidadão INcomum

42 17 29 40 41 58 60 61 62 63

do lado de lá katerina volkova

depoimento referências

free hand

tatuagem 3D

pit stop by Zupi botando em pauta

du peixe visitando artisticamente 5 • TattooArt


Editorial Diretor-Executivo: Helcio de Carvalho Diretor-Financeiro: Dorival Vitor Lopes Revisão: Camila Lérco Produtor Gráfico: Ailton Alipio Gerente de Vendas/Livros: Adriana Ferreira S. Costa Coordenação de Consignação: Mônica A. Silva (monica@mythoseditora.com.br) Números Atrasados: Bárbara Lopes Circulação: Antonia B. Coelho Impressão: Gráfica São Francisco Distribuição Nacional: Fernando Chinaglia

TattooArt Editora Responsável Daniela Carrara Editor de Conteúdo Alessandro Carvalho Arte Daniela Carrara Revisão René Ferri e Camila Lérco Colaboradores de Texto: Shann Almeida, André Peixe, André Tenório, Maurício Tadashi, Monique Peres Colaboradores de Arte Caio Ribeiro, Marcela Freitas Colaboradores de Fotografia Rafael Beck, Maurício Tadashi, André Peixe, Ricardo Kafka Contato Pixel Art tattoodigital@gmail.com

TATOOART é uma publicação da Mythos Editora Ltda. Redação e Administração: Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 753, São Paulo - SP - CEP 05458-001. Fone: (11) 3024-6600 Visite nosso site: www.mythoseditora.com.br Os artigos aqui publicados, quando não assinados, seguem a licença de Creative Commons, sendo vedada, no entanto, qualquer reprodução ou uso que se faça deste material para fins de lucro ou financeiros. Quando o artigo for assinado, seu © Copyright pertence ao autor e é dele a total e completa responsabilidade sobre o mesmo. Fica proibida a reprodução total ou parcial de qualquer foto ou artigo desta revista sem autorização por escrito da editora. A revista não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados. Números Atrasados: temos estoque limitado de nossas publicações. Se deseja alguma edição anterior de nossas publicações, entre em contato com Bárbara Lopes pelo e-mail barbara@mythoseditora.com.br, pelo telefone (11) 3021-7039 ou enviando uma carta para NÚMEROS ATRASADOS: Av. Diógenes Ribeiro de Lima, 753 - São Paulo - SP - CEP 05458-001. © 2012 Mythos Editora Ltda.

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C

á estamos novamente, firme e fortes! Muitas pessoas não sabem o quanto é difícil produzir uma revista, seja ela de qual segmento for. Além de muita dedicação, é necessário ganhar a confiança dos leitores que, em meio a elogios e críticas, são as pessoas que farão ou não a revista existir. Temos como obrigação publicar nas páginas algo que seja do interesse geral, que as pessoas tenham vontade de ler, saber, entender e conhecer, e isso parece ser uma missão quase impossível, visto que os gostos e as opiniões são muito diversificados e muitas vezes contrários àquilo que achamos ser o certo a se mostrar. Então, o que é certo? E o que é a verdade? Quem sabe? Não sabemos, mas vamos continuar tentando mostrar a vocês o que realmente achamos ser a verdadeira arte!

Daniela Carrara

Capa: Akemi Higashi Foto: Rafael Beck www.2beck.com


Nesta Edição

André Peixe / Skatista e fotógrafo tem o

Shann Almeida / Manager responsável no

Monique Peres / Tatuadora e artista plástica, residente na cidade de São Carlos, interior paulista. www.moniqueladyink.com

Zupi / A Zupi é uma marca criada pelo artista gráfico Allan Szacher, atuando em diversas áreas, entre elas, revistas, site e encontro de artistas. www.zupi.com.br

Robson Santos / Tatuador e desenhista

Dorme / Tatuador nascido em São Paulo, atualmente domiciliado em Goiânia, está em trâmite constante em diversas partes do país levando sua arte que tem como ponto forte as cores. www.facebook.com/adriendorme

André Tenório / Um de nossos novos colunistas, representando a região sul do país e contando um pouco do que acontece por lá. www.tintanapeletattoostudio.blogspot.com

Maurício Tadashi / Dono da marca Original Urban Style e nosso correspondente em LA. www.originalurbanstyle.com

Rafael Beck / Fotógrafo e diretor de criação. Fez as fotos da capa e ensaio com Akemi Higashi. www.2beck.com

blog www.skateafas.blogspot.com e contribui com fotos para o www.midiaskate.com.br e www.campeonatosdeskate.com.br

estúdio Tinta na Pele, localizado em Blumenau - SC www.intanapeletattoostudio.blogspot.com

gaúcho, participou desta edição mostrando, através de um passo a passo, uma tatuagem de uma caveira tridimensional. www.santatattoo.com

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pelo mundo

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Dan Smith

Dan

smith Por Daniela Carrara • Tradução Rene Ferri

Um dos integrantes do High Voltage, um dos maiores estúdios de tatuagem do mundo, conta como foi inserido nesse universo e como se mantém nele até hoje, vivendo no mais absoluto glamour e tendo personalidades como clientes. Depois de participar de algumas temporadas do programa LA INK, transmitido no Brasil pelo canal a cabo TLC, Dan Smith deixa transparecer que se sente grato por ter encontrado seu caminho desde cedo! Como foi seu primeiro contato com a tatuagem? Foi uma total surpresa. É uma coisa formidável descobrir algo que tem tanto mistério quanto criatividade quando você é jovem e impressionável. Não é comum, quando se é jovem, encontrar um caminho na vida e eu me sinto com sorte de ter descoberto tão cedo o que queria fazer. Foi uma aventura e continua sendo, na verdade. Fiquei muito consciente da importância e da natureza sagrada da verdadeira tatuagem, então, me esforcei muito para ser capaz de representá-la da forma mais correta. A tatuagem me mostrou o mundo e fez com que eu encontrasse as melhores pessoas, que, posso dizer, que meus amigos. Serei eternamente grato a ela, por tudo. O que o motivou a seguir esse caminho? Eu só sabia que não havia outro caminho para mim. Foi o contato com Dean Parkin e Dan Andersen, do Sacred Tattoo, que me fez perceber a tatuagem como algo pessoal e, em seguida, como quase uma experiência única. Queria fazer com que se sentissem orgulhosos de mim, uma vez que foram tão bons quando mostrei interesse em

começar a tatuar. Penso que descobrir algo assim é raro, mas por sorte eu os tinha comigo, além de Shep e Gomer, na primeira loja em que trabalhei, The Body Art Shop, em Adelaide, Austrália, para poder agradecer por tudo. Em quais estúdios já trabalhou? Sacred Tattoo (Auckland, Nova Zelândia), The Body Art Shop (Adelaide, Austrália). Mudei para a América em 2004 e comecei a trabalhar em Arcadia, Califórnia. Então, fui para o Eric Maaskes Classic Tattoo, em Fullerton, Califórnia. Fiz meu trabalho independente, enquanto minha banda excursionava, e eu possuía um estúdio próprio; agora, tenho ficado no High Voltage Tattoo, em Hollywood, nos últimos três anos. Viajei um bocado, também.Viajei, como convidado, para muitos estúdios. Com maior frequência, fui ao Inksmith e ao Rogers, na Flórida, ao Chicago Tattoo Co., ao The Family Business, em Londres, entre outros. Como conheceu Kat Von D e como foi seu primeiro contato com o High Voltage? Nós nos conhecemos no Inflictions, na época em que outros grandes tatuadores, como Daniel Albrigo, Jim Miner e

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pelo mundo

Colin Dowling trabalhavam lá, também. Isso foi antes de aparecer a TV e tudo mais acontecer. Logo depois, ela partiu para Miami e todos tomaram caminhos diferentes. Minha banda estava ativa e as pessoas foram trabalhar em outras lojas, mas sempre ficamos em contato e, quando ela se mudou para Los Angeles, nós nos encontrávamos nos shows, tatuávamos as mesmas pessoas etc. Ela me pediu, algumas vezes para ir trabalhar no High Voltage aleatoriamente, porém, eu estava realmente muito ocupado com as atividades da banda, sem certezas do que tinha de fazer. Foi somente quando ela foi clara o bastante e voltou a me convidar que eu me toquei e compreendi o que devia fazer. Eu sabia que devia aceitar...; então, aceitei. Uma grande oportunidade e uma loja grande e com bastante trabalho para se realizar. Como foi o convite para trabalhar no programa de TV LA INK e o que isso mudou na sua profissão? Bem, depois de trabalhar por um ano na loja, eu sabia como aquilo funcionava, pois eu estava presente durante

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as filmagens da segunda temporada. Nunca imaginei que terminaria participando das quatro temporadas seguintes do programa, mas houve algumas mudanças ocorridas no final da segunda temporada e Kat me disse que achava que eu ficaria bem no programa. Perguntou se eu gostaria de tentar, e foi o que fiz. Filmei um clipe em que eu mesmo falava e aparentemente ficou bom o suficiente (risos). Foi a coisa mais estranha que já fiz na vida. Em sua maior parte, filmar faz com que você lide com o absurdo e se comprometa com pessoas com quem você não quer compromisso. Não é o meu mundo de maneira alguma, mas me foi dada a oportunidade de fazer algo que eu poderia fazer de modo diferente, e não sou o tipo de pessoa que diz ‘não’ e depois se pergunta ‘mas como seria se tivesse topado?’, e também penso que a indústria prospera enquanto faz as pessoas de tolas e não quero que alguém pegue a oportunidade e não represente a tatuagem do modo como ela deve ser, com respeito e profissionalismo. Deve haver uma lista longa, como meu braço, de indivíduos que usariam a oportunidade para inflar seus egos e perfis. Não me importa o que pensam, sou uma pessoa verdadeira e somente te-


Dan Smith

nho responsabilidades com a tatuagem e com aqueles que fizeram de mim quem eu sou. Como foi criado o formato do programa e como é a participação de cada tatuador? Como em qualquer programa de TV, há um planejamento que deve ser seguido. Ideias diferentes são sugeridas e o ‘produtor’ decide quais são as melhores: as histórias da tatuagem etc., o tipo das falas para eles mesmos. Obviamente, todos no programa têm uma história de por que estão fazendo determinada tatuagem. Tem de ser feito dessa forma para o programa fluir. O material que filmam entre as tatuagens é usualmente forçado ou editado de um modo que pareça mais doido do que é na verdade, mas trata-se de TV. Tento oferecer o maior número possível de ideias, e sempre espero que eles usem. Gostaria de sugerir que mostrassem projetos de pinturas, de tatuagens etc., coisas que os tatuadores de verdade fazem! Se possível, nós escolheríamos as pessoas que tatuamos pelo que elas querem e pelas suas histórias. Prefiro escolher tatuagens diferentes e divertidas ao ia selecionar as que evocam memórias, para mostrar às pessoas

que existem mais coisas relativas à tatuagem do que apenas isso. Procuro tirar o máximo proveito de cada situação. Eu teria no programa amigos e bandas que conheço, para poder mostrar e promover seus talentos. O High Voltage é visto como um dos maiores estúdios do mundo! Qual é o perfil dos clientes e como é o seu dia a dia? Trabalho somente com hora marcada, então, na maioria dos dias, é isso o que faço. Gosto de fazer caminhadas e as faço sempre que possível. É uma loja com muito, muito trabalho, mas a melhor coisa dela são as pessoas. São tantos tipos de gente de todas as partes do mundo! Você tem pessoas cobertas de tatuagens e que querem fazer mais, depois você vai fazer a primeira em alguém que acabou de completar 18 anos. Penso que as lojas que excluem pessoas que são muito específicas têm um prazo de validade. Se você é tatuador, você deveria querer estar sempre ocupado e fazer os clientes felizes. Claro que, algumas vezes, as pessoas precisam de muita orientação, mas isso faz parte do trabalho também. Gosto de diversidade.

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pelo mundo

Quais são suas influências? Ed Hardy é o rei. Mas há incontáveis tatuadores que precisam ser lembrados por serem surpreendentes. Sou influenciado por tantas pessoas e tenho sorte que meus amigos representam muitos daqueles que eu procuro para me inspirar. Dean Parkin, Mike Rubendall, Lindsey Carmichael, Grez, Xam, Mario Desa, Chad Koeplinger, Danny Reed, Mike Wilson, BJ Betts, Jim Sylvia, Kat, Nikko..., a lista é imensa. Em um dos episódios do programa, você diz que todo verdadeiro artista deve ser capaz de fazer qualquer estilo de desenho. Com qual estilo você mais se identifica? Penso que um bom tatuador deve ser capaz de tatuar uma gama ampla de estilos e deve tornar qualquer ideia tatuável. Obviamente, há artistas que se especializam, então, você não vai a um artista de linha fina, preto e cinza, para fazer uma cabeça de pantera na axila, a menos que você tenha plena confiança de que ele possa lhe dar o que você quer, mas penso que, hoje em dia, as pessoas que vão se tatuar estão sob a impressão de que o tatuador tem de ter um certo estilo e permanecer fiel àquilo. Pessoas

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que fazem carreira na tatuagem já têm anos de experiência fazendo de tudo um pouco. Nada a ver trabalhar num desenho durante dias para fazer três tattoos numa semana, somente para postar no Facebook para que digam como elas são boas. A diversidade ajuda quem quer ser um artista melhor. Fale um pouco sobre sua banda, a D&D. Canto numa banda chamada The Dear & Departed. Você pode nos ouvir no endereço www.thedearanddeparted.com. O que você costuma fazer quando não está tatuando? Bem, eu realmente nunca tiro folgas. Sempre estou tatuando ou cuidando de assuntos relativos à banda. Gosto de que seja assim. Vou descansar quando estiver morto! Com quais artistas você se identifica? Com aqueles que são honestos, leais e dedicados. Além da tatuadora Camila Rocha, que trabalha com você, conhece algum outro tatuador brasileiro?


Dan Smith

Meu grande amigo Maneko! Ele é uma ótima pessoa e um ótimo tatuador. Ele, Tete Franceski, Luiz Felipe Ribas estão no meu livro que acabou de sair, With The Light of Truth. Quem quiser, pode adquirir no endereço seguinte: www. withthelightoftruth.com. Trabalhei por um ano nesse livro e tenho muito orgulho dele. Apresento 60 artistas de todo o mundo que dividem uma mensagem positiva. Você já tatuou alguma celebridade? A meu ver, ‘celebridade’ é uma palavra esquisita. É engraçado que, hoje em dia, você pode ser rico e ficar conhecido por ser irresponsável e tolo, não por ser criativo e talentoso. Todas as pessoas nas quais me inspiro, além dos meus amigos, são celebridades diante de meus olhos. Fico feliz que a música tenha complementado tanto a tatuagem em minha vida. Tenho a sorte de ter tatuado um bocado de bandas, porém, não sou de entregar nomes! Quem você gostaria de tatuar? Qualquer pessoa que respeite o meu trabalho! www.dansmithtattoos.com www.thedearanddeparted.com Twitter.com/dansmithism

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mundo afora

o dia mágico Por Garcia Leonam

Há algum tempo, deixei a comodidade dos grandes estúdios para viver como um tatuador cigano, me alimentando de vivências e me sentindo confortável apenas com minhas histórias, em que meu ego se encontra em um lugar seguro e longe de me fazer qualquer mal. Sempre com uma pesada mochila nas costas, indo contra a maré, por vezes trabalhando em estúdios e às vezes em qualquer lugar onde existam espaço e higiene para que eu possa executar meu trabalho. Não quero prêmios, não quero luxo, só quero ser tatuador.

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essa forma, começo 2011 em uma viagem pela Europa, indo de canto a canto em minha busca, de avião ou motorhome, tatuando e conhecendo pessoas incríveis. Um ano, doze países — é como se você vivesse dez anos em apenas um. Você amadurece, conhece e aprende muito. Uma boa tatuagem nem sempre é aquela que foi bem executada. Uma boa tatuagem é aquela que tem vida e alma, uma boa tatuagem não é feita com as mãos, é feita com seu coração.

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Após minha longa passagem pela Europa e uma breve passada pelo Brasil, segui para o continente asiático em busca de inspiração para meu trabalho e para minha vida. Meus alvos eram a Índia e o Nepal . Uma viagem ao tempo, debaixo de


muito sol, intermináveis percursos em trens que a qualquer momento estavam prestes a fazer parte do noticiário com alguma horrível tragédia, ruas lotadas de carros, pessoas e animais, dividindo meus quartos com ratos e, às vezes, com macacos à procura de comida. Em todas estas circunstâncias, vivi uma de minhas melhores experiências de vida. Em alguns momentos da sua vida, você realmente se sente vivo e feliz, e longe de tudo que consideramos essencial para uma vida confortável, encontrei muita felicidade e gente de verdade, às vezes, sem comida na mesa, mas sempre com um sorriso no rosto. Fui decidido a apenas tatuar em alguma situação realmente especial; nesses dois meses em que ficaria na Índia e Nepal, não queria, dessa vez, viajar trabalhando, queria apenas absorver tudo como uma esponja, e digerir tudo com muita calma, mas, como sempre, o destino me coloca em situações incríveis. Após passar um dia péssimo, sem querer colocar os pés na rua, acordei e segui para o lago sagrado na cidade de Pushkar, na Índia; toda aquela névoa, o nascer do sol, os devotos tomando seus banhos no lago, com todos os seus rituais, tudo me fez sentir em uma viagem de ácido e eu pressentia que aquele dia seria meu dia mágico. Na minha mochila, sacos de alimentos que eu estava carregando para comer com pessoas que viviam na rua por não terem uma casa ou apenas por quererem viver ali, sem nada material, apenas pouca comida, meditação e muita devoção... Estou andando às margens do lago quando, no topo da escadaria, um homem me chama e ao seu redor surge um pequeno grupo de sadhus, quase nus, apenas vestidos de cinza e longos dreadlocks. Sentei-me com eles, com o coração quase saindo pela boca, e por ali fiquei o dia todo. A mesma curiosidade que eu sentia, via nos olhos daqueles magros

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mundo afora De Freak Garcia a Garcia Leonan

Por 11 anos, trabalhei como piercer e por algum tempo, atuei com freakshows, como um trabalho secundário, mas dentro da mesma área. Após começar a tatuar, fiz algumas viagens pela América do Sul, passando pela Bolívia e Peru, experiência que acabou virando minha vida de cabeça para baixo. Continuei sendo Freak Garcia ainda e por algum tempo, mas o envolvimento com o Xamanismo e outras mudanças em minha vida me fizeram mudar naturalmente meu estilo de vida. Acabei passando a usar só meu segundo nome, Garcia, e, após algum tempo, Garcia Leonam. Uma grande amiga estava escrevendo um livro, e de uma certa forma estava me usando como referência para um dos personagens. Então, ela pediu minha opinião sobre como eu gostaria de ser chamado na obra, na mesma hora, me veio Leonam (o nome do livro é Pouco Tempo, escrito por Michely Cantagalo). Uma vez que minha vida já estava completamente diferente, literalmente de cabeça para baixo, acabei invertendo a ordem do meu nome, e agora me sinto o inverso do que era há cinco anos, um anagrama com meu próprio nome, mostrando que toda mudança em minha vida se encaixa perfeitamente no que eu sou hoje e no que eu era antes. sadhus, a comunicação era lenta e, às vezes, era tomada pelo silêncio que quase sempre era quebrado pelo sadhu mais velho, entoando mantras. Como forma de agradecer tudo aquilo, acabei tatuando um deles, na beira do lago, em sua escadaria, apenas com agulha e um pouco de tinta, eu não precisava de mais nada e, se sentisse falta de alguma coisa, era só olhar ao meu redor; nesse dia, senti que nunca fui um tatuador de verdade antes, pois nunca tinha passado por uma experiência desse tipo, esse foi meu ritual de passagem como tatuador e como ser humano. Nunca encontrei tanta felicidade trabalhando em um estúdio ou atuando em uma grande convenção, fui encontrar sentado no chão do outro lado do planeta. Difícil voltar e ver todo mundo em suas guerras de ego, todos querendo ganhar prêmios, e mostrar tudo que o dinheiro pode comprar; para muita gente, tatuar virou uma profissão e para mim isso é triste. Todos querem ser e saber tudo, você entra no estúdio e se sente naquelas pequenas espeluncas que vendem todo tipo de coisa, você muda de loja e é a mesma coisa, todos com seus uniformes e cara de menino mau ou você simplesmente é atendido por um vendedor.

Sempre que me perguntam: Qual sua profissão? Respondo com um sorriso no rosto: Não tenho uma profissão..., sou tatuador.

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depoimento

“Nossa, você deve ser muito corajosa mesmo para se encher de tatuagem tendo uma filha para criar” Por Shann Almeida • Foto Gustavo Franco

S

ou de uma família bem convencional, e sempre fiz tudo como manda o figurino, esperei até os 18 anos para fazer minha primeira tatuagem, morava no interior do RS, há quase 10 anos atrás e lá o mundo gira mais lento. Para muitos, naquela época, era um grande feito de rebeldia minha Hello Kitty tatuada nas costas, de mais ou menos 10 cm. Para mim, era linda, minha amiga Franci fez uma também no mesmo local. Estávamos radiantes. Hoje, é só uma tatuagem que traz boas lembranças da adolescência e me causa riso, rio de mim mesma, afinal, quem com bom-senso tatuaria uma Hello Kitty? Enfim... Confesso que tenho carinho por ela e precisarei trabalhar o apego caso resolva um dia cobri-la. Depois dessa, vieram muitas outras, cada uma trazendo uma história, carregando em traços e cores as fases da minha vida. A relação que desenvolvo com meu corpo, a forma como entrego minha pele aos artistas nos quais confio, a dor, o barulhinho da máquina, a ansiedade para ver pronta, o nervosismo que sempre dá, mesmo que seja minha 20a tattoo, o cansaço muscular após uma sessão longa, a empolgação... e, finalmente, a recompensa ao olhar no espelho e me sentir mais bonita, me sentir mais próxima de mim mesma, expor meus sentimentos em cores estampadas gritando para o mundo, ou gritando apenas para mim, às vezes, querendo dizer muito, às vezes, não querendo dizer nada, apenas satisfação pessoal. Não tem preço, não tem preconceito, nem julgamentos que me façam crer que há algo de errado em ser tatuada, afinal, tive de ouvir de uma senhora no mercado a seguinte afirmação, com tom de indignação: “Nossa, você deve ser muito corajosa mesmo para se encher de tatuagem tendo uma filha para criar”. Não tentei me justificar, nem defender que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Minha resposta foi pegar na mão da minha filha e sair andando tranquilamente em silêncio... E já pensando na próxima tatuagem...

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capa

Higashi Por Daniela Carrara • Fotos Rafael Beck

Antes de trabalhar no Led’s Tattoo, um dos estúdios mais conhecidos do Brasil, Akemi Higashi teve seus dias de luta. Vinda de São Joaquim da Barra, uma pequena cidade do interior paulista, se apaixonou por uma tatuagem nas costas de uma garota, que, por coincidência, havia sido feita pelo Led’s. Mudouse para Ribeirão Preto e lá fez de tudo um pouco para sobreviver, trabalhou como vendedora de surf shop, como segurança de casa noturna, até que foi atrás de algum tatuador para começar a saga da tinta na pele. Acabou conhecendo o Márcio, o David, a Lika e o Paulo e fez várias tattoos com eles até que começou a entender como tudo funcionava, chegando inclusive a fazer faxina no estúdio para ganhar tatuagens e aprender um pouco. Depois disso, seu gosto pela arte aguçou ainda mais, e ela foi atrás de ensinamentos que pudessem agregar conhecimento ao que seria, mais tarde, seu estilo de vida!

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capa Quem foram as pessoas que a influenciaram a seguir essa profissão? Com certeza, foram as pessoas com quem tive os primeiros contatos que me influenciaram diretamente. O Márcio, principalmente, pois foi ele com quem tive mais contato nesse período e, apesar da distância, hoje em dia, sempre foi um grande amigo. Quem você considera seu principal mentor? Atualmente, tenho meu mestre de pintura japonesa Kaoru Ito, que me orienta e me ajuda muito na tattoo. Também tenho os meus companheiros de trabalho no Led’s que me ajudam muito, principalmente o Mauro Nunes, que sempre me dá uns toques valiosos. O Mordenti, que hoje é um grande amigo, me ensinou muito e me colocou em contato com pessoas que foram importantes no meu aprendizado, como o Paulo Fernando da Electric Ink. O Sérgio Maciel (Led´s) sempre me ensina muito na parte humana, e me fez entender que a disciplina é fundamental na vida. Além do seu talento, ao que se deve você ter se tornado tão popular e tão requisitada? Não me acho popular, mas acho que hoje tenho uma cartela de clientes muito bacana, pois estou sempre empenhada em fazer o melhor por todos, não só na parte artística, como na humana, também. Considero-me privilegiada por poder fazer o que amo e viver disso. Minha gratidão eu devolvo aos meus clientes com atenção, cuidado, entendimento e acho que isso sempre dá frutos e traz novos clientes. Hoje em dia, tenho vários amigos que uma vez foram apenas meus tatuados e hoje fazem parte da minha vida. Com certeza, trabalhar num estúdio do porte do Led’s Tattoo ajuda muito. Como você começou a trabalhar no Led’s Tattoo? Eu estava me mudando para São Paulo e precisava de um trabalho que me desse segurança e estabilidade financeira, pois tenho filhos que crio sozinha. Com incentivo de um exnamorado, o Teté, fui até o Sérgio Maciel com um portfólio e expliquei para ele minha situação. Alguns dias depois, ele me chamou e estou lá há oito anos. Como foi recebida pela equipe e como é sua relação com os outros tatuadores? A princípio, acho que o pessoal estranhou um pouco, afinal, nunca houve nenhuma mulher tatuando no Led’s. Eu não

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era uma tatuadora conhecida, era bem nova por sinal, mas em pouco tempo as coisas melhoraram muito. Sinto-me muito confortável trabalhando só com homens, possuo a sensação de trabalhar de igual para igual e tenho uma ótima relação de amizade com todos. São minha família mesmo. Passamos mais tempo juntos do que em nossas próprias casas. Aprendo muito vendo-os tatuar, e é um incentivo para eu melhorar tecnicamente. O mais legal é que aprendi muito sobre o universo masculino e hoje consigo entender e aceitar coisas que a maioria das mulheres jamais entenderia. É bem divertido trabalhar no Led’s, são risadas o tempo todo. Como você aprimora suas técnicas e adquire novas experiências? Observando se aprende muito e também por meio de livros. O pessoal aqui no estúdio tem muitos livros legais de referências, isso é fundamental. Fui para a Europa uma vez e tive a oportunidade de ver e me tatuar com Filip Leu, um entre grandes nomes, que considero os melhores. A simplicidade com que ele tatua e leva sua vida me fez entender muitas coisas sobre tattoo. Acho que as pessoas fantasiam muito e vivem inventando um monte de coisas novas, só a essência da tattoo é o que importa de verdade. A simplicidade é o que vale. Em breve, farei outra viagem a trabalho e quero aprender muito e trazer muitas referências. Como é a relação com seus filhos? Como eu tive de ser mãe e pai ao mesmo tempo, sou uma mãe brava, atenciosa e superprotetora. Meus filhos são ótimos garotos e me ajudam muito em tudo, como nas tarefas de casa, e são muito independentes. Meu filho Diego, de 12 anos, sabe até cozinhar. São ótimos alunos e muito interessados no meu trabalho. Tenho certeza de que Deus os mandou para cuidarem de mim. Minha relação com eles é algo que não dá para explicar com palavras, só quem convive conosco sabe o que é. O que eles acham de ter uma mãe tatuadora? Adoram, já tatuei professores e pais de amiguinhos deles, inclusive. Como é sua rotina? Trabalho muito, de domingo a domingo. Acordo cedo, mando meus filhos para a escola, vou para o estúdio às 11 horas e tatuo até às 20 horas. Treino jiu-jítsu quatro vezes por semana, das 9 às 11 horas da noite, e faço aula de pintura e desenho


Akemi Higashi

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capa todas as quintas. À noite, quando chego em casa, cuido da casa, faço tudo, desde cozinhar até limpar e passar roupa. É bem corrido, só tendo uma vida regrada e muita disciplina para dar conta do recado. Como você concilia sua vida profissional e sua vida pessoal? Minha vida pessoal está agregada à profissional. Meus filhos estão sempre no estúdio comigo e passo a maior parte do tempo lá, portanto, todos sabem o que se passa comigo no dia a dia. Você já pensou em abrir seu próprio estúdio? Já tive um estúdio no início de tudo, e decididamente, não nasci para administrar nada. Mal consigo cuidar das

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minhas contas pessoais, portanto, prefiro trabalhar no de alguém e ter pessoas para segurar as buchas (risos). Se você não tivesse se tornado uma tatuadora, o que você estaria fazendo? Amo moda e cinema. Talvez, estivesse fazendo direção de arte, que é algo que tenho muita vontade. Além de tatuar, quais outras atividades você pratica? Faço pintura japonesa, pinto quadros por encomenda, faço trabalhos como modelo para publicidade e treino jiujítsu. Acima de tudo isso, sou mãe... akemitattoo@msn.com www.ledstattoo.com.br


Akemi Higashi

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destaque

SÉRGIO Maciel

“led´s” Por Alessandro Carvalho • Fotos Ricardo Kafka

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Led´s Sérgio Maciel, conhecido também por Led’s, começou a tatuar em 1983. Desde pequeno, teve contato com as artes por meio da pintura e sua primeira experiência com a tatuagem foi em 1975, através do processo primitivo de amarrar a agulha para introduzir o pigmento na pele, no estilo bem rudimentar da época. Dono de um dos maiores e mais respeitados estúdios do Brasil, passa seu tempo administrando seus negócios e dedicando-se à arte.

N

o início, não se interessou muito pela tatuagem, mas, após alguns anos, teve contato com a tatuagem artística, isso no princípio dos anos 1980, quando ficou fascinado pela gama de detalhes que um trabalho deste tipo de tatuagem podia conter. Seu começo foi bastante difícil, pois existiam poucos tatuadores e estúdios. Somente no Rio de Janeiro, ele conseguiu adquirir sua primeira máquina de tatuar e tinta. A partir daí, Sérgio começou suas experiências tatuando animais — peixes de couro e pele de porco —, sempre desenhando bastante

para aperfeiçoar seu traçado. Na época, era muito difícil aprimorar os trabalhos, diferentemente dos dias atuais que, com a globalização e a internet, é possível ter acesso ao mundo todo, com uma vasta gama de referências; então, naquele tempo, seu aprendizado se deu por meio desses animais com pele propícia à tatuagem e pelos seus estudos e treinos na área do desenho. Suas influências sempre foram os melhores artistas, mais dedicados e comprometidos com a arte. Nas pinturas, Led’s absorveu o conhecimento de grandes mestres como Mi-

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Led´s e sua filha Amanda (arquivo pessoal)

destaque

chelangelo, Rafael, Leonardo da Vinci, Caravaggio, Boris Valejo, Cris Achileos e muitos outros gênios da arte. Na tatuagem, Don Eduard Hardy lhe trouxe a possibilidade de conhecer os trabalhos orientais e os de muitos outros tatuadores, como Kari Barba, Duchman, Paul Jeffries, Maurício Teodoro, Fillip Leu, Mick (Zuric) Zoio, Júnior e Mordenti. Led’s define seu trabalho como uma grande revelação de sua própria alma, pois o que faz é com amor e dedicação, como tem feito em toda sua vida, priorizando a qualidade e o respeito às pessoas. Devido ao preconceito da época, uma necessidade de mudanças fez com que Led’s arregaçasse as mangas e batalhasse em prol da tatuagem, o que revelou sua veia empreendedora e fez com que suas atitudes e os consequentes acontecimentos de sua vida o levassem a uma carreira de sucesso dentro da tatuagem e em nossa sociedade atual. Segundo ele, ainda falta muito: o profissionalismo precisa evoluir continuamente, assim como tem sido, e é isso o que tem feito crescer a arte da tatuagem. Além disso, a tatuagem é uma arte progressiva e sempre haverá algo para

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Led´s

evoluir e realizar dentro de seu contexto. Ele sabe que falta vencer muitos desafios e obstáculos, mas acredita que são as dificuldades que o fazem crescer e evoluir como profissional e como pessoa. Assim como em sua vida profissional, Sérgio busca sempre o caminho do meio que é o mais sensato para a resolução de uma situação e, em suas horas, vagas procura o autoconhecimento — faz meditação, corre, cuida da saúde, viaja e se dedica a tudo o que a vida lhe oferece em busca de sua paz. Para ele, a tatuagem significa arte pura, realização pessoal e sua vida. Sérgio nada mais é que um batalhador, uma pessoa feliz por poder estar neste mundo e realizar tudo aquilo que a vida lhe proporcionou. Não é por acaso que seu apelido é Led’s (Luz), um iluminado que pode retribuir à tatuagem tudo o que ela lhe deu de presente.

Led´s, sua esposa Valéria e Carlos

www.ledstattoo.com.br

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Marcelo Smash Dermografite - SC

referências

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referências Phernandu Nunes Náutica Tattoo - SP

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Phernandu Nunes Nรกutica Tattoo - SP

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referências

André Felipe New Look Tattoo - MG

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André Felipe New Look Tattoo - MG

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referĂŞncias

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Ticano Ticano Tattoo - ES

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referĂŞncias

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Marcelo Smash Dermografite - SC


perfil

phernandu nunes Por Daniela Carrara

A conquista por um lugar ao sol veio bem devagarinho. Nascido na cidade de Itu, interior paulista, Phernandu (com Ph e u), como resolveu se intitular para ficar diferente dos outros “Fernandos”, desde cedo já tinha certa aptidão pela arte. A coisa foi ganhando forma até que resolveu ir atrás do que tanto gostava. Mudou-se para São Paulo e, como a maioria dos tatuadores, passou por diversos estúdios até achar seu caminho, atualmente em Santos, na Náutica Tattoo. Início Cresci ouvindo bandas com caras tatuados, “caroçando” nos estúdios de tattoo e assistindo ao Popeye. Tinha que dar nisso. O início foi difícil, morava no interior de São Paulo, lá há muita concorrência pelo fato da cidade ser muito pequena, então nenhum tatuador está aberto a lhe tirar dúvidas ou ensinar algo. Na época, a internet era limitada, os materiais eram horríveis e a tatuagem não estava tão re-

conhecida como hoje. Mas acredito que isso só vem ajudar a valorizar tudo que conquistei até hoje. Sou muito grato ao Gonta, que me ajudou no início, e à Náutica Tattoo, que abriu as portas para mim há quatro anos, e que até hoje me trata como um membro da família. Profissão O que me incentivou a seguir nessa profissão, com certeza,

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perfil

foi o prazer que tenho em tatuar. Nunca continuei em um trabalho por mais de dois anos, sempre havia insatisfação. Hoje, sou feliz, completo e realizado fazendo o que faço. Estilo de tatuagem Acho que ando de mãos dadas com o tradicional americano, o neotradicional e com umas pitadas do bom humor e carisma brasileiros. Rotina de trabalho Tatuar, desenhar, estudar muito para evoluir. Mudança de cidade Na verdade, a vida sempre me levou para onde ela quis, eu nunca digo não para as portas que se abrem. Fui para São Paulo por acaso, vim para Santos assim também, foram oportunidades que não podia perder. Do contrário, eu viveria a vida toda me perguntando se teria dado certo. Vantagens São Paulo sempre será minha inspiração, costumo dizer que a cidade “fede à arte”, sempre encontro algo nouveau, algo que vai me influenciar, estar em São Paulo é como garimpar ouro. Morei cinco anos na capital paulista e estou há quase quatro em Santos, que hoje é meu lar, onde vivo

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com minha esposa e onde tenho alguns amigos. Aqui tem tranquilidade e muito trabalho. As coisas que o mar arrasta para a terra me atraem; a tatuagem chegou ao Brasil por este porto, a história da cidade é repleta de lendas e descobertas. Influências Tópico difícil, mas acredito que tudo é influência, desde a música que eu ouço, até as pessoas com quem converso, e as coisas que vejo. Música está sempre no meu dia a dia; para desenhar, gosto de música instrumental, também piro ao ouvir as histórias de mil novecentos e bolinha, que os tiozinhos contam, especialmente as histórias daqui da baixada, e sou apaixonado pelas construções históricas e antigas. No final do dia, misturo tudo isso com papel e tinta e durmo sabendo que meu dia foi completo. Artistas Da nova escola, Annie Frenzel, Jim Sylvia, Amy Williams, Angelique Houtkamp, Eckel, Jack Mosher, meu amigo Don Chuck Carvalho, os clássicos Bert Grimm, Stoney St. Clair, Lee Roy Minugh e o cara que deu carinho e arte-final a tudo: Sailor Jerry. www.facebook.com/cykel6 www.phernandu.com


Phernandu Nunes

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free hand com Dorme

1. Com uma caneta de tom claro, faço um esboço para posicionar os elementos que serão desenhados e farão parte da composição do desenho. 2. Com uma caneta preta, defino os objetos através dos traços, compondo o desenho que será tatuado. 3. Com canetas coloridas, preencho com as cores que cada objeto terá para que se tenha uma noção final da tatuagem. 4. Uma vez estabelecido os objetos, traçado e cores de cada elemento, começo a tatuar fazendo a marcação através das linhas principais do desenho.

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5. Removo todo o desenho feito com caneta para que fique somente o traçado aplicado. 6. Faço todo o preenchimento que leva a cor preta e também as sombras dos objetos. 7. Aplico as cores que tinha estabelecido no início com as canetinhas e está pronto o trabalho.


tatuagem 3D com Robson Santos

Tatuagem Caveira mexicana O pedido do cliente era uma caveira do “dia de los muertos”, ele me deixou livre para criar o desenho, então tentei dar um ar mais sombrio ao utilizar uma referência fotográfica do crânio, contrastando com flores mais planificadas. Para isso, usei agulhas de 7 e 15 Magnum e traço de 7. Comecei pelos traços, na parte de fora, modelei uma linha mais robusta para marcar a flor e, na parte interna, linhas mais finas. A partir daí, comecei a trabalhar a parte linear do desenho de filigranas, em seguida, fui colorindo, começando pela parte sombreada de preto e entrando com as cores. Para as partes das sombras, utilizei azul e cinza e, para as partes de luzes, utilizei vários tons de amarelo mesclado com branco. Deixei as partes de luz mais intensas para, no final, utilizar o branco puro. Nas flores, utilizei azul claro e um tom de azul com verde, para não fugir da harmonia cromática do conjunto.

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do lado de lá

katerina volkova

K

aterina nasceu na Rússia e se formou em artes, com especialização em design, e lá, a atividade de ser tatuador não é considerada oficialmente uma profissão quando comparada com outros trabalhos, ainda assim, a tatuagem vem se desenvolvendo de uma forma rápida atualmente. Todos os anos, surgem novos artistas com grandes talentos, talvez por conta do processo de aprendizagem ser bem mais rápido, pois existem muito mais referências de mestres que trabalharam no passado. Quando começou a tatuar, se inspirava nos trabalhos de Oleg Turyanskiy. Com o tempo, foi conhecendo outros grandes mestres cujos trabalhos aprecia muito, como por exemplo: Joshua Carlton, Dmitriy Samohin, Tommy Lee Wendtner, Bez Triplesix e muitos outros.

“Desejo a todos os artistas do Brasil muito sucesso, criatividade e Por Daniela Carrara progresso constante. Suas tatuagens são verdadeiras obras E para aqueles que de arte estampadas na pele! Katerina, ou querem ser tatuadores, Mikky, como é conhecida, tem pouco tempo em primeiro lugar, que de profissão e já consegue representar escolham seus caminhos tão bem esta arte, que, para muitos, é um incansável aprendizado. Em 2005, quando com extremo cuidado, principalmente, os estilos era apenas uma menina, com 16 anos de idade, se interessou pela tatuagem e, como de tatuagem com que mais a maioria dos tatuadores, começou fazendo se identificam para que possam atender melhor pequenos trabalhos. No início, não gostava muito de realismo, pois na época o estilo não seus clientes e apresentar era muito popular na Rússia, seu país de de uma maneira mais origem, diferentemente de hoje em dia, que consistente sua arte.” a tatuagem realista se tornou muito popular, juntamente com o old school.

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www.tattoobunker.ru


Katerina Volkova

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do lado de lรก

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Katerina Volkova

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sonora

slim rimografia & Thiago Beats Por Stefanie Gaspar • Foto: Tiago Rocha

Em um cenário em que o hip hop é cada vez mais importante, conquistando espaço na cena mainstream e mantendo sua influência na formação da cultura underground, é essencial ficar de olho em artistas que consigam trazer novidades ao gênero. E é exatamente o que Slim Rimografia faz em seu novo disco, Mais que Existir.

E

m seu terceiro trabalho, Slim e Thiago Beats trazem composições que se destacam por sua originalidade e pela capacidade de unir melodias contagiantes a letras inteligentes e engajadas. Se, no rap, o comum é privilegiar a letra e trabalhar com uma base mais tradicional, Slim Rimografia faz questão de dar atenção a ambos os elementos, criando um disco que combina letras coerentes com uma musicalidade mais ampla. “Eu coleciono muitos LPs, e tenho um pouco de tudo, do jazz ao brega. E ouvir coisas diferentes foi o que abriu minha mente e quebrou meus preconceitos. Rap é ritmo e poesia, e não pode ser definido por um tipo de batida específica”, afirma Slim.

Por Dorme

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Mais Que Existir traz 17 faixas que reúnem influências de jazz, soul, bossa e funk, equilibrando esses estilos com o teor engajado das letras. Neste álbum, a intenção é expor preocupações políticas e sociais sem pregação ou demagogia. “As letras te fazem refletir, se questionar, mas não são sermões. É como se a letra te pegasse na veia e o ritmo, nos quadris”, afirma Thiago Beats. O álbum começa com “Honra ao Meu Mérito”, que ao som de um piano delicado traz o poeta Sérgio Vaz, criador do Cooperifa, anunciando o elemento que define a personalidade do disco: a vontade de não se contentar com pouco. “Quero me perder e não quero saber o endere-


Slim Rimografia & Thiago Beats ço. Quero não reconhecer o que vejo. Quero aprender do começo. Quero é ser estrangeiro de mim mesmo. Não quero endereço fixo, nem casa, já tenho a lua que a noite me persegue. Não quero mais pés: quero ter asas”, declama ele. A letra continua: “Hoje derrota é tão comum. Vitória sempre traz buchicho. Um preto incomoda

“As letras te fazem refletir, se questionar, mas não são sermões. É como se a letra te pegasse na veia e o ritmo nos quadris” mais num carro de luxo do que jogado numa lata de lixo”. Mais Que Existir ganha um tom mais conciliador com Me Sinto Bem, que fala sobre conseguir seguir em frente mesmo com poucos bens materiais e com dificuldades cotidianas. Mas o intervalo é pequeno - logo, em seguida, a música “Epifania” continua a luta por uma realidade mais justa. “Morre mais gente na favela que em campo de concentração, tem sangue em cada nota que você pega na mão”. Em “Missão”, que conta com a participação do rapper Kamau, Slim Rimografia e Thiago Beats mostram que mesmo em um país com cada vez mais recursos e oportunidades, o difícil é fazer com que a sociedade olhe para aqueles que vivem na marginalidade, longe da mídia e do olhar público. Em uma situação como essa, só resta olhar para frente e exigir que a sociedade lhe dê o que é de direito: igualdade. “Pra quem pensa pequeno, qualquer migalha é banquete, vitórias vão além de medalhas que ficam de enfeite. Pior do que não ter dinheiro é não ter perspectiva”. www.srtb3.com

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cidadão INcomum

A

ntes, era algo incomum de se ver, no princípio, em tribos indígenas e, depois de muito tempo, em marinheiros e presidiários, e era discriminada pela sociedade. Atualmente, tudo é diferente e antes o que era marginalizado, agora, é algo comum e, ao contrário do passado, a tatuagem pode ser vista por todos os lados. Para qualquer canto que se olhe, você encontra uma, seja grande, bem aparente ou bem discreta, ela está difundida dentro de nossa sociedade nos cidadãos comuns. Pessoas comuns em que esbarramos todos os dias em qualquer lugar e em qualquer profissão, assim como nesta seção em que apresentamos as pessoas comuns no seu dia a dia, carregando marcas escolhidas com algum propósito, que transformam as pessoas mais singulares. Participe você também deste espaço. Mande suas fotos para tattoodigital@gmail.com e quem sabe você possa estar na próxima edição, afinal, assim como todos nós, você também é um cidadão iNcomum.

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DodiMoser

linz/テ「stria 30 anos

Foto: Thorsten Urschler

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cidadão INcomum

Daniele Fiali Armelini

Assistente administrativa santo andré/brasil 24 anos 11 tatuagens Foto: Tatiane Mithy

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Rafael Cassaro

tatuador santo andré/brasil 29 anos 11 tatuagens

Foto: Tatiane Mithy


Nina Holy pin up, modelo e estudante Varsóvia/Polônia 24 anos 9 tatuagens foto: Piksson

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cidadĂŁo INcomum

Cilas Regozino analista de processos goiânia/brasil 24 anos 24 tatuagens

Foto: luciana faria

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Jéssica Braga Caridá Relações Públicas São paulo/brasil 35 anos 7 tatuagens Foto: Ed Kanno

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cidadĂŁo INcomum

Marilia Skraba

Dona da marca Sundae Inc curitiba/brasil 27 anos 15 tatuagens Foto: Andre Nisgoski

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Fernando Shimizu

tatuador, modelo e dj SĂŁo paulo/brasil 33 anos 9 tatuagens Foto: Fernando Mazza

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cidadão INcomum

Simone Horner

bartender frankfurt/alemanha 27 anos 8 tatuagens Foto: Peter Hähnel

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Flávia Copette departamento financeiro são carlos/brasil 26 anos 6 tatuagens Foto: Ton Fortes

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pit stop by Zupi

Abasteça com ideias Na nossa estreia por aqui, apresentamos a pangeia cultural do artista Fernando Chamarelli. Já nesta edição, a Zupi propõe uma viagem ao mundo sombrio do tatuador Paul Booth. Aperte o cinto.

revista Rolling Stones como o “rei das tatuagens do rock”. Paul contou à Zupi que, quando era mais novo, sentia-se isolado, então, passava horas sozinho, em casa, desenhando cenas do que gostaria de fazer com as crianças que odiava na escola. Como era um desastre com as palavras, comunicava-se melhor com as imagens e, em meio às diversas cores da cartela de giz de cera, o menino Paul sempre escolhia o preto. Ao abrir seus cadernos rabiscados na segunda série, caveiras e monstros eram os desenhos encontrados. Se ele pudesse escolher um corpo para tatuar, seria o de Caravaggio. Mesmo sendo mais reconhecido como tatuador, Booth é pintor há mais tempo: “Deparei-me com o

mundo dizendo que eu não era um verdadeiro artista porque trabalhava com pele. Como eu odeio quando me dizem que não posso ser algo, resolvi provar ao mundo que quem faz tatuagem é, de fato, artista.”

A popularização da tattoo, para ele, é inevitável, já que “o governo nos faz sentir números, de modo que parece que a fronteira final para a liberdade de expressão é a tatuagem”, comenta. Ao questioná-lo sobre temas que ele

Paul Booth e suas risadas maléficas

Vivendo no lugar contrário ao reino onde moram as fadas e duendes está o norte-americano Paul Booth. Membro da sinistra Last Rites Tattoo Theatre, estúdio nova-iorquino que mais parece um castelo de filme de terror, o tatuador ficou famoso por sua estética obscura, muito procurada por músicos de bandas como Splipknot e Pantera. Por essas e outras, o cara foi batizado pela

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Paul Booth não retrataria, de cara, citou o Cristianismo. Paul não faz retratos de Cristo, a não ser que ele esteja sofrendo. O tatuador atribui o pensamento ao fato de ter estudado em uma escola católica e ter sido “infernizado” pelas freiras que o educaram. As dimensões e as texturas das tatuagens deste artista impressionam. Ele não enxerga a pele apenas como uma superfície qualquer, mas sim como uma janela. Gosta de brincar com luzes dramáticas, pois elas tendem a valorizar o contraste da imagem, mesmo com as variáveis do tempo. Por fim, se ele fosse uma tatuagem, disse-nos que seria um tipo híbrido de leão ou réptil, com dentes afiados e pontiagudos, que ficariam perfeitos junto a uma juba de dreadlocks e seis braços. Asas, visão de raios X e uma capa preta não faltariam.

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botando em pauta

Modelo: Angelina Manolo

O BARATO SAI CARO, MAS DE QUEM É A

CULPA? Por André Tenório

O

Brasil é um celeiro de grandes artistas, todos sabem o respeito e a visibilidade que os tatuadores daqui têm pelo mundo, mas, se é assim, o que faz, ainda hoje, com tanta informação, as pessoas tatuam-se com “profissionais” não capacitados? Preço? Temos vários exemplos em postagens na internet de comparações de trabalhos de verdadeiras obras de arte e seus respectivos valores, lógico que o valor de uma tattoo de alto nível é alto, mas será que não vale o investimento? De onde saiu tamanha quantidade de tatuadores em nosso país? Hoje, é muito fácil ser “tatuador”: pela dificuldade em encontrar emprego formal, a pessoa cansa de estudar, o camarada sabe desenhar relativamente bem, então abre uma revista ou site em que encontrará ofertas de kits de equipamentos para tatuagem geralmente com materiais de baixo custo e baixa qualidade, faz o depósito, recebe o kit mágico em sua casa pelo correio e aí está mais um tatuador no mercado. Mas ser um profissional da tattoo não é isso, meus caros, não basta ter um equipamento se você não sabe como usá-lo e nem sabe identificar se é de boa qualidade. Não basta saber desenhar se o cara não sabe passar para a pele. Não basta ouvir elogios de meia dúzia de vizinhos, muito menos acreditar que não precisará mais estudar, pois tatuagem, além de arte, também é parte da estética, saúde e autoestima de cada cliente, e a responsabilidade disso é enorme, exige dedicação e, sim, muito estudo. Os clientes geralmente acreditam no profissional, não pesquisam com calma os trabalhos, e o parâmetro de comparação fica mais difícil quando a maioria dos estúdios briga pelo PREÇO, deixando a QUALIDADE de seus trabalhos de lado, quem já não escutou o cliente falar: “Ele fez um bom trabalho em um conhecido meu, mas na minha ele errou”. Baladas, roupas, sapatos, muitas vezes, também são caros, tanto ou mais que as tattoos de alto nível, só que com uma diferença, as baladas acabam, roupas e sapatos rasgam ou, se não ficarem realmente bons, você joga fora ou dá para alguém, mas a tattoo... ahhh a tattoo, essa é para TODA A VIDA!

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Antes

Depois


du peixe

E nos caminhos da vida... Hoje, escrevo sobre a caminhada da vida e os seus reencontros. os anos 1990, conheci um japonês que, na época, era magrelo, cabeludo, estilo revoltado com a vida, skatista, morador do mesmo bairro que eu. Nos cruzamos algumas vezes nesse tempo pelas ruas do bairro e, além do amor pelo skate, tínhamos alguns amigos em comum. Jamais imaginaria reencontrá-lo da maneira que o reencontrei, mais velho, forte, quase careca, mais calmo e mais centrado. Oras, o que teria acontecido com aquele japinha revoltado dos anos 1990? Tatuagem era a resposta!!! Beto ou Ike Padang Tattoo, como é conhecido hoje, se transformou em um profissional tatuador, dedicado, estudioso e sensato. Reencontrei-o por intermédio do skate e logo a amizade se fortaleceu, em virtude, acredito, das afinidades pelo mundo da tattoo e do skate, a parceria estava armada, baladas, ideias e ele me ofereceu uma tatuagem. Presente aceito, fui conhecer o estúdio e receber a arte dele na pele. Tinha uma vontade imensa de tatuar uma carpa negra no corpo, ele, que tem uma certa afinidade por desenhos orientais, não pensou duas vezes e mandou ver na criação e execução da tattoo.

Andre Peixe tem os apoios: Rcsskt, Midia Skate e Esze

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N

Por André Peixe


visitando

Se você procura materiais artísticos voltados para a prática de desenho, vai a dica! No Fruto de Arte, você encontra tudo de que necessita, desde produtos para desenvolver desenho e caligrafia até artesanato. Além de itens para trabalhos artísticos, você encontra também uma grande variedade de referências para a arte, em livros e revistas. Situada no centro de São Paulo, o Fruto de Arte é de fácil acesso para quem mora ou está de passagem pela cidade; mas não se preocupe se você não está nas proximidades porque as compras podem ser feitas através do site www.artcamargo.com.br.

Fotos: divulgação

fruto de arte

Fruto de Arte www.frutodearte.com.br Rua Marquês de Itu, 320 Vila Buarque, São Paulo, SP tel. (11) 3222-6550

Lado B é uma das escolas mais completas com cursos para quem quer se aperfeiçoar no ofício da tatuagem e desenvolver toda a parte técnica da profissão, desde os princípios mais primários de desenho até as técnicas mais complexas de aplicação da tinta sobre a pele. As oficinas de desenho são oferecidas a alunos dos mais variados níveis de instrução, não sendo necessário nenhum conhecimento prévio para participar do curso, visto que o coordenador segue individualmente o aprendizado de cada participante. Já os cursos de tatuagem são ministrados por especialistas que dominam a técnica da tattoo, compartilhando suas habilidades e aprendizados na tatuagem profissional com tatuadores que queiram evoluir, mantendo a continuidade de seus estudos. Além de cursos voltados para a prática de desenhos e tatuagens, a Lado B ministra aulas de pintura e body piercing. Lado B www.ladobestudio.com Rua Dr. Rafael de Barros, 9 - Sala 5 (entre o Metrô Brigadeiro e Paraíso) Paraíso, São Paulo, SP tel. (11) 3051-3806

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Fotos: André Peixe

lado b


artisticamente

o mundo pictórico de ERICA MIZUTANI Projetos personalizados pela artista plástica Erica Mizutani recriam universo das pinturas e ilustrações Por Jô Takahashi • Foto: Marcos Suguio

“Uma profusão de cores e formas. Traços que passeiam sem preconceitos por referências ocidentais e orientais.”

O

mundo pictórico de Erica Mizutani transita por seres que habitam as nuvens, a superfície de um pequeno planeta, ou mesmo, o ar. É neste pequeno espaço cósmico em suspensão que o lirismo de Mizutani aflora. Sim, a flora: seu lirismo lembra ninfeias, cogumelos, seres híbridos que flanam e flutuam sem se preocupar com os apegos da gravidade. Essa foi a razão para que as ilustrações de Erica passassem a povoar também o universo Jojoscope. Para traçar a conexão Brasil-Japão e transitar pelas artes e culturas tão distantes e diferentes, é imprescindível o desapego a rotas pré-concebidas. É com este espírito de leveza que convidamos os leitores a conhecerem mais o mundo de Erica Mizutani. www.ericamizutani.com.br

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artisticamente

o artista multimídia O artista Celso Mathias é o que podemos chamar de “artista multimídia”. Transitando entre ilustrações publicitárias, painéis, capas de livros, de Cds e Arte fantástica, tem uma bagagem profissional que reúne exposições e prêmios no Brasil e no exterior e a característica marcante de estar sempre buscando novos horizontes para a sua arte.

A

Halloween • digital

rtista plástico há mais de 25 anos, começou a sua trajetória colaborando com histórias em quadrinhos para a extinta editora Vechi. Não demorou muito a ingressar no circuito de galerias de arte. Com 18 anos, já expunha seus trabalhos ao lado de pintores consagrados. Passou a fazer parte de acervos importantes de colecionadores brasileiros. Com seu temperamento inquieto, abriu os braços de seu estilo para outros segmentos da arte, ganhando vários prêmios e o reconhecimento de artistas renomados. Seus quadros já apareceram em várias mostras, entre elas, em 2004, na “CASA DA MATRIZ”, em 2005, no “TATTOOZONE RIO FESTIVAL (RJ)”, e, recentemente em 2011, no “6º SÃO PAULO TATTOO FESTIVAL”.

“Não busco perfeição e sim a minha total expressão.”

Luz • óleo sobre tela

Renascence • Óleo sobre tela

www.celsomathias.com www.artedecelsomathias.blogspot.com celsomathias@celsomathias.com

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de Tesouros

eis a questão

Uma galeria móvel Por Monique Peres

(É o que somos!!)

Foi assim que Ray Bradbury descreveu em seu livro chamado O Homem Ilustrado, de 1951.

“Quanto ao resto do corpo, nem sei dizer como pude me sentar e olhar, pois ele era uma profusão de foguetes e fontes e pessoas, em detalhes tão intrincados e coloridos, que você podia ouvir as vozes murmurantes, pequenas e silenciosas, vindas das multidões que habitavam seu corpo. (...) Havia prados amarelos, rios azuis, montanhas, estrelas e sóis espalhados em uma Via Láctea que atravessava seu dorso. Eu disse: ‘Como são lindos!’ (...) Aqui, reunidas em uma só peça, estavam todas as melhores cenas do universo, o homem era uma galeria móvel de tesouros!” Que descrição mais linda e pura poderia definir esses corpos tatuados, que estão em todos os lugares. Em todos os tipos de “peças”, uma mais branquinha, outra pequenininha, outra mais velhinha, não importa; são todas galerias próprias expondo a arte desse nosso mundo! São livros abertos! Podemos ver por aí caminhando nas ruas: gueixas e suas vestes deslumbrantes; guerreiros samurais; vikings e celtas com seus elmos; lindas moças da década de 50, expondo seus lindos corpos; tigres, panteras e dragões de todas as cores, sejam estes da China ou da Europa medieval; máscaras africanas; arte primitiva, que só poderíamos ver de outra maneira visitando a própria Nova Zelândia. Existe ideia mais genial, do que carregar O MUNDO no nosso corpo?!?

Poderíamos chamar tatuagem de arte? Segundo nosso velho companheiro Aurélio, arte é a capacidade que tem o homem de, dominando a matéria, pôr em prática uma ideia. Então, creio que sim. Nossos profissionais tatuadores têm a cachola cheia delas. Quando se estuda História da Arte (eu mesma, sendo uma autodidata), aprende-se que devemos apresentar algumas questões ao olhar para uma pintura, por exemplo: C’est beaux ou non? C’ est vrais ou faux? – Ops, desculpem, que mania eu tenho de colocar francês no meio — ... É bonita ou não? É verdadeira ou falsa? Que emoção lhe passa? Qual era o contexto histórico em que foi produzida? Sendo assim, são perguntas que cabem para interrogar uma tatuagem. Bom, eu não costumo me incomodar quando as pessoas param e perguntam: o que significa? Por que você fez? Elas estão interrogando a arte, mesmo que não saibam disso. E já que meu corpo está exposto para elas verem, é natural iniciar uma conversa. É, eu sou boazinha mesmo. E nós, tatuados, que somos cheios de falar sobre preconceitos, que nós não os tenhamos a respeito daqueles que não têm tatuagens. Pois, “a ignorância é fatal” (Bradbury de novo). ilustração do livro O Homem Ilustrado

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fique por dentro Mitos e verdades sobre o

Laser Por Ricardo Alonso

REMOÇÃO DE TATUAGEM COM LASER ND-YAG-1064nm Como o laser remove a tatuagem? O laser funciona ao produzir pequenos pulsos de luz intensa que passam, sem causar nenhum dano, pelas camadas superiores da pele para serem seletivamente absorvidos pelo pigmento da tatuagem, quanto mais escura a tatuagem mais fácil será a sua remoção. Essa luz do laser faz com que o pigmento da tatuagem se fragmente em partículas muito menores que são então removidas pelo sistema imunológico. O sistema imunológico usa como via de excreção o Sistema Linfático, os micropigmentos são excretados para fora do corpo pela urina. Remover a tatuagem dói? O aspecto negativo sobre as tatuagens é que tanto fazê-las quanto removê-las é desconfortável. Descreve-se o impacto da energia oriunda do potente pulso de luz do laser como estalos de uma faixa de borracha sobre a pele, (compare essas descrições àquelas da sensação de se fazer uma tatuagem). Como o pigmento preto absorve todos os comprimentos de ondas do laser, é a cor mais fácil de se remover. Outras cores, como verde, amarelo e vermelho, absorvem seletivamente a luz do laser são muito mais difíceis de serem removidas. Depois, os pulsos de luz do laser são direcionados para a tatuagem, quebrando o pigmento. Nas semanas seguintes, as células removedoras do organismo eliminam os resíduos do pigmento. O número de sessões depende da quantidade e do tipo de tinta usado e da profundidade em que ela foi injetada. São necessários intervalos de pelo menos três semanas entre as sessões para permitir que os resíduos do pigmento sejam excretados pelo corpo. Depois de cicatrizado, o pigmento continua a desbotar gradativamente. Os efeitos colaterais dos procedimentos a laser costumam ser pouquíssimos, mas entre eles estão a hiperpigmentação, ou uma abundância de cor na pele no local do tratamento, e a hipopigmentação, em que a região tratada

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fica sem a cor natural da pele. Entre outros possíveis efeitos colaterais estão a infecção do local, a falta de remoção total do pigmento e uma chance de 5% de surgimento de cicatrizes permanentes. Aqui na Led´s Tattoo, temos um equipamento de resfriamento da pele que provoca uma vasoconstrição local e que alivia a dor de se fazer uma sessão de laser de 80 a 90% durante a aplicação. Quais os fatores importantes para se remover uma tatuagem? • Cor da tatuagem • Profundidade na pele • Qualidade de pigmento • Local da tatuagem • Resposta imunológica pessoal • Tamanho Qual a diferença entre remover e clarear uma tatuagem? A diferença é o número de sessões, cerca de 97% dos casos tratados aqui na Led´s são clareamentos para se fazer uma nova tatuagem por cima, nesses casos de clareamento de tatuagem, quem “manda” no número de sessões é o próprio tatuador que vai fazer o cover up, ficando assim muito mais barato para o cliente. Quanto custa remover uma tatuagem? O custo da remoção de tatuagem a laser pode variar dependendo do tamanho, tipo e local da tatuagem, além do número de sessões necessárias. Aqui na Led´s, o valor mínimo de sessão é de R$ 200,00.

tatuagem original

após 1a sessão

após 2 sessões

cover up por Nany

cover up por Nany

tatuagem finalizada

Ricardo Alonso fone: (11) 5561-2351 / 5532-0293 5093-0473


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