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PRÉ-PARTO E A PREPARAÇÃO PARA NOVA LACTAÇÃO Desafios enfrentados pelas vacas no período de transição podem ser determinantes para o sucesso da lactação que se aproxima
PRÉ-PARTO E A PREPARAÇÃO PARA NOVA LACTAÇÃO
por Túlio Marins, Técnico de Leite Alta
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O período pré-parto é parte do período de transição, que corresponde a 21 dias antes e 21 dias depois do parto (Grummer, 1995; Drackley, 1999). Durante o período de transição, a vaca passa por mudanças signi cativas, incluindo mudanças na dieta e reagrupamentos, e alterações siológicas associadas ao parto e ao início da lactação (Grummer, 1995). O período de transição é o mais importante durante o ciclo produtivo das vacas leiteiras, pois os acontecimentos, durante esse tempo, determinam o sucesso da lactação que se aproxima e, por isso, passar bem é essencial para garantir um bom parto e uma boa lactação, com melhores condições de estabelecer uma nova gestação, além de mais saúde para o bezerro que vai nascer.
Alguns fatores são importantes para esse bom andamento e o produtor deve car atento e ter total atenção a alguns fatores que contribuem para o sucesso da próxima lactação.
Condição corporal
Alguns desses cuidados devem iniciar-se na secagem do animal. É sabido que animais com score muito alto ou muito baixo têm efeitos negativos, favorecendo as doenças pós-parto como hipocalcemia, cetose, deslocamento de abomaso, retenções de placenta, metrites e endometrites e, por consequência, têm efeito direto na e - ciência reprodutiva da próxima lactação, conforme podemos ver em diversos trabalhos publicados. A prevenção da perda de condição corporal no período seco, que é essencial para o sucesso da lactação subsequente, e a avaliação do ECC no parto deve ser avaliada para análise da variação (Chebel et al, 2018).
Esse aumento dos problemas pós-parto em animais com variação da condição corporal, podemos ver no quadro abaixo:
item n Metrite Mastite Cetose Pneumonia > 1 problema de saúde
Mudança de condição corporal
Manteve Perdeu P-valor
52 116 21,20 (11/52) 23,3 (27/116) 0,85 17,3 (9/52)ᵃᵇ 29,3 (34/116)ᵃ 0,09
19,2 (10/52) 26,7 (31/116) 0,18 11,50 (6/52) 14,7 (17/116) 0,55 46,2 (24/52)ᵇ 62,9 (73/116)ᵃ 0,007
Tabela. Efeito da mudança de condição corporal durante o periodo de traansição (-21 a 21 dias pós parto) na incidencia (%) de retenção de placenta, mastite, cetose e pneumonia de vacas perdendo, mantendo ou ganhando condição corporal. Adaptado de Barletta et al.(2017)
Chebel et al., 2018, avaliou a perda de condição corporal durante o período seco e classi cando como severa, moderada, sem perda e com ganho, observou que a taxa de concepção na 1ª inseminação pós-parto foi 20.8, 28.3, 33.1 e 41,.9%, respectivamente, em estudo conduzido com mais de 16000 lactações avaliadas. Nesse estudo, avaliou também a proporção de vacas com algum tipo de tratamento com antimicrobianos e anti-in amató
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rios e o comportamento também seguiu a mesma tendência na qual maior proporção de vacas com perda de condição corporal recebeu mais tratamento.
As necessidades nutricionais aumentam signi cativamente nas últimas semanas de gestação e a ingestão de matéria seca diminui nos últimos dias de gestação, resultando em um leve balanço energético negativo nos últimos dias antes do parto (Chebel et al, 2018).
Comportamento da redução transitória na ingestão de matéria seca de vacas e novilhas ao redor do parto (Fonte: Ingvartsen and Andersen et al., 2000 citado por https://www.milkpoint.com.br/ canais-empresariais/all ex-monitoramento/por-que-monitorar-o- -periodo-de-transicao-213762/)
Normalmente, as vacas perdem peso pós-parto e o ideal é que essa variação não ultrapasse 0,75 no escore corporal que vai de 1 a 5. Em geral, a perda de condição corporal é maior em vacas gordas, sendo o excesso de peso associado ao menor consumo de matéria seca e ocorrência de cetose. Por isso, monitorar a condição corporal durante a lactação e desenvolvimento de novilhas torna-se importante, a m de realizar correções nas dietas.
Dietas pré-parto têm que ter total atenção para garantir as necessidades desse período e garantir a ingestão de matéria seca adequada. Alguns desses exemplos são as dietas com sais aniônicos que visam a reduzir a incidência de hipocalcemia, pois induzem à
mobilização óssea de cálcio, reduzindo as chances de retenção de placenta e outras doenças do pós-parto.
Existe uma forte correlação positiva entre ingestão de matéria seca pré-parto e pós-parto (Grummer et al.al., 2004), sugerindo que maior produção de leite e desempenho comprovado deve ser obtido minimizando o declínio da ingestão de matéria seca no pré-parto. Vacas que diminuíram
Ambiente
O local onde esse animal passará esse período é muito importante. O local deve ser de fácil localização, calmo e isolado. Deve ser limpo e seco, além de bem sombreado (4m²/ animal), com boa área de circulação e com disponibilidade de cocho de água e alimento.
As medidas para espaço de a ingestão de matéria seca durante o período pré-parto e que apresentaram maior diminuição de ingestão de matéria seca nos últimos dias de gestação são mais propensas a ter comprometimento de imunidade inata (Hammon et al., 2006 citado por Chebel et al, 2018) e são mais propensas a ter distúrbios de saúde (Huzzey et al., 2007 citado por Chebel et al.,2018).
De particular importância cocho devem ser superiores a 70cm/animal e a área total deve ter em torno de 56m²/ animal. As do Sombras móveis podem ser indicadas em fazendas que utilizam piquetes a m de diminuir concentração de umidade e também dejetos dos animais em um local apenas. Evitar superlotações também é uma medida e caz. prevenir a perda de condição corporal durante o período seco é garantir que as vacas são secas a score de condição corporal ≤3,25, o que é atingido por seleção genética adequada, alta produção de leite e manejo reprodutivo e ciente e a perda de condição corporal é fator predisponente associado a distúrbios de saúde e desempenho produtivo e reprodutivo reduzido de vacas ho
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landesas (Chebel et al, 2018).
Uma outra medida importante também seria a separação em lotes diferentes de multíparas e primíparas que chegam ao pré- -parto, o que pode evitar problemas para as primíparas. Essa ação pode melhorar o consumo de matéria seca das mesmas e evita competição com animais mais velhos e experientes, além de terem exigências nutricionais
diferentes das multíparas, podendo causar perdas consideráveis de desempenho.
Estresse calórico
Apesar de ser importante em todos os momentos, evitar os efeitos do estresse calórico, durante o período seco e pré-parto, faz parte da cartilha do bom andamento dessa fase, pois, em muitas fazendas, essa fase é negligenciada e os animais, geralmente, cam esquecidos nos piores locais da fazenda por não estarem produzindo leite. Segundo vários pesquisadores, essa é a fase de maior atenção e com efeitos enormes e devemos cuidar tão bem ou melhor. Tao et al., 2012 e Fabris et al., 2017 relataram queda na produção de leite na lactação subsequente em animais que passaram por estresse calórico durante o período seco. O estresse térmico tem sido associado à quebra de ingestão de matéria seca nas vacas durante o período seco (Adin et al, 2009). Várias alterações em parâmetros metabólicos foram observadas por Tao etal., 2012 o que leva a maiores problemas pós-parto e, consequentemente, a piores resultados reprodutivos e produtivos desses animais na próxima lactação.
Preparar a vaca para nova lactação consiste, dentre várias ações, em garantir um bom escore de condição corporal a secagem, evitando variações até o parto, proporcionando local adequado com o conforto necessário ambiental e alimentação adequada às exigências nutricionais para essa fase, minimizando a queda da ingestão de matérias secas que ocorre dias próximos ao parto, para passar por esse período crítico com as melhores condições possíveis, dando as melhores condições da próxima lactação ser um sucesso.
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Túlio Marins Técnico de Leite
Médico Veterinário pela Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR), especialista em pecuária de leite pela Faculdades Integradas de Uberaba (FAZU)/Rehagro e membro do CDT da Associação dos Criadores de Gado Holandês de MG
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