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ENTREVISTA

ROGÉRIO FONSECA GUIMARÃES PERES

15 ANOS DE EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DE GRANDES PROJETOS DE PECUÁRIA

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Rogério Fonseca Guimarães Peres é médico veterinário e possui 15 anos de experiência na gestão de grandes projetos de Pecuária. Atualmente, ocupa o cargo de Diretor de Pecuária da Agropecuária Nelore Paranã.

É graduado pela Universidade Federal de Uberlândia em 2005; Possui Pós-Graduação em Produção de Ruminantes pela ESALQ-USP em 2007; Mestrado em Produção de Ruminantes pela UNESP Botucatu em 2008 e Doutorado em Produção de Ruminantes pela UNESP Botucatu em 2016. Atualmente, cursa MBA em Gestão de Negócios pela ESALQ / USP.

Quando falamos em produção de carne, vários pontos são levantados até chegarmos a um produto de qualidade no  nal do processo. Mas um assunto que ainda é pouco falado, no meio, é a gestão de pessoas. Na sua experiência pro ssional, como ela, ou melhor, a falta dela, pode afetar os resultados de um sistema de produção bovino?

Este é um assunto extremamente importante para qualquer empresa, e não seria diferente no Agronegócio. As pessoas querem se sentir parte de um projeto. A maioria das empresas falham em não ter um projeto claro onde as pessoas consigam enxergar o caminho a ser perseguido para sair de um ponto A até chegar ao ponto B. A parte salarial é importante, mas ela não é a decisão de permanência principal nas fazendas. Para isso, a busca de um ambiente bom de trabalho, onde as pessoas se sintam parte do projeto, é o mais importante.

Quais pontos você listaria como os maiores desa os com gestão de pessoas na pecuária?

Acredito que os pontos

mais desafiadores são: dedicar o tempo suficiente no dinamismo do dia a dia para conversar com as pessoas (muito conhecido como feedback e feedfoward) e garantir que os líderes, em todos os níveis, tenham essa mesma conduta e o mesmo alinhamento para que a empresa possa estar nivelada quanto aos comportamentos, necessidades, estratégias e ao planejamento de curto, médio e longo prazo.

Quais os primeiros passos para tornar a gestão de pessoas e ciente?

Com certeza, o ponto mais importante é achar que esse tema é importante. Na maioria das propriedades rurais, temos esquemas de gestão ultrapassados ou ditatoriais. Muitas pessoas aceitam esse tipo de gestão por necessidade financeira ou humildade mesmo. Quando vamos para um modelo de gestão mais empresarial, é necessário ter uma equipe mais preparada e, para manter essa equipe motivada e engajada, um bom planejamento e um alinhamento de curto, médio e longo prazo são essenciais para mostrar / discutir os caminhos a serem perseguidos. É nesse momento que a gestão de pessoas é essencial, pois sabemos que a curva do aprendizado (ainda mais em fazenda) leva um tempo e motivar as pessoas para que se sintam parte, através de conversas e reuniões, é essencial. Com certeza, o caminho número 1 é garantir uma boa comunicação.

Uma das maiores queixas no meio rural é a falta de mão de obra. Qual a melhor forma para diminuir a rotatividade de colaboradores dentro das propriedades? Como motivar a equipe e potencializar o trabalho?

Nós temos levantamentos de empresa do setor que demonstram rotatividade de até 55 – 60% em propriedades rurais. Da mesma forma, existem outras propriedades com menos

“Os pontos mais desa adores são: dedicar o tempo su ciente no dinamismo do dia a dia para conversar com as pessoa se garantir que os líderes, em todos os níveis, tenham essa mesma conduta e o mesmo alinhamento”

de 10%. Portanto, essa diferença está muito ligada ao modus operandi da empresa e sua liderança. Se ela acredita de fato na gestão de pessoas, as boas estratégias devem ser tomadas para investir no ambiente interno para manter os funcionários comprometidos e para contratar boas pessoas para que sua empresa seja vista pelos talentos como uma empresa promissora. Dentre os principais pontos de atenção que temos para reter mais as pessoas são: - Qualidade da comida fornecida, proximidade da cidade, qualidade das casas e alojamentos, escola para os  lhos e disponibilização de internet. - Falta de treinamento: Todas as pessoas querem buscar desenvolvimento pro ssional e querem evolução contínua no que fazem. Em um levantamento feito pela Destrave Desenvolvimento, somente 32% das empresas que contrataram uma consultoria de gestão de pessoas tinham feito treinamento para sua equipe. Sabemos que as empresas que buscam esse tipo de trabalho já estão na vanguarda da gestão de pessoas e temos, portanto, muitas oportunidades nesse sentido. - Líderes pouco preparados: A falta de comunicação ou pouca efetividade da mesma são os maiores problemas das propriedades rurais. Nesse caso, ter a autopercepção e autocrítica dos líderes, às vezes, são muito importantes para garantir clareza na comunicação e que as tarefas sejam realizadas da forma desejada. Devemos considerar também o modelo de gestão que vem mudado muito, onde os gestores são muito mais participativos e conseguem envolver a equipe em prol de um objetivo maior da empresa, sem  car com o rótulo “eu” e passar para o senso de equipe “nós”. - Senso de injustiça ou falta de reconhecimento: Em propriedades, é muito comum a presença de funcionários super antigos, “de con ança” e que estão extremamente mal acostumados, servindo de exemplo negativo para os demais. Quando essa porcen-

tagem de funcionários blindados é grande, as empresas têm muita di culdade de engajar o restante da equipe.

A tecnologia trouxe muitos ganhos para a pecuária e conectou as pessoas ao mundo. Quais os principais desa os da gestão de pessoas no campo com colaboradores cada vez mais conectados?

Acredito que a internet permitiu o acesso cada vez mais às informações e, portanto, temos várias oportunidades de usar esse meio para valorizar ainda mais o trabalho do homem do campo e mostrar o quanto o trabalho de cada um está inserido no projeto como um todo. Logicamente, as oportunidades de acesso a outros trabalhos também aumentam e, nesse sentido, que os itens discutidos acima se tornam mais importantes para que o ambiente seja bom, a  m de se ter um ambiente de atração de pessoas e não de afastamento de talentos.

Treinamentos. Muitos ainda relatam o medo de investir em quali cações e acabar perdendo a mão de obra. De que forma incluí-los na “rotina” das propriedades, manter os colaboradores e agregar valor ao processo de produção?

Como comentei acima, somente 32% das fazendas que procuraram uma empresa especializada em gestão  zeram algum treinamento com sua equipe. Portanto, treinar, treinar e treinar. Esse é um campo de enorme oportunidade para as empresas fornecedoras de insumos e produtos, para novas empresas de consultoria. As pessoas querem conhecimento e querem estar envolvidas em um projeto como um TODO. Temos que treinar e, caso as pessoas decidam ir, teremos pessoas mais preparadas, os concorrentes. O pior é não treiná-los e eles  carem; portanto, temos responsabilidade de melhorar o nível da mão-de-obra como um todo.

“Acredito que o re exo de uma equipe comprometida e engajada traz pequenos ganhos no dia a dia que re ete em um calendário sanitário mais bem feito, um melhor manejo no curral e um bem estar melhor para os animais”

Estamos vivendo um bom momento na pecuária de corte, mas, na sua visão, qual o maior desa o da pecuária de corte no Brasil hoje?

Os maiores problemas na minha opinião são: - Falta de planejamento de curto, médio e longo prazo e acompanhamento de custos; - Uso racional das tecnologias, para aplicar o conhecimento técnico realmente necessário para cada sistema de produção. Muitas receitas prontas existem na pecuária e sabemos que não se aplica a todos os casos; - Gestão de pessoas e equipes – Todos os pontos que discutimos acima!

Como a gestão de pessoas pode ajudar o pecuarista a agregar valor ao seu produto? Sejam bezerros, fêmeas, touros, carne etc.?

Acredito que o re exo de uma equipe comprometida e engajada traz pequenos ganhos no dia a dia que re ete em um calendário sanitário mais bem feito, um melhor manejo no curral e um bem estar melhor para os animais. Tudo isso em conjunto traz ganhos para a cadeia como um todo, que podem ser comprovados pelos trabalhos do Grupo ETCO e do Projeto Nata nas Mãos.

Qual o conselho você deixaria para os pecuaristas que ainda não dedicam a devida atenção à gestão de pessoas no campo? Se dedique um tempo perguntando o PORQUÊ, sem buscar ter respostas prontas para tudo. Existem empresas de consultorias especializadas na gestão de pessoas no AGRO e elas podem ajudar muito. Geralmente, o início por uma pesquisa de CLIMA ORGANIZACIONAL faz muita diferença para atacar todos os pontos. Porém, o mais importante de tudo é o proprietário ou a empresa valorizar esse tema e se dedicar a buscar um ambiente melhor para que as pessoas consigam trilhar os caminhos juntamente com os da empresa para realização pessoal e pro ssional.

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