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CRIAÇÃO DE BEZERROS

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CASOS DE SUCESSO

CASOS DE SUCESSO

NOVOS PADRÕES NA AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE COLOSTRAGEM DE BEZERRAS LEITEIRAS

por Rafael Azevedo, Gerente de Neonatos da Alta Brasil e Sandra Gesteira, Professora da Universidade Federal de Minas Gerais

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A importância da colostracia representa a absorção das aos desafios. gem para bezerras recém-nasimunoglobulinas (Ig) maternas A falha na transferência de cidas é reconhecida há muitos no intestino delgado das beimunidade passiva é um dos faanos, sendo comprovada a nezerras, durante as primeiras tores de risco mais relevantes cessidade do fornecimento de 24 horas após o nascimento, para a mortalidade (Tabela 1), colostro de alta qualidade nas ajudando a protegê-las contra morbidade e baixo desempeprimeiras horas de vida, para patógenos, até que seu sistema nho em bezerras, representancorreta transferência de imuniimunológico imaturo seja cado perdas econômicas relevandade passiva. Essa transferênpaz de responder rapidamente tes na pecuária de leite.

Tabela 1: Mortalidade até o desaleitamento de acordo com a efi ciência de colostragem de bezerras leiteiras avaliadas no Programa Alta Cria Brasil (2019)

Efi ciência de colostragem Item

Sucesso Falha

Mortalidade 4% 9%

Sobrevivência 96% 91% Risco relativo de morte** 2,25 Números de animais 12.407 1.616

*Foi considerado como sucesso de colostragem valores ≥ 5,5 g/dL ou ≥ 8,4% de brix. **Animais com falha de colostragem apresentaram 2,25 vezes maior risco de morte durante a fase de aleitamento.

Além da redução do risco de morbidade e mortalidade durante a fase de aleitamento, trabalhos também demonstram benefícios adicionais a longo prazo associados à transferência passiva bem-sucedida, que incluem redução da mortalidade na fase de pós-desaleitamento, melhor taxa de ganho de peso, redução da idade ao primeiro parto, além de maior produção de leite na primeira e segunda lactação (Faber et al., 2005).

Desde 1970, admite-se que a falha na transferência de imunidade passiva ocorre quando as bezerras apresentam IgG sérica < 10 g/L (McEwan et al., 1970). Esse padrão baseia-se, principalmente, na diminuição do risco de mortalidade quando os valores são maiores ou iguais a 10 g/L.

Avaliação da transferência de imunidade passiva

O padrão ouro para avaliação da concentração de imunoglobulinas no soro das bezerras e, consequentemente, a transferência de imunidade passiva é a imunodifusão radial. Porém, essa análise não é possível de ser realizada na fazenda, devido à complexidade de execução, tempo para obtenção de resultados e custo. Uma ferramenta simples para avaliar de forma indireta a e ciência de colostragem das bezerras é por meio do uso dos refratômetros, brix e de proteína sérica total (g/dL).

Para realizar a avaliação da e - ciência de colostragem, utilizando refratômetros, basta coletar uma amostra de sangue do animal entre 24 horas após a colostragem até 10 dias de idade, em tubo para coleta de sangue (a vácuo - sem anticoagulante). Em seguida, a partir da obtenção do soro sanguíneo e calibração do equipamento, deve-se avaliar a amostra no refratômetro. É importante coletar a amostra de sangue após o aleitamento dos animais e não coletar de animais desidratatos.

O padrão ouro de criação de bezerras da Dairy Calf & Heifer Association (Gold Standard, 2016) indica que, na avaliação da transferência de imunidade passiva, com o uso de refratômetro de proteína sérica total, os animais devem atingir, no mínimo, entre 5,2 a 5,5 g/dl (Tabela 2). Quando é utilizado o refratômetro brix, o ponto de corte, normalmente, recomendado na literatura está entre 8 a 8,5% de brix.

Tabela 2: Valores alvo de testes a campo para aferir a transferência de imunidade passiva em bezerras*

Valor alvo de imunidade (refratômetro, g/dL)

(80% dos animais) ≥ 5,5 g/dL

*Tabela adaptada ao Gold Standard (2016). (90% dos animais) ≥ 5,2 g/dL

Em 2017, a Alta Genetics Brasil, criou o programa Alta CRIA, com o objetivo de levantar os principais índices zootécnicos na fase de cria, auxiliando as fazendas no gerenciamento e permitindo um panorama da criação brasileira de bezerras. Em 2020, o programa acumula dados de mais de 40.000 bezerras pertencentes a mais de 80 fazendas distribuídas em todo o Brasil. Os dados de 2019 mostraram que a falha de transferência de imunidade passiva afetou 12% de 14.022 bezerras, indicando a necessidade de esforços contínuos para melhorar o manejo do colostro.

Novos valores de ponto de corte para avaliação da eficiência de colostragem

Segundo Godden et al. (2019), os parâmetros em uso hoje, para o estabelecimento do sucesso na transferência de imunidade passiva, baseiam-se em um ponto de corte em que, abaixo de 5,5 g/dL, as bezerras estariam mal colostradas e, acima desse valor, bem colostradas. Não levando em conta, quando admitido que estão bem colostra

“Além da redução do risco de morbidade e mortalidade durante a fase de aleitamento, trabalhos também demonstram benefícios adicionais a longo prazo associados à transferência passiva bemsucedida”

das, se adequada quantidade IgG foi absorvida pela bezerra. Esse ponto de corte único falha em reconhecer que concentrações crescentes de IgG ou proteína sérica total estão associadas à redução do risco de morbidade e à melhora do desempenho da bezerra como apontam os relatos de Furman-Fratczak et al. (2011) e Windeyer et al. (2014). Esses pesquisadores mostraram que bezerras com concentrações séricas de IgG maiores ou iguais a 15 g/L e proteína sérica total maiores ou iguais a 5,7 g/ dl apresentaram taxas mais baixas de doença respiratória. Com base nesses e em outros estudos, um grupo de especialistas em bezerros, dos Estados Unidos e do Canadá, propuseram novos padrões para a avaliação de e - ciência de colostragem individual e do rebanho.

O novo padrão proposto estabelece metas mais altas para a saúde das bezerras, sendo baseado na associação de menor morbidade com valores mais altos de IgG, pois o risco de mortalidade está associado a valores séricos de IgG menores que 10 g/L. O padrão proposto inclui 4 categorias: excelente, bom, razoável e ruim. Essas categorias podem ser aplicadas individualmente ou para o rebanho, com base na porcentagem de bezerras que devem ser representadas em cada categoria (Tabela 3). Como a concentração sérica de IgG não é comumente medida, concentrações equivalentes de proteína total e de brix séricos foram determinadas para as quatro categorias.

Tabela 3: Categorias propostas para as concentrações de IgG, proteína total e brix séricos e percentual recomendado em cada categoria

Categoria

Excelente Boa Razoável Ruim

Quantidade de IgG (g/L)

≥ 25 18 a 24,9 10 a 17,9 < 10

*Adaptado a Godden et al. (2019)

Proteína sérica total (g/dL) Brix sérico (%)

≥ 6,2 ≥ 9,4 5,8 a 6,1 8,9 a 9,3 5,1 a 5,7 8,1 a 8,8 < 5,1 < 8,1

Percentual de bezerros em cada categoria

> 40% 30% 20% < 10%

As fazendas agora devem reavaliar seus dados e implementar essa nova classi cação, buscando melhorar cada vez mais os principais pontos de manejo de colostragem.

A observação dos dados de 18.286 bezerras avaliadas em fazendas que participam do Programa Alta CRIA Brasil, entre 2017 e 2019, demonstra que as fazendas estão obtendo percentuais de colostragem acima dos novos valores propostos de e ciência de colostragem. No entanto, ainda mostram oportunidades para reduzir a morbidade e mortalidade de bezerras que estão nas categorias razoável ou ruim (16%).

Tabela 4: Distribuição do percentual de bezerras (n = 18.286) em fazendas do programa Alta CRIA Brasil que atingiram as novas metas de efi ciência de colostragem propostas

Categoria

Excelente Boa Razoável Ruim

Meta de percentual de bezerros em cada categoria

> 40% 30% 20% < 10%

*Levantamento realizado entre 2017 e 2019

Percentual de bezerras (n = 18.286)

68% 15% 8% 8%

Como alcançar os novos valores de eficiência de colostragem propostos?

Para alcançar os novos valores propostos, é preciso continuar a avaliar o colostro. Um método prático de avaliação da qualidade imunológica do colostro, no campo, é pela utilização de refratômetros do tipo brix (óptico ou digital), pois esse equipamento opera independente da temperatura do colostro fresco (diferente do colostrômetro).

A porcentagem de brix presente no colostro é correlacionada com a concentração de imunoglobulinas do colostro. A escala anteriormente proposta era: 1 – Boa qualidade: ≥ 22% de brix 2 – Média qualidade: 18 – 21% brix 3 – Baixa qualidade: < 18% brix

No entanto, com os novos valores estabelecidos (Tabela 3), esse ponto de corte também deverá ser alterado.

Ao avaliar os dados do Programa Alta Cria Brasil 2019 para obtenção de excelente colostragem (IgG >25 g/l; >6,2 g/dl; brix >9,4%), o novo ponto de corte para o colostro deverá estar acima de 24% de brix (Figura 1).

8,6% 8,9% 9,5% 9,8%

<22% Brix (N=179) 22 to 24% Brix (N=441) 25 to 29% Brix (N=1724) ≥30% Brix (N=827)

Figura 1: Valores de brix sérico encontrados para as diferentes faixas de brix do colostro fornecido para bezerras

No entanto, nem sempre as fazendas têm a todo tempo colostro com brix > 24% e uma estratégia para aumentar os valores de brix no colostro, além das medidas de manejo para redução de todo tipo de estresse no  nal da gestação e nutrição adequada, é melhorar a qualidade do colostro fornecido. Para isso pode ser utilizado o adensamento do colostro fresco ou descongelado com os substitutos de colostro baseados em colostro natural. Como podemos observar na  gura 1, com o fornecimento de maiores valores de brix via colostro, a média do brix sérico das bezerras também aumenta.

Para se obter transferência passiva bem-sucedida, dentro das novas metas propostas, será necessário que o produtor  que atento a quatro importantes pontos de manejo: 1. Tempo para o fornecimento – Deve ser inferior a 1 hora após o nascimento; 2. Qualidade do colostro – Provavelmente deverá ser fornecido colostro com no mínimo ≥ 25% brix; 3. Quantidade ingerida - 10 a 12% do peso corporal ao nascimento; 4. Qualidade sanitária do colostro - < 50.000 unidades formadoras de colônia por mL em contagem de placa padrão e < 5.000 unidades formadoras de colônia para coliformes fecais.

Rafael Azevedo, Gerente de Neonatos e Coordenador Alta CRIA

Zootecnista, mestrado em Ciências Agrárias pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com doutorado em zootecnia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e pós-doutorado em Zootecnia pela UFMG

Sandra Gesteira, Médica-veterinária

Médica veterinária, com Doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora titular da Escola de Veterinária da UFMG

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