18 DE MARÇO DE 2018
VOL. 1
Cápsula Dose semanal de emoção e entretenimento
Arte: Straut Niekas
NESTA EDIÇÃO
Os crimes que Marielle Franco denunciou antes de morrer Entrevista com Noam Chomsky Revista National Geographic faz mea culpa sobre cobertura racista
Por que decidi editar as notícias que consumo POR AMANDA KASTER Me formei na faculdade de Comunicação há quase dois anos. Depois de quatro anos de estudo ininterruptos saí com um diploma de jornalista na mão e com a sensação de ter aprendido muito, mas que ninguém estava interessada nas coisas que eu tinha a dizer. O jornalismo que eu sonhava produzir como estudante não era nem perto da realidade da profissão. Inocências juvenis à parte, o jornalismo que eu conhecia - ou pensava conhecer - sofreu uma mudança de 180 graus com a chegada das redes sociais. Há uma dicotomia muito interessante acontecendo: ou dúvida por parte do leitor de tudo o que ele lê ou confiança absoluta na verdade de qualquer boato ou história por mais absurda que ela se ↪
apresente, que gerou um desconforto generalizado nos seus usuários. Somando isso à polarização política de nosso país não há outro resultado senão o que estamos vendo acontecer com a Comunicação: uma enxurrada de notícias e informações que pouco trazem luz ou informam de forma satisfatória sobre o que acontece no mundo, são apenas bytes transmitidos e retransmitidos de um lado para outro nas timelines, sem ação efetiva no mundo real. Nos tornamos insensíveis. Damos "likes" naquilo que gostamos e naquilo que acreditamos que deveríamos gostar, compartilhamos aquilo que nos toca e aquilo que sentimos que deveríamos ter uma opinião, sabendo ou não sobre o assunto. Com tanta desinformação, me senti incapaz de absorver tudo o que consumia e, por cerca de um ano, me afastei totalmente das notícias e da minha profissão. Não escrevi uma linha sequer. Essa não foi uma decisão consciente, apenas não consegui organizar meus pensamentos para me focar em algo o suficiente para criar. Escrever exige tempo, atenção e um olhar para o mundo que eu não podia dar naquele momento. Virei quase uma ermitã das noticias. Onde já se viu uma jornalista recémformada que não se informa sobre nada? Mas não se enganem: não deixei de ler. Li artigos de todos os tipos, livros que há tempos pegavam poeira na estante, revistas antigas em consultórios médicos e percebi que não tinha desistido do jornalismo, estava apenas cansada dos clickbaits sem conteúdo, do privilégio da forma em favor da história. Sinto que neste período, me informei tanto ou mais do que se tivesse lido apenas as últimas notícias dos portais de notícias. Então resolvi fazer um acordo comigo mesma: leria de tudo, fazendo questão de exaltar e compartilhar aquelas matérias que me tocassem mais profundamente ou aquelas que traziam novos olhares para assuntos cotidianos. Assim nasceu a vontade de produzir um veículo para as minhas leituras favoritas em forma de newsletter. Espero que você, leitor, também aprecie. Um ótimo início de semana, Amanda
Sobre esta Newsletter As notícias são selecionadas a partir de três critérios principais: 1) O quão bem-escrita e engajante é a matéria; 2) O quão relevante o assunto é tratado no momento da publicação; 3) Mix de temas e propostas para trazer variedade de conteúdo para o leitor. Informações relevantes: - Para abrir uma noticia, basta clicar no seu título - Todas as fontes têm seus respectivos links originais ou indicativos sobre seu trabalho, basta clicar no símbolo ↬.
"É preciso ter empatia, devemos exercitá-la e ensinála. Empatia não é doar 5 euros ou dar um like de vez em quando, é saber o que posso aprender de uma experiência e compartilhá-la” Oliver Luckett ↬
POR DOIS MESES EU ME INFORMEI APENAS POR JORNAIS IMPRESSOSEIS O QUE APRENDI Farhad
Manjoo
via
The
New
York
Times
A primeira notícia desta semana tem tudo a ver com o tema proposto por essa newsletter: dar um passo para trás da - as vezes - loucura das redes sociais e dos canais de notícia 24 horas para se informar de forma mais completa. Particularmente, não sou mais afeita aos jornais impressos, mas reconheço sua superioridade na forma como é necessário focar toda a sua atenção para compreendê-lo completamente, com seu componente tátil agindo como veículo de credibilidade da informação. Mais do que isso, como diz o autor, as vantagens do impresso ultrapassam as barreiras do subconsciente, na verdade, são muito mais praticas. "...Não só dediquei menos tempo à história do que teria sido o caso se a tivesse acompanhado online à medida que as notícias surgiam como recebi informações melhores. Porque evitei os erros inocentes — e a desinformação deliberada e perniciosa — que surgiram nas primeiras horas depois do ataque, minha experiência inicial quanto à notícia foi um relato acurado do que aconteceu de fato naquele dia".
JACK WHITE: "COMO ARTISTA, É SEU TRABALHO NÃO PEGAR O CAMINHO MAIS FÁCIL" Kate
Mossman
via
The
Guardian
Como o mestre da gravação analógica abandonou alguns de seus preconceitos, despiu-se da imagem hispter que ficou conhecido e ajudou a salvar a indústria do vinil. Ele prepara um novo álbum que será lançado no final do mês produzido totalmente por artistas de hip-hop. Esqueça o que você ouviu falar sobre Jack White, deixe que ele se apresente em seus prórpios termos
OS CRIMES QUE MARIELLE FRANCO DENUNCIOU ANTES DE MORRER via
The
Intercep t
Brasil
O assunto mais falado da semana vem das ruas do Rio de Janeiro, onde a vereadora Marielle Franco foi asassinada na noite de quartafeira (14) com quatro tiros na cabeça. Não se sabe oficialmente quem matou Marielle. A opinião púbica aposta nos policiais indicados pela vereadora por abuso de poder em favelas da região. Dias antes de ser executada, ela denunciou o assassinato de três homens – jovens e de periferia –, parte grande do estereótipo dos corpos que enchem os cemitérios do país. “Foi um recado”, era uma das frases que mais se ouvia entre as pessoas que, ainda estarrecidas, lotaram o Centro do Rio, na quinta-feira, em vigília e protesto. Mas que recado? O que queriam dizer os assassinos de Marielle? A quem eles se dirigiam? “Não ousem mexer nas estruturas”, eles sussurravam. Uma leitura sobre as histórias por trás da história de Marielle.
MARÇO
2018
"Quantos mais têm de morrer?", desabafou Marielle um dia antes de ser executada
EDIÇÃO
01
POR DÉCADAS, NOSSA COBERTURA FOI RACISTAPARA SUPERARMOS NOSSO PASSADO, É PRECISO RECONHECÊ-LO Susan Goldberg, via National Geographic Magazine
A National Geographic, maior revista em circulação paga sobre ciências e sociedade, faz uma autocrítica sobre sua postura racializada em relação aos diferentes povos do mundo. Em sua edição de abril analisou os componentes discriminatórios que teve no passado, assumindo seu papel como propagadora de discursos raciais separatistas no público norte-americano. Nele, Susan Goldberg - primeira mulher e primeira judia à frente da National Geographic - lamenta: "Algumas das coisas que estão em nossos arquivos nos deixam sem palavras". Leitura essencial para todos os profissionais da Comunicação.
EU CONHECI UMA SENHORA IDOSA NO ÔNIBUS BUSCANDO POR BARULHO. ME ENSINOU MUITO SOBRE SOLIDÃO Mandy
Gould
via
Huffington
Post
"É meu 75° aniversário hoje, sabe? E eu não conseguia pensar em passá-lo sozinha dentro das quatro paredes vazias de minha casa". Um relato delicado sobre a humanidade.
MARÇO
2018
EDIÇÃO
01
NOAM CHOMSKY: “AS PESSOAS JÁ NÃO ACREDITAM NOS FATOS” Jan
Martinez
via
El
País
Brasil
O filósofo e ativista politico Noam Chomsky é considerado no âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna". Só por este mérito, já deveriamos prestar atenção em sua análise sobre a comunicação. Mais além, Chomsky é um opositor ferrenho do governo Trump e de suas idiossincrasias: "A desilusão com as estruturas institucionais levou a um ponto em que as pessoas já não acreditam nos fatos. Se você não confia em ninguém, por que tem de confiar nos fatos? Se ninguém faz nada por mim, por que tenho de acreditar em alguém?"
COMO O CONHECIMENTO SOBRE CULTURAS DIFERENTES ABALA AS BASES DA PSICOLOGIA Nicolas Geeraert via The Conversation Tradução de Camilo Rocha para Nexo
Uma leitura estimulante para pensar sobre o processo de entendimento de diferentes pessoas em diferente cenários. E mais: sobre como a ciência está sempre se renovando, tanto nos seus métodos como perspectivas.
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2018
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01