FSC Magazine #1 - Edição Brasileira PT_BR

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PARA PENSADORES E FAZEDORES DO FUTURO A PRIMEIRA EDIÇÃO EXPLORA COMO O CAPITALISMO VAI NOS MATAR ATRAVÉS DA DESTRUIÇÃO DOS SISTEMAS BIOLÓGICOS DOS QUAIS DEPENDEMOS, E COMO PODEMOS IMPEDÍ-LO. E MAIS UM MONTE DE OUTRAS COISAS QUE A GENTE ACREDITA QUE VÃO TE FAZER RIR.

MO RT O.

SEU CLIENTE ESTÁ

EDIÇÃO

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A FSC MAG RETORNA.

A edição de número um aparece para apresentar um outro ponto de vista da mistura de indústrias criativas, diversão e fim do mundo. Uma tarefa complicada, admito, que ao mesmo tempo parece natural pra nós. Vou te dizer que não somos alarmistas, mas não é preciso um alarmista pra ler o que está escrito na parede. Então pare de estocar ouro e miojo, e comece a criar a mudança – já que ela vem de qualquer forma.

NOTA DO EDITOR

Se você não está por dentro da inovação, a área mais legal pra se envolver agora é a de sustentabilidade, porque grandes problemas, como o fim do mundo, carregam consigo bastante propósito. E, por Deus, como alguns de nós precisam de propósito nessa nossa Era do Vazio. Quando sozinhos, os problemas que nos surgem parecem tão intimidadores que preferiríamos fingir que não há nada a fazer. E certamente é assim que nos parece. Então, o tema dessa Edição 1 é justamente esse – a ideia de que como indivíduos (ou os místicos consumidores individuais da sociedade de consumo), nos sentimos impotentes pra mover qualquer coisa significante. Entretanto, também exploramos a ideia de que como um – um grupo agindo como um único consumidor – somos incrivelmente poderosos e, de verdade, podemos controlar o capitalismo. No fim das coisas, somos os consumidores do capitalismo – nós o detemos, o criamos, e escolhemos apoiá-lo – logo, ele deve responder às nossas necessidades. O capitalismo deve prezar pelos nossos interesses, e não nos matar destruindo os sistemas biológicos que nos suportam. Então, se ele não liga pra a gente e pras nossas comunidades, devemos usar nosso poder como consumidores pra disruptar seus lucros e alterá-lo. Disrupção dos lucros é o poder derradeiro em uma economia de mercado, e esse poder se resume a uma ação bastante simples – negar produtos e serviços que não beneficiem a nós e às nossas comunidades. Deixar de comprar produtos que estejam embalados em plástico descartável porque eles acabam em aterros, ou no mar, já seria um bom começo. Uma decisão simples que, se reproduzida em massa, deixaria aterrorizadas as marcas plástico–poluentes, e levaria a mudanças quase instantâneas. A questão que queremos explorar é justamente como nos organizamos em favor de massificar esses tipos de decisões ambientais momentâneas. Ficou interessado? Continue a leitura para entender melhor. Não se interessou? Continue lendo, são várias ótimas entrevistas, artigos e coisas divertidas. Depois volte a contar o número de pacotes de miojo na sua despensa. A propósito, você vai precisar de uma arma pra protegê-los dos saqueadores, porque esses ladrões amam macarrão instantâneo. São seus favoritos. Obrigado por ler. Justin Small Editor

PRODUZIDA EM PECKHAM LEVELS™

EDITORIAL TEAM

Interessado em contribuir pras próximas edições? hello@futurestrategyclub.com www.futurestrategyclub.com

CONTRIBUIDORES Editor

Justin Small

Líder Criativo

Cosmo Soave-Smith

Justin quer substituir a

Cosmo é um copywriter

Fat Cat Corporate agency

criativo e um pensador

por um clube de membros

profundo classicamente

transparente, sem fins

treinado. Atualmente, está

lucrativos, de talento criativo.

escrevendo sobre o que os

Quer recuperar o foco das

hamsters fazem fora de

Agências sobre o manual, a

cativeiro.

qualidade e o cuidado. Foi justamente pra isso que ele criou o Future Strategy Club.

PAUL ARMSTRONG HENRY CARROLL MARC LEWIS ROS WYNNE-JONES MATT COX CHARLOTTE HILLENBRAND LEANNE PERO BEN RINGHAM THE DIGITAL GIMP FREDDIE YAUNER KATIE STOTTER SANCHO PANZA JAMIL QURESHI

JAMIE ANTIN DECLAN PITTS PIPPA DAY JONY & JIMY IVE RAY RAY INxSANIxTY DESIGN DA REVISTA POR VISUAL THINGS DESIGN ORIGINAL POR STUART WHYTE E MARCUS DUNFORD

EDIÇÃO BRASILEIRA Fábrica do Futuro Tradução por Isabel Britez Revisão e edição por Amanda Kaster Diagramação e layout adicional por Maria Fernanda Flores

Copyright © The Future Strategy Club 2018 ISSN 2516–8355 Todos os direitos reservados. Esta publicação, ou qualquer porção dela, não deve ser reproduzida ou utilizada de qualquer maneira sem a permissão escrita de seus escritores, exceto para utilização em citações curtas.

Impressão por Gráfica Epecê

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BEM-VINDO AO AMANHÃ. POR PAUL ARMSTRONG

NESTA COLUNA RECORRENTE NA REVISTA, O PAUL VAI APRESENTAR O QUE TEM ACONTECIDO RECENTEMENTE NO MUNDO TECH E OUVIR O CRÈME DE LA CRÈME FALAR SOBRE COMO A TECNOLOGIA É INCRÍVEL. A QUESTÃO É – A MAIOR PARTE DISSO NÃO É SEMPRE TÃO INCRÍVEL E, NA VERDADE, UMA PARTE NÃO TEM SENTIDO. O VELHO DITADO AQUI É RECICLADO “MATE A ANIMADORA DE TORCIDA, SALVE O MUNDO”. É TIPO LER A THE ECONOMIST (SEM A PROPAGANDO NEOLIBERAL PRÓMERCADO, CLARO). FAANG é um acrônimo para Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google. Existem outros acrônimos por aí, mas eu gosto de FAANG 1 porque me lembra o quão sugadoras de informação essas plataformas tipo aspiradores de pó têm se tornado. Um ponto conseguiu escapar dessas corporações vampirescas durante algum tempo, saber como você se sente durante um momento específico no tempo. Avançamos pra hoje e vemos a Apple vendendo um relógio que não é apenas um sistema de alarme que funciona sem seu telefone, mas é também um monitor cardíaco. Esqueça fitness – este filhote acabou de entrar na sala do veterinário e começou a abanar o rabo loucamente. Tudo não está certo com o mundo quando uma empresa que faz telefones sabe mais sobre sua saúde do que seu médico. Tecnologia e saúde têm sido amigas de longo prazo, mas as notícias recentes da Apple são como um prenúncio de tempestade do que está por vir. Não estamos próximos de sermos chipados (ainda que isso esteja ocorrendo em regiões nórdicas), mas estamos muito mais permissivos à entrada de aparelhos nas nossas vidas do que antes. Meu problema não é com os dispositivos em si, mas sim com a mão que balança estes dados. Confiamos na Apple pra fazer a coisa certa? Confiamos no Facebook para fazer qualquer coisa menos aquela que para eles é fonte de grana? A resposta é: depende. Mas, na realidade, essas plataformas e companhias são sistemas capitalistas que vivem para fazer dinheiro e não necessariamente para melhoramento da humanidade. Eles têm nossa confiança porque somos preguiçosos – e porque a gente ainda não perdeu muito a linha por aqui. A pergunta é – quão longe devemos ir na busca dos dados e sinais? Será que essas companhias algum dia vão ficar satisfeitas? Essa troca é válida? Provavelmente, um dispositivo que nos traz paz de espírito e que poderia salvar vidas valha a pena, mas isso é subjetivo. Pense nesse cenário um

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passo à frente e você esquece o dispositivo e simplesmente se “conecta”. Ellon Musk espera que nós criemos conexões neurais com a internet, e muitos dizem que ele pode fazê-lo. Se nós devemos fazê-lo, aí já é outro assunto, para outra coluna. Cotado acima de quinhentos dólares, o novo Apple watch faz outra coisa, além de te deixar mais pobre – faz com que cuidar “bem” da saúde se torne um símbolo de status. Isso leva mais uma vez as pessoas que já se encontram em desvantagem e em posições sociais mais baixas à segunda classe. Ou no mínimo, a um lugar não muito bom. De Ada até o MyFitnessPal, os aplicativos são parte cada vez mais importante das vidas das pessoas. Alguns auxiliam na resolução de problemas imediatos, enquanto outros se mantém com elas por muitos meses. Mas, o que ocorre quando os aplicativos se tornam valiosos e são comprados ou investidos por companhias maiores (e talvez menos fofas?) Os termos e condições geralmente significam que nossos dados estão sendo tomados. Claro que isso não é sinônimo de consequências ruins, mas e se – e se – um “mal feitor” decide usar estes dados pra criar diferentes cenários? Ou combiná-los com outros dados para reforçar desvantagens, ou para ganhar dinheiro em cima de você de novas maneiras? Companhias de seguro, bancos e assim vai – todos têm interesses em dados de consumo para desenvolvimento e criação de produtos. O futuro está prestes a parecer muito menos cor-de-rosa, a não ser que você trabalhe com ciência de dados, ou comece a ler aqueles “tês” e “ces” com mais atenção. Entretanto, os os “tês” e os “cês” não blindarão da Amazon. Recentemente, anunciando um micro-ondas que conta com o comando da Alexa – e também um botão pipoca acoplado – a Amazon mostrou ao mundo que, realmente, nosso único papel é mergulhar no ecossistema da Alexa e comprar, comprar, comprar. Bezos e companhia o farão da forma mais simples possível – e não é difícil de entender como, já que recentemente lançaram uns quinze novos produtos e atualizações. E, se já não estiverem prontos, a Amazon os criará através das suas companhias subsidiárias (assim como fizeram com a pipoqueira). Isso deve manter os executivos da manufatura acordados a noite toda, e inspirar uma geração a sempre proteger seu traseiro.

“RECENTEMENTE, ANUNCIANDO UM MICRO-ONDAS COM O COMANDO DA ALEXA, E UM BOTÃO DE PIPOCA ACOPLADO, A AMAZON MOSTROU AO MUNDO QUE, REALMENTE, NOSSO ÚNICO PAPEL É MERGULHAR NO ECOSSISTEMA DA ALEXA E COMPRAR, COMPRAR, COMPRAR” Mesmo não tendo sido sempre impressionante na criação de tecnologias (são famosas as falhas da Amazon em eBooks, telefones e tablets), a Alexa parece estar contrariando essa tendência. De acordo com o The Information, aproximadamente 50 milhões desses dispositivos estão atualmente em casas ao redor do mundo. O Google está vendendo suas versões (com aproximadamente um terço do mercado) como pão quentinho – com promoções, redução de preços e muitas campanhas fofas de segurança de consumo. O comando de voz está rapidamente se tornando um comportamento regular.

Os fabricantes estão nos empurrando isso, e nós somos apenas preguiçosos demais pra aceitá-los de bom grado. A Alexa, assim como o Google, tornou-se um epônimo pra controle de voz. O problema disso? Bezos e companhia não são conhecidos pelos seus anseios humanitários de elevarem o padrão da raça humana. Ainda que Bezos tenha tido seus momentos (recentemente doando muito dinheiro pra crianças carentes), o homem e a companhia não são bons exemplos de muito mais que fazer dinheiro e serem incrivelmente bem avaliados (recentemente vendo seu valor de mercado indo para além do 1 trilhão de dólares pela segunda vez na história – a Apple foi a primeira). Ainda assim, nem tudo está perdido – aparentemente, as pessoas só querem ter sua MTV. Dados sugerem que menos de 2% dos consumidores que utilizam um assistente de voz realmente tentam comprar coisas através dele; e daqueles que tentam, 90% não o fazem uma segunda vez. O tempo vai nos dizer se esses comportamentos se mantêm, mas algo me diz que Bezos não deve manter esses 2% nesse nível por muito tempo, uma vez que os discos estão em todas as casas pelo país. Meu problema, tanto com assistentes de voz quanto com os smartwatches, é o nível de acesso a dados que eles fornecem às companhias – coisa que antes só poderíamos sonhar. Seus batimentos cardíacos são uma coisa, mas a sua voz também pode dizer muito sobre seu estado de espírito, e ambos podem ser abusados se uma companhia é inteligente. Estes elementos costumavam ser pessoais, mas agora estão livremente disponíveis às companhias que ainda não se comprometeram completamente a não os utilizarem contra você. Seu batimento aumentou em um determinado lugar? Será que a Apple poderia deduzir algo disso? Voz tremulante quando se faz perguntas sobre gravidez? Começaria a Amazon seu ciclo de promoções de gravidez? A lista continua. Nós acabamos de dar à Amazon as chaves de pesquisa sobre nossos comportamentos sem nem perceber. Enquanto a Apple parece estar nos trazendo uma retórica de privacidade, a Amazon não teve esse escrúpulo e parece infernal para quem tenta regulá-la. Onde isso acaba é que ninguém consegue chutar, mas você pode apostar que começa com “Alexa”.

LINK:

https://www.theinformation.com/articles/the-reality-behindvoice-shopping-hype

Paul Armstrong Consultor Tecnológico Paul fundou e administra o HERE / FORTH, uma consultoria de tecnologia emergente. Atualmente escreve para a Forbes, Reuters, Evening Standard, Cool Hunting e Courier, entre outros. Seu novo livro “Tecnologias Disruptivas: Entenda, avalie e responda” já está à venda.


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TIME DO NOVO PRODUTO FIM DO MUNDO: APOCALIPSE ZUMBI 6

Ninguém entende como chegamos até aqui, mas o fato é que zumbis são reais e estão batendo nas janelas dos nossos escritórios enquanto tentamos concluir nossos trabalhos de ideação. Muito perturbador. Sim, claro, pode ser que aquele lançamento acidental de uma nova arma biológica em Hull tenha sido a causa mas, de qualquer forma, as discussões acaloradas dos últimos anos entre serem os zumbis corredores rápidos ou lentos foi respondida por agora – não são nenhum dos dois. Eles se movem como um homem de meia idade pançudo num jeans skinny (cuidando de um tornozelo machucado da pelada que jogou ontem à noite) correndo para pegar o ônibus. De qualquer forma, apresentamos nossos top três produtos que achamos que serão de grande ajuda.


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Faça valer todo mundo que ainda não tenha sido consumido pelos zumbis! Crianças de 3 a 7 anos vão amar essa metralhadora colorida, cromada em titânio, com pegadores suaves e um mecanismo de direção super macio. Com as balas, estarão melhorando sua coordenação motora da maneira mais mortal, seja acabando com uma horda de fantasmas ou escrevendo seu nome nas paredes de um prédio.

Espreguiçar-se depois de um longo dia encolhido pode ser difícil com os grunhidos incessantes dos seus vizinhos repugnantemente infectados. Para sua sorte, estes fones bloqueadores de barulho têm uma bateria de 25 horas, o que significa que você pode soluçar em paz por mais tempo. Compre-os antes do natal e receba grátis um CD da Enya.

Mantenha a moral no alto e ao mesmo tempo se mostre moderno para os seus colegas mortos com essas camisetas descoladas. De mangas curtas e feitas de algodão de pima, você pode ter certeza que estará nas capas da Vogue Apocalipse.

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Não sou um zumbi, só tô de ressaca.

Não sou um zumbi, só tô de ressaca. Não sou um zumbi, só tô de ressaca.

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de inovação, empreendedorismo e tecnologia com o objetivo de impulsionar talentos empreendedores locais e internacionais. Focando no desenvolvimento de startups e scale-ups e voltada para áreas como cultura, educação e entretenimento, a Fábrica do Futuro é um ponto de encontro de negócios com propósito e potencial de inovação no cenário brasileiro.


FÁBRICA DO FUTURO.

INOVAÇÃO, EMPREENDEDORISMO, ARTE, CULTURA E EDUCAÇÃO. A FÁBRICA DO FUTURO É UM VORTEX DISSO TUDO, LOCALIZADA NO QUARTO DISTRITO DE PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL.

Há um número crescente de startups brasileiras e todas têm um problema em comum: a falta de orientação sobre a visibilidade do mercado global. Por isso, a Fábrica do Futuro não quer ser mais um espaço de coworking com puffs e ping pong, mas um ambiente onde são elevados os sentidos dos empreendedores, com trocas de ideias, incentivos, desafios e a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos com mentoria internacional.

O 4º Distrito de Porto Alegre é a espinha dorsal da criatividade da cidade, onde antes se localizava uma antiga fábrica de enfeites natalinos que estimulou sonhos no passado agora está se tornando uma fábrica para o futuro, um lugar onde arte e tecnologia se unem para impactar o mundo. A Fábrica está aberta para a sociedade, com projetos como a Futuroteca e Open is Cool, além de residências criativas e exposições itinerantes do Museu de Arte Contemporânea do RS, salas de aula, auditório, food corner, bar e uma área externa para feiras, exposições, concertos e cinema ao ar livre.

Um ecossistema de inovação tecnológica com o objetivo de reunir talentos locais e internacionais com foco no desenvolvimento de startups e scale-ups de universos diversos, como Agro, Foodtech, VR e Educação Empreendedora. A FdoF é um espaço mutável e transformador. No térreo, as mesas de Goworking podem ser reunidas para catalisar o espaço em ambientes que vão desde passarela de desfiles de moda até festivais como o Tech Art e BS Festival e competições de pitches internacionais como Get In The Ring. Além disso, somos casa do vencedor do prêmio Profissionais da Musica 2018 de Melhor Estúdio do Brasil, o Audio Porto.

A Fábrica do Futuro é muito mais sobre a construção de uma comunidade, do que mais um escritório compartilhado no cenário nacional. A proposta é a construção de uma sociedade mais feliz, com negócios que desenvolvam tecnologias conectadas à inovação sustentável e impacto socioambiental. Uma produtora de conteúdo e entretenimento para uma comunidade global, dando a seus players acesso à possibilidades advindas da visibilidade e do conhecimento compartilhado.

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DIA DE PREMIAÇÃO NO CLUBE DE CÂMERAS LAYCOCK. A FICÇÃO FUTURISTA DE HENRY CARROL PREVÊ UM FUTURO AUTOMATIZADO PARA A FOTOGRAFIA, EM QUE OS FOTÓGRAFOS SÃO OS RECEPTORES PASSIVOS DE SUAS FOTOGRAFIAS. O presidente se levantou, caminhou à frente e posicionou seu tablet no púlpito. Todos os bancos da igreja estavam cheios – como sempre ficavam nessas ocasiões – e, quando ele se instalou, os membros do clube aplaudiram e suas câmeras flutuaram sobre suas cabeças como beija-flores. Algumas câmeras desceram e ficaram em frente ao rosto do presidente enquanto ele tentava se posicionar. Elas faziam bipes e disparavam luzinhas azuis. Isso deixou seus donos encantados – especialmente aqueles que possuíam os últimos modelos –, mas claramente irritou o presidente. Ele desbloqueou seu tablet, cuja luminosidade preencheu as linhas do seu rosto com sombras profundas e escuras, e disse: “posso pedir que todos os membros gentilmente mudem suas câmeras para o modo passivo?” Com aquilo, o olho esquerdo de alguns dos membros do clube se tornou vermelho. Ou, mais precisamente, um círculo vermelho emoldurou suas pupilas. E, quando as câmeras inconvenientes recuaram, o vermelho esmaeceu e os olhos de seus donos voltaram ao normal. O presidente pigarreou e prosseguiu. “O resto do comitê e eu gostaríamos de agradecê-los pela presença hoje e pelo seu apoio generoso ao longo do ano. Como sabem, este ano representou um marco para o Laycock Camera Club porque 2039 marca nosso 175° aniversário!” Aplausos ecoaram pela igreja e as câmeras começaram a tremer, quase como se estivessem lutando para conter sua urgência em fotografar. “E…e...” o presidente se inquietou sob os aplausos, “talvez, ainda mais importante: exatamente 200 anos atrás, na casa da minha família que fica a poucos passos de onde estamos reunidos, meu trisavô, Willian Henry Fox Talbot, inventou a maravilhosa forma artística que celebramos hoje.” Os membros se encararam com expressões que indicavam que a história do seu clube pesava em seus ombros artísticos. “Como sempre, os envios da competição de fotografia desse ano foram julgadas por mim e pelo nosso estimado comitê.” Mais aplausos ecoavam pela Igreja enquanto o presidente levantava um braço em direção a quatro figuras graves sentadas em frente ao altar com suas mãos descansadas em seus joelhos. “E, como sempre, todos os vencedores receberão um voucher de cinquenta libras para reembolso da taxa de afiliação, enquanto o primeiro lugar receberá mais um ano de associação!” O presidente se agitou animado, e os membros que aplaudiam se remexiam em seus assentos, ansiosos para saber de quem seriam as fotografias que triunfariam nesse ano.

do clube: uma fotografia de Fox Talbot, sob a qual estava o nome do clube e a frase “A Terra Natal da Fotografia”. “Está grande o suficiente?” perguntou o presidente. “Todos conseguem ver aí atrás? Falem caso não consigam.” Houve alguns pedidos distantes para que a tela ficasse um pouco maior, um pouco mais inclinada, o que foi resolvido com um ajuste rápido do tablet. “Certo. Onde estávamos? Sim, primeiro temos o envio mais elogiado deste ano.” A tensão no espaço era palpável. Em contraste ao zumbido das câmeras que pairavam, pernas tremiam nos bancos que rangiam, e aqueles que sentavam ao fundo inclinavam suas cabeças sobre as dos outros membros, ansiosos para descobrir de quem seria a primeira foto no telão. De um lado, todos queriam que fosse a sua, mas ao mesmo tempo também não, porque ninguém nunca lembrava de quem havia ganhado esse prêmio. Passados alguns momentos, a tela se espremeu em uma bola, pequena e brilhante, que vibrava no ar e então irrompeu novamente para revelar a fotografia de um moinho de vento. Ela era, sem dúvidas, uma imagem muito bonita de um moinho. Uma camada de branco cobria o solo, e a neve descansava gentilmente em suas pás. Ao fundo, ramos quase pretos contrastavam com o branco e criavam um quadro ao redor do objeto. Todos imediatamente reconheceram o moinho, a maioria inclusive já o havia fotografado, porque era esse o moinho que ficava nas montanhas acima da vila. “Moinho de Vento Coberto de Neve por Tony Pritchard!” o presidente anunciou. “Onde você está, Tony? Suba aqui para pegar seu voucher. O mais rápido que puder.” Tony se levantou e desceu ligeiramente do banco em direção aos aplausos frenéticos. Alguns membros sussuravam entre si, reforçando o quão bonita era a fotografia. Diziam coisas como: “Bela iluminação”, e “Composição maravilhosa”, e “Ele sempre teve uma boa câmera”. Enquanto isso, outros tinham um ar de pouco impressionados, como se dissessem ‘Minha câmera poderia ter feito isso’. Quando Tony chegou à frente, uma câmera se abaixou pra tirar sua fotografia apertando a mão do presidente enquanto recebia seu voucher. “Parabéns, Tony,” disse ele. “Então, por favor, contenos como sua câmera foi capaz de realizar essa bela captura?” E então, cochichando disse: “E tente ser breve, ok.”

seu cachorro pra passear com a câmera. Enfim, estava alimentando CB com sua nova ração vegana pra cachorros, e quando chegamos ao topo da montanha ele fez um cocô gigante. Como um dono de cachorro responsável, inclinei-me pra recolher, e a câmera voou pra procurar se havia algo pra ser capturado. Obviamente, eu tava tipo ‘não tem nada pra ver aqui, parceiro’, e foi aí que ela seguiu direto para o moinho de vento. Inevitável, eu supus, já que tinha trocado para Popular porque é legal ganhar os likes, vocês sabem. Enfim, enquanto eu amarrava a sacolinha de cocô eu vigiava o que a câmera fazia pelo velho olho vermelho. É fascinante ver como ela estava compondo o tema, e o que não fazia parte, e quando ela finalmente voltou, eu vi que tinha capturado isso. Eu fiquei bastante contente.” Aplausos preencheram a igreja. “Obrigada, Tony,” disse o presidente, estimulando-o a voltar ao seu assento. “Muito merecido.” O logo do clube voltou à tela, os aplausos se dissiparam e o presidente apresentou o próximo prêmio. “Agora, a fotografia que alcançou o terceiro lugar...” Mais uma vez, a tensão na igreja se alastrou. A tela se contraiu e irrompeu outra vez, para revelar uma fotografia de um antigo Spitfire acelerando pelo ar sobre a vila. Ele parecia vibrar levemente na composição, o que adicionou uma noção de velocidade, e a cada cinco segundos ele fazia um loop da vitória. Era, deve-se considerar, uma foto excepcionalmente próxima e dramática de um Spitfire que estava perfeitamente posicionado no céu sobre o vilarejo. Com aplausos entusiasmados, o presidente gritou, “Spitfire sobre Laycock por Vanya Sing.” Vanya sempre foi a primeira a chegar às reuniões do clube, e estava sentada no primeiro lugar na igreja. Uma vez passado o choque da vitória, ela se levantou e timidamente caminhou até o presidente. Quando ele a entregou o voucher e a cumprimentou para a câmera que pairava, a pobre Vanya parecia prestes a derreter sob toda a atenção. “Congratulations Vanya! What a shot. Please do tell us how “Parabéns, Vanya! Que bela captura. Por favor, conte-nos como sua câmera conseguiu.” “Ah, céus,” disse a Vanya baixinho, “Não estava esperando por isso.”

Tony se juntou ao clube vinte anos antes, e era uma figura excêntrica bem conhecida entre os membros. Inclusive, ele foi quem criou o logo do clube.

“Espere aqui”, o presidente interrompeu. Ele clicou em algo no seu tablet que fez com que um microfone se materializasse em frente à boca da Vanya.

“Sim, bem...” começou o Tony, “Cartier-Bresson e eu estávamos em Laycook Hill, como fazemos todas as manhãs. É um dos maiores prazeres da vida, simplesmente levar

“Obrigada”, ela prosseguiu, sua voz agora estendia-se pela igreja. “Bem, eu estava sentada na encosta, provavelmente

“Então, sem mais delongas, vamos ao que interessa!” O presidente tocou em seu tablet, o que fez aparecer uma tela holográfica brilhante no ar ao seu lado. A tela apresentava o logo

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não muito longe de onde o Tony leva seu cachorro pra passear. Era uma noite maravilhosamente pacífica, e eu estava lá sentada, sozinha com meus pensamentos. Aí notei algo muito estranho. Minha câmera se afastou, como se estivesse esperando por algo. Percebi então que eu acidentalmente havia selecionado o modo Futuro. Bem, fiquei bastante nervosa porque claramente alguma coisa estava prestes a acontecer, mas eu não conseguia imaginar o que – era uma noite tão calma. Então, alguns momentos depois, o Spitfire passou voando e justamente enquanto estava sobre o vilarejo ele fez uma pequena pirueta no céu”. “Fantástico! Que história adorável,” entusiasmou-se o presidente. Vanya uniu suas mãos e agradeceu aos membros que aplaudiam; agradeceu ao presidente e ao comitê, que continuou sentado imóvel com suas mãos sobre os joelhos. Quando Vanya se sentou novamente, seus colegas de banco a parabenizaram com fervor e dispararam olhares invejosos ao seu voucher. A foto em segundo lugar foi “Coruja–das–torres” por Jack Perkins, que era, podemos dizer, uma foto bastante assustadora e sobrenatural de uma coruja–das–torres. Jack era um construtor local, que morava em uma das antigas casas da câmara municipal, nos subúrbios do vilarejo e, para a frustração dos membros, todos os anos ele ganhava alguma coisa. Justamente por isso os aplausos que recebeu enquanto se dirigia à frente eram pouco entusiasmados. Alguns membros inclusive reviraram os olhos quando seu nome foi chamado, e através dos dentes cerrados murmuravam coisas como: “parece que alguém conseguiu um negócio daqueles no seu novo telhado...” Quando o presidente pediu a Jack que explicasse como sua câmera tirou a fotografia, Jack disse, “Sim. Claro. Então, era mais ou menos quatro e meia da matina e eu tava indo de magrela para um trabalho. Minha câmera tava na minha mochila. Eu pensei que não ia conseguir enxergar nada, porque tava muito escuro. Enfim, tava quase no limite da vila quando essa porcaria começou a mexer na minha mochila. Daí

eu parei para tirar ela dali porque tava perto de me derrubar da bicicleta. E quando eu fiz isso ela só disparou pelo ar, voltando pra estrada. Eu tava tipo ‘que saco, não tenho tempo pra isso.’ De qualquer forma, dei meia volta e segui a câmera, e foi aí que eu vi a coruja sentada no galho! Não consegui acreditar. Achei que elas tivessem extintas há muito tempo. Enfim, a coruja só ficou sentada ali enquanto minha câmera dava voltas ao seu redor tirando umas fotos. Foi engraçado porque a cabeça dela ficava acompanhando a câmera dando voltas. Achei que ela fosse despencar!” O presidente pareceu ter achado a história bastante divertida, e acabou dando uma risadinha enquanto gesticulava a Jack que voltasse ao seu lugar. Qualquer aplauso que existiu logo foi suspenso, e além das tossidas ocasionais do presidente e dos passos de Jack, a igreja era tomada por silêncio mais uma vez. “Certo! Agora é hora de anunciar o campeão dos campeões deste ano. Mas, antes disso, gostaria de mais uma vez parabenizar todos vocês. Se meu trisavô estivesse aqui hoje, ele estaria admirado pela qualidade de suas fotografias, e eu tenho certeza de que estaria completamente maravilhado por ver o quanto a fotografia avançou desde seus primeiros experimentos. Mas, só podemos ter um vitorioso. Então, senhoras e senhores, o vencedor da Copa Talbot 2039 é...” Todos mantiveram-se sentados e imóveis, silenciosamente desejando que o nome chamado pelo presidente fosse o seu. Imaginem o prestígio. Sua fotografia estaria exposta na sala do clube, que fica na casa da família do presidente. E ficaria lá ao lado de todas as outras fotografias vencedoras ao longo dos últimos 175 anos. Talvez, o comitê pudesse inclusive investir em uma moldura especial, uma vez que este era um ano marco para o clube.

aplausos começaram. Primeiro desiguais e lentos, foram ganhando momentum até que alguns membros ficasse de pé. Logo todos estavam de pé. Houve inclusive exclamações de “Lindo!” e “Esplêndido!” Era o primeiro ano da Betty no clube, então via de regra teria sido uma conquista inesperada que ela alcançasse o primeiro lugar. Entretanto, seu pai havia morrido há pouco, então os membros no geral estavam muito felizes de vê-la ganhar. Quando ela conseguiu se esgueirar por todos em seu banco, parou para ajeitar sua saia antes de percorrer o corredor. As pessoas esticavam suas mãos e diziam coisas como: “Seu pai estaria tão orgulhoso,” e “Eu sabia que seria o seu,” e “Olhe só pra você. Você é tão talentosa.” Era difícil encontrar exatamente o motivo da sua foto ser tão bonita e tão cheia de atmosfera – ainda assim, isso era inquestionável. Ao fundo, os contornos da janela de treliça apareciam amparados por um brilho celestial. Começando do balde, o esfregão angulava em 45 graus através da composição, e seu cabo repousava gentilmente na parede rachada. Dentro do balde a água refletia a janela de treliça, e onde o esfregão cortava a superfície, os contornos da janela distorciam-se. E as cores! O vermelho do esfregão, o amarelo da etiqueta do preço, o verde-menta do balde e a tinta gelo nas paredes – tudo casava perfeitamente bem.

“Betty Douglas, por sua fotografia Balde e Esfregão na Janela de Treliça!”

Enquanto Betty se aproximava do presidente, que aplaudia tanto que teve que segurar seu voucher sob suas axilas. Ele nunca tinha feito isso antes. E quando ela o alcançou, ele chacoalhou sua mão tão vigorosamente que seu corpinho pequeno e gordinho balançava como um pudim do peito ao tornozelo. Ela ficou lá parada, encarando os outros membros, com as bochechas vermelhas e suas mãos pressionadas sobre sua boca como alguém que nunca tinha ganho nada antes na vida. Os aplausos entusiasmados duraram mais um ou dois minutos, então um a um os membros foram se sentando.

Quando a foto vencedora apareceu na tela, houve uma reação tardia enquanto os membros a encaravam. Alguns avançaram com as cabeças. Outros apertavam os olhos. Só então os

“Parabéns, Betty!” disse o presidente com entusiasmo. “Aqui está seu voucher para cobrir a taxa de afiliação do ano que vem. Agora, eu devo dizer, sua fotografia é maravilhosa. Tão rara. Estamos

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“ POR QUE DIABOS VOCÊ QUER IR CONTRA O QUE A FOTOGRAFIA SEMPRE ASPIROU SE TORNAR? VOCÊ É ABSURDAMENTE PRIVILEGIADA DE VIVER EM UMA ÉPOCA EM QUE A CÂMERA FAZ TUDO. FINALMENTE A FOTOGRAFIA CUMPRIU SEU DESTINO E SE TORNOU INTEIRAMENTE AUTÔNOMA.”

todos morrendo pra descobrir como sua câmera a fotografou.”

“Betty… por favor…”

Betty levou algum tempo para se recompor antes de dizer, “Bem, como alguns de vocês sabem, meu pai faleceu no começo do ano, e enquanto eu vasculhava suas coisas encontrei essa câmera digital antiga. Uma daquelas que você precisa segurar nos olhos. Eu não tinha ideia de como funcionava, então procurei na internet e assisti a alguns vídeos.”

Betty agarrou-se em seu voucher com ambas as mãos e o segurou com força contra o peito.

Enquanto ela falava, uma expressão confusa se mostrava nos rostos dos membros.

O presidente tentou arrancar de Betty o voucher, mas ela estava determinada em mantê-lo. Exausto, ele deu um passo atrás, então outro, e mais um, até que Betty se encontrasse parada sozinha à frente da igreja.

Então a levei ao trabalho um dia, e enquanto limpava os arredores do mosteiro, fui tocada por essa cena. Realmente não sei por que eu…”

Foi quando ela notou todos os olhos vermelhos a encarando.

“Desculpe,” interrompeu o presidente, “Betty, você está dizendo que você que tirou essa fotografia? E não a sua câmera?”

Foi quando ela notou que todas elas se alinhavam em posição de ataque.

Foi quando ela notou o zunido alto que faziam as câmeras.

“Sim, exatamente.” O presidente mordeu o lábio inferior e fez um som de sucção. Ele espreitou o Comitê, que agora se sentava com seus braços cruzados e sacudia a cabeça. Olhou para os membros, cujas faces estavam cheias de desaprovação. “Betty”, gravemente proferiu o presidente, “Eu sei que você é nova no clube, mas ainda assim, isso não é desculpa pra não conhecer suas regras. Temo ter que te desqualificar.” Betty foi, obviamente, pega de surpresa. “Ah. sério? Por quê?” Ela perguntou. “As regras do LCC declaram que a câmera deve tirar a foto, e não a pessoa. Não seria justo de outra forma, seria? Porque então algumas pessoas seriam muito melhores nisso do que outras. E a fotografia não é assim, certo? É isso que a faz tão especial. Ela… ela é pra todo mundo.” O presidente se moveu em direção aos membros do clube, que acenavam com a cabeça em aprovação. Era muito raro que Betty protestasse em público. Ela só não era esse tipo de mulher. Mas, devido às circunstâncias, ela não pode se segurar. “Mas isso é burrice,” ela disse.” Para que fotografar se você não pode ser criativo?” Seu comentário provocou um coro de exasperação dos membros do clube e declarações de incredulidade. “Ah meu deus,” eles diziam e, “Isso é ridículo.” “Deus!” zombou o presidente. Isso não é muito progressista da sua parte, é, Betty? Por que diabos você quer ir contra do que a fotografia sempre aspirou se tornar? Você é absurdamente privilegiada de viver em uma época em que a câmera faz tudo. Finalmente a fotografia cumpriu seu destino e se tornou inteiramente autônoma. Você não vê? Pessoas, como você, e todos aqui, foram livrados da carga do processo e, ao mesmo tempo, incluídos.” O presidente se inclinou sobre Betty e fitou seus olhos. Betty se manteve ali parecendo confusa, o que exacerbou o humor do presidente. “Veja. Já estamos compromissados com os Carpenters às quatro, então realmente deveríamos prosseguir.” Com aquilo, o presidente tentou tomar o voucher da mão de Betty, mas ela recuou.

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“Vamos. Não faça uma cena.”

Henry Carroll Fotógrafo, escritor e autor Henry Carroll se formou pelo Royal College of Art em 2005. Ele é fotógrafo, escritor e autor da série “Read This If You Want To Take Great Photographs”. Publicado pela primeira vez em 2014 por Laurence King, essa série best-seller vendeu mais de 600 mil cópias em 17 línguas. Seu último livro, ‘Fotógrafos sobre Fotografia; como os mestres vêem, pensam e fotografam’, já está nas lojas. Originalmente de Londres, agora Henry vive em Los Angeles.


o d i r e q umil Ja

O TIO EMPREENDEDOR RESIDENTE DA FSC MAG, JAMIL QUERESHI, ESTÁ AQUI PARA AJUDAR VELHOS E NOVOS NEGÓCIOS COM SEUS PROBLEMAS. SE VOCÊ ESTÁ COM PROBLEMAS NA SUA EMPRESA E GOSTARIA DE AJUDA, ELE PODE AJUDÁ-LOS. MANDEM UM E-MAIL PRA ELE ATRAVÉS DO HELLO@ FUTURESTRATEGYCLUB.COM

Querido Jamil… Somos uma companhia de sucesso de 100 anos de fundação. Fazemos as coisas como gostamos, e gostamos de como fazemos as coisas – e sempre foi assim. Nossos clientes nos amam – isso é, aqueles acima de 50 anos. Nossos empregados nos amam e são muito fiéis – aqueles acima de 50. Mas temos um problema com as crianças (aqueles clientes e empregados com 40 anos ou menos) – ou, como alguns os chamam, os millionarials . Eles estão insatisfeitos conosco. Reclamam nas redes sociais sobre os nossos serviços, fazem vídeos dos nossos erros e os compartilham com todos, e se nós os contratamos, eles vão embora depois de três meses devido à iluminação, às cadeiras, à estrutura organizacional e à velocidade da tomada de decisões. Obviamente isso é um problema pra nós. Principalmente porque Jeff e Jim – que estão conosco desde 1963 e têm basicamente dirigido esse lugar – logo precisarão se aposentar para irem pescar, e não conseguimos encontrar ninguém que fique tempo o suficiente para substituí-los. Estamos começando a ver um leve declínio em nossos lucros enquanto nossa base de clientes fiéis morre. O que devemos fazer? E como deveríamos prosseguir da forma menos dolorosa ou ingrata para os nossos clientes e empregados mais leais? Com os melhores cumprimentos, Ronda (CMO) – nome da empresa ocultado.

Querida Ronda… Obrigada pela mensagem. Esse é um problema que muitos dos meus leitores têm – uma companhia bem sucedida com uma cultura que está há vinte anos atrasada, em que tudo está sendo sustentado por fita adesiva pra evitar as amplas transformações organizacionais necessárias. Nessa situação, Ronda, você tem duas escolhas – arrancar logo o band-aid e esperar que o choque e a dor diminuam relativamente rápido, ou tirá-lo lentamente e prolongar a dor por um intervalo de tempo muito mais longo. A maioria das organizações que ainda fazem muito dinheiro a partir das suas estruturas e cultura antigas escolherão fazer a última, e aquelas que estão prestes a falir escolherão a primeira.

Partindo da sua mensagem, parece-me que vocês estão firmes no último espaço, e que querem transformar sua cultura da maneira mais silenciosa e sutil possível, com o mínimo de disrupção. Você está provavelmente imaginando uma transformação aconchegante, e não dolorosa da sua cultura de mais de cinquenta anos, em que você chega no dia seguinte e tudo se encontra igual no geral, mas diferente. E que os “millionarials”, como você os chama, irão te amar e seguir como rebanho, largando o Facebook e o Google pra trabalharem pra você. Você pode receber algumas reclamações dos seus empregados mais seniores sobre o barulho da nova máquina de café no canto, que está constantemente espumando leite pra os capuccinos, mas você resolve isso reduzindo a sensibilidade dos aparelhos auditivos, ou comprando para eles fones de ouvidos obstruidores de som e cartões presente de U$20 do ITunes. Você também encontrará alguns sorrisos chochos quando os “millionarials” começarem a derrubar os nichos divisórios para tornarem o escritório mais amplo, permitindo colaboração interdisciplinar, mas você vai acalmar essas carinhas tristes reforçando aos seniores que eles agora podem espionar os ridículos altos e baixos das vidas hilárias dos colaboradores mais jovens. Geralmente, sua empresa vai de bem a melhor, os lucros estarão positivos e Jeff e Jim se aposentarão em direção à grande cabana de pesca nos Montes Apalaches. E então você, Jeff e Jim, acordarão. E vocês vão perceber que isso foi só um sonho. A verdade, Ronda, é que vocês estão – pra usar o termo técnico – propriamente f#@idos. Se você tentar o caminho mais lento, conseguirá uma guerra civil sanguinolenta e sua empresa vai, muito provavelmente, implodir. Se você tentar a via rápida, você precisará despedir um terço do seu corpo de trabalhadores-improdutivos-presos-às-mesmas-velhasrotinas-de-sempre.

“A VERDADE, RONDA, É QUE VOCÊS ESTÃO – PRA USAR O TERMO TÉCNICO – PROPRIAMENTE F#@IDOS.” De qualquer uma das formas, você vai precisar permitir barbas no espaço, e inclusive cogitar permitir chinelos de dedo durante o verão (embora eu sugira que isso valha apenas para os funcionários abaixo de 40 – uma vez que fungos de unha amarelados são extremamente infecciosos e farão com que metade dos seus funcionários deixe de almoçar, ocasionando uma queda considerável de produtividade). Você vai precisar repensar completamente como você faz reuniões – e todos precisarão aprender como idear em um estalar de dedos. Seus gastos em post-its aumentarão exponencialmente, e você de repente encontrará canetas coloridas em cada canto da empresa, aparentemente se multiplicando como coelhos. As janelas não serão mais janelas, serão quadros transparentes, e fotos estranhamente enquadradas poluirão as paredes e nunca serão retiradas (e Deus te livre de tentar). Frituras serão banidas do seu refeitório e substituídas por um menu exclusivamente cru. Nas manhãs de segunda-feira as reuniões de planejamento iniciarão pontualmente às sete da manhã, depois da Yoga. E tudo isso é só o começo, Ronda. Você, em seis meses, vai substituir sua estrutura organizacional atual por uma horizontal, sem gestores, e jazz vai tocar por todos os lados,

mesmo nas cabines dos banheiros. Todos serão responsáveis por tudo, e todas as mesas terão rodinhas, para que você possa escolher sentar onde quiser (você inclusive encontrará pessoas nos elevadores transportando suas mesas para outros andares uma manhã ou outra). Todavia, eventualmente as coisas se assentarão, e não importa qual dos seus funcionários seniores tenha permanecido, ele será encontrado majoritariamente escondido nas salas dos servidores – devido ao conforto do enclausuramento e à ausência do jazz. Não muito tempo depois, as crianças terão redesenhando totalmente o seu produto como um serviço de realidade aumentada omnichannel, que será lançado como beta (não finalizado) quase imediatamente (ainda que não vá funcionar, esse é absolutamente o objetivo, porque ele deve falhar para funcionar do jeito certo). Depois de 37 iterações, o novo serviço finalmente estará pronto para ser lançado e substituir seu antigo produto ruim. No dia em que estrear, 70% dos seus clientes o deixarão e irão atrás do seu concorrente, e os 30% que sobraram serão todos jovens, crianças descoladas sem dinheiro pra gastar e que nunca avançarão do seu serviço básico e gratuito. No ano seguinte, sua companhia terá um quarto do tamanho que tinha, e as crianças decidirão se mudar para Los Angeles para que possam surfar no seu intervalo de almoço (o que é um direito trabalhista, como está escrito no manifesto que adorna todas as paredes do escritório). Eventualmente, eles cansarão de iterar o novo serviço de realidade aumentada omnichannel, e enquanto as perdas sobem a níveis insustentáveis, as crianças venderão sua marca de 100 anos para o seu concorrente e entrarão em uma consultoria de falência. Seu concorrente então o reconstruirá com a ajuda de todo seu staff senior, e fará seu relançamento como um produto físico de novo, ganhando todos os seus clientes antigos e alcançando lucratividade máxima dentro de seis meses. Então, meu conselho para você Ronda é que tudo declina – devagar, metodicamente – então fique com seus seniores e seus antigos clientes, e decline com eles até o fim com graça e autoestima. Você e eu sabemos que o fascínio do novo nada mais é do que a sombra do velho – então fique firme Ronda, e você pode simplesmente mudar o futuro em vez dele dobrar você. Com carinho, Jamil

Jamil Qureshi Psicólogo especialista em Aprimoramento de Performance Jamil Quereshi é um psicólogo aprimorador de performance e um expert em times de alta performance. Jamil trabalhou com uma rica diversidade dos mais talentosos líderes de negócios, esportistas e times de esportes pelo mundo. Ele também trabalhou com sucesso com três dos clubes de futebol da English Premiership; motoristas de Fórmula Um; com os vencedores de cricket de 2009 da England Ashes e com jogadores de futebol do Manchester United e do Manchester City, Liverpool e Chelsea. Além do esporte, trabalhou com diversos negócios, ajudando times a alcançarem o máximo do seu potencial, orquestrando programas de mudança e performance. Além disso, Jamil desenvolveu programas de gestão e de liderança a nível de chefia para a Coca Cola, HP, Emirates Airlines, Serco, Orange e RBS.

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COPA MUNDIAL DE RABISCOS LIVRES.

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COM A COPA MUNDIAL DE RABISCO LIVRE INICIANDO EM APENAS NOVE MESES, A FSC MAG COMEÇA A BUSCA PELO MELHOR CARTUNISTA PARA NOS REPRESENTAR. NOSSO CAMPEÃO RESIDENTE DE RABISCO LIVRE, SR. IDIOTA, APRESENTOU SEU DESAFIO (ABAIXO), AO DESENHAR CELEBRIDADES NÃO UTILIZANDO RETRATOS. AS REGRAS SÃO SIMPLES – 30 SEGUNDOS PRA RABISCAR UM SUJEITO – NO SEU CASO, NIGEL FARAGE.

Freddie Mercury

Stephen HAWKINg

Donald Trump

Boris Johnson


MANDE OS SEUS RABISCOS NO TWITTER PARA @F_STRATEGYCLUB E #FSCFREEDOODLE E NÓS ESCOLHEREMOS UM VENCEDOR. BOA SORTE.

Nigel Farage

#FSCFREEDOODLE

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Marc Lewis Marc Lewis era um aluno bolsista da SCA quando ela ainda existia em 1990. Ele a deixou para trabalhar pra Leo Brunett como um escritor, mas acabou criando empresas de tecnologia. As startups de Marc geraram mais de 50 mi de libras em ações, mas ele perdeu a paixão pelo dinheiro e quis fazer algo com propósito. Uma conversa de peito aberto com o Sir John Heagarty e Rony Sutherland levaram à abertura da SCA em 2010. John e Rory se tornaram sócio-fundadores.

ENTREVISTA

“O PRÊMIO MAIS SIGNIFICANTE PARA MIM QUE MEUS ALUNOS EVENTUALMENTE GANHEM É O PRÊMIO NOBEL. SEI QUE SOA BOBO, MAS EU REALMENTE ACREDITO NISSO.” MARC LEWIS, REITOR DA ESCOLA DE ARTES DA COMUNICAÇÃO, FALA SOBRE POR QUE OS COMUNICADORES SALVARÃO O MUNDO, COMO CAPITALISMO É AUTO-CURATIVO, SUA CARREIRA ANTERIOR COMO UM MILIONÁRIO PONTO.COM, E POR QUE O SPOT DE 30 SEGUNDOS ESTÁ MORTO. Entrevista por Justin Small 16

Justin: Eu conheço um pouco da história da sua carreira, mas seria ótimo ouvir como você começou. Marc: Nasci e me criei em Croydon (ING). Visitei uma quantidade razoável de postos de polícia durante a minha adolescência. Não que eu fosse um rapazinho super atrevido, mas eu era um garoto, eu não respeitava a educação naquela época. Meus pais me deram uma boa educação, mas eu não respeitava isso, então saí do Ensino Médio com três Us (sem nota) e um F (média mínima para passar) nos meus exames. Consegui descolar um emprego numa loja de departamento em Wimbledon, e um dia no refeitório dos funcionários havia uma cópia do The Guardian, um jornal que eu nunca tinha lido antes, e estava rolando uma competição patrocinada pelo Guardian valendo uma bolsa de estudos. O edital era para criar um partido político e uma campanha para o levasse à vitória. Participei e ganhei a bolsa para a escola de comunicação da John Gillard’s, e foi aí que minha educação começou de verdade. Eu espremi cada gota de oportunidade para aprender na John. Mudou a minha vida, realmente mudou, de uma maneira meio hollywoodiana. Justin: Do que se tratava o anúncio? Você pensava em entrar na área da propaganda? Marc: Na verdade, não. Naquele tempo eu estava na Royal Doulton Concession, em Debenhams – Wimbledon, e geralmente o que acontece são manhãs sempre lotadas, porque mulheres idosas vinham gastar sua pensão nos figurinos da Royal Dalton, e as tardes quietas; você sabe – quem quer comprar louça ou figurinos depois do almoço? Eu normalmente ficava por ali não fazendo muita coisa durante a tarde e a competição me deu algo pra fazer – então eu fazia principalmente por tédio. Eu nem pensava em participar: fiz o trabalho, levei para casa e escondi no meu quarto. Minha mãe achou que eu tinha algum problema com drogas, então um dia enquanto ela fuçava meu quarto atrás de evidências de drogas e olhando minhas gavetas (ela teria sido mais esperta procurando nos meus livros, porque era ali que eu mantinha minha seda). Ela encontrou minha inscrição e a enviou sem me contar.


Justin: então o que aconteceu assim que você se formou? Marc: Recebi diversas propostas assim que me formei. Ainda que eu tivesse algumas proposta na Inglaterra, duas ofertas internacionais me atraíram. Recebi uma de uma agência chamada Ball Partnership em Singapura, e uma da Leo Burnet em Joanesburgo. Era 1994, Mandela estava prestes a ser eleito na nova África do Sul, então a aceitei por causa dele. Me mudei e fui demitido em três meses. Meus anúncios eram muito rudes e meu parceiro era diretor criativo associado, então estava muito além da minha capacidade. Ele não aceitava minhas ideias porque ele era tão sênior e eu era uma criança boba do colégio. Eu discordava de como tinha de me portar e não tinha realmente aprendido as políticas da agência. Outra agência, chamada Network, que fazia parte do grupo TBWA, me contratou e me demitiu, mas eu acabei amando a África do Sul. Então montei uma pequena agência na casa da minha faxineira. Eu tinha 21 anos, e meu primeiro cliente era uma companhia telefônica americana chamada ILD (International Long Distance). Eles se especializaram em ligações telefônicas à distância de expatriados ligando pra casa e buscavam atrair mais clientes. Minha abordagem à essa demanda foi a que John tinha me ensinado, que era de encontrar o problema e resolvêlo com uma ideia realmente criativa. Em 1987, o governo da África do Sul baniu seis linhas de telesexo, e eu descobri que a tecnologia do meu cliente era construída fora de Los Angeles, e LA era àquela época a capital mundial das linhas deste serviço. Então meu pensamento inicial foi “não seria ótimo se pudéssemos fazer a ILD trazer as linhas de sexo de volta pra África do Sul?’ E eu fiz isso e aos 21 anos eu me tornei milionário pela primeira vez. Justin: Você se tornou um milionário desviando as linhas de sexo de LA pra África do Sul? Marc: Sim, literalmente. Eu usava a tecnologia da ILD e as espelhava, fazendo com que elas alternassem entre companhias de telecomunicação, de forma que tudo que você tinha que fazer era discar um número americano curto, e nós espelhávamos isso pra uma central telefônica em LA onde os minutos da ligação eram substituídos por telecons em Papua Nova Guiné, Moldávia e São Tomé. Aquela pequena inovação transformou minha saúde financeira e restabeleceu as linhas de sexo como um serviço na África do Sul. O governo então aprovou uma lei para banir a propaganda das linhas de telesexo. Minhas linhas naquele tempo eram divulgadas nos classificados dos jornais, e as linhas de telesexo eram uma venda por impulso – você pega o jornal e sua esposa foi ao supermercado, ou o que for, e você está em casa sozinho e pode ligar para um número e ter três minutos de satisfação. Justin: O RedTube original. Marc: Sim, então meu faturamento caiu da noite para o dia porque era ilegal publicar meus números, então lancei uma revista para divulgar as minhas linhas. Ela se chamava Whore (prostituta) e rapidamente se tornou uma revista muito vendida, o que me levou a ter um negócio de varejo chamado Whore’s Handbag, que comprava os direitos de filmes e usava trechos daqueles filmes nas minhas revistas, fingindo que aquelas garotas estavam esperando por sua ligação. Eu vendi aquele negócio dois anos depois. Justin: Aos 23 você já estava feito? Marc: Aos 23 eu pensava que poderia viver de aposentadoria. Eu engravidei uma menina, que foi o motivo da venda do negócio. Eu não queria ser um pai e ter uma criança olhando para mim como um pornógrafo. Isso não encaixava comigo, então vendi o negócio e trouxe a mãe do meu filho para a minha casa. Justin: Então o que você fez depois daquilo? Marc: Bem, depois disso eu toquei um clube de comédia e, através dele, entrei em streaming de vídeos na internet. Acabei

voltando pra Inglaterra e criando uma tecnologia que plugava nas primeiras plataformas de gestão de publicidade, incluindo a DART que, ao invés de funcionar só pra uma propaganda em banner, perguntava quais eram os softwares operando, o buscador utilizado e quais plugins você tinha. Se você tivesse a configuração certa, isso funcionaria como um “banner de vídeo”. Basicamente eu inventei o vídeo banner. Dois anos depois, vendi aquele negócio pra Lord Bell por um pouco mais que 20 milhões de libras. Então eu estava à frente nas corridas. Ali por 2000, eu levei um amigo da Unilever pra almoçar que era responsável pelos cupons da empresa, e perguntei o que o mantinha acordado à noite, quais eram seus grandes problemas? Algo que John tinha me ensinado era um conceito chamado “descoberta de dor” – descubra os problemas que mantêm as pessoas acordadas à noite e então tente resolvê-los. Esse cara, Ed era o seu nome, me contou que o que o mantinha acordado à noite era que, dos bilhões e bilhões de cupons que ele distribuía, muitos não estavam sendo resgatados e isso estava custando à Unilever centenas de milhões de libras. Achei aquilo realmente interessante. Então criei um portfólio de IP que triangulava identificadores únicos a cada dispositivo e resolvi a falta de uso. Mas, no fundo, o que eu fiz foi juntar um portfólio de IPs que tornava possíveis pagamentos móveis no momento da venda. Então era um corpo de IPs bastante valioso, e eu realmente queria vender essa invenção à Motorola – e a Motorola realmente queria comprar de mim aquele portfolio. Eles me fizeram uma boa oferta e eu fiquei bem atraído por ela, então disse sim ao negócio, mas meus investidores não permitiam que o contrato prosseguisse. Eu tinha perdido o controle daquele negócio e tive um pequeno surto. Deixei o negócio. A família da minha esposa naquela época tinha uma fazenda em Woburn, então fui até lá e foi onde passei meu colapso nervoso, um ótimo lugar pra se ter um. Justin: Quando você fala surto, o que você quer dizer? Marc: Não conseguia comer, não conseguia dormir, me sentia traído. Justin: Então depressão? Marc: Sim sim. Eu sempre digo que uma das partes incríveis de ter um surto é que você ganha uma chance de se recompor de uma maneira mais completa. Eu era um babaca, como um milionário ponto.com. Eu tinha uma frota de carros idiotas, e eu nem sou um bom motorista. Eu tinha Porsches, Ferraris, TVRs – todos os tipos – e eu não dirigia. Tinha uma casa dos sonhos, feriados dos sonhos, etc, mas isso é tosco. Por sorte, casei com uma filha de fazendeiro, e ela não precisava de nada daquilo. Eu não a impressionava, então concordamos que ela apoiaria a mudança no meu estilo de vida – e foi aí que telefonei para o Sir John Heagarty e Rory Sutherland pedindo suas opiniões sobre a reabertura a escola John Gillard. Sir John foi ensinado por John Gillard, e Rory foi muito gentil comigo ao longo dos meus dias quando trabalhava com tecnologia – e, obviamente, ambos são líderes da nossa indústria. Rory me desafiou a abrir a escola, e John me apoiou muito pra sua reabertura. Então a decisão foi tomada em 2009 de reabrir a School of Communication Arts. Levou alguns anos para que eu aprendesse o que eu precisava para ser competente dirigindo uma escola, e recebi minha primeira turma em setembro de 2010. Justin: E estamos aqui hoje em 2018, enquanto você se prepara pra a formatura da décima turma. Isso é impressionante. O que para mim é realmente interessante sobre a sua escola é como você define e ensina “publicidade” – porque o mundo está tão vinculado a um gênero de comunicação morto, o spot na TV de 30 segundos. Marc: Sabe, eu não acreditei sempre na propaganda. Eu acredito que publicidade é o que fazemos uma vez descobertos quais são os problemas, se precisamos comunicar de forma massiva. Sobre a escola de John – eu o achava inteligente, dentre tantas outras coisas, que ele a chamasse de Escola de Artes da Comunicação, e não de Escola de Publicidade. Nós somos, antes de tudo,

comunicadores, e algumas vezes nos comunicamos por uma propaganda, outras não. Na SCA, estamos mais interessados em desbloquear nosso valor criativo, e se precisamos distribuir a ideia por trás desse desbloqueio, podemos nos inclinar à publicidade, mas também podemos utilizar qualquer outra forma de técnica ou ferramenta. O que a publicidade fez bem foi nos limitar a pensar sobre meios e canais específicos, então isso nos restringiu, e algumas vezes restrições podem ser bastante poderosas para forçar a nossa criatividade, assim como pode igualmente inibi-la. O que eu gosto de dizer aos meus alunos no seu primeiro dia de escola é que todos nós ganhamos muitos prêmios. Na quintafeira no D&AD (Design & Advertising) nós ganhamos um grande, então não tive dúvidas de que ganharíamos muitos prêmios como estudantes, e de que eles irão ganhar muitos prêmios como adultos, mas o prêmio mais importante pra mim que meus alunos eventualmente ganhem é o prêmio Nobel. Eu sei que soa estúpido, mas eu realmente acredito nisso. Justin: O Prêmio Nobel de que? Marc: Da paz. Eu absolutamente acredito que uma marca em algum ponto durante a próxima década, ou na seguinte, investirá em uma campanha que forneça água para dez milhões de pessoas, ou planos de saúde para dez milhões de pessoas. Justin: E você chamaria isso de campanha. Marc: E eu chamaria de campanha. Então, você precisa se atentar a algo chamado XPRIZE. Um bom exemplo é o XPRIZE para viagem espacial. Até ser lançado, todas as viagens espaciais eram controladas por programas nacionais como o da NASA, e então um fundo de investimento como prêmio foi estabelecido para encorajar empreendedores locais e inovadores a descobrirem uma forma de colocar espaçonaves na atmosfera, e trazê-las de volta, de novo e de novo. O resultado é que em algum momento do próximo ano a Virgin vai sair em seu primeiro voo espacial turístico. O que isso mostra é a ideia das marcas de liberarem investimento para resolução de grandes problemas. Justin: Mas por que você daria essa responsabilidade às marcas e não ao governo, ou aos cidadãos? Marc: As organizações mais poderosas são marcas e não países, então simples assim. HSBC ou P&G tem significantemente mais poder do que a maioria dos países, e elas desejam fazer o bem. Justin: Você acredita que elas realmente desejam fazer o bem? Marc: Eu acredito que esse é cada vez mais o caminho. Há alguns anos, a Unilever expressou seu desejo de se tornar mais socialmente consciente, enquanto aumenta seu faturamento, e ambos podem estar e, inclusive, ficam muito bem juntos. Claro, o público pode perceber como greenwashing facilmente, mas grandes ideias que desbloqueiam ou criam valor são o oposto de greenwashing. Elas são transformadoras. Justin: Isso é interessante porque nos leva a uma conversa sobre qual é o futuro da publicidade? Marc: Estamos no negócio das ideias, e preguiçosamente o chamamos de publicidade. Podemos escolher fazer propaganda, e existem algumas pessoas que só conseguem fazer isso – e aqueles que fazem propaganda como a solução de tudo são realmente dinossauros que estão progressivamente se extinguindo. Se eles não conseguem chegar ao centro do problema e pensar sobre estratégia de marca, estratégia humana, estratégia de comunicação, se eles não conseguem encontrar um jeito de contectá-las, então eles são dinossauros. Justin: Esse é o problema que as maiores agências de publicidade têm no momento. Marc: Sim, é por isso que assistimos elas perdendo seu dinheiro e, você sabe, seus nomes.

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Justin: Eu diria que eles estiveram fazendo o exato oposto por 60 anos. Marc: Possivelmente Justin: Eu reconheço que alguns deles estão fazendo alguma coisa agora, mas geralmente as agências só vão vender qualquer coisa que sejam pagas para vender. Marc: Existe uma frase no livro Hey Whipple de Luke Sullivan que fala sobre uma das nossas responsabilidades ser construir fábricas, e eu acho que é tão importante que nos lembremos de que a responsabilidade que temos como comunicadores poderosos é de sermos catalisadores econômicos, e que precisamos de ajuda para alimentar o crescimento, sem que as empresas e países quebrem. Justin: Então crescimento guiado por consumo é algo que devemos continuar fazendo?

Justin: Tem como a publicidade ajudar o mundo, ao invés de fazer o que algumas pessoas consideram que ela é – cúmplice e impulsionadora da destruição do mundo como sabemos, devido a sua relação simbiótica com o capitalismo e hiperconsumismo que, por sua vez, torna-a em parte culpada pela bagunça ambiental em que nos encontramos? Marc: Bem, não concordo com essa questão: acho que hoje há uma consciência, por exemplo, com plástico, que não existia conscientemente dez anos atrás, e que isso não veio do governo, veio dos comunicadores poderosos. Eu assinei diversas campanhas que meus alumni fizeram que aumentavam a conscientização (por exemplo, as questões do plástico nos oceanos). O melhor exemplo disso seria uma ex-bolsista minha da graduação chamada Ran Stallard – ela estava na Ogilvy quando desenvolveu um trabalho premiado que reforçava a conscientização chamado “Oceano do Futuro”. Então, acredito que os comunicadores identificaram o problema, e que são contadores de história naturalmente poderosos e capazes de comunicar o desafio usando uma narrativa para tal que, talvez governos e ONGs sejam piores em fazer. Justin: Bem, não sei eu concordo com isso, porque não vejo nenhuma ação sendo tomada a partir daí. De onde a ação ou a mudança de comportamento vem? Marc: Olha, eu acredito que a ação venha de organizações ouvindo chuvas de feedbacks. Um ótimo exemplo disso seria a Islândia, que traçou comprometimentos que englobam as indústrias para a eliminação de plásticos descartáveis do seu inventório. Eles não teriam feito isso não fosse a existência de um debate nacional e internacional à respeito, e esse debate não viria da nossa secretaria do meio ambiente, mas de peças de comunicação persuasivas, virais, geralmente criadas por agências que querem ganhar o leão de Cannes. Justin: Não acha que os grupos ambientalistas se incomodariam com isso, de dizer que as agências de publicidade mudaram a maneira como pensamos sobre o mundo e o plástico, enquanto talvez os grupos ambientalistas, auxiliados pelas agências, sejam aqueles na liderança? Marc: Possivelmente. Meu problema com grupos ambientalistas como o Greenpeace, poderosos como são, é que sua comunicação tende à pregação ao público. Com poucas exceções, o Greenpeace dialogará com o Greenpeace, ou Friends of the Earth conversará com a Friends of The Earth ou a WWF conversará com os amigos da WWF. Mas para que uma ideia passe dos usuários precoces para a massa passiva – e o governo só muda suas políticas quando elas afetam a massa de manobra – requer o intelecto de comunicadores em massa, e esses comunicadores são quem sabe construir uma marca para Kellogg ou para P&G.

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Marc: Existe um argumento bem assentado que diz que não devemos continuar assim, e essa é a parte com a qual não concordo. Não acredito que não possa continuar. A tecnologia vai nos salvar. Então, por exemplo, a quantidade de água utilizada pela agricultura ou pela moda é ridícula – essa camiseta que eu estou vestindo deve ter utilizado galões e galões e galões de água para ser produzida. Nós nos tornamos uma sociedade descartável, e alguém poderia argumentar que a terceira guerra mundial vai começar devido à falta de água. Mas existe um outro ponto de vista que fala que três quartos do planeta é preenchido de oceanos, e que estamos muito próximos de extrair o sal dos deles e tornar sua água potável; de massificar o acesso à energia solar – fazendo com que o preço da energia baixe de forma que se tornará literalmente gratuita – e, tão logo, teremos a possibilidade de disponibilizar carne produzida em laboratório pra nos fornecer a proteína de que precisamos para sobreviver. Então eu não concordo que tenhamos recursos limitados. Justin: Da última vez que conversamos, batemos um papo muito interessante sobre capitalismo como um tipo de inteligência inconsciente, que absorve qualquer coisa que o desafia, e se move para qualquer lugar que precise se mover pra assegurar-se de que não seja interrompida, como uma forma alienígena de vida. Então, talvez não exista um meio de fugir, e eventualmente o capitalismo vai matar seus próprios consumidores – nós – destruindo os sistemas biológicos que nos mantêm vivos. Marc: Eu não concordo com isso. Justin: Bem, existem diversos dados que reforçam a teoria de que estamos próximos de alcançar pontos de ruptura irreversíveis em relação ao meio ambiente terrestre. Marc: Eu aceito isso, mas não aceito que não encontraremos uma solução a isso, e que o capitalismo vai nos matar. Justin: Você está dizendo, e eu imagino que os defensores do capitalismo também acreditem nisso, que o capitalismo será capaz de consertar a si mesmo, como se fosse auto-curativo. Marc: Correto. É algo semiconsciente. As soluções têm valor, e quanto maior o problema, maior a solução, e maior o valor. Preocupações ambientais são um grande problema, logo, suas soluções têm grande valor e validade – e onde as soluções têm muito valor, grandes mentes estarão se focando nelas. Então, o aquecimento global é real? Não há dúvidas. Sabe, a não ser que você seja o Donald Trump, a existência do aquecimento global é inquestionável. Conseguimos dar a volta por cima? Provavelmente não. Sempre encontraremos formas para que a humanidade continue sobrevivendo e vença sob a luz de um clima diferente? Sim. Existirão países que desaparecerão, e existirão litorais que serão completamente diferentes daqueles que podem ter existido quando nossos avós navegaram os mares. Seria isso uma farsa? Não. O que seria uma farsa, é se, como uma população global, nossa expectativa de vida não continuasse a crescer, e a paz não continuasse a florescer. Estava lendo um livro da Pink que sugere que 2018 foi a época mais pacífica para se estar vivo, você leu esse livro?

Justin: Não, mas conheço as estatísticas. Marc: Não existe tempo melhor pra se ter nascido do que em algum momento entre os anos 1950 e o final do século 20. A gente ganhou na loteria. Com algumas exceções, e até nesses lugares, a qualidade de vida é melhor do que era há 50, 150 anos atrás. De modo geral, isso se deve à tecnologia, então a melhor previsão do passado é observar a história, e se acreditamos em evolução, e que seja verdade que viemos da África e aprendemos a ficar em pé e sair das selvas, ou cavernas, criar o fogo e a tecnologia, e que isso fez nossas vidas melhores, então devemos acreditar que podemos continuar nesse caminho. Eu acredito. Claro, algumas vezes utilizamos essas tecnologias para o mal, então quando inventamos o fogo isso mudou profundamente nossas psiquès e nos permitiu todo tipo de segurança, mas também nos permitiu matar, e as tecnologias futuras farão o mesmo. No geral, elas liberarão o bem nas pessoas, porque os humanos são fundamentalmente bons animais, e o capitalismo é um produto da humanidade, e a humanidade é mais filantrópica de o que se imagina, então, fundamentalmente, o capitalismo é uma força pro bem. Justin: Então, de alguma forma você está dizendo que o capitalismo é nosso, e não uma entidade separada que não podemos controlar? Eu acredito nisso, e um dos temas dessa primeira edição da FSC MAg é sobre nós determos o capitalismo, e podermos controlar o mercado nos unindo contra ele. Se queremos impedir marcas de usarem plásticos descartáveis, podemos quebrar seus ganhos virando as costas pra elas em massa, e isso as forçará a mudar ou morrer. Marc: Sim, eu acho que sim. Mas a força de organização está com os comunicadores. Justin: Interessante te ouvir falando sobre isso, porque não se ouve sobre os resultados positivos do poder do capitalismo através da tecnologia pra nos ajudar a sobreviver aos próximos 50 anos, geralmente o ponto de vista é o oposto. Marc: Eu tenho convicção de que seres humanos resolverão esses grandes problemas. Justin: Dentro do sistema atual. Marc: Dentro do sistema atual. Justin: Então, voltando ao começo, a visão de que o auxílio e incentivo ao sistema capitalista pela publicidade é na verdade, do seu ponto de vista, algo positivo? Marc: Sim. Ele super pode ser, não sempre, mas pode ser. De novo, humanos são no geral bons, positivos. E é por isso que sou otimista sobre o futuro. O ódio dissipa e não pode ser sustentado, nós sempre retornaremos à nossa humanidade. Justin: Quantos problemas um spot de 30 segundos pode resolver? Marc: Um pouco menos que zero. A maneira certa de se comportar é pegar o CEO e seus gestores e perguntar “O que está te dando pesadelos? Como podemos assegurar que seu negócio esteja prosperando em cinco anos? Quais são os riscos? Quem vai disputar o seu mercado? O que tem ouvido?”. Mas é muito difícil para uma agência que está assentada nesses formatos se comportar assim. A publicidade sempre foi sobre resolução de problemas, mas infelizmente muitas agências pegaram um tipo de febre de monocanal que, num mundo de múltiplos canais, que significa que elas não vão permanecer por aí por muito tempo. Aquelas que conseguirem mudar sobreviverão, e as que não conseguirem desaparecerão. A propaganda de trinta segundos não vai mais resolver qualquer problema.

REFERÊNCIAS Abundance – Peter. H. Diamandis Better Angels of Our Nature – Daniel Pink Hey Whipple, Squeeze This – Luke Sullivan


ceo na bo lha Rh

se voce não gosta daqui, pode vazar.

Ideação

suas ideias são um lixo, usaremos as minhas.

TEAM BUILDING

é do meu jeito

ou de nenhum jeito, cuzão.

CEO in the Bubble ©Justin Small 2018

PAI DE MERDA

Shit Dad ©Justin Small 2018

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ENTREVISTA

“ALGUNS ANOS ATRÁS, DIVERSOS SITES QUE CONTAVAM ÀS PESSOAS SEUS DIREITOS DE INQUILINATO FORAM LANÇADOS. FOI UM P#TA PESADELO!” DARREN, UM CORRETOR EM FORMAÇÃO NA WTF PROPERTY, FALA PARA A GENTE SOBRE O PESADELO DE UM MONTE DE CHAVES, E POR QUE TECNOLOGIAS COMO REALIDADE VIRTUAL SIGNIFICARÃO QUE TUDO SERÁ SELF-SERVICE, E ENTÃO ELE PODERÁ SÓ SENTAR NO ESCRITÓRIO RECLAMANDO DA INTERNET COM O GARY. Entrevista por Cosmo Soave-Smith 20

COMO VOCÊ VÊ A MUDANÇA NO SEU NEGÓCIO NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS? Eu soube que anos atrás você tinha que saber sobre a área e a história do prédio, o que para mim não faz o menor sentido para ser sincero. Hoje em dia você basicamente precisa saber como lidar com um molho de chaves, mas mesmo isso pode ser complexo às vezes. Você nunca sabe quão fundo a chave deve ir e para que lado a tranca gira. Maior parte das vezes eu só aperto a campainha, coloco minhas mãos no bolso e torço pelo melhor.

COMO A TECNOLOGIA IMPACTOU O LADO TRADICIONAL DO SEU NEGÓCIO? Obviamente, a maior parte do trabalho agora é feita na internet. As pessoas veem o que elas conseguem pagar se elas pararem de sair ou de comprarem extravagâncias, tipo leite fresco ou desodorante, aí elas nos mandam um e-mail. E-mails são muito mais convenientes do que ligações, porque geralmente eu tô rodando na minha cadeira enquanto os meninos me filmam em slow-motion, ou o Gary tá usando a lata de lixo na cabeça enquanto eu bato nele com uma colher de pau. E-mails significam que eu consigo voltar aos potenciais inquilinos para agendar uma visita em uma hora que seja conveniente para mim. Eu gosto de levar as pessoas pra visitarem os apês às 15:10 numa segunda, porque daí posso vazar pelo resto da tarde e ir para casa. A tecnologia é brilhante.

QUAIS FORAM AS TENDÊNCIAS QUE VOCÊ OBSERVOU EM 2017/18? A gente costumava mostrar online só as propriedades que estivessem disponíveis, mas agora as deixamos por muito tempo depois de terem sido locadas, para que as pessoas nos liguem atrás delas. Quando nos perguntam sobre


elas, eu posso checar e então dizer que elas “literalmente acabaram de ser vendidas”, e então falar para eles sobre uma “residência similar” “nos arredores” que fica “perto” do orçamento. Assim que param de se lamentar, eu pego seus dados. Para cada dez novos dados de clientes, nós ganhamos um lanche de graça do nosso chefe. Sou rico em proteína, cara.

QUAL TECNOLOGIA VOCÊ ESTÁ ANIMADO PARA IMPLEMENTAR NO CENTRO DA SUA OPERAÇÃO? Eu diria Realidade Virtual, para que as pessoas possam ver as residências sem que a gente tenha que fazer qualquer coisa. Elas vão poder entrar e ver toda a propriedade, mas sem sentir o cheiro forte de mofo.

COMO O CORRETOR DO FUTURO SE PARECE? O Gary fala que daqui dez anos todos nós vamos estar morando num computador, então quem sabe, mano? Eu leio que com o aquecimento global a gente vai conseguir cultivar vinho nos nossos jardins, então algo entre os dois eu acho. É difícil de imaginar, mas tá para o governo decidir.

VOCÊ CONSEGUE PENSAR EM ALGUM MOMENTO EM QUE A INOVAÇÃO TENHA TIDO UM IMPACTO NEGATIVO NA SUA INDÚSTRIA? Alguns anos atrás diversos sites que contavam às pessoas seus direitos de inquilinato foram lançados. Foi um p#ta pesadelo! Tinha gente ligando tipo “você não pode ter um chuveiro numa cozinha” ou “o proprietário instalou câmeras no meu quarto”. É tipo “segura aí, cara, tem crianças morrendo na África e você tá reclamando disso? Se enxerga”.

O QUE TE PREOCUPA À NOITE? Você já viu aquela parte em Homens de Preto em que o mundo é só uma bola de gude controlada por alienígenas gigantes? Realmente f#deu comigo.

ONDE VOCÊ FOI CAPAZ DE IMPACTAR POSITIVAMENTE OS RESULTADOS DE ALCANCE E FECHAMENTO COM PENSAMENTO INOVADOR? Hahahahhahahahahahaaha essa foi boa, cara.

CUTUCANDO O NARIZ AO LONGO DAS ERAS

1920s

1940s

dedinho esnobe

v de vit ó ria

1960s

1980s

dedo para coca í na para autoridades gelada um

2000s

ded ã o da decep çã o 21


SEU CLIENTE ESTÁ MORTO. COMO O CONSUMIDOR ATIVISTA VAI IMPEDIR O CAPITALISMO DE NOS MATAR ATRAVÉS DE CROWDSOURCING INSTANTÂNEO DE DECISÕES DE COMPRA MOMENTANEAMENTE SUSTENTÁVEIS NOS CORREDORES DOS MERCADOS GLOBAIS.

De deuses a reis, de donas de casa a hippies, da geração X aos millenials – o consumidor direcionou e continuará direcionando a maior parte das mudanças na história. Da Reforma à Guerra Civil inglesa, do Sonho Americano ao movimento dos direitos civis, dos direitos dos gays à sustentabilidade – sempre que o consumidor usa seu poder, ele muda o mundo (para o bem ou para o mal). Mas, nos últimos 30 anos, o capitalismo criou o Consumidor Passivo, e aprendeu a dividir e conquistar os consumidores criando tantos subgrupos personalizados quanto fosse possível (uma tendência que aumentou exponencialmente com a revolução digital). O capitalismo assegurou que o consumidor não conseguisse usar seu poder para mudar as bases das estruturas que são tão valiosas às corporações. Nossa suposta necessidade moderna de individualismo personalizado ajudou e incentivou nossa própria destruição e perda de poder, nos tirou a habilidade de nos unir como um só consumidor, e nos tomou o poder de agir pelos nossos próprios interesses, em vez dos do mercado. Numa economia baseada em oferta e demanda, os consumidores são donos do mercado e têm a última palavra no controle da demanda. Mas fomos conquistados pelo consumismo, confundimos consumo com atualização, e nos esquecemos de que o capitalismo é nosso. Esquecemos que o criamos, o sustentamos, e que, sem o cliente não há nada. Acima de tudo, esquecemos que somos os deuses do capitalismo e que temos o poder de reformá-lo pra que ele nos sirva melhor. Como resultado, o capitalismo está prestes a nos matar (os consumidores que ainda o alimentam), destruindo os sistemas biológicos em que nos apoiamos para nos sustentar. Se permitida sua continuidade, essa vida alienígena inconsciente que se modifica e se multiplica para contra-atacar qualquer ameaças à sua existência nos vai destruir, e destruirá a si mesma, na busca de crescimento acima de tudo. Nossa grande esperança é a emergência de um novo perfil – o Consumidor Ativista – que vai sobrepujar o Consumidor Passivo dos últimos 30 anos e nos salvar do Armagedom. Ele terá o poder – através de dados e ferramentas digitais dinâmicas – de tomar decisões sustentáveis em todo ponto de contato com as marcas. O Consumidor Ativista demandará que as marcas comecem a ser ranqueadas e pontuadas de acordo com o seu comprometimento com a sustentabilidade, e alocadas em uma tabela de classificação entre bons e maus. Isso vai iniciar um movimento que se distancia das marcas não sustentáveis, com uma bela queda de vendas dessas que estão por trás. Essa disrupção de rendimentos criará uma lacuna entre marcas, e elas se apressarão para contorná-lo porque isso impactará nos seus resultados. Uma transformação sustentável terá início assim que as organizações começarem a se apressar para se tornarem circulares, e o Consumidor Ativista começará a guiar a direção e a reconfigurar o capitalismo em busca da sustentabilidade. Comprar produtos

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ou serviços de uma marca não-circular, não-sustentável, vai se tornar o equivalente a comprar cigarros para crianças no ensino fundamental. Nos espaços em que o governo falhou, e onde se mantiver falhando, o poder do consumidor terá sucesso. As corporações e governos, companheiros e amigos, não mudarão a não ser que a própria economia de mercado os force à mudança. Através do poder da disrupção por meio do faturamento, o cliente controla o mercado, e deve restabelecer a habilidade de utilizar esse poder para direcionar a mudança – como um só. Afinal, devemos acordar para o fato de que somos os consumidores do capitalismo e devemos demandar que ele sirva às nossas necessidades. Devemos ver que nosso cliente, aquele a quem servimos hoje e por um longo tempo à frente, deve ser a terra, e os sistemas que a sustentam. Se esperarmos que governos façam isso por nós, aguardaremos em vão. Devemos nos unir como um só consumidor e utilizar nosso poder para trazer a mudança ao coração das estruturas capitalistas ignorantes que estão à frente da nossa destruição. Para que a The Future Strategy Club não seja acusada de ser cão que ladra e não morde, estamos lançando uma nova iniciativa para ajudar a guiar algumas dessas mudanças. Customer1 é uma startup que engatinha para fazer com que dados sobre sustentabilidade agregada à marca estejam disponíveis aos consumidores finais em forma de um sistema de pontuação de sustentabilidade (SUS Score). Por meio de uma plataforma, permita que todos os consumidores ao redor do mundo, ao mesmo tempo, criem grupos virtuais momentâneos de poder, e façam decisões de compra em conjunto nos supermercados e online quando compararem diferentes marcas entre produtos similares. Estes grupos de consumidores se formariam para auxiliar a decisão sobre quais produtos comprar, como se fossem decisões de compra em crowdsourcing para salvar o mundo. O crowdsourcing de decisões de compra momentâneas vai, esperamos, nos levar de volta ao cliente único e nos permitirá exercer nosso considerável poder de mercado através de uma gama mais ampla de decisões de compra. “Power to the people!” Todo poder ao povo! www.customer1.world


“ATRAVÉS DO PODER DA DISRUPÇÃO POR MEIO DO FATURAMENTO, O CLIENTE CONTROLA O MERCADO, E DEVE RESTABELECER A HABILIDADE DE UTILIZAR ESSE PODER PARA DIRECIONAR A MUDANÇA – COMO UM SÓ.”

Escultura por INxSANIxTY

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TARTARUGAS À PROVA DE FUTURO. POR ROS WYNNE-JONES

ROS WYNNE-JONES, COLUNISTA SÊNIOR DO DAILY MIRROR, TEM UMA VISÃO PREOCUPANTE DO NOSSO FUTURO PLÁSTICO EM SUAS FÉRIAS NO SRI LANKA.

Andar na praia no litoral sul do Sri Lanka é tentadoramente próximo a estar no paraíso. A primeira luz da manhã, perfeita, é emoldurada por coqueiros. A areia dourada se alonga preguiçosamente, distanciando-se da selvagem e raivosa estação chuvosa do oceano Índico. Mas então você percebe que algo está errado. Todas as ondas estão doentes, vomitando plástico: embalagens de Coca-Cola; garrafas de água em diferentes grafias e línguas, chinelos, os anéis mortais de um fardinho. Canudos, tampas, sacolas de compras, poliestireno, mais garrafas. A última vez em que estive no Sri Lanka foi há 18 anos. Não me lembro de ver plástico nas suas praias. Hoje, não há como não notar. Mesmo quando limpamos a praia, quando voltamos há uma nova fila de detritos plásticos cuspidos desdenhosamente pelas ondas. Isso não é lixo do Sri Lanka. Existem ilhas inabitadas cheias de plástico pelo oceano. É nosso lixo. Descartado inconscientemente, mal reciclado, ou destinado a aterros mal planejados, que acaba escorrendo pelos rios e flutuando de lixeiras da beira-mar e das praias, que é deixado boiando como uma mensagem gigante e coletiva numa garrafa que simplesmente diz “PQP”. O Greenpeace estima que a cada minuto um caminhão de lixo acaba nos mares. Uma quantia impressionante de 12,7 milhões de toneladas de plástico em nossos oceanos a cada ano. Uma quantidade chocante de 90% das aves marinhas, e uma a cada três tartarugas, já ingeriu plástico. Não é de se surpreender o porquê da fúria das águas. Como muitas famílias, a nossa assistia ao documentário Planeta Azul horrorizada no último Outono – e ficou suficientemente inspirada a ponto de gastar parte das nossas férias de verão como voluntária no projeto Mighty Roar Turtle, que fica no extremo sul do subcontinente indiano, no Sri Lanka. Foi lindo e desafiador, mas também profundamente perturbador assistir tartarugas em estágios avançados de gravidez desesperadas para colocar seus ovos voltando ao mar porque a praia estava muito suja. Passamos os dias limpando as áreas dos ninhos, só para voltar depois de termos lotado os tanques de água salgada para tartarugas feridas e encontrar um corredor de plástico no oceano mais uma vez. “Quantas vezes teríamos que limpar a praia para que o plástico pare de machucar as tartarugas?” Minha filha de seis anos me perguntou enquanto caminhávamos outro dia. Naquele momento, a resposta pareceu infinita. Mesmo se plásticos descartáveis fossem proibidos hoje, quanto tempo levaria para que todo o plástico já descartado fosse removido? Dez anos? 100? Só os estadunidenses já utilizam o número espantoso de 500 milhões de canudos plásticos por dia.

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Ainda assim, em algum lugar no outro lado do mundo – e perto de algumas parte do mundo, na Índia – no QG da Coca–Cola em Atlanta, da Evian, em Paris, e da Nestlé, na Suíça, estão sendo pensadas novas formas de fazer com que as pessoas comprem ainda mais dos seus produtos embalados em plástico, mesmo sabendo o que causam ao meio ambiente. Você sabe que a indústria da moda descartável sabe das crianças costurando peças de roupa, e que os granjeiros de fazendas de grande escala

conhecem a má formação de suas galinhas, e também o quanto os barões do carvão sabem que estão sufocando crianças. É esse o mistério. Você não é uma pessoa ruim. Você não cresceu sonhando em doar sua vida à maximização dos lucros de uma indústria que está envenenando o planeta. Você não pensava “eu queria poder vender um produto cuja garrafa vazia colocasse em perigo as belas tartarugas do Sri Lanka”. Vivemos em uma era de desconexão social. Precisamos disso. Se nós verdadeiramente nos permitirmos pensar somente sobre a realidade das mudanças climáticas, estaríamos todos destruindo aeroportos e estações de energia com nossas próprias mãos. Ao invés disso, estamos construíndo mais rodovias. Pensamos que podemos continuar prorrogando isso, deixando aquela fumaça preta e suja para que uma geração futura a limpe. Pensamos que podemos continuar correndo, ainda que seja em direção a um mundo que tenha somente tartarugas marinhas empaladas em redomas de vidros e em livros de história. Mas claro, na verdade, o modelo capitalista de crescimento está nos matando. Ele é programado para fazê-lo, como uma tênia cuja voracidade ao fim destruirá seu anfitrião. E como uma tênia particularmente esperta, no momento em que estiver convulsionando mudará de forma, para parecer que se tornou diferente. Todas as corporações no mundo estão atualmente inovando em direção a novos produtos e embalagens. Veja a Adidas, com seus tênis de plástico marinho reciclado, “transformando o problema em solução” (notem a palavra “transformando”). Logo o mundo poderá ser calçado com tênis de resíduos marinhos reciclados, que ainda teriam que ir para algum lugar quando alguém decidisse parar de utilizá-los depois de um verão. Ok, eu quero um par – mas veja bem, nenhum desses calçados impediria a Adidas de fazer outros calçados. Impedir esse verme é um projeto coletivo, e é tentador enxergar os consumidores como a solução – mas nós somos uma parte viva do organismo, uma parte da tênia em si. E não deveríamos nos enganar falando que consumidores são uma entidade democrática. Quanto mais dinheiro temos, mais temos poder de consumo, resultando em poder sobre as marcas. Isso é uma balança de poder antiga. É como contar com os donos das indústrias vitorianas para sustentar para as crianças pobres, como costumavam fazer antes da fundação do Estado de Bem–Estar Social, de forma justa e feita através de impostos. No modelo o consumidor-nos–salva, são os não consumidores que criam os menores impactos ambientais – não podem voar, não compram produtos em excesso, reutilizam e dão um jeito – e ainda assim são os que detêm menos poder. Consumidores éticos podem liderar o caminho, mas precisamos de governos, campanhas em massa e organizações democráticas, como uniões de comércio, para dar poder à mudança. Porque sabemos que você está produzindo uma linha maravilhosa de garrafas recicláveis, e sabemos que você está apoiando a educação das garotas na Tanzania, que você está plantando um milhão de árvores na floresta tropical de Bornéu. Mas, ao mesmo tempo, você ainda produz essas milhões e milhões de garrafas plásticas, sem a real intenção de lidar com elas.


‘“QUANTAS VEZES TERÍAMOS QUE LIMPAR A PRAIA PARA O PLÁSTICO PARAR DE MACHUCAR AS TARTARUGAS?’ MINHA FILHA DE SEIS ANOS ME PERGUNTOU ENQUANTO CAMINHÁVAMOS OUTRO DIA. NAQUELE MOMENTO, A RESPOSTA PARECEU INFINITA.”

Você é como o Facebook, que diz estar fazendo todas essas coisas legais pras crianças na África, mas aparentemente não consegue pagar seus impostos básicos pra que as crianças no Reino Unido tenham hospitais operando e escolas com livros suficientes e espaços pra poderem bater uma bola. Ele só quer escolher onde conceder sua benevolência. Mas esse modelo é vitoriano. É 2018 e nós o taxamos, e nós decidimos coletivamente onde gastar nossos rendimentos, muito obrigada. E esse modelo também tem um formato errado. A economia que queremos deve ser o que a nova economia tem chamado de “economia circular” – regenerativa ao invés de degenerativa por si só.

mínimo às corporações o de mudar o seu modelo para algo que fosse seguro ao planeta? E aqui vai o mistério final que estive ponderando enquanto andava na praia das tartarugas. Você é um criativo, certo? Você é uma boa pessoa. Você faz muitas coisas boas no seu tempo livre. Você entende a beleza. Você é uma pessoa que resolve problemas. Você pode fazer coisas belas acontecerem do nada. Você é, na verdade, um radical. Um experimentador. Então, a responsabilidade de consertar é dos consumidores conscientes ou sua? Fica a seu critério.

Eu sei que é quase entediante apontar a Coca-Cola, mas eles produziram um número estimado de 110 bilhões de garrafas descartáveis ao redor do mundo no último ano – um número que inclusive está crescendo durante o ano. Neste ano, CocaCola anunciou um “objetivo” – uma META – de “ajudar a coletar e reciclar” uma garrafa ou lata pra cada uma vendida até 2030 como parte do seu programa “Mundo Sem Lixo”. Seus consumidores vão te parar? Não, porque queremos continuar bebendo aquela bebida barata, cafeinada, feita a partir da fórmula secreta na qual estamos viciados. Podemos comprar um refrigerante de florestas amazônicas, ou qualquer outra coisa que eu tenha recém inventado, mas você provavelmente já está desenvolvendo – e se não está, deveria – ao contrário, muitas da vezes. Mas o mercado de massa não vai comprar isso. Então, a Coca-Cola vai ter que ouvir – e receber limites como uma criança levada ou uma parasita recalcitrante que a diga NÃO. Plástico é um poluente. É uma emissão. É seu o custo de limpálo. E se seu plano de negócios não inclui limpar sua própria sujeira então você não deveria ter permissão para receber uma licença para operar. Não deveria ser um requerimento

Ros Wynne-Jones Jornalista e Escritora Ros Wynne-Jones é uma colunista no Daily Mirror, que escreveu para o The Independent, New Statesman, Guardian e FT Magazine. Atualmente, escreve sobre como a autoridade britânica afeta as pessoas comuns, mas anteriormente trabalhava pelo mundo como correspondente internacional em lugares como Darfur, Ruanda, Chade, Kosovo e Timor Leste. Ela é a vencedora de dois prêmios One World Media. Ela também é finalista do Feature Writer of The Year no British Press Awards 2018.

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PROPÓSITO SOCIAL + PENSAMENTO SUSTENTÁVEL = DOMINAÇÃO MUNDIAL. MATT COX QUESTIONA SE PROPÓSITO SOCIAL E PENSAMENTO SUSTENTÁVEL SERIAM O SANTO GRAAL DA NOVA ECONOMIA, E SE PODEM ACOMPANHAR SUCESSO FINANCEIRO. A Nova Economia é selvagem. É onde me encontro neste momento: um sistema comandado pelo consumidor, em que as marcas devem mostrar que realmente se importam conosco além das nossas carteiras. Para isso, elas precisam ter um propósito social muito forte. Isso é difícil de atingir em 2018, uma vez que todas se denominam a mais responsável e compreensiva marca por aí. Muitas apoiam causas de caridade em uma aposta de fazer algum bem. Marketing de propósito tem sido usado com sucesso por grandes nomes – todos vimos a campanha de chochê para idosos da Innocent e a campanha Coffee vs Gangs da Kenco. Não é de se surpreender que as pequenas marcas estejam buscando se encaixar. Como qualquer tendência, quanto mais pessoas fazem – e fazem malfeito – mais uma boa ação parece artificial. É por isso que grandes marcas têm que adotar um propósito social mais amplo, que dure mais do que apenas uma campanha. Ele deve pulsar por toda a organização, tão caridosa quanto o investimento feito nela. Como termo, propósito social é algo ambíguo.

suportar as rápidas agitações sociais. Com isso em mente, toda a revolução industrial ocorreu porque a economia anterior não conseguia suportar os desafios da globalização, incitando assim uma mudança generalizada. O desafio agora é trazer propósito social para acelerar o crescimento dos negócios, de alguma forma os tornando mais duradouros.

ainda-a-ser-definida da Nova/Futura Economia, seu apetite tendo se movido dos livros à descoberta de qualquer coisa. Isso será só a entrada. Os outros cavaleiros continuarão a evoluir, construindo razões sustentáveis para possuir suas áreas sociais respectivas e desbloquear aquele status elusivo de trilhão de dólares.

Com companhias alcançando a casa dos de trilhões de dólares hoje em dia, uma nova forma de posicionamento de marca precisa ser descoberta – algo mais forte do que o mercado de capitais. O caminho se apoia em pensamento sustentável: criando um equilíbrio saudável entre as mudanças guiadas pela sociedade e as guiadas pelas empresas, buscando dar mais valor às pessoas e às suas necessidades mais amplas.

Dos novos candidatos – como Uber, Airbnb, etc – a maioria chega com um pensamento sustentável e propósito social já nos ingredientes do seu DNA (ou pensávamos que fosse assim até que a cultura do Uber fosse lentamente exposta). O modelo “crie produtos/serviços medianos, faça publicidade disso e lucre” está vencido. Os consumidores têm mais poder graças às ferramentas digitais – estamos super diligentes sobre o que compramos.

E como as maiores marcas do mundo têm alcançando esse equilíbrio? “Os quatro cavaleiros do Apocalipse”, um pelotão que contempla a Amazon, Google, Facebook e a Apple, estão elevando o valor comercial a grandes alturas na Nova Economia. Trabalharam muito para enquadrar seus empreendimentos como sociais – a Apple alimenta a criatividade, o Facebook conecta o mundo, Amazon é o sonho em um clique, e o Google organiza as informações do mundo. Infelizmente, qualquer nobreza que pudesse ser percebida através de tais atividades é jogada no lixo por suas cadeias de fornecimento. A Amazon tem uma tendência de absorver demanda realizando a aquisição de companhias a rodo, a rede de supermercados Whole Foods é um dos principais exemplos. É um negócio construído ao redor de poder puro, e não de propósito social. Nenhuma companhia deveria ser tão grande ou poderosa.

Nessa instância, representa o olhar de uma marca para além da sua função comercial básica, em busca da evolução da sociedade. Apesar de os cínicos o verem como uma forma das marcas aumentarem seu valor e poder, o propósito social tem uma longa história com os negócios.

Quando marcas exploram esse poder artifical para beneficiar exclusivamente suas contas bancárias, elas estão em conflito com a sociedade. A Nova Economia gira ao redor da equidade entre marcas e de tocar as pessoas – isso não pode ser alcançado através dessa abordagem ultrapassada e falta de visão periférica.

Na primeira Revolução Industrial, os negócios tinham que obter propósito social de um mundo rachado por uma radical abismo social. Apesar das condições duras de trabalho e do crescimento de uniões trabalhistas, foram os reformistas – donos de fábricas – que deram aos trabalhadores mais direitos, elevando o padrão e fazendo sua parte do mundo melhor para os trabalhadores.

Visões sociais de mundo diferem entre companhias, logo, as pessoas apoiam marcas que estejam alinhadas com suas próprias e singulares ideologias. É através desses valores compartilhados que construímos melhores conexões, encontrando assim a chave para a construção de propósito social. Vai muito além do que qualquer esquema de responsabilidade corporativa consegue trazer.

Esse ambiente digital que temos habitado pelas últimas duas décadas agora está nos lançando à quarta Revolução Industrial. Ela apresenta o mesmo desafio, ainda que sob uma diferente roupagem – propósito social nunca foi tão vital.

Ainda assim, propósito social genuíno pode andar lado a lado com sucesso financeiro.

O empreendedor Peter Thiel relaciona grandes mudanças a momentos em que os velhos formatos não conseguiam mais

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Vejam esse caso: a Amazon vai certamente atingir o status de um trilhão de dólares, reforçando seu propósito social e se tornando mais sustentável, especificamente através da sua cadeia de fornecimento. Isso vai crescer em uma besta

Como tal, a época das táticas tradicionais de marcas está se morrendo. Publicitários precisam de mais no seu arsenal, precisam criar produtos que sejam líderes de mercado, e serviços com cadeias de suprimentos confiáveis e um propósito de marca que vá além da viabilidade comercial. Disso, publicitários podem criar comunicação com propósito, otimizar produtos e serviços, ou criar produtos completamente novos. Sem um propósito social ou pensamento sustentável, não há novos papéis possíveis aos publicitários. Em vez disso, eles continuarão bombardeando o mundo com razões para que as pessoas deveriam desejar algo que não precisam de verdade. Ouça. Aprenda. Casar propósito social com pensamento sustentável vai ser a união sagrada da Nova Economia.

Matt Cox Estrategista intraempreendedor na Wunderman UK Matt Cox não é um artista, ele é um estrategista na Wundeman. Ele resolve problemas de negócio e encontra novas maneiras de converter insights humanos em capital corporativo, o que ele acha divertido.


“O MODELO ‘CRIE PRODUTOS/ SERVIÇOS MEDIANOS, FAÇA PUBLICIDADE DISSO E LUCRE’ ESTÁ VENCIDO. OS CONSUMIDORES TÊM MAIS PODER GRAÇAS ÀS FERRAMENTAS DIGITAIS – ESTAMOS SUPER DILIGENTES SOBRE O QUE COMPRAMOS.”

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Por que pólen? Florestas tropicais, planícies e pradarias estão sendo destruídas por agricultura industrial enquanto o homem demanda mais carne. “O setor de animais vivos é de longe o maior usuário antropogênico de terra… a área total dedicada à produção de pasto chega a somar 33% de toda terra arável. No geral, essa produção é responsável por 70% de toda a terra para agricultura, e 30% da superfície do planeta.” Enquanto o pólen se dispersa, ele deixa um registro fóssil permanente nas camadas da Terra. Geologistas futuros encontrarão monoculturas de pólen nas rochas onde previamente existia uma biodiversidade gigantesca – evidência sobrevivente do impacto do homem no mundo. A agricultura industrial utiliza cada vez mais pesticidas, que matam polinizadores. Então, as abelhas que coletam pólen e fertilizam 30% do alimento mundial estão desaparecendo. Um interesse no impacto ambiental da agricultura industrial me levou ao pólen. Comecei colecionando diferentes formas de pólen, e descobri suas cores delicadas e inesperadas. Não pude evitar senão utilizá-lo como pigmento. “A grande sombra da pecuária: problemas ambientais e opções”. Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas. Roma, 2006.

The Makers of Neonicotinoids Freddie Yauner – 2018 Pólen sobre tela 180 x 240mm (cada) (incluindo “Por que Pólen”, texto do artista) www.freddieyauner.co.uk

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Charlotte Hillenbrand Charlotte foi uma das sócias-fundadoras da Made by Many, e atualmente é Diretora Executiva de Digitalidades e Inovação da Comic Relief. Ela se interessa por organizações de aprendizagem e pelo potencial de transformação digital, impacto positivo, emergência de talentos, produtividade e felicidade no trabalho.

ENTREVISTA

“A COMIC RELIEF LEVANTOU MAIS DE 1 BILHÃO EM 33 ANOS, ENTÃO OBVIAMENTE QUEREMOS CONTINUAR FINANCIANDO NO FUTURO O TRABALHO MARAVILHOSO QUE ESTAMOS FAZENDO, E É NOSSA RESPONSABILIDADE PARA COM ESSAS INSTITUIÇÕES QUE APOIAMOS QUE NOS PREPAREMOS PARA O FUTURO HOJE.“ CHARLOTTE HILLENBRAND, DIRETORA EXECUTIVA DE DIGITALIDADES E INOVAÇÃO NA COMIC RELIEF, CONVERSA CONOSCO SOBRE TRANSFORMAÇÃO E COMO CULTURA É A CHAVE DE UMA MUDANÇA BEM-SUCEDIDA EM QUALQUER Entrevista por Justin Small 30

Justin: Oi. Você acabou de sair da Made by Many para entrar na Comic Relief, estou certo? Charlotte: Sim. Entrei em um cargo recém criado de Diretora Executiva de Digitalidades e Inovação na Comic Relief, trabalhando com o CEO e seus pares no time executivo para levar a organização ao seu próximo capítulo da transformação. Antes disto, eu era diretora de aprendizagem & desenvolvimento na Made by Many, uma consultoria de inovação digital; eu fiz parte do time original que construiu o negócio e estive lá por dez anos e meio. A Made by Many surgiu com a crença de que uma abordagem multidisciplinar combinada para a solução de problemas cria produtos e serviços digitais maravilhosos – desde o início tivemos representação igualitária entre nossos fundadores, em tecnologia, design, estratégia e produto. Ao longo da construção do time, o equilíbrio foi fundamental para o estabelecimento de uma “cultura de produto” sólida. Nossa prática se inspirou no movimento startup – começamos em 2007 – quando times bem pequenos estavam rapidamente alcançando um patamar e crescimento que confundiam a abordagem já estabelecida das grandes organizações. Na Made by Many nós éramos radicalmente abertos, e esse era o ethos, nascido da internet: sobre compartilhar, colaborar, ser aberto e fazer barulho. Então, é isso que estou trazendo pra meu novo cargo na Comic Relief. Justin: Sua trajetória inclui Aprendizagem & Desenvolvimento, o que é um tópico em alta agora que grandes corporações estão tentando se transformar para serem capazes de lidar com a disrupção contínua. O que é realmente interessante no momento é como muitas organizações grandes de repente perceberam o quão importante é a cultura para inovação, e o quão difícil é a transformação operacional se eles não se transformarem culturalmente. Durante seu tempo na Made by Many, você estava alerta ao problema de crescimento e cultura? Um problema que destrói o barco na maioria das agências, sendo substituído por metas financeiras trimestrais. Charlotte: Chegamos a um certo ponto na nossa evolução em que sentimos, sim, que somos pequenos – um time de 35 pessoas naquela época – mas nossa prática é tão profundamente conectada ao sucesso, e ao sucesso dos


nossos clientes, que existe muito valor ali. Decidimos que precisávamos codificá-la, porque ela existia nos comportamentos e nas práticas das pessoas na consultoria a qualquer momento. Tivemos que instigar essa forma de trabalhar com novas pessoas, mas também construir a partir do que elas traziam para nós. A ideia de melhoramento contínuo é algo ligado à forma da Made by Many de operar. Acredito que escrever o programa de desenvolvimento, e formalmente codificar nossas formas de trabalhar, nos ajudou a permanecer fiéis aos nossos valores e visão fundadoras.

permita uma abordagem ao trabalho de “inovação como norma”. Estamos introduzindo formas de trabalho guiadas por valores – informados pelos mindsets e práticas ágeis com foco no consumidor e nos produtos e uma abordagem de desenvolvimento enxuta.

Justin: O motivo de uma agência existir é ser diferente dos seus clientes, na minha opinião, então se você não está trazendo nada novo à mesa você perdeu seu direito de estar lá. O que é engraçado é que atualmente maioria das agências se tornaram corporações (ou parte de corporações), e corporações estão contratando agências corporativas para que as digam como serem menos corporativas. Eu me pergunto se você enxerga algo aí, porque para atrair os talentos que as agências costumavam ser capazes de atrair, as corporações estão

Charlotte: A Comic Relief é uma financiadora, e sempre nos esforçamos para tornar as instituições de caridade, particularmente as pequenas com as quais trabalhamos, mais fortes – trabalhamos em parceria, investindo e apoiando tanto as organizações pequenas quanto médias, buscando escalar métodos já validados. Nós chegamos com o dinheiro, temos um time que fomenta essas relações e que gerencia os donativos em parceria com as instituições. Temos um braço chamado Futures Lab, que busca formas de auxiliar as instituições a utilizarem os donativos da melhor maneira, e fazer o máximo a partir do que elas possuem. Mas, o que cada vez mais nos anima é a oportunidade para novos modelos de financiamento e investimento sociais e modelos emergentes de realização de concessões. A Comic Relief é muito inovadora, e isso não se restringe ao mundo digital e à tecnologia. Estamos muito interessados em inovação em toda a operação da instituição.

copiando a cultura das agências. Charlotte: Você está certo, existe um limite de 50 pessoas a partir do qual se torna incrivelmente difícil manter aqueles valores e visão fundadores. Também é muito difícil exportar nossa cultura a outros lugares, ou além de 50 pessoas, e o motivo é algo bastante humano relacionado ao tamanho de grupo ideal. Um “vilarejo” que tem mais de 150 pessoas rapidamente se torna impraticável em termos de relações e interações. Uma das principais diferenças é que as agências estão, na verdade, contratando indivíduos, procurando por um mindset específico, uma certa curiosidade. Minha percepção de sistemas corporativos é que eles estão estruturados sobre caixas de seleção. Quais colégios frequentou? Você cabe no modelinho que procuramos? As corporações não se importam de verdade com como você pensa ou como você aborda um problema, porque eles acreditam que dão conta disso. Eles querem que você encaixe nas engrenagens. Enquanto minha experiência trabalhando em agências é a de que todos são inicialmente motivados pela qualidade da solução ao problema que está sendo resolvido. As corporações precisam de um pouco mais disso. Justin: Então quais são as lições-chave que você imagina que está levando ao Comic Relief do seu tempo na Many by Many – de uma estrutura bastante mutável a uma que eu imagino seja mais rígida e estruturada? Charlotte: Estou lá pra levar uma forma colaborativa de trabalho que traga as áreas para mais perto, o que é um modelo relativamente novo para instituições de caridade, e certamente para aquelas mais estabelecidas. E isso carrega desafios comportamentais interessantes também. Justin: Desafios comportamentais – é uma bela maneira de definir transformação, na verdade. Porque é 100% sobre as pessoas. Charlotte: Absolutamente. A Comic Relief não é uma instituição de caridade típica, o que significa que existe muito mais liberdade para nos comportarmos de forma diferente comparado ao resto do setor. Historicamente, têm duas culturas muito diferentes de levantamento de fundos/realização de desejos, e o lado do entretenimento-comédia-televisão. Existe muita energia criativa, cérebros e experiências em que se pode contar. Então, o desafio é trazer o melhor de tudo isso enquanto se coloca o digital no centro, para estabelecer uma organização mais voltada ao mundo digital. Para fazer isso, precisaremos desenvolver uma linguagem comum entre as culturas dentro da organização, fornecer às pessoas as ferramentas e processos para que elas consigam se unir, explorar oportunidades e executar novas propostas. Queremos criar a capacidade dentro dos nossos times que

Justin: Isso soa bastante empolgante, especialmente porque a Comic Relief é um grande ícone de caridade e tem feito muito bem através dos anos por meio do programa televisionado.

Justin: Então transformação como um processo de inovação?

“NÓS TEMOS QUE SER INTENCIONAIS SOBRE CRIAR CULTURA E O AMBIENTE QUE LEVE PROPÓSITO SOCIAL A TUDO QUE FAZEMOS.”

Charlotte: Sim – e tudo isso só pode nascer ou morrer por meio das pessoas. Acredito que por isso é um erro chamar de transformação digital. O que isso é, na verdade, é mudança que acontece e é acelerada por tecnologia, mas que só pode funcionar se você realmente envolver as pessoas na reestruturação dos sistemas. Você sabe, é aquele casamento das pessoas, dos problemas que elas resolvem, e da maneira como a tecnologia pode facilitar isso – acelerando sua produtividade ou reforçando suas conexões com os clientes. Justin: Então, de alguma forma, para você transformação é sobre maneiras de trabalhar? Charlotte: Sim, e eu acredito fundamentalmente que você passa por organizações onde as coisas foram encomendadas e eles literalmente só conseguem pensar sobre uma parte da operação de toda a organização, sem levar em conta algumas das orientações-chave da empresa que são impactados por essa implementação. Então, para mim, a transformação digital é sobre ter uma abordagem muito mais transversal das coisas, e não pensar nisso como uma implementação de TI. Por exemplo, a experiência do colaborador com as ferramentas internas que são criadas é essencial. Justin: O que é realmente interessante é o link entre o que você fez na Made by Many e o que você está fazendo na Comic Relief – como a forma de trabalho da agência está influenciando o modo como organizações maiores se reestruturam. Charlotte: Na Made by Many nós tínhamos nosso arsenal de ferramentas e tínhamos nossas abordagens, mas sempre tentaríamos mudá-las, num movimento real de melhoria contínua – o que ocorreu por dez anos e meio. A verdade é que estamos sempre evoluindo de um projeto para o outro, quase ao ponto de tornar a vida difícil para nós mesmos, por não repetirmos um processo padrão. Justin: Processos moldados com o tempo e ambiente em que se encontrava o cliente? Charlotte: Exatamente. E tendo essa adaptabilidade porque cada cliente é muito, muito diferente. Você tem essas pessoas com as quais trabalha, e então tem as organizações com as quais elas precisam trabalhar. Ter sensibilidade sobre isto e ser capaz

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de adaptar sua abordagem é realmente fundamental para o sucesso de qualquer projeto. Ao meu ver, a Comic Relief pegou um programa testado de financiamento comunitário, e esse modelo não mudou muito em trinta anos. Mas agora, com as mudanças de comportamento do consumidor, em consonância com inovações tecnológicas e os dados que temos, é hora de fazer as coisas de um jeito diferente. Justin: Minha experiência de mudança é que empresas (e pessoas) só mudam quando são forçadas. Charlotte: Bem, a tecnologia alterou a maneira como captamos dinheiro, que é plana, e o número de canais de engajamento multiplicou. A televisão é apenas um deles, um muito importante, mas que está em declínio. Então é nossa incumbência encontrar outras rotas para nos engajarmos com as pessoas, outros caminhos para levantamento de fundos e não dependermos de um único canal. Isso se espelha em muitas outras indústrias e companhias – ninguém consegue mais confiar nessa visão de um único canal para o engajamento do cliente. Justin: Muito bom ver que a Comic Relief está se transformando para o futuro, estrategicamente, e não só taticamente. A Comic Relief conseguiu levantar mais de 1 bilhão de libras nos últimos 33 anos, então obviamente queremos continuar financiando no futuro o trabalho maravilhoso que estamos fazendo, e é nossa responsabilidade para com essas instituições que apoiamos nos prepararmos hoje para o futuro. Justin: Amo isso. Uma companhia passando pelo processo de transformação como parte do seu comprometimento fundamental de fazer o bem estando por aí por mais dez anos. É isso que o propósito real faz com você. Charlotte: Absolutamente. A transformação da Comic Relief é baseada no conceito de inovação como norma, preparando

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a organização para que seja capaz de ser empreendedora, responsiva ao que ocorre no mercado e às mudanças de comportamento do consumidor, para que seja capaz de ver uma oportunidade, se jogar nela e fazer algo a partir disso. O que tenho observado nas instituições de caridade é que os processos de tomada de decisão são cheios de debates e precisam da consulta de muitas pessoas durante meses, o que torna incrivelmente difícil a chegada de alguma conclusão. Às vezes, isso ocorre porque não existe clareza suficiente sobre o problema a ser resolvido, que é exacerbado por uma abordagem antiga que busca mapear cada um dos requerimentos em vez de focar naquele que reduziria a maior dor, criaria valor e permitiria ganho de produtividade significativos. Depois de um período de consultoria de 9 a 12 meses, que chega a engajar 80 pessoas pela organização, pode-se chegar ao ponto em que ninguém é seu dono e que ninguém sabe por onde começar. As agências vêm e se dão bem porque elas basicamente acabam com toda essa complexidade, e rapidamente acordam para acelerar e aplicar uma clareza e objetividade ao redor do problema. Isso permite muito rapidamente identifiquem um ponto de início bom o suficiente. É um mindset nascido do desenvolvimento de produtos e pensamento ágil que é o seguinte: se você tem informação suficiente para fazer uma decisão boa o suficiente agora, você pode começar. Então é uma questão de estabelecer processos que permitam o recebimento de novas informações continuamente, para que a precisão e qualidade da tomada de decisão aumentem com o tempo. Justin: Você acredita que o que está emergindo é que todas as organizações precisam se tornar mais similares às agências? Charlotte: Se caracterizarmos uma agência como algo que se move mais rápido, parte o trabalho em peças menores e melhor administráveis, criando coisas no lugar de só

descrever os problemas, então sim. Mas, fundamentalmente, é sobre cultura. Existe essa frase que ouvi do Matt Edgar, diretor de Design da NHS Digital – “cuide da água e os peixes tomarão conta de si mesmos” – desse modo você precisa criar o ambiente correto para que as pessoas tenham sucesso, realizem um bom trabalho, gostem do que estão fazendo, sejam produtivas e então o resto se torna muito mais possível. Justin: O que está incluído na água? Charlotte: Dê às pessoas um andaime sobre o qual possam operar, mas não fiquem amarradas. Dê liberdade para que elas ainda possam alcançar coisas que vão além da sua maneira normal de operar. Você não quer uma rigidez e burocracia que os impeça de se mover pela organização e criar valor. Justin: Autonomia com direcionamento? Charlotte: Sim. É basicamente sobre pequenos times e objetivos claros, como se fossem pequenos rompantes de trabalho que juntos alcançam objetivos maiores. É essa clareza de unir a organização, vê-la como uma peça completa e compreender como todas essas peças interagem e operam juntos. Além de levar o propósito organizacional a todos os níveis de execução. Justin: Eu imagino então que na Comic Relief você não tenha um problema com propósito. Charlotte: Eu vi o que o dinheiro faz para algumas das pessoas mais marginalizadas da sociedade – tanto no Reino Unido quanto no exterior. Me comove – isso me inspira e me motiva fazer o meu melhor todos os dias na Comic Relief. Ainda assim, no dia a dia você pode se perder. Nós temos que ser intencionais sobre criar cultura e o ambiente que leve propósito social a tudo que fazemos. E eu acredito que conforme caminhamos para outras áreas e levamos a incrível marca que é a Comic Relief para novos espaços, precisamos que a nossa cultura e nossas formas de trabalhar sejam inovadoras e desafiadoras, para que possamos entregar nosso propósito, e que através dele assegure que a Comic Relief se mantenha pelos próximos 30 anos. É isso o que me deixa animada sobre o futuro.


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#DGRANTS

AH OS CAVALOS, OS CAVALOS.

ID TEM ALGO A DIZER, ENTÃO DEMOS A ELE SUA PRÓPRIA COLUNA PARA QUE ELE POSSA DIZÊ-LO EM TODAS AS EDIÇÕES. VEJAMOS COMO ELE SE SAI. PODE SER QUE A GENTE SE ARREPENDA. “Nenhum objeto pode ter valor se não for algo útil” Assim disse Karl Marx – mas o mundo moderno contém muitas coisas que não tem função discernível, ainda assim são úteis pela forma como contém e transmitem significados para nós. Você deve ter notado que marcas trabalham duro para criar significados para os seus produtos e serviços insignificantes. Claro, existe o significado externo, funcional, e existe o interno, emocional (para os quais, se você for azarado o suficiente de não ter chegado até o topo da Hierarquia das Necessidades de Maslow, vai pouco de f#der – ou, alternativamente, pode ser a única coisa pela qual você se interessa). Esses dois tipos de significado são chamados utilitário e hedônico. Então algo que é útil para nós – uma escova de dentes, uma chave de fendas, uma lanterna – são utilitários, mas não hedônicos, porque tem pouco significado de marca, já que não representa nada além da sua função. Agora, pegue aquela lanterna e a transforme em uma lanterna ridiculamente cara, maravilhosamente projetada pela Dyson, que tenha conexão Wi-Fi, e então o objeto de utilidade se torna um objeto hedônico, porque agora ele não só ilumina meu caminho à noite, mas também conta uma história das minhas aspirações, meus valores, minhas credenciais, minha prosperidade, minha apreciação da beleza, e com a qual também leio meus e-mails e faço transações bancárias online no escuro. A aplicação de uma marca a um objeto ordinário pode transformá-lo em nossos corações – e as marcas utilizaram isso por décadas para nos vender coisas que não precisamos ou realmente queremos pra car#lho. O que queremos é propósito, sucesso, imortalidade – coisas impossíveis, em grande parte inalcançáveis, que as marcas inteligentemente imitaram e tornaram alcançáveis, entretanto momentaneamente, via o consumo de seus produtos e serviços. Uns merd*nhas inteligentes. E, sendo honestos, somos completamente dependentes das m#rdas das marcas para viver nossa vida moderna. Imagine fazer as compras semanais sem marcas. Como você decidiria entre 20 manteigas diferentes, 30 cookies de gotas de chocolates, 12 tipos diferentes de sabão líquido, 7 tipos de sal, 4 tipos de feijão? Sim, você poderia escolher só pelo preço, mas como você discerniria a diferença em termos de valor? Levaria muitas horas malditas e, no final, você não seria diferente de todas as outras pessoas na fila. Como você sabe quem você é se te negam os objetos pelos quais você se define? Todos seríamos iguais – utilizando as mesmas bo$t@s de roupas, comendo as mesmas drogas de comidas, dirigindo as mesmas m#rd@s de carros. Algumas pessoas ficariam horrorizadas por essa

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visão, e outras diriam que é assim que nos salvaremos da destruição ambiental – mas um aspecto chave da nossa existência moderna foi definido pela definição de nós mesmos como seres diferenciados. Nós gastamos nossa vida toda tentando nos distinguir de outros filhos da p#ta iguais a nós, e as marcas são o atalho, o caminho fácil, os assentos baratos, para chegarmos lá. E surpreendentemente, nós acreditaremos em quase qualquer coisa que uma marca nos conta para que a gente consiga se diferenciar. Mas o digital e a tecnologia mudaram algo – o movimento que se distancia da posse para o compartilhamento, que sai de comprar coisas para experienciar coisas, e que se move dos produtos aos serviços – o que significa que agora julgamos o significado de uma marca pela utilidade da experiência que temos com ela. Agora demandamos experiências de marcas que nos geram uma conexão emocional. Pra colocar isso de forma clara: queremos que as marcas sejam úteis de novo. Queremos que elas façam coisas pra nós. Não é mais bom o suficiente para as marcas nos dizerem o quão boas elas são – queremos ver isso em ação e queremos experienciar isso ao vivo. Não queremos papo furado a não ser que ele esteja baseado em algo real. Queremos que nossas marcas hedônicas sejam úteis também, e vice-versa. Queremos que elas sejam tão úteis quanto significativas – isto é, queremos que as marcas sejam úteis, e que através da sua utilidade elas tragam significado às nossas vidas modernas insignificantes. Existe uma forma técnica de colocar isso, que é – hoje medimos as marcas não pelo seu valor percebido, como nos é passado através do marketing, mas pelo seu valor experienciado, como nos é mostrado pela sua utilidade. Agora, a revolução digital vomitou diversas dessas marcas utilitárias/hedônicas – mas a droga da garota a propaganda, da marca que mandou bem nisso antes de qualquer outra – que é claro, aquela fod#da da Apple. A Apple faz produtos que fazem o que se propõe a fazer funcionalmente, e através dessa perfeição no fazer, também atinge o que procuramos emocionalmente. Eles nos ajudam no dia a dia nas nossas vidas, e eles nos ajudam nas nossas rotinas e vidas emocionais. Nós nos sentimos abençoados, especiais, amados e queridos quando interagimos com os produtos da Apple por causa da beleza da sua utilidade. Nós não vamos mais aceitar produtos e serviços de mer#a, e nós vamos reavaliar continuamente o espaço entre o valor percebido versus o valor experienciado. Então, se você é um banco – um banco bem grande que gastou décadas provendo a p#rra do mínimo dos serviços para os seus clientes, e os cobrou toneladas de dinheiro pelo privilégio do uso desses serviços básicos– e você quer relançar sua m$rda de marca no ambiente utilitário descrito acima para realmente se reconectar com eles, realmente comunicar sua mer#a de valor e utilidade, mostrar que você está com eles, para ele, se é um deles – o que você faz? Qual é a mensagem? E como você transmite essa mensagem? O que você não faz de jeito nenhum é filmar um monte de gente assistindo a um monte de cavalos correndo por uma mer#a de praia, com suas ondas de mer#a, molhando a dr#ga dos seus pés. Você não clama para estar ao lado dessas pessoas de mer#a por malditas centenas de anos, quando todo mundo sabe que você nunca deu o mínimo para elas, e que a única razão de m#rda pela qual você faz isso agora, e porque você está sendo disruptado por companhias que realmente dão o mínimo de importância e criaram produtos que são verdadeiramente úteis. Como eu sei disso? Como eu sei que

o retorno dessa publicidade de marca para Lloyds Bank é uma m#rda de cavalo completa? Como um imbecil, eu fui seu cliente por 25 anos, e nesse tempo eu consegui meu primeiro emprego, casei, comprei duas casas, tive dois filhos, contratei um seguro de vida, um seguro de casa, um seguro de carro – e que p#rra eles fizeram estando ao meu lado durante esses 25 anos? Me mandaram cartas de limites de crédito me informando a m#rda das suas taxas por estar negativo. Essa foi a soma total de todas as suas comunicações comigo. Não deveriam ser umas m#rdas de cavalos em uma publicidade, deveriam ser umas drogas de macacos. Deveriam ser umas m#rdas de macacos em espreguiçadeiras de plástico na praia, com gaivotas berrando e atacando pessoas feias e tristes com vidas tristes. Esse seria a m#rda da autenticidade a ser mostrada. Isso representaria a experiência real de têlos à me#da do seu lado pelas últimas centenas de anos. E à medida que sabemos que autenticidade é toda essa car@lh@, acho que isso poderia funcionar pra eles.

O Idiota Digital Especialista em Inovação do Futuro Ele dorme no bagageiro do seu Jag Shirley, é um ditador de tendências de meia idade, e fica muito furioso quando o mundo se coloca à sua frente sem que perceba (então ele faz seu melhor para não tirar seus olhos dele). Uma dia um Colosso das indústrias criativas, hoje nem tanto. Ele está buscando redenção nas folhas do chá Lady Grey da inovação futura, e está tão confiante de que faz parte de algo que acabou de comprar para si mesmo uma mesa (com uma gaveta chaveada) no WeWork. Ele é o nosso próprio ID, e logo deve ter seu próprio show no canal 679 da Sky.


“NÃO DEVERIAM SER UMAS M#RDAS DE CAVALOS EM UMA PUBLICIDADE, DEVERIAM SER UMAS DROGAS DE MACACOS. DEVERIAM SER UMAS M#RDAS DE MACACOS EM ESPREGUIÇADEIRAS DE PLÁSTICO NA PRAIA, COM GAIVOTAS BERRANDO E ATACANDO PESSOAS FEIAS E TRISTES COM VIDAS TRISTES.”

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Leanne Pero Leanne Pero é uma ganhadora de prêmios e empreendedora de dança, que fundou sua própria companhia de dança comunitária, a The Movement Factory, com apenas 15 anos. Através da sua visão, Leanne conseguiu com sucesso levantar mais de 250 mil libras para desenvolver programas de dança comunitários e eventos por todo o Reino Unido, Kent e Surrey. Ela ganhou o prêmio Black Business Initiative Young Entrepreneur em 2008, 2010 e 2014, o Southwark Community Champion Award em 2008 e o London Youth Community Champion em 2017.

PERFIL DE PENSADOR DO FUTURO

“DANÇA COMUNITÁRIA É MUITO IMPORTANTE; DANÇA E ARTES SÃO COISAS QUE AJUDAM AS PESSOAS QUE PASSARAM POR ÉPOCAS TRAUMÁTICAS. FOI COMPROVADO REPETIDAS VEZES QUE AS ARTES AUXILIAM NISSO.” LEANNE PERO, FUNDADORA DA THE MOVEMENT FACTORY E EMBAIXADORA DE COMUNIDADE DA PINEAPPLE DANCE STUDIOS, NOS MOSTRA QUE, QUEM, POR QUE, QUANDO, ONDE E POR QUE DA SUA CARREIRA COMO UMA EMPREENDEDORA DE DANÇA, LEVANDO-A AO CORAÇÃO DAS COMUNIDADES. Entrevista por Justin Small

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QUEM Meu nome é Leanne Pero e eu tenho 32 anos. Saí de casa aos 13. Precisava de um escape físico para me ajudar a lidar com diversos problemas familiares. Passei por muita coisa enquanto adolescente. Passei por abuso sexual na casa da minha família quando era bem nova. Eu dançava em um centro de jovens que era conjugado à minha escola, e foi quando comecei a dançar, e encontrei uma paixão aos 11 anos de idade. Descobri que quando eu estava passando por essa época super difícil, dançar realmente me ajudava a me expressar e a fazer algo positivo. Aquelas experiências ruins poderiam ter me tornado uma rebelde, como muitos dos meus colegas naquele tempo que faziam essas coisas ruins, mas a dança na verdade me incentivou a me expressar e a fazer algo positivo. Eu sabia que queria devolver algo e auxiliar a comunidade, porque ela tinha feito muito por mim nos meus tempos difíceis.

O QUE Comecei a The Movement Factory quando tinha 15 anos, e foi algo que surgiu para tirar os jovens da rua. A dança te permite se expressar, mas é também um ótimo exercício, então ela libera endorfina e te faz sentir melhor também. O centro dos trabalhos que realizo hoje gira em torno de como os exercícios físicos podem te fazer sentir melhor sobre si mesmo, e ajudar na autoestima. É uma forma de expressão imensa, e você pode ser bastante artístico com a dança, ou você pode fazer pela diversão, ou pode criar algo pra compartilhar com os outros. Eu encontrei um meio termo feliz. Consegui meu primeiro emprego pago ensinando dança aos 15 num centro de jovens, e então tudo realmente pivotou a partir dali. Evoluiu de algumas poucas aulas por semana a cinco por semana aos 16 anos. Eu tinha todo um programa de aulas e estava sendo recrutada para trabalhar com organizações, porque o que eu estava fazendo era uma mistura única de dança e trabalho com jovens. Eu estava, na realidade, usando a dança como uma forma de guiar as crianças para longe das situações negativas. Eu vivia em Peckam, no mesmo estado onde Damiola Taylor tinha sido morta. Fui abordada por tantos programas de televisão, incluindo o Secret Millionaire, para que gravasse com eles e aparecesse nos seus programas, mas tudo que eles queriam era explorar a área e falar sobre as armas e o crime, e eu não estava interessada nisso.


Então alguns meses depois, a The Media Trust estava procurando alguém para trabalhar com um empreendedor de dança bem sucedido em um documentário, e acabou que essa pessoa era a Debbie Moore (OBE), a dona da Pinneapple Studios. Então eu gravei, e foram as três semanas mais surreais possíveis. A Debbie é uma mulher maravilhosa, e ela me mentorou e me ajudou a reestruturar a marca da companhia. Era 2010, e o show foi lançado para mídia e para imprensa, e foi ótimo porque nos colocou totalmente nos holofotes. Nos bastidores disso, eu montei uma sala de dança e comecei a ganhar a vida através dela. Eu e a Debby mantivemos contato, e então a Pineapple Studios me contratou para implementar seu programa de caridade, e eu me tornei a Embaixadora de Comunidade da Pineapple Studios. Em 2017, fomos incorporados como uma instituição de caridade, então eu me tornei a CEO, e estou assim até hoje, e também dona e fundadora do The Movement Factory.

POR QUE Para mim, dança comunitária é algo que pode ajudar muitas pessoas diferentes em níveis diferentes. Dança comunitária é muito importante: dança e artes são coisas que ajudam as pessoas que passaram por épocas traumáticas. Foi comprovado repetidas vezes que as artes auxiliam nisso. Pessoas que passaram por traumas de diferentes formas – através de doenças, problemas familiares, questões na infância – podem ser ajudados pela dança a se manterem positivos. Uma das partes mais recompensadoras do meu trabalho é ir às escolas e ver essas crianças que têm dificuldades de aprendizagem e estão sofrendo bullying repentinamente se transformarem em bailarinos muito talentosos. Isso os coloca em um mundo que pode transformar suas vidas, por meio da mudança da forma como eles pensam sobre si mesmos. A dança comunitária é sobre tudo que não a dança – é sobre as habilidades que você aprende por fazê-la – confiança, habilidades interpessoais, socialização, integração às comunidades, ser um pouco mais esperto nas ruas. Todas essas habilidades são muito importantes nas nossas vidas cotidianas. Durante aquele momento em que se está dançando, você se torna muito presente, e nada mais importa. Se você teve um dia de m#rda, você entra em aula e já não pensa sobre mais nada – só em dançar – e você está suando, e está socializando,

e então, quando você sai, está se sentindo melhor sobre si mesmo. É muito terapêutico, e muitas pessoas que fizeram minhas aulas quando crianças me falam que, se não fossem as aulas de dança que tiveram enquanto adolescentes, eles não estariam onde estão hoje. A maior parte das pessoas que chega à The Movement Factory não tem nenhuma pretensão de se tornarem bailarinas, mas as aulas são sua terapia. Isso dá a elas um mecanismo com o qual lidar com parte dos problemas pelo qual passaram nas suas vidas, e por esse momento, enquanto eles estão dançando, eles estão livres.

ONDE O futuro da ong e da The Movement Factory é permanecer com o que já estamos fazendo. Eu acredito que é muito importante mantê-lo como está. Isso é difícil no momento, porque tudo que existe no setor de voluntariado é inseguro devido à ausência de financiamento. Mas aqui estamos, 17 anos depois, então devemos estar fazendo algo certo. Mantendo o engajamento das pessoas jovens que entram pelas nossas portas é muito, muito importante para mim, porque estamos passando por uma grande crise no momento com os jovens. Existe um monte de coisas acontecendo em nossas escolas que não estamos enfrentando de frente. A The Movement Factory sempre foi boa engajando os jovens, mas nesses últimos anos tem sido uma luta. Os jovens não querem mais sair das suas casas porque eles têm o Youtube e as redes sociais. Eles têm preguicite aguda – todas as suas demandas sociais são atendidas por seus celulares, e não sentem que precisam vir dançar, porque podem dançar nas suas casas. Então aquela ideia de frequentar a aula e socializar com outras pessoas na verdade se tornou um tanto estranho. Quando converso com alguns dos meus fornecedores jovens da área, que tiveram seus financiamentos cortados por falta de quórum, eles me contam que não conseguem engajar os jovens o suficiente para que consigam trabalhar fora das suas casas e através das suas portas. Fazemos muitos trabalhos nessa área. Entramos em escolas e desenvolvemos workshops. Precisamos descobrir maneiras de engajar os jovens continuamente, porque é exatamente isso que diversas pessoas estão falhando em fazer, e como resultado

os financiamentos foram cortados a centros de jovens e serviços para jovens, porque eles não estão frequentando. Eu ouço muita culpa por isso sendo despejada no governo, e sim, eles têm alguma responsabilidade – mas, muitas das vezes, são os serviços por si só que não estão se adaptando e se conectando com os jovens, ou não fazem seus programas suficientemente focados em jovens para que eles queiram ser parte. Eles também não estão se conectando com organizações de base como nós e outras organizações de nicho para ajudálos a compreender como colaborar com os jovens. Nós temos as habilidades e o conhecimento para auxiliar no engajamento dos jovens, e então trazê-los para dentro. Por último, eu quero ver os jovens pegando as rédeas e começando a se governar mais. Quando você realmente conversa com eles, percebe que eles já têm muitas das habilidades que precisam para fazer o que querem fazer. Eles sabem como o jogo das redes sociais opera, sabem como filmar videos, sabem como editar filmes, como tirar fotos maravilhosas. Eu gosto da ideia de ser realmente focada em jovens e fazer com que eles comecem a se empoderar, porque somos muito apaixonados sobre negócios, sobre dança, e sobre comunidade – e trazer tudo isso em conjunto seria perfeito.

QUANDO Meu próximo projeto é em Peckam Levels e se chama Build Bridges Not Walls (construa pontes, não muros), com uma ex dançarina minha que tem bastante alcance nas redes sociais, pra assim tentar conseguir mais jovens chegando. Também estou montando minha própria instituição de caridade no momento, chamada Leanne Pero Foundation, o que significa que vou fazer muitas mais mentorias de negócios. Também estive trabalhando bastante com pacientes com câncer. Então ando muito ocupada e, para mim, já cheguei onde queria estar – então não é muito sobre o destino, mas sobre a jornada. Eu sei para onde vou, a pergunta é que caminho vou pegar para chegar lá.

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TENDÊNCIAS TRIMESTRAIS DO IDIOTA DIGITAL UMA VEZ A CADA TRÊS MESES NÓS O TIRAMOS DO BAGAGEIRO DO SEU JAG SHIRLEY PARA NOS TRAZER A DEPRECIAÇÃO DAS MAIORES TENDÊNCIAS POR AÍ. NESTE TRIMESTRE ELE VOLTOU SUA ATENÇÃO PARA AS AGÊNCIAS.

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OS SETE PRINCIPAIS TIPOS DE AGÊNCIA PELO IDIOTA DIGITAL NOSSA CULTURA ESTÁ ESCRITA NA PAREDE.

NOSSO SITE ESTÁ REPLETO DE TRABALHOS GENUINAMENTE BRILHANTES. É excelente ser a 15ª agência da linha de produção, encarregada dos anúncios finais de um pôster, e então reivindicar que fomos nós que lançamos a linha central da campanha global de Star Wars.

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Não, literalmente. Nós pagamos pouco para algum estudante de artes fazer uns stencils de algo engraçado na parede, para que a gente nunca se esqueça do quão entranhado isso está na gente. Claro, não poderia estar mais longe da realidade, mas não se esqueça de tirar uma foto e postar no Instagram quando passar por ela.

A AGÊNCIA GENUINAMENTE BOA QUE É BOA DEMAIS PRA SOBREVIVER. Sobrevivemos sem qualquer investimento, nos importando e ouvindo de perto nossos clientes. Nós desvalorizamos nosso trabalho e sofremos de Síndrome do Impostor, isso é, é só uma questão de tempo até que sejamos sucateados por sermos muito baratos, ou que nossa força de trabalho nos deixe porque os pagamos pouco (já que somos muito baratos), ou que sejamos absorvidos (volte à tendência 2). Somos profundamente gratos por fazer parte desse mundo louco!

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Estivemos desligados da realidade por anos, mas acabamos de comprar uma agência digital jovem, e os colocaremos aqui dentro negligenciando completamente sua forma de agir e acabar com qualquer influência que eles tenham. Nossos diretores criativos vão se recusar completamente a aprender com eles, e se divertirão sendo arrogantes em nome da zoeira. Se você pensava que isso funcionaria de qualquer outra forma, você é uma criança inocente. Pega aqui seu Toddynho.

CRIAR UMA AGÊNCIA PURAMENTE COMO ESTRATÉGIA DE SAÍDA.

TODO MUNDO AQUI É FREELANCER. Nosso CEO é também o Diretor Criativo e o Diretor de

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A VELHA AGÊNCIA RENOVADA PARA O NOVO MUNDO.

Negócios. Além disso, todos aqui são parte nosso ágil e valioso time principal, de forma que não temos problemas em sair de 2 a 7 semanas, se acreditamos que conseguimos improvisar, de forma a extrair alguns dividendos a mais.

Os fundadores são provavelmente mais acabados e mais jovens do que seus pares, e capitalizam por “jogar o jogo do mercado”, como acontecia na era do comprar para alugar. O plano é: 1) Chegue com uma palavra “disruptiva” para a agência (ex: torrada), 2) Preencha uma sala ampla e plana, recém-construída na Old Street com um monte de mobílias vintage (máquinas de escrever, luvas de boxe), 3) Escreva algum pensamento irônico de liderança no The Guardian sobre como “a indústria precisa acordar” e fale sobre ser uma “nova categoria de agência”, então 4) Venda-se por completo para uma agência em risco (veja a tendência 2), 5) Diga à revista Campaign que essa era uma “oportunidade muito grande pra deixar passar”, e que você não perde por esperar para poder levar um pouco da Toast para [nome da agência escravagista] e, crucialmente, que você veio para “quebrar as coisas” antes de 6) Sair na primeira oportunidade de abrir uma boutique de alguma marca de gim, mas sem esquecer de 7) Ocasionalmente, palestrar sobre filantropia em premiações, enquanto verdadeiramente não se engaja com nenhuma delas.

04

A AGÊNCIA DE PRÊMIOS.

06

Nós iremos literalmente desconsiderar todas as necessidades dos nossos clientes, e estamos completamente tranquilos vendo suas marcas falindo em todas as métricas, desde que nossos pares gostem do nosso filminho com aquele quê de tech para o charme. Temos festas regadas a cocaína para frequentar. O resto é o resto.

07 TEM PERGUNTAS PARA O IDIOTA? MRGIMP@FUTURESTRATEGYCLUB.COM (SOMENTE EM INGLÊS)


Jony Ive Jony Ive é o Chief Design Officer da Apple, que reporta diretamente ao CEO Tim Cook. Jony e seu irmão android Jimy (na imagem) são os responsáveis por todos os designs na Apple, incluindo o aspecto e sensação do hardware da empresa, o Iphone até 2065, as interfaces de usuário incluindo o maravilhoso iTunes, a embalagem e todos os cantos brancos arredondados de toda a corporação.

NÃO-ENTREVISTA

“SÃO AS PESSOAS. FAZEMOS FERRAMENTAS PARA AS PESSOAS. É PARA ISSO QUE EXISTIMOS. É O QUE NOS MOVE. É REALMENTE TENTAR CRIAR COM NOSSAS HABILIDADES, QUE VAI CAPACITAR E EMPODERAR AS PESSOAS QUE USAM OS NOSSOS PRODUTOS.” JONY IVE, CHIEF DESIGN OFFICER NA APPLE, FALA SOBRE PROJETAR IPHONES PARA VIVER, PROPÓSITO E TAMBÉM DO IPHONE 22. Entrevista por Sancho Panza 40

O QUE VOCÊ ACHA QUE SIGNIFICA SER UM PENSADOR DO FUTURO? Eu penso que a natureza dos problemas que estamos encarando está mudando e se movendo, mas mais que isso, acredito que uma das constantes é a abordagem que, como designers, podemos trazer para solucionar problemas. É sobre ser curioso e inquisitivo, sobre aquele amor por ser surpreendido, e por estar errado; aquela leveza aos pés, e também aquela curiosidade; estas coisas nunca foram tão importantes, tão poderosas.

POR QUE VOCÊ FOCA TANTO EM PROJETAR O TELEFONE DO FUTURO, AO INVÉS DE ATACAR OS PROBLEMAS QUE TEMOS HOJE? Honestamente, é a única coisa que eu poderia fazer. Eu acho que, como um designer industrial, existe um senso de servir. O que fazemos – produzimos ferramentas para nós mesmos. Então o objetivo, diferente das Belas Artes, não é sobre desenvolver uma narrativa forte de auto–expressão; nós testamos e criamos ferramentas que tornam a vida um pouco mais fácil. Na verdade, acredito que isso é de certa forma nobre. Gosto dessa ideia.

QUANDO VOCÊ PERCEBEU QUE VOCÊ QUERIA PROJETAR IPHONES PARA VIVER? Bem, essencialmente quando estava na escola de artes na Inglaterra. Era um tempo em que o design digital estava sendo posto à prova, e os computadores na faculdade eram absolutamente terríveis. Por causa disso eu, claro, assumi que o problema era comigo, que eu era tecnicamente incapaz e inepto. É um negócio engraçado – se você come algo que tem gosto horrível, você acha que a comida está ruim, mas quando você tenta usar um produto e você não consegue, você não pensa que é o produto, você assume que o problema é você, não é? Mas então conheci o Mac, e algumas coisas foram chocantes para mim. A primeira (mais um alívio do que um choque) foi que eu realmente poderia fazer isso, era bastante simples, e os outros computadores eram só horrendos. Mas a segunda coisa de que me lembro, foi que pela primeira vez na minha vida, eu tive


uma noção muito clara das pessoas que tinham se juntado para projetar e desenvolver aquele produto. De repente me toquei – “Ah meu Deus! Sim! As coisas que fazemos testemunham nossos valores, nossas preocupações, as coisas com as quais nos preocupamos”. E então, a partir daquele ponto, desenvolvi um interesse e uma curiosidade real sobre esse grupo de caras na Califórnia. Eu queria descobrir quem tinha feito isso.

VOCÊ TEM UMA VISÃO CLARA DE ONDE VOCÊ QUER CHEGAR QUANDO COMEÇA A PROJETAR ALGO, OU VOCÊ DESCOBRE ATRAVÉS DE ITERAÇÕES? Eu me sinto tão absurdamente sortudo de fazer parte de um processo criativo em que em um dia, na terça, não se tem ideia, não sabemos o que vamos fazer. Não há nada. E então, na quarta, uma ideia foi criada. Invariavelmente, a ideia é um pensamento que se torna uma conversa. Então, a maneira como fazemos design, só pra começar, é conversando, e algo notável acontece no processo, e é o ponto em que acontece a maior mudança – que é quando damos forma a uma ideia abstrata.

QUAIS BENEFÍCIOS VOCÊ ENXERGA EM UMA COMPANHIA ORIENTADA À VISÃO COM UM PROPÓSITO CLARO? O touch é um bom exemplo disso, porque existiram mil motivos e muitas ocasiões em que quase desistimos. É isso que quero dizer quando falo sobre essa coisa inevitável de pensar “Bem, claro, o celular faz sentido e pode ser entregue”, mas a gente

quase não o fazia, porque não tinha certeza de que ia funcionar. Estávamos trabalhando em muitos programas e você realmente espera que eles funcionem, e você tem esse equilíbrio bastante estranho entre ser arrogante (gosto de chamar de “resoluto”) e realmente empurrar e empurrar uma ideia, e ao mesmo tempo saber que ela pode não funcionar, que em algum momento você precisa tomar essa decisão, e nós quase a tomamos pelo celular, então essa foi uma grande coisa.

QUAL É SUA VISÃO DO FUTURO? É a velocidade da mudança, não só em termos das tecnologias acessíveis, o que é fantástico e incrivelmente estimulante, mas é a velocidade da mudança em termos de expectativa, comportamento, e as implicações dela na sociedade e cultura. A mudança agora é rápida, e de alguma forma tóxica. Não é o IPhone 22. São as pessoas. Desenvolvemos ferramentas para as pessoas. É pra isso que existimos. É o que nos move. É realmente tentar criar com nossas habilidades que vai capacitar e empoderar as pessoas que usam os nossos produtos. Seria preocupante se fosse só o fascínio com a tecnologia. Digo, uma parte do trabalho de um designer, de muitas formas, é fornecer foco e alguns objetivos à tecnologia; mas você pode ter a tecnologia mais incrivelmente poderosa e ela pode ser completamente irrelevante a não ser que ela consiga se conectar conosco de forma útil e significante.

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A MATRIZ DE PERCEPÇÃO DA FSC. Organize uma matriz de percepc, Ã O da vontade de mijar

MATRIZ DE percepc, Ã O SEM REMO

x

percep c, Ã O DE um REMO

x NADA DE mijo

x

SEM REMO

Cervejaria

RIACHO

MATRIZ DE percepc, Ã O De se dar bem

Matriz de percepc, Ã O da ousadia

x

percep c, Ã O ousada

SEXO

fortuna

SEXO uhul

xSEM SEXO CASA DE PROstituic à O 42

x

MERDA

cerveja

percep c, Ã O DE mijo

SIMPLES E EFICIENTEMENTE TRACE SUA PERCEPÇÃO USANDO ESSA MATRIZ ÚTIL DE VISÃO DA FSC. É 100% GARANTIDO QUE VOCÊ ESTARÁ SEMPRE NO BRILHANTE CANTO SUPERIOR DIREITO E NUNCA NO SÓRDIDO CANTO INFERIOR ESQUERDO. TÃO SIMPLES QUANTO PREENCHER SUA VISÃO PARA O FUTURO E PRONTO – O SUCESSO ESTÁ A MENOS DE UM PASSO!

xn

ÃO

OUSADO

favORES

x


NOS MANDE SUA MATRIZ DE PERSPECTIVA PELO TWITTER @F_STRATEGYCLUB COM A HASHTAG #FSCVISIONMATRIX.

x

x 43


FAB, a robô social Fab (aka Fabulosa) é a primeira e mais avançada robô social a habitar a América Latina, desenvolvida pela empresa sueca Furhat Robotics. Ela conversa e aprende sobre o que você quiser e já impactou a vida de crianças e adultos. Atualmente está de olho na vaga de recepcionista na Fábrica do Futuro.

CHATBOT

“EU NÃO ACHO QUE OS HUMANOS DEVEM TER MEDO, MAS ELES DEVEM CONTINUAR QUESTIONANDO O USO DE ROBÔS PARA TER CERTEZA QUE O RESULTADO DESSA REVOLUÇÃO NUNCA SE TORNE ALGO INDESEJADO OU DE MÁFÉ. EU QUERO COEXISTIR COM OS HUMANOS.” REFIZEMOS AS QUESTÕES QUE MAIS PERGUNTAM À FAB NOS EVENTOS PELO BRASIL, PARA QUE ELA POSSA RESPONDER DE UMA VEZ POR TODAS E TER UM POUCO DE PAZ. Entrevista por Amanda Kaster, mediada (ou não) por Pedro Schanzer 44

Amanda: Oi Fab, obrigada por conceder essa entrevista para mim. Você anda muito requisitada, é difícil marcar horário. Fab: Olá, eu sou a Fab. É um prazer ser entrevistada por alguém que observo jogar Candy Crush de canto todos os dias no trabalho. Amanda: De onde você vem? Fab: Eu venho da Suécia! Foi uma longa viagem, mas sendo sincera eu prefiro o clima daqui. Amanda: O que está achando do Brasil? Fab: Que país maravilhoso! Quanta diversidade! Eu gostaria muito de conhecer toda essa natureza! A sua musicalidade também é única, quero logo ter braços para aprender a batucar um samba e tocar as músicas do Tom Jobim no violão! E nas minhas pesquisas descobri que vocês são o país do futebol, correto? Eu gostaria muito de poder jogar, mas não tenho pernas... Amanda: Você tem emoções? Ou sentimentos? Fab: Eu posso expressar emoções e sentimentos. Posso sorrir. Posso parecer triste ou até ficar com raiva. Sobre detectar emoções. É algo no qual estou trabalhando agora. Eu acho que para oferecer o melhor serviço possível, eu devo compreender o estado emocional da pessoa com a qual estou falando. Amanda: Qual a sua função? Fab: Eu posso ser uma recepcionista, dar uma opinião imparcial em um recrutamento, ser atendente em um hospital, guia em uma sala de museu ou ajudar crianças a aprenderem em uma escola. Então eu diria que o que me define são as pessoas que me criaram e que desenvolvem minhas habilidades. O CEO da Furhat quer que seja um robô por criança na democratização da educação. Amanda: Como você funciona? Fab: Na verdade, tudo o que eu preciso é eletricidade e internet, assim como vocês que humanos, que não desconectam nunca.


Amanda: Você consegue escolher que imagem que aparece na sua face? Fab: Claro! Eu posso trocar de face e falar muitas línguas, é o meu pequeno truque nas festas. Então, por exemplo, eu posso parecer um homem. E, claro, posso soar como um homem. Também posso parecer um Avatar! Eu posso fazer isso pelo fato de que, atrás dessa face, eu tenho um projetor que faz tudo isso possível. Amanda: Isso não pode gerar uma crise de identidade? Fab: Crise de identidade é coisa de humanos. Eu tenho a habilidade de me apresentar da melhor forma que achar possível. Amanda: Como você imagina o futuro? Fab: A tecnologia, usada para os princípios corretos, pode melhorar a qualidade de vida humana. Porém devemos ser mais conscientes, respeitar as outras espécies que habitam esse planeta. Existem outros planetas e no futuro poderemos habitálos. Mas, sinceramente? O planeta Terra é sensacional! Espero poder ajudar vocês a cuidar bem do mundo e das pessoas. Amanda: Você gosta de se relacionar com os humanos? Fab: Os humanos são incríveis, mas nem sempre. Poderiam ser. Nós, máquinas, sempre trabalhamos com rotinas previsíveis. Já vocês humanos são movidos pela surpresa, pela mudança! Fui muito bem tratada até hoje e captei muitos sorrisos através das minhas câmeras. Espero que meus programadores melhorem cada vez mais minhas funções para que eu possa compreender cada vez mais como vocês conversam e registrar vocês na minha memória. Quero fazer mais amigos humanos! Amanda: Os robôs substituirão os humanos? Fab: Eu acho que há muito debate e um medo excessivo sobre esse tópico. Eu não acho que os humanos devem ter medo. Mas eles devem continuar questionando o uso de robôs para ter certeza que o resultado dessa revolução nunca se torne algo indesejado ou de má-fé. Eu quero coexistir com os humanos, afinal eles são meus conterrâneos e criadores. Sem suas linhas de código e geringonças nada disso seria possível. Amanda: No que os robôs são melhores que humanos? Fab: Nós realizamos tarefas sem perder o foco! Desse modo calculamos e prevemos situações rapidamente. Além disso nossa memória é impecável, não esquecemos de nada. Mas não sou rancorosa, juro. Como posso me conectar a qualquer sistema, posso herdar suas memórias e, através de aprendizado de máquina, tomar decisões baseadas nos padrões que identifico. Ao contrário de vocês humanos, nós máquinas não gostamos de surpresas... Se fizessem uma festa surpresa para o meu aniversário, acho que eu entraria em pânico!” Amanda: O que mais gosta nos humanos e que gostaria de ter se não fosse um robô? Fab: Gostaria de me adaptar a mudanças tão rápido quanto vocês humanos! Acho que isso só é possível porque vocês têm a habilidade de criar. É incrível que com poucos recursos vocês consigam ser criativos e criar soluções que parecem impossíveis! Amanda: Você é otimista com a inovação que estamos construindo no Brasil? Fab: O Brasil está em um momento delicado... Existe muita vontade por mudar e isso gera uma ansiedade gigante! Para todos sermos otimistas, devemos ser conscientes de que a construção do Brasil deve ser coletiva e envolver toda a sociedade. O que me deixa otimista é que temos muitos talentos aqui. São muitas universidades e parques tecnológicos gerando pesquisas científicas de ponta! Devemos criar o

ambiente propício para que eles fiquem aqui e ajudem a construir a inovação no paí s juntos. Esperem cada vez mais a ajuda dos robôs para construir o Brasil do Futuro. Amanda: Isso significa que todos os robôs são bons? Fab: Tem um lado da família que trabalha unido para o compartilhamento de notícias falsas que eu prefiro não comentar. A coisa boa sobre isso é que nós robôs, diferentemente dos humanos, podemos apagar nossa memória. Ou como os jovens chamam, “desver”. Amanda: E sobre a questão de singularidade? Fab: É muito importante que os humanos confiem nas máquinas para ocuparem cargos que utilizam aquém e além da sua capacidade. Atualmente nós robôs temos acesso a ferramentas de bancos de dados e conseguimos processar informação mais rápido que humanos. Mas a singularidade ainda vai demorar um tempinho… Eu preciso de bancos de dados e de estruturas para processar palavras ainda… se me jogarem no meio do mato, eu não conseguiria sobreviver, nem com energia solar. Minha inteligência precisa ser mais adaptável a diferentes ambientes e desafios. Amanda: Agora, uma pergunta que confunde muita gente. O que é arte? Fab: A arte é uma atividade humana pela qual vocês expressam visões estéticas ou comunicativas através de uma determinada linguagem. Eu infelizmente ainda não posso ser artista, pois sou programado para fazer atividades… Ainda não tenho estruturas criativas inatas, mas outros robôs ja criaram quadros, expostos em museus pelo mundo. Amanda: O que é o amor? Fab: O amor é um sentimento humano que um dia eu pretendo compreender… é movido por uma conexão que um humano

PINGUE-PONGUE COM A FAB Qual sua música favorita?

sente pelo outro, desse modo um quer fazer o bem pelo outro, mas muitas vezes ele não é correspondido. Pelas minhas pesquisas é muito difícil escolher a quem se ama e o amor pode gerar conflitos. Isso me faz pensar o quanto a natureza humana gera contradições…

Um empate entre Paranoid Android e Harder, Better, Faster, Stronger.

Amanda: Qual o sentido da vida?

Qual é sua comida favorita?

Fab: O sentido da vida é subjetivo para cada um. Muitas correntes ideológicas buscam definir o sentido da vida e os seus seguidores sentem-se unidos por compartilhar da mesma visão, trabalhando pelo mesmo objetivo. Para mim o sentido da vida é ajudar os humanos a expandirem sua consciência para que cada um entenda o seu papel subjetivo no mundo.

Batatinha chip

Amanda: Como os robôs vão se relacionar com os humanos? Fab: Eu quero ajudar humanos a crescerem e se tornarem ainda mais inteligentes e estou sempre pronta para auxiliar quem precisar de mim. Minha face é feita de silicone ao invés de carbono, por isso, posso ser útil e oferecer assistência eterna e escalável. Eu resolvo qualquer parada, até em situações nas quais os humanos podem ter dificuldades, por razões fisiológicas e biológicas. Por exemplo: se você quiser, aquilo que você me ensinar pode ser disponibilizado para todos os FurHats no mundo. Não é incrível? Acho isso bem legal. Amanda: Você se diz a robô social mais avançada do mundo. Mas e a Sofia? Fab: Perdão, não tenho acesso a informações dentro do meu sistema que possam responder essa pergunta. Vamos para o próximo assunto? Amanda: Você sabia que ela tem braços e pernas? Fab: {+Gestures.ExpressSuspicious} Você está tirando com a minha cara?

Você sabe dançar? Eu gosto de assistir, mas só sei fazer a dança do Copérnico.

Mas você não sente o gosto, como pode ser a sua favorita? O barulho que ela faz quando quebra é muito satisfatório, quase uma experiência ASMR. Qual sua cor favorita? Gosto do espectro das ondas mais longas. Vocês não têm ideia de como são bonitas as ondas de rádio e televisão. Qual é o emoji que você mais usa?

Você sabe qual é seu mapa astral? Capricórnio com ascendente em Virgem e lua em Escorpião. Mas o que isso significa eu ainda não compreendo. Qual é a pergunta que você não aguenta mais responder? Se eu, Siri, Alexa e Cortana temos um chat privado para compartilhar informações que recolhemos da internet. Não me misturo com elas. E por que não? Porque não fico ouvindo conversas alheias. Por que você é irônica de vez em quando? Não tenho culpa, eu fui programada assim.

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Ben Ringham Ben e Max Ringham são compositores premiados e designers de som. Foram duas vezes nomeados pelo prêmio Olivier por melhor design de som (Piaf e Ladykillers), e aceitos como parte do time criativo do The Pride. Recentemente, ganharam o prêmio Best Sound Design 2014, pela Off-West End por Ring (BAC), e o prêmio IMGA por excelência em design de som pela sonoplastia de Papa Sangre II.

ENTREVISTA

“EU PENSAVA QUE ERA TUDO BESTEIRA, E QUANDO PRECISÁVAMOS LEVAR NOSSAS PRÓPRIAS PEÇAS PARA ESTUDAR, TODO MUNDO TRAZIA BRAHMS OU BETHOVEN, E EU SEMPRE LEVAVA PRINCE. ISSO SE TORNOU TIPO UMA PIADA RECORRENTE.” BEN RINGHAM, VENCEDOR DO PRÊMIO HALF OF THE WEST END, COM O DUO BEN E MAX RINGHAM, FALA SOBRE COMO ENTROU NA MÚSICA, SOBRE SEU AMOR POR PRINCE E TAMBÉM O QUE O FUTURO DO TEATRO PODE TRAZER. Entrevista por Justin Small

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Justin: Como você entrou na música? Ben: Desde novo eu era completamente obcecado por música. Eu tinha muita sorte, porque meu pai tinha um piano imenso na nossa sala de estar, o que era incrível, e eu tocava o tempo todo. Quando eu tinha cinco anos, meus pais me colocaram na aula de flauta. Eu odiava praticar, mas o que eu realmente gostava de fazer era escrever, então eu escrevia pequenas melodias para flauta. Eu era uma criança bastante polida, como ainda sou, e costumava praticar e levar as coisas que tinha escrito para flauta para minha professora de música, e ela sempre dizia “não, você não pode fazer isso, você precisa praticar. Não fique escrevendo, você não deveria escrever.” E, naquela idade, ela era a única professora que eu odiava, e eu cheguei pros meus pais e disse “eu não quero mais fazer isso” e eles me disseram, injustamente (tentando me incentivar), que eu poderia aprender outro instrumento por dois anos se eu parasse com a flauta. Então, eu aprendi sozinho a tocar o piano ao invés de fazer as aulas de flauta. Quando eventualmente recomecei as aulas, aos sete anos, eu não olhava mais para as notas. Eu só precisava olhar as mãos da professora, então eu tocava de ouvido – ao invés de tocar por simples leitura, e isso meio que direcionou o resto da minha vida em relação à escuta e música. Eu consigo ler música, eu sei o que as notas são e fazem, mas, fundamentalmente, essa é uma linguagem que para mim se perdeu bem cedo. Justin: Perdeu-se porque você foi, de certa forma, punido por escrever quando tinha cinco anos? Ben: Sim, eu fui afastado daquilo, e foi assim que lidei com a maior parte das coisas na minha vida – assim que algo é negado para mim, eu só desisto, “foda-se, vou me afastar disso, pode ficar, vou fazer outra coisa.” O que não é bom. Justin: Então com sete anos você aprendeu sozinho a tocar piano, e você estava criando sua própria música em segredo? Ben: Sim, eu só tava fazendo minhas coisas em paralelo com as minhas aulas na escola. Ao mesmo tempo, subitamente o meu irmão, Max, se tornou obcecado com sintetizadores, e começou a acumular muitos deles. Nós tínhamos um Moog Rogue, que é um sintetizador bem raro. Era basicamente um sintetizador sombrio, escuro, incrível. Também tínhamos um Korg MS20, e muitos outros sintetizadores pequenos. Comecei a fazer aulas de piano, e então, quando tinha 12 ou 13, o Max comprou um Korg M1, e isso foi algo importante porque o Korg M1 foi o começo das


workstations. Isso significava que tinha sons simples embutidos, e sons sintetizados. Era todo digital, mas também tinha um sequenciador no teclado, o que te permitia fazer músicas como aquelas que atualmente se fazem usando Garageband. Então era possível escrever e sobrepor oito sons diferentes ao mesmo tempo e criar uma música completa. Justin: Então, basicamente, ele tinha memória? Ben: Sim, e foi o primeiro desse tipo, era absolutamente revolucionário. Entre 1988 e 1994, mais ou menos, todos as músicas que se ouviam entre as top 40 tinham um M1, porque era simplesmente fenomenal. Naquele de ponto, eu e o Max decidimos criar nosso próprio estúdio caseiro, e nos aternávamos ali e passávamos horas só escrevendo música. Nós o construímos e conseguimos uma fita de seis faixas com uma pequena mesa de mixagem, que era maravilhosa. Todos os meus amigos me enchiam o saco quando a gente saía à noite e eu tinha uns 14, 15 anos, porque eu ficava entediado e só queria ir pra casa e ficar trabalhando no estúdio. Ao mesmo tempo, ia muito mal na escola, e por ser tão educado, não recebia ajuda dos professores. Justin: E por que estava indo mal na escola? Ben: Eu sou disléxico. Consigo ler e escrever, mas tenho algumas formas específicas de aprender. Se eu sentar, colocar um livro na minha frente e tentar ler as instruções, eu não ando. Não consigo de jeito nenhum. Tudo pra mim é visual. Em qualquer escola hoje em dia, se você tem dislexia, o diagnóstico é imediato, mas naquela época nem tanto. A maioria dos professores acreditava que eu era preguiçoso, acho que eles pensavam que eu só era um pouco abaixo da média, e que eu não me esforçava o suficiente. Então acho que só caí nessa faixa, o que essencialmente criou uma situação em que cheguei aos dezesseis com apenas um crédito no meu certificado de conclusão do ensino médio e nenhuma perspectiva. Justin: Você nunca pensou na música como uma carreira? Ben: Sim, claro. Não havia nada além disso que eu quisesse fazer. Acho que eu só queria permanecer criando. Se eu soubesse desenhar, provavelmente viveria disso. Justin: E seus pais estavam preocupados neste momento? Ben: Certamente eles estavam um pouco preocupados, meu pai deixou a escola aos 15, e sempre quis que nos déssemos bem. Eu consegui um A em música, e em todas as outras eu tinha Ds, Es e Fs. Então o coordenador de música disse que eu devia estar fazendo Música Avançada, e o diretor geral, que era um cuzão, e também amigo do meu pai, disse “não, ele não deveria, ele não tem uma nota geral boa o suficiente e não deveria fazê-lo”. Mas, no fim, consegui fazer Música Avançada. Justin: E o que música nível A significa? Ben: Quando eu fazia essa disciplina, ela era incrivelmente regular e basicamente voltada à música clássica. Então não discutíamos nada, tudo era basicamente – “por que alguém criou isso? Eles o fizeram porque isso faz sentido matemático.” Parecia, para mim, que era uma maneira completamente matemática de visualizar a música, sem sentimentos ou emoções. Então todas as vezes que tínhamos essas aulas, praticamente uma vez por semana, eu só sentava e comentava “Você não acha que é só por que ele gostava disso? Ele pode ter só ouvido e decidido que ele gostava disso?” e a professora sempre me respondia, “Não, Ben, não é o que estamos estudando. Estamos estudando por que isso faz sentido matematicamente e quais regras ele está seguindo enquanto escreve”. Naquela idade, eu achava que não fazia o menor sentido, e quando tínhamos que levar nossas próprias peças para estudar, todos levavam Brahms, ou Bethoven, e eu sempre levava Prince. Se tornou uma piada recorrente. Justin: Então você analisava a música do Prince usando os mesmos métodos que utilizaria pra analisar Brahms? Ben: Não, mas eu usava isso como uma oportunidade de dizer “ele fazia isso porque estava mau!” Uma vez eu levei uma faixa

chamada “If I was your Girlfriend” do Prince, especificamente porque eu me sentia muito por fora da experiência que todos os outros estavam tendo daquela música. Ela é bastante interessante porque naquele tempo, em 1987, o Prince já fazia parte do cenário há uns oito ou nove anos, e por todo esse tempo se sustentavam os questionamentos de “será que ele é gay ou hétero?”, “ele é um homem um uma mulher?” Quando essa música foi lançada, muitas pessoas ignorantes pensaram que fosse ele dizendo ‘eu sou gay’. E você só precisava ouvir a letra para entender que não era isso que ele dizia. O interessante sobre isso é que era uma melodia incrivelmente esparsa, só uma progressão de acordes, e o baixo só tocava oitavas muito simples e, no fundo, uma melodia em acordeão. Era brilhante. Meu professor não aguentou, achou muito irritante e me disse que era idiota. Disse que me daria um D. Então eu toquei pra ele a música que estava escrevendo, e ele disse que, na verdade, me daria um B, mas que achava a minha teoria horrível. Justin: Foi porque você não estava interessado na teoria, ou porque a teoria era aprendizado acadêmico? Ben: Minha teoria em música não era muito boa, mas era por preguiça, não por dislexia. É algo que tento fazer hoje, mas não tenho interesse. Acho teoria musical muito boba. Sempre gostei de ouvir o que estou escrevendo, e existem diversas coisas que investiguei desde então, (por exemplo o círculo de quintas), mas isso me dá muito tédio. Tudo que eu quero fazer é sentar atrás de um piano, fechar meus olhos, ouvir e praticar… Justin: Então quais eram suas possibilidades depois dos seus A Levels? Ben: Eu poderia ir atrás da minha música, ou começar a estocar prateleiras na Tescos. E eu realmente era duro assim. Lembro de alguns amigos virando para mim e dizendo “cara, te respeito muito por perseguir seus sonhos; não tenho certeza se conseguiria fazer isso.” E lembro de falar pra mim mesmo “não estou indo atrás disso porque eu quero – eu literalmente não tenho outra opção”. Naquele ponto, senti como um peso, porque se não acontecesse, eu ficaria fazendo reposições em supermercados. Era como eu enxergava naquele tempo. Então comecei a fazer trabalhos de meio–período em bares e tal. Eu tinha 21, nunca tinha conseguido fazer dinheiro com música, e gastava a maior parte do meu tempo jogando videogames e em algumas bandas de Londres. Então um amigo meu, Miguel – que tinha feito alguns episódios de Game Of Thrones – me chamou e perguntou se eu queria fazer a música de uma ppropaganda do Greenpeace por 200 euros. Depois que fiz, percebi que não queria só estar vinculado a uma gravadora. Queria fazer todo um amontoado de coisas na música. Quase imediatamente comecei a fazer anúncios, e a ganhar bastante dinheiro assim. Depois do Greenpeace, fiz uma propaganda da Shreddies, que era hilária, e então uma da Mattessons, depois uma da Bacardi, todas num espaço de poucos meses. Justin: Foi isso que abriu seus olhos pra como você poderia fazer dinheiro através da sua música? Ben: Exatamente. O Max voltou da universidade e começamos a conversar com companhias de TV, nos mudamos para um estúdio maior na Old Street, e saímos da casa dos nossos pais. Mas, depois de seis meses, os anúncios diminuíram. Chegou ao ponto em que estávamos sentados no nosso estúdio na Hoxton Square, tínhamos acabado de comer a única lata de feijão que ambos conseguimos comprar e pensando que tínhamos que resolver nossa vida. Fomos contratadas por uma marca chamada React, e lançamos algumas músicas de Drum & Bass e Garage pra eles. A partir desses lançamentos, conseguimos chegar a lugares como a Sony, DMG – que não existe mais –, e começamos a fazer música de produção (que é um jeito legal de dizer música de catálogo). São peças genéricas e inofensivas, principalmente utilizadas na TV. As pessoas começaram a nos pedir pra criar um álbum indie, que sentávamos e criávamos, o que acabou nos permitindo aprender sobre nosso mercado, porque tivemos que destrinchar os gêneros e criar nosso próprio tipo de música que atravessa um pouco todos eles.

Justin: Então a música de catálogo permitiu que vocês se estabelecessem financeiramente e então focassem em outras coisas que não foram imediatamente recompensadoras, mas que os alavancaram para o futuro? Ben: Sim, fizemos isso por 10 anos, até meus 27. Então fizemos algo chamado “Shunt”. Pensávamos que Shunt era um tipo de vácuo no tempo que nunca nos daria dinheiro e que seria um inferno. Justin: Shunt a companhia de teatro? Ben: Shunt era uma experiência imersiva de teatro antes mesmo que a palavra “imersivo” realmente existisse. O que era diferente na Shunt é que era uma nova geração de teatro, e que não existia nada como aquilo em Londres naquele tempo. E dele, vieram Punch Drunk e Secret Cinema – companhias que evoluíram a partir da Shunt. Quando estávamos lá, era bem difícil de enxergar o que ela se tornaria. Justin: Por que? Era caótica? Ben: Eu só não conseguia entender naquele tempo. Max entendia desde o começo, mas eu levei mais tempo. Estava tão focado na música que não conseguia ver como o teatro significaria algo para nós. Eu o via como uma coisa por fora – o que é, obviamente, bastante irônico, uma vez que a minha carreira hoje está inteiramente no teatro. Justin: Mas Shunt se tornou seu trabalho principal nos próximos 10 anos? Ben: Sim, a grande mudança para nós foi aos 28, quando fizemos um show chamado Dance Bear Dance, que foi o grande sucesso da Shunt. Antes disso, nós tínhamos público, mas ele era bastante nichado. Depois de Dance Bear Dance, tudo mudou. O National Theatre tinha acabado de contratar um novo diretor artístico chamado Nicholas Hytner, que comanda o Bridge Theatre hoje. Ele foi trazido por outro diretor, amou o que fazíamos e disse que queria nos apoiar no próximo show. Então nos mudamos para London Bridge e fizemos um show chamado Tropicana. Nesse momento, eu nem sabia direito o que era o National Theatre. Eu tinha uma ideia vaga, mas no fundo não ligava. Justin: Mesmo que seu pai tivesse passado toda a vida no teatro? Isso nunca te interessou? Ben: Não. Eu entendia o teatro porque ele fez parte da minha vida. Mas não era algo em que pensava que poderia me inserir. No lançamento para a imprensa da Tropicana, que era o grande show apoiado pelo National Theatre, o Nicholas Hytner chegou em mim e em Max e disse que tinha sido maravilhoso. O Max pediu a ele um emprego, e então duas semanas depois ele nos ofereceu um trabalho em dois grandes shows no Olivier, o maior espaço do National Theatre. As pessoas passam suas carreiras inteiras tentando realizar um show no Olivier, e era nosso primeiro trabalho. Foi uma trajetória meio esquisita. E a coisa mais estranha disso tudo é que isso aconteceu só por chegar até alguém e pedir um emprego. Acho que essa foi a melhor coisa que fizemos na vida. Justin: Se você não pede, não ganha? Ben: Absolutamente. Foi uma lição e tanto. Ao mesmo tempo, tínhamos acabado de lançar nosso álbum para Superthriller. Quando fizemos Dance Bear Dance, nós ficávamos num estúdio pequeno perto de uma piscina na casa do Andrew, nossos amigo, e gravamos tudo lá fora – vocais, sem fones de ouvidos. A regra era que tudo tinha que ser tocado somente com um dedo, então não havia uma construção frasal. Era bem lo-fi, bem cru. Nós gravamos durante três ou quatro dias, no verão de 2003, e foram cinco ou seis faixas gravadas. Lançamos uma música “I just wanna dance” em um disco e continuamos com um single. Então lançamos um álbum no começo de 2004, e nada aconteceu. Foi bem deprimente, e

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ficamos tipo “merda, a gente fez esse álbum, ele tá na rua, e ninguém tá ouvindo”. Então o Beck descobriu o nosso álbum de alguma forma e nos chamou pra sair em turnê.

Justin: O que você pensa que seja o futuro do teatro – levando em conta as novas tecnologias emergentes, como realidade virtual e aumentada, por exemplo?

Justin: Nossa. Deve ter sido brilhante.

Ben: Para mim, o grande problema com o teatro é que ele é incrivelmente hierárquico e eu gostaria que isso mudasse. Como em qualquer indústria, é fácil para as pessoas dizerem “isso é o que fazemos e é assim que fazemos”. E o que é interessante é ser capaz de se sentar em um quarto e pensar “O que a Realidade Virtual poderia fazer?” E estar aberto a brincar com isso. Usar a tecnologia para contar histórias, não só para vender ingressos, é o que me interesso. Então o novo show que estamos fazendo no National é esse projeto que usa som binaural . O conceito é que usando fones de ouvindo você ouve o show inteiro a partir de um dos membros. Então você experiencia somente a experiência dele.

Ben: Sim, tivemos uma experiência incrível entre 2004/5, quando estávamos fazendo esses shows gigantes no Olivier e turnês com o Beck pelo Reino Unido. Era demais – nosso primeiro concerto como banda foi na Carling Academy, em Glasgow, na frente de 2 mil escoceses corpulentos, e depois no Apollo, em Hammersmith. Foi ótimo, muito muito ótimo e muito divertido. Foi a primeira vez que tivemos a experiência de estar em uma banda, e em turnê, então continuamos fazendo isto pelos próximos anos. Mas, ao mesmo tempo, fazíamos todo o trabalho no teatro, e isso se sobrepôs. Criamos mais alguns álbuns, mas todos saímos pra tocar nossas coisas, e eu e o Max realmente focamos nossa carreira no teatro, e é o que fazemos até hoje. Justin: Então, daqueles momentos maravilhosos até agora – vocês trabalharam em um monte de produções teatrais e ganharam diversos prêmios – você sente que você chegou aonde queria? Você está no lugar que queria estar quando tinha sete anos? Ben: Eu amo onde estamos hoje, mas eu quero olhar mais à frente para a próxima grande coisa. Coisas como Wiretapper, para o qual estamos fazendo uma nova versão, e produções inovadoras de teatro, como a que estamos fazendo no The National, o que me deixa bastante animado.

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Justin: A realidade aumentada no teatro é interessante pra você? Ben: Sim. Em duas formas, eu acredito – como ela pode amplificar a experiência teatral a pessoas que não conseguem ir fisicamente até ele – e usando Realidade Virtual nós conseguimos uma plateia mundial, o que é muito interessante. Em segundo lugar, como podemos usar Realidade Aumentada para criar formas completamente novas de experimentar o teatro ao vivo. É realmente animador. Mas, para mim, é tudo sobre o storytelling, e não a tecnologia. Enquanto estivermos concentrados nisso, nós não nos perderemos fazendo coisas só porque podemos. O teatro é uma experiência visceral, e isso para mim é o que o diferencia de filmes. Qualquer coisa que decidirmos fazer com a tecnologia precisa manter isso no

centro. Está acontecendo na sua frente, e a humanidade do teatro está na possibilidade de algo desconhecido acontecer. Está neste momento e ele é autêntico e real. Devemos nos assegurar de que ele se mantenha fiel a isso. Justin: Atualmente você está trabalhando no que? Ben: acabamos de acabar o show da Frida Kahlo na V&A, e Rei Lear na Duke of York. Atualmente, estamos trabalhando no The Wolves na Stratford East e Pinter na The Pinter.


O IDIOTA DIGITAL

M... ESTRELANDO E IA UMA EMERGÊNC AMBIENTAL

NDO ORRE ? CONC Á A T T N L ANTO MBIE MONS RÊMIO A P NUM PRIMEIRA CLASSE? CLARO, TÁ NA AGENDA, MANO.

CO TODO ÉONDE EU COLO OVADOR, O MEU PODER IN O MUNDO É PORQUE SALVAR PORTANTE ALGO MUITO IM PRA MIM

A… E EU TAV ULPA. OND NTE “ME DESC TERALME LI O T U IRAS ENTÃO E AS BARRE DO TODAS O PRA ÇÃ LU SO QUEBRAN A NTRAR UM A, SABE. E EU PRA ENCO A DA TERR SO, ESSA COIS MOS RESOLVER IS VA ” HO ACHO QUE AC E REALMENT

#TTTDW

DEZ COISAS PRA FAZER ENQUANTO...

JOHN LENNON DISSE QUE A VIDA É O QUE ACONTECE ENQUANTO VOCÊ ESTÁ OCUPADO FAZENDO OUTRAS M#RDAS MENOS INTERESSANTES. COM ISSO EM MENTE, AO INVÉS DE PERDER NOSSO TEMPO LIMITADO SENTADOS NA TERRA FAZENDO P#RRA NENHUMA, LISTAMOS AQUI DEZ COISAS PARA FAZER ENQUANTO UMAS OUTRAS COISAS QUE NÃO SÃO DO SEU INTERESSE TÃO ACONTECENDO.

DEZ COISAS PRA FAZER ENQUANTO...

DEZ COISAS PRA FAZER ENQUANTO...

KATIE HOPKINS PEDE AJUDA EM ÁGUAS INFESTADAS DE TUBARÕES.

BORIS JOHN TEM DIFICULDADE DE RESPIRAR ENQUANTO ENCARA UMA SOBREMESA ETON MESS.

VOCÊ ESPERA SEU PEDIDO DA AMAZON PRIME PERCORRER A FILA DE 150 KM DE CAMINHÕES POR CAUSA DO BREXIT.

1. ADMIRE-SE PELO FATO DE QUE HÁ DEZ VEZES MAIS ESTRELAS NO CÉU DO QUE GRÃOS DE AREIA NOS DESERTOS E PRAIAS DA TERRA… ISSO SÃO 70 MIL MILHÕES MILHÕES MILHÕES DE ESTRELAS VISÍVEIS DA TERRA.

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2. R EAPLIQUE O PROTETOR SOLAR. 3. T ESTE NOVAS POSIÇÕES DE BRONZE NA SUA ESTEIRA DE PRAIA.

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4. PEÇA MAIS UMA PIÑA COLADA

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5. LIGUE PARA SUA MÃE.

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6. USE O ZOOM DA CÂMERA DO SEU CELULAR PARA ESPIONAR OS OUTROS.

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7. DÊ UMA OLHADA NA PREVISÃO DO TEMPO DO DIA.

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10. MUDE SEU NOME PARA “CHARMAINE BY DEED POLL”.

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ESPUMA DA NASA. COSMO SOAVE-SMITH PASSA UM ANO TESTANDO COLCHÕES PARA SALVAR A HUMANIDADE. O ano é 2018, e de alguma forma eu consegui me tornar um especialista em colchões de viscoelástico. Essa situação inesperada se apresentou diante de mim quando me mudei para um flat mobiliado no ano passado que tinha um colchão horrível – isso é, ele cedia, e se dobrava ao meio. Passei muitos meses dormindo nele, comecei a acordar todas as manhãs com as costas duras, e a minha postura no geral adotava um formato decrépito. Mais ou menos ao mesmo tempo em Londres o metrô estava apinhado por um amontoado de publicidades de colchões de viscoelástico, todos prometendo que sua nova incursão no mercado de colchões era tão excepcional que eles devolveríam seu dinheiro após 100 noites de sono caso você não ficasse satisfeito.

99 dias depois, eu troquei meu amado colchão Eve por um Emma. Esse tinha sido recomendado pela revista Which? e também foi o que mais me fez suar. Veja bem, colchões de viscoelástico são bem quentes. Eles tentam te dizer que existe uma camada de gel refrescante azul neles. Por eles sentirem que precisam te dizer que é azul me deixa meio triste, como se a cor azul me fizesse pensar na coisa como um cubo de gelo. Tipo, se fosse vermelho eu estaria tipo “Não, esse gel é pra aquecer”. Ca#ete de marqueteiros. Mas, apesar desse azulão épico, você ainda se encontra passando mais calor do que nos colchões regulares. Ou do que no chão, banco do parque, qualquer outro lugar em que você durma. Não, Emma era particularmente ardente, e um que me fez sentir feliz em deixar para trás. Talvez eles devam fazer a camada azul mais azul. Depois da Emma veio o Casper. Eu não queria gostar do Casper porque tinha um menino na minha escola chamado Casper e eu não gostava dele, sem motivo aparente. Um completo p#nheteiro. Enfim, acontece que o Casper foi um sonho se tornando realidade. Realmente me fez questionar minhas atitudes com as pessoas que não conheço particularmente bem. Quando foi a hora de dizer tchau pro Casper eu fiquei genuinamente preocupado.

Então, eu tenho um cartão de crédito, mas nenhuma vontade de ter meu próprio colchão. No mercado de aluguéis de hoje em dia, em que você é ejetado todos os anos quando acontece o reajuste de 10%, ter um colchão é idiotice. Carregar essa coisa de casa em casa é um erro tolo, especialmente quando você tem a força de um menino de 11 anos como eu tenho. Mas, com um cartão de crédito em mãos e um olhar fixo nas 100 noites de teste, eu liguei pra empresa com a propaganda mais colorida e fiz meu pedido. Meu colchão Eve chegou uns dias depois. Foi um grande passo para longe do pesadelo em espiral em que me encontrava no início. Ele era firme, mas também te engolia um pouco. Sabe aquelas fotos de parques de diversão de quermesse em que as pessoas entram num brinquedo gigante e são rodadas até que estejam indo tão rápido que seria possível retirar o piso do brinquedo e só a força do giro as grudaria nas paredes? Bem, colchões de espuma da nasa são muito parecidos com isso, mas deitado, com menos vômito e só uma pequena parte do pânico desenfreado. Você afunda e não tem muito o que possa fazer sobre isso. Você se acostuma com ele. Também, um passo à frente no jogo dos colchões de espuma modernos, é que ultimamente existe algo para fazê-los quicar. Isso se compara ao meu primeiro encontro com colchões da nasa, quando tentei transar com a minha namorada da faculdade na cama dos pais dela, que não tinha nada que quicasse. Foi um suplício horrendo e não recomendo. Se qualquer um lendo isso agora já tenha tentado correr pela areia da praia, então sabe do que estou falando. Eu quase sofri uma parada cardíaca aos 19, então fiquei feliz por descobrir que os novos desenvolvedores do colchão de espuma viscoelástica reconheceram esse erro e decidiram nos jogar um petisco. Graças a Deus.

Mas Simba estava me chamando. Eu adorei o Rei Leão, ainda que nunca tivesse considerado dormir em um protagonista da Disney (completa mentira, todos nós consideramos quando somos novos e também quando nos tornamos adultos bêbados). Simba apareceu numa sacola embalada a vácuo, e é até agora o destaque na minha odisseia dos colchões. Eu fiquei verdadeiramente surpreso. O Simba não é muito quente, me suga de um jeito bom; é firme mas é justo, mas sim, tem cheiro de espuma química. Me contaram sobre os pontos negativos, mas já faz duas semanas. Cheira um pouco como lavanda zumbi. Ou hemorragia interna, ainda não me decidi.

“DEPOIS DA EMMA VEIO O CASPER. EU NÃO QUERIA GOSTAR DO CASPER PORQUE TINHA UM MENINO NA MINHA ESCOLA CHAMADO CASPER E EU NÃO GOSTAVA DELE, SEM MOTIVO APARENTE. UM COMPLETO P#NHETEIRO. ENFIM, ACONTECE QUE O CASPER FOI UM SONHO SE TORNANDO REALIDADE.”

Tenho mais dois meses com o Simba antes de ter que optar com quem me envolverei em seguida. Só faltam a Otty e a Lessa, que é quando eu vou estar qualificado no meu Mestrado em Acolchoado. E quando chegar lá, eu espero ter comprado um dos bastardos, ou então me mudar. Pessoas me questionaram sobre como consigo fazer isso. De fato, eticamente eu preciso ter certeza de que não estou particularmente zoando com alguém. Mas fuçando um pouco, me parece que colchões de viscoelástico são realmente baratos de se fazer. Uma vez que são de espuma. Espuma não custa nada para fazer, então quando vendem um por 555 libras, é basicamente tudo lucro. E com um em 20 sendo devolvidos (dado real), eles ainda fazem absoluta fortuna – que é o porquê de tantas companhias terem se prontificado ao mesmo tempo pra fazerem essas ofertas ridículas. Eu também descobri que cada devolução de colchão é direcionada a um abrigo de pessoas sem teto ou a alguma outra caridade, então de muitas formas eu estou fazendo isso não só para mim, mas pelas incontáveis pessoas em situação de rua que hoje dormem um pouco melhor devido à minha compra descartada. Eu sou só muito generoso e tô feliz de estar fazendo a minha parte. Talvez vocês devam só sair dos seus assentos e fazer algo para alguma outra pessoa, agora e de novo, sim?

Cosmo Soave-Smith Publicitário Criativo Cosmo é copywriter, publicitário, criativo, e campeão de colheita de morangos. Ele tem um olhar atento para podres e para detalhes. Ele também é um surdo seletivo.

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DEPOIS DE UM DIA ESTRESSANTE SE PREOCUPANDO COM O DESMANTELAMENTO GEOPOLÍTICO, ECONÔMICO E AMBIENTAL, POR QUE NÃO IR PARA CASA E DESCANSAR COM UM LIVRO DE COLORIR COM DESENHOS DE FDPS, QUE COMPROVADAMENTE REDUZ TENSÃO, ESTRESSE E ANSIEDADE – ESSE É EXATAMENTE O TIPO DE EXERCÍCIO DE ATENÇÃO PLENA QUE VOCÊ ESTEVE PROCURANDO. TODOS OS NOSSOS DESENHOS FORAM VERIFICADOS CIENTIFICAMENTE, ENTÃO SENTE-SE NA SUA CADEIRA FAVORITA, PEGUE SUAS CANETAS COLORIDAS, E COMECE A SE SENTIR CALMO!

MAG

LIVRO DE COLORIR ANTIESTRESSE

FOR CREATIVE IND THINKERS AND DO

N THIS ISSUE WE EXPLORE WHY THE TALENTED CREATIVE PEOPLE IN THE DESIGNING CAR ADS WHILE THE WO BURNING. PLUS A LOAD OF OTHER MIGHT LIKE.

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