Amazônia Judaica - N.09/2016 - Chanuká 5777

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Edição de Chanuká 5777

ANO 8 No 9 DEZEMBRO DE 2016

Estranhas Representações

O JUDEU NA FICÇÃO AMAZÔNICA Haquetia

SABORES DE UMA CULTURA PECULIAR Crônica e História

DESCONSTRUINDO MITOS CHANUKÁ

LUZES DE UM CERTO OLHAR


Alegria, Fé, Esperança e Muita Luz a Todos Chag Sameach.

Saudamos a todo o Povo de Israel e em particular a Kehilá de Manaus com um especial

CHANUKÁ SAMEACH


EDITORIAL

Chanuká é a festividade do calendário judaico em que luz, bravura e milagre

Editores David Salgado Elias Salgado Arte e diagramação Eddy Zlotnitzki Projeto Gráfico Thiago Zeitune

se juntam para compor a carga narrativa, emocional e tradicional, que é a grande motivação desta celebração tão cara ao povo judeu, e que vem ganhando maior popularidade, principalmente, após o advento do moderno Estado de Israel. Este ano, em particular, devido aos fatos trágicos que ocorreram recentemente (os mais de duzentos focos de incêndio, em quase todo Israel, criminosos e naturais), rogamos que este espírito tão próprio desta bela festa e do povo judeu e israelense, ao longo de sua história, se sobreponha a esta grande tragédia.

Revisão Mariza Blanco

E assim neste espírito festivo, a ele fazendo coro, e com a fé renovada, Amazô-

Colaboradores Alicia Sisso Razuna Deuziane de Vasconcelos Barbosa Michel Gherman

Como sempre, fiéis a nossa já consagrada linha editorial, a presente edição traz

Portal e Arquivo Amazônia Judaica www.amazoniajudaica.org

haquetía.

Amazônia Judaica No Facebook:

2015/2016 e as surpresas que estão sendo preparadas para 2017, ano que

nia Judaica, brinda seus leitores com mais uma Edição de Chanuká. um pouco de: literatura (veja artigo sobre o judeu na obra de Inglês de Souza); história (artigo sobre os judeus na industrialização do Amazonas); identidade e tradição, em um maravilhoso artigo sobre culinária judaico-marroquina e Nesta edição, também, estamos lançando uma nova coluna: UNIVERSO AJ, que traz uma retrospectiva das atividades do Amazônia Judaica, no biênio completaremos 15 anos de fundação. E finalizando em alto nível, temos a estreia em nossa revista, de Michel Gher-

Amazônia Judaica

man, com uma preciosa crônica sobre o tema hazbará, na “carona” do escritor

email portal200anos@gmail.com contat@amazoniajudaica.org

israelense, Etgar Keret. Agora é com vocês. Boa leitura, caros leitores. E um Chag Chanuká Sameach para todos David e Elias Salgado

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A IMAGEM DA CAPA

CHANUKÁ: A FORÇA DE UM GÊNERO Chanuká, Chanuká chag iafê kol kach Or chaviv mi saviv... Chanuká, Chanuká festa tão bela Uma luz agradável em volta... Sim, é de luz, muita luz, que Chanuká é feita. É a luz que de sua atmosfera emana, que torna este festival de alegria, fé e esperança numa época do ano judaico cada dia mais popular. Alguns acreditam que esta crescente popularidade ao longo da história, se deva, em boa parte, a proximidade cronológica e de alguns elementos alegóricos de Chanuká, com as festas natalinas cristãs. Não discordamos desta visão, apenas gostaríamos de a ela acrescentar mais duas: Quiçá, dado que o mundo anda do jeito que anda, este lugar tão difícil de estar, viver e sobreviver, a luz de esperança para o povo judeu e para todos os povos, que a festa de Chanuká representa, a torne, a cada ano, mais celebrada. E também, nestes tempos de preconceitos múltiplos e de tanta intolerância, uma outra reflexão nos ocorre: Chanuká, é um termo e um conceito feminino, não só de gênero gramatical. No conceito central da festividade, dois elementos muito característicos do gênero feminino, se destacam, como já foi dito: fé e esperança. Chag Chanuká Sameach a todos. 4 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

Quadro: Chanukah, de Shoshannah Brombacher


AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

LITERATURA | 6

Sob o olhar do estranhamento

IDENTIDADE E CULTURA | 10

CRÔNICA | 28

Sobre mitos, coincidências e homônimos Porque te mehneas tanto seu moleque?

EDITORIAL

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A IMAGEM DA CAPA

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CAPA

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HISTÓRIA

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CRÔNICA 1

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UNIVERSO AJ

30

Chanuká, a força de um gênero

Chanuká, luz, esperança e arte: um olhar feminino

O caso dos judeus na industrialização do Amazonas

Etgar Keret, Hazbará e Literatura como anti-propaganda


LITERATURA

SOB O OLHAR DO ESTRANHAMENTO:

O JUDEU NA OBRA DE INGLÊS DE SOUZA Por Deuziane de Vasconcelos Barbosa* (Fonte: Arquivo Maariv: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG)

O folclore brasileiro é rico em manifestações orais e o imaginário popular mostra lendas e mitos com um teor de veracidade que chega a criar no leitor/ouvinte certo encanto ou até mesmo pavor, dependendo do tipo de conto, causo ou narrativa exposta

N

a Amazônia nacional e internacional, essas manifestações folclóricas orais são mais frequentes, pois o dia a dia do homem dessa região é marcado por uma eterna teogonia repleta de mistérios, rios, florestas, assombrações, visagens e metamorfoses, por meio de histórias esse mundo é criado e recriado pelos caboclos. Nesse universo, uma das lendas mais representativas do folclore é a lenda do boto, que conta a história de um peixe que se metamorfoseia em ser humano para seduzir as caboclas das margens dos rios. Essa lenda assume várias feições, dependendo da região, mas em todas elas a metamorfose acontece com um único objetivo, o de seduzir as mulheres para consumar uma relação devido à quebra de um interdito.

UMA LEITURA DO CONTO “O BAILE DO JUDEU” Os judeus vieram para a Amazônia com a esperança de que, ali, poderiam viver livres das perseguições que sofreram em vários lugares do mundo. No entanto, também lá as sofreram. A acusação feita de assassinato de Jesus Cristo, a lenda de que todo judeu bem-sucedido em seus negócios é avarento, explorador e cruel. 6 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

Em “O baile do judeu, o leitor 2005, p. 84). A avareza e astúcia no comércio pode perceber um sentimento são outros estereótipos antissemita na voz do narrador, inicialmente ao apresentar os atribuídos ao judeu e que preparativos para o baile, usando revelam uma visão negativa da expressões que condenam o anfitrião. sociedade amazônica do século Era inconcebível que as pessoas 19 para com estas pessoas, que atendessem ao convite do “homem que havia pregado as bentas mãos e os pés de Nosso Senhor Jesus Cristo em uma cruz” (SOUSA, 2005, p. 83), do “malvado judeu”, do “inimigo da igreja”. O judeu aparece como o sujeito que zomba da Igreja Católica, de certa forma ele desafia a mesma, oferecendo um baile em um “famoso dia” que provavelmente seria um dia santo para a Igreja Católica, e mostrando que mesmo sendo marginalizado, porém abastado, consegue fazer com que boa parte dos habitantes da vila atenda ao seu convite: Muito se dançou naquela noite, e, falar a verdade, muito se bebeu também, porque em todos os intervalos da dança lá corriam pela sala os copos da tal cerveja Bass que fizera muita gente boa esquecer os seus deveres. O contentamento era geral, e alguns tolos chegavam mesmo a dizer que na vila nunca se vira um baile igual! (SOUSA,

infelizmente se perpetua até os nossos dias: [...] a gente de pouco mais ou menos, apinhava-se em frente à casa do judeu, brilhante de luzes, graças aos lampiões de querosene, tirados da sua loja, que é bem sortida. De torcidas e óleo é que ele devia ter gasto suas patacas nessa noite, pois quanto aos lampiões, bem lavadinhos e esfregados com cinza, hão de ter voltado para as prateleiras da bodega. (SOUSA, 2005, p. 84). Até hoje ouvimos falar dos judeus donos de usinas e serrarias da região, que sempre davam um jeito de levar vantagem sob seus funcionários. No conto de Inglês de Sousa, o judeu tira de sua sortida loja, objetos para usar no baile e que no outro dia voltará para a prateleira da loja para ser vendido como um objeto novo. Um caso parecido é relatado no documentário Eretz Amazônia pelo senhor Fortunato Chocron, também judeu. O relato conta sobre um antepassado seu que


sempre ia a festas com roupas e sapatos novos e este sempre usava sua lábia de bom comerciante, para vender os objetos usados como se fossem novos.

Além de os judeus serem bemsucedidos financeiramente e isso despertar inveja e consequentemente especulações, os costumes dos judeus, suas celebrações religiosas, festas e hábitos alimentares, sempre geravam muita curiosidade. Ruth Athias em seu trabalho de conclusão de curso Judeus em Alenquer (2004), conta que sua avó materna costumava fazer o comentário de que seu pai não se alimentava de carne de porco por “não comer a carne do mano” (p. 33), se referindo ao apelido que os judeus receberam há muitos anos. Inúmeras são essas especulações e comentários maldosos sobre os judeus, e no conto temos o exemplo desse imaginário religioso acerca do indivíduo semita: Lá estavam em plena judiaria, [...]; toda a gente grada, enfim, pretextando uma curiosidade desesperada de saber se de fato o judeu adorava uma cabeça de cavalo [...] (SOUSA, 2005, p. 83). Outro aspecto que alimenta a imaginação dos goyim sobre os judeus é o ritual próprio de enterrar seus mortos, e o fato de os cemitérios judeus serem construídos separados dos cemitérios cristãos, um dos comentários feitos com o intuito de satisfazer uma curiosidade, é de que eles são enterrados de pé como forma de castigo por terem assassinado Jesus Cristo. Samuel Benchimol aborda sobre esse assunto: Quando os judeus foram excluídos e segregados nos guetos e judearias, eles foram obrigados a ter os próprios cemitérios – dentro do próprio gueto se possível, pois o enterro de um correligionário judeu em um cemitério cristão constituía uma profanação e o tornava impuro para sempre. (BENCHIMOL, 2008, p. 225).

Em “O baile do judeu”, as pessoas

O IMAGINÁRIO AMAZÔNICO: A LENDA DO BOTO É do imaginário popular do homem amazônico a imagem misteriosa de um belo homem, loiro, de sedutores olhos azuis que chama atenção de todos do lugar, tal ser, nunca havia sido visto na comunidade, na festa ou em puxiruns, assim como surge, também desaparece de forma misteriosa, é o boto transformado em homem, pronto para enfeitiçar as moças ribeirinhas. O boto, protagonista de muitas histórias lendárias da Amazônia, é um mamífero da família dos cetáceos, proveniente de água doce. Na Bacia Amazônica, são encontradas duas espécies, o boto cor-de-rosa (Inia geoffrensis) que chega a alcançar três metros de comprimento, e o boto tucuxi (Sotalia fluviatilis). Em alguns lugares acredita-se que apenas o boto cor-de-rosa se transforma em homem para encantar as mulheres e o boto tucuxi apenas rasga as redes dos pescadores para se alimentar dos peixes que lá estão presos, porém as narrativas orais adquirem identidades próprias das regiões onde são contadas e variam muito. Segundo a lenda mais tradicional, durante gerações, o boto metamorfoseado aparece nas festas das comunidades ribeirinhas, escolhe a moça mais bonita do lugar, dança com ela durante toda a festa e depois a leva para a beira do rio, meses mais tarde a mesma moça aparece grávida. Existem muitas variações dessa história, em algumas, o boto não espera as noites de festa para seduzir as caboclas, nem se transforma em humano para exercer seu poder de encantá-las, ele está sempre à beira dos rios esperando que as moças no período menstrual desçam os barrancos para tomar banho ou lavar roupa no rio. Às vezes é o contrário, é o boto que sobe o barranco e vai ao encontro de sua vítima, quando está sozinha ou no silêncio da noite, transformado em homem, até mesmo na figura do marido da seduzida e após o feitiço e a relação sexual, a vítima do boto fica doente, de forma inexplicável, até levarem a encantada para um curandeiro quando então é descoberta e curada a enfermidade.

cometeram uma grave falta contra os “mandamentos de sua Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana” indo ao evento oferecido por um judeu e era certo que viesse o castigo, como aconteceu com os músicos do baile:

de cadeia por uma descompostura que passou ao capitão Coutinho a propósito de uma questão de terras. O Penaforte que se acautele! (SOUSA, 2005, p. 84). A culpa dos músicos ainda é agravada por terem usado para animar a festa do “inimigo da igreja”, os instrumentos musicais que eram utilizados nas missas de domingo.

[...] tendo o Chico Carapanã morrido afogado um ano depois do baile e o Pedro Rabequinha sofrido quatro meses

No presente texto, é feita uma associação da imagem do judeu com a lenda do boto, porém o boto que 7


LITERATURA aparece no conto é diferente daquele rapaz encantador por sua beleza, presente nas narrativas orais dos ribeirinhos e no imaginário do homem nortista. Enquanto nas narrativas que estamos acostumados a ouvir, o boto homem tem características do europeu, de boa aparência, branco, alto, sempre bem alinhado em suas vestes brancas, de andar elegante e olhar sedutor, o homem que se revela “um grande boto” no baile é feio, baixo, desajeitado e mal vestido, mas com o mesmo poder de conseguir o objeto de seu desejo, assim como nas narrativas dos ribeirinhos. Será que o boto da narrativa é feio porque é um judeu? O boto tradicional, que a maioria conhece, é semelhante a Eros, deus do amor, que era celebrado por sua extrema beleza, apresenta-se com uma força de grande sedução que atrai para si a contemplação de todos. (SANTOS, 2006, p. 95). Mesmo apresentando características contrárias, o boto do conto de Inglês de Sousa também consegue a atenção de todos do baile. Despertando admiração por seu atrevimento de tirar para dançar a moça mais bonita da noite, além da curiosidade todos, quem era e de onde vinha sujeito tão estranho. – Ora, já viram que tipo? Já viram que gaiatice! É mesmo muito engraçado, pois não é? Mas quem será o diacho do homem? E esta de não tirar o chapéu? E parece ter medo de mostrar a cara... Isso é alguma troça do Manduca Alfaiate ou do Lulu Valente! Ora, não é, pois não se está vendo que é o imediato do vapor que chegou hoje! É um moço muito engraçado, apesar de português! Eu, outro dia, o vi fazer uma em Óbidos que foi de fazer rir as pedras! Aguente, dona Mariquinhas, o seu par é um decidido! Toque para diante, seu Rabequinha, não deixe parar a música no melhor da história. (SOUSA, 2005, p. 86). A aparição do boto é considerada por muitos como castigo pelo descumprimento de uma regra imposta por uma comunidade, o que não deixa 8 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

de ser no conto analisado, porém, mais que isso, seria uma tentativa de mostrar como a sociedade do século 19 via o imigrante judeu, assim como o faz de forma mais direta no início do conto. Luís Heleno Montoril del Castillo em seu estudo Entre o rio e a floresta, a alteridade acéfala, esclarece: Na sua epifania de rapaz branco, louro, de olhos azuis; com bengala na mão e chapéu na cabeça, está a leitura do caboclo sobre o Outro, do elemento civilizado europeu oriundo da cidade. A roupa branca de dândi citadino revela a expressão da sua modernidade. (HELENO, 2001, p. 70).

Assim, acho que o Boto é desse jeito – é muito rico. E também muito perverso.[...] (SLATER, 2001, p. 286). A presença do homem, que mais tarde se revelaria o boto, surpreende a todos, mas logo tudo se torna engraçado e todos querem ver mais. Não só D.Mariquinhas, mas todos ficam em uma espécie de transe hipnótico, e não

Nesse caso, boto e judeu seriam um só, o sujeito estranho que aparece é a representação do imigrante judeu do ponto de vista da comunidade local. Até a chegada do homem de aspecto feio e engraçado, não se pode perceber a presença do judeu na festa, a não ser na voz do narrador ao descrevê-lo, onde estaria então o judeu que não apareceu no baile mesmo sendo o dono da casa? Esse homem estranho faz questão de manter o mistério sobre sua identidade escondendo seu rosto com o chapéu e o casaco, será que estes gestos não são artifícios para que os curiosos não descubram que se trata do anfitrião do baile? Em uma versão da lenda do boto presente no livro A festa do boto: transformação e desencanto na imaginação amazônica de Candace Slater (2001), o boto é associado aos donos de seringais ricos e malvados, duas características que são atribuídas ao judeu no conto. Não podemos esquecer que os judeus que chegaram à Amazônia no auge do ciclo da borracha exerciam a atividade de seringalistas, andavam até os mais distantes seringais para comprar borracha e outros produtos frutos do extrativismo: Olhe, acho que o Boto é como esses patrões antigos. Que nos tempos passados o seringal era todo uma beleza. [...]

percebem que algo fora do comum estava acontecendo, nem o marido de D. Mariquinhas se importava com a situação, e os músicos “tocavam conforme a dança”, eram movidos pela vontade do boto. Em certo momento da dança, D. Mariquinhas, já não acha aquela situação engraçada como no início, ela já está encantada e o boto começa a completar sua missão. Até que Bento de Arruda tenta pedir que parem e o homem desconhecido deixa cair seu chapéu e todos enfim percebem o que acontecia.


A dança é um elemento sempre presente no processo de encantamento do boto, e na versão de Inglês de Sousa da lenda não é diferente, o boto usa a dança para envolver não só D. Mariquinhas, sua vítima, mas também as demais pessoas presentes no baile. Após muito tocar, os músicos resolvem tocar uma Varsoviana, uma dança que não é típica da região, segundo Maués: A varsoviana é índice de fatos funestos. Segundo o Dicionário Grove de Música, trata-se de uma dança ”originária da França, durante os anos de 1850: era uma versão elegante da mazurca, incorporando elementos da valsa” (CORRÊA, 2004, p. 113). Diante dessa explicação, percebe-se mais um índice que aquele ser não é da região, pois a habilidade com a dança europeia não é uma constante entre os caboclos da Amazônia e só poderia ser bailada na época com maestria por alguém que conhecia os grandes salões europeus, mas estamos diante de um possível estrangeiro andarilho pelo mundo, isto é, o judeu anfitrião do baile que ora se apresenta aos convidados metamorfoseado em boto. Ao final do conto, é importante atentar para a presença de um elemento religioso do catolicismo, o sinal da cruz feito por Bento de Arruda que espanta o monstro do lugar, porém levando consigo sua vítima. Mais uma vez é colocada em evidência a oposição entre Igreja Católica e o judeu representado pelo boto metamorfoseado. O próprio Inglês de Sousa em seu romance O coronel sangrado nos revela de forma, que sim, boto e judeu são um só: “Também ninguém

queria acreditar que o judeu de Vila-Bela era feiticeiro, e um belo dia tiraram-lhe o chapéu e viram que tinha a cabeça furada”. (SOUSA, 2003, p. 126). Essa junção entre judeu e boto, no conto de Inglês de Sousa, e o fato de

Herculano Marcos Inglês de Sousa foi um dos introdutores do Realismo no Brasil. Também teve participação na vida política brasileira e foi membro da Academia Brasileira de Letras. Nascido no Pará, estudou direito em Recife e São Paulo. Publicou em 1878, com o pseudônimo Luís Dolzani, seu primeiro romance naturalista, O Cacaulista. A fama, no entanto, só veio em 1888, com a publicação de seu mais famoso livro, O Missionário. Além de romances, publicou um livro de contos, Cenas da vida amazônica. Exerceu o cargo de presidente das províncias de Sergipe e Espírito Santo. Morreu no Rio de Janeiro em 1918, aos 65 anos. Principais obras: História de um Pescador; Cacaulista; Coronel Sangrado; Missionário; Contos Amazônicos. esta figura lendária das águas que aparece na festa do judeu ser destoante do boto estereotipado comumente é mais uma forma de acrescentar aspectos negativos ao indivíduo semita, tão marginalizado na sociedade, do século 19, marginalização essa que atravessa os tempos até hoje, quando ouvimos histórias dos mais velhos, quando pedimos explicação de algo sobre os semitas, ou quando indagamos quem foram os judeus que aqui viveram. Apesar de a Amazônia ser um lugar, onde os judeus esperavam poder viver melhor, podemos dizer que não foi exatamente isso o que aconteceu. É bem verdade que muitos conseguiram se estabelecer, prosperar na vida, depois de muito sofrimento e trabalho, mas sempre escutaram da sociedade por meio dos inúmeros preconceitos e estereótipos que não são bem vindos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Quanto ao conto analisado, podese verificar que o autor procurou demonstrar em sua narrativa a visão que a sociedade do século 19 tinha sobre o imigrante judeu. As obras de Inglês de Sousa retratam a vida, a sociedade da Amazônia e em “O baile do

judeu” não é diferente, ele usa um elemento tipicamente regional, que é a lenda do boto, para fazer uma relação com outra questão muito importante na história da região, que é a estada do povo judeu na Amazônia. Inglês de Sousa usa a lenda do boto para atribuir e reforçar a ideia de negatividade ao estrangeiro semita, deixando clara a marca do antissemitismo no conto. Não podemos deixar de registrar que, por meio deste estudo, observamos que esse sentimento de rejeição permanece no inconsciente, e até mesmo nos discursos dos habitantes da região. O que não impediu que muitas famílias judaicas se estabelecessem no lugar onde seus antepassados sonharam com uma vida melhor, a Amazônia. *Graduação em Letras - Português 2008 - 2013 Universidade Federal do Pará Título: A Presença do Judeu na Obra Contos Amazônicos, de Inglês de Sousa Orientador: Zair Henrique Santos 9


CAPA

CHANUKÁ, LUZ, ES

UM OLHAR

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SPERANÇA E ARTE:

FEMININO

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CAPA

O Templo de Salomão, em Jerusalém, até podia ser um lugar do masculino, por excelência. Algo muito compreensivo, visto de forma contextualizada. Aquela era a realidade da época, construída pelos seres de então

A

ssim também, quase toda a narrativa em torno dos fatos que dão origem às comemorações de Chanuká, com exceção do mítico personagem de Judith, é protagonizada por homens. Mas tanto a história e sua dinâmica, bem como nosso olhar sobre ela, são produto de cada época vivida pela humanidade. Muitos acreditam, e nós dentre eles, que uma das grandes qualidades e singularidades do judaísmo, razão da sua longevidade ímpar, é a sua enorme capacidade de adaptação sem perda de essência. Dito isso, quiçá nossa intenção de justificar a abordagem que pretendemos dar em nossa matéria de capa sobre o tema Chanuká, faça maior sentido e seja do bom agrado dos leitores. Nossa ideia, é tentar mostrar Chanuká, a partir do “olhar feminino”, já que a participação das mulheres nas comemorações da festividade é central desde sempre, dado que a religião judaica vê a

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família como elemento basal, tendo a mulher um papel fundamental na educação e no lar; e Chanuká é um chag eminentemente doméstico. Para cumprir o que nos propomos aqui, não é nossa intenção apresentar-lhes grandes textos e complexos tratados acerca da abordagem sugerida. Ao contrário, mergulhando profundamente no clima do chag, apresentaremos nossa proposta de maneira lúdica, através de alguns trabalhos de artistas judias.

PINTURA: No gênero da pintura, selecionamos algumas obras e seus autores, com destaque à artista de origem holandesa, Shoshannah Brombacher: A primeira vez que nos deparamos com uma pintura da artista, pensamos estar diante de uma obra de Marc Chagall, tamanha a semelhança na maneira de se expressar. Não só a expressão

artística se assemelha, também a escolha de boa parte dos temas – a Torah e os chaguim. Se fôssemos de alguma tendência espiritualista, diríamos que o espírito de Chagall, baixou sobre a artista. Mas uma coisa é patente, Shoshannah, bem parece a versão feminina do pintor. Shoshannah Brombacher estudou História do Oriente Próximo na Antiguidade e possui Ph.D. por Leyden (Holanda), em Codicologia. Especializou-se em poesia hebraica medieval da comunidade Sefaradí Portuguesa de Amsterdam. Estudou em Jerusalém e lecionou em Berlim e Nova York, onde dedica todo o seu tempo à sua família e à sua arte chassídica. Ela pintou desde cedo, inspirada em histórias chassídicas e Chagall. Sua carreira acadêmica, seu interesse apaixonado pela vida chassídica e suas experiências de viagem (Europa, Egito e Jerusalém) influenciam significativamente os temas judaicos em sua obra de arte.


ATRÁS DA JANELA

Declaração da artista:

“Em Chanucá celebramos o milagre do óleo. Nós celebramos o poder de D-us que nos salvou do vasto exército helenista, mas ao mesmo tempo é um festival muito íntimo. Você vê famílias ou grupos atrás da janela acendendo suas chanukiot. Eles estão em casa, mas trazem o milagre para fora. É assim que eu sinto que vivemos como judeus. De nossa própria casa segura (nossa vida segundo a Torah) queremos mostrar ao mundo os nossos valores, as nossas prioridades. Todo mundo pode vêlos e aprender, ou ser iluminado!”

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CAPA

HANEROT HALALU

CHANNUKAH

Este quadro de Chanuká é um dos muitos da artista inspirado pelo amado festival

CHANNUKAH

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DECLARAÇÃO DO ARTISTA: Shalom! Eu fiz este desenho durante a semana de Chanukah, a semana de luz em que celebramos a vitória de valores da Torá sobre as forças do mal. Mesmo que as coisas pareçam difíceis acendemos nossas velas, e a luz cresce com uma vela na primeira noite, duas na segunda noite, até que acendamos oito velas na última noite. O rabino Gavriel e a Rebbetzin Rivka Holtzberg, que foram brutalmente assassinados nos VAMOS FAZER UMA MITZVÁ PARA OS HOLTZBERG ataques terroristas de Mumbai, não espalharam luz apenas em Chanukah. Eles espalharam luz durante todo o ano! Vamos honrar seu legado, fazendo mais mitzvot do que fazemos atualmente. Este desenho mostra algumas das muitas mitzvot que os Holtzberg praticavam, e eu fiz isso em homenagem a todas as vítimas do Beit Chabad de Mumbai.

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CAPA

A ARTISTA SHOSHANNAH BROMBACHER

HELENA FLEROVA: Nasceu em Moscou, em 1943. Se formou com honra no prestigioso Instituto de Belas Artes Surikov, em 1969. Logrou uma bolsa de pósgraduação na exclusivíssima Escola de Belas Artes. Ao longo de sua carreira, tem sido reconhecida como um talento excepcional, tendo realizado mais de 80 exposições, na Europa e América do Norte.

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CHANUKAH POR HELENA FLEROVA


CHANNUKAH, POR SUZANNE BENTON

CHANNUKAH, POR CLARA SERVER

ESCULTURA SUZANNE BENTON criou mais de 700 esculturas em aço e bronze.. Com um BA da Queens College (CUNY) em Belas Artes, Benton passou a estudar escultura soldada na Escola Silvermine of Art, New Canaan, in1965. Logo no início, Benton descreveu seu fascínio com o processo de soldagem: "Eu encontrei meu meio, a tocha de soldagem, o grande transformador. Ele me trouxe um mundo cósmico, eu tinha que viver nessa esfera de consciência todos os dias, observando, movimentando o metal de acordo com a minha vontade, minha intuição, meu cérebro, eu estava encantada com as ações repetitivas e as forma que apareceram diante de mim ". KLARA SERVER: Nasceu em 1935, na antiga Tchecoslováquia. Estudou Arte e Design, especializando-se em escultura e cerâmica 17


HISTÓRIA

“O DEBATE RECORRENTE SOBRE O PAPEL DA HISTÓRIA E DA MEMÓRIA NO FAZER HISTORIOGRÁFICO:

O CASO DOS JUDEUS NA INDUSTRIALIZAÇÃO DO AMAZONAS”

*

Por Elias Salgado**

RESUMO: A presente comunicação, é um resumo do projeto de pesquisa “Os judeus na gênese da industrialização do Amazonas”. O referido projeto, constitui-se de pesquisa documental, bibliográfica, iconográfica e de entrevistas e depoimentos , realizada pela equipe de pesquisadores do Arquivo Histórico Digital Amazônia Judaica (www.amazoniajudaica.org), formada por Elias Salgado , David Salgado e Dina de Paula Santos Nogueira, no período de outubro de 2011 a março de 2013. As entrevistas e depoimentos são de cinco empresários judeus amazonenses de sucesso, representativos da liderança comunitária judaica local e de relevância na História econômica da região. São eles: Saul Benchimol, Moysés Benarrós Israel, Frank Benzecry, Moisés Sabbá e Jaime Benchimol. Como resultante da referida pesquisa, foi editado pelo selo Amazônia Judaica, o livro de autoria de Elias e David Salgado, “História e memória, judeus e industrialização no Amazonas” lançado recentemente.

O TEMA:

O tema central, Judeus e industrialização no Amazonas, é na verdade um recorte nos estudos sobre os judeus da Amazônia. No presente trabalho, ele é tema central, mas outros recortes são propostos: a imigração para a Amazônia e suas causas; a formação da comunidade judaica de Manaus e a própria Manaus do período que vai dos anos 30 aos anos 70. O antissemitismo e o Integralismo na Manaus dos anos 30 -40 e os judeus e a Zona Franca de Manaus, entre outros, tentando 18 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

apresentá-los através de um diálogo entre História e memória.

OBJETIVO: O presente trabalho é na verdade uma grande justificativa para tentar trazer alguns avanços cronológicos, temáticos, de conteúdo e até de abordagem nas pesquisas e estudos sobre a presença judaica no Amazonas.

O RECORTE CRONOLÓGICO E TEMÁTICO: Nosso trabalho abrange o período que vai do início da imigração judaica (eminentemente oriunda do

Marrocos) para a Região Norte (em torno de 1810), até nossos dias, ou seja, mais de 200 anos da presença judaica na região, centrando-se na formação da kehilá de Manaus a partir de 1929, consequência da crise da borracha no interior, e na participação do elemento judaico na construção do setor industrial existente na região, na atualidade.

BREVE INVENTÁRIO DOS ESTUDOS/AUTORES BRASILEIROS SOBRE JUDEUS NA AMAZÔNIA, ATÉ O MOMENTO: Os primeiros trabalhos sobre a presença judaica na Amazônia, surgem no Brasil, ao final dos anos 70, quando o casal Egon e Frida Wolff, apresenta seus primeiros estudos, resultantes de pesquisas feitas em cemitérios israelitas da região. No início dos 80 Henrique Weltman escreve, “Os hebraicos da Amazônia”. Em 1987, Abraham Ramiro Bentes, publica sua obra “Das ruínas de Jerusalém à verdejante Amazônia”. Nos anos 90 há um sensível crescimento dos estudos e publicações sobre o tema: Maria Liberman defende o primeiro doutorado sobre o tema, pela USP (1990). Em 1997, Eva Blay publica ensaio sociológico sobre os judeus da região, no livro “Identidades judaicas no Brasil". Em 1998 o Prof. Samuel Benchimol, publica por primeira


Biblioteca Nacional na Universidade de Jerusalém, os microfilmes que se acreditava perdidos, do jornal a Folha Israelita, editado por David Israel, fundado em 1949 e que durou até 1958.

SELEÇÃO DE RECORTES TEMÁTICOS: História e memória na análise do Tema da pesquisa: Apresentação do trabalho no VII Simpósio Nacional de Desde o momento da elaboração do Estudos Judaicos-USP, 2015 plano de pesquisa, estabelecemos vez, sua obra de referência: “Eretz Em 2005, três importantes livros como critério de abordagem, Amazônia, judeus na Amazônia” e são editados: “ David José Pérez” e análise e apresentação do tema, Amélia Bemerguy, defende pela PUC- “Judeus no Brasil” do Prof. Nachman a confrontação entre História e Falbel e “ Os judeus no Brasil, memória, SP, o seu mestrado sobre o tema. No ano de 1998, Regina Igel organizado por Keila Grinberg. Se aceitarmos que História é uma publica o artigo – “Haquitía Em 2010, ano do bicentenário da construção. Que ela é como nós as Spoken in the Brazilian presença judaica na região, novos contamos a nossa identidade e Amazon” e Adriana dos Santos trabalhos importantes são realizados: que a memória seria a maneira Romero, apresenta dissertação de Wagner Lins, defende doutorado de manter vivo um evento e mestrado pelo FFLCH da USP, pela USP, Dina de Paula Santos, que é fixada de acordo com o sob o título,”A Sobrevivência da escreve monografia de graduação pela emocional, estimulando, segundo Música Tradicional Sefardita UFAM sobre os judeus na economia alguns, amores e ódio, é possível dentro das Comunidades de da região e Reginaldo Jonas Heller então entendê-la como um dos São Paulo e Belém do Pará” – vê publicado pelos selos E-Papers/ combustíveis da História. dissertação de Mestrado apresentada Amazônia Judaica, a sua monografia Neste sentido, é que entendemos a à Faculdade de Filosofia Letras e de graduação em História pela UFF, importância dos depoimentos por Ciências Humanas da Universidade “Judeus do Eldorado” nós colhidos, e o seu conteúdo, de São Paulo, 1999. E em 2015, lançamos nosso livro também, como documento Nos anos 2000 se dá um crescimento “História e memória, judeus e histórico e não apenas como ainda maior da pesquisa e produção industrialização no Amazonas”. monumento da memória, literária acadêmica sobre o tema: Em E para que vejam que não paramos principalmente por serem os 2000 apresentamos no V BRASA, por aí, já está no prelo para entrevistados, não só a memória no Recife, nosso primeiro trabalho: lançamento em 2017, pelo selo viva, como também atores desta “Presença judaica na Amazônia: Amazônia Judaica, a dissertação história em construção. preservação e aculturação – o caso de mestrado de Dina de Paula Os depoimentos da memória dos Elmaleh- Salgado”, publicado Santos Nogueira, pela UFAM pessoal e coletiva dos entrevistados, pela Revista Amazônia Judaica em ,“Identidade e tradição: um estudo encontram eco na historiografia ao set/2002. sobre as mulheres da comunidade sobre o tema (Benchimol, Santos Nesta mesma época, Jeffrey Lesser, inova os estudos do tema, realizando, diferente dos demais pesquisadores, pesquisas em arquivos no Marrocos e descobre que em realidade, não 1000 e sim 2000 famílias migraram para a Amazônia, porém cerca de 1000 retornaram a seu país de origem, após adquirir cidadania brasileira.

judaica de Manaus”. E a mesma autora já está preparando defesa de projeto de doutorado pela mesma universidade, também sobre o tema judeus no Amazonas, sob nossa orientação “informal”, baseada em estudos e descobertas feitas por nossa equipe, através do pesquisador David Salgado, que encontrou na

Nogueira, Salgado, etc.). Observamos que, em vários momentos a fala dos depoentes se confunde com a obra de referência de S. Benchimol, o que a nosso ver é motivo de análise, visando tentar entender o que “nasce primeiro” e o que dá origem a que: a memória à história ou o inverso? Ou 19


HISTÓRIA mesmo, que não dialoguem e sejam conflituosas entre si. Se for a História, cabe assinalar, como o fizemos no livro, que há que ter um cuidado com o fato de que a historiografia sobre o tema judeus na economia do Amazonas, até o momento da coleta de depoimentos por nossa equipe, resumia-se às pesquisas de Benchimol. *Nota: O professor e pesquisador Samuel Benchimol é o único estudioso da questão do elemento judaico na gênese da industrialização do Amazonas. Deve-se a ele a produção de uma obra de historiografia econômica sobre a temática. Isso cria um problema, no sentido de não existir nenhuma outra referência, já que contraposições são sempre enriquecedoras. Um exemplo do reflexo dessa fonte única é constatar que a fala Benzecry, a fala Benchimol e a fala Sabbá estão permeadas da voz do historiador Samuel Benchimol. Existe uma diferença entre História vivida e História lida, e o que parece é que Samuel Benchimol foi lá na fonte de pesquisa, mas também viveu esse período. Isso confere à sua obra um

caráter especial, na interseção entre História como ciência e História como vivência. “(Salgado, Elias e David: “História e memória, judeus e industrialização no Amazonas, Editora AJ, 2015)

Lançando as novas edições da Editora AJ na USP, outubro 2015

3. O ANTISSEMITISMO E O INTEGRALISMO NA REGIÃO

2. O CONVÍVIO COM O “OUTRO”: Via de regra, a historiografia, bem como os relatos de memória feitos à nossa pesquisa, apontam para uma espécie de unanimidade quanto ao bom convívio, no que tange ao relacionamento com as demais etnias na região. Historicamente, é sabido o nível de aculturação e assimilação da comunidade local, o alto número de casamentos interétnicos ao longo dos mais de 200 anos da presença judaica na região. Já são bastante conhecidos os chamados “hebraicos” estudados por Benchimol e por Zalis e Weltman, em reportagem/exposição para o Beth Hatefutzot(1983) É interessante apontar a grande quantidade de pessoas que acessam nosso portal, o Amazônia Judaica (www.amazoniajudaica.org), em busca de informações sobre suas raízes judaicas amazônicas perdidas.

A historiografia pioneira do tema( Liberman, Benchimol, Bentes, Wolf, Egon e Frida, Avni, Chaim, Milgram, Avraham, Mirelman, Victor), apontava apenas para alguns poucos episódios isolados de antissemitismo, tais como acontecidos no Pará, no período da Cabanagem (1835-40) e em 1901, num conjunto de episódios que ficou conhecido como “ Mata judeus”, ocorridos, principalmente, nas cidades de Cametá e Baião, no Pará. Uma abordagem mais completa sobre antissemitismo, surge com Bemergui, Amélia e nos estudos

realizados por nossa equipe. Nestes, os depoimentos colhidos, falam de experiências de memória, vividas e testemunhadas, em particular, na cidade de Manaus, principalmente no período da 2ª. guerra mundial. Citamos os testemunhos de Saul Benchimol e de Moisés Sabbá que apontam atitudes hostis contra suas famílias, segundo eles, por razões econômicas, dado que o período era de crise e que suas famílias vinham conseguindo, aos poucos, se destacar entre os grupos que se mantinham, apesar da grave situação. Para corroborar seus testemunhos, eles nos sugerem a leitura de jornais da época, onde aparecem tais polêmicas em alguns articulistas, principalmente no “O Jornal” de Manaus. Há o caso de Rubem Salgado, por nós estudado, que foi diretor da Fazenda do Estado do Amazonas, desde o período do Estado Novo de Vargas (começando no governo estadual de Álvaro Maia nos anos 30). Ele é citado por Benchimol como a primeira figura pública judaica de importância em Manaus e no Amazonas e que durante o período da 2ª. guerra assumiu a diretoria da Superintendência de Abastecimento do Vale do Amazonas, a S.A.V.A, responsável pelo controle do abastecimento na região, naquele período, tempo de racionamento. Salgado nos narra em depoimento, sobre as perseguições políticas e pressões que sofria na imprensa local (ver “O Jornal” de Manaus), segundo ele capitaneadas pelo político Artur Virgílio, avô do atual prefeito de Manaus, Artur Virgílio Neto. À época, tais pressões levaram Salgado a se demitir de seu cargo, voltando à Fazenda do Amazonas, novamente nos anos 50. Samuel Benchimol, em depoimento à nossa equipe, afirma que existiu


Superintendência da Zona Franca de Manaus, autarquia criada em 28 de fevereiro de 1967, para administrar a Zona Franca de Manaus Alguns judeus, tais como, Samuel e Saul Benchimol e os irmãos Isaac, Jacob e Abraham Sabbá (que foi o primeiro presidente da FIEAM –Federação das Industrias do Amazonas), participaram ativamente das negociações e apoiaram a criação da SUFRAMA. Apesar disso, os empresários judeus acima citados, não possuem industrias no pólo industrial da Zona Franca, por duas razões: quando do advento da sua fundação, já possuíam negócios de sucesso. E também porque o parque industrial ali montando ( na verdade um parque "História e memória, judeus e de linhas de montagem e não de industrialização no Amazonas", produção) é integrado por indústrias, livro resultante do projeto de na sua maioria, globais e que já pesquisa de mesmo nome. Os estavam estabelecidas no sudeste interessados, podem adquirir pelo e que criaram em Manaus, novas site www.amazoniajudaica.org plantas para usufruir das isenções e subsídios concedidos à região. no período da guerra um grupo de Portanto, os empresários judeus da simpatizantes do eixo, de cunho Zona Franca, são em sua maioria, integralista, mas é fato que em sua judeus asquenazitas, estabelecidos no obra de referência sobre os judeus, ele sudeste e que não vivem na região. não aborda o tema. Questionado do por quê, ele demonstra desconforto e ser inconveniente abordar o tema 5. CONCLUSÕES E publicamente. Ele chega a apontar CONSIDERAÇÕES FINAIS: alguns nomes, inclusive o do ex- Os judeus na industrialização local: governador do Amazonas, José preponderância ou relevância?: Lindoso, seu contemporâneo de Esta pergunta é feita a todos os carreira intelectual e acadêmica. entrevistados e a ela tentamos

de imigrantes tiveram participação relevante na economia da região. O que Benchimol assinala e isso é reiterado pela historiadora amazonense Etelvina Garcia, é que um dos fatores que ajudou no sucesso econômico de algumas famílias judias, foi o fato de que, apesar da crise da borracha, diferente de outros grupos como os ingleses, alemães e franceses, os judeus marroquinos, bem como os portugueses e árabes, permaneceram na região e souberam encontrar soluções para atravessar a crise, contribuindo efetivamente com a sua superação, a partir dos anos 70. Assim sendo, nenhum de nossos entrevistados, nem tampouco as pesquisas documentais e bibliográficas, apontam para uma preponderância judaica na economia e no processo de industrialização local e sim, para uma imensa relevância, de algumas famílias, tais como: Benoliel, Levy, Sabbá, Benchimol, Benzecry, Israel, Pazuelo, Assayag, Ezaguy, entre outras. A exceção à regra, fica por conta dos Benoliel e Levy, ainda no auge do ciclo da borracha e de Isaac Sabbá, fundador da primeira refinaria de petróleo da Amazônia em 1957 e que leva o seu nome. Provavelmente, o empreendimento de maior relevância, até hoje na região e que foi nacionalizada pela ditadura no período Geisel . Sabbá chegou a possuir mais de 40 empresas e a representar em dado período ( anos 60/70), 20% do PIB responder, também, através de do Amazonas. 4. OS JUDEUS E A ZONA pesquisa bibliográfica e documental. FRANCA DE MANAUS: Nos depoimentos há uma Nos anos do pós guerra, apesar unanimidade em apontar para o do sucesso de alguns empresários, que os entrevistados chamam de *Trabalho apresentado no VII Simpósio judeus e não judeus, a economia do característica inerente aos judeus de Nacional de Estudos Judaicos, FFLCH, Amazonas e de toda a Região Norte, lutar por sua sobrevivência. Claro USP, 20 a 21/10/2015 **Graduado em Economia com póspadecia ( e ainda padece) de graves que entendemos, e alguns deles graduação em História pela Universidade problemas. A solução que vingou, também, que tal característica não é Hebraica de Jerusalém. Diretor do foi a criação da SUFRAMA – exclusiva dos judeus. Outros grupos Amazônia Judaica 21


IDENTIDADE E CULTURA

POR QUE TE MEHNEAS TANTO, SEU MOLEQUE? Por Alicia Sisso Razuna. Introdução, adaptação e tradução de Elias Salgado Fonte:eSefarad.com

Anos à fio, na infância e adolescência, eu ouvi aquela expressão tão peculiar. Assim como outros tantos falares tão próprios e dicotômicos – pois na infância me faziam sentido, porém não eram parte do meu vocabulário pessoal – que papai pronunciava em casa com tanta naturalidade, um me é particularmente saudoso e representativo da sua identidade. “Por que te mehneas tanto, seu moleque”?

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P

or várias décadas não ouvi aquela expressão que sempre me fora tão familiar, chegando mesmo a quase esquece-la, até o dia de hoje. Mas o que aconteceu, como se deu a redescoberta? Definitivamente, sou daqueles que acreditam que, só acha quem procura. Mas, acontece também, que o imponderável é um de meus melhores parceiros no jogo da vida. E foi mais ou menos por suas mãos que fui levado até mais esta doce esquina de minha memória. Preparava uma nova edição da revista Amazônia Judaica no computador, quando me deparei com um e-mail contendo a newsletter da esnoga Shel Guemilut Hassadim, e nela um convite para o Shabat Mundial de 2016, cuja rica e variada programação incluía um almoço

no qual, o prato principal, era uma almoronia marroquina. Queridos leitores, me considero um bom judeu sefaradí-marroquino. Sim que sou um especialista na História e memória dos judeus da Amazônia, mas como todo ser humano, cometo falhas, possuo lacunas diversas, e claro que de conhecimento, também. E por que todo este preâmbulo? É que “boiei”, como diziam os antigos: almoronia? Ahn? Uma de minhas melhores qualidades (acho que não tenho muitas e portanto a valorizo ao extremo...), é a curiosidade intelectual. Não me dando por satisfeito, imediatamente, fiz uma visita ao google – o maior matador de curiosidade em ação no planeta, nos nossos dias, e me deparei para a minha plena satisfação, com o

ALMORONIA EM HAQUETIA (Por Alicia Sisso Razuna) Tivemos uma bela surpresa na redação de eSefarad, quando recebemos de Alicia Sisso Razuna, uma série de textos de sua autoria em haquetia O ou a haquetia (jaketia ou jaquetia, etc) é uma variante do judeoespañol desenvolvida no norte de África, em particular, em Marruecos, onde o espanhol antigo, trazido de Espanha, se mesclou com outros idiomas, em particular com o árabe, adquirindo deste, além de sua cadencia até incidência em sua pronuncia. Diferente do ‘ladino’, o judeoespañol desenvolvido fundamentalmente, no Império Otomano, a haquetia (ou haketia) não normatizou uma forma de escrita que permita homogenizar pronuncias a partir da leitura de um texto escrito em caracteres que podemos encontrar em qualquer computador com o alfabeto inglês, como sim se fez com o ‘ladino’, entre outras, com a proposta de escrita de Aki Yerushalayim utilizada por,exemplo, na Lista de Correo Ladinokomunita. A seguir um precioso conto na grafía tal qual como foi escrito por sua autora. Encontrarão ao final o mesmo texto com explicações e vocabulário para aqueles que não estejam familiarizados com a haquetia.

maravilhoso site eSefarad e lá um texto encantador – adiamantado, como dizem los nuestros, em nosso saudoso dialeto, o haquetía. Foi nele que descobri a resposta para a minha curiosidade e de quebra, ganhei esta viagem ao passado, ao me deparar, novamente com a expressão mehnear.s E vocês devem estar se perguntando: mas este camarada vai ou não vai, nos explicar o que é almoronia e mehnear? Acontece que eu não sou apenas curioso. Tenho por hábito e por força do ofício, a boa mania de querer instigar a curiosidade nos outros, também. Me explico melhor: todas as principais respostas para as questões aqui levantadas, estão no referido texto, que publicamos a seguir, para seu deleite.

ALMORONIA Almoronía, el guizado endiamantado que moz enjubila la alma en Kippur ez conocido en el ‘olam árabe por el nombre “Buran”, “Al Baraniya”, o “Al Buroniye”. El orijen del guizado fue en el siglo X en la cozzina del califa Al Ma’mun de la cibdad de Bagdad. Ése califa dichozzo quizzo festejar con gran hiba su cazzamiento con Buran, una princesa arregalada pérsica que le hotbearon. Como que el califa tenía muncho shinfor, quizzo fazer muncho ‘abbu, y mostrar su grandezza en la fiesta. Wa disho a loz cozzineros que se hazmeen y preparen comidas endiamantadas que nunca denantes pasaron por la boca de ni una alma viva. Loz amargos cozzineros, sabiendo laz ‘adas de suz califas que tenían la mano lijera con la espada, y teniendo laz ganas de haddear suz cabesas en su sitio, lo jamearon muy bien que cómo y cómo lo harán. En ese zeman, la berenjena era una verdura muy endiamantada, y tamién tenía el uen nombre de ser una verdura afrodiziacá. Wa que cudía ser mejor alimentación pa la noche de boda si no un plato con esa clase dichozza de verdura. Loz cozzineros fueron volando hatta la India, trucheron laz berenjenas dezde ahí, y sacaron sacadas de un guizado endiamantado. Menoz mal que 23


IDENTIDADE E CULTURA el uen nombre de la berenjena, junto con el sabor ueno del guizado, loz gustó a todos, y la cabesa de loz cozzineros se quedo en su sitio, za’ama sobre el pescuezo, iualito como mandó el Dio. Éste guizado está enmentado en el libro de cozzina árabe Kitab Al – Tabihk, que fue scrito en el siglo XIII por Iben Muhammad Al Hassan Al Bagdadi. El guizado llego con loz árabes hatta España, y ansí mizmo llego a ser un plato conocido en todos loz pueblos musulmanes. Se topan munchas variaciones de éste guizado: vejetariano, con almóndigas, con pollo, con cordero, y maz y maz, que enjubilan munchas bocas y almas al derredor del mediterráneo. Del nombre de la princesa se evolucionaron loz nombres de guizados con berenjenas: “Al Baraniya”, “Al Buroniye”, y en Persia todavía se llama “Buran”. Ma en laz cazzas de muestros padres llamimos a éste guizado “Almoronia”. Mozotros moz quedimos fieles a muestra verzión: pollo, berenjena, y cebolla con especias. Se guizza dabagar dabagar sobre fuego bashito del annafe o del beatriz, hatta que el guizado sale doradito, sofrito y ‘aqdeado. Ma aquí cale de fazer una kusiá emportante: Deque la Almoronía; un plato hecho con la afrodiziacá de la berenjena volvió a ser muestra ‘ada de comida pa ampesar la ta’anit de Kippur? Pa que levantar todo ese jatar y candelas, si loz amores son prohibidos en Kippur? Que ez ésta guezerá entortushada que cayó sobre muestra cabesa? Wa asperaivos con pacencia, pamorde que hay splicación! Ma, ez menester de meter en honduras de manera Talmudicá. Yo no cudí parar de la riza, cuando una señora valida de ma’ala nacida en Fez me lo splicó, y mozotras doz riendo como no maz. Ansí mizmo ez: primeramente, debemoz de ayunar, de arrepentir de loz pecados que fizimoz, y de mehnear muestras almas y pedir perdón. Cuantimaz se mehnea uno, cuantimaz maz mejor. Que cuede ser la maz grande mehna si no a levantar ganas de algo a porpozitó, y abstenerse de eso, anque lo que se dezea, ésta muy cerquito y se cuede alcansar!!! Halaqui muestra verzión en pocas palabras.

1. Untar rodajas de berenjena con un poco de azeite y asar en el forno, o freír laz rodajas si os gusta el azeite. 2. Mientras, freír tajadas de cebollas hatta que se doren. 3. Freír un poco pedacitos de pollo. Ajuntar todo (1+2+3), sin jarabujearlo muncho, y guizar en fuego bashito con sal, pimienta, canela, nuez moscazo, y asúcar. Tamién se cuede con especia junta y azafrán. Pa saber la receta filo con aguja, hay que jarbear en laz recetas de muestras auelas laz descansadas. Con bien moz entre el Kippur!

24 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

A SEGUIR, O MESMO TEXTO COM ESCLARECIMENTOS: Almoronía, el guizado (guisado) endiamantado (excelente, maravilloso) que moz (nos) enjubila (alegra) la alma en Kippur , ez conocido en el ‘olam (mundo) árabe por el nombre “Buran”, “Al Baraniya”, o “Al Buroniye”. El orijen (origem) del guizado fue en el siglo X en la cozzina del califa Al Ma’mun de la cibdad de Bagdad. Ése califa dichozzo quizzo (quis) festejar con gran hiba (decoro, honra) su cazzamiento con Buran, una princesa arregalada (mimada) pérsica que le hotbearon (arranjaram o casamento). Como que el califa tenía muncho shinfor (ares de superioridade), quizzo fazer muncho ‘abbu (exagero, fanfarronice), y mostrar su grandezza en la fiesta. Wa (portanto) disho a loz cozzineros que se hazmeen (organizem) y preparen comidas endiamantadas que nunca denantes (antes) pasaron por la boca de ni una alma viva. Loz amargos (mesquinhos) cozzineros, sabiendo laz ‘adas (costumes) de suz califas que tenían la mano lijera con la espada, y teniendo laz ganas de haddear (manter) suz cabesas en su sitio(lugar), lo jamearon (pensaram) muy bien que cómo y cómo lo harán ( fariam). En ese zeman (tempo), la berenjena era una verdura muy endiamantada, y tamién tenía el uen nombre (reputação) de ser una verdura afrodiziacá. Wa que cudía (podía) ser mejor alimentación pa la noche de boda si no un plato con esa clase dichozza de verdura. Loz cozzineros fueron volando hatta(hasta) la India, trucheron laz berenjenas dezde ahí, y sacaron sacadas (inventaram) de un guizado endiamantado. Menoz mal que el uen nombre de la berenjena, junto con el sabor ueno del guizado, loz gustó a todos, y la cabesa de loz


profundos) de maneraTalmudicá. Yo no cudí (pude) parar de la riza, cunado una señora valida (estimada) de ma’ala (alto nível social) nacida en Fez me lo splicó, y mozotras doz riendo como no maz. Ansí mizmo ez: primeramente, debemoz de ayunar, de arrepentir de loz pecados que fizimoz, y de mehnear (sofrer) muestras almas y pedir perdón. Cuantimaz se mehnea uno, cuantimaz maz mejor. Que cuede (pode) ser la maz grande mehna si no a levantar ganas de algo a porpozitó (propósito), y abstenerse de eso, anque lo que se dezea, ésta muy cerquito y se cuede alcansar!!! Halaqui (eis aqui) muestra verzión en pocas palabras.

1. Untar rodajas de berenjena con un poco de azeite y asar en el forno, o freír( fritar) laz rodajas si os gusta el azeite.

cozzineros se quedo en su sitio, za’ama (quer dizer) sobre el pescuezo, iualito (igual) como mandó el Dio (Dios). Éste guizado está enmentado (mencionado) en el libro de cozzina árabe Kitab Al – Tabihk, que fue scrito en el siglo XIII por Iben Muhammad Al Hassan Al Bagdadi (a edição moderna do livro, adaptado por Charles Perry, se chama: A Baghdad Cookery). El guizado llego con loz árabes hatta España, y ansí mizmo llego a ser un plato conocido en todos loz pueblos musulmanes. Se topan munchas variaciones de éste guizado: vejetariano, con almóndigas, con pollo, con cordero, y maz y maz, que enjubilan munchas bocas y almas al derredor del mediterráneo. Del nombre de la princesa se evolucionaron loz nombres de guizados con berenjenas: “Al Baraniya”, “Al Buroniye”, y en Persia todavía se llama “Buran”. Ma (porém) en laz cazzas de muestros padres llamimos

(chamamos) a éste guizado “Almoronia”. Mozotros moz quedimos (ficamos) fieles a muestra verzión: pollo, berenjena, y cebolla con especias. Se guizza dabagar dabagar sobre fuego bashito (lento) del annafe (forninho de carvão) o del beatriz (forninho portátil),hatta que el guizado sale doradito, sofrito y ‘aqdeado (concentrado, a seu ponto). Ma aquí cale (cabe) de fazer una kusiá (pergunta) emportante: Deque (porque) la Almoronía; un plato hecho con la afrodiziacá de la berenjena volvió a ser muestra ‘ada (costume) de comida pa ampesar la ta’anit(jejum) de Kippur? Pa que levantar todo ese jatar (gana) y candelas(fogo), si loz amores son prohibidos en Kippur? Que ez ésta guezerá (castigo) entortushada (entornada) que cayó sobre muestra cabesa? Wa asperaivos con pacencia, pamorde que hay splicación! Ma, ez menester de meter en honduras (pensamentos

2. Mientras, freír tajadas de cebollas hatta que se doren. 3. Freír un poco pedacitos de pollo. Ajuntar todo (1+2+3), sin jarabujearlo (mexer) muncho, y guizar en fuego bashito con sal, pimienta, canela, nuez moscazo, y asúcar. Tamién se cuede con especia junta y azafrán. Pa saber la receta filo con aguja (em detalhes), hay que jarbear (buscar) en laz recetas de muestras auelas laz descansadas. Pa saber la receta filo con aguja (em detalhes), hay que jarbear (buscar) en laz recetas de muestras auelas laz descansadas. Con bien moz entre el Kippur!

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CRÔNICA (1)

ETGAR KERET

HAZBARÁ E LITERATURA COMO ANTI- PROPAGANDA Por Michel Gherman* - Especial para a AJ

N

Nunca gostei de propaganda política. De fato, sempre achei complicado ver pessoas inteligentes acreditando fielmente em propaganda política, a direita e a esquerda. Nunca entendi, de verdade, quando via gente informada citando dados provenientes de propaganda...me assustava. Por isso sempre me mantive afastado de esforços do que se chama de "hazbará". Primeiro por uma questão etimológica: 26 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

Há na hazbará a ideia de que um dos conflitos mais complexos no século passado (e que somente se mostra mais complicado nesse século) pode ser entendido com mais informação. Então, basta explicar (hazbará significa literalmente explicação). Você discorda? Eu te explico. Continua discordando, te explico mais. Só paro quando você parar de discordar e assumir que você entendeu. Convenhamos, há aqui doses cavalares de arrogância, ou não? Outro ponto é a ideia de

funcionalização da história. Tudo é invertido. Profissionais da academia parecem botar de cabeça pra baixo tudo que aprenderam. Tem uma tese, e estudam dados pra prova-la, se não são convincentes, estudam outros dados. Até que o que eles querem, fique palatável para a audiência. Que se transformaria (no sonho da gente de hazbará) em militância da causa do profissional de propaganda. Que não me entendam mal, não estou falando somente da hazbará israelense . Falo de propaganda


política. A propaganda palestina (sua hazbará) é ainda pior do que a israelense, tudo muito lamentável. O terceiro ponto seria essa ideia binária e nacionalista de que nesse conflito há (apenas) dois lados. Bom, podia ficar falando horas sobre o que me incomoda no mundo da hazbará. Paro por aqui. A pergunta que faço é: pra quem se faz hazbará? Alguém muda de opinião por causa disso? Depois de conversar com amigos que trabalham com isso entendi que não. Entendi que as hazbarot (palestinas e israelenses) funcionam mais para converter convertidos e para fortalecer identidades. Ambos os grupos (palestinos e israelenses, no caso) tem certeza que são prejudicados ela mídia, então produzem notícias positivas sobre eles mesmos, afinal "chega a mídia falando mal da gente". Assim, convencidos ficam mais convencidos e neutros mudam de opinião até a propaganda contrária. Pronto. Por que falo sobre isso agora? Porque ontem vi algo diferente: Fui a uma leitura de “Sete anos bons” de Etgar Keret. Na plateia havia, imagino eu, gente de todos os tipos. Keret não é exatamente um funcionário de hazbará. Ao

contrário, é um autor pouco preocupado com propaganda, muito preocupado ele está em falar da vida, da complexidade de sua vida, de seus vizinhos, enfim... Como autor Keret faz literatura. Resultado: emoção e compreensão. Uma mulher se levanta (houve conversa depois da leitura) e explica que, apesar de opiniões anti-sionistas que ela tinha, ela havia acabado de entender que Keret era israelense. Ela disse que tinha entendido que o filho era israelense. Havia vida e

gente em histórias de complexidades absurdas. Que essa gente devia ser o centro de qualquer análise. Tinha acabado de ver alguém mudando de lado. *Possui Graduação em História pela UFRJ. É mestre em Antropologia pela Hebrew University of Jerusalem e Phd em História pelo PPGHS da UFRJ. É co-coordenador do NIEJ – Núcleo de Estudos Judaicos e árabes da UFRJ

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CRÔNICA (2)

SOBRE MITOS, COINCIDÊNCIAS E HOMÔNIMOS:

TRABALHANDO COM CARINHO DE ARTESÃO O MOSAICO FAMILIAR Por Elias Salgado

“Não! Se surgir alguém com o sobrenome Salgado no Brasil, que não seja parente nosso, descendente de seus avós Sime e Lázaro Salgado, certamente, ele não é judeu, muito menos de origem marroquina. Os únicos Salgado judeus de origem marroquina que existem no nosso país somos nós”

E

ra meu tio Rubem Salgado Z”L, irmão mais velho de meu pai, fazendo uma afirmação categórica, numa das inúmeras entrevistas que lhe fiz, para coleta de depoimentos, dados, documentação e imagens, nos anos finais de sua vida, a partir dos 90, quando estudei minha pós graduação em História na Universidade Hebraica de Jerusalém e estabeleci, desde então, como objeto central de estudos, a comunidade judaica marroquina da Amazônia, da qual somos membros cativos, e passei a alimentar um verdadeiro vício, que eu e meu irmão David, possuímos em comum: o estudo da genealogia e da memória das famílias daquela comunidade, em especial a nossa. Boa parte do acervo familiar que possuímos, vem destes encontros com tio Rubem, os meus e os de David. Por anos a fio, tomamos aquela afirmação como um dogma, um verdadeiro mito da nossa história familiar. Mas aprendi na boa escola acadêmica de Monte Scopus, que um pouco de curiosidade e dúvida que seja, faz bem a qualquer pesquisador honesto. Lendo livros como, “O queijo e 28 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016


os vermes”, “Os andarilhos do bem”, “Mitos, emblemas e sinais”, passei a acreditar um pouco mais, como Carlo Guinsburg, que a boa construção da História está nos detalhes. E um pouco como o mestre italiano, passei a através de detalhes isolados, desconstruir aquele mito familiar. Me auxiliou nesta tarefa, a descoberta feliz, de um homônimo meu! A primeira vez que me deparei com “ele”, foi quase que por acaso. Eu havia esquecido por um tempo, aquela questão dos únicos Salgado judeus do Marrocos no Brasil, quando passando um pente fino no arquivo da correspondência do jornal A Columna, de David José Pérez, primeiro jornal judaico em língua portuguesa do Brasil, no Arquivo da História do Povo Judeu, no campus de Guivat Ram, me deparei com uma carta, onde um assinante do jornal de nome. Simão L. de Barros, indicava a Pérez, para ser seu correspondente na região do Tapajós, a um sócio da empresa Nahon & Cia. de Belém, o Sr. Elias Salgado. Vocês certamente estão tentando

imaginar minha surpresa, certo? Bem ela foi se tornando rotina ao longo do tempo, já que aquele “encontro” não foi o único... Tempos depois, pesquisando sobre a genealogia dos Elmaleh, novamente me deparei com “ele”, quando lia “ Genealogia hebraica: Portugal e Gibraltar, sec. XVII a XX” de José Maria Abecassis. Lá estava o meu homônimo. O verbete de seu pai, José Elmaleh, está lá, bem abaixo do verbete do meu avô Eliezer Elmaleh. Nele Elias Salgado, consta como filho de José Elmaleh, que nasceu em Tanger, em 1865 e que teria se naturalizado brasileiro e mudado seu sobrenome de Elmaleh para Salgado. Isto mesmo! A coincidência era múltipla: além de Salgado, de meu homônimo, “ele” era também um Elmaleh como nós. Tudo isso sem ser nosso parente, sem ser filho de Sime e Eliezer Elmaleh. Estava no chão o grande mito de nossa família. Não éramos os únicos Salgado judeus de origem marroquina no Brasil. Mais tarde ainda consegui, lendo Egon e Frida Wolff (“Judeus no

Brasil República”), me deparar com os dados de um documento de 25/11/1898, dirigido ao ministro da justiça e negócios interiores de então (Epitácio Pessoa) em que “ele”, já usando o nome de Elias José Salgado, declara ser de origem marroquina e filho de José Salgado (José Elmaleh) e Raquel Salgado Raquel Nahon de solteira). E logo a seguir uma declaração de Feliciano Egydio do Valle, Tenente do Corpo de Infantaria do Regimento Militar do Estado (Pará) e subprefeito da cidade (Belém), atestando que “ele” vivia, então, há mais de 3 anos no país, e que desejoso de adotar o Brasil como pátria, pedia naturalização brasileira. E por fim, ao menos até aqui, ainda consegui saber dados sobre seu destino final, lendo “Sepulturas Israelitas de Belém”, também do casal Egon e Frida Wolff. Elias José Salgado, nascido Elias José Elmaleh, está enterrado no Cemitério Judeu Antigo do Guamá (Cemitério Santa Isabel). Ou seja, nasceu, viveu e morreu, com o mesmo nome que me deram (Elias), o meu sobrenome original (Elmaleh); seu pai adotou o mesmo sobrenome que meu avó (Salgado). Possuía a mesma origem que ele (Marrocos) e viveu e morreu na Amazônia também, bem ali pertinho de meu avó, que viveu e morreu em Manaus, sem ser parentes de grau nenhum e provavelmente, sem jamais terem se conhecido... Como podemos ver, ao menos duas grandes conclusões podem ser tiradas, por hora: mitos são para ser derrubados, sempre que a causa seja boa. E muitas vezes, são pequenos detalhes, como já vimos, que podem determinar a sua queda, em prol da melhor escrita da História.

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o 30 DEZEMBRO 2016 2016 26 AMAZÔNIA AMAZÔNIA JUDAICA JUDAICA N No 99 -- DEZEMBRO


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UNIVERSO AJ

PERSPECTIVA 2017

15 ANOS DO AMAZÔNIA JUDAICA: Para 2017, ano no qual Amazônia Judaica completará 15 anos de fundação, um calendário de intensas atividades está sendo elaborado: Publicação e lançamento do livro “Identidade e tradição: um estudo sobre as mulheres da Comunidade Judaica de Manaus”, de Dina Paula Santos Nogueira.

Lançamento de coletânea com uma seleção dos melhores textos, matérias e crônicas dos 15 anos de publicação do antigo jornal e agora revista, Amazônia Judaica.

Edição Especial de 15 Anos, impressa e online, da Revista Amazônia Judaica

E aproveitando a oportunidade, fechamos nossa coluna com chave de ouro, apresentando em primeira mão ao nosso público de leitores e amigos a logo comemorativa dos 15 anos do Amazônia Judaica. Que venha 2017, com muitas novidades e boas realizações! o 28 32 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016


IRMANADOS COM NOSSA AMADA KEHILÁ DO AMAZONAS, DESEJAMOS A TODOS OS CHAVERIM E CHAVEROT, UM FELIZ CHANUKÁ Diretoria do Comitê Israelita do Amazonas – Chag Sameach

O CENTRO ISRAELITA DO PARÁ, deseja a todos os seus membros e a todo Am Israel, CHAG CHANUKÁ SAMEACH

Que as luzes de mais este Chanuká, penetrem o espírito de todos nós.

FELIZ FESTA DAS LUZES Em nome da Esnoga Beit Shmuel de Recife, o Chacham Isaac Essoudry deseja a comunidade judeu-marroquina,

CHANUKÁ SAMEACH

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CONTATO Querido Elias, obrigada. Apresentação e conteúdos de qualidade. Parabéns !! Chag Sameach ! Tova Sender – PhD em Literatura e escritora – Rio de Janeiro

Que maravilha Elias. Parabéns. Emocionante !!! Beijos Beth Beth Zalcman – Atriz – Rio de Janeiro

Parabéns, Elias, o novo número está ótimo! Chag Sameach e Shabat Shalom! Nancy Rozenchan – PhD em Literatura hebraica – USP

Vou ler com muito carinho. Vou repassar também. Boa sorte Esther Largman – Escritora – Rio de Janeiro

Elias, parabéns! A revista está graficamente linda, e o conteúdo interessante, desde a abertura assinada por Regina Igel, que capta as nuances dos autores com sua alta competência de mestra, até a lembrança de Pedro II. Por ora só li essas duas matérias, mas com certeza vou degustar aos poucos. Vamos em frente, sempre, talento é talento e você tem de sobra!!!! Heliete Vaitsman – Jornalista e escritora – Rio de Janeiro

Muito bonita, meus parabéns. Moshe Pitchon - Israel

Parabéns pela iniciativa! Muito bacana e ousada! Adorei! Eva Spitz – Jornalista – Rio de Janeiro

Realmente Muito bom. Abcs

Muito obrigada Elias, muito interessante. Susana Scheimberg de Makler

Obrigada, Elias Salgado. Ótima publicação Parabéns .Chag Pessach Sameach Dra. Ester Kosovski – Rio de Janeiro

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Clemente Soares Hamoy – Brascomp – Belém-PA

E têm de seguir adiante mesmo! Sua revista e suas publicações são joias no nosso patrimônio judaico-brasileiro! Regina Igel - Maryland University - USA


OS AMIGOS E COLEGAS DO PROJETO SEFARADÍ DE ALIAT HANOAR, TURMA 1975 – 1976, DO INSTITUTO MOSINZON DE HOD HASHARON, ISRAEL, PELA PASSAGEM DOS 40 ANOS DE CONCLUSÃO DO SEU ENSINO MÉDIO, DESEJAM A TODOS:

CHANUKÁ SAMEACH LOS AMIGOS DEL PROYECTO SEFARADÍ DE ALIAT HANOAR, GENERACIÓN 1975-1976 DEL INSTITUTO MOSINZON HOD HASHARON ISRAEL, A 40 AÑOS DEL FIN DE SECUNADARIA, DESEAN A TODOS:

FELIZ JANUKA ,‫ עליית הנוער‬,‫ שנה מסיום פרוייקט בספרדית‬40 ‫לרגל ציון‬ ,‫ בבית הספר התיכון ע"ש מוסינזון‬1976 - 1975 ‫מחזור‬ :‫אנו מאחלים לכולם‬

‫חג חנוכה שמח‬ *****************

Daniel Berneman Danyl Bach David Abramovitch Debora Benchimol Eduardo Habib Eduardo Zlotnitzki Elias Salgado Henrique Cymerman Horacio Alter Z”L Horacio Grushkah Joel Bogdanski

Lely Blanc Marcela Satuchne Marcos Fridman Mario Montañez Pedro Friedman Sofia Ninio Sandra Abramovitch Sara Habib Rosita Culik Ruben Levi Yeshua Martinez

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Juntos, família, amigos e comunidade, na preservação de nossa milenar tradição e no festejo de mais um Chanuká. Chag Sameach ALICE BENCHIMOL CLARA E ELIAS MENDES E FAMÍLIA Juntam-se a todos de nosso ishuv na esperança de um Chanuká de.luz, paz e tranquilidade. Chag Sameach ALEGRIA BOHADANA, SEUS FILHOS, NETOS E BISNETOS, Desejam a todos muita alegria e felicidade em seus lares nas noites de Chanuká. Chag Sameach

MOISÉS SABBÁ E FAMÍLIA Em Memória de Seus Pais Irene e Isaac Sabbá Z”L Desejam a todos Chanuká Sameach

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VIDINHA SALGADO E SEUS FAMILIARES Congratulam-se com toda a kehilá pela chegada de mais um Chanuká Chag Sameach EDDY ZLOT E FAMILIA Saúdam a todos pela chegada de mais um Chanuká. Feliz Festa das Luzes JAIME SALGADO E FAMÍLIA Externam votos de um Chanuká de paz e alegria a todos judeus do mundo Chag Sameach

JAIME E ANNE BENCHIMOL E FAMÍLIA Congratulam-se comtoda a Kehilá pela passagem de mais Um Chanuká Chag Sameach


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A Editora AJ incansável na luta pelo resgate, registro e preservação de nossa memória e tradições, sempre acompanhando as kehilot nos melhores momentos, através de suas edições.

Feliz Chanuká a todos nossos leitores.

Adquira em nosso site: www.amazoniajudaica.org ou pelo nosso e-mail: portal200anos@gmail.com


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