Amazônia Judaica - N.11/2017 - Rosh Hashaná 5778

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Edição de Rosh Hashaná 5778

ANO 09 NO.11 SETEMBRO DE 2017 ISSN 2527-0826

CERTAS REMINISCÊNCIAS

UM LAGO CHAMADO SALÉ CRÔNICA

EM BUSCA DO ELO PERDIDO IDENTIDADE E TRADIÇÃO

A DESCOBERTA DA AMAZÔNIA JUDAICA ARTE NAIF

PINTANDO COM O DOM DA ALMA


Desejamos Paz e Prosperidade a todo o Ishuv neste Novo Ano

Chatimá Tová Lekulam PARABÉNS À AMAZÔNIA JUDAICA PELOS 15 DE EXISTÊNCIA, E SHANÁ TOVA A TODO O ISHUV


O QUE ÀS VEZES PARECE POUCO, NEM SEMPRE É...

Editores David Salgado Elias Salgado Arte e diagramação Eddy Zlotnitzki Projeto Gráfico Thiago Zeitune Revisão Mariza Blanco Colaboradores Dina de Paula Santos Nogueira Henrique Cymerman Benarroch Ilana Feldman Regina Igel Renato Amram Athias Portal e Arquivo Amazônia Judaica www.amazoniajudaica.org Amazônia Judaica No Facebook Amazônia Judaica Email: portal200anos@gmail.com contat@amazoniajudaica.org Conselho Editorial HOMENAGEM ESPECIAL Prof. Samuel Isaac Benchimol z”l Andre de Lemos Freixo Fernando Lattman-Weltman Heliete Vaitsman Henrique Cymerman Benarroch Ilana Feldman Isaac Dahan Jeffrey Lesser Michel Gherman Monica Grin Regina Igel Renato Amram Athias Wagner Lins Bentes

Quinze anos de atividade é para poucos! Deles temos muito o que nos orgulhar. Foram anos de intensa atividade, ao longo dos quais muito lutamos pela manutenção do nosso projeto e seu objetivo maior: estudar, registrar e preservar a riqueza e singularidade do judaísmo amazônico, em particular, e do sefaradi e mundial em geral. Amazônia Judaica já nasceu se distinguindo: sob o ímpeto e a coragem visionária de seu fundador, David Salgado, o antigo jornal, hoje revista, surgiu e marcou seu lugar na História da Imprensa Judaica Amazônica e Brasileira, como único em seu gênero até hoje, além de ser até o momento o periódico de mais longa duração do judaísmo daquela região. Sim que somos uma equipe ímpar de seres resilientes que jamais perdeu seu foco. E o melhor de tudo é que nunca estivemos sozinhos. É bem verdade que nunca fomos muitos, mas o que às vezes parece pouco, nem sempre é... Até somos numericamente poucos, mas o pouco que somos – equipe, colaboradores, patrocinadores e leitores – sempre fez a diferença. Nossa querida AJ, não parou no tempo, jamais estacionou e se acomodou, ao contrário seguiu crescendo em todos os sentidos: na qualidade e abrangência de seu conteúdo, na sua distribuição e atingimento. Estamos sempre inovando. Esta é uma de nossas marcas também. Nossa editora acaba de criar seu CONSELHO EDITORIAL, formado por profissionais do mais alto gabarito e de diversas áreas do conhecimento, oriundos de vários países. (Veja a lista atual dos membros) No campo de projetos, Amazônia Judaica, está lançando o PROJETO AMAZÔNIA JUDAICA 2020 – 210 ANOS DEPOIS (Mais detalhes na matéria sobre o tema). Mostramos em retrospectiva o calendário de lançamentos do livro “IDENTIDADE E TRADIÇÃO” de Dina Paula Santos Nogueira e em perspectiva nosso próximo lançamento editorial – a COLETÂNEA AMAZÕNIA JUDAICA 15 ANOS DE TRAVESSIA”, para novembro próximo, que encerrará oficialmente, as comemorações dos nossos 15 de atividades. E esta Edição Especial de Rosh Hashaná, elaborada com afinco, além da matéria de capa sobre Arte Naif, judaica e não judaica, traz como sempre, artigos e matérias de altíssimo padrão de nossos fiéis colaboradores: Regina Igel, com artigo inédito sobre autoras sefaraditas brasileiras; Henrique Cymerman Benaroch, nosso correspondente em Israel, com matéria super atual sobre o ataque terrorista em Barcelona; Renato Amram Athias, nos presenteia com um delicioso artigo sobre histórias de famílias judias do Baixo Amazonas, originárias de Salé no Marrocos e Ilana Feldman apresenta um belíssimo artigo sobre o livro “Judas” de Amós Oz e a tradição judaica. Boa leitura e até o próximo ano. Nós certamente estaremos aqui novamente tentando sempre fazer o nosso melhor.

SHANÁ TOVÁ UMETUKÁ

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A IMAGEM DA CAPA

POR QUE NÃO COMEÇAR PELO PRINCÍPIO? Aqui e agora, sem pensar muito, não saberíamos explicar o por que da escolha da Arte Naif Judaica e de artistas judeus, como tema para a nossa capa e também para nossa MATÉRIA DE CAPA. Mas se ampliarmos e aprofundarmos nossa reflexão, talvez tenha sim, muito o que a ver com Rosh Hashana e Yom Kipur. Não seria o Naif esta expressão artística, despretensiosa, pura, oriunda do estado da simplicidade e destituída das coisas do meramente opulento, para vingar uma expressão próxima ao princípio de tudo, como um retorno ao estado mais natural possível e primordial das coisas e da vida; e com um tom de pouco convencional? E não seria esta e não outra, a proposta maior destes dias sagrados, aos quais nossa tradição denomina Yamim Noraim? Buscar em todas as medidas destituir-se dos excessos e retornar (Lashuv= Teshuvá), ao princípio de tudo, onde deve imperar, não a inocência dos ingênuos e sim a mais pura das sabedorias: a verdadeira. A Sabedoria dos justos e retos.

Imagem da capa: Arieh Wagner , trecho do( mural criado para a obra de construção do )Museu Judaico de São Paulo

4 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017


ANO 09 NO.11 SETEMBRO DE 2017

PELO MUNDO | 6

“A Península Ibérica é um dos nossos objetivos”

EDITORIAL 3 A IMAGEM DA CAPA Por que não começar pelo princípio?

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REMINICÊNCIAS 8 Salé, um lago no Baixo Amazonas

LITERATURA: ENSAIO

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IDENTIDADE E TRADIÇÃO

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Notas sobre traição, tradição e transmissão em “Judas” de Amós Oz

A descoberta da Amazônia Judaica

CAPA 24

LITERATURA | 42

Escritoras sefarditas brasileiras: minoria dentro da minoria

Arte Naif: pureza e espontaneidade em forma de pintura

NOSSO CONSELHO 34 Mejorado 120 Anos

RETROSPECTIVA 38 Comemorando em alto estilo

ARTE E CULTURA: TEATRO

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PELO NOSSO PORTAL

54

CARTAS DOS LEITORES

56

Um reencontro emocionante com o Teatro

CRÔNICA | 58

Em busca do elo perdido

MENSAGENS 62 ANÚNCIOS 65


PELO MUNDO

ESTADO ISLÂMICO:

“A PENINSULA IBÉRICA É UM DOS Por Henrique Cymerman Benarroch – Especial para Amazônia Judaica

A

ntes da Semana Santa visitei por terceira vez o território iraquiano e a frente de combate contra o Daesh, o Estado Islâmico. Na zona de Mosul, ao norte do Iraque, aconteceu a mãe de todas as batalhas. Uma coalisão internacional sem precedentes, de 70 países, encabeçada pelos Estados Unidos, com a participação do exército iraquiano e o exército curdo – os peshmerga -, lutaram durante nove meses para expulsar uns milhares de homens do califado. Aí tive a oportunidade de 6 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

ter uma longa conversa com presos jihadistas que acabavam de cair em mãos do exército curdo após longos combates. Um deles, de uns 20 anos e procedente da cidade síria de Raqqa, onde acontece agora a última batalha contra o Daesh, me detalhou com total segurança o mapa da sua rota: primeiro apagaremos

as fronteiras artificiais do Oriente Mádio, determonadas pelos infiéis- o britânico Sykes e o francês Picot- que inventaram estados e impuseram aos mulçumanos em 1916. O califado chegará até Al Quds(Jerusalém), e logo atacaremos ao grande infiel em Roma (o Papa) e finalmente chegaremos a Al Andalus( a Península


NOSSOS OBJETIVOS” Quando eu me interei de que Barcelona, minha cidade de adoção, foi cenário por primeira vez de um gravíssimo atentado terrorista (o nono atropelamento massivo na Europa), não pude evitar um profundo pesar, porém também que infelizmente se tratava da crônica de umas mortes anunciadas Ibérica), que é território islâmico do Waqf, que nos pertence”. Quando eu lhe repliquei que como se atrevia a falar assim em um momento em que estavam a ponto de ser expulsos de grande parte do território que ocuparam no Iraque e na Síria – que chegou a ser do tamanho da Grã Bretanha , porém a cada dia vai minguando mas, - me replicou: não entendes nada de Ocidente. Mesmo que percamos nosso território, nossas ideias permanecerão e já estão semeadas em todo o Ocidente e Oriente Médio”. Os presos do Daesh, algemados e esgotados pela longa batalha citaram o ideólogo dos grupos da jihad mundial, Abu Musab al Suri. Este, casado com uma espanhola convertida ao Islã chamada Elena e que possui passaporte espanhol, a igual a sua mulher, se encontra escondido nos arredores de Raqqa, de onde gravou um vídeo com um chamamento aos jihadistas do Ocidente. No clip explicou que não é necessário trasladarse dos países em que vivem e citou a chamada tese da “Quinta Coluna”, exposta inicialmente por Osama Bin Laden, o fundador da Al Qaeda.

“Se você vive na Argentina e quer atacar os infiéis, faça no teu país de residência, porque sabes falar e vestir-se como os habitantes locais e podes enganar melhor as forças de segurança. Se vives na Suécia e queres atacar um centro judaico, faz o mesmo, que seja um muçulmano suec0 quem o faça”. Abu Musab Al Suri explica que não é possível organizar atentados muito complexos cada ano, porém quem sim se pode recorrer aos carros de teus pais, pegar as chaves e atropelar infiéis”, ou ir às cozinhas das mães, pegar facas e sair a matar.

todo o mundo, porém, também, ampliados por todas as redes sociais que são parte integrante do chamado califado digital do Daesh. Como comentavam os presos que encontrei em Mosul, pode ser que os jihadistas sejam vencidos no campo de batalha e expulsos da Síria e Iraque, e pode ser inclusive que no futuro esta organização desapareça do mapa, porém a herança que deixará na internet de milhares de vídeos que confundem realidade e ficção – imitando filmes de Hollywood e famosos videogames, ficará para sempre e servirá de modelo para futuros grupos jihadistas. Num estudo realizado na Europa pelo cientista francês Olivier Roy sobre o perfil psicológico dos jihadistas que atentaram nos últimos anos contra objetivos belgas, franceses, alemães e britânicos, chegaram a conclusão que 60% deles pertencem a segunda geração de imigrantes do Oriente Médio e norte da África, que perderam o vínculo com o país natal de seus pais, porém não se integraram na Europa. 15% já são os filhos da terceira geração e 25 são europeus convertidos ao Islã.

Atropelamentos e punhaladas, o Nos anos 80 fui testemunha do low tech do terrorismo, permitirão assassinato de dois marinheiros aterrorizar as multiudões judaicoisraelenses da Companhia Zim cristãs. pelas mãos de um comando da OLP O que os terroristas fizeram nas quando seu barco atracava no porto Ramblas de Barcelona foi eleger de Barcelona. Esse foi considerado um ícone da cidade conhecido por naquela época um grave atentado milhões de turistas que a visitam terrorista a mais. O que vemos regularmente, para obter a máxima agora vai mais além: trata-se de um repercussão. Assim se logra uma objetivo de grupos islâmicos radicais, espécie de megafone mundial, que elegeram Las Ramblas como um que transforma estes atentados em símbolo da multiculturalidade e que eventos multimídia, transmitidos lançaram uma flecha venenosa a mais pelos meios de comunicação de no coração da civilização ocidental. 7


REMINICÊNCIAS

SALÉ, UM LAGO NO BAIXO AMAZONAS Por Renato Athias

Já faz alguns anos que me dedico a entender a presença e a cultura dos judeus marroquinos na Amazônia, isso por que meu avô Jacob Athias, era um deles que deixou o Mellah de Salé como tantos outros que atualmente vivem na Amazônia ou espalhados pelo mundo

V

Vários intelectuais investigaram e contribuíram com importantes estudos sobre esse grupo social muito antes de mim. Esses estudos históricos são importantes e geralmente tem uma abordagem que eu costumo chamar de memorialista. Entre esses investigadores, eu gostaria de citar três. O pioneiro desses estudos são trabalhos de Abraham Ramiro Bentes (1912–1992), nascido em Itaituba no Pará, general do Exército Brasileiro, que muitos anos esteve à frente da Sinagoga Shel Guemilut Hassadim no Rio de Janeiro. Eu tive a oportunidade de conhecêlo brevemente no Rio de Janeiro, pois vivia na mesma rua em que meu pai. Ele escreveu vários livros muito bons, entre os quais; “Das Ruínas de Jerusalém à Vederjante Amazônia”. Outro pesquisador importante e fundamental para dar um caráter mais acadêmico para esse campo de estudos sobre Amazônia foi o professor Samuel Benchimol (1923–2002). Ele nasceu em Manaus, economista e cientista social, ensinou mais de

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Jan JanJanszoon Janszoon((Murat MuratReis), Reis),renegado renegadoholandês a serviço da aRepública de Salé (1650). Pintura de holandês serviço daRepública de Salé Pier FrancescoMola (1650). Pintura de Pier Francesco Mola


50 anos na Universidade Federal do Amazonas, foi membro da Academia Amazonense de Letras e um dos fundadores do Comité Israelita do Amazonas (CIAM). Eu tive o imenso prazer de conhecêlo no CEDEAM (Centro de Estudos e Documentação sobre a Amazônia/UFAM) que ele havia fundado nos anos 1970 quando eu ainda morava em Manaus. Entre os seus livros encontram-se o mais famoso “Eretz Amazônia” (o único traduzido para o hebraico) sobre os judeus marroquinos na Amazônia, com uma impressionante lista de nomes de judeus sepultados nos cemitérios da Amazônia. O terceiro autor, também importante, é o historiador Reginaldo Heller, do Rio de Janeiro, que escreveu “Judeus

do Eldorado: reinventando uma identidade em plena Amazônia: a imigração dos judeus marroquinos do norte da África para o Brasil (Pará e Amazonas) durante o século XIX”. Nesses livros, vamos encontrar nomes, fatos, situações etnográficas e uma lista muito grande de nomes de judeus marroquinos que se estabeleceram na Amazônia, todos eles comerciantes, mestres em fazer negócios e, sobretudo, especialistas do extrativismo amazônico, instalados nas principais cidades ribeirinhas do baixo Rio Amazonas e afluentes. Esses comerciantes foram os expoentes do desenvolvimento dessa região, como assinala os irmãos David e Elias Salgado em seu livro “História e Memória  : Judeus e a Industrialização do Amazonas”.O jornalista Henrique Veltman e fotógrafo Sergio Zalis escrevem uma reportagem fotojornalística

Salé e Rabat com suas Medinas separadas pelo Rio Buregregue que desagua no Oceano Atlântico em 1983, intitulada “Os Hebraicos da Amazônia”, encomendada pelo Museu da Diáspora de Tel-Aviv (Beit Hatefutsot), mostrando diversas biografias de comerciantes judeus de origem marroquina radicados definitivamente no baixo Amazonas, e já completamente integrados na cultura local. Porém, uma pesquisa associando esses judeus marroquinos com seus lugares de origem no Marrocos ainda é um trabalho

interessante a ser realizado. Nesses anos, eu tenho, timidamente, tentado fazer uma lista de judeus, do baixo Amazonas que vieram de Salé. Em minha última viagem ao Marrocos (2015) eu tive a oportunidade de ler um livro que me impressionou bastante pela densidade das descrições sobre a cultura dos judeus de muitas 9


REMINICÊNCIAS cidades do Marrocos. Foi escrito pelo historiador marroquino, radicado em Paris, Haïm Zafrani “Deux mille [1], intitulado:

ans de vie juive au Maroc: histoire, culture, religion et magie” (Dois mil anos de vida judaica no Marrocos: história, Cultura, Religião e Magia). Este autor mostra como era a vida desses judeus, apresenta inúmeros dados históricos, descrevem as relações jurídicas dos Mellah com as Medinas, as principais profissões dos judeus no Marrocos, as Riks e, sobretudo, a importante literatura produzida por judeus hahamim nos diversos períodos históricos do Marrocos. Ou, como o próprio Haïm Zafrani diz, “a literatura judaica produzida no ocidente Mulçumano”. É, realmente, um livro baseado em uma impressionante pesquisa. É de tirar o chapéu. Pois lendo esse livro, eu fiquei sabendo que até 1956 haviam quase 300.000 judeus vivendo em mais de 65 cidades marroquinas, nos Mellah das Medinas. Portanto, uma população significativa cujos antepassados chegaram ao Marrocos muito antes do Islã. Muitos desses judeus saíram do Marrocos em diferentes levas e hoje fazem parte da grande diáspora do Judaísmo Marroquino espalhada em todos os cinco continentes.

de desenvolvimento significativo no tempo das dinastias dos Ifrenidas no século XI EC e dos Almóadas, século XII EC e dos Merenidas, século XIV EC, principalmente por causa de sua A cidade de Salé é vizinha de Rabat, posição estratégica comercial na rota capital do Reino do Marrocos, terrestre que liga Fés a Marrakech. separadas pelo famoso rio Buregregue. Mas, sobretudo, pelo seu importante Salé, com sua impressionante porto na costa Atlântica, principal Medina, tem uma história muito centro do comércio entre a Europa antiga e muito peculiar, pois foi e o Marrocos. fundada no século IX AEC pelos Fenícios que a denominaram de Com a chegada de refugiados judeus “Salla”. Depois, conheceu períodos da Península Ibérica durante o 10 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

século XVI, Salé sofre uma enorme transformação, pois havia se criado uma rivalidade, em torno do comércio com a cidade vizinha de Rabat. Esses refugiados Sefarditas, muito animados pelo seu espírito mercantilista, estruturam uma nova administração política que ficou conhecida posteriormente como a “República de Salé” (ou República de Buregregue), levando expedições comerciais até a Cornoalha na Inglaterra. Esses comerciantes foram reconhecidos pela sua


audácia e astúcia. Os corsários de Salé deixaram a imagem de “Sallee Rovers” na memória e historiografia dos Ingleses. Até o século XVIII, as atividades de pirataria permitiram uma expansão e sua influência na região, pois tem-se notícias que esses chegaram até em regiões muito distantes como a Islândia e Novo Mundo. Recentemente tenho lido exploradores, naturalistas e etnólogos franceses que passaram pelo baixo amazonas (geralmente vindos da Guiana Francesa) que

publicaram sobre essa região, cuja a importância é muito grande, desde a época do famoso administrador de Portugal, Marquês de Pombal, para o estabelecimento de um mercado extrativista a nível internacional. Entre esses autores gostaria de mencionar, Paul Le Cointe, nascido em Tournon sur Rhône, na França em 1870 e morreu em Belém do Pará em 1956. Paul Le Cointe, era engenheiro, naturalista e cartógrafo. Ele se estabelece primeiramente em Óbidos, depois em Alenquer.

Entre os anos de 1892 a 1893 ele vai ser o responsável para o estabelecimento da linha telegráfica entre Óbidos e Manaus. De 1895 a 1896, juntamente com Jules Blanc, ele explora a toda bacia do Rio Cuminá. Em seguida, viaja no Rio Apiramba em regiões já conhecidas anteriormente por naturalistas como o famoso etnógrafo Henri Coudreau que morreu no Trombetas em1899, e sua dedicada esposa Octavie Coudreau que continuou as expedições até as cabeceiras do Rio Curuá, já em Alenquer. Até 1898, Paul Le Cointe, morando em Óbidos, vai trabalhar como cartógrafo realizando os limites com um instrumento conhecido como “teodolito” para as fazendas na bacia do Trombetas e faz um mapa da região. No seu retorno à França, Le Cointe tornou-se professor na Universidade de Nancy. Em 1920 decidiu voltar para o Brasil, onde foi nomeado diretor (ele foi o primeiro) da Escola de Química Industrial do Pará. Nessa crônica me interessa mostrar um mapa [2] elaborado por ele ainda nos anos de 1900, mas publicado em 1911. Esse é um mapa diferente, porque ele coloca os nomes dos proprietários de fazendas impressos no próprio mapa. Ele deve ter entrevistado muita gente para poder fazer essa detalhada cartografia. Analisando esse mapa, bem perto do Lago Grande na região de Óbidos e Oriximiná, pode-se ver o lugar de nascimento, infância e adolescência de meu pai, Salomão e de meu tio Jônathas. É a Região onde meu avô Jacob e conterrâneos David Azulay, Moisés Benguigui e muito outros judeus trabalharam por muitos anos como extrativistas e comerciantes de rios. E, pasmemse todos! O nome desse lago no 11


REMINICÊNCIAS

relacionam a identidade marroquina com o jeito de próprio de se fazer negócios. Atualmente, existe até textos divulgados na internet com o passo-a-passo para turistas que vão ao Marrocos aprenderem como barganhar nos suks das medinas marroquinas. Um desses sites está intitulado: “Negociar nos suks marroquinos em sete etapas” [4]. Para quem já teve essa experiência, vale relembrar as histórias das barganhas marroquinas. Quando estamos juntos, em família, nós sempre lembramos como a minha irmã Yolanda saiu de um estabelecimento do suk de Meknés, com tapete que ela não queria comprar, mas agora é descrito por ela como sendo o Em todas as conversas que mantive melhor negócio que ela fez, diz ela com pessoas na diáspora marroquina, relembrando as horas em que passou que viveram em Salé, eles sempre na barganha marroquina.Meu avô enfatizam o jeito de fazer comércio Jacob Athias, certamente inovou e o de negociar. Quando estive no quando iniciou o seu comércio nas Marrocos, desde a minha primeira margens do Trombetas. Ele começou vez nos anos oitenta, eu achei muito pela região do médio Amazonas, peculiar a maneira deles barganharem construindo sua residência em e de venderem seus produtos. Aliás, Óbidos, trabalhando até Sena li vários textos de antropólogos que Madureira, no Acre. Em Oriximiná, mapa é “Salé”. Nesse momento minha imaginação vai longe e começo a ver a concentração de judeus marroquinos originalmente de Salé que se estabeleceram perto dessa região. Ao ver esse mapa eu me animei conhecer ainda mais os locais de origem no Marrocos desses judeus e sobretudo a relação deles com os seus lugares de chegada na Amazônia. Temos notícias, ainda de outros judeus marroquinos que se estabeleceram na Amazônia como Aziz Azulay, Jacob Azulay, Isaac Hassan, Eliezer Benitah, David Issakhar Benzaquen, Zacarias Elmescany, Aben-Athar, entre outros, que também vieram de Salé [3].

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ele estabeleceu um comércio, e posteriormente adquiriu uma fazenda, ampliando seus negócios. Promoveu diversas atividades comerciais, como aviamento para o extrativismo regional, comércio de carne de gado através charqueada (que aprendera com seu pai, ainda em Salé) e compra e venda de lenha para navios à vapor. Nos anos de 1920, ele fundou a “Casa Israelita”, diversificada, o que seria hoje uma espécie de mini-mercado, vendendo alimentos, armarinho em geral, sapataria, remédios populares, perfumaria e uma diferenciada gama de mercadorias para uso doméstico (secos e molhados), pois ele conhecia exatamente as necessidades dos ribeirinhos pelos anos que trabalhou regateando no Rio Trombetas. Meu pai Salomão nos conta que meu avô sabia muito bem falar com as pessoas que entravam em seu estabelecimento comercial, os fregueses sempre saiam satisfeitos. Segundo ele, o seu primeiro freguês, em uma segunda-feira, não podia sair da Casa Israelita, sem levar nada, pois se isso acontecesse, ele teria uma semana difícil nas vendas. Ele corria e dava um produto só para não ver o seu primeiro freguês saindo de mãos vazias. Haviam muitos outros comerciantes em Oriximiná e a competição não era fácil. Ele recebia seus produtos através de caixeiros viajantes que chegavam até lá com as encomendas previamente estabelecidas. Um desses caixeiros, me contou o meu pai, que também trabalhou no balcão com meu avô, representava os perfumes “Royal Briar”, muito famoso na época e bem conhecido da população de Oriximiná. O tal


caixeiro viajante deixou de vender para meu avô, dando preferência para os outros comerciantes. Meu avô não gostou muito da postura desse caixeiro. Poucos dias depois, uma pessoa muito conhecida na cidade veio a falecer, os parentes foram até a Casa Israelita comprar algo para o velório. Meu avô, que sempre trazia as novidades de Belém lamentou a morte e fez a doação de um vidro do perfume Royal Briar para se usado no corpo do falecido durante o funeral, informando que era uma moda muito nova em Belém: a de perfumar bastante o defunto para o velório. E assim foi feito. A partir desse velório o famoso Royal Briar ficou conhecido em Oriximiná como o perfume do defunto. As vendas do perfume encalharam. O caixeiro viajante não conseguiu cumprir com as suas metas.

ele poderia conduzir seus negócios da maneira que o fez, dependendo das circunstâncias e motivação pessoal. Jacob desenvolveu em Alenquer uma relação profunda com todos os moradores, adotando o baixo Amazonas que conhecia muito bem como a sua terra. Foi lá que ele entrou no ramo da cerâmica, pioneiro em toda a região, produzindo tijolos e telhas em sua olaria Yaci. Aliou-se às principais lideranças locais, tornouse um dos assíduos da Loja Maçônica e construiu a sede Internacional Futebol Clube.

A identidade marroquina de Salé, pela sua história, sua cultura e suas maneiras de relacionar com os outros em suas diversas línguas, (Berber, Árabe, Judeo-árabe, haquitia, ah’biach e Ladino), se integra, nessa imensa diáspora dos judeus marroquinos na Amazônia, criando A história de meu avô representa assim uma ampla rede internacional muito dos processos envolvidos nas de comunicação e comércio oriundo transformações socioeconômicas do de um mercantilismo baseado Baixo Amazonas. Apesar de sua vida na República de Buregregue que de imigrante, seu sucesso econômico antecede o capitalismo globalizado contemporaneidade. Jacob foi também singular, pois somente da

Athias, de Salé, faleceu em Alenquer, sendo sepultado com todas as honras da tradição dos judeus sefarditas do Marrocos, no dia 31 de agosto de 1974, sem jamais ter retornado a sua terra natal. A biografia de Jacob é ao mesmo tempo extraordinária e comum, idêntica e diferente de muitas outros judeus, que fizeram e continuam fazendo parte do povo do Baixo Amazonas.

Notas: [1] Agradeço a minha prima Gisèle Fhima Rainglas, nascida em Salé, de ter me apresentado a Haïm Zafrani e a toda a sua literatura sobre o Marrocos Judaico.

[2] Agradeço a Emilie Stoll por me mostrar esse mapa, em um delicioso almoço em um restaurante ao lado do Museu de História Natural, Jardin des Plantes, em um início da primavera de 2017, em Paris. Para ser melhor visualizado basta clicar nesse link abaixo. Tem uma ótima resolução através do site da Universidade de Stanford nos E.U. https://searchworks.stanford. Jacob Athias com o seu inseparável panamá e o seu time dos edu/view/2940277

casados em Alenquer (Acervo do Ximango Dilson Athias Mesquita)

[3] Obrigado a Yehuda Benguigui por lembrar outros nomes de judeus marroquinos que vieram de Salé. [4] http://www.explorelemonde. com/negocier-souks-maroc/ Renato Athias, é Etnólogo, professor Associado do Programa de PósGraduação em Antropologia e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE) da Universidade Federal de Pernambuco e Professor do Master Interuniversitário da Universidade de Salamanca, na Espanha. 13


LITERATURA: ENSAIO

NOTAS SOBRE TRAIÇÃO,TRADIÇÃO E TRANSMISSÃO EM "JUDAS", DE AMÓS OZ * **Por Ilana Feldman

No texto intitulado Carta aos Judeus, o rabino brasileiro Nilton Bonder explica que são quatro os patriarcas do povo judeu e que cada um reflete uma distinta tensão na relação com a tradição:

C

pôs o casaco sobre o kitbag e também a bengala e o chapéu. E perguntou a si mesmo. Se o jovem Shmuel precisou de centenas de páginas para levar a termo sua jornada de autorreflexão, Nilton Bonder sempre soube interrogar a si mesmo e a tradição. Em Cartas aos Judeus, o rabino defende que o judaísmo ou a identidade judaica se faz por vínculo com o coletivo e não por crença. Segundo essa perspectiva, os judeus não seriam um grupo étnico no sentido genético, sendo Chama a atenção a geração de Jacó, judeu não quem tem mãe judia, geração dos reformistas (na qual se mas quem estabelece um vínculo de enquadra o próprio rabino), geração responsabilidade para com o outro, que, segundo a definição, não saberia para com o coletivo. perguntar. Será? Judas, de Amós Oz, não por acaso termina, na página De acordo com Bonder, o pacto de 350, com a seguinte passagem: Abraão não é teológico ou ontológico

hacham: é a origem desse pacto (Abraão). Seriam os ortodoxos - envolvidos. Tam: é a geração passiva e cega (Isaac). Seriam os conservadores – superficialmente envolvidos. She ló iodeah: o que não sabe perguntar: é a geração que se afasta e vive longe das moradas dos pais (Jacó). Seriam os reformistas – distantes. Rashá: é a geração que abandona a casa dos pais, mas reconsidera e volta (José). Seriam os seculares – assimilados.

Shmuel continuou ali em pé, no meio da rua deserta. Baixou do ombro o kitbag, depositou-o no asfalto empoeirado. Com cuidado, 14 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

de Abrão aos rabinos modernos, há ênfase no coletivo humano e pouco interesse, seja marginal ou apócrifo, no sobrenatural e na própria ideia de divindade. “O divino nos é interdito, sua forma e seu nome nos são vedados, e há censura ao asceta, ao eremita e ao fanático”. Portanto, para o rabino e sua perspectiva radical (aquela que vai, literalmente, à raiz do sentido), a identidade judaica não tem sua origem em teologias dogmáticas, mas em rituais e observâncias, que são instrumentos de sustentação desse exercício coletivo e não instrumentos de culto, de credo e de fanatismo.

e não estabelece doutrina. Antes, o pacto é o compromisso com algo futuro, no sentido do vínculo, da Também Amós Oz, em ética e da transmissão. Daí porque, Os Judeus e as Palavras,


belíssimo ensaio escrito com sua filha, Fania OzSalzberger, compartilha essa mesma premissa. Dizem eles: A continuidade judaica sempre se articulou em palavras proferidas ou escritas, num sempre expansível labirinto de interpretações, debates e discordâncias, e numa interação humana única. Na sinagoga, na escola e, a cima de tudo, em casa, esta interação sempre envolveu duas ou três gerações em conversas profundas.

A nossa não é uma linhagem de sangue, mas uma linhagem de texto (...). Tal continuidade tem sido recentemente questionada: não houve coisa alguma de ‘nação judaica’, nos dizem, antes de os

ideólogos modernos a conceberem. Bem, nós discordamos. Não porque sejamos nacionalistas. Um dos propósitos desse livro é reclamar nossa ancestralidade, mas outro é explicar que tipo de ancestralidade, na nossa opinião, é digno de esforço de ser reclamado. Não estamos falando de pedras, clãs ou cromossomos. Não é preciso ser arqueólogo, antropólogo ou geneticista para traçar e substanciar um continuum judaico. Não é preciso ser judeu. Ou, quanto a isso, ser antissemita. Basta ser um leitor. Para Amós Oz e Fania Oz-Salzberguer, a continuidade judaica digna de ser reclamada seria aquela basicamente textual, já que a nacionalidade judaica histórica, étnica ou genética é um relato de fratura e de calamidade. “Tanto sangue, tanto

de conversos como de inimigos, de emblemáticos khazares e cossacos, pode estar correndo em nossas veias”, especulam pai e filha. Apesar disso, existe uma

linhagem judaica, mas essa linhagem, afirmam, é feita de palavras. Nesse sentido, de acordo com a visões de Amós Oz, Fania Oz-Salzberger e Nilton Bonder, sentir-se responsável pelo coletivo e ser hospitaleiro ao outro, ao estrangeiro, é um valor primordial, entendendo que esse coletivo nunca é nem pode ser hegemônico, mas múltiplo, plural, atento às diferenças e ao diferente, não-idêntico, não-igual. Daí que ser parte do coletivo, isto é, ser parte de uma tradição de práticas, ritos e palavras, é poder ser transgressor a essa mesma tradição, é poder ser até mesmo um traidor, mas desde que essa traição ou transgressão não implique a perda da responsabilidade para com o coletivo. Na tradição judaica, rabínica, talmúdica, o coletivo é feito de dissenso (e não simplesmente de consenso), de controvérsias, de 15


LITERATURA: ENSAIO tensões, de conflitos, de dialética. E é justamente aí que reside sua dimensão política. Querer suprimir os conflitos, as tensões e as distâncias, jogando-as para debaixo do tapete da tradição é, nesse sentido, excluir-se do espaço

Não é por acaso que tanto em Judas, último e monumental romance de Amós Oz, quanto em A Alma Imoral –Tradição e Traição através dos Tempos, importante livro do rabino progressista Nilton Bonder, o que está em jogo é a transvaloração

do pensamento crítico e dissenso. A traição, portanto, ao contrário da condenação desastrosa que, a partir da história fundadora de Judas Iscariotes, o traidor, recaiu e tem recaído há dois mil anos sobre os judeus, poderia ser lida e revista nessas duas obras como um valor. No romance de Amós Oz, Judas Iscariotes, aquele que foi “o primeiro e o último dos cristãos”, o único dos apóstolos a acreditar na divindade de Jesus e a sacrificar a própria vida, e Shaltiel Abravanel, quem discordou até o fim da política militarista, identitária e nacionalista implementada por David Ben Gurion, quando da formação de um Estado Nacional (sendo por isso silenciado e banido), foram condenados, para todo o sempre, por terem sido traidores, quando, na verdade, eles só traíram

porque propuseram outra forma de vínculo com o coletivo. Nesse contiuum, nessa linhagem de palavras e traição que Judas estabelece, o protagonista Shmuel, cujo avô, Antek, também fora assassinado por ser considerado um traidor (era agente duplo e falsificador de documentos), será o próximo a trair, porque, simplesmente, ao se colocar questões, ao se perguntar, ao escapar de um modelo patriarcal e falocêntrico de política e de cultura, trai o “culto ao militarismo”, a “embriaguez da vitória”, o “ufanismo nacional” (pag.332). comunitário e dissolver-se na egolatria e no culto ao indivíduo, no “Egito da personificação”, como diria o rabino. Isso sim seria “trair” o coletivo, no sentido negativo em que costumeiramente compreendemos a traição. 16 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

do sentido negativo e costumeiro de traição. Para Oz e Bonder, sem traição não poderia haver tradição, entendendo a traição como transgressão, subversão, desierarquização, desvio, deslocamento, exercício

Como está claro ao longo de todo o romance, Shmuel é um outro tipo de homem, um pouco atrapalhado, até mesmo infantil, asmático, piedoso, em nada viril ou tipicamente corajoso. Shmuel duvida, hesita,


interroga, pondera. Está longe do fanatismo, do sionismo ultranacionalista, da crença cega no militarismo e na identidade como único e superior valor.

Como curar um Fanático?), mas chamá-lo de humanista ou pacifista parece muito pouco, insuficiente. Afinal, bem sabemos para onde o credo antropocêntrico, com sua escolha daquilo que deve ou não Shmuel é o avesso de Alexander ser considerado humano, aliado Guideon, o professor de Teoria ao amor santificado e universal, Política protagonista de A Caixa já nos levou, sempre em nome do Preta, especializado em terrorismo, “conserto do mundo”, das guerras porém em tudo cruel, frio, racional santas e mundiais à destruição do e calculista. Shmuel é o avesso de planeta, passando por toda forma de um mundo organizado em torno terror. da hierarquia, do pragmatismo, do cálculo, da racionalidade cínica e Na contramão de toda forma de do fanatismo militarizado. Shmuel, fanatismo e de um humanismo nesse sentido, está ao lado da galeria prepotente, Amós Oz talvez de personagens femininas de Amós esteja, antes de tudo, ao lado Oz, como Ilana Sommo, de A do feminismo, entendendo seu Caixa Preta, Hana Gonen, de Meu feminismo menos como um “ismo”, Michel, e Noa, de Não diga Noite, um movimento em que haveria um para citar apenas algumas. Assim suposto consenso, do que como como todos os traidores, não seria uma perspectiva feminina descabido dizer que, do ponto de que se opõe a todo e vista da cultura, Shmuel é mulher. qualquer fundamentalismo,

sua dimensão imoral, que muitas vezes ameaça contundentemente o próprio corpo, é o lugar onde cada um de nós briga com seu Deusdestino – e, dessa contenda, se inventa.

Amós Oz, tantas e tantas vezes considerado um traidor em Israel, sabe que saber perguntar a si mesmo, se interrogar, não obedecer cegamente a nenhum imperativo (político, militar, religioso), é o que garante, na tradição judaica, a relação entre o pessoal e o coletivo. Shmuel, ao ser capaz de perguntar a si mesmo, exerce um contraponto a todo fanatismo, já que o fanático, segundo o escritor, sendo “um ponto de exclamação ambulante”, é aquele que “já tem todas as respostas prontas e não está interessado em nenhuma pergunta1”. E, sem perguntas, não há compromisso com o futuro, com machismo e sionismo de os que virão depois de nós, pois vertente ultranacionalista. não há transmissão. É justamente aí que reside o caráter decisivamente A traição, nesse sentido cultural, político da literatura. seria um valor feminino, mesmo que protagonizado por homens, pois * Publicado no portal Pinat Brasil – não se trata de gênero ou de genética, Conversa Judaica em uma Esquina mas de posição e posicionamento Brasil, dossiê “Amós Oz - Contra o no interior de práticas, crenças e fanatismo”, em 29 de março de 2016. discursos. Segundo A Alma Imoral, a traição seria a dimensão transgressora ** Doutorada em Cinema pela Escola da alma (entendendo a alma como de Comunicações e Artes da USP e parte do corpo) em contraposição ao Pòs-doutora em Teoria Literária pelo corpo moral, o qual sempre visa sua Instituto de Estudos da Linguagem da autopreservação. UNICAMP

Mas é em Pantera no Porão, romance de 1999, que a questão da traição aparece, talvez pela primeira vez, na obra de Amós Oz, quando, em 1947, durante o Mandato Britânico, um garoto de doze anos, membro imaginário da resistência judaica clandestina, faz amizade com um sargento inglês. O garoto, que pensa estar extraindo do inimigo importantes segredos militares, é, entretanto, acusado de traição por seus companheiros e, décadas mais tarde, se torna um escritor. Como se costuma dizer de um tradutor, o A escritor é um traidor.

traição seria aquilo que, entre o cumprir e o A obra de Amós Oz tem sido transgredir, faz a vida uma permanente batalha contra mesma evoluir, frutificar, o fanatismo (nome aliás de um diferir.

ensaio seu de 2004, recentemente Para o rabino Nilton Bonder, a reeditado no Brasil com o título verdadeira alma é transgressora e

Ver programa Roda Viva com participação de Amós Oz, em 02/01/2012: https://www.youtube.com/ watch?v=4v7VrlF2NUU

17


IDENTIDADE E TRADIÇÃO

A DESCOBERTA DA AMAZÔNIA JUDAICA *Dina Paula Santos Nogueira

Ao pensar sobre o que escrever neste artigo considerei que seria uma aventura interessante falar acerca de minha experiência na descoberta da Amazônia Judaica e do desdobramento desta descoberta: a escrita de uma Monografia e de uma Dissertação de Mestrado cujos temas eram a Comunidade Judaica de Manaus

E

ra o ano de 2008 e eu nem sequer tinha conhecimento da existência de uma comunidade judaica em Manaus, até que num desses dias (mais precisamente no dia 04/06/2008) em que passeamos desinteressadamente por algumas livrarias, me deparei com a edição comemorativa do livro Eretz Amazônia (3ª edição) escrito pelo professor Samuel Benchimol. Logo de cara fui atraída pela capa cujos elementos, em preto e branco, faziam referência à tradição judaica. Ao ler o sumário, me identifiquei rapidamente com os tópicos ali destacados tais como a Inquisição portuguesa e espanhola, que eu já estudava havia um ano, e dois novos pontos: o judaísmo marroquino, que eu realmente não tinha referências e o judaísmo na Amazônia, cuja singularidade me encantou. Folheei com interesse e, como gostei tanto do livro, fui presenteada por meu esposo com um exemplar. A partir desse momento fui envolvida com palavras que antes sequer sabia da existência: aljamas, melahs, haquitia, megorashim, tochabim, esnogas, tzadic, entre

18 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

outros. Durante a fase inicial das pesquisas, outro mundo se abriu e pude acessar, ainda que superficialmente, a história dos judeus desde sua saída forçada dos países ibéricos, Portugal e Espanha, sua travessia para o norte da África, em especial para o Marrocos, e a experiência de 300 anos deste grupo nestas terras marroquinas. A história da Amazônia veio com um gosto mais especial, entrelaçada com as vivências judaicas na região. Foi interessante observar o caminho traçado pelos judeus no Norte do Brasil. Outra realidade, desta vez a interiorana, se abriu e pude tomar conhecimento dos lugares por onde as gerações de judeus marroquinos se estabeleceram no Pará e Amazonas. Fiquei tão envolvida com a história apresentada no livro Eretz Amazônia (2008) escrito pelo professor Samuel

Benchimol, que em dois momentos da minha trajetória acadêmica, a escrita da Monografia de conclusão do Curso de Serviço Social na Faculdade Nilton Lins (2010) e da Dissertação de Mestrado em


Sociologia pela Universidade Federal do Amazonas (2015), o judaísmo no Amazonas foi a escolha mais acertada para o tema. Este foi sem dúvida o start que eu precisava, mas sem o auxílio de pessoas especiais, dificilmente eu teria conseguido iniciar ou mesmo finalizar estes projetos. Entre elas cito: Anne Benzecry Benchimol que, com tanta simpatia, abriu as portas do Comitê Israelita de Manaus (CIAM) auxiliando em todas as etapas das pesquisas. Seu empenho e cuidado com a Comunidade foram inspiradores. Anne Benchimol me forneceu muito material bibliográfico, relatou muitas histórias que conhecia, permitiu minhas visitas às cerimônias realizadas na Sinagoga, e, acima de tudo, foi minha fonte de inspiração quando decidi escrever a Dissertação cujo tema era a mulher judia e minha satisfação foi maior ainda quando Anne tornou se a primeira mulher a presidir o CIAM, isso, justamente nos anos em que eu escrevia sobre o tema. Quando iniciei a fase pesquisa bibliográfica encontrei na internet um site chamado Amazônia Judaica, entrei em contato com os responsáveis e fui prontamente atendida assim, conheci os irmãos Elias e David Salgado que desde o primeiro contato foram extremamente atenciosos. Elias Salgado compartilhou comigo muito material bibliográfico (dissertações, monografias e artigos) que tratavam desse mesmo tema. Foi também meu “orientador postiço”, com quem troquei inúmeros emails durante toda a escrita de minha Dissertação e quem, muitas vezes, me salvou do “branco da escrita”.

Quando eu estava sem saber que pontos seriam relevantes abordar, Elias me apresentava uma questão interessante para que eu refletisse. Essas interrogações quase sempre resultavam em um tópico significativo para a discussão que eu desejava travar no texto e me davam novo animo para seguir em frente. Além desses, os próprios membros da Comunidade com quem conversei e aqueles que gentilmente aceitaram participar das entrevistas compartilhando suas historias e a historia de suas famílias,

foram importantíssimos para o desenvolvimento das pesquisas. Não sei como poderia agradecer por tamanha confiança! Após esse relato de como a historia dos judeus na Amazônia chegou ate mim e como fui presenteado com pessoas que contribuíram significativamente com minhas pesquisas, apresento brevemente nas próximas páginas, a experiência de escrita destes dois trabalhos e as principais questões encontradas.

A tradição e as mulheres da comunidade judaica de Manaus: uma nova descoberta Após concluir a etapa da Graduação, a temática acerca do judaísmo amazônico voltou a ocupar meus dias de pesquisa quando ingressei, em 2012, no Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal do Amazonas, mas desta vez o foco seriam as mulheres desta comunidade e no papel da tradição para construção de suas identidades. Para um norte teórico, considerei a definição da identidade judaica,

conforme a Halachá, destacando-a como um dos muitos elementos significativos de um corpo amplo de tradições judaicas que estão em constante transformação. Também considerei a Tradição como um traço da cultura, utilizada pelos grupos sociais como forma de realizar o movimento de conexão com o presente e futuro a partir de um passado comum. De maneira geral, a tradição “mantém a confiança na continuidade do 19


IDENTIDADE E TRADIÇÃO passado, presente e futuro, e vincula esta confiança a práticas sociais rotinizadas” (GIDDENS, 1991, p. 118). Serve como uma referência identitária, que por meio de um conjunto destas tradições, delimita as fronteiras entre os “de dentro” e os “de fora”. Como meu objetivo era identificar de que forma as mulheres judias percebiam e vivenciavam a tradição judaica e em que medida os elementos ligados a essa tradição eram importantes para a construção da identidade dessas mulheres, busquei, através das pesquisas bibliográficas e entrevistas, desvelar aspectos relacionados às vivências e práticas a partir dos padrões religiosos tradicionais. Assim, tive as seguintes respostas às minhas questões:

O que é ser judeu Durante pesquisa pontos como respeito às tradições, vivência religiosa diária, convívio ético com outras pessoas, nascimento e conversão foram apontados pelas entrevistadas ao se referirem às características que definem o que é ser judeu (NOGUEIRA, 2015). As mulheres que nasceram em um lar judaico surpreenderam-se com a pergunta. Para elas, ser judeu é algo dado, faz parte de sua essência, não precisando de definições. Entre as convertidas ao judaísmo, pude notar que a identidade judaica foi se firmando a partir das relações que essas mulheres mantiveram ao longo de suas vidas, das trocas com os familiares e com a comunidade. Mas, ambos os perfis, destacaram pontos como “respeito às tradições, vivência religiosa diária, convívio ético com outras pessoas, nascimento e conversão foram apontados pelas 20 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

entrevistadas ao se referirem às tradição sefaradita marroquina é características que definem o que é ser chamada Fadas. Esse nome tem judeu”. (NOGUEIRA, 2015, p. 55) grande importância para os judeus, pois se insere na ença de que o nome Ciclos da vida judaica, Celebrações, regras da kashrut exerce influência sobre o caráter do indivíduo e que sua mudança pode e leis da pureza familiar afetar a pessoa, inclusive mudando Neste amplo campo que envolve seu destino (BENTES, 1989). a construção da identidade b) Bat Mitzvah: é realizado quando existem alguns elementos a menina faz 12 anos de idade e culturais e rituais que contribuem serve para conferir sua maioridade para o autorreconhecimento e religiosa. Os rituais de iniciação, além fortalecimento do sentimento de todo o seu significado simbólico, de pertencimento à comunidade que é o de indicar a incorporação judaica como: rituais de nascimento, de um novo membro ao grupo, maioridade, casamento, morte, conferem também ao iniciado a educação judaica, uso da responsabilidade de transmitir, ele língua hebraica, e dos dialetos , mesmo, o legado às futuras gerações convívio com outros membros da (HERVIEU-LÉGER, 2008). comunidade, frequência à sinagoga, No caso específico do Bat Mitzvah entre outros. Levando estes aspectos “a ideia fundamental [...] consiste em consideração, destaquei alguns em reconhecer a importância da que pareciam muito significativos, mulher na vida judaica, tanto no assim temos: ambiente sinagogal como no lar, já a) Simchat Bat: Assim como os que dela dependerá, assim como do meninos, a menina, ao nascer, pai, a educação religiosa dos filhos e recebe um nome hebraico, na a manutenção dos valores judaicos no cerimônia de Simchat Bat, que na lar (SCHLESINGER, 2007, p. 25).


Todas as entrevistadas destacaram qual era para elas o significado desta celebração: viver por completo as etapas da vida judaica e sentir-se segura para dar continuidade às tradições judaicas. Além de ter uma importância social de congregar as amigas e servir como um reconhecimento perante a comunidade. c)Casamento endogâmico X casamento exogâmico: os chamados casamentos mistos (exogâmicos), formados a partir da união de um judeu com um não judeu é um ponto que preocupa as comunidades, pois influencia diretamente o seu crescimento. Apesar de algumas entrevistadas relatarem já ter se relacionado com não judeus, elas foram unânimes

em afirmar que este relacionamento é difícil e que é preferível se casar com judeus para que consigam conciliar sua tradição na hora da criação dos filhos, assim como para evitar decepcionar os familiares e até mesmo para preservar o

grupo judaico de um possível desaparecimento. d) Sobre as Nerot, o acendimento das velas de Shabat, as entrevistadas declararam que raramente realizam este rito em suas casas, mas aproveitam o momento em que são acesas na Sinagoga. e) Sobre as leis dietéticas, o denominado Kashrut, que orienta os judeus sobre aquilo que podem ou não consumir, algumas entrevistadas relataram que apesar de não seguir tão estritamente as leis dietéticas, procuram se abster de alimentos considerados impuros. Neste caso, a preocupação com as regras é mais para evitar os alimentos proibidos do que propriamente consumir aqueles que tenham um selo de pureza. Assim, de uma maneira geral: “Comprar louças novas a cada ano para a celebração de Pêssach, substituir o peixe fresco por sardinha enlatada, doações em dinheiro ao invés do sacrifício de animais na véspera do Yom Kippur, tudo isso revela os meios que os judeus e o judaísmo 21


IDENTIDADE E TRADIÇÃO em Manaus encontra para manter-se atendendo as expectativas da modernidade” (NOGUEIRA 2015, p. ).

Sobre o papel da mulher no judaísmo Em muitas tradições culturais e religiosas existem uma expectativa diferente quanto ao comportamento de homens e mulheres. Dentro do judaísmo, dependendo da corrente à qual pertencem, pode haver uma distinção clara de papéis. Estes relatos significativos me fizeram perceber que as questões que norteiam essa pesquisa e que aos olhos de uma outsider, eu mesma, parecem tão importantes, podem, muitas vezes, não ser o ponto principal das preocupações dessas mulheres judias e de suas comunidades. Assim, apesar de não seguirem estritamente os preceitos religiosos e abrirem mão de muitos elementos tradicionais, essas mulheres desejam a conexão com sua identidade étnica mesmo que num contexto diferenciado dos papeis de homens e mulheres. Acerca deste ponto as mulheres que entrevistei responderam que o papel principal da mulher é o da transmissão do judaísmo aos filhos pelo nascimento e pela instrução. A mais velha das entrevistadas destacou a forma tradicional de comportamento das mulheres de sua família – elas eram donas de casa, se ocupavam com os afazeres do lar, filhos, marido, e deviam cumprir os requisitos religiosos sem interferir nas atividades que eram consideradas próprias dos homens (NOGUEIRA, 2015). As mais jovens concordam em parte com este discurso, pois consideram 22 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

que as mulheres deveriam ter mais participação no âmbito religioso sinagogal, pois acreditam na igualdade entre homens e mulheres, mas entendem que “tradições são difíceis de mexer” (NOGUEIRA, 2015, p. 111). Em resumo podemos inferir que:

Considerações finais e a celebração da Amazônia Judaica.

Esta aventura que foi “descobrir” a Amazônia Judaica abriu espaço para a reflexão sobre tradição, identidade, gênero, memória coletiva, sobrevivência de culturas, entre outros temas significativos para o estudo de “algumas mulheres aceitam a ordem grupos étnicos e suas especificidades. religiosa estabelecida, outras acreditam Do momento em que conheci o que isso deve mudar, mas preferem não livro Eretz Amazônia até a defesa interferir em aspectos tradicionais tão final da Dissertação de Mestrado antigos, e existem ainda mulheres que pude conhecer um pouco mais da desejem realizar seu projeto de vida fora de história judaica no Norte do Brasil qualquer coerção religiosa” (NOGUEIRA, percebendo as singularidades desse grupo. 2015 apud AZRIA, 1996).


Desde a chegada dos pioneiros, aqueles jovens que deixaram a casa paterna a fim de desbravar a Amazônia, passando pelas pequenas comunidades do interior da região Norte, pelos empresários que garantiram seu espaço durante o ciclo da borracha, daqueles que souberam se reinventar explorando os produtos regionais dando uma alternativa para a economia amazonense em seu momento de crise, dos empreendedores que surgiram a partir da criação da Zona Franca de Manaus, dos jovens estudantes e posteriormente profissionais, médicos, advogados, professores, administradores, etc., percebe-se o quanto esta comunidade tem estado em constante transformação. Hoje este grupo não pode ser considerado igual àquele de tradição marroquina que chegou a Manaus a partir de 1810, mas em sua singularidade têm trabalhado para manter um corpo mínimo de tradições necessárias à sua perpetuação. Neste contexto, a Amazônia Judaica tem um papel significativo, pois nestes 15 anos de existência divulgando o judaísmo amazônico para todo o mundo, contribuiu e acredito, continuará contribuindo, com o fortalecimento da identidade judaica na região.

A Amazônia judaica com sua Revista, Blog, livros publicados, trabalhos relacionados ao judaísmo amazônico catalogados, contribui para a manutenção da memória coletiva do grupo fortalecendo os vínculos identitários de seus membros. É um trabalho incessante, muitas vezes pouco reconhecido, mas que deixará como legado histórias que conectarão as futuras gerações com seu próprio passado além de facilitar o caminho, por meio do registro dedicado dos dados relativos ao grupo judaico no Norte do país, daqueles que um dia queiram se debruçar sobre a linda história da imigração, chegada e permanência dos judeus na região. O cuidado que os irmãos Elias e David Salgado têm em criar projetos mostra o quão dedicados são em sua tarefa de registro da historia de seu povo. Revela o compromisso com as gerações passadas e, principalmente, com as futuras, pois ao produzirem conteúdo sobre o judaísmo, conferem um legado aos jovens que poderão recorrer a estes conteúdos sempre que precisarem. Estou muito feliz por fazer parte desta “produção de conteúdo”, por contribuir de alguma maneira com um projeto tão significativo, cuja importância não é só para a comunidade judaica, mas para a sociedade como um todo, pois conta a história de um grupo que contribuiu para o crescimento da região norte e merece por isso, ter seu legado preservado. Vamos celebrar esses 15 anos da Amazônia Judaica felicitando seus fundadores por este árduo, mas lindo trabalho!

REFERÊNCIAS AZRIA, Régine. In: Archives des sciences sociales des religions, n. 95, 1996, p. 117-132. Disponível em: <http://www.persee.fr/web/ revues/home/prescript/article/assr_03355985_1996_num_95_1_1039>. Acesso em: jul. 2014. BENCHIMOL, Samuel. Eretz Amazônia – Os judeus na Amazônia. 3ª ed. revista. Manaus: Valer, 2008. BENCHIMOL, Samuel. Judeus no Ciclo da Borracha. Edição Xérox. Manaus, 1994. BENTES, Abraham Ramiro. Das ruínas de Jerusalém à verdejante Amazônia – Formação da primeira comunidade Israelita Brasileira. Rio de Janeiro: Bloch, 1987. Primeira comunidade Israelita Brasileira: tradições, genealogia, pré-história. Rio de Janeiro: Gráficos Borsoi, 1989. GIDDENS, Anthony. As consequêncIas da modernidade. Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Editora Unesp, 1991. HERVIEU-LÉGER, Danièle. O Pregrino e o Convertido: a religião em movimento. Tradução de João Batista Kreuch. Petrópolis: Vozes, 2008. LIBERMAN, Maria. Judeus na Amazônia brasileira, séculos XIX e XX. Tese de doutorado, USP, 1990. LOUREIRO, Antônio. A grande crise. 2ª ed. Manaus: Editora Valer, 2008. NOGUEIRA, Dina Paula Santos. Identidade e Tradição: Um estudo sobre as mulheres da Comunidade Judaica de Manaus. Dissertação apresentada à Universidade Federal do Amazonas como parte das exigências do Programa de PósGraduação em Sociologia para a obtenção do título de Mestre. Manaus, 2015. SANTOS, Dina Paula Pinheiro. A participação da Comunidade Judaica no desenvolvimento da Economia de Manaus: do Ciclo da Borracha a zona franca de Manaus. Monografia apresentada ao Curso de Serviço Social no Centro Universitário Nilton Lins. Manaus, 2010. PONTES FILHO, Raimundo Pereira. Estudos de História do Amazonas. Manaus: Editora Valer, 2000. SANTOS, Francisco Jorge dos. História geral da Amazônia. Rio de Janeiro: Memvavmem, 2007. SCHLESINGER, Michel. Curso de Introdução ao Judaísmo. Congregação Israelita Paulista, 2007. SOUZA, Márcio. História da Amazônia. Manaus: Editora Valer, 2009. 21


CAPA

ARTE NAIF:

PUREZA E ESPONTANEIDADE EM

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Não seria o Naif esta expressão artística, despretensiosa, pura, oriunda do estado da simplicidade e

FORMA DE PINTURA destituída das coisas do meramente opulento, para vingar uma expressão próxima ao princípio de tudo, como um retorno ao estado mais natural possível e primordial das coisas e da vida; e com um tom de pouco convencional?

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CAPA

“Carnaval Nos Arcos Da Lapa”, Heitor Dos Prazeres

O

s naïfs, em geral, são autodidatas e sua pintura não é ligada a nenhuma escola ou tendência. Essa é a força desses artistas que podem pintar sem regras, nem constrangimentos. Podem ousar tudo. São os “poetas anarquistas do pincel”. Definição O termo Arte Naïf aparece no vocabulário artístico, em geral, como sinônimo de arte ingênua, original e/ou instintiva, produzida “Abaporu”, Djanira por autodidatas que não têm formação culta no campo das artes. Nesse sentido, a expressão se confunde frequentemente com Arte Popular, Arte Primitiva e Art Brüt, por tentar descrever modos expressivos autênticos, originários da subjetividade e da imaginação

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criadora de pessoas estranhas à tradição e ao sistema artístico. A pintura Naïf se caracteriza pela ausência das técnicas usuais de representação (uso científico da perspectiva, formas convencionais de composição e de utilização das cores) e pela visão ingênua do mundo. As cores brilhantes e alegres - fora dos padrões usuais -, a


simplificação dos elementos decorativos, o gosto pela descrição minuciosa, a visão idealizada da natureza e a presença de elementos do universo onírico são alguns dos traços considerados típicos dessa modalidade artística. O Naif no Brasil O Brasil junto com a França, a exIugoslávia, o Haiti e a Itália, é um dos “cinco grandes ” da Arte Aaïf no mundo. Um grande número de obras de pintores naïfs brasileiros faz parte do acervo dos principais museus de Arte Naïf existentes no mundo. A pintura Naif brasileira é muito rica e cheia de imprevistos. Devido à diversidade de temas relativos à fauna, à flora, ao sincretismo religioso e às suas várias etnias, o Brasil ocupa lugar de destaque no contexto mundial de Arte Naïf. Aqui no Brasil existem vários mestres reconhecidos internacionalmente, como Antônio Porteiro, Djanira, Heitor dos Prazeres, Gérson, José Antônio da Silva, Iracema Arditi, Maria Auxiliadora, Waldemiro de Deus, Chico da Silva e Outros. O Naif e a iconografia judaica religiosa A iconografia sacra judaica (ketubot

Ketubá elaborada por Eliezer Elmaleh (Lázaro Salgado), no amazonas no início do século XX)

e outros documentos religiosos, livros, meguilot e etc,) não pode ser classificada como Naif, uma vez que este é sempre pintura e a iconografia sacra é uma ilustração ou gravura. Porém, entendemos que em vários aspectos, principalmente, os ligados à essência das duas manifestações artísticas, há uma grande correlação: o autodidatismo, a livre expressão dentro do tema proposto – o elemento da religiosidade, no caso da iconografia judaica; a origem popular dos artistas/escribas, a autenticidade, a simplicidade e a pureza dos 27


CAPA elementos; apenas para enumerar alguns, dentre outros diversos. Alguns manuscritos hebraicos foram produzidos em oficinas cristãs, enquanto outros foram feitos por artistas

judeus para seu próprio uso. Um sidur ashkenazi se destaca como um exemplo de um artista-escriba judeu, influenciado pela cultura visual de seu tempo, que desenhou modelos, motivos e técnicas especializadas na Alemanha do século XV para ilustrar seu livro de oração. Os manuscritos hebreus compartilhavam iconografia com outros manuscritos da mesma área geocultural. Os manuscritos hebraicos italianos recordam, portanto, o cenário da Itália central e retratam as mesmas plantas e animais que aparecem em manuscritos latinos produzidos em oficinas locais, como o famoso atelier de Taddeo Crivelli em Ferrara. O unicórnio mitológico era um ícone compartilhado cujo significado simbólico dependia do gênero ou contexto. Na iconografia cristã, o unicórnio, descansando com os pés no colo da Virgem, simboliza a encarnação de Cristo; Enquanto na tradição judaica representa a redenção final de Israel. (Fonte: Oxford University) O Naif israeli de temática judaica Israel é sem sombra de dúvidas, um dos mais destacados centros de produção da Arte Naif em todo o mundo, na atualidade. A temática de seus artistas, igual a maioria dos artistas de outros países expoentes do gênero, varia na mesma proporção da qualidade dos mesmos, ou seja, é rica e diversa. Destacamos, a seguir, apenas alguns expoentes, daquele país:

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Shalom Moskovitz, pintor nativo, nascido em 1896. Relojoeiro, geralmente conhecido como ‘’Shalom Mizfat‘’ (de Safed) ou ‘’Hazeigermacher‘’ (relojoeiro, em iídiche). Começou a pintar com 55 anos sob a influência de Yossl Bergner. Histórias pintadas da Bíblia, pinturas planas que relembram desenhos de

crianças, pinturas antigas e manuscritos ilustrados. Morreu em 1980. Gabriel Cohen, nascido em Paris, França, em 1933, o artista freqüentemente usa temas repetitivos em seu estilo, mas inteligentes, misturando-os para criar um mundo fantástico. Cohen mudou-se para Israel em 1949 e trabalha em Jerusalém desde então. Um mural de sua pintura “Around the World in 92 Days” - uma fantasmagoria de lugares famosos do mundo - atrai interesse para o Centro Gerard Bechar, perto do centro da cidade; A pintura original faz parte da coleção do Museu de Israel. Ele é um pintor Naif muito popular e ele foi exibido em todo Israel e no mundo. Paulina Eizirik

E mais: Michal Meron, Limor Porat, Heinz Seelig, Yeshayahu 29


CAPA

Arieh Wagner e o Mural do Museu Judaico de São Paulo


A ARTE POR ARIEH WAGNER

Quando observamos a cultura de um povo, seja ele qual for, inevitavelmente vamos observar as suas Arte por que e para que? cores, as suas formas de adorno, seus cantos suas O filósofo Nietzsche dizia que a arte existe para nos danças, suas narrativas... e o que é isso se não a arte? salvar. No entanto, o Poeta Ferreira Gullar foi muito E o Arieh nesta wvbe? Como é ele? mais preciso quando afirmou que: “ a arte existe Eu sempre tive uma ligação muito grande com as porque a vida não basta!” Partindo destas premissas artes. Passei pelo teatro, pelas artes circenses, por podemos afirmar que a arte é algo intrínseco à grupos de dança folclóricas, já escrevi roteiro para existência humana. documentários... Mas, nunca tive uma formação Na minha opinião as artes de uma maneira ampla artística propriamente dita! Nunca fiz uma faculdade são a mais fiel tradução da nossa alma e da nossa de artes, no máximo alguns cursos livres, e por pura humanidade. A produção do fazer artístico está curiosidade. Mas depois que tive contato com a Arte presente em todos os segmentos da humanidade, Naif fui aos poucos me envolvendo mais e mais. independente de raça, de religião, de geografia, e todos os segmentos humanos tem o seu fazer O Naif é um estilo libertador pois desmistifica a artístico. Não somente em forma de telas, quadros ou arte. Mesmo se você não sabe desenhar ou pintar, desenhos. A arte se expressa das mais diversas formas propriamente, você pode se expressar artisticamente. e é uma espécie de pedra angular na construção de É justamente a falta de técnica que acaba realçando todas as culturas desse planeta! a espontaneidade das obras no estilo Naif.

Arieh Wagner, pintando “Eretz Amazônia”

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CAPA Sheinfelde Raphael Perez, Chanan Mazl e Zor Sever, entre outras dezenas de artistas do gênero. Judeus e o Naif no Brasil É talvez fácil de explicar o fato de que tenha sido criado no Brasil, um dos poucos e mais conceituados museus, exclusivamente dedicados ao Naif, do mundo. Isso se explica, pelo visto anteriormente, de ser o Brasil, um dos maiores celeiros desta arte em todo o planeta. Curioso e também motivo de orgulho, e porque não? É fato de ter sido uma iniciativa de uma mulher de origem judaica. Trata-se da filha de imigrantes judeus alemães, Jacqueline Finkelstein, e o museu, o MIAN – Museu Internacional de Arte Naif, situado no bairro do Cosme Velho, no Rio de Janeiro. Triste é ter que constatar, que devido a total falta de apoio dos órgãos de cultura do país, Jacqueline se viu forçada a fechar o museu, em 2016. Toda a classe artística Naif, brasileira e mundial, torce muito para que a presente crise econômica vire coisa do passado ou mesmo que alguém ou algum organismo ou empresa, passe a olhar com outros olhas e apoie a iniciativa, antes que Jacqueline Finkelstein, não consiga mais resistir e desista de vez de seu tão importante projeto. Quanto aos artistas do gênero, de 32 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

origem judaica aqui em nosso país, daremos destaque a Paulina Eizirik z”l de Porto Alegre e Arieh Wagner, um representante do judaísmo sefaradi marroquino amazônico.

primoroso trabalho, feito a partir de São Paulo. Destaca-se entre vários outros, o gigantesco painel por ele criado para o Museu Judaico de São Paulo.

Arieh é um dos maiores estudiosos do judaísmo amazônico, com doutorado pela USP sobre o tema. Amigo querido, colaborador de primeira hora da Amazônia Judaica e agora membro de seu Conselho Editorial, o artista vem ganhando projeção nacional, com seu

No que tange ao tema específico dos judeus na Amazônia, Arieh Wagner é autor do quadro “Eretz Amazônia, judeus da Amazônia”, único em seu tema no gênero no país e quiçá em todo o mundo. O referido quadro foi doado ao MIAN e faz parte de seu acervo permanente.


BREVE HISTÓRICO A história da pintura naïf liga-se ao Salon des Independents [Salão dos Independentes], de 1886, em Paris, com exibição de trabalhos de Henri Rousseau (1844-1910), conhecido como “Le Douanier”, que se torna o mais célebre dos pintores naïfs. Com trajetória que passa por um período no Exército e um posto na Alfândega de Paris (1871-1893), de onde vem o apelido “Le Douanier” (funcionário da alfândega), Rousseau dedica-se à pintura como hobby. Pintor, à primeira vista, “ingênuo” e “inculto”, pela falta de formação especializada, dos temas pueris e inocentes, é responsável por obras que mostram minuciosamente, de modo inédito, uma realidade ao mesmo tempo natural e fantasiosa, como em A Encantadora de Serpentes, 1907. Seu trabalho obtém reconhecimento imediato dos artistas de vanguarda do período - como Odilon Redon (1840 -1916), Paul Gauguin (1848-1903), Robert Delaunay (1885-1941), Guillaume Apollinaire (1880-1918), Pablo Picasso (1881-1973), entre outros -, que vêem nele a expressão de um mundo exótico, símbolo do retorno às origens e das manifestações da vida psíquica livre e pura. Em 1928, o colecionador e

teórico alemão Wilhelm Uhde (1874 - 1947) - um dos descobridores do artista - organiza a primeira exposição de arte naïf em Paris, reunindo obras de Rousseau, Luis Vivin (1861-1936), Séraphine de Senlis (1864- 1942), André Bauchant (1837-1938) e Camille Bombois (1883-1910). Mais tarde, o Museu de Arte Moderna de Paris dedica uma de suas salas exclusivamente à produção naïf. No século XX, a arte naïf é reconhecida como uma modalidade artística específica e se desenvolve no mundo todo, sobretudo nos Estados Unidos, na ex-Iugoslávia e no Haiti. Em solo norte-americano, as inúmeras cenas da vida rural pintadas por Anna Mary Robertson (1860 -1961) - conhecida como Vovó Moses adquirem notoriedade quando a artista, autodidata, descoberta por um colecionador, completa 80 anos. Oriunda da tradição de retratistas amadores, a arte naïf norte-americana encontra expressão nas obras de J. Frost (1852-1929), H. Poppin (1888 -1947) e J. Kane (1860-1934). Na Inglaterra, o nome de Alfred Wallis (1855-1942) associa-se a navios à vela e paisagens. Descoberto em 1928 pelos artistas ingleses Ben Nicholson (1894-1982) e Christopher Wood (1901-1930), Wallis pinta com base na memória e na imaginação, em geral com tinta de navio sobre pedaços irregulares de papelão e madeira. Na ex-Iugoslávia, a arte naïf faz escola, na qual se destaca, por exemplo, Ivan Generalic (1914 -1992).

HENRI ROUSSEAU, The sleeping Gypsy, 1897, MoMA)

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NOSSO CONSELHO

MEJORADO

120 ANOS!!! A Editora Amazônia Judaica e toda a comunidade judaica da Amazônia e do Brasil, está em festa. Estamos completando 15 anos de atividades

34 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

A

J como é conhecida entre os mais próximos, foi criada, no Pessach de 2002, na cidade de Belém do Pará, pelo Chazan, pesquisador e jornalista, David Salgado. Até aquele momento, na comunidade judaica marroquina da Amazônia, apenas 4 iniciativas que merecem registro dessas iniciativas em quase 200 anos de história da presença judaica naquela região do país: a) O legendário e pioneiro periódico “A Columna”(“Haamud”) de David José Perez, primeiro jornal judaico em língua portuguesa no Brasil, editado no Rio de Janeiro, entre os anos de 1916 e 1917, porém com muitas referências das comunidades judaicas espalhadas na Amazônia; b) Kol Israel (A Voz de Israel) do Major Eliezer Levy, editado em Belém de 1918 a 1926; c) O “Gazeta Israelita” de Isaac Soares Assayag, que teve curtíssima duração, circulando apenas alguns meses, em 1948, pouco antes da fundação do Estado de Israel e que segundo registros encontrados até o momento, foi o primeiro jornal


O NOSSO CONSELHO E SEUS MEMBROS ATUAIS:

HOMENAGEM ESPECIAL: Prof. Samuel Isaac Benchimol z”l – Professor Emérito da UFAM e um dos maiores estudiosos da Amazônia e dos judeus da Amazônia

ANDRE DE LEMOS FREIXO – Doutor em História (PPGHIS/UFRJ). É Professor Adjunto no Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto (DEHIS/UFOP) e do Programa de PósGraduação em História da mesma instituição.

FERNANDO LATTMAN-WELTMAN – Doutor em Ciências Políticas pelo IUPERJ, especialista em política e Mídia, é professor da Pós-Graduação da UERJ.

HELIETE VAITSMAN - Jornalista, escritora, agente literária (HV Agência Literária). Co- criadora do Projeto Editoral da Revista Amazônia Judaica.

ILANA FELDMAN – Doutorada em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da USP e Pós-doutora em Teoria Literária pelo Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP”

ISAAC DAHAN – Líder Religioso, Chazan e Sheliach Tzibur, da Comunidade Judaica de Manaus

HENRIQUE BENARROCH CYMERMAN – Mestrado pela Tel Aviv University. Jornalista, correspondente Internacional para o Oriente Médio – Israel. Um dos correspondentes para o Oriente Médio mais respeitados em Israel e em boa parte do mundo.

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NOSSO CONSELHO

O NOSSO CONSELHO E SEUS MEMBROS ATUAIS: MONICA GRIN –Professora do

IFCS/UFRJ e Coordenadora do NIEJ – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes do IFCS/ UFRJ

JEFFREY LESSER – Professor

e Chefe do Departamento de História da Emory University. História Latino-americana Moderna com foco em etnicidade, imigração e raça. Especializado em Brasil

REGINA IGEL - PhD em Literatura

Portuguesa. Coordenadora do Dpto. de Língua Portuguesa da Universidade de Maryland, USA. Autora do clássico “Imigrantes Judeus, escritores brasileiros”. Ed. Perspectiva, 1997. Responsável pelo setor de literatura da Revista AJ

WAGNER LINS BENTES – Doutor

em Antropologia pela USP- Com monografia, dissertação e tese doutoral sobre o tema judeus do Marrocos na Amazônia

MICHEL GHERMAN – Doutor

em História pelo IFCS/UFRJ. Cocoordenador do NIEJ – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e Árabes do mesmo Instituto. 36 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

RENATO AMRAM ATHIAS - é Etnólogo, Professor Associado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE) da Universidade Federal de Pernambuco e Professor do Master Interuniversitário da Universidade de Salamanca, na Espanha.


da comunidade de Manaus, e a d) “Folha Israelita” de David José Israel, também editado em Manaus, entre 1949 e 1958. Ao criar o periódico Amazônia Judaica, David Salgado anunciava no editorial da primeira edição os eixos centrais da sua linha editorial, que seria um canal de comunicação independente, “não representando esta ou aquela linha específica de pensamento judaico, mas pretendendo ser veículo para todas elas:”. E que nasceu “num momento marcante da história do povo judeu: PESSACH. Assim como em Pessach comemoramos a nossa liberdade física e espiritual, que seja este novo “iton”, um meio para a nossa liberdade de expressão”. Em 2003, passa a fazer parte da editora, seu irmão, Elias Salgado, professor e pesquisador dos judeus na Amazônia. Em 2010 com o advento dos 200 anos da presença judaica na Amazônia o jornal transforma-se na Revista Amazônia Judaica, com um projeto editorial e gráfico primoroso, como poucos no país, em formato impresso e digital, e que vem angariando elogios de seus leitores particulares e de instituições e profissionais do meio acadêmico e jornalístico. Continuamos com o Portal Amazônia Judaica, que agrupa todas as iniciativas de banco de dados e difusão sobre o Judaísmo Marroquino na Amazônia: a revista, os blogs, além do Arquivo Histórico

Digital Amazônia Judaica, um projeto em franco crescimento, que mantém um acervo de imagens, documentos, textos, teses acadêmicas e biografias, que tratam da memória e da História do judaísmo amazônico, bastante visitado por particulares, por instituições e empresas. Além da Editora Amazônia Judaica, criada há mais de 10 anos, em 2006, mantendo atualmente, dois selos editoriais – o Amazônia Judaica (que

edita os livros de oração da “Coleção Ner” do Rabino Moysés Elmescany e do chazan David Salgado e a primeira Hagadá de Pessach de rito sefaradí marroquino do Brasil, do mesmo autor, bem como livros sobre a temática judeus na/da Amazônia); e o selo Talú, criado em 2015, visando a edição de livros de

ficção e não ficção (exceto o tema judeus na/da Amazônia). Diante de todas estas realizações, entendemos que mesmo apesar da crise que aí está, temos muito por comemorar e ainda realizar. Amazônia Judaica, não só é o único em seu gênero, como também é, o de vida mais longa duração, nos mais de 200 anos de história da presença judaica naquela região. E agora resolvemos dar um passo muito importante, visando consolidar, qualitativamente, inscrevendo a nossa revista, no cadastro do ISSN (International Standard Serial Number), sigla em inglês para Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas, que é o código para individualizar o título. Por ser um código único, o ISSN identifica o título de uma publicação seriada durante todo o seu ciclo de existência (fase de lançamento, circulação e encerramento da revista), seja qual for o idioma ou suporte utilizado (impresso, online, CD-ROM e demais mídias). E sobretudo, convidando um grupo de pessoas que já tem colaborado com a Revista a fazer do Conselho Editorial de abrangência geográfica nacional e internacional, bem de riqueza e pluralidade multidisciplinar consolidando ainda mais o projeto Editorial deste singular veículo de comunicação. Portanto damos boas-vindas a nosso barco, os membros do Conselho Editorial. 37


RETROSPECTIVA

COMEMORANDO EM ALTO ESTILO Amazônia Judaica, na contramão das enormes dificuldades por que passa o Brasil, não poupou esforços para comemorar o seu 15º aniversário de criação, em alto estilo.

N

osso calendário comemorativo foi e está sendo marcado, por grandes realizações. Para registrar a data lançamos, a nível nacional, a Campanha Amazônia Judaica 15 Anos de Travessia, composta das seguintes iniciativas:

CONFARAD.

Publicação de dois números da Revista Amazônia Judaica, Edições Especiais de 15 Anos – Pessach e Rosh Hashana E no prelo, com lançamento previsto para novembro 2017, em Lançamento do livro“ Identidade Manaus, Belém e Rio, que contará e Tradição: um estudo sobre as com a presença de David Salgado, mulheres da Comunidade Judaica diretor-fundador da Amazônia de Manaus”, de Dina Paula Judaica, a “Coletânea Amazônia Santos Nogueira, em Manaus na Judaica, 15 Anos de Travessia”, UFAM e na Wizo; e no Rio, no XII composta por artigos, crônicas,

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resenhas e matérias, publicadas em nosso jornal e na atual revista. E como citado aqui em matéria específica, Amazônia Judaica, visando qualificar ainda mais o trabalho que vem sendo realizado nestes primeiros 15 anos de atividade, acaba de criar o seu Conselho Editorial, composto de renomados acadêmicos e profissionais de todo o mundo, de vários ramos do conhecimento e da cultura judaica, fazendo jus a um de seus maiores princípios,


DINA AUFOGRAFANDO LIVROS UFAM

MAURO WAINSTOCK - DIRETOR DO JORNAL ALEF E ELIAS SALGADO

ELIAS SALGADO E DINA PAULA SANTOS NOGUEIRA

MARIZA BLANCO - ELIAS SALGADO E DINA PAULA SANTOS NOGUEIRA

LANÇAMENTO NA UFAM 39


RETROSPECTIVA

o da interdisciplinaridade de cobertura, conteúdo e abordagem em suas publicações.

Porém, nossos objetivos vão além da pesquisa, do estudo e do registro desta rica e singular cultura e tradição, multi-secular. Estamos EM PERSPECTIVA: comprometidos com o futuro, com Sim que trabalhamos com a História a preservação e a continuidade deste e memória do judaísmo, em especial judaísmo e sua cultura. o amazônico de origem marroquina. Foi pensando assim, que Amazônia

Judaica, em parceria com o grande etnólogo, UFPE, Renato Amram Athias, elaborou e está lançando aqui a “pedra fundamental” de sua mais nova “menina dos olhos”, o “Projeto Amazônia Judaica 2020 – 210 da Presença Judaica na Amazônia”.

O PROJETO: O projeto prevê as seguintes atividades: • Exposição Judeus do Marrocos Na Amazônia: com inauguração prevista para Manaus no 2º. Semestre de 2020. A exposição passará, também, por Belém, Rio de Janeiro, São Paulo e Casablanca. 0 Projeto e concepção é do Antropólogo e Museólogo Ranato Amram Athias – UFPE e a curadoria de Renato A. Athias, David Salgado e Elias Salgado. • I Simpósio da Jewish in Amazon Studies Association - I JIASA – A JIASA é uma entidade de abrangência mundial, criada por Amazônia Judaica, com membros de diversos lugares do país e do mundo, visando a realização de encontros de estudo, simpósios, seminários e congressos. • Projeto “ Diáspora Amazônia” - Elaborado por Elias Salgado, a exemplo do projeto de pesquisa “Judeus na Industrialização do Amazonas”, o presente projeto é uma continuidade daquele, mostrando o destino dos judeus amazônicos que migraram para o sudeste em consequência das crises econômicas da região Norte do Brasil. A pesquisa será apresentada em livro e em documentário de curta metragem e fará, também, parte integrante da Exposição. • Expedição Na Trilha dos Judeus da Amazônia: projeto de Renato A. Athias, pretende trazer para conhecer a Amazônia e o judaísmo da região, pessoas do exterior, durante o período da exposição e do I Simpósio da JIASA • “Excursão Marrocos 210 Anos depois” – Passados 10 anos da primeira, queremos repetir o sucesso que foi aquela excursão dos 200 anos. Vamos levar ao Marrocos pessoas interessadas em revisitar ou conhecer o Marrocos Judaico e inaugurar a nossa exposição no Museu Judaico de Casablanca. • Edição Especial impressa e digital da Revista Amazônia Judaica´- Judeus Na Amazônia 210 Anos Depois • Renovação, Atualização E Manutenção do Site Portal Amazônia Judaica 40 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017


ANNE E JAIME BENCHIMOL CARLOS OLIVEIRA EDDY ZLOTNITZKI EDUARDO E CAROL BARRETO LIBERALINO MATOS DE CARVALHO MARCOS NAHON MARIZA MOREIRA BLANCO MOISÉS NAHMIAS MOISÉS SALGADO REGINA IGEL RONALDO DE CUSATIS E FAMÍLIA SERGIO BENCHIMOL VIDINHA SALGADO

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LITERATURA

ESCRITORAS SEFARDITAS BRASILEIRAS:

MINORIA DENTR Regina Igel (*) Artigo é um extrato da comunicação lida num painel do 17th World Congress of Jewish Studies – AMILAT, em Jerusalém, 9 de agosto, 2017.

D

os 180 mil judeus confessos morando no Brasil hoje, uns 20% são de origem sefardita. Isto é, a comunidade é uma minoria quantitativa e nestes números talvez esteja a explicação para a pouca produção literária entre os sefarditas. Uma comparação dentro do fator demográfico entre esta comunidade e a dos asquenasitas mostra que estes últimos são em significante maior número. Apesar de os sefarditas se terem instalado no Brasil desde os tempos coloniais, tanto a imigração foi de pequeno volume (em comparação), quanto também teve intervalos espaçosos e, principalmente, teve um princípio de vida isolada, principalmente no norte e no nordeste do país. Talvez estes fatores expliquem o reduzido número de representações literárias da comunidade sefardita brasileira. Na ala feminina da escrita ficcional, até a altura deste estudo, apenas duas escritoras se fizeram conhecidas: Sultana Levy Rosenblatt e Tatiana Salem Levy. Uma outra pessoa, Leonor Scliar Cabral, embora de origem asquenasita, por ter uma de suas obras dedicadas ao

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mundo sefardita espanhol, também se inclui neste trabalho analítico. Sultana Levy Rosenblatt era descendente de marroquinos estabelecidos na Amazônia, Sultana nasceu em Belém do Pará, em 1910 e faleceu em McLean, Virginia, nos Estados Unidos, em 2007. Era uma contadora natural e talentosa de histórias acontecidas na sua terra e escrevê-las foi apenas uma extensão de seu talento. Nos seus romances

ela narra, com romantismo mesclado a realismo, a vida em geral em Belém e nos arredores. Em alguns deles, ela faz referências aos judeus, contando alguns episódios passados na comunidade, como a vida judaica amazônica se desenvolvendo por laços de parentesco, visto que a colônia era pequena e à medida que crescia, seus componentes se casavam entre si. Poucos tinham companheiras entre as nativas e

Sultana Levy Rozemblatt


RO DA MINORIA ainda assim, logo que podiam, procuravam arranjar casamento com correligionárias, que mandavam procurar no Marrocos e pagavam, com suas economias, a viagem para o Brasil. Com as mulheres se procedia o mesmo, sendo seus pais os intermediários com os marroquinos ou com os judeus já estabelecidos na região. Com o tempo, a primeira e segunda gerações nascidas no norte, passaram a se mudar para o sul do país, procurando oportunidades de estudos, trabalho e uma vida social judaica. Sultana narra o desenrolar da comunidade que ela vivenciou em textos inseridos no seus livros Uma grande mancha de sol, Barracão (1958 e 1963), Pará e As virgens de Ipujucama. Todos tiveram edições restritas e pouco reconhecidas pela crítica especializada.1 No entanto, foram suas crônicas, publicadas na revista Morashá, que mais atenção obtiveram do público leitor e com elas as informações sobre a vida judaica amazônica tiveram repercussão bem mais ampla. Como ilustração, abaixo estão alguns recortes da crônica “Como viemos parar na Amazônia”, pelos quais se percebem flagrantes das circunstâncias vividas pelos imigrantes marroquinos e seus descendentes. O nome da crônica é:

COMO VIEMOS PARAR NA AMAZÔNIA Parece incrível que pelo meio do século XIX meu bisavô materno fosse proprietário de canaviais situados na grande Ilha de Marajó, no norte do Brasil. Parece incrível por vários motivos. Primeiro que tudo, ele era um jovem judeu e os judeus não gozam fama de aventureiros. Atribui-se à extremosa mãe judia o poder de impedir que os filhos se exponham a perigos... Em segundo lugar, supõe-se que os judeus preferissem estabelecerse nas cidades, perto de sinagogas, escolas, bibliotecas. Mas esse lugar a que meu bisavô entregou as primícias da sua vida não tinha sinagoga, nem biblioteca, nem sequer livraria. Era uma cidadezinha onde as facilidades, como condições sanitárias e assistência médica, ainda hoje são precárias.

(*)

O Brasil, a essa altura, era uma espécie de Terra Prometida. Um país com imensas áreas e pouca população, atraindo imigrantes com promessas liberais por uma lei que não levava em conta credo ou nacionalidade, contanto que a raça fosse branca. Assim, os judeus marroquinos, considerados imigrantes brancos, zarparam para a região amazônica esperando lá encontrar o “El Dorado”. Liberdade, acima de tudo liberdade religiosa, e, quem sabe, ouro jorrando do solo. Cedo esse fascinante sonho se desfez quando eles compreenderam que apenas haviam-se mudado do purgatório para o inferno. (A floresta amazônica é poeticamente cognominada “Inferno Verde”).

Mas, esqueçamos a história e voltemos ao meu... devo chamá-lo “meu querido” bisavô? Nunca vi sequer um retrato seu, pois os judeus marroquinos da época não tinham o costume de se fazer fotografar. Então, pergunta-se, como se explica Apenas posso imaginá-lo parecido que um moço judeu, educado, com qualquer homem marroquino. nascido em Tânger, no Marrocos, apareça feito senhor de escravos no Pelo que ouvi contar, meu bisavô coração de uma ilha amazônica? era moreno, esguio, um homem ... que por esse tempo, os rapazes fino, muito querido pelos seus judeus eram encorajados pelos escravos por sua bondade, educação próprios pais a procurar nova vida, e maneiras polidas, atributos que o fosse onde fosse. Qualquer lugar tornaram respeitado pela população seria melhor do que a existência local. Mas tenho a impressão de em guetos rodeados de mouros que, com o fim de se manter no mesmo nível social dos seus inimigos. 43


LITERATURA vizinhos, todos ricos fazendeiros, ele se teria mais ou menos ou aparentemente assimilado, pois era conhecido como “José Luiz”. Seu filho mais velho, Samuel, ingressou no exército brasileiro, na Guarda Nacional. Quanto à minha bisavó, com a beleza combinava bem o seu nome, Graça. O casal veio para o Brasil já com três filhos, dois meninos, Samuel e José, e uma menina, Belízia, de apelido Vida. Os judeus marroquinos costumam dar às suas filhas nomes expressivos em espanhol, como Luna, Reina, Perla e, mesmo no Brasil, não os traduzem. Além do espanhol, esses judeus usavam na intimidade da família, o dialeto chamado haketía. Mas Belízia só falava português. Ela negava haver nascido em Tânger e afiançava ser brasileira. “Mãe Vida”, como os netos a chamavam, era pequenina, cútis cor de canela, vivaz; tinha os gestos, as maneiras, os hábitos e as expressões de um paraense nato. Poderia muito bem passar por uma graciosa nativa. Seus companheiros de infância, filhos de vizinhos fazendeiros, tratavam-na por “Mana Vida”. Pelos padrões monetários da época, meu bisavô era rico. Senhor de próspera fazenda, chefe de família elegante, um homem realizado, enfim. Súbito tudo ruiu quando adoeceu gravemente, vítima de béri-béri. Sem recursos médicos onde vivia, foi levado para Londres e nunca mais voltou. Morreu em viagem e seu corpo foi atirado ao mar. (...)

Leonor Scliar Cabarl anjo benfeitor da nossa família), quando de repente ela lembrou-se que devia ir à sinagoga para assistir, no salão de recepções, à circuncisão dos sobrinhos de uma sua amiga, vindos do interior do Estado. A família vivia num lugar distante e só então tinham conseguido meios Eu própria, por acaso, testemunhei para trazer os meninos a Belém com um emocionante acontecimento o fim especial de os circuncidar, em Belém. Estava de compras com tornando-os parte de nosso pacto uma prima de nome Piedade (o ancestral, desde Abraham Avinu. 44 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

Para minha surpresa, tratavam-se de garotos entre 8 e 12 anos de idade. Eram três, e o trio mantinha-se unido em silêncio e pavor. Quando um velho contou o número de homens e anunciou - “Já temos minian, podemos começar” - imediatamente travou-se uma espécie de tourada. Os meninos corriam, gritando, proferindo palavrões, defendendo com as mãos a parte do corpo que devia ser operada, repetindo: “Não


me capem!” - e os homens rindo, correndo atrás deles, cercando-os, até que conseguiram aprisionar os três. De pés amarrados, sem anestesia, em presença de todos, um a um foram circuncidados por perito Mohel. Minha prima Piedade era uma verdadeira Tzadiká. Muito religiosa, descendente de Rabi Eliezer Dabela, de quem herdou poderes sobrenaturais, sua presença era requerida porque tinha o dom de abrandar dores e curar certas lesões. Quanto a mim, escondi-me em outra sala, assustada. Mas não ouvi gritos e em um momento, quando as rezas silenciaram, compreendi que tudo havia acabado. Quando fui convidada para tomar parte na festa, fiquei surpreendida ao encontrar os meninos entre os convidados, comendo e bebendo refrigerantes. Já então eles sorriam. Embora vivendo nas brenhas do Amazonas, eles desejavam aquela operação, desejavam ser parte do Brit Milá. Sentiam-se orgulhosos de ser judeus.

Este orgulho, no entanto, não proveio da liberdade com que os imigrantes sonhavam. Eles tinham que lutar para manter o seu judaísmo. O estigma judeu seguiaos até as profundezas da selva. Meu avô e seus amigos eram comerciantes e suas lojas ficavam às margens dos rios, mas cercadas pela mata. E nesses lugares escondidos eles eram alcançados por pogroms.(...) Meus avós paternos, Moysés Levy e Hália Dabela Levy, vieram respectivamente de Rabat e Casablanca. Eram imigrantes também - não de origem espanhola e, por isso, falavam harbía. Eram muito respeitados pelos outros judeus porque minha avó Hália era nobre. Do ponto de vista dos judeus marroquinos, a nobreza é baseada no número ou magnitude de rabinos entre os ancestrais. Minha avó, Hália Dabela, era descendente de Rebi Eliezer Dabela, um rabino a quem se atribuíam milagres. Um deles foi fazer parar uma enchente, marcando com o seu bastão até onde as águas deviam chegar. Usava sempre esse bastão, que se encontra entre seus descendentes em Casablanca, e um colar de âmbar que minha avó Hália herdou e é conservado na nossa família. Esse colar era pendurado na cama dos enfermos e das parturientes pelos seus efeitos milagrosos. Eu não estaria aqui, agora, se não fosse pela decisão de minha avó, Belízia, de casar, aos 13 anos, com David Benoliel. Foi uma união feliz que ultrapassou as bodas de ouro e da qual houve vários filhos, inclusive Esther, minha mãe. Em sua juventude, Esther era considerada uma das mais belas moças de Belém. Tinha 18 anos quando se casou com Eliezer, único filho de Moysés

e Hália Levy, o mais atraente e desejado solteirão (aos 24 anos!) da cidade de Belém. Casaram-se na cidade de Cametá, a 21 de março de 1900.”2 Sultana Levy conheceu o meteorologista norte-americano Martin Rosenblatt quando este, como parte do exército americano durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhava num posto estabelecido em Belém do Pará. Casaram-se e foram morar por algum tempo em Honduras, antes de definitivamente se instalarem na cidade de McLean, no estado da Virgínia, nos Estados Unidos. Foi lá que presenciei o ‘transplante’ de muitos dos hábitos judaicos-paraenses para a casa americana de Sultana (conhecida entre amigos como Sussu). Tive o privilégio de fazer parte de seu círculo amplo e irrestrito de amizades, entre judeus, não-judeus, gente que trazia mais gente para conhecê-la e ter convivência com ela. Sabia muitas e muitas histórias de vidas passadas, contava para quem queria ouvi-las, recontava para os recém-chegados... numa paciência infinita pela qual mostrava sua excelente memória, seu apego às coisas paraenses, judias e não judias, todas alinhadas nas suas lembranças que não paravam de vir à tona assim que invocadas. Desde o seu falecimento, o grande contingente de amizades feitas na sua casa foram se afastando, pois faltava a ligação essencial daquela contadora de histórias, que trazia de volta o passado e que fazia dele um prazer maior viver no presente. Muitos dos seus contos e crônicas estão na revista indicada, mas muitas narrativas que ela escreveu ainda permanecem inéditas. Seus 45


LITERATURA romances podem ser encontrados em algumas bibliotecas, já que não não foram reeditados em anos mais recentes. Tatiana Salem Levy. Sua história pessoal é bastante peculiar. Nasceu em Portugal (1979), quando seus pais estavam naquele país como refugiados políticos, escapando da ditadura militar que exerceu seu poder no Brasil de 1964 a 1985. Ainda bebê, antes de completar um ano de idade, eles e ela viajaram para o Brasil, aproveitando a brecha da Anistia, e se reestabeleceram no Rio de Janeiro, onde Tatiana estudou e onde também conviveu com sua família. (Sua mãe, Helena Salem, foi jornalista; Tatiana é sobrinha de Gilda Salem Szklo, também falecida, professora universitária e crítica literária que fez estudos, entre

outros, da obra de Moacyr Scliar.) Tatiana é formada em PortuguêsLiteratura e Português-Francês pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e obteve Mestrado e Doutorado em Estudos da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. É autora de várias obras ficcionais, muitas delas apresentando um veio judaico explícito. Seu livro A chave de casa foi premiado em 2007 como obra de estreante (Prêmio S.Paulo de Literatura) ) e em 2008 foi finalista do prêmio Jabuti.3 Tatiana é a primeira escritora que coloca, no painel da literatura brasileira contemporânea, uma vivência com judeus sefarditas, pois descende, do lado materno, de judeus da Turquia. E o romance em questão trata da lendária história da chave de casa que os expulsos Tatiana Salem Levy

da Inquisição da Península Ibérica levaram consigo, na esperança de um dia retornar e abrir, com ela, a porta da sua casa. A chave que a narradora ganhou do avô turco pertencia à sua casa em Smirna, na Turquia. A neta foi incumbida de lá ir para verificar se havia parentes sobreviventes da Segunda Guerra e das demais perseguições sofridas pelos judeus. No percurso de ida e volta, a narradora faz descobertas pessoais, revelando situações acontecidas com seus antepassados e, mais do que tudo, redescobrindo sua própria pessoa, sua postura no mundo, seus objetivos e seu relacionamento com o judaísmo. Até a presente data (2017), Tatiana tem mais dois romances publicados além deste, Dois Rios (2011 e 2013) e Paraíso (2014), além de ter organizado Primos (2010), que reúne contos de autores brasileiros de ascendência árabe e judaica, Também tem no seu repertório Curupira e Pirapora, livro para crianças; em 2017, publicou O mundo não vai acabar, uma coletânea de suas crônicas expostas no jornal Valor. Sua participação na literatura brasileira tem sido premiada e respeitada – A chave de casa foi traduzido em cinco idiomas: francês, italiano, romeno, espanhol e turco. Seu nome consta da lista dos mais promissores escritores jovens brasileiros da revista Granta, The Magazine of New Writing, que se publica na Inglaterra e na internet. No interesse desta apresentação romance é aqui examinado por suas conexões com o judaísmo sefardita e pelo tom confessional e revelador que as histórias nele contidas apresentam. A estratégia literária da escritora

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em A chave de casa tem a ver com autoficção, um artifício que transmite tanto a capacidade imaginativa quanto confissões pessoais do autor, na sua transmutação para narrador. Traços da vivência de Tatiana com as lembranças dos pais em referência às perseguições que sofreram durante a ditadura militar, assim como suas próprias dúvidas, que se poderiam dizer de raízes existenciais, se propagam em A chave de casa, de âmbito confessional. A narrativa se eleva em termos espirituais, quando ela, a narradora, conversa com sua mãe (já morta, na vida real da escritora) e com ela tem uma relação de amizade e ternura. Texto de seu livro: “Nasci no exílio: em Portugal, de onde séculos antes a minha família havia sido expulsa por ser judia. Em Portugal, que acolheu meus pais, expulsos do Brasil por serem comunistas. Demos a volta, fechamos o ciclo: de Portugal para a Turquia, da Turquia para o Brasil e do Brasil novamente para Portugal. ... Nasci no exílio: e por isso sou assim: sem pátria, sem nome. Por isso sou sólida, áspera, bruta. Nasci longe de mim, fora da minha terra – mas, afinal, quem sou eu? Que terra é a minha?` (p. 25, edição indicada). Composta de lembranças, fictícias ou não, a narrativa inclui uma camada de reflexão, que se impõe sobre a escrita, numa fusão entre metalinguagem que leva à autoanálise, além de uma simples descrição do estado físico em que encontra a narradora, no colóquio com sua mãe, como se lê neste

trecho: “Conto (crio) estas histórias dos meus antepassados, essa história das imigrações e suas perdas, essa história da chave de casa, da esperança de retornar ao lugar de onde eles saíram, mas nós duas (só nós duas) sabemos ser outro o motivo da minha paralisia. Conto (crio) essa história para dar algum sentido à imobilidade, para dar uma resposta ao mundo e, de alguma forma, a mim mesma, mas nós duas (só nós duas) conhecemos a verdade. Eu não nasci assim. Não nasci numa cadeira de rodas, não nasci velha. Nenhum passado veio me assoprar nos ombros. Eu fiquei assim. Fui perdendo a mobilidade depois que você se foi. Depois que conheci a morte e ela me encarou com seus olhos de pedra. Foi a morte (a sua) que me tirou, um a um, os movimentos do corpo. Que me deixou paralisada nessa cama fétida de onde hoje não consigo sair” (p. 62). O ponto nevrálgico do romance se faz pelo cruzamento, mental e gráfico (pela alternância de capítulos entre o passado e o presente), de vetores tais como o exílio voluntário do avô que veio da Turquia para o Brasil e lhe pede que vá à Esmirna, sua cidade natal, para ver se a casa dele ainda está lá; o exílio dos seus pais, do Brasil para Portugal, durante o regime da ditadura militar e o retorno deles, com ela recémnascida, para o Rio. Tem também os cruzamentos entre continentes,

como a travessia transcontinental da Ásia para o Brasil (o avô); o cruzar do Atlântico do Brasil para a Ásia, quando a narradora vai à Turquia; sua passagem por Portugal, seu retorno ao Brasil. A movimentação transcontinental impõe à narrativa um fluxo e um refluxo, tanto de ordem geográfica quanto de cogitações pessoais. É pelos caminhos trilhados pelos imigrantes antes dela e as sendas que ela abre para si, nesta “viagem de volta às origens” (p.162), que ela se compõe e decompõe, como ela faz, no minúsculo capítulo da p. 162, ao tentar destruir sua máquina de escrever e rasgar as folhas escritas e em branco. O capital emocional que ela retira das viagens e dos encontros - como a frustração amorosa em Portugal – culmina com a notícia dada por alguns judeus que ela encontrou em Esmirna, que ela terá de passar para o seu avô. O livro termina no seu ponto de partida, quando o avô lhe passa a chave de sua casa, que ela descreve: Enquanto Sultana Levy Rosenblatt relembra um passado povoado por pessoas que escolheram ou tiveram de permanecer no mesmo lugar por décadas, deste modo talvez caracterizando a comunidade judaica amazonense como estática até recentemente, Tatiana Salem Levy revela uma energia diferente em A chave de casa, que apresenta movimentação transcontinental, além das turbulências íntimas que os deslocamentos lhe causaram. A obra de Sultana, em geral, revela alguns aspectos da vida judaica nas cidadezinhas cercadas por rios 47


LITERATURA e florestas, no início do século, enquanto o livro de Tatiana em foco explora uma tênue ligação entre o passado do avô turco e a vida presente da protagonista. Pode-se expandir mais um pouco esta comparação verificando que ambas fazem um perfil distinto da comunidade sefardita. Talvez isto se deva mais ao estímulo e oportunidades de uma cidade como o Rio de Janeiro, capital do Brasil durante o período mais amplo da imigração judaica, do que a características vinculadas às origens nacionais dos expatriados. Mais ainda, a primeira geração nascida na Amazônia ainda se dividia entre permanecer e buscar outras praças no Brasil mesmo, enquanto a geração que antecedeu o nascimento da protagonista em A chave de casa já se tinha rebelado contra o regime (ditadura), já tinha partido do Brasil e a ele já retornara. Estas diferenças, nada sutis, pois flagradas por ambas as escritoras em seus postos de observação literária, caracterizariam a diversidade desta minúscula comunidade. Sequer falavam o mesmo idioma, diferentemente da comunidade asquenasita que tinha o ídiche para unir seus componentes, vindos de diferentes países do Leste Europeu. Enquanto o judeu turco podia falar turco e o judeo-espanhol ou ladino, os judeus marroquinos falavam árabe, e/ou francês e ‘haquetia’, que não estava ao alcance linguístico dos turcos, necessariamente. Por menor que seja a comunidade, talvez se possa delinear, por estas duas escritoras, uma diversidade interna entre os sefarditas. Embora não haja fronteiras linguísticas entre os sefarditas no Brasil, visto todos falarem português, é preciso lembrar que as trajetórias dos seus 48 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

antepassados foram diferenciadas tanto pela escolha dos locais onde se estabeleceram, desde que marroquinos judeus foram atraídos para a região amazônica, enquanto os judeus turcos e de outros países do Oriente Médio se estabeleceram nas capitais do sul, quanto por hábitos e rituais diferentes, trazidos por eles na transição para o Brasil. Saímos desta conjuntura para nos aproximar de uma pessoa de origem asquenasita, mas que se dedicou a estudar, a louvar e a poetizar o mundo Sefarad. Trata-se de Leonor Scliar Cabral, linguista emérita da Universidade de Santa Catarina, no sul do Brasil. Entre suas obras, conta-se um livro de poemas a que ela deu o nome de Memórias de Sefarad.4 Quatro anos antes deste poemário, Leonor já tinha publicado uma série de traduções do ladino ao português, em Romances e canções sefarditas, que contém uma “Breve história dos sefarditas”, â maneira

A Chave Da Casa Tatiana Salem Levy

de um Posfácio (pp. 63-94), talvez uma das narrativas de âmbito histórico mais completas que já se produziu no Brasil. A sequência dessas publicações levou o público a pensar que ela fosse de origem ibérica.5 Não é, pois descende de imigrantes bessarabianos, mas sua devoção ao mundo judaico ibérico é constante e literariamente envolvente. Perguntei-lhe O que a levou a escrever os poemas e a traduzir outros dentro do tema sefardita? Sua resposta: “Na década de 80, escutei na casa da família Kolinsky, em Bruxelas, discos de Esther Lamandier, a maior intérprete do cancioneiro sefardita de então: foi uma paixão! comprei o disco e, então, traduzi, pela primeira vez, os romances e canções sefarditas para o português (ediçao do Massa Ohno).” 6 Espelhando um período da nossa história (judaica) em que tanto o português quanto o espanhol e o


ladino se trançavam, este poema em dez versos, tem a cadência de uma cantiga, o ardor de uma historiadorapoeta e o poder imagético de um quadro renascentista: Descendo a calle del Angel, escondida sob mantilha e atrás de seu abanico, Doña Raquel, a judia. E desta casa de Ishaq, ao pé da colina virgem, O milagre de Colombo, a rainha conseguiu. Depois... das dez sinagogas do tempo del Mio-Cid Quedaram apenas três, marranas recém-convertidas. Restam tumbas, inscrições, ressoam ainda os gemidos das mil e duzentas vítimas caçadas por Henrique. Nos degraus da sinagoga de Toledo carcomidos, Aqui rezou um menino nos idos de há-Levi (p.23). Um passado mais recente é revelado no poema “Romances de Minha Avó”, que tanto pode ser uma avó turca imaginária ou não, onde um incidente extranatural acontece (dois últimos versos). Percebe-se a exposição de cores (“cor de sol marinho”, “papouls carmesins”) de movimento (“a maresia do Mármara arribava até Esmirna”, “que ondulava”, “despencando”, “estilhaça”) e o passado, em todos os verbos no pretérito imperfeito, menos quando um instrumento musical típico dos anos ibéricos (“bandolim”) se despedaça, personificando a dor pelo relato

e se esquivando, pelas ‘cordas anquilosadas’, dos sons que outrora dispensaram: Quando os frutos se vestiam em sua cor de sol marinho E adornávamos os lenços nas tardes mornas de abril. A maresia do Mármara arribava até Esmirna, mar contínuo que ondulava em papoulas carmesins. No canto de minha avó, uns romances há muito ouvidos Da filha amada do rei, do seu cavaleiro polido, De uma espada testemunha de um amor tão proibido. Despencando desde o armário, estilhaça o bandolim E as cordas anquilosadas, desmemoriadas de si (p. 39). Nesta breve apresentação de três escritoras que mantiveram e mantêm a herança literária sefardita entre os judeus brasileiros, pode constatar-se que elas conservam uma atitude passadista e, ao mesmo tempo, atualizada do ambiente em que viveram ou que aprenderam por outros meios, como narrativas ouvidas dos mais velhos ou histórias lidas. O olhar ao passado é vinculado ao presente de várias maneiras: uma, por uma reverência em que não faltou um traço jocoso, como no relato de Sultana Levy Rosenblatt; outra, pela convergência do passado e do presente, na narrativa de Tatiana Salem Levy, unindo o passado do seu avô ao presente vivido por ela na Turquia, em Portugal e no Brasil; e, finalmente, o poemário de Leonor Scliar Cabral, em que ressoam tanto os sons, quanto as cores e os movimentos dos tempos ibéricos-

judaicos, revivendo um passado que ainda está presente em todos nós, descendentes ou não dos sefarditas, mas iluminados por suas histórias, suas andanças, suas vozes. Fator curioso e não desprezível é que as três escritoras aqui citadas revelaram, nas confissões aleatoriamente recortadas para esta apresentação, a figura do avô, da avó e do bisavô. O passado ainda presente, bem presente.

1. Entre os poucos críticos que publicaram comentários sobre um ou mais de um dos trabalhos de Sultana Levy Rosenblatt, encontra-se Moacir Amâncio: “Caminhos de Sefarad na Literatura Brasileira,” in Judaica Latinoamericana VII, Estúdios históricos, sociales y literários”, VI, Universidade Hebraica de Jerusalém, 2013, p.537-547. Neste ensaio, Amâncio cita uma crítica anterior, Carmen Gomes, in http://www.abralic.org.br/anais/ cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/019/ CARMEM_GOMES.pdf 2. Morashá. Edição 30 - Setembro de 2000. 3. Levy, Tatiana S. a chave de casa. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007 4. Outras obras da autora: Em antologias Paralelos (2004), 25 Mulheres que Estão Fazendo a Nova Literatura Brasileira (2005), Recontando Machado (2008), Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa (2009); tese: A Experiência do Fora: Blanchot, Foucault e Deleuze (2003); antologia: Primo (com Adriana . Rio de Janeiro: Editora Record, 2010; Dois Rios. Editora Record, 2011. Paraíso: Rio de Janeiro: Editora Foz, 2014 Cabral, Leonor Scliar. Memórias de Sefarad. Ilustrações de Rodrigo de Haro. Florianópolis: Livros do Athanor, 1994 Cabral, Leonor Scliar.Romances e canções sefarditas (sec. XV ao XX). Traduzidos do Judeu-Espanhol). São Paulo: Massao Ohno Editor, 1990 5. Correspondência pela internet 6. Acesso em 2 de agosto, 2017

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ARTE E CULTURA: TEATRO

UM REENCONTRO EMOCIO Já fazia um bom tempo que eu e Mariza não encontrávamos uma boa razão para ir ao teatro. Encontramos há um tempo atrás, numa bela noite de 5ª. feira

N

ão apenas uma boa razão, mas sim, uma razão irrecusável: um convite carinhoso de uma grande e doce amiga de longa data, a atriz Beth Zalcman. O convite foi para assistir a peça “BRIMAS” de sua autoria e de Simone Kalil e por elas representada sob a batuta de Luiz Antônio Rocha. Não sou especialista em teatro. Sou sim um emocionado judeu 50 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017

de origem árabe-sefaradi, que ama a boa arte. E boa arte foi o que reencontrei, aquela noite no Teatro Candido Mendes. Pude me emocionar, rir e chorar. Elas “projetaram um filme” da minha vida, ali naquele palco. Me tornaram parte de sua obra. Sim que sei que também sou um “brimo”. Sim que o melhor amigo de meu pai, o judeu David e seu

primeiro credor, não foi um Isaac e sim Tufa Simão lá da SAARA. É verdade que meu primeiro amiguinho de infância em Manaus, não foi o Jacob e sim o árabe Dauid. O que elas me fizeram ver, a mim e a todos os presentes, é que somos todos “brimos”. O Brasil é sim uma imensa terra de “brimas” e “brimos”. O que talvez esteja acontecendo é


ONANTE COM O TEATRO

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ARTE E CULTURA: TEATRO

que muitos de nós andamos um tanto esquecidos desta verdade. E o que Beth Zalcman e Simone Kalil fazem no palco é nos lembrar de forma magistral, quem somos.

Dando-nos uma aula de tolerância Mabruk! Obreiras gigantes desta através de um texto leve e profundo bela arte. Sarten e vida longa e sobre a condição do homem, da própera para “BRIMAS” maneira mais humanística, e que poucas vezes pude testemunhar

Em novembro de 2015 estreamos a peça BRIMAS, com texto sobre nossas avós, imigrantes do Oriente Médio, vindas para o Brasil na década de 1920. Brimas fala sobre amizade, imigração, solidariedade, memória, afeto...bem resumido pelo título da critica teatral de Makzen Luiz, no jornal O Globo: “ A cozinha como um território de paz”. Fomos indicadas ao Prêmio Shell, na categoria melhor texto e, em dez meses em cartaz, completamos 100 apresentações, sempre com grande identificação e acolhimento do público. Estamos entre as 5 melhores peças em cartaz no Rio de Janeiro em 2017, segundo a Revista Veja. Em agosto de 2017 estaremos no Teatro Folha São Paulo e no Teatro Municipal de Niterói. Simone Kalil

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Prezados, Gostaríamos de saber se a revista Amazonia Judaica ainda continua sendo impressa. Temos até o número 6. Já foi publicado o número 7 ? Aguardo resposta. Temos grande interesse . A revista será enviada para a Biblioteca do Congresso Americano nos Estados Unidos. Desde já agradeço Maria Amelia BIBLIOTECA DO CONGRESSO AMERICANO

conhecimento e relacionamento a comunidade judaica. Agradeço a atenção. CLEIDA PAES CARVALHO E-mail: ecleida.carvalho@tce.pa.gov.br Tel: 91-981281177

Gostaria de fazer uma matéria com vocês para a revista Amazônia Cabocla

Na publicação História e Memória de Elias e David Salgado não vem quase nenhuma referência à firma B.Levy & Cia da qual meu avô, Rafael Benoliel foi Presidente. Porquê? Apenas uma referência de uma linha sobre uma empresa que foi grande no seu tempo. Agradeço resposta

Evaldo Ferreira E-mail: evaldo.am@hotmail.com

Marcos Benoliel Zagury E-mail: mczagury@terra.com.br

Prezados, A turma do oitavo do Colégio Nazaré, gostaria de fazer uma entrevista com um representante da comunidade praticantes do Judaísmo, referente ao trabalho, cujo tema é intolerância religiosa, os jovens já realizaram as entrevistas com outros seguidores de outras religiões. A preferência seria pela parte da manhã, pois estudam a tarde e ficaríamos felizes dos jovens estudantes obterem essa oportunidade de

Olá, Sou coordenadora de uma escola aqui em Manaus . Em julho teremos uma Mostra da nação de Israel, assunto bimestral de história. Vamos mobilizar toda escola sobre este assunto. Portanto, se fosse possível, gostaríamos de contar com a ajuda deste portal para nos auxiliar sobre o assunto. SULAMITA MORAES E-mail: cesar sulamita@hotmail.com

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Bom dia! Gostaria de saber onde poderia ter mais informações sobre o meu avô materno que era judeu, nascido em Tanger e que veio para o Amazonas na época do ciclo da borracha. O seu nome era Samuel Toledano e ele viveu em Fonte Boa, vindo a falecer nesta cidade em 1956. Onde posso solicitar mais informações sobre ele? Fico no aguardo de uma resposta. Obrigado!

Gostaria que me privilegiassem com os trabalhos de Isaac José Perez (ex-prefeito de Itacoatiara: 1926-1930) “Relatórios apresentados à intendência de Itacoatiara”; e especialmente dados biográficos de tão ilustre personalidade. Grato e abraços. Francisco Gomes da Silva

Luis Carlos Toledano Pereira E-mail: luistoledano@ig.com.br

Prezados: Shalom. Divulgo abaixo os links (partes 1 e 2) do site do Mais Floresta que trazem o material que escrevi e que tem por título Cabalá do Meio Ambiente. Se possível, fineza divulgarem para os seus contatos. http://www.maisfloresta.com.br/artigos/meioambiente/curso-cabala-do-meio-ambienteparte-01-28.htm#! http://www.maisfloresta.com.br/artigos/meioambiente/curso-cabala-do-meio-ambienteparte-02-29.html Grato.

Prezados, A turma do oitavo do Colégio Nazaré, gostaria de fazer uma entrevista com um representante da comunidade praticantes do Judaísmo, referente ao trabalho, cujo tema é intolerância religiosa, os jovens já realizaram as entrevistas com outros seguidores de outras religiões. A preferência seria pela parte da manhã, pois estudam a tarde e ficaríamos felizes dos jovens estudantes obterem essa oportunidade de conhecimento e relacionamento a comunidade judaica. Agradeço a atenção. ECLEIDA PAES CARVALHO

Elias Silva

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CONTATO Obrigada, Elias! Vou olhar sim. Hag Pessach sameach! Monica Grin

Muito obrigada a você, Elias, e ao David, pela oportunidade de colaborar, mais uma vez, com a maravilhosa revista AMAZÔNIA JUDAICA. Muitos anos de vida para vocês, com saúde e sucesso! Um abraço! Regina Igel

Querido amigo Elias adorei ler o que escreveste com tanto carinho fraternal. Obrigado. É um bonito presente de Pessach. O meu antepassado de Tetuan era Salomon Benoliel. Hag Sameah e muito êxito. Vocês fazem um grande trabalho. Grande abraço e até breve Henrique Cymerman

Elias, você é demais! Fé, amor, persistência. Admiro muito. Não precisava ter exaltado o meu papel daquela forma, não foi tanto assim. Mas reconheço você como “irmão”, um dos exagerados queridos sem os quais o mundo seria um campo de tédio.... Abraços, guit iomtov, QUE PESSACH SEJA UMA PASSAGEM BOA.

Prezados Elias e David, Parabéns! a revista está muito bonita. Desculpeme não ter ajudado vocês nessa... prometo que na próxima vocês podem contar comigo... mas foi um mês com muita intensidade de trabalho... eu tinha avisado a David quando me despedi dele em Jerusalém....e dar aulas em outra língua, não parece ser fácil. Exige muita preparação. Vi que você publicou aquele artigo que está completando 10 anos esse ano. Gosto dele e fiquei alegre com a escolha... mesmo sabendo que vou apanhar de algumas senhoras que tem uma outra receita da Dafina diferente da minha. Pesach Sameach... Renato Athias

PS. vou passar esse shabat na casa de meu primo de Paris e sua mulher de Marrakesh... que tem outra receita da Dafina...

Heliete Vaitsman

.Muito bem escrito e muito informativo Gostei muito. Mazal Tov

Parabéns Elias! Chag sameach para você e tua família Abraços

Debora Benchimol Bernardo Sorj

Obrigada!!! Lerei com carinho. Chag Sameach!!! Anne B Benchimol

E têm de seguir adiante mesmo! Sua revista e suas publicações são joias no nosso patrimônio judaico-brasileiro! Legal, pai. Parabéns Regina Igel - Maryland University - USA

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Luna Jurberg Salgado


Felizes por nossos 15 anos de travessia, agradecemos e desejamos aos nossos leitores

FELIZ 5778

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CRÔNICA

EM BUSCA DO

ELO PERDIDO Por Elias Salgado

Não saberia dizer a quem puxamos, eu e meu amado irmão David, nesta incurável paixão pelo estudo da memória, em especial das famílias. E dentro deste universo, uma das asas é arrastada, totalmente, para o estudo e investigação da nossa família, os Elmaleh-Salgado, em particular 58 AMAZÔNIA JUDAICA No 10 - SETEMBRO 2017


É

bem verdade que nasci no seio de uma família extremamente orgulhosa de si, dos seus antepassados e das suas origens. Lá em casa era comum e corriqueiro se enaltecer a linhagem de grandes rabinos e sábios marroquinos dos quais descendia meu avô paterno Eliezer Elmaleh Z”L, que ao se naturalizar brasileiro, mudou seu nome para Lázaro Salgado. Mas uma coisa é este orgulho ancestral, tão comum em várias famílias de imigrantes, e outra é este interesse intelectual e emocional que nos levou a esta busca e a esta prática investigativa. Não sei no caso do David, mas

)VERSÃO 1(

no meu, o que certamente já era latente, mas um tanto escondido, emergiu para a superfície, a partir do momento que fui cursar a pósgraduação na Universidade Hebraica de Jerusalém, lá pelos idos de 1997. É desta época que vem o ‘causo” que contarei a seguir. Até aquele momento, tudo o que eu sabia sobre nossas origens, advinha das informações orais que recebi de meu pai e de meus tios: meus avós haviam imigrado para a Amazônia na segunda metade do século 19, vindos do Marrocos: ela de Tânger e ele de Casablanca. Ao fato que muito me intrigava e que até hoje ainda gera a mesma

Ao que ela me respondeu: - Não é muito maior do que a dos demais que estão na sala de exposições. Mas como sabíamos que o senhor viria hoje, solicitei ao nosso vitrinista que o pusesse bem destacado. É claro que fiquei ainda mais orgulhoso e emocionado ao ponto de que só quando cheguei do lado de fora do antigo prédio é que me dei conta que não havia tirado uma foto do documento. Voltei correndo à recepção e busquei pela senhora que me havia atendido. Ninguém sabia dizer nada sobre ela. Em seu lugar na recepção estava outra pessoa, um jovem com aparência de estudante universitário: cabelos longos, cacheados e mal penteados, uma barba cerrada e um par de óculos fundo de garrafa. Expliquei porque estava ali, que gostaria de tirar uma foto de um documento que havia visto. Descrevi o documento e mostrei de longe o lugar na sala de exposições onde ele se encontrava.

pergunta: “mas Salgado é nome de judeu” e que graças ao avanço dos estudos do ramo sefaradi, até que caiu em desuso, eu desde muito pequeno, já tinha uma resposta na ponta da língua: este não é meu nome original. O original é Elmaleh. Meu avô traduziu ao se naturalizar brasileiro. Só mais tarde, quando comecei a estudar com maior interesse o tema dos judeus no Marrocos é que despertei para a questão da origem dos Elmaleh – se espanhola (sefaradím/megorashim (exilados)) ou marroquina (toshabim). Não sei mentir. Sou réu confesso de que nesta busca um sentimento

O rapaz fez cara de surpreso e disse que não existia nenhum documento assim, naquela sala. Como eu insistisse bastante na minha versão, ele ainda fez a gentileza de me acompanhar até o lugar onde eu dizia estar o documento. - Como pode ver senhor, não há aqui tal documento, pois ele simplesmente não existe. E eu retruquei, já bastante exaltado: - Mas a senhora me mostrou, eu estive diante dele. Vai ver que assim como ela mandou colocá-lo aí, pediu que o tirassem depois que eu saí. E ele insistia educadamente: - Mas senhor, aqui não trabalha tal pessoa... Eu já não sabia em que acreditar e fui me alterando e subindo o tom da voz até o ponto do jovem ameaçar chamar a segurança. E como eu realmente não me acalmava, foi exatamente o que ele fez. E agora estou eu aqui preso a esta cama e vestido nesta camisa de força, sem ter a menor ideia de quem sou, de onde vim e o que me trouxe até aqui. 59


CRÔNICA

bobo de colonizado, me gerava a uma enorme torcida de que minhas pesquisas me levassem a descobrirme sefaradi (espanhol) de origem. Quanta bobagem! Ainda bem que a maturidade me atropelou e hoje sou igualmente orgulhoso de minhas múltiplas origens. Mas voltando ao início da procura.

e venda de um pedaço de terra na Andaluzia, perto das cercanias de Granada. Ele não fornecia imagem do documento, mas dava dicas de onde encontrar o original – no Arquivo Municipal de Granada. Foi a primeira de várias grandes emoções: a resposta quanto a

com a explicação do significado de Elmaleh (o bom, o melhor, em árabe medieval da Península Ibérica) e não como creia, erroneamente vovô Lázaro, que fosse originário do hebraico “ melah “ / “ maluah” (Sal/ Salgado). Fantástico! Poucas vezes um erro inocente, tornou uma família

Logo ao chegar na Universidade de Jerusalém, iniciei uma pesquisa sobre a origem da grafia Elmaleh/ Maleh e seu verdadeiro significado. Busquei e encontrei um pesquisador inglês que dizia ter se deparado com o mais antigo documento no qual aparecia tal grafia. Era um documento do século 11. Tratavase de um documento de compra

origem dos Elmaleh agora eu já tinha. Em seguida, dando continuidade às minhas pesquisas genealógicas, as surpresas foram aumentando. Encontrei nos dois mais conceituados trabalhos sobre genealogia dos judeus do Marrocos (Les names juifs du Marroc e Genealogia Hebraica – Portugal e Gibraltar), o verbete do meu avó,

facilmente destacada e identificada! Mas eu ainda tinha muita curiosidade para queimar e muita emoção para viver. Segui adiante, como venho fazendo até hoje: na minha viagem seguinte à Espanha, pela primeira vez ao invés de descer em Barcelona ou Madrid, primeiro, peguei uma conexão interna para Sevilha e de lá um trem

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e colunas mouriscas, onde havia uma exposição permanente de documentos e objetos medievais. Me indicou a parede no fundo da sala onde haviam várias vitrines expositoras e me apontou para o terceiro documento da primeira vitrine da direita para a esquerda. - Veja se é isso que procura, senhor. A transcrição para o inglês e para o espanhol moderno está bem abaixo do documento. Fique à

)VERSÃO 2(

Acontece que como o senhor deve saber, os judeus na Idade Média, via de regra, não podiam ser proprietários de terraseste é um caso raro. Trata-se, muito provavelmente, de alguém que possuía algum tipo de regalia ou proteção dos mouros dominantes na região. Talvez fosse um financista ou algum arrecadador de impostos. Encontramos uns poucos casos do tipo. Eram muito raros e há pouquíssimos documentos do gênero. Neste arquivo é o único. Daí haver merecido de nossa parte, tamanho destaque. É claro que fiquei ainda mais emocionado, ao ponto de deixar o lugar sem tirar nenhuma foto sequer do tal documento. Típica coisa de amador.

para Granada, a terra original dos Elmaleh. Estava preparado para passar um dia inteiro ou mais se fosse necessário, no Arquivo Municipal de Granada, em busca do tal documento. Mas, para minha enorme e grata surpresa, do momento em que atravessei a entrada do Arquivo, até o momento em que me vi diante dele, não passou

mais do que 15 minutos! Parecia que “ele” estava ali me esperando todos aqueles séculos, nove, na verdade. E eu que pensei que teria que procurá-lo entre velhas prateleiras e gavetas de fichários empoeirados e cheios de fungo e bactérias. A senhora que me atendeu, me levou até uma sala ampla de paredes antigas

vontade. Antes mesmo dela se afastar eu já havia começado a soluçar de emoção, o que a fez afastar-se de mim muito constrangida. Sozinho, o dique se rompeu de vez. Dizem as más línguas e até mesmo algumas boazinhas, que me querem muito bem, que eu sou um chorão nato e que não preciso de muito para verter rios de lágrimas. Gente isso é pura intriga da oposição... Examinei muito superficialmente o documento, pois não conseguia conter o choro. E como começaram a aparecer novos visitantes me desloquei para um canto mais isolado da sala. Quando finalmente, consegui me controlar um pouco mais, procurei novamente a atendente para tirar algumas dúvidas – na verdade, uma única e grande curiosidade: - Senhora, poderia, por favor, me explicar porque aquele documento recebeu do arquivo tanto destaque? Qual a sua importância?

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Saúdam Amazônia Judaica pela passagem de seus 15 anos de fundação e desejam a todo o Ishuv Shaná Tová Umetuká. Anne, Jaime, José Benchimol

Parabenizam Amazônia Judaica por seus 15 anos de trabalho em prol do judaísmo amazônico e congratulam-se com toda a comunidade pela chegada de mais um Rosh Hashaná. Le Shaná Tová Tikatevu Vetechatemu Saul Benchimol e Família

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Desejam a todos um Feliz 5778 Rebeca, Joshua e Benjamin Neman

L’SHANA TOVAH TIKATEVU Que 5778 seja bom e muito doce.

Família Salgado E Família


Parabenizam Amazônia Judaica por seus 15 de fundação e desejam a todo o Ishuv Shaná Tová Umetuká Jaime Salgado E Familia

Parabenizam Amazônia Judaica pelos 15 de atividade e desejam a todo o Klal Israel LeShaná Tovà Tikatevu VeTechatemu Sergio Benchimol E Família

Congratulam-se com o periódico Amazônia Judaica na passagem de seus 15 anos de criação de desejam a toda a comunidade amazônica Um Feliz 5778 Marcos Nahon Familia

Ao completarem 42 anos de profunda e infinita amizade, dividem com todos sua alegria e desejam a todos Um Feliz 5778 Os Amigos do Projeto Sefaradi – Colégio Mossinzon, Israel – 1975-76

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Ed. Talú é um selo independente e alternativo que preza por se diferenciar de tudo que existe no chamado “grande mercado”. Objetivamos descobrir novos autores e bons projetos e dar a eles a chance de chegar até o seu público alvo. Fazemos isso, através da edição de títulos de ficção e não ficção próprios, selecionados e também por demanda. Ed. Talú fez sua aparição oficial, bem recentemente e viemos para ficar. Disposição e garra é o que não nos falta.

DESEJAMOS A TODOS UM FELIZ 5778 Nosso 1º. Lançamento:

34 AMAZÔNIA JUDAICA No 9 - DEZEMBRO 2016

Próximo Lançamento:


A Esnoga Beit Shmuel do Recife, realizou belíssima e emocionante homenagem ao chacham e Sheliach Tzibur, Isaac essoudry, pela passagem dos seus 83 anos e em retribuição aos diversos anos de imensa dedicação a nossa Esnoga.

Shaná Tová a todos

PARABENIZAMOS AMAZÔNIA JUDAICA PELOS 15 ANOS DE ATIVIDADES E DESEJAMOS AO ISHUV

SHANÁ TOVÁ EDDY ZLOT

ARTE E CRIATIVIDADE EM DESIGNER GRÁFICO Contato: Eddy Zlot eddyzlot@gmail.com

Congratulamos Amazônia Judaica pelos 15 de atividade e desejamos a todos

SHANÀ TOVÀ

FELICIDADES A TODOS NA CHEGADA DE MAIS UM NOVO ANO.

SHEL GUEMILUT CHASSADIM

FELIZ 5778

DESEJAMOS A TODO O ISHUV SHANÁ TOVÁ VEGMAR CHATIMÁ TOVÁ


Felizes pelos 15 Anos de Amazônia Judaica, desejamos a todos

SHANÁ TOVÁ UMETUKÁ


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