Revista Amazônia Viva ed. 35 / julho de 2014

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REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

JULHO 2O14 | EDIÇÃO NO 35 ANO 3 | ISSN 2237-2962

TECNOLOGIA PARA MONITORAR AS

ABELHAS Pesquisa inédita do Instituto Tecnológico Vale, em parceria com cientistas australianos, utiliza microssensores para investigar o desaparecimento desses insetos no planeta

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO




No rastro das abelhas sumidas Em santa Bárbara, no Pará, uma pesquisa desenvolvida por brasileiros e australianos quer saber por que esses insetos estão desaparecendo. AssUNTo do MÊs, PÁG. 36

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JULHO 2O14 Cláudio Szlafsztein

NOSSA CAPA Abelhas monitoradas no apiário de Santa Bárbara, no Pará FOTO: VALE/CSIRO

REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

EDIÇÃO Nº 35 / ANO 3

JULHO 2O14 | EDIÇÃO NO 35 ANO 3 | ISSN 2237-2962

TECNOLOGIA PARA MONITORAR AS

ABELHAS Pesquisa inédita do Instituto Tecnológico Vale, em parceria com cientistas australianos, utiliza microssensores para investigar o desaparecimento desses insetos no planeta

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO

IDEIAS VERDES, PÁG. 33

Uma teba amazônica CONCEITOS AMAZÔNICOS PÁG. 19

Marcondes Lima QUEM É?, PÁG. 18

E MAIS

CARLOS BORGES

O6 EDITORIAL Microssensores O7 PRIMEIRO FOCO Notícias 17 FATO REGISTRADO Origem de Novo Repartimento 17 CARTA ABERTA Comentários dos leitores 19 MUDANÇA DE ATITUDE Descarte de pilhas 2O EM NÚMEROS Uso das terras no Pará 22 OLHARES NATIVOS Futebol amazônico 44 COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL Igarapés da região 46 PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR Chuva x Resfriado 5O CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE Algas ao mar 52 ARTE REGIONAL Sonoro Diamante Negro 55 NA LISTA Grandes ilhas da Amazônia 56 UM DEDO DE PROSA Alexandre Sousa 6O MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS Altino Pimenta 62 AGENDA DE EVENTOS Simpósios e artes 63 FAÇA VOCÊ MESMO Papagaio de plástico 65 BOA HISTÓRIA A batalha 66 NOVOS CAMINHOS Inocêncio Gorayeb

Pela saúde dos quilombolas Projeto da Fundação Esperança oferece serviços médicos aos moradores de remanescentes de quilombos de Santarém. VIDA EM COMUNIDADE, PÁG. 47

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DA EDITORIA

PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA JULHO 2014 / EDIÇÃO Nº 35 ANO 3 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAN Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA carLOS bOrgeS

Microssensores

O

que pode ser menor que um grão de arroz e ao mesmo tempo ter um valor tão importante para a humanidade? Logicamente podemos preencher uma lista infindável de possibilidades, a começar por estruturas invisíveis a olho nu, como a molécula de DNA. Mas a pergunta em questão quer instigar a que ponto a inteligência e criatividade do homem chegaram em benefício da vida humana e do meio ambiente. Ao desenvolverem um experimento em abelhas utilizando microssensores de 2,5 mm² e pesando pouco mais de 5 mg, como este da foto acima, pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale e da Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Austrália (CSIRO) estão dando mais um passo em direção ao futuro do planeta. Com o dispositivo, de tamanho equivalente à metade de um grão de arroz comum, cientistas brasileiros e aus-

Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor Corporativo de Jornalismo WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA Diretor de Novos Negócios RIBAMAR GOMES Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR

tralianos monitoram populações desses polinizadores, que, pelo menos nos últimos cinco anos, têm desaparecido em escala global. A investigação científica parte da preocupação diretamente ligada ao problema do sumiço desses insetos: sem abelhas não há comida no mundo. A pesquisa está sendo feita tanto na Tasmânia, cidade da Austrália, quanto em Santa Bárbara, no Pará. Enquanto do outro lado do mundo se investiga a ação de agrotóxicos como as principais causas do desaparecimento desses animais, por aqui os pesquisadores tentam descobrir se as mudanças climáticas estão envolvidas no fenômeno. Com o microssesnsor acoplado como uma mochila hi-tech no dorso das abelhas, vemos que estruturas miniaturizadas desenvolvidas com alta tecnologia não são coisas só dos filmes de 007, mas já fazem parte da vida real e bem próximas de nós.

Diretores JOSÉ EDSON SALAME JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho Editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor chefe FELIPE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Fundação Curro Velho (acervo); Camila Machado, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Abílio Dantas, Brenda Pantoja, Alan Bordallo, Dandara de Almeida, Bruno Rocha (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Janine Bargas (produção); Hely Pamplona, Fernando Sette, Carlos Borges, Roberta Brandão, (fotos); André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Andrey Torres, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará.

amazoniaviva@orm.com.br PRODUÇÃO

FeLIPe MeLo Editor chefe

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revistA iMPressA coM o PAPel certiFicAdo Pelo Fsc - Forest steWArdsHiP council


PRIMEIRO PRIMEIROFOCO FOCO o que é notícia para a amazônia

Felicidade estampada na cara Os brincantes do Arrastão do Pavulagem são das mais variadas idades, mas com uma coisa em comum: a alegria de fazerem parte de uma identidade cultural própria da Amazônia Brenda Pantoja Fernando Sette

Consumo Lâmpadas incandescentes de 60w vão sair de circulação no Brasil este mês. Pág. 12

Alimentação Pesquisadora da UFPA investiga valor nutricional de frutas amazônicas típicas do Pará. Pág. 13 JULHO 2014


PRIMEIRO FOCO

ENCANTO Arthur tem 7 anos mas já desafia o boi para uma dança toda vez que vai ao Arrastão. “Quando eu crescer quero ser o ‘tripa’”, anuncia.

A

profusão de cores e a energia da multidão que acompanha o Arrastão do Pavulagem são testemunhadas do alto das pernas de pau pelo ator circense Marcos Augusto Machado, de 24 anos, na foto da página anterior, que abre esta reportagem. “É uma visão privilegiada e a gente fica em destaque. A reação das crianças é muito legal. Até os adultos ficam deslumbrados”, conta ele, que integra o cortejo há sete anos. Foi onde descobriu a arte do circo, “uma paixão que começou no Arraial”. Ele garante que usar as pernas postiças já é um costume, mas mesmo assim passa por duas semanas de en-

saios diários para sair nos desfiles. “Comecei no grupo da dança, mas a perna de pau é mesmo onde gosto de estar. Aqui a gente também canta e dança e faz tudo isso no alto, o que é muito mais difícil e divertido”, diz. O Arrastão leva até 20 mil pessoas para as ruas de Belém durante a quadra junina. A estimativa é da organização do evento, realizado pelo Instituto Arraial do Pavulagem, que desde 2013 conta com o patrocínio da Vale, este ano por meio da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet). “Temos orgulho de patrocinar o Arrastão do Pavulagem, um dos mais fortes símbolos da cultura paraense. Ao apoiar iniciativas como essa, contribuímos

para manter viva nossas tradições”, comentou Paulo Ivan Campos, gerente de Relacionamento e Comunicação da Vale, no Pará. Além de fortalecer a cultura regional, o festejo tem um significado importante no romance da advogada Ana Paula Braga, 25 anos, e do educador físico Sanclayton Diniz, de 31. No ano passado, o casal posou com o estandarte de Santo Antônio para uma foto e o padroeiro dos namorados ajudou a uni-los. Este ano, eles voltaram para um novo registro do romance, já com data marcada para o casamento. “E ainda tem o Vítor, nosso bebê, na barriga. Estou com quatro meses de gestação. O Arraial é mesmo abençoado”, acrescenta a noiva. Sanclayton lembra que a manifestação cultural sempre fez parte da vida deles e continuará fazendo. “Antes mesmo de nos conhecermos, cada um vinha para cá com a sua família. Mesmo sem saber, nos cruzamos em vários arraiais. E no próximo ano será especial, com o nosso filho no colo”, afirma. Ana Paula acredita que a música é o grande diferencial do Pavulagem. “O ambiente, no geral, é muito bom, mas o som, a música contagia todo mundo, desde a criança até o idoso”, destaca a advogada.

AMOR FESTEIRO A bênção de Santo Antônio uniu Ana Paula e Sanclayton durante o cortejo. Hoje, eles esperam o primeiro filho.

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TEATRO MÁGICO Emerson de Souza faz o papel do vaqueiro nas apresentações do Pavulagem Prova do que Ana Paula diz é a dedicação de Arthur Rodrigues, de apenas sete anos. Ele frequenta o Arrastão desde os quatro anos. “Mas disso eu não me lembro, é minha mãe quem conta”, se adianta à reportagem. Porém, esse pouco tempo de participação foi o suficiente para que o garoto fosse homenageado na blusa do Instituto. “Eu sou esse menininho dançando com o boi”, aponta na camisa da mãe. Em todo cortejo, ele faz questão de chegar perto e bailar com o boi, em um momento de pura alegria. “Quando eu crescer quero ser o ‘tripa’”, anuncia, referindose ao responsável por vestir a fantasia e dar vida’ ao boi. “Começou espontaneamente, coisa de criança. Até ofereceram para ele sair de vaqueiro, mas ele não quis, só aceita se for de boi. Ele não falta a nenhum arrastão e é tão especial para o Arthur, que ele chora quando acaba a festa”, relata a mãe, Andressa Rodrigues. O ator e arte-educador Emerson de Souza, de 36 anos, é um dos vaqueiros que interagem com o boi durante o cortejo, em uma atuação que encanta a todos os brincantes.

“A coreografia e a encenação começa a ser montada 15 dias antes dos arrastões, pelos quatro vaqueiros, que tem a função de protegerem e serem guardiões do boi”, explica. Integrante do Arraial desde 2004, ele também ministra oficinas de perna de pau, esforçando-se para levar para as ruas um espetáculo interativo. “O cortejo em si é um teatro vivo que chama a atenção pela movimentação e pelas brincadeiras, além de valorizar a cultura paraense”, resume. A mesma animação das crianças brilha nos olhos da aposentada Elizete Rocha, de 69 anos, que abre o cortejo orgulhosa, levando o estandarte de São João. “O Arrastão é uma das poucas festas populares que se mantém forte. E assim vai continuar se depender de mim, nem que eu tenha que vir de cadeira de rodas”, assegura. Ela já tem 12 anos no Instituto, ambiente onde encontra respeito e alegria. “Comecei por curiosidade, queria alguma atividade para ocupar o tempo e aí não parei mais. Aqui me sinto muito viva, no Pavulagem a idade não importa”, completa, preparando-se para mais um Arrastão por Belém.

EXPERIÊNCIA Para a aposentada Elizete Rocha, a idade não importa, pois ela se sente “muito viva”

LEGISLAÇÃO Ministério engrossa combate à biopirataria Estimular a bioindústria e valorizar o conhecimento dos povos tradicionais são alguns dos objetivos do anteprojeto de lei encaminhado pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso Nacional. A proposta também é uma forma de combater a biopirataria e dar mais reconhecimento ao patrimônio genético nacional, segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. “Hoje há várias instituições científicas no Brasil criminalizadas, multadas, respondendo a crime ambiental. Deparamos com situações extremamente críticas de perda de patentes no Brasil, [casos de] pesquisadores que não podiam fazer pesquisas”, disse. Ela informou ainda que 13 mil patentes estão paradas no momento devido a autuações por terem tido acesso a recursos genéticos. O projeto foi enviado em regime de urgência constitucional e deve ser apreciado pelos deputados até o próximo mês. CULTURAL Festa de Iemanjá se torna patrimônio imaterial do Pará Todo dia 7 de dezembro, centenas de pessoas se reúnem nas praias de Belém para prestar homenagens à Iemanjá, uma das mais importantes orixás do candomblé. Agora, a festa se tornou Patrimônio Cultural Imaterial do Pará, segundo decreto assinado pelo governador Simão Jatene. O festival acontece há 43 anos e, para os organizadores, o reconhecimento é uma conquista importante na luta contra o preconceito. “É preciso respeitar a crença do outro e o Festival de Iemanjá, que é uma festa religiosa e popular, é uma declaração do anseio popular. O decreto concretiza o respeito da diversidade afrorreligiosa”, avalia a mãe de santo Kátia Hadad. FOTOS: antonio cruz / agÊNCIA brASIL / divulgação

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PRIMEIRO FOCO PESCA

ciência e sustentabilidade

PROIBIÇÃO

Prêmio Vale-Capes recebe trabalhos de todo o Brasil A Vale e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, realizaram este ano mais uma edição do prêmio Vale-Capes de Ciência e sustentabilidade. Criada em 2012, a premiação nasceu durante a conferência Rio+20 e tem como objetivo estimular trabalhos de pesquisa que busquem soluções e processos inovadores dentro das universidades para os problemas ambientais do país. Este ano, 110 estudos de todas as regiões do país foram inscritos. Trabalhos de mestrado e de doutorado são contemplados anualmente pela pre-

A partir de janeiro de 2015, estará proibida a pesca e comercialização da piracatinga ( Calophysus macropterus ) na Amazônia pelos próximos cinco anos. A norma foi assinada pelos ministérios do Meio Ambiente e Pesca e Aquicultura. O peixe se alimenta de animais em decomposição e os pescadores costumam usar como isca jacarés e golfinhos amazônicos, em especial o boto-vermelho ( Inia geoffrensis ), também conhecido como boto-cor-de-rosa. O volume de pesca da piracatinga chega a 15 toneladas por ano e provoca a morte de 66 a 144 botos no mesmo período. O limite seguro de mortes é apenas de 16 espécimes. Os dados são de um estudo feito por Sannie Brum, pesquisadora do Instituto Piagaçu (IPI).

miação, sendo quatro trabalhos vencedores em cada uma das duas seções. Os vencedores de teses de doutorado deste ano receberam R$ 15 mil mais uma bolsa de estágio pós-doutoral de até três anos em uma instituição nacional. Já os vencedores de dissertação de mestrado receberam R$ 10 mil mais uma bolsa de doutorado em uma instituição brasileira. Os orientadores também foram prestigiados com auxílios equivalentes a uma participação em congresso internacional, no valor de US$ 3 mil no caso de doutorado, e congresso nacional no valor de R$ 3 mil, no caso de mestrado.

PROJETOS

Veja o número de trabalhos inscritos no prêmio por Estado brasileiro

1

2 PA

MA

CE

2 RN

CACAU

3

BA

3

110 trabalhos inscritos no total

SP

SC RS

2

RJ

PR

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77 dissertações de Mestrado

14 ES

7

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33 teses de Doutorado

20 Fonte: vale

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PRESERVADO Piracatinga está sob proteção XINGU

PE

MG

divulgação

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Uma carga de 150 toneladas de cacau produzido em São Félix do Xingu, no sudeste paraense, será embarcada até o mês de outubro para a Indústria Brasileira do Cacau (IBC), no interior de São Paulo. O acordo comercial, no valor de R$ 1 milhão, foi firmado entre agricultores da região e a indústria de chocolates finos. A produção atual é de 100 toneladas e a estimativa é de que ela dobre até o ano que vem. O cacau do município foi classificado como sendo do tipo 1, destinado à fabricação de chocolates finos, com destaque nos mercados nacional e internacional. A avaliação foi feito ano passado, a pedido do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).


HELY PAMPLONA

AVES

EXTINÇÃO

Nos últimos 200 anos, 47 aves podem ter sumido da fauna na região metropolitana de Belém. A arara-azul-grande ( Anodorhynchus hyacinthinus ) e gavião-real ( Harpia harpyja ), aves de grande porte, estão entre os primeiros a desaparecerem, antes de 1900. Já no último século, foram extintas espécies de pequeno porte, como a ararajuba ( Guaruba guarouba ) e a jandaia ( Aratinga jandaya ), que são dependentes de florestas primárias e, por isso, mais sensíveis ao desmatamento. Caça e tráfico também estão entre os fatores relacionados. Os dados servem de alerta para a provável perda de espécies de outros vertebrados, plantas e insetos, nos remanescentes florestais da região. A pesquisa foi realizada pela Rede Amazônia Sustentável, com parceria do Museu Paraense Emílio Goeldi e mais de 20 outros institutos colaboradores.

POR ONDE ANDAS? Nesta foto, um dos raros registros de uma jandaia no centro urbano de Belém.

everALDO NASCIMENTO

é do pará

REPRODUÇÃO

A família da espécie pavãozinho-dopará ( Eurypyga helias ) ganhou o terceiro filhote, reproduzido em cativeiro no Mangal das Garças, em Belém. O primeiro caso, registrado no ano passado, foi bastante comemorado por ser somente o segundo relato de reprodução da espécie em cativeiro no Brasil desde a década de 1960. Com o novo habitante, agora são oito animais no parque. A existência de lagos e do solo úmido, além da alimentação balanceada, composta por camarão, ração e larva de besouro tornou o ambiente favorável para a ave, segundo Stefânia Miranda, veterinária do Mangal, que abriga mais de 500 animais de 59 espécies.

NINHADA BOA Cada nascimento de um pavãozinho-do-pará é motivo de alegria para os veterinários do Mangal das Garças

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PRIMEIRO FOCO

Lâmpadas incandescentes sairão de circulação

As lâmpadas incandescentes de 60 Watts, as mais utilizadas no Brasil atualmente, deixarão de ser produzidas e importadas a partir deste mês de julho. Isto ocorrerá devido a uma resolução dos Ministérios de Minas e Energia (MME), Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC), publicada em 2010. Nela, estão definidos os níveis mínimos de eficiência por tipo de lâmpada, que levam em conta o fluxo luminoso e a potência elétrica consumida. De acordo com Isac Roizenblatt, diretortécnico da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), o meio ambiente ganhará com a menor produção de calor, de gás carbônico e, portanto, de efeito estufa. Segundo a Associação Brasileira da Indústria da Iluminação (Abilumi), ao longo de um ano, se somados os valores economizados apenas com uma lâmpada substituída, a economia pode chegar a R$ 25. No entanto, hoje em dia, as incandescentes ainda são as mais usadas.

CERTIFICADO

Incandescentes

250

milhões Fluorescentes compactas

200 milhões Halógenas

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inFOgraFia: MÁrciO eucLideS

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milhões

O Pará foi declarado, oficialmente, área totalmente livre da febre aftosa. O reconhecimento veio da 82ª Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em Paris, na França. A carne é a segunda mercadoria na composição do Produto Interno Bruto (PIB), e a maioria dos municípios paraenses tem a pecuária como principal atividade. Com a certificação internacional, mais de seis milhões de cabeças de gado estão credenciadas a ganhar mercado, o que fortalece a economia local. O Brasil possui agora 23 estados e o Distrito Federal reconhecidos internacionalmente como livres da doença.

A Universidade do Estado do Pará (Uepa) é uma das instituições convidadas a participar do Plano Global das Metas de Desenvolvimento Sustentável do Milênio - O Futuro que Queremos. A ideia é integrar a Amazônia aos debates sobre prevenção do crime e segurança humana. O convite foi feito por representantes do Grupo de Trabalho Regional do Comitê Permanente da América Latina para Prevenção do Crime, que, em breve, terá Belém como sede da Coordenação Científica e Acadêmica do Comitê.

HabitaÇÃo

90 milhões Leds

ONU

MADEIRA

milhões Tubulares

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ÁREA LIVRE

Febre aFtosa

Saiba quantas lâmpadas foram consumidas no Brasil em 2013

divuLgaçãO

Livre da febre aftosa, gado paraense está pronto para ganhar novos mercados

O Ministério das Cidades autorizou o uso de madeira da floresta, com origem comprovada, para a construção e reforma de habitações. A permissão vale para agricultores, familiares, trabalhadores rurais, quilombolas, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, indígenas e outras comunidades tradicionais. As obras vão atender ao previsto no Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR) e a madeira deverá ser liberada pelos órgãos ambientais competentes. Quesitos básicos de moradia relativos à segurança, durabilidade e conforto térmico também precisarão ser seguidos.

desenVolViMento

AMAZÔNIA LEGAL

MapeaMento

Até 2017 a Amazônia Legal deve estar completamente mapeada. A previsão é do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), que coordena o projeto Cartografia da Amazônia. “Traduzir as informações dos mapas era o que faltava na Amazônia”, avalia o diretor de Produtos do Censipam, Péricles Cardim. As operações estão em andamento desde 2008. Cerca de 55 mil km² de hidrovias navegáveis, o que corresponde a 90 cartas náuticas, e 1,2 milhão de km² terrestres já foram cartografados. Ainda neste ano serão mapeados mais 9,5 mil km², em 19 cartas náuticas.


MUndUrUKU

O projeto Rodas de Conversa levou o escritor indígena Daniel Munduruku ao município de Canaã dos Carajás para conversar com alunos e professores do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental das escolas públicas municipais. O autor, que é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), apresentou ao público suas histórias e personagens, estimulando a discussão sobre a cultura afro-brasileira, africana e indígena nas escolas. Estimular este tipo de debate é a proposta das Rodas de Conversa, realizada pela Fundação Vale desde o ano passado, assim como incentivar os professores a praticarem a leitura em sala de aula.

inFOgraFia: MÁrciO eucLideS

ESCRITOR

saÚde

pesquisa investiga o valor nutricional das frutas regionais A culinária amazônica é conhecida pela grande variedade de cheiros e sabores típicos, incluindo-se, também, as frutas encontradas na região. No entanto, ainda são pouco conhecidos e divulgados pela ciência os valores nutricionais desses produtos e, consequentemente, seus potenciais nutriti-

vos. Por esse motivo, a pesquisadora Bianca Alves desenvolveu, dentro do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Pará, o trabalho “Determinação e Avaliação da Bioacessibilidade in vitro de Constituintes Inorgânicos em Frutas da Região Amazônica”.

coMer beM

Conheça a importância dos principais minerais encontrados no açaí, bacuri e tucumã, três frutas típicas da Amazônia

EXEMPLO

desMataMento

O Brasil é o país que mais reduziu o desmatamento e as emissões de gases que causam aquecimento global, tornando-se um exemplo de sucesso. A constatação é da organização Union of Concerned Scientists (União de Cientistas Preocupados, em tradução livre), que divulgou um relatório mostrando que, na primeira década deste século, o país conseguiu se distanciar da liderança mundial em desmatamento e do terceiro lugar em emissões de gases. O documento “Histórias de Sucesso no Âmbito do Desmatamento” também classifica a contribuição da Amazônia brasileira no retardamento do aquecimento global como algo “sem precedentes”. Foram avaliadas a trajetória de 17 países em desenvolvimento com florestas tropicais.

54,938

Mn Maganês

aÇaí

Bacuri

Ferro – Exerce importantes funções no organismo humano, entre elas o transporte de oxigênio do sangue (hemoglobina) e nos músculos (mioglobina), fazendo parte da composição de diversas enzimas. O ferro está envolvido na função imunológica e no desempenho cognitivo. 26

55,847

Fe Ferro

Cobre – Desempenha funções fundamentais na formação de glóbulos vermelhos, no transporte de ferro necessário para a síntese de hemoglobina e na manutenção de vasos sanguíneos, nervos, sistema imunológico e ossos.

RESGATE

2

63,546

cu

pregUiÇas

Biólogos em Vitória do Xingu, sudoeste do Pará, resgataram dois filhotes de bicho-preguiça da espécie Choloepus sp., com cinco meses de vida, pesando 1,5 kg e 30 centímetros de comprimento. Os animais estavam em uma área de floresta desmatada para a construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte e foram recolhidos para o Centro de Estudos Ambientais (CEA) mantido pela Norte Energia, empresa responsável pelo empreendimento.

Manganês – Este elemento está associado à formação de tecidos conjuntivo e esquelético. Funciona como antioxidante e ativa enzimas que participam do metabolismo de carboidratos, aminoácidos e colesterol, e colabora na formação de cartilagens e ossos. 25

Cobre

tucumà FOnTe: PeSQuiSadOra bianca aLveS / uFPa

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PRIMEIRO FOCO DENGUE

moda

gastronomia

Tecnologia alerta população sobre incidência do mosquito “Observatório da Dengue” é um aplicativo para smartphones que permitirá alertar a população sobre concentrações de mosquitos Aedes aegypti e casos confirmados da doença. Com um simples toque, usuários terão acesso às informações diretamente no celular, contribuindo para o trabalho de médicos brasileiros e do poder público. Órgãos responsáveis poderão localizar e eliminar criadouros, além de monitorar pacientes confirmados. O programa foi desenvolvido pelo cientista acadêmico Ricardo Valentim, em colaboração com o epidemiologista Ion de Andrade, e está em fase de testes. Ele deve ser disponibilizado para download até o fim do mês.

DIVULGAÇÂO

Frutas, temperos e ervas típicas da região amazônica foram a inspiração para a coleção de acessórios de moda lançada pelo Polo Joalheiro São José Liberto, em Belém. São carteiras, colares e brincos, entre outros acessórios, confeccionados artesanalmente e de forma sustentável. “Tapioca”, “Jambu” e “Tempatonotucupi” são nomes de algumas peças criadas pelos designers envolvidos no projeto. Além de gemas minerais e matéria-prima orgânica, como sementes, fibras, escamas de peixes e pérolas, foram usados também materiais inusitados e reutilizáveis, dentre eles tubos de PVC, chapas de cobre, colheres de prata, pimentas feitas de resina e penas de pato. Para Rosa Helena Neves, diretora do Espaço São José Liberto e do Programa Polo Joalheiro, a coleção comunica de forma poética a cultura alimentar amazônica.

CALENDÁRIOECOLÓGICO

17 de julho Dia de Proteção às Florestas Qual é o principal programa de proteção da flora amazônica ? O programa piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, também de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, tem um papel importante na criação de políticas públicas ambientais voltadas para o desenvolvimento sustentável. Desde sua criação em 1990, durante a Convenção de Houston, o programa implantou 26 subprogramas e projetos e investiu recursos em cinco linhas de ação: experimentação e demonstração; conservação de áreas protegidas; fortalecimento institucional; ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável; lições e disseminação de conhecimentos.

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ILUSTRAÇÕES: SÁVIO OLIVEIRA

10 de julho Aniversário de criação do Fundo Nacional do Meio Ambiente Como esse recurso é investido na região? Segundo o site do Ministério do Meio Ambiente, o Fundo Nacional do Meio Ambiente é formado por um conselho deliberativo composto por 17 representantes do governo e da sociedade civil. É este conselho que executa os recursos públicos destinados a projetos socioambientais em todo o território nacional, incluindo, é claro, a região amazônica. Após 25 anos de sua criação, o Fundo já apoiou 1,4 mil projetos socioambientais e articulou recursos da ordem de R$ 230 milhões voltados às iniciativas de conservação e de uso sustentável dos recursos naturais.


ARQUIVO VALE

TRÊSQUESTÕES sobre curumins

NOVOS VAGÕES

Vale vai renovar frota dos trens de passageiros da EFC

A viagem entre Maranhão e Pará, no Trem de Passageiros da Estrada de Ferro Carajás (EFC), será feita com novos vagões que irão compor a frota. Ao todo, serão 39 carros fabricados na Romênia, em um investimento de US$ 55,6 milhões da Vale. A empresa é a única do país a oferecer o transporte ferroviário de passageiros em longa distância. São seis vagões executivos e 21 econômicos, além de vagões-restaurante, lanchonete, gerador e cadeirante, para pessoas com dificuldade de locomoção. A sustentabilidade foi uma das preocupações, por isso a

mudança para secagem das mãos com ar quente e sistema de descarga a vácuo vai gerar menos consumo de água e papel. Os equipamentos serão testados na ferrovia no decorrer deste ano e devem começar a operar até março de 2015. A frota atende a 27 municípios nos dois estados. “Parte dos nossos usuários depende unicamente deste transporte e este investimento vai oferecer um serviço cada vez mais seguro, moderno e confortável aos passageiros e às comunidades situadas ao longo da ferrovia”, destaca o diretor de Operações da EFC, Carlos Mello Júnior.

SOBRE A ESTRADA DE ferro carajás

1

Como surgiu a ideia de fazer o livro?

2

Como foi o processo de produção da obra?

3

Qual a importância de se discutir esse tema?

É uma pesquisa que surgiu da inquietação levantada por um amigo indígena que questionava como o Estatuto da Criança e do Adolescente tinha incluído os direitos e as realidades das crianças indígenas. A partir dessa “provocação”, fui atrás de dados etnográficos, normativos e socioantropológicos que pudessem construir essa ponte, que é a transformação dos direitos das crianças para melhor tratamento da diversidade cultural.

Foi um tempo de esforço para a conformação das ideias a partir de diálogos e dados obtidos, num esforço de “interculturalizar” os direitos das crianças. O processo contou com um contato muito direto com a realidade de alguns povos indígenas do Pará, além da pesquisa documental, bibliográfica e normativa e entrevistas com lideranças indígenas de várias regiões do Brasil.

Na Amazônia, trata-se de um tema fundamental, apesar de pouco discutido. Os povos indígenas estão presentes em todo o Brasil, numa diversidade cultural só vista no território ameríndio. O livro ressalta a riqueza das culturas indígenas por meio da atenção que se deve dá aos direitos dessas crianças. Mais do que acumular direitos, o que se enfatiza é a necessidade de termos de construir novos processos de tratamento e reconhecimento das identidades culturais.

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ARQUIVO PESSOAL

O livro “Crianças Indígenas, Indígenas Crianças: Perspectivas para a Construção da Doutrina da Proteção Plural” aborda infrações, atuação dos conselhos tutelares, adoção, entre outros temas sob a ótica da realidade e dos indígenas crianças. O livro é obra do advogado Assis Oliveira, que atua em Altamira, no Pará.


PRIMEIRO PRIMEIROFOCO FOCO

EuDISSE

é interessante ouvir um gaúcho, um catarinense, um nordestino dizer que se interessou pela amazônia por causa dos romances” TaMara SarÉ / agÊncia ParÁ

MILTON HATOUM, romancista amazonense e escritor homenageado na XVIII Feira Pan-Amazônica do Livro este ano. (PORTAL GLOBO UNIVERSIDADE)

“a revolução digital será, por seu âmbito e profundidade, a mais importante desde a origem dos tempos. em termos antropológicos, sociais e econômicos, o mundo já não será como antes.” FEDERICO MAYOR ZARAGOZA, presidente da Fundação Cultura de Paz e ex-diretor geral da UNESCO, sobre a importância das novas tecnologias.

“adotamos uma nova forma de fazer pesquisa, onde as ações são realizadas para os agricultores e com eles, levando em conta a realidade local” Antônio Heberlê, pesquisador do Departamento de Transferência de Tecnologias do Projeto Sustentare, desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (eMbraPa)

“a amazônia possui cerca de 30 mil plantas conhecidas, sendo que dessas somente cinco mil se conhecem o seu uso” Juan Revilla, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/ MCTI), sobre o potencial medicinal das plantas amazônicas. (SiTe d24aM)

(reviSTa carTa caPiTaL)

“as mudanças na amazônia brasileira na década passada e a sua contribuição para atrasar o aquecimento global não têm precedentes” Doug Boucher, principal autor do relatório “Histórias de Sucesso no Âmbito do Desmatamento: Nações Tropicais Onde as Políticas de Proteção e Reflorestamento Deram Resultado”, da ONU. (agÊncia carTa MaiOr)

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FATOREGISTRADO

Quando nasce uma cidade lugar à nova cidade. O nome tem relação com um rio que fazia a divisão das terras dos Parakanã, daí ser o “Repartimento”. E o surgimento do município onde se encontra hoje nasce também em função da hidrelétrica. Por conta da inundação da área em que se situava a vila de Repartimento Velho – ferramenta para a criação do lago de Tucuruí –, os moradores tiveram de ir a um novo lugar dar origem à atual Novo Repartimento. Hoje, com 70 mil habitantes, cerca de 90% deste total vivendo na zona rural, a economia municipal gira em torno de atividades agrícolas e, também, pecuárias. A extração de madeira e castanha-dopará complementa o Produto Interno Bruto da região. O Novo Repartimento, que agora já não é o repartimento das terras Parakanã, ainda nas décadas de 1970 e 1980, teve forte participação no “Movimento de Defesa da Vida” naquela região por ter sido um dos atingidos pela construção da UHE-Tucuruí. A cena, da década de 1970, é um retrato replicado nos novos projetos econômicos a serem desenvolvidos na região.

inOcÊnciO gOraYeb

A foto é um registro do nascimento do município de Novo Repartimento, no interior do Pará, em 1974, mas poderia simbolizar o florescer de uma série de outras cidades no interior de toda a Amazônia. É que cidades como Novo Repartimento são fruto de transformações socioeconômicas e culturais que advêm da implantação de grandes projetos na região. Essa imagem, por exemplo, data da década de 1970, quando se executou o projeto da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, o que gerou um grande êxodo rumo àquela região do Pará. A foto é um panorama daqueles tempos. Como resultado do fomento às atividades econômicas, trabalhadores de vários estados, famílias inteiras, foram atraídos pelas oportunidades de emprego também a Novo Repartimento, que até então era apenas a vila de Repartimento Velho. Repartimento não vem de um dialeto indígena, mas foram os índios Parakanã que deram os motivos para esse título, junto da construção da rodovia Transamazônica e, também, da usina de Tucuruí. Na cena, bem ao fundo, é possível ver áreas de floresta que, gradativamente, caíram para dar

CARTA ABERTA REVISTA A Amazônia viva de junho é para ser lida integralmente. excelentes reportagens. imperdível!

nilma Flores belém-pará

FUTEBOL sou professor de História e parabenizo a Amazônia viva por contar a origem do esporte em nossa região (“uma breve história sobre o football na Amazônia”, Assunto do Mês, junho de 2014, edição nº 34). A reportagem é um legado para as atuais gerações de estudantes.

odoni lima belém-pará

belíssima reportagem sobre o futebol na Amazônia.

brenda alves ananindeua-pará

ODONTOLOGIA Pesquisas como a do odontólogo Augusto Peres apresentada na reportagem “efeito copaíba” (Primeiro Foco, junho de 2014, edição nº 34) mostram o quanto o potencial das plantas amazônicas ainda precisa ser descoberto e pesquisado. tenho esperanças de que a cura de doenças, como a Aids, surja do meio da floresta.

Maria augusta barbosa belém-pará

CONSUMO Gostei da matéria sobre os vilões do consumo de energia (na lista, junho de 2014, edição nº 34). Apesar das constantes campanhas educativas é sempre bom lembrar que devemos economizar dentro da própria casa.

gláucia santos belém-pará

O INÍCIO

Novo Repartimento testemunhou o desenvolvimento com a instalação da usina de Tucuruí

Para se corresponder com a redação da amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email: amazoniaviva@orm.com.br ou escreva para o endereço: Avenida romulo Maiorana, 2473, Marco, belém - Pará, ceP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.

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QUEM é?

Marcondes lima

rOberTa brandãO

Geólogo estuda rochas com alto grau de concentração de minerais

Q

uando perguntado por que escolheu a Geologia como profissão, o professor e pesquisador do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará, Marcondes Lima, explica entre risos que “quando ainda era estudante secundarista, um belo dia eu ouvi falar de Geologia. Perguntei ao meu professor o que fazia um geólogo e se dava para ganhar dinheiro nessa profissão”. Foi esse o início. Marcondes entrou em 1972 no curso de Geologia da UFPA, onde também conclui seu mestrado. Já o doutorado em Mineralogia e Geoquímica foi feito na Alemanha, pela Universidade de Erlangen-Nurnberg. “Eu passei seis meses só aprendendo a língua alemã. Tive alguns entreveros com meu professor, mas decidi só voltar ao Brasil com meu doutorado concluído”. “Intemperismo Laterítico” (estudo de rochas ricas em minerais) foi o tema da sua tese e que até hoje ainda é “perseguido” como ele gosta de dizer. A ideia de trabalhar o tema surgiu quando o primeiro orientador de mestrado chamou Marcondes e lhe disse

NOME: Marcondes Lima da Costa 1

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que tinha um financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e que havia “um tal de fosfato e bauxita fosforosa por aí. Vamos estudar esse negócio”. “O problema foi elaborar um projeto, já que nem ele e nem eu sabíamos o que era isso”, conta Marcondes. Mas o desafio foi aceito e depois de muitas viagens e excursões ao interior do Estado, mata adentro, em 1978 ele entregou sua dissertação e decidiu levar a fundo as suas pesquisas na área. Já são quase 40 anos de trabalho e que hoje rende até um projeto de cooperação internacional entre Brasil e Austrália. Desde então começou a enveredar por outras áreas ligadas ao intemperismo laterítico. Outra área ligada ao assunto que tem despertado a atenção de Marcondes é a da terras pretas arqueológicas na Amazônia, que são territórios ocupados pelo homem pré-histórico na região. O professor explica que essas áreas escondem fragmentos de cerâmica enriquecidos em fosfato, que foi exatamente o que o levou ao estudo intemperismo laterítico. “Quando vi aquilo e

IDADE: 62 anos

FORMAÇÃO: Geologia

percebi que eram os mesmos fosfatos, eu pensei: ‘quero estudar isso!’”, diz. Além das pesquisas geológicas, Marcondes Lima coordena, desde a década de 1980, o Museu de Geociências da UFPA, do qual foi um dos idealizadores e que, mesmo com uma pequena infraestrutura, tem um potencial imenso. “Temos aqui no museu um importante projeto chamado ‘O Museu e o Instituto de Geociências vão às Escolas’. Com ele desenvolvemos palestras e oficinas no tema da Geologia. Isso serve para fazer com que os estudantes do ensino básico se interessem pelo tema que anda meio esquecido”, comenta o professor. Com diversos livros publicados e inclusive um romance que, curiosamente, gira em torno de suas viagens de pesquisa, previsto para ser lançado daqui a dois anos, Marcondes Lima é um apaixonado confesso pela profissão. “Cada pedrinha em cima da minha mesa tem uma história. Começamos a perceber que homens, minerais e plantas são todos parte da mesma história e aprendemos a respeitá-los”, finaliza.

TEMPO DE PROFISSÃO: 39 anos


Mudança de Atitude

CONCEITOS AMAZÔNICOS PRIMEIRO FOCO

não jogue as pilhas no lixo

Mas que teba que você é

Buscando facilitar a comunicação e homogeneizar as variedades linguísticas brasileira e amazônica, os padres jesuítas, nos séculos XVI e XVII, sintetizaram o que ficou conhecido como a Língua Geral ou Nheengatu. Era uma mistura de diversos dialetos indígenas e, também, de elementos do português, que acabara, inclusive, por ser o idioma mais falado em Belém no início do século XIX. Extinto, até a metade daquele século, por ter sido a língua dos revoltosos durante a Cabanagem, ainda assim o nheengatu sobreviveu a essa jornada nas palavras que compõem as conversas cotidianas da Amazônia de hoje. Um conhecidíssimo termo é a famosa “teba”. “Teba” é grande, protuberante, amplo, porrudo mesmo. O rio Amazonas é uma teba de rio, a floresta é uma baita teba; a região em si é uma teba. Uma sucuri também é uma teba de cobra, quase um monstro. Já no cotidiano, a palavra

Várias doenças de origem ambiental têm seu início no descarte de pilhas e baterias em locais errados. Esses equipamentos possuem elementos como mercúrio, chumbo, cádmio e níquel, todos metais pesados, que podem causar diversos tipos de prejuízos também à saúde humana. A pilha, quando jogada fora no lixo comum, vai para o aterro sanitário. Uma vez exposta ao sol, vento, chuva e umidade, ela se oxida e rompe o invólucro de proteção. Os metais pesados e elementos químicos perigosos saem misturados a um líquido que acaba contaminando todo o lixo ao redor, rios e córregos. Tanto que, no Brasil, é proibido o descarte a céu aberto desse tipo de material. A resolução Conama de 1999 possui determinações aos fabricantes: informar nas embalagens a forma e o local de despejo das pilhas e baterias, como postos de coleta seletiva, locais de venda ou fábricas. As pilhas têm de ser encaminhadas ao fabricante, importador ou a posto de coleta especializado. Há ainda baterias de celulares, que possuem cádmio, chumbo ou mercúrio, também danosos ao ambiente e ao ser humano, e não podem ir para o lixo comum. Outro cuidado que deve ser tomado é com relação às pilhas piratas. De procedência duvidosa, elas podem conter materiais muito mais tóxicos do que as regularizadas. Para incentivar o descarte correto das pilhas, empresas, como a rede de supermercados Líder e o banco Santander, possuem caixas coletoras para o depósito de pilhas e baterias na Região Metropolitana de Belém.

teba tem uma conotação pejorativa, é avacalhação. Já dissemos, diremos ou ouvimos alguém dizer: “Olha a teba que é o pé desse moleque”. Um termo que faz parte de uma riqueza linguística influenciada pelo nheengatu, assim como pela conjuração da cultura africana e de outros povos europeus, como franceses, holandeses e espanhóis. Essa vastidão de regionalismos na Amazônia até embaraça o entendimento de visitantes, mas causa a mesma confusão quando se conhece o português de outras regiões, uma vez que existem intensas diferenças culturais entre os estados e microrregiões dentro da própria Amazônia e entre a região e outras partes do Brasil. Sintetizando: noutros estados brasileiros mais ao sul, a palavra teba se refere à parte de cima da asa do frango, sem o ossinho, e dá até título à receita “teba apimentada”.

DESCARTE Pilhas e baterias usadas não devem ir para o lixo comum. Devem ser depositados em caixas coletoras específicas. divuLgaçãO

SÁviO OLiveira

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EM NÚMEROS

Terras do Norte

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evantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram como as terras paraenses estão sendo transformadas por diversas atividades econômicas e moradia nos 144 municípios do Estado. Mais de 76% do território de 1,247 milhão de km² ainda envolve área de floresta do Pará, que

se mistura com outras formas de uso, chegando a 87,4% da cobertura florestal original do Estado. Os estudos do órgão apontam ainda que a pecuária é a atividade que mais ocupa o território do Pará, seguido da agricultura. Apesar de a mineração ser uma das atividades econômicas de maior destaque, não chega a ocupar

1% da área total. Essas pesquisas são feitas constantemente e os números são atualizados com frequência para balizar políticas públicas e fiscalização das atividades econômicas que usufruem das terras. Somente o Pará chega a representar 43% das áreas protegidas de toda a Amazônia, com 32 áreas protegidas identificadas.

USO DO SOLO PARAENSE Veja como está distribuída a concentração de atividades econômicas no Estado

700.585,26 km² (57,80%) Vegetação natural em áreas de floresta

238.152,3 km² (17,02%)

Vegetação natural com extrativismo vegetal

216.208,11 km² (15,81%) Pecuária

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49.141,86 km²

6.527,06 km²

Água

Reflorestamento

(3,68%)

45.306,85 km² (3,31%) Agricultura

23.548,77 km² (1,56%)

Vegetação natural com área campestre

(0,49%)

3.775,23 km² (0,16%)

Extrativismo animal

1.121,58 km² (0,08%)

Uso não identificado


rOnaLdO rOSa / divuLgaçãO

2.263,79 km²

ÁREAS PROTEGIDAS NA AMAZÔNIA

(0,07%) Mineração

935,97 km² (0,02%) Área urbana

10,43 km² (0%) Indústria

1,9% Demais terras

4,6% 5,1%

Proteção integral Assentamentos rurais

21,7%

5,2% 5,4%

Uso sustentável Proteção ambiental Terras indígenas FOnTe: ibge

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OLHARES NATIVOS

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A grande partida A Copa do Mundo no Brasil está prestes a acabar. Paixão nacional já não diz nada. Não sintetiza, tampouco define o fulgor. Mas pode chamar de paixão pessoal, individual, intransferível, hipnótica, verdadeira e, ao mesmo tempo, ilusória como rocha flutuante. Afinal, é drible, miragem do sentido racional. É o amor na linha de passe, esse estranho guardado em mim e reverberado a todos. Sem defesa ou prorrogação. Quem dirá que não está encruado na alma brasileira? Que é nossa segunda pele e o sonho de abraçar o mundo com os pés já passou da condição onírica para se transformar em obsessão, ideia fixa, desejo alucinado alimentado a cada correria descalça de meninos e meninas pelos descampados da nação? Trança-se pernas, ginga-se, entorta-se, ri-se muito, desvia-se, cai-se demais, levanta-se muito até invadir o retângulo sagrado, o retângulo-ideal, receptáculo de vitória/derrota e de gritos e da veia visível dos pescoços de quem luta até o fim. Agora respire e responda: o que é o jogo senão a própria vida em metáfora redonda, em gomos, quicante, ousada e vívida, a qual tocamos no possível, dominamos no cabível, perdemos na velocidade do silvo estridente do apito. Resume-se em noventa minutos de euforia e fracasso, força e zelo, carne, ossos, coração empenhados na dura partida.

FOTO: FERNANDO SETTE

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OLHARES NATIVOS

MAJESTADE Onde estiver é o centro das atenções, a majestade gorda e tenaz que está nos olhos deles, mas também delas. O lugar é o chão, mas flutua e voa quando e onde quer sem dar satisfação aos ineptos, obedecendo apenas aos íntimos. Sejam eles de qualquer etnia ou gênero. FOTO: OSWALDO FORTE

TRIUNFO A satisfação estampada. O domínio momentâneo é a glória. Uma glória modesta, vulgar de segundos. O triunfo mínimo sobre o adversário que a deseja desesperadamente. Chora o pedinte, ri o dono da bola. FOTO: HELY PAMPLONA

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HERÓI Ele sai de casa descalçado, descamisado, encantado. Ninguém sabe o que está por trás do meio sorriso e que o campinho será sua base para o céu. Rola bola. Em segundos, ele voa. Um voo curto, ridículo para os pássaros, impressionante para os de sua espécie, embasbacados com o domínio e o superpoder até então inconfesso. FOTO: HELY PAMPLONA

FLUIDEZ Ela não desliza como faz nos gramados. A água oferece resistência. Mas não se trata de uma dificuldade para ela. Ela se lava, flutua e ri dos que a disputam sem temor no campo fluído a misturar o suor da luta renhida com o doce e barrento rio. FOTO: OSWALDO FORTE JULHO 2014

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DEBAIXO DA BICA O craque cresce debaixo do sol, mas o toró desaba. Os meninos? Nem aí. O gramado é terra molhada, o céu encoberto, agasalho nenhum. A paixão? A mesma. Na chuva ou no estio. FOTO: HELY PAMPLONA

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MÁGICA A maré deu oportunidade. O sol, o tempo perfeito. Não é o lugar, não é o tempo. É vontade. O jogo se faz em cenário que une a criação divina e a criação do homem. Ao invés de futebol, magia. FOTO: HELY PAMPLONA

ILUSÃO A faixa de areia, a floresta, a choupana e o rio. Interessa a realidade aos olhos de quem ama? Ao redor, ao invés do silêncio, o rugido da torcida; ao invés da natureza, a imponência do estádio; sob os pés, que areia que nada, o gramado. FOTO: HELY PAMPLONA JULHO 2014

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OLHARES NATIVOS

PAIXÃO O berro explode na garganta de cada um até se tornar a massa sonora ouvida de longe ao ser expressa por 2OO milhões de brasileiros. A paixão floresce sozinha no menino até contaminar outro menino e outro e tantos e todos pelo País do Futebol. FOTO: FERNANDO SETTE

A revista Amazônia Viva abre espaço para a publicação de fotos com temáticas amazônicas na seção “Olhares Nativos”. Entre em contato e saiba como participar. amazoniaviva@orm.com.br

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ra

ltu Cu

Construção de Legado

Esp

ort e

Desenvolvimento Urbano

Saúde

Educação

Geração de Renda

Diálogo Social e Necessidades do Território




IDEIAS VERDES

“É possível diminuir o risco de desastres na Amazônia”

Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Desastres na Amazônia, Cláudio Szlafsztein diz que governos e sociedade precisam criar a cultura da prevenção, para se evitar acontecimentos naturais, como as frequentes enchentes na região. Bruno Rocha

Roberta Brandão

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IDEIAS VERDES

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esenvolvimento mal planejado, migrações sem qualquer controle, crescimento desordenado das cidades, falta de infraestrutura e redução dos padrões de bem-estar social são alguns fatores responsáveis pela ocorrência de desastres ambientais, que podem causar graves crises socioeconômicas às regiões e perdas humanas irreparáveis. Infelizmente, os desastres ambientais são cada vez mais frequentes no Brasil e a região Norte ainda carece de planejamento e capacidade de resposta a esse tipo de acontecimento. Com a frequência desses eventos mais do que duplicada nos últimos anos, o que preocupa estudiosos e pesquisadores é o aumento da vulnerabilidade das populações. É o caso do professor Cláudio Szlafsztein, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Desastres na Amazônia (GEPDAM), que volta suas atenções para a elaboração de planos de prevenção e solução para esses problemas. Doutor em Ciências Naturais, Cláudio é um dos principais investigadores do projeto adaptação a mudanças climáticas na América Latina, financiado pelo Instituto Interamericano para Estudos das Mudanças Globais (IAI) e National Sciences Foundation, dos Estados Unidos. Na entrevista a seguir, o pesquisador aponta a necessidade de mudanças nas políticas urbana, econômica e educacional na Amazônia para evitar os desastres naturais, que segundo ele, são socialmente construídos. Como é o seu trabalho no Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia? Além de professor, dentro do programa eu atuo na área de gestão ambiental e de riscos naturais e planejamento urbano e regional. Esse é um dos primeiros mestrados profissionais da UFPA e o primeiro em meio ambiente. Nele procuramos, de certa maneira, mediar de forma interdisciplinar, de que forma podemos fazer um novo desenvolvimento para a Amazônia, com uma visão mais endógena, mais pró-

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pria da região. Região esta que é muito visada, muito influenciada, muito pressionada. Então, um pouco do objetivo do programa é desenvolver ideias que pensem a política, as estratégias e os instrumentos de gestão ambiental, que não freiem o desenvolvimento, mas que enxerguem o desenvolvimento com uma visão mais local.

“Sempre dizemos que os desastres não são causas naturais. Um desastre é a interrupção total ou parcial, permanente ou temporária de algum tipo de desenvolvimento.”

Quais são os principais projetos do programa, nesse sentido de pensar o desenvolvimento amazônico? Em linhas gerais são o de gestão de recursos naturais e o uso desses recursos no desenvolvimento local. Aí a gente pode destacar os trabalhos com a relação cidade e meio ambiente na Amazônia, mudanças climáticas e desastres naturais, ordenamento territorial. São as mais diversas temáticas e quase todas interdisciplinares. Mas o principal mesmo é a forma como esses projetos são desenvolvidos, sempre procurando criar uma ponte com a sociedade. Dentro da linha de desastres naturais, o senhor coordena o Grupo de Ensino e Pesquisa em Desastres Naturais na Amazônia, que é um projeto que foca questões como a importância da prevenção, o investimento no setor e a criação de políticas públicas para a área. Isso mesmo. Do GEPDAM participam arquitetos, jornalistas, geógrafos, geólogos, economistas, biólogos, engenheiros civis... Mesmo assim só abarcamos uma parcialidade do tema. Quer dizer, aí você pode ver como essa temática é extremamente ampla e complexa. Um dos últimos trabalhos do grupo foi no campo do jornalismo, quando mostramos de que forma os mais importantes jornais de Marabá e Santarém comunicam o desastre. Aí entramos até na questão da “espetacularização” da mídia e memória midiática. Um tema que não conseguimos abordar ainda, mas que estamos pesquisando, é a psicologia do desastre. Partindo desses eixos de análise, a quê comumente está ligada a ocorrência de desastres naturais na Amazônia?


Nas pesquisas do grupo, nós sempre dizemos, quase que dogmaticamente, que os desastres não são causas naturais. Um desastre é a interrupção total ou parcial, permanente ou temporária de algum tipo de desenvolvimento. Se uma comunidade, um município ou uma indústria interrompe seu desenvolvimento, consideramos como um desastre. Pode até ser que no seu início alguns tipos de desastres tenham como componente um processo natural, mas o problema nem é tanto a origem. São antes as condições que eu tenho para responder a esses impactos. A isso chamamos de vulnerabilidade e capacidade de resposta. Eu digo que é possível prever enchentes, grandes ventanias e outras alterações. Mas o que nós fazemos é analisar as condições de vulnerabilidade social, como o sistema de drenagem, tipo de habitação e sua localização. Fatores ligados com a condição de pobreza da população, que são os mais frequentemente ligados à ocorrência de tais desastres. Quais são as dificuldades, apontadas nas suas pesquisas, de se elaborar políticas para esse tipo de situação? Nós não somos uma sociedade focada na prevenção. Quando dou palestras ou faço exposição de minhas pesquisas, costumo perguntar quem tem plano de saúde ou de vida e quase ninguém tem. É a falta de cultura de que existe o amanhã, de que é possível ter planejamento. E aí entra o problema econômico, porque é muito difícil convencer, tanto o governo quanto sociedade civil, de que é melhor gastar esse dinheiro hoje, prevenindo, do que gastar talvez o dobro dele amanhã, remediando. Para um governante ainda é mais complicado. Como gastar dinheiro para prevenir uma enchente que de repente pode nem acontecer? Investir dinheiro em algo que talvez não aconteça e sofrer cobranças dos eleitores, do tribunal de contas. Se meus pares não entendem a necessidade do planejamento é mais difícil investir em políticas para isso. Em estudos feitos por nós nos últimos anos vimos que, tanto no governo estadual quanto no federal, o investimento para gestão de risco de desastres é in-

ferior a 0,5% do orçamento. O GEPDAM tem trabalhos com a educação para a sociedade? Como o grupo trabalha a conscientização da importância dos planos de prevenção de desastres? Nós sempre fazemos esse tipo de trabalho sim. Quer seja ministrando palestras, produzindo folders educativos, fazendo mapeamentos participativos, onde identificamos junto com a comunidade quais os locais e os elementos que podem colocá-la em risco. Tudo isso é uma forma de trabalhar o capital social, para que a própria comunidade pressione o poder público na elaboração de políticas de prevenção. Para, além disso, durante nossas atividades nós temos colaborado, como coautores, na elaboração de planos estaduais de gestão de risco, mostrando que o papel do Estado tem que ser muito mais do que, digamos, apagar incêndios, que é preciso também ter uma política de previsão dos impactos. Pelas suas pesquisas, que medidas básicas os governos estaduais deveriam adotar, a curto, médio e longo prazos, para evitar que futuramente se repitam os mesmos trágicos incidentes? Nossa região tem um lamentável cenário socioeconômico, e isso é um dos principais fatores a se levar em conta. Uma pessoa pobre não quer sair da sua casa, mesmo que esteja correndo risco com enchente ou deslizamentos, porque ela não vai ter condições de construir outra. Então... Tem uma frase de um colombiano chamado Mirtez que eu repito sempre, que diz que “o problema não está na chuva e sim no buraco que eu tenho no teto”. E o nosso foco é no teto. A nossa preocupação é tentar mostrar para os governantes e comunidades, através de nossas pesquisas, que diminuindo a vulnerabilidade, e isso se faz com planejamento, pesquisas, investimentos, ou seja, cuidados constantes, é possível diminuir o risco de desastres na região. Isso aumenta inclusive a capacidade de resposta aos problemas consequentes do desastre. Eu posso dizer que dentro de nossas pesquisas já fizemos muito, mas sabemos que ainda tem muito por fazer.

“Uma pessoa pobre não quer sair da sua casa, mesmo que esteja correndo risco com enchente ou deslizamentos, porque ela não vai ter condições de construir outra”

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No rastro das abelhas Para tentar responder ao mistério do sumiço desses insetos no planeta, prejudicando a produção de alimentos em escala global, o Instituto Tecnológico Vale e um centro de pesquisas da Austrália desenvolvem um estudo pioneiro com o uso de microssensores menores que um grão de arroz Abílio Dantas

Carlos Borges

FOTO: VALE / CSIRO

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om o objetivo de observar em que medida as mudanças do clima na Amazônia, principalmente a alteração do regime de chuvas, está afetando o comportamento de abelhas na região, o Instituto Tecnológico Vale e a Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Austrália (CSIRO) estão desenvolvendo uma pesquisa inédita. Durante três meses, o comportamento de um grupo de 400 abelhas africanas será monitorado por microssensores instalados no dorso dos insetos. A experiência faz parte de um estudo maior, iniciado em setembro do ano passado na Tasmânia, e que

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tenta descobrir o por quê de a população das abelhas estarem morrendo duas vezes mais rápido do que alguns anos atrás. Trata-se do Distúrbio de Colapso de Colônias (CCD, na sigla em inglês), que nos Estados Unidos já provocou a morte de 35% desses insetos criados em cativeiro. Na Amazônia, segundo o coordenador da pesquisa, o físico Paulo de Souza, professor-visitante do ITV em Belém, o problema do CCD não é tão grave como nas lavouras norte-americanas ou na Europa, mas há indícios de redução de populações nas colmeias daqui. Em maio deste ano, uma parte da pesquisa ocorreu no apiário do município de Santa

Bárbara, Região Metropolitana de Belém. Conforme o estudo, o desaparecimento desses animais é um acontecimento global muito sério, pois eles são responsáveis pela maior parte da polinização das plantas. “A relação é muito simples: sem abelha, não há alimentos. E sem alimentos, não há vida. A sustentabilidade da sociedade depende desses polinizadores”, explica Paulo. Segundo relatório da Coloss, uma rede de cientistas que estuda o sumiço das abelhas, algumas localidades europeias perderam até 53% de suas colônias nos últimos anos. No caso do Brasil, o Estado de Santa Catarina perdeu um terço de suas 300 mil abelhas


em 2012. De acordo com a pesquisa, o fenômeno também parece afetar a Amazônia, mas ainda não é possível afirmar quais são as razões específicas, sendo as mudanças climáticas as principais causas da investigação científica na região. “Os períodos mais quentes podem resultar em um maior estresse para as abelhas”, afirma Paulo de Souza. O Instituto Tecnológico Vale integra a pesquisa sobre as abelhas na região e contribui com soluções para conter impactos ambientais, influenciando num maior equilíbrio para o planeta com a participação da Amazônia. “Para uma empresa como a Vale, a pesqui-

sa pode auxiliá-la no monitoramento ambiental em áreas de operação e definição de ações preventivas diante de um cenário de mudanças climáticas, reduzindo riscos ao negócio e promovendo o desenvolvimento sustentável na Amazônia”, explica o diretor do ITV em Belém, José Oswaldo Siqueira. A preocupação do diretor é abalizada devido aos vários problemas que podem ocorrer devido ao desaparecimento das abelhas (veja o box na página 43). O custo de produção e, consequentemente, do preço dos produtos agrícolas devem aumentar consideravelmente. Segundo Paulo de Souza, o modelo atual de fazendas se tornaria insustentável.

PERCORRENDO O MUNDO O cientista Paulo de Souza (à esquerda) veio da Austrália para dar continuidade à pesquisa sobre abelhas em Santa Bárbara, no Pará. No município, um grupo de pesquisadores implanta os microssensores nos insetos da região (acima).

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ASSUNTO DO MÊS A CIÊNCIA EM CAMPO A pesquisa coordenada por Paulo de Souza, nascido no Mato Grosso do Sul e radicado na Austrália, conta com 25 pesquisadores, entre brasileiros e australianos. O estudo consiste na aplicação de microssensores de 2,5 milímetros de largura e peso de 5,4 miligramas no dorso das abelhas. Para se ter uma ideia, um grão de arroz comum tem de 5 a 6 milímetros de comprimento. O objetivo do estudo é monitorar com esses dispositivos os movimentos e alterações do organismo de mais de 10 mil indivíduos para descobrir o que pode estar provocando o colapso. A experiência com apoio do ITV usa a nanotecnologia, tendo trabalhos utilizados pela NASA e Agência Espacial Europeia. Paulo de Souza explica que as abelhas monitoradas na Tasmânia são resfriadas a 5°C e depois manipuladas a fim de aplicar os microssensores com uma supercola. Segundo o pesquisador, o aparelho não atrapalha o voo dos insetos. Mas no caso do experimento desenvolvido em Santa Bárbara o trabalho se deu de forma um pouco diferente. O apicultor Paulo Said, da Cooperativa de Produtores de Cacau e Mel de Santa Bárbara, desenvolveu uma técnica de aplicar os microssensores com as mãos sem ser necessário o congelamento. “Nós aprendemos muito com os apicultores locais. Eles desenvolveram técnicas novas de colocar o sensor que nós não havíamos visto na Austrália. Vamos, inclusive, levar conhecimento próprio daqui do Pará”, afirma Souza. “A troca de experiências entre os pesquisadores e nós, do setor produtivo, tem sido muito positiva. Será muito importante para a sustentabilidade do setor”, completa Said. Depois de colocados os microssensores, é possível conhecer informações precisas, inéditas até então, sobre os caminhos feitos pelas abelhas em certos períodos de tempo; as condições ambientais as quais estão expostas e as alterações de comportamento que podem estar ocorrendo em espécies específicas. Existem diferenças entre as espécies de abelhas australianas e brasileiras. “É impressionante a quantidade de dados que coletamos aqui em Santa Bárbara, pois as

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abelhas brasileiras se movimentam muito mais, são mais ativas que as australianas”, diz o coordenador do estudo. Essas diferenças são consideradas importantes no desenvolvimento do estudo, para que as informações coletadas sejam interpretadas corretamente.

O FUTURO EM GRÃOS Embora os microssensores utilizados atualmente já representem um avanço científico, eles são apenas um anúncio do que ainda virá em termos de tecnologia. Paulo de Souza afirma que o objetivo é chegar, em quatro anos, a um microssensor do tamanho de um grão de areia que poderá ser aplicado em insetos até menores que abelhas. Esse dispositivo microscópico, segundo o físico, terá a capacidade de fazer diversas atividades como gerar a própria energia, armazenála numa bateria e guardar informações que serão lidas em sensores que ele carregará. Esses aparelhos medirão temperatura, umidade, quantidade de insolação e vibração do próprio inseto. E, por fim, terá uma antena sem fio capaz de comunicar todos esses dados para uma antena base. “Dessa maneira, poderemos utilizar os insetos como microestações meteorológicas capazes de nos fornecer informações sobre o meio ambiente muito precisas”, prevê o cientista. O engenheiro de computação, Gustavo Pessin, pesquisador do Instituto Tecnológico Vale, também participa do estudo e diz que ele ainda está em sua fase inicial, aguardando validação tanto na Tasmânia quanto em Santa Bárbara. Os dados recolhidos, segundo Pessin, poderão servir de base, futuramente, para políticas públicas voltadas à preservação das abelhas e de outras causas ambientais. A Federação das Associações Apícolas do Estado do Pará (FAPIC) também é parceira da pesquisa do ITV e CSIRO. Segundo o presidente da entidade, o engenheiro agrônomo Gerson de Morais, a preocupação com o desaparecimento das abelhas já existe há cerca de 20 anos, mas esse estudo é pioneiro. “Essa pesquisa é uma ferramenta para sabermos o que vem acontecendo com as abelhas. É preciso que isso seja conhecido”, comenta.

INVESTIGAÇÃO Paulo de Souza coordena a pesquisa do ITV e CSIRO sobre o desaparecimento em massa das abelhas no planeta, o que pode acarretar em um colapso na produção de alimentos por falta de polinização

Segundo Paulo de Souza, o Instituto Tecnológico Vale propiciou que a região amazônica fosse incluída na pesquisa. “É importante trazer para a região Norte esse tipo de relacionamento: a tecnologia extremamente avançada e o trabalho que é feito pelo apicultor local”, afirma. Para o pesquisador, o papel principal do ITV é promover o desenvolvimento sustentável e a promoção da aplicação de tecnologias junto ao apoio a


Seguindo abelhas Veja como o experimento com os polinizadores é desenvolvido

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Cinco colmeias foram utilizadas, sendo quatro na Tasmânia (duas colocadas em ambiente natural e duas recebendo constantemente pequenas doses de agrotóxicos neonicotinoides no alimento, que têm origem na molécula de nicotina, também usada em cigarros). Em Santa Bárbara, no Pará, mais uma colmeia e´usada no experimento.

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Os microssensores de 2,5 por 2,5 milímetros e peso de 5,4 miligramas são colocados nas abelhas. Cada sensor pesa um terço do peso que um inseto carrega em pólen ou nectar, por isso o dispositivo não atrapalha o voo dos polinizadores.

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O equipamento registra, entre outras informações, os trajetos realizados pelas abelhas e suas mudanças de comportamento a fim de apontar as causas ou combinações de razões do Distúrbio do Colapso das Abelhas.

AS CAUSAS DO COLAPSO Em julho de 2013, a União Europeia optou por banir um tipo de pesticida, o neonicotinoide, por um período de dois anos. A ação tem como objetivo observar se essa substância, considerada perigosa para os polinizadores, é mesmo uma das causas do Distúrbio do Colapso das Abelhas. Após esse período, a medida será reavaliada para saber se o comportamento

“A troca de experiências entre os pesquisadores e nós será muito importante para a sustentabilidade do setor” paulo said

Apicultor de Santa Bárbara-Pará

VALE / CSIRO

atividades econômicas realizadas na Amazônia, como a produção de alimentos. A integração internacional é também um ponto do projeto destacado pelo pesquisador. “As instalações de nanotecnologia que nós temos lá na Austrália também estão a serviço do ITV”, complementa.

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ASSUNTO DO MÊS

ACESSÓRIO Os microssensores funcionam como uma espécie de mochila hi-tech, que transmite informações aos pesquisadores

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dos insetos permaneceu igual ou se houve mudanças positivas. As razões que provocam o colapso são consideradas misteriosas pelo fato de os corpos das abelhas não serem encontrados nas colmeias ou arredores. Mas, além da ação do pesticida, existem algumas outras hipóteses que, sozinhas ou combinadas, podem constituir a resposta da questão. Os pesquisadores do ITV e CSIRO acreditam que a exposição dos insetos às extensas áreas de monocultura, onde é cultivado apenas um tipo de fruto, pode influir na sobrevivência das abelhas por elas precisarem da diversidade das plantas a serem polinizadas. Outro possível causador é o ácaro varroa, considerado danoso para as abelhas, em especial aquelas que vivem em climas frios. Observa-se também que as novas tecnologias decorrentes do estilo de vida das sociedades urbanas influem no distúrbio. Segundo a pesquisa, torres de sinais de celulares, por meio da emissão de ondas eletromagnéticas, parecem desorientar alguns insetos tal como algumas técnicas criadas pelos próprios apicultores. “O gerenciamento de colmeias para que elas produzam muito mel ou para que produzam serviço de polinização pode também afetar a saúde delas, pois isso causa estresse”, esclarece Paulo de Souza. Uma dessas técnicas consiste na colocação de um removedor de pólen na entrada da colmeia. A abelha, ao perder seu pólen para o dispositivo, aciona a ajuda de outras abelhas com o motivo de

avisar que precisa de mais pólen. Dessa maneira, elas polinizam muito, mas se estressam por não conseguirem alimentar outras gerações da colmeia com a proteína proveniente do pólen. De acordo com o coordenador da pesquisa, todos esses fatores, juntos ou separados, podem estar afetando a saúde dos polinizadores tão importantes para o equilíbrio do planeta e para a vida humana. E é isso que o experimento pioneiro desenvolvido pelo ITV e o centro de pesquisas australiano busca responder ao mundo.

PEQUENOS DETALHES As abelhas pesquisadas na Amazônia são diferentes dos insetos monitorados na Austrália, mas o resultado esperado deve ser o mesmo

e se não houver zum-zum...

conheça cinco impactos da diminuição do número de abelhas no planeta

1.

Por serem responsáveis pela polinização de pelo menos 73% das espécies de plantas do planeta, a produção de qualquer alimento será impactada. A possível extinção das abelhas pode levar à extinção do ser humano em questão de décadas.

2.

A produção de frutas, como laranja, maçã, açaí e café são diretamente afetadas com a falta da polinização. As abelhas são responsáveis por 90% da polinização de macieiras e 27% das laranjeiras.

3.

Fazendas produtoras de verduras também têm sua produtividade impactada. Países como os Estados Unidos e o Japão já sentiram os efeitos do fenômeno em suas produções.

4.

O preço da cesta básica certamente seria elevado devido ao aumento dos preços dos produtos. A dieta alimentar ficaria mais pobre em minerais e vitaminas importantes para a saúde humana.

5.

Países que dependem da produção de alimentos, como o Brasil, podem enfrentar uma grande onda de imigração devido à falta de comida.

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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

em busca da trilha das canoas Os igarapés são uma atração típica da região e agradável para os veranistas que querem opções de lazer durante as férias de julho Abílio Dantas

“R

iacho amazônico, ribeiro, curso em miniatura que tem, como os grandes, todas as características fluviais”. Para o conhecedor da região Norte do Brasil, as palavras do estudioso Raimundo Morais são mais do que suficientes para indicar o assunto desta matéria: os igarapés. Cenários importantes da mitologia amazônica, eles são, além de um fator constituinte da cultura da região, uma conhecida e acessível opção para os turistas e veranistas do Pará. De acordo com a Grande Enciclopédia da Amazônia, do jornalista e historiador Carlos Rocque, o termo surgiu da junção de duas palavras indígenas: ygara, que signi-

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fica “canoa”, e apé, que pode ser traduzida como trilha ou caminho. O nome significa, portanto, “trilha das canoas” e refere-se à largura, geralmente estreita, destes cursos de água muito presentes nos municípios amazônicos. Segundo a geógrafa e pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Carmena Ferreira de França, os igarapés são definidos cientificamente como rios de baixa hierarquia fluvial. Ou seja, possuem volume de água bem menor do que o dos grandes rios da Amazônia. No entanto, são ainda rios, e não lagos ou braços de rios como costuma dizer grande parte da população. “Para nós, o rio Guamá é um rio e o Tucunduba é um igarapé, por exemplo. Mas ambos são rios. Os igarapés são rios menores por serem mais estreitos, menos extensos e ficarem mais próximos de nascentes”, explica a professora. Tributários ou afluentes de rios maiores, os igarapés estão presentes em vários aspectos da vida na Amazônia. Segundo Carmena, estes rios possuem importância cultural e ambiental. “O banho de igarapé faz parte da cultura amazônica Além disso, está inserido também na economia regional”, afirma. “Muitas beiras de igarapés são áreas de movimento econômico, principalmente no que se refere a

FernandO arauJO / arQuivO O LiberaL

atividades turísticas, sobretudo no mês de julho”, completa a pesquisadora. A diretora de marketing da Companhia Paraense de Turismo (Paratur), Jaqueline Alves, acredita que as características naturais dos igarapés constituem um diferencial para os turistas. “As águas de temperatura geladas durante o nosso verão, que é muito quente, e também a proximidade de muitos deles à cidade de Belém faz com que os turistas se encantem com os igarapés”, afirma. No entanto, segundo Jaqueline, do ponto de vista logístico, ainda vivemos um período irregular pois, como a maioria dos igarapés está em áreas privadas, a responsabilidade por preparar o local de forma adequada para receber turistas recai principalmente sobre os proprietários.

PRESERVAçÃO No aspecto ambiental, a professora Carmena de França afirma que há muitos igarapés no Estado precisando de cuidados. De acordo com ela, é preciso harmonizar a presença de bares e restaurantes ao cuidado com o lixo e com a vegetação do entorno, para que esses recursos não sejam destruídos com o tempo por conta de ações como desmatamento e poluição das águas.


Veja algumas opções de igarapés para visitar nessas férias

paula sampaio / arquivo o liberal

Para tomar aquele banho Igarapé da Coca-Cola

Águas Claras

Localizado no meio das dunas do município de Salinópolis, a 217 km de Belém, o igarapé da Coca-Cola é muito visitado por turistas de todo Brasil. Seu nome vem da água escura, tonalizada pelas raízes das árvores e plantas que o cercam e o protegem. Ele é formado pela água da chuva. O igarapé fica entre as dunas da praia do Atalaia, o que possibilita uma aventura ao chegar a ele. (Fonte: revista ParaAmazônia)

Localizado a 7 km do Estádio Olímpico do Pará, o Mangueirão, em Belém, o balneário Parque dos Igarapés foi construído em 1986, às margens do rio Ariri. Em 1989 inaugurou, em sua primeira etapa, uma piscina de 1.700 m² formada pelas águas de igarapés oriundos do Ariri. No local, o restaurante Igarité, trilhas ecológicas e campos esportivos também atraem visitantes. Em 2005, foi inaugurado o primeiro circuito de arvorismo do Estado, com 425 metros de extensão. É o único que ocorre em igarapés, que junto às trilhas, coloca o visitante na aventura e emoção do contato com a exuberância Amazônica.

paula sampaio / arquivo o liberal

(Fonte: parquedosigarapes.com.br/historia.php)

shirley penaforte / arquivo o liberal

Parque dos Igarapés

Porto de Minas

(Fonte: Santa Isabel.com.br)

(Fonte: belemdopara.tur)

Caraparu

igor mota / arquivo o liberal

O igarapé fica no município de Santa Isabel do Pará, km 33 da BR-316. Para chegar ao balneário é preciso entrar pela rua principal da cidade de Santa Izabel e seguir até a PA-140, trajeto de cerca de sete quilômetros. Ao ver a entrada para o igarapé do Caraparu, é preciso seguir direto por mais um quilômetro. O ambiente é familiar, com estacionamento para veículos, mas ao visitante é proibida a entrada de comida ou bebidas, fornecidas exclusivamente pelo restaurante local. O igarapé é formado por água escura e corrente, permitindo o banho e até natação para os praticantes do esporte.

O igarapé Águas Claras, localizado em Santo Antônio do Tauá, é um dos mais procurados do Estado. Com águas geladas, costuma ser ponto de encontro de famílias e de casais de namorados. Com mesas colocadas sob as árvores, o local oferece momentos aprazíveis para os visitantes.Para chegar até ao balneário, em Santo Antônio do Tauá, que fica a 59km da capital paraense, é preciso seguir até Magalhães Barata, via localizada em frente ao Mercado Municipal e percorrer um trajeto de 1,5 km. Também não se pode levar comida e nem bebida, pois só é permitido o consumo no restaurante local.

Caraparu é o rio mais imponente do município de Santa Isabel. Ele nasce às proximidades da BR-316, no distrito de Americano, abrange quase todo o território da cidade e desagua no rio Guamá, em Belém. No local há uma orla para o rio e diversos restaurantes, no estilo maloca. Saindo de carro da capital, a viagem dura cerca de 40 minutos. Pela BR316 o visitante entra na cidade de Santa Isabel, de lá segue até a Praça Matriz e pega a PA-140. Após 5 km na rodovia estadual, se vê uma placa que indica a estrada que dá aceso ao igarapé. Não é permitida a entrada de carros, mas há um estacionamento pago no local. (Fonte: G1 Pará)

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PERGUNTA QUE NÂO NÃO QUER CALAR

tomar banho após se molhar na chuva evita o resfriado? HeLY PaMPLOna

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uem mora na região amazônica, principalmente no Pará, uma terra de chuvas repentinas, dificilmente escapa de ser pego pelo toró e chegar encharcado em casa. E ao ficar todo molhado, é comum se deparar com alguém já informando uma medida imediata: tomar banho e molhar a cabeça para evitar uma gripe ou resfriado. Para os mais céticos, não há qualquer lógica nesse procedimento, afinal, se já está molhado, que diferença faz se molhar de novo? A resposta é: nenhuma, pois é mais um mito brasileiro desmistificado pela ciência. A doutora em Biologia Simone Conde, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), é enfática sobre o banho após pegar chuva para evitar gripes e resfriados: “Isso é lenda. O banho normal seguido de um de chuva não trará prevenção de doenças. Não há nenhum embasamento científico para esse costume”, afirma. Simone observa que gripes e resfriados são doenças diferentes, apesar de

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parecidas e comumente confundidas. Ambas são virais e apenas isso. A chuva em si não se relaciona com o aparecimento delas. “Contudo, pode desencadear um quadro atópico pela mudança de temperatura. É o que chamamos vulgarmente de alergia. Então, teremos espirros, corizas, muito semelhante ao resfriado. Há pessoas que podem, por coincidência, adquirir uma virose após um banho de chuva, ou mesmo, pela atopia, alterar as defesas naturais das vias respiratórias superiores, deixando mais suscetível às infecções”, ressalta. Mesmo sendo causadas por vírus, resfriado e gripe têm diferenças básicas. O primeiro possui sintomas mais brandos, caracterizados por espirros, secreção mucosa nasal, leve dor no corpo ou na cabeça e com curtíssimo tempo de evolução, detalha Simone. Já a gripe causa sintomas mais intensos, com piora da congestão nasal, tosse com expectoração mucosa, febre, dores na garganta, no corpo e na cabeça. Pode evoluir, na maioria dos casos, para resolução sem maiores repercussões, ou levar a um quadro respiratório de pneumonia e

este desencadear uma insuficiência respiratória. Ela cita a gripe causada pelo vírus H1N1, também chamada como gripe aviária. Existem grupos mais propensos a agravarem como os idosos, crianças abaixo de 5 anos, gestantes e pacientes com doença crônica. Outra preocupação de quem toma banho de chuva é ficar com as roupas molhadas. Isso pode, sim, provocar condições para surgimento de sintomas de doenças respiratórias, por favorecer a mudança de temperatura corporal. A médica explica que, em geral, a população tem mais cuidado com a região da cabeça por, justamente, nela se expressar o quadro de um resfriado ou gripe. “Deve-se lembrar que as infecções respiratórias ocorrem pela inalação das partículas virais. Mas, não há relação entre cabeça molhada e gripe ou resfriado”, reforça. Portanto, quem for pego pela chuva no meio do caminho, não precisa ficar desesperado para tomar outro banho debaixo do chuveiro. Mas não é por isso que é seguro ficar tomando banho de chuva com tanta frequência e ficar ensopado.


VIDA EM COMUNIDADE

CONSULTA Médico atende comunidade de Santarém através do projeto Quilombo, da Fundação Esperança

Esperança nos quilombos Em Santarém, projeto social de assistência médica garante a melhoria da qualidade de vida de populações históricas do Estado Bruno Rocha

uridicamente, as comunidades quilombolas são definidas e reconhecidas como as relacionadas a segmentos negros em diferentes regiões e contextos no Brasil, habitando terras que resultaram da compra por negros libertos, da posse pacífica por ex-escravos de terras abandonadas pelos proprietários em épocas de crise

econômica, da ocupação e administração das terras doadas aos santos padroeiros ou de terras entregues ou adquiridas por antigos escravos organizados em quilombos. De acordo com levantamento feito pela Fundação Cultural Palmares, em todo o País foram identificados mais de 3,5 mil comunidades quilombolas, onde 1.342

FUNDAçÃO ESPERANÇA / DIVULGAÇÃO

são certificadas pela própria Fundação. A Comissão Pró-Índio de São Paulo aponta o Pará como um dos estados brasileiros que possuem a maior quantidade de comunidades quilombolas. São mais de 240 quilombos e muitos outros em fase de identificação. Foi aqui no Estado que ocorreu a primeira titulação de terra quilombola do país, com a comunidade de Boa Vista, em Oriximiná, no oeste do Pará, recebendo em 1995 o título de propriedade de seu território de 1.125 hectares. Ainda segundo a Comissão, o território paraense concentra mais da metade das terras quilombolas tituladas no Brasil. É neste cenário que o Projeto Quilombo, desenvolvido pela Fundação Esperança, de Santarém, atua há 14 anos, atendendo as comunidades quilombolas situadas nas margens do rio Trombetas, no oeste paraense. São mais de 4 mil moradores, de 18 comunidades, que recebem assistência médica gratuita. Por conta da dificuldade em se chegar ao município de Oriximiná para consultas, e também pela falta de contatos para além das fronteiras da comunidade, o que

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VIDA EM COMUNIDADE

FUNDAçÃO ESPERANÇA / DIVULGAÇÃO

gerava muita desinformação, o quadro geral de saúde nos quilombos no início do projeto era desanimador. Logo, o primeiro passo da Fundação Esperança foi o planejamento, que levou três anos de estudos para identificar onde inicialmente se faria mais urgente a implantação do projeto. Foi quando surgiram os dois primeiros polos de atendimento: o Moura e o Jamari. No início das atividades, 40% das crianças quilombolas entre zero e três anos morriam de desnutrição; 98% dos homens jamais tinham feito qualquer consulta com um urologista e nem sequer sabiam dos cuidados e doenças relacionadas à próstata. Já as mulheres não tinham acompanhamento pré-natal, o que gerava frequentes complicações em partos de risco, e apenas 0,2% já tinha feito o exame preventivo do câncer do colo do útero. Foi aí que, em 2003, já com as atividades em pleno desenvolvimento, a coordenação sentiu a necessidade de aumentar o número de polos e de serviços de atendimento nos quilombos. Atualmente, são dez viagens ao longo

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ASSISTÊNCIA Acima, criança recebe atendimento médico e nutricional em casa. Exames básicos de saúde são oferecidos pela Fundação Esperança.


do ano, e três dias de assistência médica em cada um dos quilombos assistidos pelo projeto. A equipe, formada por médicos, enfermeiros, técnicos farmacêuticos, técnicos laboratoristas, estudantes de medicina e enfermagem, além de secretários e cozinheiros, chega às localidades a bordo da embarcação Barão do Mar, que leva dois dias de viagem para ir e voltar das comunidades. O barco é equipado com aparelhamentos médicos para atendimento de emergência e outros materiais usados na medicina curativa e preventiva. A enfermeira Ethel Soares, coordenadora do projeto Quilombo, diz que “hoje não há mais casos nem de confirmação e muito menos de morte causadas pelo câncer, por exemplo. Nem mortes por desnutrição. E 90% de nossas crianças são imunizadas. Isso é muito marcante para toda equipe e importantíssimo para o projeto”, diz. Além dos serviços de consultas médicas e exames laboratoriais, o projeto Quilombo promove a formação de agentes voluntários da própria comunidade, que ajudam no desenvolvimento e na continuidade do trabalho. A população elege o quilombola considerado o mais apto a receber o treinamento. Então um grupo é formado, com voluntários dos diferentes quilombos, para receber oficinas e minicursos de atendimentos básicos e diagnósticos primários. Já são 41 promotores voluntários de saúde, que aprendem a identificar e dar os cuidados iniciais para doenças como anemia, desnutrição, malária, leishmaniose, hipertensão e outras. Nos casos mais graves e de emergência, são os agentes voluntários que acionam a equipe do projeto ou entram em contato com unidades de pronto-atendimento de Oriximiná. “Os quilombolas ganham importância na própria comunidade e se percebem construtores da sua história. Isso vai para além do âmbito médico do projeto. Já mexe com a preservação cultural dos quilombos”, defende Ethel. O subgerente e coordenador de projetos da Fundação Esperança, Steven Winn Alexander, diz que o projeto faz muito pelos quilombolas, mas sabe que ainda há muito por fazer: “O ideal seria que tivéssemos postos de saúde em cada quilombo. Ainda assim, conseguimos fazer um belo trabalho. É muito prazeroso poder ajudar

ACOMPANHAMENTO Os membros das comunidades da região participam dos encontros com os agentes de saúde. Abaixo, mulher quilombola faz exames de pré-natal.

essas comunidades e ver os resultados positivos aparecendo”, comenta. Resultados que fizeram a instituição, por meio do projeto Quilombo, ganhar o 1º lugar na categoria Saúde em Comunidades do Prêmio Reconhecer 2013, promovido pela Vale e Fundação Vale. Segundo a coordenadora do projeto, os R$ 25 mil da premiação serão investidos na compra de novos equipamentos médicos fixos, como macas, termômetros e estetoscópios. “O prêmio veio em boa hora. Os equipamentos que usamos são antigos e precisamos investir na compra de novos aparelhos para melhor atender as

comunidades”, diz Ethel Soares. Os coordenadores do projeto também planejam a implantação do atendimento odontológico nas suas excursões. “Os quilombolas precisam de mais atenção. Sua cultura e seus costumes precisam ser preservados. E é isso que tentamos fazer quando garantimos, através do projeto, uma melhor qualidade de vida para eles. Esse cuidado que temos é também uma forma de demonstrar amor ao próximo, uma das premissas desde o início da Fundação”, conclui Ethel, enfatizando o caráter fraterno do projeto, tão importante para toda a equipe.

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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE

edivaLdO MendeS / arQuivO O LiberaL

Maré doUrada

o mistério das algas de salinas

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lgas pardas do gênero Sargassum tomaram conta das areias das praias de Salinópolis, no início de junho. Fenômeno que chamou a atenção do poder público e mais ainda de banhistas que frequentam os balneários do município e se assustaram com a coloração pouco convidativa, variando entre marrom e amarelo. A limpeza já foi concluída, porém, a curiosidade ficou sobre o que são esses vegetais e como foram parar na praia, sobretudo, se não causam risco à saúde. Pesquisadores contatados pela Prefeitura de Salinópolis informaram que o fenômeno foi um “boom” de organismos marinhos, ocorrendo na região do Salgado desde abril. Também é chamado de “maré dourada”. Porém, em outros países costeiros da Europa, África e América Central o mesmo ocorreu ou já ocorre há algum tempo em

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períodos isolados e muito aleatórios. A única frequência anual é do golfo do México. Parte disso se deve a mudanças bruscas de temperatura da água, fazendo as algas se desprenderem. Tanto aqui quanto no exterior, a mesma biomassa de fitoplâncton não é venenosa ou possui qualquer nível de toxicidade nociva à saúde. Somente pessoas extremamente sensíveis e com alergia muito específica poderiam ter uma reação alérgica, mas não há qualquer registro de algo semelhante no contato com esses vegetais. O biólogo e doutor em oceanografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA), José Eduardo Martinelli Filho, reforça a ausência de perigos sobre essas algas, mas diz que o fenômeno é um obstáculo para a pesca e turismo. “As algas entopem as redes e tanques de cultivo de mariscos e pescados e não deixam o banhista à vontade, com a quantidade de

biomassa nas águas”, afirma. Porém, ele observa que, além de um ótimo fertilizante natural, as sargassum que invadiram Salinas controlam vários níveis de toxinas onde estão presentes. Porém, fora da água, morrem em poucas horas e como bactérias sempre estão presentes nos processos de decomposição, a morte dos vegetais gera um odor fétido característico. Mas enquanto outro fenômeno desses não ocorre, os barraqueiros do Atalaia e a população do município foram informados pela Secretaria de Meio Ambiente de Salinópolis de que não há qualquer risco nas praias. Os veranistas podem curtir as praias sem qualquer receio e se divertirem neste mês de férias. O mistério de as algas terem invadido Salinas ainda vai permanecer até que o fenômeno ocorra de novo e possa ser estudado adequadamente. “Mas não há o que temer”, assegura Martinelli.


SUELY NASCIMENTO

PENSELIMPO PRIMEIRO FOCO arte | cultura | reflexão

Sonoro silêncio Mostra audiovisual registra a história do Diamante Negro, aparelhagem construída por Sebastião Nascimento nos anos 50 e que não existe mais. Página 52.

Nosso Chico O paraense Alexandre Sousa canta Chico Buarque nas noites de Belém há 25 anos. Pág. 56

Erudição O maestro Altino Pimenta foi um dos principais músicos clássicos do Estado. Pág. 60 JULHO 2014

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ARTE REGIONAL

Mauro Fernandes

O som da saudade

CRIADOR E CRIATURA Sebastião Nascimento e seu potente Diamante Negro: um marco nos bailes de Belém

Mostra audiovisual apresenta às novas gerações uma das mais importantes aparelhagens de festas de Belém, o Diamante Negro Dandara de Almeida

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Suely Nascimento

s potentes aparelhagens de som, com estruturas monumentais, equipamentos de última geração e efeitos especiais, que animam as noites de Belém e do interior do Estado, já fazem parte da cultura paraense. Não se sabe ao certo como surgiram, mas as festas atuais de aparelhagem, que embalam coreografias frenéticas e sofisticadas ao som do tecnobrega, nem se comparam à simplicidade dos bailes da década de 1950. Época em que DJ era chamado de “controlista”, os discos de vinil em 45 e 78 rotações eram muito utilizados e os casais dançavam bem agarradinhos.

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Foi naquele tempo que uma aparelhagem de pequeno porte, a “São Sebastião”, surgiu no bairro da Marambaia. Depois, o equipamento passou a ser conhecido como “Diamante Negro”. Quem conta essa história em registro audiovisual é a jornalista e fotógrafa paraense Suely Nascimento, uma das cinco filhas do fundador da aparelhagem, Sebastião Nascimento. Uma mostra no Sesc Boulevard apresenta aos saudosistas e novas gerações todo o potencial do “Sonoro”. Com sua primeira máquina fotográfica, uma antiga Nikon FM2, lente 50mm, 34 rolos de filme fotográfico 35mm em preto e branco

e sem o recurso do flash, ela documentou em quase 1,2 mil imagens o trabalho do pai, no período de 1997 a 2003, quando o Diamante Negro já era bem maior e dedicava-se totalmente a tocar em bailes da saudade, com hits dos anos 50, 60 e 70. Os registros visuais foram nas sedes Bola Samba, Estrelinha, Florentina, Ilariê e São Domingos, localizadas em bairros boêmios de Belém, como Pedreira e Jurunas. “Comecei a fotografar o Diamante Negro para praticar essa arte, pois tinha acabado de participar do curso ‘Photomorphosis – Fotografia para Iniciantes’, com o fotógrafo Miguel Chikaoka, na Associação Fotoativa, e a recomendação era de retratar, sempre. E, também,


para o álbum de família”, conta Suely. Ela conta que seu pai era bem jovem quando comprou um alto-falante, uma tuíta e um projetor, passando a tocar todos os gêneros musicais em casamentos, batizados, aniversários e em festas dançantes. A mesa de som era um amplificador que alcançava o grave, o médio e o agudo. O equipamento era transportado em um carrinho de mão pelo seu Sebastião.

Documentação fotográfica Boa parte da documentação fotográfica produzida por Suely Nascimento transformou-se no audiovisual “Sonoro Diamante Negro”, lançado pelo Instituto de Artes do Pará, em 2004, com um baile da saudade na sede da instituição, localizada ao lado da Basílica de Nazaré. “Pensei em unir fotografia, música da saudade e trechos de uma entrevista gravada em fita cassete com meu pai, e fazer um audiovisual. Então, inscrevi o projeto para concorrer a uma das bolsas para Pesquisa em Arte, concedida pelo IAP, de agosto a novembro de 2003. Veio a aprovação e o resultado foi o audiovisual em preto e branco, de 9’30” em que, centenas de fotografias foram unidas dando a impressão de filmagem, mostrando a chegada do caminhão, pela manhã, na sede social, o descarregamento da aparelhagem e sua montagem no salão; e, ainda, à noite, o baile da saudade”, conta a jornalista. “O fotógrafo Alberto Bitar fez a direção de arte do projeto. Em 2010, o audiovisual foi contemplado com o Prêmio Porto Seguro Fotografia, na categoria Pesquisas Contemporâneas, em São Paulo. E, no ano seguinte, foi exibido na Universidade Cheikh Anta Diop, em Dakar, capital do Senegal, durante o Fórum Social Mundial, que foi realizado na África”, enumera. Em 2010, após seleção de projetos, Suely Nascimento também participou do programa Conexão Artes Visuais, realizado pela Fundação Nacional de Artes e pelo Ministério da Cultura, com o patrocínio da Petrobras, e produziu o livro de fotografias “Sonoro Diamante Negro”, com 66 imagens editadas em 72 páginas. A iniciativa foi a única da região Norte a ser aprovada. A obra foi lançada nesse mesmo ano, no São Domingos Esporte Clube Recreativo e Beneficente, no Jurunas, três dias após o falecimento de Sebastião Nascimento, aos 81 anos de idade. Intencionalmente, o livro possui o forma-

to de um Long Play (LP), com 31cm x 31cm, e apresenta imagens divididas em dois momentos. No lado A, fotografias de casais dançando em bailes da saudade. No lado B, detalhes da montagem da aparelhagem. O trabalho de seleção e edição das fotos levou alguns meses de preparação e contou com a parceria dos paulistas Eli Sumida, na edição de arte e no projeto gráfico; e Ricardo Tilkian, no tratamento de imagens; e dos paraenses

Ronald Junqueiro e Paula Sampaio, na edição de texto e de imagem. Desde então, a obra é distribuída em instituições de educação e de cultura em todos os estados brasileiros, gratuitamente.

Vida dedicada Sebastião Nascimento nasceu em Capanema, em 20 de janeiro de 1929, dia de São Sebastião. Na juventude, mudou-se com a

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ARTE REGIONAL

Negro até meados de 2004, quando vendeu a aparelhagem. “Era época das grandes aparelhagens, com computadores e televisões. Para as de menor porte, o número de festas começava a diminuir e, o faturamento não era suficiente para mantê-las e acompanhar as mudanças”, lembra Suely.

Exposição

família para Belém, onde passou a morar no bairro da Marambaia. Foi lá que surgiram as primeiras oportunidades de tocar com a aparelhagem que estava sendo montada aos poucos. As apresentações se intensificavam depois, principalmente, nos meses de junho, com as festas típicas da época; e de outubro, devido à quadra nazarena. Com o tempo, o Diamante Negro tornouse relevante na capital paraense. Chegou a cobrir apresentações musicais de cantores como Jerry Adriani, Reginaldo Rossi e Beto Barbosa. E a tocar, inclusive, no palco do Theatro da Paz. Está na memória de antigos festeiros e de pessoas que frequentavam as

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festas desse sonoro, que no início do ano 2000, era considerada a aparelhagem mais antiga em atividade, em Belém. Sebastião Nascimento ficou conhecido no mundo das aparelhagens como “Manteiguinha”. Por ele ser tão cuidadoso com seus LPs diziam que só faltava ele passar manteiga na hora de limpá-los. Toda essa dedicação garantia a qualidade do som o que, conforme Suely Nascimento, era um diferencial do Diamante Negro, assim como a sua discoteca, com exemplares raros, o que lhe garantiu um público cativo. As pessoas saíam de seus bairros e iam onde o sonoro estava tocando. Sebastião Nascimento manteve o Diamante

O projeto “Sonoro Diamante Negro” está sendo apresentado, este ano, por meio da Ação Percurso, idealizada pelo Centro Cultural Sesc Boulevard, que pretende compartilhar com o público o processo de criação de um autor que tenha a fotografia como principal linguagem. O lançamento de um blog pela herdeira de Sebastião Nascimento, em março, marcou o início desse primeiro percurso. Na página eletrônica, podem ser encontrados, às segundas-feiras, textos, imagens e vídeos, para que todos acompanhem o trabalho que será desenvolvido até agosto. Em maio, houve o curso “Dança de Salão”, ministrado pelo professor Marcelo Thiganá. As cinco aulas de dança usam as canções executadas durante os bailes da saudade, realizados pelo Diamante Negro, como “Índia Paraguaia” (Carlos Santorelli/Márcia Regina), “Vagabundo” (Victor Simon), “Os Anjos Cantarão Assim” (Waldemar Pimentel) e “Saxofone, por que choras?” (Ratinho). Ainda será lançado o website e haverá um encontro entre a autora e o público, para falar sobre seu processo de documentação fotográfica. A instalação com fotografias e o audiovisual que integram o projeto “Sonoro Diamante Negro” pode ser visitada no Sesc Boulevard, na Castilhos França, 522/523. O horário é das 10h às 21h, de terça a sábado; e das 9h às 13h e das 15h às 19h, aos domingos. A entrada é gratuita.

Serviço

Endereços on-line do Projeto Sonoro Diamante Negro sonorodiamantenegro@gmail.com www.sonorodiamantenegro.com.br www.sonorodiamantenegro.com.br/blog facebook.com/sonorodiamantenegro twitter.com/@s_diamantenegro youtube.com/sonorodiamantenegro


NA LISTA

maiores ilhas da região amazônica

Detentora de grandes bacias hidrográficas, é de se esperar que algumas das maiores ilhas brasileiras estejam na região amazônica. Essas grandes extensões de terras cercadas de águas - definição geográfica que aprende-se nas primeiras séries do ensino fundamental - representam, principalmente, o potencial turístico, cultural e científico da Amazônia.

Ilha de Marajó 40.100 km²

PARADISÍACO Famosa pelas suas belezas naturais, a praia do Pesqueiro, na Ilha do Marajó, é um dos locais mais visitados no Brasil pelos turistas

Ilha de Tupinambarana 11.850 km²

Apesar de a referência imediata ser o arquipélago de Marajó, o nome vem da maior ilha que batiza o coletivo das ilhas no Pará. A Marajó possui duas regiões bem definidas. Uma dos campos naturais, situada na parte oriental, com um terço da superfície, e a outra, de mata na parte ocidental, com dois terços do total, constituída por floresta tropical, as de terra firme e as inundáveis. Anualmente ocorrem cheias e secas acentuadas, gerando interações naturais em diferentes períodos do ano, assim como prejuízos a atividades econômicas, sobretudo à pecuária. Situado na foz do rio Amazonas, a ilha de Marajó possui clima tropical úmido, como o restante da região, ocupando boa parte do estuário do rio. A ilha de Marajó é considerada a maior fluviomarítima do mundo.

Antes era chamada apenas ilha de Tupinambarana, mas hoje é considerada um arquipélago, como o de Marajó. Rodeado pelos rios Amazonas, Madeiras, Sucunduri e Abacaxis, está situada no leste do estado do Amazonas. Com essa extensão, pode ser considerada o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, perdendo apenas para ilha de Bananal, em Tocantins. No centro da maior ilha, há uma baixa serra, sendo cober ta, a ssim como a maior par te desse território, por f lo resta s tropicais, acessíveis apena s via f luvial ou aérea. Esse grupo de ilha s abriga o município de Parintins, onde ocorre o famoso festival dos bois Caprichoso e Garantido, que atraem turistas de várias partes do mundo.

Ilha de Bananal

Ilha Grande de Gurupá

Na confluência das bacias do Tocantins e do Araguaia, é a maior ilha fluvial do mundo. A região é conhecida pela biodiversidade, com presença de espécies, como onça-pintada, uirapuru e tartaruga-daamazônia, além das orquídeas, a maçaranduba e a piaçava. Possui duas terras indígenas: Carajás e Javaés, além do Parque Nacional do Araguaia. É também considerada uma Reserva da Biosfera pela Unesco, desde 1993, por ser uma chamada zona úmida de importância global. Destaca-se pelas atividades do turismo, com esportes radicais e pesca esportiva. Engloba os municípios tocantinenses Formoso do Araguaia, Lagoa da Confusão e Pium.

É considerada a maior ilha do delta do Amazonas, no interflúvio dos rios Amazonas e Xingu, a oeste da ilha do Marajó. Desde muito antes da presença portuguesa no período colonial, outros povos europeus, como holandeses e ingleses, passaram pela região negociando com indígenas e chegaram a iniciar um processo de ocupação sistemática. Com a fundação de Belém, em 1616, se iniciaram incursões portuguesas para a expulsão dos estrangeiros na ilha, até que as forças lusas se sedimentaram e fundaram, mais tarde, a Missão Jesuíta de Gurupá, que veio a dar origem ao município homônimo. Lá, encontra-se a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Itatupã e Baquia.

20.000 km²

4.864 km²

FONTES: RELATÓRIOS DE PESQUISA DO INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO-SOCIAL DO PARÁ - HIDROGEOLOGIA DA REGIÃO ORIENTAL DA ILHA DE MARAJÓ / CONSERVAÇÃO DE AVES MIGRATÓRIAS NEÁRTICAS NO BRASIL, ONG CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL, E SITE ILHADOBANANALTUR.COM / ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA DAS VÁRZEAS DA RDS DE ITATUPÃ E BAQUIA, GURUPÁ, PARÁ, BRASIL

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UM DEDO DE PROSA

Um caro amigo

Mesmo sem os olhos verdes de Chico Buarque, o cantor Alexandre Sousa encanta a noite paraense com um repertório de célebres canções de um dos principais ícones da MPB Alan Bordallo

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Fernando Sette JULHO 2014


S

e uma vez na noite de Belém você teve a sensação de ouvir Chico Buarque cantando ao vivo, provavelmente estava escutando Alexandre Sousa e não se deu conta. O músico paraense, que há 25 anos promove shows em homenagens ao cantor, ícone da MPB, não faz cerimônia ao comentar sua admiração pelo músico a quem atribui seu despertar musical. Mas ao contrário do ídolo famoso, Sousa mostra uma das várias faces do mundo da música: menos glamorosa, mas altamente passional. Neste ano, ele lançou seu primeiro CD, intitulado “Minha Voz”, com onze músicas, entre autorais e uma versão: A Rita, de Chico Buarque, que seria gravada em parceria com o autor, mas acabou apenas autorizada indiretamente, em mais um capítulo dos desencontros entre Alexandre e Chico – que inclui até a ocasião em que a ex-primeira-dama do Brasil Ruth Cardoso foi Rita e, ao lado do marido FHC, levou de Alexandre o sorriso e a chance de conhecer o ídolo. Ironicamente, ele teve mais sorte com artistas contemporâneos de Chico, como Caetano Veloso e Djavan, e também parceiros do homenageado, como Francis Hime e Toquinho, com os quais já trocou ideias musicais. Nesta prosa, Alexandre Sousa contou um pouco mais da rotina atribulada de músico, com um trabalho que consome os sete dias da semana, mas que encara como uma diversão. E também dos planos de gravar um segundo disco autoral, meta que esbarra no patrocínio, um dos desafios dos artistas independentes. De onde surgiu a admiração pelo Chico Buarque? Aos 11 anos, despertei para a obra de Chico. Meus irmãos mais velhos o escutavam naquela antiga eletrola, então, eu fui influenciado escutando. E meus irmãos, tocavam. Aquela música, aquela melodia, naquele momento, me encantou, me tocou muito. Deixei o rock de lado. Gostava e gosto até hoje do estilo, mas a música do Chico impregnou na minha mente de tal maneira que faço, há 25 anos, shows em homenagem ao Chico Buarque, sempre no dia do aniversário dele, 19 de junho. Nesse ano ele completou 70 anos e o show foi no Margarida Schivasappa, do Centur.

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UM DEDO DE PROSA

“O músico tem que se conscientizar que tem que se aprimorar. Porque música é entretenimento, é felicidade.”

Então foi ele que despertou essa sua vontade de ser músico? Foi, porque a parte melódica dele me encantou. Eu achava muito estranha a melodia. Não sabia tocar naquela época as harmonias dificílimas que ele tem. Tanto é que foi considerado o maior músico do século XX. Aquilo me deu um estalo. Meu pai tocava, mas comecei a me aprimorar. Em 1979, fui a São Paulo e tive aulas com o ex-guitarrista do Roberto Carlos, o Cláudio Ramos, e ali eu passei um ano. Quando voltei, vim com outra ideia de violão e harmonia. E sempre entrava na loja onde vendiam discos, e ia direto onde estavam os do Chico. Sempre colecionei LPs. Qualquer loja que entrava na época, como a Gramofone na década de 1970 em Belém, era direto atrás do Chico. Hoje é difícil, todo mundo baixa da internet, mas eu gostava de ter o disco ou o CD, para poder ler a ficha técnica, ver quem gravou guitarra, quem fez o arranjo. É importante dar valor aos músicos. Como é ser músico em Belém? Ainda existem muitos preconceitos a serem vencidos, mesmo para um artista rodado?

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Até hoje tem, sim. Existe certo preconceito, mas eu, graças a Deus, tenho, como músico, uma boa agenda. Toco de segunda a segunda. Toco em vários lugares de Belém (durante a semana) e aos sábados vou para Mosqueiro. Tenho um bar lá há seis anos, a Barraca dos Boêmios, no Ariramba. Ou seja, não tenho do que reclamar sobre viver de música. Agora, para quem está começando é difícil. O músico tem que se conscientizar que tem que se aprimorar. Porque música é entretenimento, é felicidade. É preciso ganhar seu espaço. Com uma agenda lotada, o segredo, então, está em se divertir? Sim, porque ainda tenho que ter espaço em casa para estudar, tirar novas músicas. A obra do Chico é difícil. Não são todas as músicas dele que sei tocar. Por isso que esse show tem 25 anos. Ele (Chico) tem várias músicas, quase mil. Mesmo na noite, meu repertório nunca é o mesmo. Então me preparo. “Amanhã toco tal música que faz tempo que não toco”. Então vou aos songbooks estudar a harmonia, lembrar da letra. É um estudo eterno. A obra do Chico

abriu as portas para mim, tanto para viver de música, como também em crescimento (musical). E também as palavras, letras, que muitas vezes tenho que ir ao dicionário ver os significados. Além das músicas, os livros do Chico Buarque lhe interessam? Pois é... A parte literária dele tem algumas coisas que não gostei. Por exemplo, o “Estorvo” foi um livro que não compreendi direito. E o filme eu não gostei. Mas tem coisas como a literatura dele de “Gota D’Água”, as peças teatrais, “A Ópera do Malandro”, que foram clássicos. Assisti à peça aqui em Belém, no Theatro da Paz. A parceria dele com Ruy Guerra, Francis Hime, foram em épocas que marcaram muito. Depois ele parou de compor. E aí lançou As Cidades, por volta de 1989, se não me engano, e aí veio com músicas maravilhosas. Para se ter ideia, com esse CD do Chico, que meu irmão me deu de presente, fiquei chorando todo dia em Mosqueiro. Toda vez que escutava, chorava. Na segunda semana tive que parar de ouvir porque me emocionava muito. Isso é o quanto gosto do Chico Buarque.


Construir uma carreira com homenagens ao Chico rendeu críticas também? Eu não gosto que me chamem de cover do Chico Buarque. Assemelho a minha voz à dele. E quando ele começou, na época dos festivais, tinha uma voz anasalada. E muita gente não gostava da voz dele. E até hoje dizem: “Adoro as músicas do Chico Buarque, mas não gosto da voz dele”. Mas quando me veem cantando, as mesmas pessoas ficam sem graça, dizem até que eu canto melhor que ele (risos). Então eu deixo para lá, não esquento. Mas na realidade ele tem uma voz grossa, e eu não. Quando canto as canções do Chico minha voz se assemelha ao timbre dele, e só. Tanto é que já fiz shows em homenagem ao Tom Jobim, ao Djavan. E eu tenho uma potência de voz que me permite alcançar outro tom, a mais que o Chico. O próprio Tom Jobim não tinha uma voz boa, o Cartola, o Baden Powell. E não falam deles. Mas eu acho que quanto mais falarem dele, em vida, e eu continuar fazendo essa homenagem, vou continuar me considerando um privilegiado. Chegou a conhecer o Chico Buarque pessoalmente? Em 1982, eu estava assistindo ao Fantástico, na TV, e apareceu uma chamada do Chico convidando para um show no Morumbi, em São Paulo. Eu liguei para um amigo, ele comprou ingresso. O show estava marcado para 21 horas e eu cheguei às 17 horas no Morumbi. Inclusive assisti à passagem de som do Chico, tentei falar, bati foto mas o segurança não me deixou passar. Foi a primeira vez que cheguei próximo dele. Na década de 1990 assisti ao show Carioca, no Rio de Janeiro. Cheguei cedo ao Canecão, conversei com o Luís Cláudio Ramos, arranjador dele, tirei foto com Jorge Elder, contrabaixista, e perguntei como poderia conhecê-lo. Eles me disseram para, no terceiro bis, ir para a porta do camarim. Fui logo no primeiro e nem vi o fim do show. Quando cheguei já tinham pessoas na frente. E na minha vez chegou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com a esposa, Ruth Cardoso. E os seguranças, lógico, deram a vez para ele. Eles ficaram mais de

INSPIRAÇÃO O primeiro CD autoral de Alexandre Sousa, o Minha Voz (detalhe), bebe na fonte da discografia de Chico Buarque meia hora lá dentro. E era a minha vez de entrar, apertar a mão do Chico, dar um abraço nele! E quando o FHC saiu, os seguranças vieram e disseram que o Chico já tinha ido. E dizem até que o Chico fez uma música para o FHC, chamada “Injuriado”, em que ele fala sobre o FHC, na época da eleição, não ter apoio do Chico, que era amigo do Lula. E na música o Chico diz: “Não lhe peço dinheiro, não lhe peço nada, por que você fica injuriado?”. Ou seja, perdi a chance de dar um abraço no Chico por causa do FHC. Já pensou o que é isso? (risos) Mas apesar de não ter falado com ele, você conseguiu uma autorização para que o seu CD tivesse uma versão de “A Rita”... Pois é. O que aconteceu: eu fiquei enchendo o saco dele pelo e-mail (risos). Expliquei que além de fã divulgava a obra dele há muitos anos. E no meu CD, chamado “Minha Voz”, a ideia era gravar “A Rita” junto com o Chico. Conheci em Belém o escritor Wagner Homem e dei a ele um demo para que entregasse ao Chico. Mas o Chico tinha ido para a França, escrever um novo livro. O meu CD veio pela lei Tó Teixeira. Mas não tem selo, não tem um patrocínio forte, é independente. Pedi e um belo dia, a presidente da editora do Chico me telefonou dizendo que ele tinha liberado e que

eu não pagaria nenhum ônus das mil cópias que gravaria, e que a editora ficaria responsável pelas dez obras que fiz. Isso para mim já é um passo grande. Espero que o Chico goste do arranjo, que é do Augusto Castro, o Babu, e no contrabaixo a participação do Ney Conceição, que era da banda do João Bosco e agora está com a Elba Ramalho, e tocava comigo na noite em Belém. Esse é um orgulho grande, é um CD bem gravado. Veio na minha maturidade musical. O que você priorizou no processo criativo para gravar o “Minha Voz”? Claro que tem muita influência do Chico Buarque, do Tom Jobim, se reparar nas minhas melodias. Tem parceria com o Chico Sena, que se chama “Gosto de Sal, um Bolero”, que foi gravada em um CD da UFPA. Agora estão me conhecendo como compositor. Normalmente era conhecido como um intérprete do Chico Buarque, mas quero desmistificar isso. Por isso fiz questão de dar esse título. Mas é inevitável: onde toco pedem Chico Buarque. E aí acabo cantando uns 45 minutos de Chico. Normalmente num bar de voz e violão o pedido é “Toca Raul!”. Contigo, então, é “Toca Chico!”? (Risos) Exatamente, comigo é assim. Mas sinto o maior prazer nisso, e um orgulho tremendo. Mas não quero ser intitulado como cover. Cover é como o Elvis Presley, é quem se fantasia. Eu, para começar, não tenho olhos verdes (risos).

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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Altino Pimenta (1921-2OO3)

Um “schumann” à moda amazônica Músico paraense compôs as mais genuínas canções para expressar a riqueza cultural da Amazônia

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“Waldemar Henrique e Altino Pimenta são os dois últimos grandes músicos influenciados pela Semana de 22 (Arte Moderna) por utilizarem os ritmos brasileiros e regionais”, afirma o professor. Esta marca pode ser encontrada em algumas composições de Altino como “Canjerê”, Urubatan lembra com saudade outra faceta também importante da vida de Altino Pimenta: a de educador. Em 1973, o maestro foi convidado a dirigir o então Serviço de Atividades Musicais da UFPA. Sua atuação teve como principal objetivo o incentivo a outros instrumentos que não piano, como fagote, bombardino, saxofone, trompete e tantos outros. “Ele também defendeu muito a música executada coletivamente, das bandas e orquestras e trabalhou muito para que seus alunos pudessem estudar um tempo fora de Belém”, recorda o pesquisador. Para Altino, a Amazônia tinha muito ainda a contribuir como motivação poética e estado de espírito para as composições. Sua obra é uma prova disso. Além da influência harmônica dos compositores de jazz, é possível escutar em suas músicas os batuques do carimbó e as melodias dos cantos de trabalho e ladainhas cantadas nas procissões das cidades da região amazônica. Segundo Urubatan Castro, o compositor foi também inesquecível como pessoa. “Ele foi um ser humano exemplar. Não aceitava nenhum tipo de injustiça”. Em ocasiões como encontros estudantis, ele não só acompanhava os estudantes como também ficava hospedado nos mesmo alojamentos. O sonho de Altino Pimenta era escrever uma ópera, que se chamaria “A Confederação dos Tamoios” e abordaria a questão indígena. A obra, no entanto, não pode ser finalizada. Altino faleceu em 2003 deixando um legado bastante elogiado por estudiosos em todo o mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, foi chamado de “Schumann brasileiro”, por dominar a técnica do “lied”, que consiste em músicas escritas para voz e piano.

ILUSTRAÇÕES: JOCELYN ALENCAR

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ara muitos, o nome Maestro Altino Pimenta refere-se apenas ao ginásio esportivo municipal localizado na avenida Visconde de Souza Franco, em Belém. Aos conhecedores e apreciadores da música brasileira, no entanto, seu significado é bem maior, pois é o nome de um dos mais importantes e inventivos compositores do país do século XX: Altino Rosauro Salazar Pimenta. Nascido em Belém no dia 3 de janeiro de 1921, Altino Pimenta começou a estudar piano aos onze anos de idade com conhecidos professores da cidade na época; os irmãos Beatriz e Mário Neves. Após esse período, quando entrou em contato com os fundamentos da música clássica, permaneceu desenvolvendo seu talento até mudar-se para o Rio de Janeiro, na década de 1940, onde estudou e executou diversas atividades úteis ao seu aprimoramento como músico e compositor. Segundo o professor e pesquisador da Universidade Estadual do Pará (UEPA), Urubatan Castro, Altino trabalhou em cinemas mudos e em rádios. “Essa vivência deu a ele uma grande capacidade de improvisação além de aproximá-lo da música popular. Por isso, a música dele soa tão bem numa comemoração com música popular como num recital de música erudita”, explica. Para aumentar a renda mensal, já que o dinheiro enviado por seu pai era pouco, Altino trabalhou em confeitarias na capital fluminense, onde também conheceu importantes nomes da música brasileira como Jacob do Bandolim, Elizeth Cardoso, Altamiro Carrilho e Heitor Villa-Lobos, este, uma de suas principais influências. De acordo com Urubatan, autor do trabalho “Uma Releitura do Regionalismo Musical na Obra de Altino Pimenta”, as composições do maestro podem ser divididas em dois grupos: a fase europeia e a fase brasileira ou amazônica. Sua produção inicial é marcada pela influência de autores europeus como Debussy. Já a segunda, traz a marca do modernismo brasileiro.


AGENDA DE EVENTOS

RIBEIRINHOS

DIVULGAÇÃO

EXPEDIÇÃO Obras no Mabe mostram a visita do general francês a pontos turísticos do Egito

Mostra apresenta a admiração de Napoleão Bonaparte pelo Egito Fazendo parte da programação da 12ª Semana Nacional de Museus, a mostra “O Egito sob o Olhar de Napoleão” segue aberta para visitação até o dia 10 de agosto, no Museu de Arte de Belém (Mabe), na sala Theodoro Braga. Inédita em Belém, a mostra, que tem a curadoria de Vagner Carvalheiro Porto, expõe materiais que são resultado da expedição de Napoleão Bonaparte ao Egito, reunidos em uma coleção com trabalhos de estudiosos sobre a arqueologia, a topografia, a religião e a história daquele país. Publicada em Paris entre 1809 e 1822, “Description de I’Egypte” descreve a expedição liderada pelo general francês ao norte do continente africano, em 1798, na qual tomou as cidades de Alexandria e do Cairo. Além disso, fazem parte dessa exposição 14 reproduções fotográficas re-

PROJETOS SOCIAIS

alizadas com base nas matrizes de cobre pertencentes ao Museu do Louvre, em Paris, e 13 telas com imagens dos livros, as quais poderão ser manuseadas pelos visitantes. “O Egito sob o Olhar de Napoleão”, da Coleção Itaú, já foi apresentada em diversos lugares pelo país como na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, em 2010; no Espaço Memória Itaú, também na capital paulista, em 2011, e na Universidade de Fortaleza, em 2012. Ao todo, foram organizados pelo instituto 14 recortes curatoriais do acervo em 2011 - em capitais brasileiras e em outros países da América Latina e na Europa - totalizando um público de 320 mil pessoas. O agendamento de visitas pode ser feito pelo telefone (91) 3114-1028. A entrada é franca.

O Santander Universidades em parceria com a Associação ALFASOL (UNISOL) abriu as inscrições para a 17ª edição do Prêmio Santander Universidade Solidária. O concurso premia projetos que visam fomentar e apoiar tecnicamente a implementação de projetos sociais e que promovam o desenvolvimento sustentável, com ênfase na geração de renda. Ele é realizado em parceria com Instituições de Ensino Superior e comunidades de todo o país. As inscrições podem ser feitas até o dia do dia 18 de setembro, no site universidades.ciatech.com.br.

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Com a proposta de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão para atender às comunidades ribeirinhas não atendidas pelos campi da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Projeto “O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense” (IFNOPAP) vem desenvolvendo, há 18 anos, o Encontro Internacional do IFNOPAP/ Campus Flutuante da UFPA. Este ano, o evento será realizado de 31 de julho a 9 de agosto, a bordo do navio Rondônia, que irá percorrer o trajeto Belém – Santarém – Oriximiná – Belém. Os interessados em participar, com ou sem submissão de trabalhos, podem se inscrever até a véspera do início do encontro. Mais informações no site ifnopap.blogspot.com.br/p/vem-ai-xviii.html.

FUTEBOL

A exposição fotográfica “Três Cores e Uma Paixão” segue até o dia 13 de julho, no Armazém 2 da Estação das Docas. Reunindo 23 imagens sobre o amor do brasileiro pela pátria e pelo futebol, em registros de fotógrafos que atuam no Pará, conta com os trabalhos de Debb Cabral, Dula Lima, Elza Lima, Miguel Chikaoka, Paulo Santos, entre outros. A entrada é gratuita.

GEOGRAFIA AGRÁRIA

Seguem abertas as inscrições para o I Congresso de Geografia Agrária Amazônica, que será realizado de 6 a 9 de outubro, na UFPA. O objetivo é situar a geografia no interior dos estudos agrários desenvolvidos pela economia, história, sociologia, antropologia, entre outras, que procuram entender a constituição do campo e seu papel na região. Informações no site congressogeografiaagrariamazonica.blogspot.com.br.

PARASITAS

A Universidade do Estado do Pará (Uepa) está com inscrições abertas para o doutorado em Biologia Parasitária na Amazônia, realizado pelo Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS). As inscrições vão até o dia 28 de novembro. O candidato interessado em se inscrever deve apresentar alguns documentos na secretaria do programa, no CCBS, entre 8h e 14h, de segunda a sexta. As informações podem ser encontradas no site www.uepa.br.


FAÇA VOCÊ MESMO

é tempo de papagaio Com a chegada das férias é hora de brincar e uma divertida opção é empinar pipas

Quando o sol brilha com o céu azul de fundo, no chamado verão amazônico, sem as tempestades habituais, é hora de empinar papagaio no Pará. A brincadeira é milenar, data de aproximadamente 100 a. C., originária da China, mas com um propósito diferente: era uma ferramenta, utilizada pelo general Han Hisin, para medir a distância de um túnel do castelo imperial. Com o passar do tempo, os artefatos voadores foram usadas com fins militares, se tornando uma arte mais popular. Mais algum tempo depois, outras culturas também passaram a colocar a pipa no céu, como japoneses e coreanos. É que nesses países orientais a pipa simboliza

felicidade, sorte, nascimento, fertilidade, vitória. Já no Brasil, chegou junto com a colonização: o papagaio, que é como portugueses até hoje se referem à pipa, este, por sua vez, um termo mais utilizado ao sul do Brasil. Então, aproveitem o vento que bate forte por aqui, nestes meses, e aprendam a confeccionar, com o passo a passo da Fundação Curro Velho, o papagaio para o mês de julho com a revista Amazônia Viva. Mas lembre-se de, para sua total segurança, não usar cerol para empinar o papagaio e nem brincar próximo a redes de energia elétrica para não estragar a brincadeira.

do QUe VaMos precisar? •

Pedaço de miriti

Carretel de linha nº 24

Saco plástico

Estilete ou faca

Tesoura com pontas arredondas

inSTruTOr SidneY barrOS cOLabOraçãO deuSarina vaScOnceLOS FOTOS: JacK niLSOn MOdeLO: ruan

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Para começar, tire as talas do pedaço de miriti com o estilete ou faca. Mas tenha o máximo de cuidado para não se machucar.

Daí, corte as sobras do saco com muita atenção.

Comece a amarrar a tala ao saco plástico a partir da ponta vertical

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Agora faça furos no plástico, bem em cima da tala do papagaio. Enfie a linha e amarre-os para equilibrar e formar o peitoral.

para saber mais

ESSA ATIVIDADE DEVE SER FEITA POR UM ADULTO RESPONSÁVEL, MAS AS CRIANÇAS PODEM AJUDAR

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Em seguida, retire o excesso da massa das talas para ficarem maleáveis

Depois de cortar o saco, abra seus lados. O plástico deve ter a forma de um quadrado.

Então, já amarrado, estique levemente para verificar se a tala está correta

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Com as sobras do saco plástico, corte as tirinhas para fazer o rabo do papagaio

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Agora, dobre o saco em formato de triângulo

Em seguida, reúna a linha, a tala e o saco plástico

Amarre a tala horizontal de maneira curvada, quebrando as sobras

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Para finalizar, basta amarrar a linha no papagaio e as tirinhas no rabo. Tcharam: agora é só soltar a linha ao vento.!

Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas da Fundação Curro Velho, do governo do Estado do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109.

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RECORTE AQUI

FAÇA VOCÊ MESMO


BOA HISTÓRIA

A mãe de Kleiton era uma fera. .

Anderson Araújo é jornalista, escritor e blogueiro

Mas ele estava acostumado, embora resmungasse sempre. Tinha hora para tudo. Brincar na rua? Só no fim da tarde. Às sete, retornava para o banho, jantava, escovava os dentes, fazia e uma leitura e ia para cama. Naquele dia, abriu os olhos e pensou que o primeiro desafio seria escapar pela muralha materna que nunca o deixaria ganhar a liberdade tão cedo. Do outro lado do bairro, Matheus, um desconhecido para Kleiton. Àquela hora, já estava acocorado defronte de casa. Alcilene, sua mãe, sempre entretida com algum afazer, deixava o moleque solto, como galinha criada em chácara. Desse na telha dele, corria para o Igarapé do Zé ou Três Tubos e passava o dia de molho. Ia onde queria. Ainda com remelas, ele olhava o céu limpo, azulzinho. Num estalo, lembrou-se e foi buscar atrás da porta da cozinha sua criação perfeita: vermelha e negra, de seda espichada, o rabo imenso, imbatível. Era a rabiola que havia duas semanas não perdera um laço sequer. Temida quando subia gloriosa para disputar o infinito com os urubus. Manejando a linha, Matheus, de testa franzida, olho esbulhado e língua pra fora. Berrava no fim das batalhas: “Auvaitcheeeeee”. E ria como o capeta. Da sua trincheira doméstica, Kleiton furou o bloqueio. A mãe não se deu conta da fuga. Sem se banhar, pegou a curica intocada debaixo da cama. Era comprada, porque ele não sabia confeccionar uma. Amarela e preta. Sem muita graça. O carretel era dos bons, massudo, no entanto. Correu veloz, fascinado que era pela ilusória sensação de voar com o papel e as talas. Empinou fácil no descampado longe de casa. Descaiu linha até não poder

mais. Deu cabeças para todos os lados, feliz na amplidão. O sol cegou seus olhos momentaneamente e, quando a visão retornou, ela estava lá: a fera encarnada e preta de Matheus. Nenhuma guerra estava combinada. Mas Kleiton sabia que enfrentaria os inimigos assim que tentasse ocupar o firmamento. Para Matheus, o Barão Rubronegro, era um dia qualquer de vitória certa. Enxergou a curiquinha e deu uma guinada violenta para alcançá-la. Soltou a linha para se aproximar. Kleiton tremeu. Reconheceu o carrasco dos céus. Mas não recuou. Recolheu fio para tentar atingi-lo por baixo. Do outro lado, Matheus, com um puxão, fez a rabiola subir veloz. Em seguida, descaiu tudo que pôde e ela flutuou em câmera lenta como se estivesse morta. A impressão demorou segundos, porque o movimento seguinte retesou a linha e ela mergulhou de ponta-cabeça como flecha para acabar de uma vez com a curica, perdida agora “na mão”. Foi despencando, leve, bonita, triste. Kleiton viu tudo com os olhos cheios d’água, sem nenhuma ação. Perdera cedo o brinquedo precioso e a razão para sair por aí. Matheus ainda fez a manobra final para completar a humilhação. Usou a destreza para recolher a curica e impor fama pior, a de cortar e aparar sem piedade. Permaneceu altivo no ar até o sol atingir a quentura do meio dia e a fome expulsá-lo de volta para casa, onde entrou vitorioso. No outro extremo, Kleiton, vítima anônima, olhava o céu debaixo de uma mangueira, sonhava com a vendeta na próxima batalha, e bolava uma história para justificar a ausência para Irene, a mãe furiosa que o esperava para um ralho daqueles. Que dia!

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ILUSTRAÇÃO: LEONARDO NUNES

No céu


NOVOS CAMINHOS

Destaque científico na região Norte

N

o mês passado tivemos um destaque importante para o Estado do Pará. O Museu Paraense Emílio Goeldi conquistou o primeiro lugar, entre as instituições de pesquisa da região Norte, que mais realizaram publicações científicas no período 2003 a 2012, segundo o “Ranking de Pesquisa Brasileira do Centro de Estudos de Ciência e Tecnologia (CNTS) da Universidade de Leiden, na Holanda”. Estre as instituições de todo o Brasil, o Museu Goeldi ficou em 15 o lugar na escala. Este ranking mede o desempenho científico de instituições de pesquisa brasileiras a partir das publicações indexadas 2003-2012. Esta classificação tem um significado maior ainda considerando as dificuldades e as condições com que os pesquisadores trabalham na Amazônia em comparação com outras regiões mais ricas em termos econômicos e de infraestrutura. Muitos comentam que ser um pesquisador na Amazônia e ser produtivo, já é um grande mérito. Os projetos são desenvolvidos com verbas adquiridas por concorrências abertas em editais estaduais, regionais, nacionais e internacionais. Outro aspecto interessante é que o Museu Goeldi tem um leque de linhas gerais de pesquisa que prioriza a pesquisa pura (nas áreas de botânica, zoologia, ciências humanas, ciências da terra, museologia, comunicação e informação e documentação) e sabe-se que é mais difícil obter apoio para o desenvolvimento da pesquisa pura em comparação com a pesquisa direta-

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JULHO 2014

mente aplicada. Este destaque seria também ainda maior se a classificação levasse em consideração a proporcionalidade relativa com, além do orçamento, o número de pesquisadores e a prioridade focada a região amazônica e as dificuldades para aprovação de projetos de ciência pura. A mídia e a sociedade em geral costumam dar maior atenção a notícias de esportes, sexo e notícias negativas como conflitos, crimes, corrupção etc. Entretanto, a Revista Amazônia Viva tem priorizado notícias positivas, pois o Pará e a Amazônia têm muito de bom a ser difundido regionalmente, no Brasil e no mundo. Outra notícia boa, relacionada com esta, também em junho, foi a divulgação dos projetos aprovados pela Fundação Amazônia Paraense (Fapespa), com verba estadual, incluindo projetos de pesquisadores do MPEG e do Programa de Estudos Costeiros do MPEG. Evidentemente que as outras instituições que fazem pesquisa no Pará também merecem destaque, cada uma dentro de suas respectivas características e linhas de pesquisa, como o Instituto Evandro Chagas, Embrapa Amazônia Oriental, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Universidade Federal Rural da Amazônia e outras. Os cursos de pós-graduação stricto sensu , mantidos por estas instituições, também são destaques na formação de jovens pesquisadores e na produção científica, e dentre eles o curso do Instituto Tecnológico Vale, que está na sua segunda turma de mestrado.

“Este ranking mede o desempenho científico de instituições de pesquisa brasileiras”

Inocêncio Gorayeb é mestre e doutor em Entomologia, pós-doutor em sistemática zoológica e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi


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