REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
OUTUBRO 2O14 | EDIÇÃO NO 38 ANO 4 | ISSN 2237-2962
RELÍQUIA FRANCESA
IGREJA DA SÉ GUARDA O FAMOSO ÓRGÃO CAVAILLÉ-COLL
20 ANOS DE ESPETÁCULO
O AUTO DO CÍRIO PEDE ZELO PELO PATRIMÔNIO CULTURAL FESTA EM BELÉM DO PARÁ
UM CÍRIO DE POESIA ESCRITORES DO PASSADO E CONTEMPORÂNEOS TRADUZEM A FÉ E A EMOÇÃO DOS PARAENSES EM ROMANCES, NOVELAS, POESIAS E CRÔNICAS
UMA VIDA PELOS LIVROS
CONHEÇA A OBRA DO HISTORIADOR ARTHUR VIANNA
REALIZAÇÃO
PATROCÍNIO
CARLOS BORGES
DA EDITORIA
PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA OUTUBRO 2014 / EDIÇÃO Nº 38 ANO 4 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAN Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor Corporativo de Jornalismo WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA
COISAS DE CÍRIO
Em “O choro da pata”, o escritor e jornalista Anderson Araújo descreve os momentos finais da ave antes de ir para a panela garantir o almoço do Círio
AS MELHORES IMPRESSÕES SOBRE O CÍRIO Palavras impressionam. Mar-
nicas, novelas e poemas...”. Hones-
cam na memória. Foi assim quan-
tamente, eu nunca havia pensando
do li Gabriel García Márquez pela
sobre esse aspecto de que, ao mes-
primeira vez: “Muitos anos depois,
mo tempo em que nos faltam pala-
diante do pelotão de fuzilamento,
vras para descrever a grande festa
o coronel Aureliano Buendía have-
devocional dos paraenses, é possí-
ria de recordar aquela tarde remota
vel contá-la e recontá-la de tantas
em que o pai o levou a conhecer o
formas e estilos literários diferentes.
gelo...”. . Para mim, ao abrir seu livro
O próprio Anderson, em seu livro
“Cem Anos de Solidão” com esse pa-
“Bêbado Gonzo”, nos apresenta o
rágrafo, Gabo fez um dos melhores
triste destino de um casal de patos
começos de livro que já li e tornou
para garantir o almoço do Círio.
aquelas palavras inesquecíveis.
Diretor de Novos Negócios RIBAMAR GOMES Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR Diretores JOSÉ EDSON SALAME JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Fundação Curro Velho (acervo); Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Abílio Dantas, Brenda Pantoja, Bruno Rocha, Natália Mello, Dominik Giusti, Sávio Oliveira (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Janine Bargas (produção); Hely Pamplona, Fernando Sette, Carlos Borges, Roberta Brandão (fotos); Inocêncio Gorayeb (artigo) André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA ???? (NÃO ESQUECER DE COLOCAR) ????? AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará. amazoniaviva@orm.com.br
Neste mês, em que tudo se con-
O tarimbado jornalista Ander-
verge para a festa de Nazaré, tra-
son Araújo, ao iniciar a reportagem
zemos alguns trechos de contos,
de capa desta edição, causou em
romances e poesias de autores pa-
mim um efeito parecido: “Enquan-
raenses atuais e do passado sobre
to alguns dizem não ter palavras
nosso maior momento de fraterni-
para descrever o Círio, os escritores
dade do ano. Palavras que, ao se ter
FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe
fazem do acontecimento a matéria-
contato pela primeira vez, ficam di-
prima para romances, contos, crô-
fíceis de serem esquecidas.
4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
OUTUBRO 2014
PRODUÇÃO
REALIZAÇÃO
PATROCÍNIO
REVISTA IMPRESSA COM O PAPEL CERTIFICADO PELO FSC - FOREST STEWARDSHIP COUNCIL
OUTUBRO 2O14
NESTA EDIÇÃO
EDIÇÃO Nº 38 / ANO 4 TARSO SARRAF
O CÍRIO E SUAS PALAVRAS DE ENCANTAMENTO Nesta edição comemorativa sobre a maior festa religiosa e cultural do Pará, fomos em busca dos versos, crônicas e romances tendo o Círio como pano de fundo. ASSUNTO DO MÊS
FERNANDO SETTE
FERNANDO SETTE
HELY PAMPLONA
ROBERTA BRANDÃO
16
54
58
36 FUTURO
CULTURAL
Para o gerente de
O Auto do Círio chega
NATUREZA
Bioenergia da Vale,
PRECIOSIDADE
aos 20 anos de história
O ornitólogo, pesquisador
Cesar Abreu, o Pará deve
O pianista Paulo José
reunindo fé, devoção e
e atual curador da coleção
aumentar a produção de
Campos de Melo fala
manifestação artística
de aves do Museu Emílio
óleo de palma para 650
sobre a honra de tocar
em um espetáculo
Goeldi, Alexandre Aleixo
mil toneladas por ano
um genuíno órgão
sacroprofano, com o
, diz que o contato com o
até 2020. Hoje, a pro-
Cavaillé-Coll, único
objetivo de chamar a
mundo natural torna seu
dução do Estado já é a
modelo da região Norte
atenção para o patrimô-
trabalho melhor.
maior do País.
guardado na Igreja da Sé.
nio cultural da cidade.
QUEM É?
OUTRAS CABEÇAS
DEDO DE PROSA
ARTE REGIONAL
4 6 7 11 13 15 17 17 18 19 19 20 20 21 21 22 24 46 49 49 50 60 62 63 65 66
E MAIS
38
DA EDITORIA AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES AMAZÔNIA CONNECTION PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS COMO FUNCIONA FATO REGISTRADO DEU N’O LIBERAL CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE ELES SE ACHAM DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS EM NÚMEROS OLHARES NATIVOS COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL BONS EXEMPLOS MUDANÇA DE ATITUDE VIDA EM COMUNIDADE MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS
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ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES
FERNANDO SETTE
REVISTA O novo visual da revista ficou muito bonito! Márcia Monteiro Belém-Pará De passagem por Belém, tive a oportunidade de conhecer a excelente Amazônia Viva. É uma publicação que nos apresenta a região de forma muito educativa. TUDO AZUL NA BAÍA DO GUAJARÁ
A foto de Fernando Sette tem um visual espetacular sobre Belém ao anoitecer e recebeu muitos elogios no nosso Instagram. Publicada na seção Olhares Nativos da edição de setembro, a imagem é capaz de despertar sensações oníricas aos leitores mais contemplativos.
Cilomar Darecki Maringá-Paraná Sugiro que vocês disponibilizem a revista on-line do mês de publicação em vigor e não a da edição anterior. De qualquer forma, parabenizo a todos que fazem a Amazônia Viva. Marcelo Ermínio
IGOR MOTA
Belém-Pará
VER-O-PESO Muito interessante a matéria sobre os números do Ver-o-Peso (“É dia de feira”, Em Números , setembro de 2014, edição nº 37). Passo por ali quase todos os dias e, apesar de ter noção de sua grandeza, pude conhecer um pouco mais desse nosso patrimônio sociocultural da cidade. Teresa Brito
MATÉRIA DE DAR ÁGUA NA BOCA
Belém-Pará
No Facebook, a reportagem “A essência do sabor amazônico” foi a mais curtida na edição passada. Em entrevista à repórter Fernanda Martins, a chef Daniella Martins (não, elas não são parentes!) apresentou as diversas possibilidades de novas receitas com produtos regionais, como a castanha-do-pará e a gurijuba.
HIP HOP Concordo com o MC Bruno B.O. quando ele diz que a cultura hip hop precisa ser mais conhecida no Estado (“Um rapper afroamazônico”, Dedo de Prosa, setembro de 2014, edição nº 37). Precisamos nos ver livres de estigmas e rótulos na sociedade. Davi Rocha
BELÉM DO PARÁ, UMA URBE VERDE
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SETEMBRO 2O14 | EDIÇÃO NO 37 ANO 4 | ISSN 2237-2962
O CANTO QUE VEM DAS RUAS
Ananindeua-Pará
MC BRUNO B.O. E A SOCIEDADE
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CARLOS BORGES
METRÓPOLE ARBORIZADA
Para se corresponder com a redação
INVISÍVEIS CIDADÃOS
da Amazônia Viva envie comentários,
AMAZÔNIDAS NA BIENAL DE SP
dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva
GASTRONOMIA REGIONAL EM ALTA
SABOR DE AMAZÔNIA O CHEF THIAGO CASTANHO SE JUNTA A OUTROS NOMES CONSAGRADOS DA COZINHA DO ESTADO PARA MOSTRAR AO BRASIL E AO MUNDO O QUE É QUE O PARAENSE TEM
para o endereço: Avenida Romulo REALIZAÇÃO
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Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.
O QUE É NOTÍCIA PARA A AMAZÔNIA ALESSANDRA SERRÃO / AGÊNCIA PARÁ
PRIMEIROFOCO
A CAMINHO DA CIÊNCIA
O PLANETÁRIO SEBASTIÃO SODRÉ DA GAMA COMPLETA QUINZE ANOS DE FUNDAÇÃO. NESSE TEMPO, A CIÊNCIA SE TORNOU MAIS ACESSÍVEL AOS ESTUDANTES DO ESTADO . PÁGINA 8
TECNOLOGIA Pesquisadores da Embrapa conseguem produzir em laboratório teia de aranha sintéticada região amazônica. PÁG.10
MANIÇOBEIRA Tipo especial de mandioca cultivada em Santo Antônio do Tauá diminui o tempo de cozimento da maniva. PÁG.13
NATUREZA Símbolo da capital do Amazonas, o sauim-de-coleira corre risco de extinção, aponta relatório de ONG ambiental. PÁG.15
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PRIMEIRO FOCO
INCENTIVO À PESQUISA NA AMAZÔNIA
O
BIANCA ALMEIDA / DIVULGAÇÃO
céu estrelado sempre foi alvo de admiração e estudo e, há 15 anos, disseminar o conhecimento sobre astronomia e ciências na região amazônica tem sido o papel do Planetário do Pará Sebastião Sodré da Gama. Neste ano, entrou em funcionamento o planetário móvel, uma estrutura itinerante que já visitou cerca de dez municípios do interior do Estado e envolveu crianças, jovens e adultos em atividades educativas. Vinculado à Universidade do Estado do Pará (Uepa), o espaço completou mais um aniversário no dia 30 de setembro e teve programação especial. O planetário é o único da região Norte e integra o Centro de Ciências da Universidade. Por isso, além das visitações monitoradas, ele recebe professores, pesquisadores, graduandos e bolsistas. “Eles participam da elaboração das oficinas e palestras que abrangem várias áre-
8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
OUTUBRO 2014
as, desde química e física até matemática e biologia. Além disso, este é um ambiente que gera um encantamento no público, desencadeando a aproximação com o conhecimento científico e até mesmo o interesse por uma carreira na área de pesquisa”, comenta a diretora do planetário, Sinaida Vasconcelos. “Temos um projeto de iniciação científica com nove alunos do ensino médio, que ajudam a desenvolver os experimentos. Muitos alunos chegam ao ensino superior sem esse contato acadêmico, por isso a iniciativa é muito boa”, completa. Para Sinaida, em uma região de grandes dimensões, “possibilitar a troca de informações e experiências aos estudantes que não tem fácil acesso ao planetário é o ponto forte da estrutura móvel”. Os equipamentos necessários ao espaço foram adquiridos através de financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec-
nológico (CNPq). Diariamente, o Planetário recebe entre 100 e 120 visitantes. Mas, de acordo com a diretora, essa média pula para mais de mil pessoas por semana em ocasiões especiais como a colônia de férias. Além das tradicionais sessões de cúpula, onde os espectadores assistem a projeções de estrelas, galáxias e planetas, são realizadas oficinas para extrair o DNA das frutas e construir lunetas e outras atividades. Na programação de aniversário também houve a discussão sobre o ensino da astronomia no Estado e a trajetória do cientista paraense Sebastião Sodré da Gama. O espaço abre entre terça-feira e sexta-feira, com visitas escolares agendadas, e toda quinta-feira ocorre uma sessão de cúpula pública, sempre às 17h30. Para mais informações sobre o Planetário os telefones são (091) 3216-6303 e 3216-6300.
CONHECIMENTO
Os estudantes que visitam o Sebastião Sodré da Gama se aproximam das noções de ciência e chegam a se interessar pela carreira de pesquisador
120 ALUNOS É A MÉDIA DIÁRIA DE VISITAS
ao planetário. Em dias de eventos especiais, chega a saltar para 1.000 visitantes
MINERADORA PROFISSIONALIZA JOVENS NO ESTADO
Em um ano e meio, no máximo, mais de 700 jovens devem concluir o Programa Formação Profissional (PFP) da Vale. As centenas de vagas abertas pela mineradora são técnicas e operacionais para atuar em Carajás, Salobo e Serra Leste. A ideia é formar mão de obra nas comunidades em que a Vale está presente, promovendo o desenvolvimento local, por meio do acesso à educação, ao emprego e à renda. As inscrições encerraram-se no último dia 30 e a seleção já está em andamento. Os aprovados passarão por pelo menos três meses
de avaliações teóricas e seis de formação prática. Todos os participantes recebem bolsaauxílio, assistência médica e odontológica, transporte, alimentação e seguro de vida. O programa é dividido em duas etapas. Na formação teórica, com duração de três a cinco meses, os jovens estudam em tempo integral em uma instituição de ensino parceira da Vale, participando de um curso de qualificação técnica. Já na formação prática, de seis a 12 meses, eles fazem a experiência profissional adquirida em uma das áreas da empresa.
CACAU
PRODUÇÃO
O Estado do Pará deve fechar este ano com uma produção de 100 mil toneladas de cacau, disputando o topo nacional com a
700
Bahia. Pela qualidade do fruto e do potencial do território paraense, a cadeia promete gerar cada vez mais benefícios sociais
JOVENS DEVEM CONCLUIR O
e econômicos. “Quando falamos
Programa Formação Profissional da Vale. As áreas de atuação são Carajás, Salobo e Serra Leste, no Pará.
de uma indústria de chocolates paraenses, estamos falando da criação de mais vagas de trabalho, da absorção de novas tecnologias que se integram ao processo produtivo, além de estampar nos rótulos dos produtos o nome do nosso Pará”, explica o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), José Conrado Santos. Para ele,
CIDADANIA
o setor produtivo é altamente competitivo
Para desenvolver as localidades onde atua, a Vale forma mão de obra qualificada, dando oportunidades de educação, emprego e renda
no Brasil, por isso, acredita o presidente da Fiepa, é importante que os governos ofereçam incentivos fiscais para atrair empresários de outras regiões do País para o Estado. SALVIANO MACHADO / ARQUIVO VALE
TERMINAL
BARCARENA
O novo terminal portuário de Barcarena, no Baixo Tocantins, já está em operação e promete movimentar cerca de 1,5 milhão de toneladas de grão até o fim do ano. O Terminal de Ponta da Montanha é de propriedade da empresa Archer Daniels Midland Company (ADM). “O Estado do Pará tem esta característica da amplitude logística bem interessante. Ele proporciona um custo de escoamento de produtos bastante competitivo para a soja do Centro-Oeste e do Norte e ainda tem a parte da multimodalidade fluvial, terrestre e, no futuro, a gente tem certeza, ferroviá-
ANDRÉ ABREU
LIMÃO DE MONTE ALEGRE
rio”, afirmou o presidente da ADM América do Sul, Valmor Schaffer. Adquirido pelo
Mais de 51 mil toneladas de limão taiti são produzidas, por ano, no muni-
grupo em 2012, o terminal é planejado a
cípio de Monte Alegre, no oeste do Pará. A cidade foi reconhecida como
partir da multimodalidade do transporte,
a maior produtora do fruto em todo o Estado, com uma receita de pelo
que reunirá no futuro três vias de acesso:
menos R$ 17 milhões só no ano passado. A produção local é responsável
hidrovia, rodovia e ferrovia.
por 70% da renda dos agricultores.
FOTOS: MARCELO SEABRA / ARQUIVO O LIBERAL / CRISTINO MARTINS / AGÊNCIA PARÁ
OUTUBRO 2014
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PRIMEIRO FOCO INFOGRAFIA MARCIO EUCLIDES
CONVÊNIOS
EM LABORATÓRIO
FERROVIA
Quatro convênios foram assinados pela Vale como
grande parte do abastecimento de alimentos para
EMBRAPA PRODUZ TEIAS SINTÉTICAS
a região, receberão barracas padronizadas. Além
Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embra-
disso, o centro comunitário dos bairros União e
pa) divulgaram um experimento, no mínimo, inusitado: a fabricação de
Nova Vida, em Marabá, será reformado. A obra
teias de aranha em laboratório. Desenvolvida no departamento de Re-
vai empregar os próprios moradores e garantir
cursos Genéticos e Biotecnologia, a invenção possui como características
aula para 210 crianças. O terceiro convênio,
grande flexibilidade, resistência e é biodegradável, podendo ser usada na
firmado com a Associação de Moradores de Nova
produção de tecidos, em fios para sutura e também em nanopartículas,
Marabá, promoverá cursos profissionalizantes
no endereçamento direto de medicamentos ao organismo humano.
para 45 participantes. Também foi contemplada
Segundo Elíbio Reich, pesquisador da Embrapa, a tecnologia de produção
a Liga Paraense de Karatê (Lipak), que receberá
já está dominada. O próximo passo é definir um meio econômico, rápido e
apoio para ensinar a atividade a cerca de 200
seguro para a sua produção em larga escala.
parte dos investimentos sociais previstos pela Expansão da Estrada de Ferro Carajás nas comunidades próximas. Os trabalhadores da Associação da Feira Comunitária de São Félix, responsável por
alunos de baixa renda dos bairros São Felix,
NÃO É COISA DE CINEMA
Geladinho e Vila do Espírito Santo. JAIME SOUZZA / ARQUIVO O LIBERAL
Veja como a teia de aranha sintética foi desenvolvida pela Embrapa
1
Floresta Amazônica Mata Atlântica
Em 2003, foram mapeadas, na Amazônia e na Mata Atlântica, as glândulas das aranhas que produzem proteínas que originam a seda das teias.
3 MIGRAÇÃO
PANTANAL
Diversas aves da Amazônia estão migrando para o Pantanal, indica a pesquisa do Projeto Bichos do
2
gavião-de-anta, o araçari-miudinho-de-bico-riscado e o alegrinho-do-rio passaram a ser encontradas fora das matas amazônicas. O equilíbrio eco-
extraídas pelos pesquisadores. Para isso, utilizaram a massa de uma bactéria, a Escherichia coli.
A massa bacteriana foi diluída em meio líquido e as proteínas de teia de aranha resgatadas com uma sequência de DNA específica.
4
Com auxílio de uma seringa especial que simula a espirineta (órgão da aranha que expele a teia), os pesquisadores conseguiram liberar e enrolar a fibra.
Pantanal. Espécies como a curica, a esmeralda-decauda-azul, o mutum-cavalo, a garça-da-mata, o
Em seguida, as proteínas foram
5
A utilização de plantas, micro-organismos e animais geneticamente modificados como biofábricas foram estudados para a produção não apenas desses fios
lógico pode sofrer, uma vez que as aves das duas
sintéticos, mas também de medicamentos e outros
regiões disputam os mesmos alimentos e pode
insumos essenciais à população.
haver redução ou até mesmo extinção de espécies. FONTE: AGÊNCIA BRASIL
10 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
OUTUBRO 2014
ARQUIVO VALE
TRÊSQUESTÕES
A BOA FASE DA JUVENTUDE QUILOMBOLA
FAMÍLIAS DE MARABÁ CONHECEM PLANO DE URBANIZAÇÃO
Os moradores do bairro Alzira Mutran, em Marabá, conheceram melhor o plano de atendimento para o processo de realocação assistida, durante reunião com técnicos da Vale. Em função das obras na Estrada de Ferro Carajás, 133 famílias que moram ou possuem imóveis no entorno foram incluídas no programa de revitalização, que foi estabelecido em convênio pela prefeitura e pela mineradora. O objetivo é dar maior mobilidade e segurança aos moradores dos bairros vizinhos a ferrovia no município.
Para esclarecer todas as dúvidas, uma série de reuniões será realizada em outros bairros, como o Araguaia e Km 7. Para a moradora Elisângela Dias dos Santos, a reunião foi esclarecedora. “Achei a reunião ótima, porque agora eu creio que a gente vai sair. Eu acho que vai ser muito bom para as famílias, o meu sonho é uma casa boa, com quartos e com banheiro”, disse. A primeira etapa do processo de realocação, envolveu 32 famílias, que residiam em imóveis dentro da faixa de segurança da ferrovia.
ATENDIMENTO
Moradores do bairro Alzira Mutran, em Marabá, participaram de reunião com técnicos da Vale, que apresentaram o plano de atendimento às famílias residentes no entorno da ferrovia
A Fase tem como objetivo principal a construção de uma sociedade democrática através de uma alternativa de desenvolvimento que contemple a inclusão social com justiça, a sustentabilidade do meio ambiente e a universalização dos direitos sociais, econômicos, culturais, ambientais, civis e políticos.
Como é o trabalho com esses jovens?
133 FAMÍLIAS NO ENTORNO DAS
obras na Estrada de Ferro Carajás foram incluídas no programa da Vale
PEIXE TRANSPARENTE Com apenas, 15 milímetros de comprimento, uma nova espécie de peixe transparente foi registrada no rio Negro, em Manaus, Amazonas. O aniANDRÉ ABREU
Qual é o objetivo da ONG nas comunidades quilombolas?
mal, que possui até ossos, foi batizado de Priocharax nanus e a descoberta dos ictiólogos Mônica Toledo-Piz, George M. T. Mattox e Ralf Britz foi
Com o programa de formação de lideranças jovens, acompanhamos a comunidade do Abacatal, em Ananindeua. Passamos a identificar os conflitos ambientais existentes na comunidade, que podem ser relacionados a situação de racismo ambiental. O grupo produziu um mapa em formato de autocartografia e um vídeo para dar visibilidade e denunciar as injustiças.
Como é a participação dos jovens na Fase? Muitos dos jovens nos falam como sua vida pessoal e coletiva passou por mudanças a partir da entrada na Fase, mudando o modo de olhar e se posicionar no mundo, participando de processos políticos. Hoje, eles estão contribuindo com a formação de outros jovens.
publicada na revista “Neotropical Icthyology”. OUTUBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 11
ARQUIVO PESSOAL
A Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) é uma ONG voltada para a formação sociocultural dos jovens quilombolas e atua em seis estados brasileiros. No Pará, umas das responsáveis pelo trabaho é a assistente social Aldebaran Moura.
ARQUIVO VALE
VALE
MESTRADO
HELY PAMPLONA
PRIMEIRO FOCO
O curso de mestrado profissional Uso Sustentável de Recursos Naturais em Regiões Tropicais está com as inscrições abertas até 7 de novembro. Promovido pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém, as linhas de pesquisa são Sustentabilidade dos Recursos Vegetais e Sustentabilidade na Mineração. Serão aceitos profissionais com formações diversas, como biólogos, geógrafos, geólo-
CASTANHOLA É A ÁRVORE MAIS PLANTADA EM BELÉM
gos, urbanistas, economistas, engenheiros,
A Terminalia catappa
entre outros. A duração é de dois anos, a
L., mais conhecida
partir de março do ano que vem, e o edital
como castanhola, é
completo pode ser consultado no site www.
a espécie com maior
vale.com/itv.
abundância em Belém, representan-
CÓLERA
HIGIENIZAÇÃO
do 23,7% das árvores plantadas na urbe
Para combater a cólera, uma organização não
da capital, informa
governamental no Haiti aposta nas privadas
o botânico Rafael
ecológicas similares às usadas no Marajó.
Salomão, da coor-
A partir da mistura com bagaço de cana, os
denação de Botânica
excrementos são transformados em adubo
do Museu Paraense
e as bactérias, que provocam a doença,
Emílio Goeldi . Sua
eliminadas. No site oficial da iniciativa, a ONG
floração e frutificação
Soil explica que a mistura é recolhida e levada
estão intimamente
para uma estação de compostagem, onde é
ligadas às condições
transformada em fertilizante.
climáticas, ocorrendo, especialmente,
TEATRO
entre agosto e no-
MARABÁ
vembro, segundo um
Um novo teatro será erguido em Marabá, pela
estudo da Embrapa.
Fundação Casa da Cultura, órgão vinculado
Podendo atingir até
à prefeitura local. A construção de espaço e
35 metros de altura, é
lazer será patrocinado pela Vale, por meio
considerada uma das
da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet),
árvores com ótimo
no valor de aproximadamente R$ 9 milhões.
potencial ornamental
“Nossa cidade necessita deste centro cultural,
de paisagismo urba-
é um grande projeto, com teatro para mais
no de Belém.
de 400 pessoas, anexo com sala de música e sala de dança, que iremos desenvolver e irá representar um grande incentivo cultural a nossa cidade”, disse Patricia Almeida, da Casa da Cultura. Técnicos da Fundação Vale já estiveram no município para capacitação da equipe local e, segundo o gestor da instituição, Eduardo Maciel, o objetivo é “promover a inclusão social, a difusão da cultura e da economia criativa e mais uma vez contribuir para o desenvolvimento de Marabá”. 12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
OUTUBRO 2014
35
METROS É A ALTURA ALCANÇADA
pelas castanholas plantandas no centro urbano da capital paraense
MARCELO SEABRA / ARQUIVO O LIBERAL
AMAZÔNIACONNECTION
ENTRE A FRANÇA E O GUAMÁ Dentre os novos meios de produção de energia no mundo atualmente, o uso de biomassas têm se destacado em centros de pesquisas em vários países. A Rede Internacional de Biomassas, formada por TRADIÇÃO
A maniva da mandioca é matéria-prima para um dos principais pratos típicos do almoço do Círio de Nazaré
3
DIAS É O TEMPO NECESSÁRIO PARA
o cozimento da maniva da maniçobeira, cultivada em Santo Antônio do Tauá
“MANIÇOBEIRA” REDUZ COZIMENTO DA MANIÇOBA
Um dos principais pratos do Círio de Nazaré, a maniçoba, pode ficar pronto mais rápido com a nova espécie de mandioca produzida por agricultores do município de Santo Antônio do Tauá, no nordeste do Estado. A maniva da “maniçobeira”, como a planta é conhecida, só precisa ser cozida por três dias em vez de dez dias, como é feita comumente. A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) supervisiona a plantação experimental iniciada na região e aponta que a maniçobeira tem durabilidade de 10 anos, enquanto a outra dura um ano e meio. O ciclo longo também
reduz os custos de produção. Descoberta por acaso no quintal de uma dona de casa em Santo Antônio do Tauá, a maniçobeira chamou a atenção pela grande quantidade de folhas e pouca raiz. Logo despertou o interesse das pequenas fábricas de maniva pré-cozida para o preparo de um dos mais tradicionais pratos típicos do Pará, a maniçoba. O técnico da Emater Ailson Cardoso buscou a parceria da Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri) para fazer o plantio da variedade e distribuir o material aos agricultores da região. “Precisamos agora da pesquisa para conhecer melhor a variedade”, diz Ailson.
pesquisadores do Brasil e França, é uma das iniciativas mais recentes e inovadoras. O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Manoel Nogueira, do Instituto de Tecnologia (ITEC), campus Guamá, e membro do projeto, explica que a biomassa é uma fonte de energia renovável que necessita de grandes áreas para plantio para ser produzida em larga escala. Por isso, a cooperação internacional é importante. “Enquanto que os principais países consumidores estão no Hemisfério Norte, os países potenciais produtores estão no Hemisfério Sul. A Rede pretende coligar países dos hemisférios Norte e Sul para, eficientemente, produzir combustíveis oriundos de biomassa”, afirma. Tailândia e Burkina Faso, na Ásia, também participam do projeto. De acordo com Nogueira, a participação da UFPA ocorre em dois projetos dentro da Rede, com apoio da instituição francesa Cirad. Um consiste na modificação de motores diesel para consumir óleos vegetais, sejam óleos vegetais puros ou modificados (biodiesel) e suas misturas. O segundo permitirá a criação de um combustível que modifique o papel do carvão vegetal como produtor de energia.
COOPERAÇÃO
ANDRÉ ABREU
NUVENS PASSAGEIRAS
A experiência de cooperação internacional já está produzindo resultados em termos de
Os índices de poluição urbana, de queimadas e de nuvens na Amazônia serão
inovação tecnológica. “O maior produtor e
analisados para observar o impacto da poluição no ciclo de vida de nuvens,
consumidor de carvão vegetal do mundo é
na formação de nuvens de tempestades, no balanço da radiação e no clima
o Brasil, porém o processo de carvoejamen-
da região. Os dados foram recolhidos durante o mês passado por dois aviões
to é bastante poluente”, informa Nogueira.
de pesquisa, um dos Estados Unidos e outro da Alemanha. OUTUBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 13
PRIMEIRO FOCO
DOCUMENTOS
Quase 4 mil atendimentos e mais de 3,2
CULTURA
e a Vale se uniram para promover a inicia-
CARIMBÓ ENTRA PARA A LISTA DE PATRIMÔNIOS IMATERIAIS DO BRASIL
tiva. Foram disponibilizadas carteiras de
Após seis anos de estudo dos técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN),
trabalho, fotos 3x4, CPFs e solicitações de
o Ministério da Cultura (MinC) reconheceu e registrou o carimbó como patrimônio cultural imaterial do
carteira de identidade. Outros serviços
Brasil. A conquista é resultado da Campanha do Carimbó, movimento paraense organizado que surgiu
ofertados foram orientações e ações judi-
no município de Santarém Novo, nordeste do Pará, em 2005, e mobilizou, nos últimos anos, ativistas por
ciais consensuais, assim como correções
meio de abaixo-assinados e redes sociais. De acordo com o site oficial da campanha, mais do que um gê-
de registro civil de nascimento, casamen-
nero musical paraense, o carimbó é uma das manifestações mais representativas da cultura amazônida.
mil documentos foram emitidos em duas semanas de ação nos municípios de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Eldorado do Carajás. O Tribunal de Justiça do Estado, a Defensoria Pública do Estado do Pará, a Polícia Civil, as prefeituras, a Fundação Vale
to e óbito, divórcio consensual e reconhecimento voluntário de paternidade.
NOSSA CULTURA
Quais são os outros patrimônios culturais imateriais da Amazônia reconhecidos pelo governo federal
PRÓTESE
SUSTENTÁVEL
Pacientes amputados poderão contar com uma prótese feita em madeira laminada e colada. O protótipo foi apresentado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e tem uma durabilidade equivalente à prótese de fibra de carbono, com custo 90%
CÍRIO DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ (PARÁ)
O famoso “Natal dos Paraenses” está inscrito no Livro das Celebrações do Iphan desde 2004. Os festejos envolvem vários rituais de devoção religiosa e expressões culturais. Não é uma festa só de Belém, mas também de vários municípios paraense, como Acará, Curuçá, Parauapebas, São João de Pirabas e Vigia.
menor, segundo a coordenadora do proje-
CACHOEIRA DE IAUARETÊ (AMAZONAS)
to, a engenheira mecânica Marlene Araújo.
Considerada um lugar sagrado dos povos indígenas no entorno do rio Uaupés e do rio Papuri, a queda d’água fica localizada na região do Alto Rio Negro, distrito de Iauaretê, município de São Gabriel da Cachoeira. Sua inscrição no Livro de Registro dos Lugares do Iphan foi realizada em 2006.
Foram utilizadas madeiras das espécies roxinho, pau-d’arco e cumaru, encontradas na região e escolhidas pela elasticidade. A pesquisa continuará por pelo menos um ano e meio para aperfeiçoar o aparelho.
REDUÇÃO
GÁS CARBÔNICO
A Alcoa recebeu, pela quarta vez consecutiva, o Selo Ouro do Programa Brasileiro do GHG Protocol, que classifica empresas pelo desempenho na redução da emissão de CO2. A Companhia faz parte de um grupo
ARTE KUSIWA (AMAPÁ)
A Arte Kusiwa reúne pinturas corporais e arte gráfica próprios dos povos indígenas Wajãpi, do Amapá, que sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo. Foi inscrita como patrimônio imaterial no Livro de Registro das Formas de Expressão do Iphan em 2002.
pioneiro de 16 organizações que publicam suas emissões desde 2008. No Pará, a Alcoa atua com uma unidade em Juruti, no oeste do Estado, que completou cinco anos de operações, em setembro, sendo considerada um exemplo a ser seguido em municípios-sede de grandes projetos, por desenvolver a proposta conhecida como Modelo Juruti Sustentável. 14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
OUTUBRO 2014
FESTIVIDADES DO GLORIOSO SÃO SEBASTIÃO NA REGIÃO DO MARAJÓ (PARÁ)
Os festejos foram inscritos no Livro das Celebrações em 2013. A devoção a São Sebastião na região remonta ao período de colonização e à ação missionária no século XVI. O santo é considerado como protetor e guerreiro, o que desperta a empatia das comunidades marajoaras.
INFOGRAFIA MARCIO EUCLIDES
AÇÃO
WHALDENER ENDO / DIVULGAÇÃO
PERGUNTA-SE
SE AÇAÍ É UM BOM ENERGÉTICO, POR QUE ELE DÁ SONO? Na verdade, as duas ideias estão parcialmente erradas. O açaí não dá sono e nem é, naturalmente, energético, explica o professor doutor em Cardiologia, Eduardo Costa, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA). Porém, ele ressalta que o alimento é rico em nutrientes, como o zinco. O médico afirma que um litro de açaí tem as mesmas calorias que um litro de leite de vaca integral. “É um superalimento, composto de 50% de gordura, 30% de fibras, vitaminas A, B, C, D, E, K, manganês, ferro, zinco, magnésio”, diz o estudioso do fruto. O sono é comum devido à forma de consumo na Amazônia, pois, muitas vezes, o açaí é tomado como sobremesa, geralmente acompanhado de açúcar e farinha. “É o mesmo que comer duas vezes. Quando nos alimentamos muito, o fluxo de sangue no cé-
SÍMBOLO DE MANAUS ESTÁ EM RISCO
nos, para o trabalho de absorção e digestão dos alimentos. E isso é um processo que causa sonolência, já que é necessário gastar energia para a digestão também”, explica. Como energético, Eduardo Costa diz que, sozinho, o açaí não é fonte de energia, afinal, não tem um açúcar natural. Porém, no eixo centro-sul do Brasil, o açaí é acompanhado de outros alimentos energéticos, como banana, guaraná e granola, o que completa a carga nutritiva ao fruto amazônico. Daí, a fama de energético. FERNANDO SETTE
O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) corre o risco de desaparecer em poucas décadas. O animal, símbolo da capital amazonense, é encontrado em liberdade somente em alguns quilômetros entre três municípios do Amazonas. Todo ano, pelo menos dez deles morrem na zona urbana de Manaus. Algumas medidas necessárias apontadas pelo Plano Nacional para a Conservação do Sauimde-Coleira são o planejamento para evitar o isolamento das áreas verdes onde há registros de animais e a substituição da rede de fiação elétrica por rede subterrânea.
rebro diminui para concentrar-se nos intesti-
ARANHAS GRANDES Algumas espécies de aranhas aumentam de tamanho quando vivem
ANDRÉ ABREU
em espaços urbanos, segundo pesquisadores australianos. A aranha tecelã de círculo dourado (Nephila plumipes) é uma das que se adaptam tão bem na cidade que ficam “significativamente maiores”, pois é
MANDE A SUA PERGUNTA
Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br
bastante sedentária e escolhe um único local para passar a vida adulta. OUTUBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 15
QUEM É?
ALEXANDRE ALEIXO CURADOR DA MAIOR COLEÇÃO DE ESTUDOS DE AVES DO PAÍS, ORNITÓLOGO É UM OBSERVADOR DA NATUREZA SELVAGEM TEXTO BRUNO ROCHA FOTO ROBERTA BRANDÃO
A
venturar-se na natureza em uma viagem selvagem, deixando de lado por um momento praticamente todas as convenções sociais. A descrição pode lembrar o enredo do filme Na Natureza Selvagem, mas é na verdade um pouco do trabalho do pesquisador e atual curador da coleção ornitológica do Museu Emílio Goeldi, Alexandre Aleixo. “Eu acho que a grande satisfação do meu trabalho é estar em contato direto com o mundo natural”, diz Alexandre, considerando que mesmo estando em uma grande cidade como Belém é possível perceber que a natureza do planeta é muito mais interessante do que aquilo que o homem criou. Diferente da radicalidade de Chris McCandless, o protagonista do filme citado acima, Alexandre não precisou largar tudo e se iso-
16 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
OUTUBRO 2014
lar no mato. Desde criança já tinha interesse em observar pássaros quando resolveu fazer Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. Não demorou a se dar conta de que precisa ampliar os horizontes e saiu para fazer o doutorado nos Estados Unidos, trabalhando principalmente com questões evolutivas das aves. “Ainda na graduação minhas primeiras pesquisas foram sobre aves. Fiz mestrado em Ecologia e no doutorado em Zoologia resolvi estudar o arapaçu. Parecidos com pica-pau, o arapaçu por ser ligado tanto a terra firme quanto a várzea, conta um pouco como foi a história de formação do bioma amazônico. Através desses estudos a gente sabe que a Amazônia nem sempre foi coberta por tanta floresta como é hoje”, conta o ornitólogo. De acordo com o pesquisador a ornitologia, ramo da Biologia de-
dicado aos estudos das aves, tem grande contribuição na geração de diagnósticos ambientais. “Qualquer empreendimento carece de um relatório de impacto ambiental. Os ornitólogos são muito acionados porque as aves são bioindicadores muito fáceis de trabalhar.” Ele também avalia que a Amazônia tem uma grande carência de ornitólogos com experiência de campo, o que é fundamental para uma região tão vasta e de grande diversidade. Desde 2005, Alexandre Aleixo está à frente da coleção ornitológica mais antiga do Brasil, iniciada pelo patrono do museu, o naturalista suíço Emílio Goeldi, em 1894. “Qualquer estudo de aves na Amazônia passa pelo museu. Atualmente nós conseguimos aumentar a coleção em 25 mil espécies e estamos continuamente nos atualizando”, anuncia.
NOME
Alexandre Luis Padovan Aleixo
IDADE 41 anos
FORMAÇÃO
Graduado em Biologia, mestre em Ecologia e doutor em Zoologia
TEMPO DE PROFISSÃO 22 anos
EU DISSE
APPLICATIVOS
“A gente não poderia imaginar que as populações de tartarugas-marinhas no Brasil fossem se reproduzir de maneira tão forte”. Guy Marcovaldi, coordenador e um dos fundadores do Projeto Tamar, que atua desde 1980 pela preservação das tartarugas marinhas ameaçadas de extinção. (Portal D24am)
BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS
KD A BERLINDA? O app ajuda o devoto a acompanhar a berlinda com a imagem de Nossa Senhora nas romarias da Festa de Nazaré. Com rastreio por GPS, os fiéis conhecem a posição exata da imagem nas procissões, como Romaria Fluvial, Trasladação e o Círio, além do tempo
CAMARA / MS
“Quero devolver algo à minha comunidade”
das romarias e a distâncias percorridas. Plataformas: Android e iOS Preço: Gratuito
Luiz Henrique Eloy Amado, índio Terena e advogado especializado em reintegração e demarcação de terras, sobre sua trajetória e atuação. (BBC Brasil)
HYDRO - BEBA ÁGUA Você já tomou água hoje? Pode parecer uma tarefa trivial para se ter um app para lembrar
“A implementação da telefonia móvel e o sucesso dos celulares em Afuá fizeram com que a internet se popularizasse e fosse incorporada ao dia a dia das pessoas”
disso. Mas, infelizmente, muitas pessoas se esquecem dessa necessidade. Ou tomam uma quantidade de água muito inferior à que o organismo precisa. O Hydro - Beba Água cria perfis de usuário e alarmes das quantidades ideais de água a serem ingeridas. Plataformas: Android e iOS Preço: Gratuito
Diogo Silva Miranda, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia, da Universidade Federal do Pará (PPGCOM-UFPA), sobre o crescimento do uso de internet no interior da Amazônia. (Portal UFPA)
WUNDERLIST
“Havia uma ligação do conteúdo da Festa do Sairé com outras localidades, o que dá a entender que, em anos passados, a festividade já foi uma expressão na cultura dos povos amazônicos”
Se sua vida é um corre-corre este app vai facilitar as coisas. Com ele é possível organizar listas de tarefas que serão feitas ao longo do dia, semana, mês, ano. Com sistema de alarmes, o usuário cria lembretes até com comandos de voz para diminuir o tempo de digitação. As tarefas também podem ser subdivididas e suas listas de tarefas podem ser compartilhadas nas redes sociais. Plataformas: Android, iOS e Windows Phone Preço: Gratuito
Cleuton Von, presidente da Festa do Sairé (Alterdochão.tur.com)
FONTES: PLAY STORE E ITUNES
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COMO FUNCIONA
A máquina de bater açaí TEXTO E ILUSTRAÇÃO SÁVIO OLIVEIRA
Ao lado de um punhado de farinha, um
paraense. Mas antes de serem despol-
de seleção, lavagem, branqueamento
caroço do açaizeiro possam alimen-
prato de peixe, charque frito, açúcar ou
pados para viraram o tradicional suco
e amolecimento antes de ir parar na
tar com mais saúde e sabor, além de
sem acompanhamento algum, o açaí
roxo, os caroços da juçara precisa cum-
máquina. A realização das etapas faz
deixar aquela preguiça gostosa nos
é quase que indispensável à mesa do
prir um processo básico e necessário
com que os 15% aproveitáveis do
arrebatar depois do almoço.
4
ENCAROÇADO
Antes de serem despolpados, os caroços passam por vários processos na máquina de açaí
Dependendo da quanti-
1
tiver disposto a pagar, o
A amassadeira, batedeira ou despolpadei-
que fica ao fundo e será
ra, como também é chamada, tem uma
classificado em papa,
forma cilíndrica vertical e é feita totalmen-
grosso, médio e fino. Até
te de aço inoxidável, com um tipo especial
aqui parece que passou
de metal que ajuda a limpeza e tem maior
uma eternidade, mas
durabilidade.
uma batida dura em
2
média cinco minutos.
dade de água adicionada e quanto o cliente néctar amazônico passa por uma peneira de aço
máquina precisa estar bem presa à bancada
5
para resistir às rápidas rotações das polias,
Com o fim do processo,
correias e engrenagens do motor.
os caroços de açaí acu-
3
mulam próximo a tampa
A máquina de bater açaí possui um eixo inter-
arredam todos com
no com palhetas que gera atrito em movimen-
velocidade para fora
to circular. Com as colisões internas provoca-
da porta da batedeira.
das pela rotação, os caroços “brigam entre si”
Atualmente, os refugos
e soltam polpa e casca para todos os lados.
de açaí são reaproveita-
Porém, entre tapas e beijos – e, principalmen-
dos para a produção de
te, água filtrada- existe
adubos e até mesmo na
um jeito de fazer o
construção civil.
Com os motores de dupla voltagem ligados, a
vedada. A pressão e o efeito da gravidade
açaí render para toda a família.
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FONTE: VALERIA SALDANHA BEZERRA. PLANEJANDO UMA BATEDEIRA DE AÇAÍ. EMBRAPA AP, 2011.; FRICONTEL LTDA. MANUAL DE USUÁRIO PARA DESPOLPADEIRA DE FRUTOS DO AÇAÍ. PA, 2013; RICARDO RABELO. ADMINISTRADOR DA FRICONTEL.
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O mercado histórico que se tornou um dos símbolos de Belém física mais robusta, com o Mercado de Peixe e o Mercado de Carne. A construção do Mercado de Ferro, por sua vez, iniciou-se já em fins do século XIX, obra autorizada pela lei municipal nº 173, de 30 de dezembro de 1897. Com projeto de Henrique La Rocque, o projeto com estrutura toda em ferro, trazida da Europa, foi iniciado efetivamente em 1899. O mercado foi levantado seguindo a tendência francesa de art nouveau, durante o que ficou conhecido como a Belle Époque. A foto acima, de 1905, é dos primeiros anos de vida do Mercado de Ferro, quando as embarcações dependiam dos ventos e o bonde elétrico era novidade na cidade. Na imagem, se pode ver os postes de ferro com luminárias mo-
O mercado do Ver-o-Peso já teve calçadas feitas de pedras, por onde passavam bondinhos e mulheres vestindo a moda europeia
vidas a gás e o piso das calçadas com pedras grandes de quartzo, estas também importadas da Europa. Na moda, as mulheres sofriam com seus vestidos longos, de cintura alta, e blusas de mangas compridas. Hoje, o complexo do Ver-o-Peso, termo utilizado para abranger a diversidade de muitos mercados e culturas, é conhecido como a maior feira ao ar livre da América Latina. Os produtos do rio e da floresta são vendidos nas barracas, nos pátios e calçadas, trazidos e levados pelas embarcações que chegam e saem a todo tempo de suas docas. Desde 1977, todo o conjunto arquitetônico e paisagístico do Ver-o-Peso é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Vida longa ao Veropa!
DUZENTOS ANOS DE DEVOÇÃO À SANTA DO PARÁ
O segundo domingo de outubro de 1992 foi especial para os paraenses. Naquele ano, o Círio de Nazaré chegava à sua 200ª realização. Em 11 de outubro, O LIBERAL publicou uma edição especial com diversas histórias sobre a festa. Além de artigos de intelectuais do Estado sobre a devoção na Amazônia, a edição mostrou uma série de homenagens e novidades naquele ano, como a inauguração dos Arcos de Nazaré, iluminados por lâmpadas, localizados até hoje nas esquinas da avenida Nazaré com as travessas 14 de Março e avenida Generalíssimo Deodoro. A Basílica de Nazaré também foi decorada com 4.500 lâmpadas no dia 10 de outubro. Também foi inaugurado o Marco Monumento do Círio 200 no então Centro Arquitetônico de Nazaré, hoje Praça Santuário, pelo então arcebispo metropolitano Dom Vicente Zico, hoje arcebispo emérito. Além disso, o jornal noticiava a criação da premiação para as embarcações mais ornamentadas da Romaria Fluvial, divididas nas categorias “barcos regionais”, “lanchas” e “jet-skis”.
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REPRODUÇÃO / HELY PAMPLONA
Margens do igarapé do Piry, na área de deságue para a baía do Guajará, onde se assentava a aldeia Tupinambá na fundação de Belém, em 1616. Foi lá que, em 1625, com o início das primeiras atividades comerciais, nos primeiros anos de Belém, que os portugueses criaram uma mesa fiscal para a contabilização dos impostos devidos à Coroa: ficou conhecida, mais tarde, como o local de “Haver o Peso”. Séculos depois, o comércio cresceu e, a cada embarque e desembarque de naus na doca, se desenvolveu um intenso comércio de produtos da floresta e europeus. Até o final do ano de 1839, funcionou o posto, já chamado de Casa de Haver o Peso, momento em que se iniciou a construção de uma estrutura
ANTIGO E BELO
DEU N’O LIBERAL REPRODUÇÃO / O LIBERAL
ACERVO / MUSEU GOELDI
FATO REGISTRADO
CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE
Para o ribeirinho, as aningas, nome popular da Montrichardia linifera (Araceae), escondem um potencial fitoterápico surpreendente: de cicatrizante de cortes a inibidor do parasita causador da malária, além de ser eficaz no tratamento de picadas de cobras. Ao mesmo tempo, o caboclo alerta o quanto a planta e seus frutos são perigosos em doses exageradas. Pesquisadores acreditam também que a planta pode ser uma solução para redução da
poluição ambiental, por absorver em grandes quantidades metais pesados, como manganês. As propriedades e dicotomias da aninga são investigadas, desde 2007, na tese de doutorado da pesquisadora Cristine Bastos do Amarante, da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG/MCT). “O estudo é apenas o começo do conhecimento químico sobre a aninga, pois muitos aspectos ainda precisam ser bem investigados”, observa.
HELY PAMPLONA
Aningas e suas propriedades poderosas A pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Pará (Fapespa), levou o concentrado de poliprenóis, um dos princípios ativos da aninga, a ter um pedido de patente pelo MPEG. Esse princípio já é usado na Rússia em medicamentos protetores do fígado, além de ter bons resultados no tratamento de doenças neurológicas. Dentre os testes do exame químico-farmacológico, foi descoberto que o valor nu-
PLANTA FORTE
Facilmente encontradas às margens dos rios amazônicos, as aningas são capazes de concentrar metais pesados do solo, além de possuírem o princípio ativo para medicamentos protetores do fígado
tricional da planta é ínfimo, porém, possui grande capacidade de absorver minerais do solo. “A planta pode ser considerada um absorvente natural de substâncias químicas, mas seu uso no controle da poluição ambiental ainda é pouco explorado”, diz Cristine.
ELES SE ACHAM GLAUBER JULIO/ DIVULGAÇÃO MPEG
INOFENSIVA CABEÇA DE COBRA As cobras são consideradas animais
Possuem o corpo desenhado com
perigosos e traiçoeiros. Já as lagar-
narinas, boca e escamas falsos. O os-
tas, em geral, são vistas como inofen-
metério, estrutura de orientação das
sivas e sempre lembradas como uma
larvas, também simula a caracterís-
etapa passageira até se tornarem
tica língua bifurcada de uma cobra.
borboletas, símbolos de delicadeza.
Quando perturbada, ou diante de
Mas a larva de uma espécie de mari-
um possível predador, encolhe suas
posa da família Sphyngidae parece
patas, levanta a parte anterior do cor-
preferir a fama de mau ao mimetizar
po, expondo o seu mimetismo com a
exatamente a víbora peçonhenta
cobra venenosa. Veneno? Não, não é
mais comum na Amazônia, a jarara-
para tanto. A única defesa, além da
ca, da espécie Bothrops attratus. Por
postura intimidadora, é uma substân-
isso, são conhecidas como “lagartas-
cia aromática que afasta predadores.
cabeça-de-cobra”.
A larva só se acha cobra mesmo.
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AI QUE MEDO
A lagarta-cabeça-de-cobra só tem pose, mas não é nada de peçonhenta
REPRODUÇÃO / JOÃO BARBOSA RODRIGUES
DESENHOS NATURALISTAS
CONCEITOSAMAZÔNICOS
AS RIAS PINCELADAS PELO TEMPO Dos longos caminhos que os rios fazem na região amazônica, das cabeceiras aos pontos em que as formações fluviais tornam-se mais largas e profundas, há uma tendência: o rio corre para o mar, um velho processo já conhecido. Há também outra formação: a ria, que pode até parecer ter relação com o primeiro rio. E tem! O rio deságua no mar e, nesse processo, a partir da erosão fluvial, cria um acidente geomorfológico no vale. Relativamente profundo, o “buraco” na foz do rio é também chamado de “vale afogado”. Onde as águas do mar invadiram, a formação parece, geralmente, um funil ou trombeta. Você provavelmente conhece uma! As rias são um resultado geológico de cerca de 70 milhões de anos AP (Antes
A palmeira jacitara e seu jeito espinhoso de ser Em sua produção, está a obra – uma das mais importantes – “Genera et species orchidearum novarum”, publicada entre 1877 e 1881, além da “Iconografia das Orquídeas”. Na área da ilustração, deixou também 174 pranchas de desenho coloridos com palmeiras brasileiras, como a espécie Desmoncus paraensis, hoje chamada Desmoncus polycanthos, representada na imagem acima. Esse é o nome científico da palmeira conhecida como cipójacitara ou jacitara-tipiti, uma espécie espinhosa. O desenho e as 173 pranchas
razão do elevado número de rios – mais de 40 – que desembocam no mar, com seus ÚTIL E EXÓTICA
As fibras da jacitara são flexíveis e resistentes, sendo bastante usadas na confecção de paneiros
restantes de Rodrigues estão publicados no livro “Sertum Palmarum Brasiliensium” (1842-1909). A jacitara ocorre esparsamente, tendo preferência por ambientes de baixa luminosidade. No Brasil, é encontrada na Amazônia, nas restingas litorâneas, em formações florestais do complexo atlântico e em áreas com vegetação secundária. A palmeira tem sua resistência associada à flexibilidade das fibras, que se tornam excelente material na confecção de utensílios, como paneiros, abanos e zarabatanas.
estuários em rias, confere uma peculiar característica “rugosa” se olhado no mapa. O encontro entre rio e mar, criando o ecossistema estuarino, é responsável por uma alta diversidade biológica: o maior conjunto contínuo de rias, tendo extensão de 450 quilômetros fica na Amazônia. Na lista, estão conhecidas regiões como Algodoal, diversas ilhas do Marajó e todos os rios que correm daqui para o mar. Ou seja, você conhece uma ria. SÁVIO OLIVEIRA
Os naturalistas da virada dos séculos XIX e XX, ainda distantes da intensa especialização das disciplinas, reuniam conhecimentos em diversas áreas, mas alguns extrapolavam essa tendência, como o engenheiro, naturalista, botânico, desenhista e professor João Barbosa Rodrigues (1842-1909). Nascido em São Gonçalo do Sapucaí (MG), esteve na Amazônia em uma missão científica do governo imperial, entre 1872 e 1875. Mais tarde, organizou e dirigiu o Jardim Botânico de Manaus (AM), inaugurado em 1883.
do Presente). O litoral, todo recortado em
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• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 21
EM NÚMEROS
VAMOS A BELÉM
CARAVANAS PARA VER A VIRGEM DE NAZARÉ TEXTO VICTOR FURTADO INFOGRAFIA MÁRCIO EUCLIDES
Todos os anos, o Círio de Nossa Senhora de Na-
mado por turistas, gente que vem de longe para
aumentar a renda. Famílias planejam a casa para
zaré movimenta cerca de 2 milhões de pessoas
ver a imagem da santa que teria sido encontrada
receber parentes e alguns até para abrir as portas
somente durante a procissão principal do segun-
por Plácido em 1700, onde hoje fica a Basílica
aos turistas, numa acolhida que mostra o jeito
do domingo de outubro. Uma parte desse mar de
Santuário de Nazaré.
hospitaleiro do paraense. E a presença deles não
gente, cerca de 80 mil pessoas, conforme dados
É uma movimentação que mexe com toda a
só aquece os corações; aquece também a econo-
da Secretaria de Estado de Turismo (Setur) e
Região Metropolitana de Belém, pois há seg-
mia, com a previsão de injetarem, neste ano, US$
Companhia de Turismo Paraense (Paratur), é for-
mentos comerciais que esperam o ano todo para
30,8 milhões.
QUEM VEM DE LÁ
NOSSOS VISITANTES
O número de turistas na época do Círio de Nazaré aumentou nos últimos anos
42
78
mil
82 mil
mil
Outros brasileiros participam da festa de Nazaré* Rio de Janeiro 19,40% São Paulo 13,90% Maranhão 11,60% Amazonas 6,90% Ceará 6% Distrito Federal 6% Bahia 5,60% Amapá 5,10% Minas Gerais 4,60% Piauí 3,70% Pernambuco 2,30% Paraná 2,30% Rio Grande do Sul 1,90% Rio Grande do Norte 1,90% Espírito Santo 0,90% Não especificado 0,15% Outros 5,43% * DADOS DE 2013
2005
2013
2014 (estimativa)
53% do público visitante é formado por MULHERES
47%
do público visitante é formado por HOMENS
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OUTUBRO 2014
DEVOÇÃO UNIVERSAL
O Círio do ano passado recebeu estrangeiros de todas as partes do mundo Europa 43.144 América do Sul 26.320 América do Norte 6.147 Ásia 790 América Central e Caribe 730 Oceania 582 África 287
FÉ NA ECONOMIA
Um volume considerável de dinheiro é movimentado no Círio de Nazaré Em 2005 ........................................................ R$ 20 milhões Em 2013......................................................... R$ 60,5 milhões Em 2014 (estimativa) ................................... R$ 62 milhões
BOA ACOLHIDA
Onde ficam os turistas devotos que chegam a Belém* 37,39% 25,55% 24,92% 4,36% 3,12% 1,87% 0,62% 0,31% 1,86%
Casa de parentes Hotel Casa de amigos Casa própria Moradia alugada Pensão Flat Outros Não especificado * Dados de 2013
REZA E TRABALHA Conheça as principais ocupações dos visitantes da capital no período da festa
10,8%
6,85%
6,23%
5,61%
5,30%
2,80%
2,49%
2,18%
1,87%
47,35%
Professor
3,74% Dona de casa
Comerciante
Estudante
Engenheiro
Aposentado
Médico
Funcionário Público
Vendedor
Empresário
Outros
FONTE: PERFIL DO TURISTA EM VISITA A BELÉM POR OCASIÃO DO CÍRIO DE NAZARÉ 2013 E 2014, DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS (DIEESE), GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ, SECRETARIA DE ESTADO DE TURISMO (SETUR) E COMPANHIA PARAENSE DE TURISMO (PARATUR). OUTUBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 23
OLHARES NATIVOS
24 窶「 REVISTA AMAZテ年IA VIVA 窶「
OUTUBRO 2014
Eternizados no instante de um selfie São eles os primeiros homens e mulheres, os donos das matas e dos rios, guerreiros valentes, donzelas lindas da cor da terra. São eles que empregaram energia vital para erguer um Brasil que não existia. São a relação direta com a Mãe Terra no caldeirão étnico do País. Estão hoje fortes como nunca mais de meio milênio depois do Descobrimento e juntam agora na mesma cuia, cultura, tradição e modernidade, sem nenhum risco de contradição ou perda de identidade. E por que, não? O que não combina com a aldeia global de hoje? O arco e flecha e o selfie? A tecnologia de ponta e as soluções incrivelmente simples para conviver em harmonia com a natureza? Os povos indígenas ultrapassaram a antiga imagem refletida no espelho do passado, o mesmo que antes servia de agrado e engano. Estão eles cada vez mais senhores de si com os pés fincados na fertilidade do solo, os olhos no que virá e o coração no que os une: o passado como guia para um novo presente. Nesta seção, que abrimos com esta foto de índios da etnia Gavião Kyikatejê, acompanhe um ensaio especial com imagens exclusivas de OSWALDO FORTE durante o IV Jogos Tradicionais Indígenas do Pará, em Marudá, no mês passado.
OUTUBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 25
OLHARES NATIVOS
Sorriso presente em todas as fases da vida Iracemas, Tuíras, Potiras, Iaras, Juçaras,
Jandiras, cunhantãs, curuminhas: rostos femininos de um Brasil que nasce sob a sombra das imensas árvores amazônicas e se multiplicam pelas pequenas e grandes cidades em cabelos negros e brilhantes e sorrisos solares, como o da bela moça Pataxó (acima) e da criança Gavião Kyikatejê (à direita).
26 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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O amor é hereditário e universal Mãe e filho, este da etnia Tembé, representam a perpetuação de um traço fundamental que o Brasil jamais pode perder em diversidade étnica e cultural. Na pintura e adereços, na cor da pele com inúmeros matizes, na simplicidade do olhar da criança, na atenção da mulher.
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OLHARES NATIVOS
Unidos por um nobre objetivo Nos braços e na união, a força para vencer as águas e o adversário. Para quem faz do rio estrada, a competição fluvial é brincadeira de menino, mesmo a sério em disputa que marca bravura e destreza.
A meta de uma seta é o alvo O arco e flecha ligados pela pontaria na menina dos olhos do guerreiro. No sangue do Parakanã, uma ancestralidade viva em busca da caça aprimorando métodos e saberes ao longo dos anos. Hoje uma habilidade admirada por toda a tribo. 28 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Os olhos atentos da experiência Dignidade e elegância: o cacique Gavião Kyikatejê orgulhoso de sua origem surge entre a multidão, atento ao próximo lance, mantendo, mesmo sem saber, acesa a imagem clássica do índio brasileiro de cocar e expressão firme.
Igualdade nos laços culturais O senso de coletividade se mantém como marca dos povos indígenas, como os Parkatejê. É pelo grupo que vivem e evoluem como pessoas e respeitam o ambiente ao redor. OUTUBRO 2014
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OLHARES NATIVOS
O clarão de um país fraterno No Brasil, índios, negros e brancos celebram na mesma festa a natureza, a vida e a fraternidade com respeito às diferenças e compreendendo a igual importância de cada uma dessas etnias para o País.
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o email amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome do fotógrafo, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto da obra. As fotografias devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das imagens tem fins meramente de divulgação, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos fotógrafos. Participe!
OPINIÕES, INICIATIVAS E SOLUÇÕES TARSO SARRAF
IDEIASVERDES
CAMPO DA EDUCAÇÃO
A ASSOCIAÇÃO REGIONAL DAS CASAS FAMILIARES RURAIS DO PARÁ GARANTE QUE AGRICULTORES CONCLUAM OS ESTUDOS E POSSAM TAMBÉM INGRESSAR NO ENSINO SUPERIOR PÁGINA 50
BIODIESEL O gerente de Bioenergia da Vale, Cesar Abreu, fala sobre a produção do óleo de palma no Estado do Pará. PÁG.36
LITERATURA Escritores transferem para os
VIDEOGAME Jogos eletrônicos como
contos, crônicas, romances e poesias formas de homenagear o Círio de Nazaré. PÁG.38
“Aritana e a Pena da Harpia” e “Cabanagem” têm a Amazônia como tema principal. PÁG.46
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OUTRAS CABEÇAS
M
acarrão, sorvete, salgadinhos industrializados: todos possuem em sua composição o óleo de palma, produto extraído de espécies híbridas, plantadas em diversos municípios do nordeste do Pará. O Estado é hoje o maior produtor do óleo, com 350 mil toneladas por ano. Para o gerente de Bionergia da Vale, Cesar Abreu, o potencial no Pará é grande e espera-se, até 2020, aumentar a produção para 650 mil toneladas por ano. Além disso, é autossustentável, já que das cascas da amêndoa e fibra da polpa do fruto se produz energia para as indústrias. Como surgiu a cultura de palma no Estado? O Pará é propício a essa cultura? A palma já é cultivada no Pará há mais de 50 anos. Começou com a Dendê do Pará S/A (Denpasa), que ainda está em funcionamento na estrada de Mosqueiro. Logo em seguida vieram os outros empreendimentos, como a Agropalma, que hoje tem em torno de 40 mil hectares plantados e alguns pequenos produtores. Em seguida, vieram a Biopalma, PBio e ADM. No Pará, existem condições de solo e clima propícios para a cultura da palma. O Estado já é o maior produtor de palma do Brasil, depois vem a Bahia. Para este ano, a estimativa é produzir 350 mil toneladas e, até 2020, o Pará vai produzir mais de 650 mil toneladas. E quais são os principais municípios produtores de palma no Estado? Qual é a espécie de palma plantada aqui? Eles estão distribuídos no nordeste paraense. Moju, Acará, Tomé-Açu, Tailândia e Concórdia do Pará, onde a Biopalma está presente. São Domingos do Capim, onde a Petrobras Biocombustíveis atua; Tailândia e Moju, Agropalma; Benevides, onde está a Denpasa. A palma utilizada para o plantio comercial é um híbrido da África, uma mistura de espécies. É chamada “palma africana”. 36 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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“A PRODUÇÃO DO ÓLEO DE PALMA GERA EMPREGO” O PARÁ JÁ É O MAIOR PRODUTOR DE ÓLEO DE PALMA DO BRASIL E GANHA IMPORTÂNCIA NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ECONOMIA DO PAÍS E DO MUNDO, ACREDITA O GERENTE DE BIOENERGIA DA VALE, CÉSAR ABREU TEXTO DOMINIK GIUSTI FOTO HELY PAMPLONA
Cultura de palma é uma monocultura? Para o plantio comercial, você tem que fazer a monocultura para ter melhor custo por hectare. Mas quando falamos da monocultura da palma, é bom quebrar esse paradigma porque é uma cultura que exige pouca área para produzir muito óleo. Para você ter uma ideia, um hectare produz até seis toneladas de óleo. Enquanto um hectare de soja produz 500 quilos, quando muito bem manejado. Então, se falamos que vamos substituir o óleo de palma produzido em 200 mil hectares no Pará precisaria de dois milhões de hectares de soja. Então, é uma monocultura, mas é plantada a fim de que se tenha o menor custo por hectare. E o principal, dez hectares de palma geram um emprego enquanto que no plantio da soja a cada 60, 70 hectares gera-se um emprego. Então o cultivo de palma é um gerador de emprego e renda. Olhando por esse lado, sim, pois a produção do óleo de palma absorve a mão de obra local, o que gera emprego e renda. Nos municípios onde a Biopalma está presente, por exemplo, a qualidade de vida aumentou, melhorando até o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Só podemos plantar em 50% das áreas e já antropizadas (com intervenção do homem), que sofreram supressão vegetal antes de 2008. Os outros 50% de área, a empresa deve recuperar com plantação de vegetação nativa. E, além disso, cuidar das Áreas de Preservação Permanentes. Como é a relação da produção de palma com os agricultores familiares do Pará? Quando se fala de palma é preciso avaliar dois momentos. Primeiro, o da questão industrial e empresarial. Áreas compradas pela indústria, com terras legalizadas e plantios acompanhados pelas secretarias, com todas as licenças ambientais. A outra vertente é a experiência bem-sucedida da agricultura familiar. As famílias que trabalham nos arredores das empresas extratoras são avaliadas e há um limite que podemos contratar por área, inclusive com a ajuda para regularização
“Nos municípios onde a Biopalma está presente, a qualidade de vida aumentou, melhorando até o IDH” de terra. A empresa, então, faz um contrato com o agricultor e fornece a semente, assistência técnica e também adubo para essa plantação. Em contrapartida, o agricultor cuida da plantação com a sua família e vende a produção para essa empresa com a qual ele tem contrato. Então, imagine o cidadão que tinha área e plantava só mandioca e não fazia mais nada. A empresa chega e faz contrato, validado juridicamente em diversas instâncias, com acompanhamento do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário). Com isso, os agricultores familiares não plantam mais do que 10 hectares, podendo manter outras atividades da agricultura tradicional. O resultado dessa produção muda completamente a vida dessas pessoas. Tem agricultor que ganha hoje, por mês, R$ 3.500,00 limpos. E o que se produz com a palma hoje no Pará? Qual o destino dessa produção? Basicamente dois tipos de óleo: óleo de palma ou de dendê, que é o mesmo óleo para a culinária, e é usado em diversos produtos de alimentação, como macarrão, sorvetes, snacks (salgadinhos industrializados), e uma diversidade de aplicações na indústria alimentícia, sendo muito usado também na indústria cosmética e química. Tem óleo de palma, tirado da polpa do fruto, e o óleo de palmiste, tirado da amêndoa do fruto. É importante ressaltar que existem também subprodutos da palmeira, que é a fibra do dendê e a casca da amêndoa. Elas são queimadas em uma caldeira e isso gera
energia para suportar o processamento industrial. Então, uma usina de palma é autossustentável de energia. Depois, com os resíduos do processo industrial, a empresa realiza a produção de adubo orgânico, para melhorar o solo. O óleo de palma já é o mais vendido e mais consumido do mundo. Qual a perspectiva da Vale para a produção de combustível com óleo de palma? O projeto para esse tipo de produção já está pronto e devemos iniciar a instalação da usina produtora nos próximos meses. A Vale investe em produção de biodiesel com base no óleo de palma porque suas maiores operações, como a mina de Carajás, ficam na região Norte. A decisão faz parte do compromisso da Vale com a sustentabilidade do seu negócio. A empresa é grande consumidora de diesel, sendo responsável por aproximadamente 3% do consumo total brasileiro. Quase metade do consumo de diesel da Vale está no norte do Brasil, e os grandes projetos de expansão das Minas estão localizados nesta região. O projeto Biodiesel Norte vai permitir, portanto, a redução de emissões de gases de efeito estufa da companhia, contribuindo significativamente para a Meta Carbono, cujo compromisso é reduzir 5% das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) projetadas para 2020. E por que a culura do óleo de palma? Escolhemos o óleo de palma exatamente por ser uma cultura perfeitamente adaptada à região Norte, onde a Vale tem as suas principais operações, e também por causa da logística. O biodiesel vai ser produzido no próprio Estado e será misturado ao óleo diesel consumido nas operações das minas e ferrovias do Pará e Maranhão. É um projeto sustentável porque vai deixar de emitir gases de efeito estufa e por haver o reflorestamento por meio do plantio da palma em áreas que antes eram degradadas, sem cultura nenhuma. Hoje, na matriz energética brasileira, todo diesel comercializado e consumido tem 6% de biodiesel. A partir de novembro será 7%. Mas a Vale, por iniciativa própria, fará o projeto do biodiesel pioneiro no mundo e usará até 25% de biodiesel em suas máquinas de mina e ferrovia no sistema Norte. OUTUBRO 2014
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FOTO: TARSO SARRAF
ASSUNTO DO MÊS
“Na manhã do Círio, à janela, viu aquela massa meio infrene, numa espécie de carnaval devoto, tirando a Santa do seu bom sono na Sé, trazendo-a na Berlinda, como num carro de terçafeira gorda”. DALCÍDIO JURANDIR “Belém do Grão-Pará”
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UM CÍRIO DE MUITAS PALAVRAS
A MAIOR FESTA RELIGIOSA DO POVO PARAENSE GANHA RELATOS PRECISOS E FATOS REINVENTADOS SOB A ÓTICA DE ESCRITORES DO PASSADO E DA ATUALIDADE TEXTO ANDERSON ARAÚJO
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ASSUNTO DO MÊS
“Olhe compadre, nem quero lhe contar a triste sina deste meu barco a vela feito de miriti. Eu trouxe ele, mas foi pra colocar no Carro dos Milagres. Promessa feita e jurada ao pé da imagem de Nossa Senhora do Retiro, na noite de lua cheia, três noites depois do medonho temporal. (...) Só este criado seu escapou são e salvo por obra e graça de Deus e Nossa Senhora de Nazaré”. BENEDICTO MONTEIRO “Carro dos Milagres”.
E
SHIRLEY PENAFORTE / ARQUIVO O LIBERAL
nquanto alguns dizem não ter palavras para descrever o Círio de Nazaré, os escritores fazem do acontecimento a matéria-prima para romances, contos, crônicas, novelas e poemas. Muitos são os estilos e gêneros impressos nos livros que, entre o sentimento, a confissão, a memória e a imaginação, deixam escapar detalhes das várias Beléns que testemunharam ao longo dos anos a procissão surgir tímida no fim do século 18 e se tornar num mar de gente hoje. Literatura é criação da linguagem artística. Mas não só. Com a lupa imaginária dos escritores é possível mergulhar em pormenores de cada época, como em uma máquina do tempo. Sabe-se como se relacionavam as pessoas, a geografia da cidade, que fervilhava pelas ruas. Pelas pala40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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vras, os escritores deixam pistas valiosas de como Belém inventou e reinventou o Círio nos últimos 291 anos. Um dos retratos precisos da Belém do início do século 20, por exemplo, está na obra do marajoara Dalcídio Jurandir. Em seu fundamental “Belém do Grão-Pará”, ele descreve relações entre gente de todas as classes sociais em encontros triviais nas ruas; o burburinho da cidade com o festejo; os ritos repetidos até hoje; nomes já não mais usados, como o Largo de Nazaré, transformado primeiro em Centro Arquitetônico de Nazaré e hoje chamado Praça Santuário; pontos extintos pelo progresso como o Presídio São José, o Bar Paraense e o Grande Hotel. Com habilidade, o escritor revela uma capital paraense pós-Antônio Lemos que não existe mais. Outro título exemplar é a novela “Carro
dos Milagres”, de Benedicto Monteiro. O escriba nascido em Alenquer, região oeste do Pará, conta o drama e as memórias do personagem Miguel, que viaja a Belém para pagar a promessa feita pela mãe. A Virgem Maria teria livrado o canoeiro da morte durante uma tempestade nos rios do Marajó. A partir deste promesseiro vindo do interior, figura universal das procissões nazarenas, Monteiro constrói cenários típicos, inventa e mergulha na memória de sua criatura, faz reflexos sobre Justiça, mistura o sagrado e o profano e encaminha a narrativa a episódios de embriaguez, gratidão, digressões e até prisão. Eneida de Moraes, a grande cronista memorialista da capital paraense, também menciona em suas crônicas uma cidade azulada de lembranças de passeios
CRISTINO MARTINS / ARQUIVO O LIBERAL
no Largo de Nazaré e de ritos e questões que todo paraense vive ou já viveu na sua relação com o Círio. Um de seus relatos mais bonitos tem como pano de fundo a promessa da avó para que a escritora usasse apenas vestidos brancos e azuis claros. A crônica “Promessa em azul e branco” é de uma ternura singular e faz um recorte amoroso na relação de mãe, filha e avó sem deixar de mencionar o lado revolucionário e militante de Eneida. Uma pequena pérola da literatura paraense, que virou inclusive um curta-metragem dirigido pela cineasta Zienhe Castro, em 2013.
NATIVOS E FORASTEIROS
A “preamar de emoções” do Círio é um prato cheio para os prosadores e poetas da terra e até forasteiros, diz o professor da Universidade da Amazônia e doutor em Letras, Literaturas de Língua Portuguesa, Paulo Nunes. É consenso que a procissão há muitos anos extravasou o aspecto estritamente religioso e a Literatura a apreende com reverência, mas também “fora do templo” nas ruas, nos desejos, na forma mais humana e comum de vivenciar a manifestação. “A religião é um aspecto apenas da manifestação registrada pelos autores”, afirma Paulo. Textos com uma abordagem mais terrena do que divina, acrescenta o estudioso, pipocam em registros feitos pelas escritoras paraenses Maria Lúcia Medeiros e Eneida de Moraes e da cearense Rachel de Queiroz, ateia declarada, mas que se impressionou com a multidão devota na época em que escreveu sobre o tema, na segunda década do século passado. Em tempos de Internet e rede social, alguém de fora relatar a experiência pelas ruas de Belém no Círio de Nazaré é corriqueiro. Mas na primeira metade do século 19? Não era tão simples assim. E dos textos produzidos pouquíssimos chegaram aos dias de hoje. Os que se mantiveram conservados resgatam
“Ei-la majestosa, linda, muito linda, da manhã dourada sobre claro véu. No clarão dos olhos, que doçura infinda! Os humildes, crentes, puxam-lhe a berlinda como se a levassem em triunfo ao céu.” BRUNO DE MENEZES “O Círio, a cidade e o povo”
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ASSUNTO DO MÊS
TARSO SARRAF
“(...) Vestia apenas azul-claro e branco (...) Por quê? Por quê? Perguntei à minha mãe (...): - Foi uma promessa. Seu pai andou mal, muito mal, quase morria e sua avó fez uma promessa a Nossa Senhora de Nazaré: se ele sarasse, se vivesse, você, que acabara de nascer - vestiria até os quinze anos, somente vestidos azul-claros e brancos”. ENEIDA DE MORAES
“Promessa em azul e branco”
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TARSO SARRAF
“Era devota da Virgem e não escondia a felicidade de ver o Círio e a berlinda da santa de perto. (...) Exalava timidez e malícia. E não tirava os olhos de Ulrich. Os olhos negros de Nazaré embriagados com a paisagem e o movimento ganharam mais vivacidade quando ela viu o homem que a ela parecia um artista de cinema”. RONALD JUNQUEIRO
“Berlinda – Asas para o fim do mundo”
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ASSUNTO DO MÊS
“A Virgem, Mãe Amorosa É no Círio ao povo erguida: Imagem esplendorosa! Santa aclamada e querida!” ALFREDO GARCIA-BRAGANÇA “Trova”
TARSO SARRAF
panoramas raros de época, como as crônicas do missionário metodista norte-americano Daniel Kidder e do naturalista inglês Henry Bates, reveladas em um livro sobre Literatura paraense escrito por Haroldo Maranhão, como atenta Paulo Nunes. Nas palavras de Kidder, figuram o perfil rural da cidade naqueles 1800 e antigamente: “o
caminho (...) atravessa uma floresta, durante quase todo o seu percurso, e, por isso, precisa ser anualmente capinado. A igreja está situada a um canto da praça e esta constitui o único pedaço de chão limpo em toda a redondeza”. O volume é grande de escritores inspirados no Círio e dedicados a escrever sobre, direta ou indiretamente. Tanto que Paulo
Nunes teme inclusive cometer injustiças não mencionando os vários talentos das Letras. “Precisamos de uma antologia que reúna textos com essa temática”, sugere. Ele recorda que a última iniciativa do tipo foi em 1987, com destaque para nomes como Antônio Juraci Siqueira, Cláudia Cruz e Januário Guedes. TARSO SARRAF
“O Círio é um rio amazônico onde se nada sem peias onde se arregalam os olhos para ver, no fundo do rio palavras verdade” SALOMÃO LAREDO
“O Círio é um rio amazônico”
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A produção literária não para e a escolha do Círio como tema não se restringe aos grandes escritores da “Gostosa Belém de outrora”. Paulo Nunes diz que entre os contemporâneos há preciosidades de beleza e força ímpar a exemplo de “Cinco palavras amorosas à Virgem de Nazaré”, do poeta João de Jesus Paes Loureiro, e “Senhora das Águas”, de Salomão Laredo. A enxurrada de palavras e sentimentos se amontoa, emprenha páginas e gera cada dia mais livros. Na moderna literatura paraense, há espaço para a vivência entre Belém e Berlim, na Alemanha, com pitadas saudosas do Círio e insights em torno de um dos símbolos da festa. É o que propõe o escritor e jornalista Ronald Junqueiro com “Berlinda – Asas para o fim do mundo”, seu romance de estreia lançado em 2013 no Brasil e, neste ano, em terras alemãs. Com o coração dividido entre as duas capitais, Ronald revela, baseado em dados históricos, que a “berlinda que leva a Virgem de Nazaré veio ao mundo em Berlim”. “São menções muito ligeiras (sobre o Círio, no romance). Mas geram histórias e sentimentos em alguns capítulos bem pontuados, que servem como identidade nossa”, explica o escritor. Ronald está preparando também um show musical baseado na obra literária. O escritor Alfredo Garcia-Bragança já publicou 32 livros e foi com uma trova singela acerca do Círio que ganhou seu primeiro prêmio em Poesia, embora o tema não seja recorrente em sua obra. “Como todo tema dissecado, sempre é difícil falar sobre o Círio, ser original. Fazer concessão ao fácil não é a minha praia, por isso talvez o tema seja tão raro na minha escrita”, observa. Ele vai publicar o texto “Um pato muito estranho”, episódio “ciriano” que estará no próximo livro com crônicas sobre futebol. A experiência de participar do Círio de Nazaré pode até ser indescritível por uma questão de fé, mas ao traduzi-la em forma de arte literária, a grandiosidade da festa que é sagrada e ao mesmo tempo profana cabe em volumes e mais volumes de preciosos livros que se eternizam na história.
CARLOS BORGES
QUEM ESCREVE SOBRE O CÍRIO HOJE?
“Nas esplêndidas noites enluaradas dos festejos, a cidade ficava quase inteiramente deserta, pois toda a população convergia para as festas de Nazaré. Entretanto, quão poucos dentre eles faziam ideia perfeita daquele que veio de Nazaré para remir os pecados do seu povo!” DANIEL KIDDER
Crônica sobre o Círio de 1838
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL DIVULGAÇÃO
VIDEOGAME TUPINIQUIM
“ARITANA E A PENA DA HARPIA” É UM JOGO BRASILEIRO CRIADO PARA GANHAR ADEPTOS E A SIMPATIA DE PESSOAS DE TODAS AS IDADES, POIS ELE É PURA DIVERSÃO. TEXTO VICTOR FURTADO
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EU TENHO A FORÇA
Durante a aventura, o jovem índio Aritana encontra frutos do guaraná, o que lhe garante energia na jornada.
O
cacique Tabata caiu doente e o pajé Raoni tenta salvar a vida do líder da tribo, que teme pela saúde dele. Os sintomas indicam a ação de um espírito maligno sobre o líder indígena. Somente um antigo e poderoso ritual poderá expulsar o mal. O jovem índio Aritana então sai numa jornada pela floresta para recuperar um ingrediente fundamental: uma pena de harpia, conhecido por Uiruuetê. De posse de um cajado místico e muita coragem, o curumim deverá seguir até o ponto mais alto da região e encontrar a ave, passando pelo território do temível Mapinguari e de inúmeros espíritos do mal, como o que se apossou do cacique. As muiraquitãs, relíquias antigas, vão ajudar, junto com a energia de sementes de guaraná. Parece sinopse de um filme ou conto de um livro, mas trata-se do enredo do jogo para computador “Aritana e a Pena da Harpia”. Sim, um jogo e que, em breve, estará disponível para consoles como XBox e PlayStation. O game possui tantos elementos da cultura amazônica, que é capaz de encantar jogadores de todas as idades. Tudo feito de forma independente por um pequeno estúdio paulista, o Duaik. Aritana não tem um foco puramente de educativo, mas é inegável que, diante de alguns elementos do jogo, não se procure conhecer mais a respeito da cultura indígena e do folclore nacional. Pérsis Duaik, um dos desenvolvedores do jogo, conta que o jogo foi criado para divertir crianças e suas famílias. “Existem, sim, alguns jogos que exploram vários temas da nossa cultura, como Xilo e Cangaço, que retratam a cultura nordestina. Mas, mesmo assim, sinto que podemos explorar muito mais as lendas e estórias que temos”, comenta Pérsis, que fundou o estúdio de games com o irmão Ricardo Duaik. “O folclore brasileiro tem um conteúdo que foi explorado de uma forma superficial o que acabou estigmatizando-o como conteúdo educativo e, muitas vezes, mal visto por uma nova geração acostumada com cultura norte-
FOTOS: DIVULGAÇÃO
BRASILIDADE
Aritana percorre a floresta amazônica para encontrar a cura para o cacique. Jogo apresenta elementos da cultura indígena.
americana e japonesa. Acredito que nos próximos anos, com o desenvolvimento de jogos no País, vamos conferir outros títulos que vão usar como base nosso folclore e cultura como forma de diversão”, completa Pérsis. Mas para chegar aos bons resultados de jogabilidade e gráficos de primeira, os irmãos Duaik fizeram uma ampla pesquisa em contos, lendas, livros e internet. “Macunaíma”, “A Turma da Mônica”, “Terra dos Índios”, “Xingu” e textos dos irmãos Vilas Boas estão nas
referências usadas para criar a tribo fictícia, porém, carregada de elementos reais. Quando o estudante paraense Ricardo Sampaio, de 24 anos, jogou o título pela primeira vez, acabou se interessando e foi procurar saber muita coisa contida no jogo. Logo, teve um caráter educativo indireto. “Vou ser bem sincero: nunca tinha ouvido falar no Mapinguari e nem que era do nosso folclore. Também achava que harpia era aquele ser mitológico metade mulher e metade pássaro. Aí eu fui atrás de informações para saber de tudo isso. Confesso que é bem mais legal saber dessas coisas e perceber que nossos jogos estão buscando essa cultura e identidade nacional. O Brasil está na moda e tem muitos outros retratos do País nos gaOUTUBRO 2014
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL FOTOS: DIVULGAÇÃO
mes. Ainda bem. E o fato de ter jogos traduzidos para português-brasileiro é um reconhecimento disso”, comentou o estudante. Em geral, os videogames são tidos como diversões nada construtivas e, por falta de conhecimento ou domínio, muitas publicações tentam associar os jogos a comportamentos inadequados ou violentos. E, por outro lado, pesquisas mostram que jogar com moderação tem suas vantagens, principalmente quando pais e responsáveis orientam as crianças sobre os jogos. Há jogos educativos e de entretenimento. Mas, como em qualquer outra mídia, os games têm mensagens, lições e cultura agregadas.
CABANAGEM TAMBÉM VIROU JOGO
A Cabanagem foi tema de um jogo de videogame, mas dessa vez com foco educativo fortíssimo, produzido pelo Laboratório de Realidade Virtual da Universidade Federal do Pará (Larv-UFPA). O game com o nome do maior movimento popular da história do País leva o jogador a Belém do século XIX para tomar parte de todos os eventos da revolta, numa aula de história e geografia bem diferente. O projeto foi iniciado em 2006 e levou dois anos para ficar pronto, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que tem o objetivo de desenvolver e disseminar jogos eletrônicos educativos. Foram 13 projetos aprovados em todo Brasil e o “Cabanagem” foi o único da região Norte. O jogo recebeu R$ 113 mil em recursos. Com o jogo feito na UFPA, o Pará passou a fazer parte do mercado brasileiro de jogos, atualmente fechado no eixo centro-sul do País. “Cabanagem” foi testado com alunos do Núcleo Pedagógico Integrado (NPI) da UFPA, que ganharam um laboratório de informática novo, com 16 máquinas adequadas para rodar o titulo. Os alunos da instituição também receberam seis bolsas para monitoria no novo laboratório de informática da escola e participaram do desenvolvimento do jogo, com ajuda do governo do Estado. O game foi totalmente desenvolvido com softwares livres. O desenvolvimento do jogo foi acompanhado por professores de história, 48 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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geografia e física do NPI. As vozes são de alunos da Academia Amazônia, projeto do curso de Comunicação Social da UFPA e as músicas do game foram compostas pelo músico Luiz Pardal. Os cenários foram cuidadosamente reproduzidos com ajuda de documentos cedidos pelo arquiteto Flávio Nassar, do Fórum Landi. Apesar da complexidade, a ideia nasceu com o trabalho de conclusão de curso de Ricardo Damasceno, sobre uma versão beta (versão de teste) de um jogo de estratégia sobre a Cabanagem. O objetivo do game educativo é assumir o papel dos diversos líderes do movimento, como Felipe Patroni, Batista Campos, Antônio Vinagre e Eduardo Angelim. Parte do game é apenas para conhecer a história do movimento num jogo de aventura e interpretação. Num segundo momento, o jogo assume um perfil de estratégia, em que o jogador tem de tomar decisões sobre seus soldados cabanos, equipamentos, instalações e táticas para alcançar as metas de cada fase. Estrutura que tornou famosas séries de jogos como World of Warcraft.
HISTÓRIA
O jogo marca os diversos períodos da revolta, que vão da chegada de Felipe Patroni ao Pará e a fundação do jornal “O Paraense”,
NOSSA HISTÓRIA
No game criado na UFPA, os jogadores precisam cumprir missões criando estratégias durante a Cabanagem, no Pará
em 22 de maio de 1822. Outros momentos estão em foco, como a Adesão do Pará à Independência do Brasil e o massacre conhecido como “Brigue Palhaço”, a prisão de 256 revoltosos dentro de navios em condições precárias e sob envenenamento. O desenvolvimento da história se dá em três estágios que marcam períodos distintos do movimento. O clímax do jogo é a batalha final pela retomada de Belém pelos cabanos na Praça das Mercês, que durou nove dias. Nesse momento o jogo tem recursos sofisticados, como passagem do tempo. Esse evento revela todo o potencial do jogo em programação, estratégia e história. O coordenador do projeto, Manoel Ribeiro Filho, lembra que o ponto-chave do game não é precisamente jogar e sim aprender. “É um jogo educativo e as pessoas indiretamente estarão aprendendo coisas sobre nosso passado e sobre o presente, como de onde vêm os nomes de ruas e bairros, como Batista Campos e José Malcher. A cada fase haverá uma narração dos fatos que irão acontecer e o que representam”, diz.
Em favor dos doentes renais do Estado
“Quando me deparei com a situação que os doentes renais crônicos do Estado passavam resolvi me juntar a outros pacientes e familiares para criar uma associação e melhorar a vida dessas pessoas”. Foi assim que Belina Soares idealizou a Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Pará (ARCT-PA). A associação foi fundada em 1999, quando a mãe de Belina foi diagnosticada com uma disfunção renal crônica. Ao buscar auxílio para amenizar o problema, ela viu que não havia medicamentos e muito menos tratamento especializado suficientes para esse tipo de caso. “Naquela época só havia duas clínicas de diálise em todo o Pará. Além disso, pela falta de conhe-
cimento, o tratamento era desumano”, conta. Para Belina, que hoje é tesoureira da ARCT-PA, ainda falta mais atenção à prevenção das doenças renais e a associação tenta justamente preencher essa lacuna. “É preciso não só olhar a doença. O cidadão tem que se informar para poder se prevenir e, sobretudo, buscar seus direitos. Por isso, procuramos formar não só os doentes e seus familiares, mas também para toda a comunidade”, comenta a voluntária. Mostrar para o doente renal crônico que mesmo com a limitação de saúde é possível ter uma vida tranquila também é um dos papéis da associação. Para isso, é dado suporte psicológico aos que pro-
FRATERNIDADE
Foi na Associação dos Renais Crônicos e Transplantados do Pará que Belina Soares encontrou a alegria de contribuir com a sociedade
MUDANÇADEATITUDE DIVULGAÇÃO
HELY PAMPLONA
BONS EXEMPLOS
APESAR DE BOM, ENCURTE O BANHO DE CHUVEIRO
Banho diário é um hábito que vem do Antigo Egito e que hoje faz parte do dia a dia dos
brasileiros, principalmente por vivermos em um país tropical. E, no clima quente e úmido
curam a ARCT-PA. “Nós conseguimos montar uma equipe multiprofissional. Temos assistentes sociais, psicólogos e a maioria é voluntária”. Belina acredita que esse tipo organização é base fundamental para uma tomada de consciência coletiva em “que a gente lute e não olhe só para si.” Hoje ela se dedica exclusivamente à associação, aos pacientes e seus familiares. “Aquilo que nasceu de uma necessidade pessoal é hoje a única guarida para muitas pessoas. Fico feliz com essa coletividade”.
da região, é comum os banhos demorados. Enquanto os britânicos se banham, em média, cinco vezes por semana e os americanos, sete vezes, os brasileiros ligam o chuveiro em torno de 20 vezes no mesmo intervalo. Os dados são de um estudo encomendado pela Reckitt Benckiser, indústria que fabrica produtos de higiene e cuidados pessoais. A pesquisa também mostrou que 88% dos brasileiros tomam banho logo pela manhã. Uma ducha em um apartamento com boa vazão gasta em média 160 litros de água em 10 minutos, sendo que 5 minutos são suficientes para esse momento. O jeito mais infalível de ajudar a reduzir o desperdício de água é usála com economia: banhos curtos, desligando o chuveiro enquanto se ensaboa ou aplica o xampu já são uma iniciativa. Fazer xixi no banho também é válido, pois economiza-se até 20 litros em vez de puxar
SAIBA MAIS
a descarga, e o próprio sabão e espuma que
Associação dos Renais Crônicos
escorrem tratam de deixar o piso limpo.
e Transplantados do Pará fica
Nunca é demais lembrar que gastando menos
na travessa Campos Sales, 63 -
água, preservamos os recursos naturais e as
Campina, Belém. Telefone: (91)
nascentes dos rios e ajudamos a cuidar mais
3212-5282
do meio ambiente.
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VIDA EM COMUNIDADE
EDUCAÇÃO QUE BROTA DO CAMPO
EM JAMBUAÇU, ZONA AGRÍCOLA DO MUNICÍPIO DE MOJU, ALUNOS COLHEM BONS RESULTADOS COM O ENSINO NAS CASAS FAMILIARES RURAIS TEXTO FABRÍCIO QUEIROZ FOTOS TARSO SARRAF
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ESTUDO E TRABALHO
Alunos da comunidade quilombola de Jambuaçu também participam de cursos técnicos profissionalizantes em agropecuária
O
sonho de fazer um curso superior ou mesmo continuar os estudos no ensino médio nem sempre é fácil de ser realizado para quem vive no interior da Amazônia. Além da dificuldade de acesso que ocorre em muitos casos, a escola das margens dos rios, dos territórios quilombolas e das comunidades indígenas acaba por vezes reproduzindo práticas pedagógicas centradas no mundo urbano. Por isso, um dos grandes anseios das populações amazônidas é a defesa de uma “educação do campo”, e não somente uma “educação no campo”. O conceito agrega diversas e complexas realidades, que, sobretudo, buscam evidenciar a realidade e as necessidades do meio rural dentro das salas de aula. Foi assim, que surgiram diversas experiências como as casas familiares rurais. Tudo começou na França, em meados da década de 1930, e logo se expandiu por diversos países. No Brasil, os agricultores do Sul foram os primeiros a implantar escolas nesse modelo, e, no Pará, o movimento já tem cerca de 20 anos, segundo a Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Pará (Ascafar-PA). As casas familiares rurais têm sua proposta baseada na chamada pedagogia da alternância, em que os estudantes alternam um período de estudo integral na escola com um período de vivência e aplicação dos conhecimentos nas propriedades de seus pais. Hoje, o Estado conta com 25 casas, uma delas funciona na comunidade Nossa Senhora das Graças, no município de Moju. A Casa Familiar Rural do Território Quilombola do Jambuaçu é considerada uma conquista pelas 15 comunidades remanescentes de quilombo que vivem na região. As turmas de ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e ensino médio (1º a 3º ano) são integradas a um curso técnico profissionalizante em agropecuária, que atendem no total 70 alunos. Valmir Natividade, coordenador pedagógico da casa, destaca os benefícios
PAIS E FILHOS A casa familiar rural na comunidade Nossa Senhora das Graças foi criada para atender os filhos de agricultores
que a experiência trouxe para a localidade. “A casa familiar rural surge com a necessidade de atender os filhos de agricultores. A pedagogia da alternância foi a forma que encontramos de eles estudarem e ajudarem os pais na agricultura. Diferente da escola tradicional em que todo dia o aluno precisa se deslocar, ele não precisa ir todo dia. Outro beneficio é que ele não precisa sair da comunidade. Ele fica na localidade e preserva os seus conhecimentos, a sua cultura. A gente só faz aprimorar isso de uma forma sistematizada”, explica. Para Valmir, outro dado que aponta o êxito da casa familiar rural está nos baixos índices de evasão escolar. “Como tem essa aproximação da realidade que o aluno vive, a gente consegue diminuir a evasão. A nossa evasão é de 5% a 8%. Em escolas convencionais, isso chega a quase 35%. Então, nós percebemos que o nosso aluno está determinado a aprender aquele conhecimento da agricultura”, diz o coordenador. Os fatores que levam a esse resultado são diversos e estão ligados ao dia-a-dia das atividades. Fora da escola rural, os profes-
sores acompanham a rotina dos alunos em suas casas e no trabalho junto com os pais. Dentro da sala de aula, tanto em disciplinas regulares como Português, Matemática e Ciências quanto na profissionalização, os educadores buscam mostrar as relações do conhecimento técnico com um saber empírico. “A partir do momento que você mostra pro aluno um conteúdo diferenciado, que faz parte da vida dele, isso se torna mais atrativo porque associamos a vivência da comunidade dele ao ensino. Pensando assim, por exemplo, podemos ensinar as quatro operações da matemática de uma vez, e não mais separadas. No momento das avaliações, o nosso processo não se atém ao conteúdo, mas ao social, à realidade, à família e à vida dele”, conta o professor Rosemiro Abreu. A estudante Natalina Cuimar, de 38 anos, reforça que a casa rural consegue atingir seus objetivos. Uma das mais velhas da turma, Natalina é filha de agricultores da região e chefe de família. Por isso, resistiu um tempo até decidir ingressar na escoOUTUBRO 2014
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VIDA EM COMUNIDADE
“Nossos pais não tiveram essa oportunidade de se profissionalizar. Na escola, a gente vai melhorar a nossa produção”
DEDICAÇÃO
Os estudantes dividem o tempo entre a sala de aula e o trabalho nas roças: produtividade para ambos os lados aumentou.
la. “A gente acha que sabe tudo. Quando a gente chega lá é um pouco complicado. Os adolescentes aprendem as matérias muito rápido e a gente vai aos poucos. Mas agora eu aprendo coisas que a gente via dentro de casa e não entendia”, conta Natalina. Agora, a agricultora, que já cursa o último ano do ensino médio, e reconhece os ganhos que o aprendizado lhe proporcionou. “Nossos pais não tiveram essa oportunidade de se profissionalizar. Na escola, a gente vai melhorar a nossa produção com conhecimentos técnicos, práticas de manejo, informações sobre o desgaste do solo”, diz Natalina.
FORMAÇÃO
Além da satisfação dos alunos, a casa familiar rural de Jambuaçu já colhe os primeiros dados os resultados desse trabalho. No ano passado, 24 pessoas concluíram o ensino médio e mais 18 serão formados até o final deste ano. São ainda os primeiros, mas importantes passos de uma longa caminhada. “Estamos muito avançados. Já temos uma política de comercialização, 52 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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uma maior preocupação com o controle e com a qualidade”, diz Valmir Natividade, que também é vice-presidente da AscafarPA. Ainda estamos engatinhando porque agora que formamos os primeiros alunos, mas já é um grande avanço. No Sul, a agricultura está mais organizada, mecanizada e preparada pra atender até em grande escala. Nós sonhamos que um dia chegaremos a esse patamar”, completa. Natural do Moju, a professora Francilene Augusta teve que buscar oportunidades em outras cidades para fazer a graduação e depois se tornar especialista em educação do campo. Hoje, a professora leciona na casa familiar rural de Jambuaçu e compartilha essa experiência com seus alunos, vivenciando um momento de mudanças na comunidade. “Desde que eu me formei na profissão atuo na zona rural. Eu nem penso em ir trabalhar na cidade. Para mim, este trabalho é uma satisfação muito grande e acabo me identificando por conhecer o modo de vida simples desses alunos. A gente pode desenvolver um trabalho que respeita isso”, diz a professora.
PLANTAÇÃO Agricultora cuida da horta no município de Moju
ARTE, CULTURA E REFLEXÃO CARLOS BORGES
PENSELIMPO
A FÉ COMO ESPETÁCULO
HÁ 20 ANOS, O AUTO DO CÍRIO REÚNE ARTISTAS PROFISSIONAIS E AMADORES, QUE SAEM PELAS RUAS DA CIDADE VELHA EM UM MISTO DE CORTEJO CARNAVALESCO E PROCISSÃO DEVOCIONAL
PÁGINA 58
RELÍQUIA O pianista Paulo José Campos
EDUCADOR O historiador Arthur Vianna se
de Melo se prepara para tocar o raro órgão Cavaillé-Coll em mais um Círio de Nazaré. PÁG. 54
dedicou a organizar bibliotecas no Estado. Hoje, dá nome ao principal acervo de livros do Pará. PÁG.60
INICIAÇÃO CIENTÍFICA A formação de jovens pesquisadores é importante e urgente para o desenvolvimento da Amazônia. PÁG.66
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DEDO DE PROSA
Uma raridade instrumental O PIANISTA PAULO JOSÉ CAMPOS DE MELO É O RESPONSÁVEL POR EXECUTAR A MÚSICA HARMONIOSA DO ÓRGÃO CAVAILLÉ-COOL, UMA RELÍQUIA DA BELLE ÉPOQUE GUARDADA NA CATEDRAL METROPOLITANA DE BELÉM TEXTO DOMINIK GIUSTI FOTOS FERNANDO SETTE
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IGREJA DA SÉ
T
odos os anos, quando a berlinda de Nossa Senhora de Nazaré adentra a Igreja da Sé, em Belém, após mais uma noite de Trasladação, após a imagem da santa já ter percorrido do bairro de Nazaré até a Cidade Velha, o som que se ouve vem dos tubos de um grande órgão situado no interior da Catedral. De lá, o pianista Paulo José Campos de Melo, habilidoso e experiente, começa a puxar os manuais do instrumento em equilíbrio com a pedaleira. É preciso ser rápido para que a música possa ser executada com
É do templo mais antigo de Belém, no bairro da Cidade Velha, que sai o Círio de Nazaré no segundo domingo de outubro. Neste dia, o Cavaillé-Coll é tocado durante a missa solene.
total harmonia. O órgão também é tocado na missa que precede a procissão dominical, no segundo domingo de outubro. O instrumento é um autêntico Cavaillé-Cool, modelo produzido na França por Aristide Cavaillé-Cool – que emprestou seu sobrenome aos órgãos que construiu de forma artesanal. Foi trazido para Belém e inaugurado em 9 de setembro de 1882, por dois organeiros e organistas franceses, Veerkamp e Moor. Paulo José conta que o órgão funcionou por 70 anos e depois de sofrer desgaste do clima e do
tempo, enguiçou. Parado desde a década de 1930, o instrumento ameaçava desabar, pois pesa uma tonelada, mede 8m de altura por 5,5m de largura e tem 3,5m de profundidade. Foram necessários muitos anos de campanha, entre 1980 e 1990, para arrecadar os recursos suficientes para restaurá-lo. Uma parte foi levada para o seu país de origem, em dois grandes contêineres, e a outra ficou aqui mesmo, sendo restaurada na capital paraense. A reinauguração ocorreu apenas em 1996, após quase uma década de movimentação pelo seu resgate.
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cá. O órgão foi montado aqui e começou a funcionar normalmente. De repente, parou de funcionar, provavelmente por causa do clima úmido e a falta de cuidado específico. Os foles e a bolsa de couro furaram.
DEDO DE PROSA
E por que houve o interesse em restaurar o órgão?
CLÁSSICO
O som do Cavaillé-Coll é incomparável ao de outros órgãos. Em todo o País, atualmente, só existem três exemplares desse modelo francês, sendo que um está em Belém.
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Como esse órgão veio para Belém? Ele é um órgão francês Cavaillé-Coll. Na Notre Dame de Paris tem o maior órgão Cavaillé-Coll do mundo. O mesmo organeiro, Aristide Cavaillé-Cool, que construiu o de lá, construiu o nosso de Belém. Dizem que esse órgão foi feito para a Basílica de Lourdes, na França. Ele deveria ir pra lá. Na época em que ficou pronto, a Basílica não tinha o montante necessário para pagá-lo. E o arcebispo de Belém na época, dom Antônio de Macedo Costa, tinha o dinheiro e o trouxe para OUTUBRO 2014
Quando monsenhor Nelson Soares veio para a Catedral Metropolitana, nos anos 1980, o Cavaillé-Cool estava quase para ruir, pois estava com muito cupim. Com medo que desabasse do mezanino, já que pesa cerca de uma tonelada, ele começou a campanha, ou para retirá-lo dali e jogá-lo fora ou para restaurá-lo. O órgão parou de funcionar já na década de 1930. Para a restauração, parte do órgão precisou ir para a França, para a última fase do restauro. E o pessoal da Basílica de Lourdes ficou feliz, pensando que não tínhamos todos os recursos para trazer de volta e eles achavam que enfim poderiam ficar com o órgão. A parte interna foi para a França, em dois contêineres gigantescos e a parte externa foi restaurada aqui em Belém mesmo. A reforma custou R$ 1 milhão, naquela época. Isso foi registrado, um livro foi editado para contar a historia do órgão e da restauração. Agora estamos novamente em campanha para restaurálo. Uma firma alemã vai fazer o trabalho e já enviou um técnico. Estamos atrás do montante de R$ 320 mil. Estamos na luta para ver se no ano do Congresso Eucarístico, em 2016, ele fique novinho em folha, pois está funcionando com 80% de sua capacidade. E quais são as características desse instrumento, como ele é feito? São 30 mil peças, entre foles, tubos, bouquilhas e palhetas. Cada tubo tem uma ligação com um registro. Você toca, abre o fole e dependendo do registro tem uma liga que o puxa. É um mecanismo muito complicado. Era tudo feito manualmente por Aristide Cavaillé-Cool, um organeiro francês. Ele fez, além do órgão de Notre Dame, mais dois na França. O
nosso é o maior da América Latina. Tem outro em Mariana, Minas Gerais, e São Paulo, mas são pequenos. O CavailléCool tem instrumentos que não eram comuns à época, como, por exemplo, para imitar a voz humana. Como senhor foi habilitado para tocar este órgão? Existe algum curso? Comecei a tocar órgão muito cedo, mas sem ser um organista. Só fui estudar órgão depois de já saber tocar. Quando tinha 12 anos fui organista da Igreja de Sant’Ana e nesse período veio uma grande organista alemã dar um curso em Belém, Gertrude Merciovsky, e me tornei o organista titular da igreja. Depois, fui para a Alemanha estudar música e quando voltei de lá, já havia a campanha da restauração do Cavaillé-Coll. Na época, quem tocava o órgão na Catedral de Belém era um padre alemão, Hans Bönish. Com a saída dele, desde então assumi a titularidade de organista da Sé. Para tocar esse órgão tem que ter conhecimento. Ele tem funções que imitam sons de instrumento de sopros e cordas. Ele é um órgão de estilo romântico, com uma música sonoramente mais opulenta e rica. Nesse órgão tem fagote, trompa e já tem até como imitar o som de trovão, com tração mecânica. O segredo, além da técnica de saber tocar, sabendo que tem que segurar todas as notas, é saber misturar os registros manuais, o primeiro e o segundo, e o pedal. O segredo do órgão está nessa combinação de sons, se não fica uma coisa insuportável, só barulho. Qual a relação desse instrumento valioso com o Círio de Nazaré? De que forma ele atua nas comemorações nazarenas? O Cavaillé-Coll é tocado em toda chegada da imagem da santa na Trasladação, quando ela é levada para dentro da igreja. E também na missa campal do Círio, que começa por volta das 5 horas.
Como o senhor começou a tocar piano?
“Ele é um órgão de estilo romântico, com uma música sonoramente mais opulenta e rica. O segredo está nessa combinação de sons”
Minha mãe era professora de piano. Comecei com dois anos e meio. Ela me dava aulas em casa, no conservatório, e então, comecei a tocar antes mesmo de falar. Com três anos fiz minha primeira apresentação pública, na TV Tupi, do Rio de Janeiro, e aqui, no Conservatório Belas Artes. Tocava o que os alunos da minha mãe tocavam de ouvido. Ainda não sabia ler, então tocava o que eu ouvia mesmo, exatamente como os alunos tocavam. Depois, entrei no conservatório, fiz o curso normal. Fui para o Rio e São Paulo, e depois fiquei oito anos na Alemanha. Nunca tive opção, sempre fui direcionado para isso desde pequeno. Talvez até tivesse como estudar outras coisas, mas foi tudo muito cedo mesmo. Entrei no conservatório antes do colégio. Sempre fui um aluno regular, suficiente para passar de ano, mas era excelente no piano. Eu era muito convidado para tocar em festas. Ganhei bolsa de estudos na Alemanha e fiquei na Europa até 1996, quando vim para Belém para assumir a direção da Fundação Carlos Gomes. OUTUBRO 2014
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ARTE REGIONAL
Devoção artística
RITO POPULAR
Pelas ruas da Cidade Velha, artistas profissionais e amadores espalham alegria da fé na sexta-feira que antecede o Círio de Nazaré
AOS 20 ANOS DE HISTÓRIA, O AUTO DO CÍRIO ABRE ESPAÇO PARA QUE ARTISTAS TAMBÉM FAÇAM SUAS HOMENAGENS À VIRGEM DE NAZARÉ
H
TEXTO BRUNO ROCHA FOTOS TARSO SARRAF E CARLOS BORGES
á 20 anos, tudo começava de uma ideia a partir de uma oficina de teatro de rua com o ator e diretor Amir Haddad, a princípio só com integrantes do curso de teatro. A proposta acabou virando um projeto de extensão da
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Universidade Federal do Pará chamado “O Auto do Círio”. Nesse início tudo era muito simples, os próprios atores confeccionavam seus figurinos e as atividades do grupo se concentravam na praça da República, local onde
hoje fica o Instituto de Ciências da Arte, o ICA. O projeto cresceu e hoje o Auto do Círio se solidificou, passou por diversas propostas cênicas em um caldeirão de símbolos e formas, mas ainda permanece com o mesmo conteúdo: a homenagem teatral a Nossa Senhora de Nazaré. “O que muda hoje é a estrutura cênica enquanto cortejo. Foi saindo um pouco o carnaval e entrando mais a dramaturgia”, explica o professor de Artes Visuais da UFPA, Neder Charone, que participou das três primeiras edições do Auto, e, nos anos posteriores, passou a atuar como figurinista e cenógrafo. Em 1996, a direção ficou a cargo do professor da UFPA Miguel Santa Brígida, que esteve a frente do espetáculo por 15 anos. Miguel fez do projeto sua dissertação de Mestrado em Artes Cênicas, intitulada “O Auto do Círio”, e nesse tempo o Círio de Nazaré conseguiu repercussão nacional, primeiro quando foi registrado em 2004 pelo Iphan como Bem Imaterial da Cultura Brasileira e depois por ser tema do enredo da Escola de Samba
Unidos da Viradouro, no carnaval do Rio de 2004, reforçando o toque carnavalesco ao Auto do Círio. Depois de Miguel, o professor de artes da UFPA, Beto Benone, assumiu a direção geral, posto que coordenou até o ano passado. Com um público que aumenta a cada ano, a responsabilidade também cresce. A preparação para o espetáculo funciona através de oficinas ministradas nas três semanas que antecedem o espetáculo. O atual diretor do Auto, Adriano Furtado, conta que um dos elementos mais importantes e característicos do cortejo é o elenco, bastante diversificado. “Tem gente que já é ator. Mas tem também dona de casa, que nunca fez teatro na vida, mas quer estar lá. Aí fazemos exercícios básicos de iniciação ao teatro. E essa troca de experiência é muito legal. Eu nunca sei quem vai estar lá, quem eu vou dirigir. Isso é bom para o processo criativo”, diz Adriano. Para a realização do Auto do Círio, o patrocínio da iniciativa privada também é fundamental para o projeto da UFPA. Em 2014, a mineradora Vale chega ao terceiro ano consecutivo como patrocinadora oficial do evento. “A importância do patrocínio da Vale completa a realização do Auto. É uma parceria legal e, espero, duradoura”, comenta a coordenadora do projeto, Claudia Palheta, destacando que o patrocínio não tem valor apenas financeiro para o projeto, mas também é essencial para agregar prestígio e credibilidade ao espetáculo. A intenção do projeto, além de fazer a integração de todo o núcleo da escola de teatro em um único espetáculo, também era o de valorizar alguns espaços históricos de Belém. Veio então a necessidade de levar o cortejo para o bairro da Cidade Velha. A volta dos ensaios para a praça do Carmo é umas das novidades esse ano. Há pelo menos dez anos, eles ocorriam na Aldeia Cabana, bairro da Pedreira. “Em maio deste ano, nós começamos a bater na porta das casas e perguntar aos moradores o que eles achavam dos
CARNAVAL DEVOTO
Além da romaria com um toque de festejo, os figurinos e coreografias também são um atrativo a mais no Auto
ensaios serem realizados ali na Cidade Velha. E a gente achava que isso seria difícil”, conta Cláudia Palheta, se mostrando surpresa com a total aceitação da ideia. Além disso, outra inovação é a utilização das janelas e sacadas das casas das ruas, por onde o Auto passa, para a criação de algumas cenas. Isso aumenta a interação do público, que, no final das contas, acaba sendo também um pouco roteirista, um pouco diretor de cena, influenciando diretamente no desenvolvimento do enredo.
CORTEJO
E para resgatar essa função primordial do projeto e comemorar as duas décadas de existência, o eixo temático do Auto do Círio deste ano é patrimônio. “Queremos falar de patrimônio, em todos os sentidos. Todas as artes que o compõem. Por isso, usamos como frase para dar nome ao tema ‘Maria de todas as artes”, ressalta o diretor Adriano Furtado. Os coordenadores também pretendem valorizar os artistas locais que, seja na arquitetura, teatro, dança, música, ou qualquer outra manifestação artística, têm ajudado a construir o patrimônio histórico da cidade de Belém e serão exaltados durante a procissão. Sim, uma procissão. O Auto do Círio se tornou ao longo desses anos o que os organizadores chamam de “arte-romaria”.
Sem limitação de participantes, a manifestação tomou dimensões comparada às demais romarias oficiais da quadra nazarena. Para Adriano Furtado, “esse é um momento de mostrar que nós, artistas, também temos fé e fazemos isso por amor a Nossa Senhora de Nazaré. É o modo que nós escolhemos para demonstrar nosso agradecimento”. Durante o trajeto, os cânticos entoados, os gestos emocionados e a entrega de atores e público fazem do Auto do Círio uma demonstração concreta e diversificada da fé de um povo. O Auto é também reencontro, é rito de passagem e renovação. “Primeiro a gente vai conhecendo as pessoas, fazendo amizade. Depois aquilo vira um mundo e tem pessoas que nós esperamos o ano todo para rever no Auto. Mesmo assim é tudo novidade. Novo personagem, novo tema. Isso se tornou uma necessidade para mim”, diz Anastácio Trindade Campos, funcionário público que há 16 anos participa do espetáculo.
SERVIÇO
O Auto do Círio este ano será no dia 10 de outubro, com início às 19 horas. O trajeto sai da praça do Carmo, na Cidade Velha, seguindo pela rua Dr. Assis, passando pela Igreja da Sé e terminando praça Dom Pedro II, em frente ao Palácio do Governo. OUTUBRO 2014
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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
Arthur Vianna 1873 - 1911
historiador para a história de Belém TEXTO ABÍLIO DANTAS ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR
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A
importância do conhecimento da História, seja ela de uma cidade ou de um país, não é mais novidade em ambientes escolares ou mesmo nos meios de comunicação, que utilizam o saber histórico para produzir materiais difusores do tema. No entanto, a figura do historiador, peça fundamental para a descoberta e entendimento da trajetória humana, ainda não possui o reconhecimento merecido. A História do Pará, por exemplo, não seria a mesma sem os estudos e a influência do cronista, jornalista, professor e historiador paraense, Arthur Vianna. Nascido em 11 de novembro de 1873, em Belém, Arthur Octávio Nobre Vianna é considerado, ao lado de Ernesto Cruz e Arthur Cézar Ferreira Reis, “um dos mais produtivos historiadores da Amazônia em número de obras publicadas e temas trabalhados”. É o que afirma o professor e historiador da Universidade Federal do Pará (UFPA), José Maia Bezerra Neto, em seu trabalho intitulado “Arthur nas forjas da História”, presente no livro “Diálogos entre História, Literatura & Memória”. Segundo José Maia, Arthur Vianna possui uma obra versátil, mas foi esquecido por um tempo devido ao fato de ser considerado positivista e sua produção ter recebido o rótulo de “história oficial”. Arthur Vianna começou seus estudos, em Belém, nos colégios Santa Helena, antigo Gymnasio Paraense, e Americano. No Lyceu Paraense, de acordo com José Maia, realizou o curso de Humanidades e iniciou também seus primeiros passos no jornalismo, ao colaborar com o jornal O Democrata. No periódico, Vianna revelou talentos múltiplos, como poeta e prosador. Diplomado pela Escola Normal e depois pela Escola de Farmácia do Pará, Arthur Vianna atuou paralelamente como professor, na área da saúde, e no serviço público. Para José Maia, o trabalho do escritor como secretário do Lyceu Paraense foi de grande importância em sua vida, pois lhe permitiu a sobrevivência após a perda de seu pai. Tanto é verdade que em seu trabalho Estu-
dos sobre o Pará, apresentou-se como “Secretário do Lyceu Paraense e professor de Geographia e História do Lyceu das Artes e Offícios ‘Benjamim Constant’”. Como funcionário público, Arthur Vianna teve a oportunidade de ter contato com o arquivo necessário para o funcionamento da burocracia estatal e o fez compreender a importância dos documentos para a vida das instituições públicas, fato determinante para sua formação. De acordo com José Maia, o jovem Arthur Vianna percebeu “a necessidade da guarda da memória documental para a sociedade”. Não é de se admirar, portanto, que ao ser nomeado diretor da Biblioteca Pública, de 1899 a 1906, Vianna não somente a organizou como reuniu toda documentação existente na Secretaria de Governo do Estado relativa ao período colonial e parte do século XIX, de 1681 a 1860. Para José Maia, “é possível ver no diligente organizador da Biblioteca e Arquivo Público do Pará, em parte pelo menos, a experiência e formação adquiridas como amanuense e secretário nas lides com os papéis do Lyceu Paraense”. Irmão mais velho do médico e cientista Gaspar Vianna, Arthur Vianna destacouse no campo do jornalismo e da criação literária. Foi fundador e redator-chefe do Jornal do Comércio, em 1904, membro do grupo Mina Literária, associação que visava à divulgação da literatura na sociedade paraense desde 1894, e fundador da Academia Paraense de Letras (APL), em 1900, sendo o patrono da Cadeira número um da instituição. No entanto, é como historiador, autor de inúmeros trabalhos, que Arthur Vianna cravou seu nome como escritor na trajetória do Brasil. Seus livros considerados mais importantes são A Santa Casa de Misericórdia Paraense. Notícia Histórica, 16501902, de 1902, e As epidemias no Pará, de 1906. Também fazem parte de sua obra os livros Pontos da História do Pará, Exploradores da Amazônia e Os Limites do Estado. Hoje, o historiador dá nome à biblioteca do Estado, no Centur. OUTUBRO 2014
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AGENDA DIVULGAÇÃO / CATALINA MURCHIO / RETRATOS DA FÉ
DIREITOS HUMANOS De 25 a 27 de novembro, será realizada a 17ª Jornada de Extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA). Sob o tema “Direitos Humanos e Tecnologia”, a programação da Jornada mostrará à comunidade paraense os resultados dos projetos extensionistas. Estima-se que mais de 550 pessoas, entre alunos, professores e técnicos, desenvolvam atividades de extensão em diversas comunidades. Alunos, técnicos, professores vinculados a projetos de extensão, assim como voluntários que queiram participar podem obter mais informações pelo site proex.ufpa.br.
CÍRIO
DEVOÇÃO E EXPOSIÇÃO Segue aberta para visitação até o dia 31 de outubro a exposição iconográfica sobre o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, “Retratos da Fé”, da artista Catalina Murchio, no Espaço Cultural do Banco da Amazônia. A mostra tem como foco elementos culturais do maior evento de fé da Amazônia, como as casinhas de miriti carregadas pelos romeiros no dia da procissão, velas, anjinhos, promesseiros, o Auto do Círio e as feiras. Ao todo estão
MEIO AMBIENTE
expostos 30 painéis fotográficos. Informações: 4008-3491 e 4008-2782.
A Universidade do Estado do Pará (Uepa) promove, entre os dias 18 e 20 de novembro, o III DIVULGAÇÃO / SOBREVIDAS
Simpósio de Estudos e Pesquisas em Ciências Ambientais na Amazônia. As inscrições seguem até o dia 18 de novembro. Os interessados em submeter trabalhos têm até o dia 19 de outubro. Informações pelo email simpambientais@ gmail.com e telefone (91) 3131-1914.
PARASITAS Seguem abertas as inscrições para o doutorado em Biologia Parasitária na Amazônia, da Universidade do Estado do Pará (Uepa). O programa é estruturado na área de concentração “Biologia de agravos infecciosos na Amazônia”, e em duas linhas de pesquisa:
FOTÓGRAFOS
“Epidemiologia de Microrganismos e Parasi-
Para divulgar e valorizar a produção dos fotojornalistas do Estado, o Centro Cultural Sesc Boulevard, em
tos” e “Fisiopatologia humana e experimental
Belém, segue com a mostra “Sobrevidas”, que reúne imagens de 27 fotojornalistas paraenses. As fotogra-
de processos infecciosos”. Estão sendo ofer-
fias retratam a experiência cotidiana dos profissionais. A exposição segue até o dia 26 de outubro, de terça a
tadas oito vagas, sendo uma para pessoas
sábado, das 9h às 19h, e aos domingos, das 9h às 13h, na avenida Visconde de Souza Franco. Telefones: (91)
com deficiência. Informações pelo site www.
3224-5305, 3224-5654. Site: sescboulevard.blogspot.com.
uepa.br/portal.
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FAÇA VOCÊ MESMO
Manto SUSTENTÁVEL Mês de outubro, em Belém, tudo converge para o Círio: nossa seção também. Já são mais de dois séculos da procissão que percorre anualmente as ruas da capital paraense. Entre os elementos da festa, o manto, símbolo do cuidado dos paraenses para com a padroeira. As primeiras “roupas” da santinha começaram a ser produzidas pelos próprios romeiros, a partir de doações. O ritual passou ser realizado por devotos que se mantinham em sigilo. Hoje, o manto tem a assinatura de estilistas, com um evento de lançamento que já
Lopes, 8 Thalison
faz parte da programação oficial do Círio. E para reverenciar tamanha importância, a revista Amazônia Viva e a Fundação Curro Velho também apresentam a confecção de um manto. Este, porém, será produzido a partir de sucata plástica, garrafas de detergente e outros materiais reutilizáveis. Uma homenagem que sai das nossas casas, sendo sustentavelmente correta, para Nossa Senhora de Nazaré. Quem se interessar por essa e por outras técnicas, basta procurar as oficinas de arte e ofício do Curro Velho. Mãos à obra!
DO QUE VAMOS PRECISAR? • • • • • • • •
Garrafas vazias de detergente Estilete com trava Retalhos de tecidos Pincel Cola líquida de silicone Lápis Miçangas Tesoura com pontas arredondadas
a nos INSTRUTORA LUIZA NEVES COLABORAÇÃO DEUSARINA VASCONCELOS FOTOGRAFIA DANILO BRACCHI MODELO THALISON LOPES OUTUBRO 2014
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ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável
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O primeiro passo é escolher uma garrafa de detergente;
Depois que a garrafa for recortada, amasse para formar o manto;
Agora, passe a cola de silicone no manto da garrafa utilizando o pincel;
Agora, vamos customizar com os materiais que você tem em casa, como botões, miçangas e o que mais preferir.
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Com o lápis, faça o molde do manto na garrafa;
Tome um pedaço de tecido, conforme o seu gosto, e faça o desenho do manto;
No manto de garrafa, cole o tecido recortado;
Já estamos quase no fim: recorte flores dos retalhos de tecidos estampados;
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Utilize o estilete para cortar o manto na garrafa;
Recorte o tecido na marcação, deixando um centímetro de sobra para o acabamento;
Nesta fase, faça pequenos cortes. Então, vire a sobra do tecido para o acabamento;
O manto está pronto. E viva Nossa Senhora de Nazaré!
PARA SABER MAIS Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas da Fundação Curro Velho, do governo do Estado do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 64 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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RECORTE AQUI
FAÇA VOCÊ MESMO
BOA HISTÓRIA
O tempo espichou e se encolheu naquele fundo de
quintal, em um casarão antigo, daqueles do início do século passado, cada vez mais raros, mas que fazem de Belém uma cidade encantadora. Todos pararam para escutar a fala mansa do professor Otávio. Era geógrafo, baixinho, de óculos, frágil no físico, de conversa mansa e inteligência aguda. Naquele fim de aula, ele contava para alunos e colegas de profissão sobre as primeiras aventuras como estudante, quando o ímpeto de conhecer o Pará lhe dominou como uma febre. Otávio armou uma expedição às cidades históricas e outros aglomerados urbanos às margens do Tapajós e seus afluentes. No fim das contas: só ele e outro amigo foram ver de perto Santarém, Óbidos, Monte Alegre e Alenquer. Foi em Alenquer que Otávio se demorou naquelas memórias de mais de 20 anos. Lá, ele chegou
interessado na Morada dos Deuses, a impressionante formação rochosa da cidade. Um pastor evangélico deu uma força à dupla e emprestou um jipe para eles explorarem a região. De lambuja, indicou um guia. Magrinho, os olhos apertados como os dos índios. Deveria ter seus oito anos, mas parecia menos em tamanho e mais no tagarelar. Para a surpresa dos forasteiros, o caboclinho era um fenômeno. A excursão não poderia ter sido melhor. Sem pestanejar, a criança enumerou tudo que conhecia sobre o seu lugar. Falou de geologia, mostrou lugares, fez comparações, contou lendas, deu dados históricos. Foi uma aula para dois sabichões da cidade, que ficaram boquiabertos com o rapazinho, recordou Otávio. A plateia estava magnetizada, quando Otávio disse, entre amuado e saudoso, que partiu temendo pelo futuro do pirralho que ele não lembrava o nome. Tão incri-
LEONARDO NUNES
O Quintal
velmente inteligente, mas nascido em um lugar com poucos recursos à época. Onde estaria hoje o menino brilhante? Otávio se pôs pensativo. Um silêncio abateu os ouvintes. E como por mágica o rosto de um dos professores, que estava entre os que ouviam, iluminou-se. Era Enilson, um craque em sala de aula, também geógrafo. Os olhos dele estavam marejados. Mais de 20 anos depois, o menino agora homem feito encontrara o universitário de Alenquer, convertido em mestre do mesmo cursinho que ele ministrava aula na capital. Depois da expedição, Otávio passou a estudar a fundo a Amazônia. Já o menino Enilson decidiu que seria também geógrafo. O tempo cuidou para evidenciar o milagre que um produziu no outro, revelado numa tarde qualquer em um antigo sobrado do centro de Belém. OUTUBRO 2014
ANDERSON ARAÚJO
é jornalista, escritor e blogueiro
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NOVOS CAMINHOS
Iniciação científica no interior da Amazônia A formação de jovens pesquisadores é muito importante
INOCÊNCIO GORAYEB é mestre e doutor em Entomologia, pós-doutor em sistemática zoológica e pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi
para a Amazônia. O processo de formação depende fundamentalmente da orientação de pesquisadores com mestrado e doutorado e que tenham currículos produtivos no desenvolvimento de pesquisa científica. Os PIBICs – Programas de Iniciação Científica das instituições das IES – Instituições de Ensino e Pesquisa dos grandes centros têm funcionado bem, apoiados por bolsas fornecidas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pelas FAPs – Fundações de Amparo a Pesquisas dos Estados. Mesmo com todo este sucesso dos PIBICs, a formação ainda é difícil para as instituições e para os jovens que residem nas cidades afastadas dos grandes centros, no interior. Estas dificuldades são devido às grandes distâncias, ao baixo número de pesquisadores orientadores produtivos em pesquisa e a falta de ambiente científico e de laboratórios funcionantes. O ambiente de pesquisa configura-se com uma dinâmica diária de grupos de jovens, vários pesquisadores e atividades de projetos em andamento, que envolve os jovens diariamente em intensa relação de atividades de campo e de laboratório, palestras, discussões e práticas científicas, passando continuamente conhecimentos que extrapolam àqueles fornecidos pelo orientador. A Amazônia precisa de um mecanismo adicional para aumentar e melhorar a formação de jovens pesquisadores do interior. Trata-se de
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“adendos” aos PIBICs que permitam aos jovens serem orientados também por pesquisadores de outras instituições como Museu Paraense Emílio Goeldi, Instituto Evandro Chagas, Embrapa, universidades da capital e outros centros onde existam pesquisadores atuantes. Os “adendos” seriam, dentre outros, recursos que possibilitem aos jovens estarem em treinamento temporários nestas instituições e também viabilizem o deslocamento dos pesquisadores e técnicos ao interior, onde os jovens moram e estudam. Mas ainda há uma questão importante para que isso venha a funcionar: Qual é o incentivo que os pesquisadores tem para se envolverem neste esquema de formação? As FAPs, Banco da Amazônia, CNPQ e outros organismos de fomento que abrem editais para financiamento de projetos de pesquisa, poderiam aferir pontuações adicionais aos projetos que incluam pelo menos dois jovens que receberão bolsas de iniciação científica e os “adendos” já mencionados. Jovens que estão em graduação na universidade mais próxima ao local onde o projeto será desenvolvido. Estes organismos ainda poderiam criar este apoio independente de editais, para projetos já em andamento, sem importar a fonte de financiamento. Se o Pará criar estes novos mecanismos de apoio à formação de jovens no interior, será pioneiro e seguido pelos demais estados da Amazônia e de outras regiões do País.
“A Amazônia precisa de um mecanismo adicional para aumentar e melhorar a formação jovens pesquisadores do interior”
SAIBA MAIS
Carlos Roberto Jamil Cury. A importância da iniciação científica na consolidação da universidade. MalEstar e Sociedade - Ano III - n. 4 - Barbacena - Junho 2010 - p. 11-22. Flavio Fava-de-Moraes & Marcelo Fava. A Iniciação Científica, muitas vantagens e poucos riscos. São Paulo Perspec. vol.14 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2000. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010288392000000100008&script=sci_arttext Lilian Burgardt . Por que Iniciação Científica? Mais do que tratar de pesquisa, programa amplia visão de mundo. 2006. http://noticias.universia.com.br/destaque/ noticia/2006/09/11/434816/niciao-cientifica.html
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