REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
DEZEMBRO 2O14 | EDIÇÃO NO 40 ANO 4 | ISSN 2237-2962
MEU NOME É GINA, GINA LOBRISTA A VOZ DOCE DO VER-O-PESO FAZ SUCESSO NA WEB
QUEM SÃO OS AMAZÔNIDAS? A AMAZÔNIA LEGAL É A CASA DE MAIS DE 27 MILHÕES DE HABITANTES, QUE APESAR DAS CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS FORMAM UM POVO UNIDO PELO ORGULHO DE FAZER PARTE DE UMA REGIÃO TÃO PROMISSORA NO SÉCULO XXI
REALIZAÇÃO
PATROCÍNIO
Para um mundo com novos valores.
da editoria
FOTOS: IgOR MOTTA
puBlicação menSal DELTA PUBLICIDADE - Rm gRAPH EDIToRA deZemBro 2014 / edição nº 40 ano 4 iSSn 2237-2962 presidente LUCIDÉA BATISTA mAIoRAnA presidente executivo RomULo mAIoRAnA JR. diretor Jurídico RonALDo mAIoRAnA diretora administrativa RoSÂngELA mAIoRAnA KzAn
é DO PARÁ
Regina Dias e lahire Cavallero disseram à Amazônia Viva o que pensam sobre o “ser amazônico” e porque se sentem orgulhosos de fazerem parte da região
SOMOS O QUE PODEMOS SER
FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
“Nós temos as feições bem ma-
construção de um futuro melhor
rajoaras. Quando a gente vai para
para sociedade brasileira e como
outro lugar, logo dizem: ‘você não
fazemos parte de uma nação tão
é daqui’. Isso é bacana porque as
promissora no século XXI.
pessoas identificam que a gente é
Moramos em uma região mun-
do Norte, é da Amazônia”, disse a
dialmente conhecida pelas suas ri-
administradora Regina Dias, de 60
quezas naturais. Isso é um fato. Mas
anos, aos jornalistas Fabrício Quei-
não podemos permitir que sejamos
roz e Igor Mota durante a produção
erroneamente atrelados ao mito do
da reportagem de capa deste mês.
“bom selvagem”, em que prevalece a
Outro entrevistado pela equi-
ingenuidade de um povo ignorante.
pe da Amazônia Viva, o estudante
“Mas, às vezes, quem é de fora não
Lahire Cavallero, de 22 anos, com-
tem ideia do que é ser da região
pletou dizendo que “somos um
amazônica, porque fala como algo
povo diferenciado, um povo que
pejorativo. Então, ser amazônico tam-
tem o caboclo em suas raízes”. Ele,
bém é um desafio”, desabafou a admi-
que já morou no Nordeste e no Su-
nistradora Regina à reportagem.
deste do País, afirma que nunca co-
O conhecimento sobre a Ama-
nheceu “um povo tão amável como
zônia, no entanto, precisa ser ou-
o amazônico”.
tro e devemos contribuir para isso.
Os depoimentos acima demos-
Em um território em que habitam
tram uma característica geral dos
mais de 27 milhões de pessoas é
amazônidas, conhecidos pela rela-
necessário incentivar de maneira
ção íntima com a natureza e pela
positiva essa grande concentração
cordialidade. Ao falarmos sobre a
de energia humana a ser cada vez
identidade amazônica nesta reta
mais organizada, ativa, valorizada
final de 2014, queremos mostrar
e essencial. O novo ano nos dá essa
o quanto somos importantes na
oportunidade.
DEZEMBRO 2014
diretora comercial RoSEmARY mAIoRAnA diretor industrial JoÃo PoJUCAm DE moRAES FILHo diretor corporativo de Jornalismo WALmIR BoTELHo D’oLIVEIRA diretor de novos negócios RIBAmAR gomES diretor de marketing gUARAnY JÚnIoR diretores JoSÉ EDSon SALAmE JoSÉ LUIz Sá PEREIRA conselho editorial RonALDo mAIoRAnA JoÃo PoJUCAm DE moRAES FILHo WALmIR BoTELHo D’oLIVEIRA gUARAnY JÚnIoR LázARo moRAES REDAÇÃo Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JoRgE DE mELo (Srte-pa 1769) coordenação geral LUCIAnA SARmAnHo editor de arte FILIPE ALVES SAnCHES (Srte-pa 2196) pesquisador e consultor técnico InoCÊnCIo goRAYEB Colaboraram para esta edição o liberal, Vale, agência pará de notícias, agência Brasil, museu paraense emílio goeldi, universidade Federal do pará, Fundação curro Velho (acervo); camila machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, anderson araújo, moisés Sarraf, abílio dantas, Brenda pantoja, Bruno rocha, natália mello, Sávio oliveira, rosana medeiros, João cunha, moenah castro, Vito gemaque (reportagem); moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Janine Bargas (produção); hely pamplona, Fernando Sette, carlos Borges, roberta Brandão (fotos); thiago Barros (artigo) andré abreu, leonardo nunes, Jocelyn alencar, Sávio oliveira, márcio euclides (ilustrações); alexsandro Santos (tratamento de imagem). FoTo DA CAPA gina lobrista, por Carlos Borges AmAzônIA VIVA é editada por delta publicidade/ rm graph ltda. cnpJ (mF) 03.547.690/0001-91. nire: 15.2.007.1152-3 inscrição estadual: 158.028-9. avenida romulo maiorana, 2473, marco - Belém - pará. amazoniaviva@orm.com.br produção
realiZação
patrocÍnio
reViSta impreSSa com o papel certiFicado pelo FSc - ForeSt SteWardShip council
DEZEMBRO 2O14
neSta edição
EDIÇÃo nº 40 / ANO 4
POVO DA AMAzÔNIA
Mais de 27 milhões de pessoas moram na Amazônia Legal, fazendo parte de uma sociedade que ajuda a construir o Brasil do futuro. aSSunTO DO MÊS
DIVUlgAÇãO
Um dos fundadores da
CARlOS BORgES
NAVEGABILIDADE
ROBERTA BRANDãO
ROBERTA BRANDãO
16
36
58 54 CLáSSICO
As cantatas e os madri-
MICROSCÓPICO
Faculdade de Enge-
EStILO
gais já fazem parte da
Coordenadora do depar-
nharia Naval da UFPA,
A cantora pernambucana
programação natalina
tamento de Botânica do
o professor Hito Braga
gina lobrista encarnou
nas apresentações de
Museu Paraense Emílio
defende o uso de hidro-
as características amazô-
fim de ano em Belém. O
goeldi, a pesquisadora
vias no melhoramento
nicas e se tornou uma “ín-
maestro Milton Monte
Anna luiza Borges estuda
da locomoção na região,
dia apaixonada”, sendo a
mostra o porquê dos esti-
a vida quase invisível das
contribuindo também
atual referência do brega
los musicais encantarem
briófitas na Amazônia.
com o meio ambiente.
paraense romântico.
o público no Estado.
QuEM É?
OuTraS CaBEçaS
DEDO DE PrOSa
arTE rEgiOnal
4 6 7 11 13 15 17 17 18 19 19 20 20 21 21 22 24 46 49 49 50 60 62 63 65 66
E MAIS Da EDiTOria aS MaiS CurTiDaS PriMEirO fOCO TrÊS QuESTõES aMaZÔnia COnnECTiOn PErgunTa-SE Eu DiSSE aPPliCaTiVOS COMO funCiOna faTO rEgiSTraDO DEu n’O liBEral CuriOSiDaDES Da BiODiVErSiDaDE ElES SE aCHaM DESEnHOS naTuraliSTaS COnCEiTOS aMaZÔniCOS EM nÚMErOS OlHarES naTiVOS COMPOrTaMEnTO SuSTEnTÁVEl BOnS EXEMPlOS MuDança DE aTiTuDE ViDa EM COMuniDaDE MEMÓriaS BiOgrÁfiCaS agEnDa faça VOCÊ MESMO BOa HiSTÓria nOVOS CaMinHOS
DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5
IgOR MOTTA
38
ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAs EDIÇões ANTERIORes
fernando sette
CARIMBÓ
Bela homenagem ao carimbó, que sai de nossa terra para fazer barulho em terra alheia. (“Carimbó, patrimônio nacional”, Assunto do Mês, novembro 2014, edição nº 39) Talvane Campos Belém-Pará
um aguaceiro a caminho da ilha
A belíssima foto em pretoe-branco de Fernando Sette ganhou várias curtidas no Instagram no mês passado. A imagem foi registrada na estrada de Mosqueiro, durante uma pauta jornalística para a Amazônia Viva.
Parabéns à Amazônia Viva pela ótima abordagem sobre o carimbó, agora Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. João André Lobato Belém-Pará
oswaldo forte
A matéria mostra a organização e articulação da Campanha do Carimbó, movimento responsável por essa vitória histórica, e revela as expectativas de mestres e lideranças carimbozeiras em relação ao futuro da manifestação. Nossos agradecimentos à equipe da revista e ao jornalista Alan Bordallo por mais essa publicação sobre nosso movimento. Movimento Campanha do Carimbó Via Facebook
QUILOMBOLAS
Muito didático o mapa com os números das comunidades quilombolas no Estado (“Pará, terra de quilombolas”, Em Números, novembro 2014, edição nº 39). É um ótimo material para ser passado em nossas escolas. Adalgisa Mendonça Belém-Pará
VOU TE MOSTRAR COMO SE FAZ UM CARIMBÓ
A reportagem “Carimbó, patrimônio nacional” recebeu o maior número de curtidas e comentários em nossa página do Facebook. A reportagem de Alan Bordallo mostrou os próximos desafios do nosso ritmo tipicamente paraense agora que recebeu o título de “Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil” pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em setembro.
fb.com/amazoniavivarevista instagram.com/amazoniavivarevista twitter.com/amazviva 6 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
DEZEMBRO 2014
NOVEMBRO 2O14 | EDIÇÃO NO 39 ANO 4 | ISSN 2237�2962
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eunice pinto / agência Pará
MULHERES NEGRAS
QUILOMBOLAS ABREM O DEBATE SOBRE SEU PAPEL NA SOCIEDADE
EVANDRO CHAGAS
O artigo do jornalista Thiago Barros na edição passada (“Evandro Chagas além do ebola”, Novos Caminhos, novembro 2014, edição nº 39) nos mostra como a ciência produzida na região é de alto nível e importante para o País. Norberto Tavares Ananindeua-Pará
Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email
O CARIMBÓ É DE TODOS
O RITMO TIPICAMENTE PARAENSE CONQUISTOU O TÍTULO DE PATRIMÔNIO IMATERIAL DO BRASIL. AGORA, PRECISA LUTAR PARA SER MAIS CONHECIDO E RESPEITADO COMO CULTURA.
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Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.
O QUE É NOTÍCIA PARA A AmAZÔNIA TARSO SARRAF
PRImEIRofOcO
UMA PAIXÃO SEM LIMItAÇÕES
COPA DO jOELHO OPERADO MOStRA QUE UMA INtERVENÇÃO CIRúRGICA NÃO é O FIM DAS ESPERANÇAS PARA QUEM AMA jOGAR FUtEBOL PágInA 8
HIgIEnIzAÇÃo departamento de Vigilância Sanitária de Belém orienta batedores de açaí a fazerem o branqueamento do produto. Pág.10
ComBUSTÍVEL Pesquisadores de Tocantins desenvolvem estudos para produzir etanol feito da batata-doce na Amazônia. Pág.11
ConSERVAÇÃo comunidade de algodoal aprova a criação do monumento natural dunas e lago no local em favor do meio ambiente. Pág.15
DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 7
primeiro Foco
AUtOEStIMA RECUPERADA COM O ESPORtE
O
futebol é conhecido como uma paixão nacional, mas o esporte também é a causa de lesões no joelho em muitos atletas profissionais e amadores. Depois do tornozelo, esta é a área mais afetada durante as partidas, aponta a Federação Internacional de Futebol (Fifa). Ainda segundo a entidade, qualquer lesão neste local pode impedir a pessoa de jogar por um certo período ou até mesmo causar problemas a longo prazo. Mas voltar para o campo é uma questão de tempo para os jogadores que participam da Copa do Joelho Operado, promovida anualmente pelo Instituto do Joelho do Pará. No torneio, todos os competidores são pacientes que já passaram por cirurgias no joelho e pela reabilitação. A proposta, além de promover o condicionamento físico e qualidade de vida, é elevar a autoestima daqueles que julgavam impossível
8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
DEZEMBRO 2014
retomar a prática esportiva depois de uma lesão. Realizado há 10 anos, o projeto começou com dois times e na última edição, no mês passado, contava com 140 participantes divididos em mais de dez equipes. “Todo paciente com algum trauma no joelho experimenta uma fragilidade psicológica, além do comprometimento físico. É necessário um trabalho conjunto de cuidados médicos, desde o diagnóstico até a cirurgia e reabilitação”, explica o ortopedista e traumatologista Erick Nunes, idealizador do torneio. “O empenho é fundamental para recuperar a confiança e a segurança para voltar a praticar atividades físicas rotineiramente”, completa. Ele coordena a iniciativa, juntamente com os médicos Hedivaldo Freitas e Hilmar Tadeu, ambos da mesma especialidade, e o fisioterapeuta Hugo Figueiredo. Nunes contabiliza entre 12 a 15 cirurgias do joelho por semana no Instituto.
FOTOS: TARSO SARRAF
Embora a maioria dos lesionados atendidos seja desportista, principalmente na faixa etária entre 17 e 45 anos, os acidentes de motocicletas e doenças degenerativas também são causas frequentes. O comerciante José Vasconcelos, 53 anos, joga na Copa desde a primeira edição, depois de sofrer uma lesão no ligamento. Até conseguir fazer a cirurgia, ele ficou um ano sem se exercitar e ganhou bastante peso. “Depois da operação e da fisioterapia, em seis meses tive o prazer de jogar futebol novamente”, afirma. Hedivaldo Freitas destaca que a prática esportiva é muito importante para o bem-estar dos pacientes. “Se eles não se sentem bem para fazer atividades físicas, acabam perdendo qualidade de vida. O esporte ajuda a combater hipertensão, fortalece o corpo e é uma válvula de escape do estresse do dia a dia”, diz.
PREPARO FÍsIcO
O médico Erick Nunes criou a Copa do Joelho Operado para resgatar a confiança dos pacientes na prática de esportes
DIVULGAÇÃo fiepa
ARQUIVO VALE
MUSEUS
Fórum
O Fórum Nacional de Museus foi realizado pela primeira vez na região Norte e reuniu, em Belém, profissionais de diversas áreas para discutir o tema desta edição, “Museus Criativos”. A ministra interina da Cultura, Ana Cristina Wanzeler, participou da abertura e disse que o evento é uma
vale investe no desenvolvimento do Estado do PArá No mês de novembro, a Vale renovou o convênio de cooperação técnica e financeira para a manutenção do programa REDES - Inovação e Sustentabilidade Econômica, uma iniciativa da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa). A empresa é uma das mantenedoras do programa, desde a sua criação, há 14 anos. A REDES atua com foco em sustentabilidade econômica no ambiente de negócios do Estado, potencializando o crescimento e a evolução dos fornecedores paraenses. “O papel da REDES é de sempre agregar, contribuindo para que os empresários locais fiquem mais fortes, o que, sem dúvida, gera crescimento regional. Agradecemos a confiança da Vale a essa iniciativa”, comentou José Conrado Santos, presidente da Fiepa. E para promover oportunidades de negócios na região, a mineradora também intermediou a visita de uma co-
Parceiros
João Coral e José Conrado (à direita) assinaram convênio de cooperação técnica para manutenção do programa Redes. Acima, comitiva de australianos que veio ao Pará, por intermédio da Vale, conhecer oportunidades de negócios no Estado.
mitiva de empresários australianos ao Pará. A iniciativa faz parte das ações da Vale para apoiar a atração de novos empreendimentos no Estado, previstas no protocolo de intenções, firmado em 2013 com a Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom). Uma das atividades no Estado foi uma reunião com a a secretária de Governo, Maria Amélia Enríquez, que apresentou as oportunidades de expansão no Pará e os investimentos nas diversas áreas de negócios, além da mineração. O diretor de Energia e Institucional da Vale no Pará, João Coral, destacou o envolvimento na busca pelo desenvolvimento do Pará. “Juntos queremos buscar atrair fornecedores não encontrados na região, formar pessoas e o mercado e ajudar nosso País e o nosso Estado no desenvolvimento socioeconômico”, disse o executivo.
oportunidade de fortalecer a cultura amazônida no contexto nacional. “O conceito de museus criativos abrange a diversidade cultural das expressões da Amazônia”, disse. Ela também destacou que o Pará conta com a primeira incubadora cultural do país, a Incubadora Pará Criativo, que fomenta o empreendedorismo na área. No PAC Cidades Históricas existem 15 projetos previstos (R$ 47,6 milhões) para serem deslanchados no Pará, como a restauração do Teatro São Cristóvão, do Ver-o-Peso e Cemitério da Soledade.
SANTARÉM
Investimentos
A cidade de Santarém sediou a I Feira Tapajós Negócios no mês passado. Foram quatro dias de evento, com palestras e 130 estandes de variados setores, como indústria, comércio, serviços e agronegócios. “Os investimentos são impulsionados principalmente pelo agronegócio do estado do Mato Grosso, que economizará R$ 1,2 bilhão por mês ao exportar pelos nossos rios e com o Entreposto Comercial da Zona Franca de Manaus, que estima uma movimentação financeira superior a R$ 1,5 bilhão. Além
andré abreu
RAIOS PURIFICADORES
disso, os investimentos da iniciativa privada esperados para os próximos anos já
Raios ultravioleta podem ser usados para purificar água de rios e torná-la
ultrapassam os expressivos R$ 2,5 bilhões,
potável em poucos segundos. Pesquisadores do Instituto Nacional de
com a geração de seis mil empregos dire-
Pesquisa da Amazônia (Inpa), criaram uma tecnologia chamada “Ecolá-
tos”, ressaltou Alberto Oliveira, presidente
gua” para melhorar o consumo de populações do interior do Amazonas.
da Associação Comercial e Empresarial de
Movido a energia solar, o Ecolágua purifica até 400 litros de água por hora.
Santarém (Aces). FOTOS: ministério da cultura / aces divulgação DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 9
primeiro Foco
PEIXES
hIgIENE
Duas novas espécies de peixes dos gêneros
Aspidoras e Leporinus foram encontradas nas bacias do rio Itacaiúnas e Xingu, em Ourilândia do Norte, no Pará. A descoberta ocorreu durante estudos de monitoramento da qualidade das
BRANQuEAmENTO DO AÇAÍ é AlIADO DOs cONsumIDOREs
O branqueamento é uma técnica de higienização do açaí que consiste em um processo térmico sim-
águas realizada pela Vale, na área de influência
ples. É preciso aquecer a água de boa qualidade a 80°C e com o auxílio de um cesto ou balde vazado,
da operação de níquel Onça Puma, no sudeste
mergulhar o açaí no líquido por 10 segundos. De acordo com o Departamento de Vigilância Sanitária
do Pará. As espécies estão em fase final de
de Belém, o procedimento diminui ou elimina microrganismos que podem provocar doenças, como
descrição taxonômica por especialistas do Mu-
coliformes fecais, Salmonela e o Tripanossoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas.
seu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP). A Vale realiza o monitoramento das águas em vários pontos distribuídos pela bacia dos rios Itacaiúnas e Xingu, a cada três meses, atendendo à legislação ambiental. A ação faz parte de série de inciativas ambientais realizadas pela Unidade Onça Puma, com o objetivo de conservar de forma sustentável a biodiversidade. Recentemente, a Unidade implantou
LEIA ANtES DE BEBER
As etapas do processamento correto e seguro do açaí
1
Peneiramento e catação: É a etapa realizada a seco, com a finalidade de retirar os caroços ruins, pedras, folhas, insetos e elementos sujos visíveis.
4
Segunda lavagem em água corrente: É preciso lavar bem os caroços para retirar os resíduos de hipoclorito de sódio.
também três melhorias que contribuíram para a redução de 7% no consumo de energia elétrica em seu processo de produção. SÉRgIO SANTOS / DIVUlgAÇãO
2
Primeira lavagem em água corrente: É preciso lavar os caroços de açaí, no mínimo, três vezes antes de batê-los na máquina. Essa etapa tem a finalidade de retirar as sujeiras que ficaram aderidas ao caroço.
3
MIgRAÇãO
CANAÃ DOS CARAjáS
Lavagem com hipoclorito de sódio (NaClO) a 2,5%: Já peneirado e lavado, o açaí deve ficar imerso em uma solução contendo 7,5ml de hipoclorito por litro de água durante 20 minutos.
5
Branqueamento e resfriamento: Aquece-se a água a 80°C e mergulha-se o açaí em um tanque durante 10 segundos. Em seguida, a água é resfriada e filtrada. Se for preciso colocar o açaí para amolecer, ele pode ser deixado nesta mesma água quente. Depois, ele está pronto para ser batido e consumido com segurança.
Os dados coletados pelo Programa de Acompanhamento da Migração em Canaã dos Carajás, promovido pela Vale e Prefeitura de Canaã, foram apresentados no último dia 18, durante o VII Seminário do PAM. As informações foram registradas entre abril de 2013 e outubro deste ano, a partir dos atendimentos realizados no Centro de Apoio ao Migrante do município, que totalizaram 1.600 neste período. O levantamento vai ajudar a avaliar a contribuição do programa para o fortalecimento da rede socioassistencial local. O programa permitiu a implantação de um serviço articulado às políticas públicas, com a disponibilização de uma equipe técnica da Prefeitura para acolhimento, triagem e encaminhamento do migrante em situação de vulnerabilidade social. 10 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
DEZEMBRO 2014
foNTE: dEPARTAMENTo dE vigilÂNciA SANiTáRiA dE bElÉM
INFOgRAFIA : MáRCIO EUClIDES
ONÇA PUMA
agência brasil
TRÊSQUESTÕES
calouros com consciência sustentável “O Papel do Calouro da UFPA” é um trote solidário e sustentável, uma iniciativa da Comissão da Coleta Seletiva e da Prefeitura da Universidade Federal do Pará. Lúcia Almeida faz parte da coordenação do projeto e afirma que a ação já virou referência nacional em
Como surgiu o projeto para receber os novos alunos?
batata-doce pode ser fonte limpa de etanol
A batata-doce pode ser uma alternativa para produção de etanol na Amazônia, acredita o reitor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Márcio Silveira. Dentre as vantagens do tubérculo estão o fácil cultivo com ampla adaptação aos solos com baixa fertilidade e tolerância a seca, curto ciclo de produção com seis meses e alta variabilidade genética. Ainda segundo Silveira, a cana-de-açúcar cultivada por um ano em um hectare produziria 100 toneladas e 8 mil litros de etanol. A batata-doce,
com dois cultivos no ano, teria uma produção de 30 toneladas e 9 mil litros de álcool. Para estudar a viabilidade deste tipo de etanol, foi desenvolvida a Usinaflex pelo Comércio e Indústria de Equipamentos (Cimasp) com o apoio da Sudam no Tocantins. O técnico do Cimasp Erivan Bueno diz que a empresa desenvolveu equipamentos específicos para o projeto piloto de etanol. “Elas são extremamente eficientes no processamento, autolimpantes e não entopem os dutos”, disse.
ALTERNATIVA
De fácil cultivo em solos pobres e com tolerância à seca, a batata-doce leva vantagem em relação ao álcool produzido com cana-de-açúcar
Surgiu 2012 com a proposta é arrecadar cadernos, apostilas e outros papéis sem condições de reutilização, que tenham sido usados pelos calouros durante o estudo para o vestibular. Todo o material arrecadado é entregue às cooperativas de catadores de materiais recicláveis atendidas pela UFPA, por meio do Programa da Coleta Seletiva Solidária.
POR QUE INCENTIVAR ESSA RELAÇÃO NO meio acadêmico? Precisamos reforçar a formação de cidadãos para uma sociedade justa e sustentável. Qualquer pessoa pode participar, não só os calouros. Nós, como universidade, queremos
9 mil LITROS DE ÁLCOOL é a capacidade de
produção de etanol com 30 toneladas de batata-doce, apontam estudos da Universidade Federal do Tocantins
sempre reforçar a responsabilidade social dentro e fora da UFPA e esperamos que a nossa iniciativa sirva de modelo para outras universidades. a
Como foi receber a indicação do EducaRes DO GOVERNO? Nós ficamos muito felizes e surpresos. Enviamos o nosso artigo e agora ele está entre as 134 práticas selecionadas, sendo a única do Pará. Os selecionados terão as práticas recomenda-
andré abreu
RECICLAGEM ARTÍSTICA
das pela Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC/Ministério do Meio
Restos de construção civil, chapas de raios-x, isopor, verniz e fogo estão entre
Ambiente), como referência para compor mate-
os elementos usados pelos artistas do Grupo Imazônia, do Amapá, para a
riais pedagógicos e técnicos de publicações e
criação de obras de arte. A ideia é transmitir uma mensagem de defesa do
processos formativos presenciais e a distância
meio ambiente, baseada na relação entre os animais e o homem. O Imazônia
produzidos pelo governo federal.
tem ateliê coletivo onde os artistas também ministram oficinas de formação. DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 11
hely pamplona
Educação Ambiental.
primeiro Foco
cOlEÇãO
AMAzÔNIA VIVA
INFOgRAFIA : MáRCIO EUClIDES
PRêMIO FIEPA
musEu ITINERANTE PARAENsE guARDA BRINQuEDOs RAROs
Pelo segundo ano consecutivo, a Revista Amazônia Viva venceu o Prêmio Especial Jornalista Raimundo Pinto: Reportagem Impressa, do Sistema Fiepa. Com a matéria “Tecnologia que move a vida”, edição nº 31, de março de 2014,
O escritor, poeta e colecionador paraense Tony Cruz de Souza realizou há quatro anos um so-
a revista abordou os avanços tecnológicos na
nho pessoal. Em 2009 ele criou o primeiro Museu de Brinquedos Itinerante da região Norte.
melhoria do tratamento e qualidade de vida de
Após fazer uma vasta pesquisa histórica e cultural sobre a importância das atividades
pessoas com deficiência na Amazônia.
lúdicas na formação educacional, Cruz de Souza escreveu um projeto para desenvolver
Na festa da premiação, o repórter fotográfico
sua ideia. Atualmente, ele participa de exposições em escolas, faculdades, associações, e
Tarso Sarraf representou a equipe vencedora,
ministra oficinas sobre o valor cultural dos brinquedos. O museu de Cruz de Souza possui
formada ainda por Moisés Sarraf (reportagem),
hoje um acervo de 1.100 peças. Em sua maioria, são brinquedos das décadas de 1940 e
Felipe Jorge de Melo (edição) e Filipe Alves
1980. “O maior objetivo do museu é que as pessoas possam ver, rever e conhecer a evolu-
Sanches (edição de arte).
ção dos brinquedos e a importância do ato de brincar”, diz. CRISTINO MARTINS / ARQUIVO O lIBERAl
MOBIlIDADE
CURSO
Com o objetivo de dar suporte técnico aos municípios na elaboração dos Planos Municipais de Mobilidade Urbana, a Fundação Vale promoveu um curso sobre o tema, em parceria com o Ministério das Cidades e Unesco, entre os dias 11 e 14 de novembro de 2014. gestores públicos, técnicos e conselheiros municipais de Marabá, Parauapebas, Canaã dos Carajás e Eldorado do Carajás receberam aulas de especialistas do setor, servidores federais e parceiros. O curso é um projeto piloto que servirá de base para a elaboração do módulo a distância, com o qual se pretende atingir todo o território nacional e a meta é garantir assistência técnica para
ACERVO LEGAL
Algumas peças do Museu de Brinquedos Itinerante têm origem até na grécia Antiga Ioiôs De acordo com Cruz de Souza, o ioiô é provavelmente uma criação grega que data de 2.500 anos atrás. A maioria dos brinquedos que conhecemos tem como origem Egito, índia, e grécia Antiga.
Boneca Barbie
Mola Maluca
Bonecos de pano
Boneco Topo Gigio
Boneco Rambo
Criada em 1950 por Ruth Handler e fabricada pela empresa Martell. Segundo o colecionador, é importante por marcar o início da produção industrial de brinquedos.
Este brinquedo foi criado pelo engenheiro naval norteamericano Richard James em 1943 e foi um grande sucesso na década de 1980 por criar efeitos com as cores a partir de movimentos.
São muito presentes no Brasil. O curador do museu destaca a boneca Emília, criada em 1921, que faz referência à personagem do escritor Monteiro lobato.
Criado por Maria Prego e fabricado pelo grupo Estrela em 1958, é uma das raridades do acervo do Museu. O Topo gigio é uma personagem de um programa infantil da Itália.
Para o colecionador, os brinquedos da década de 1980 são até hoje os mais procurados. O do herói Rambo, da fábrica glassilite, faz parte deste grupo.
Videogame Atari Atari Fabricado pelo engenheiro eletricista norte-americano Nolan Bushnell em 1978 é considerado uma peça histórica por Tony Cruz de Souza.
Brinquedos de madeira Peças como espadas, cavalos de pau e piões datam do século XVI
os municípios concluírem seus Planos até 2015. “Um dos fatores da mobilidade urbana é pensar no futuro, mesmo que algumas cidades aqui representadas não contem ainda com transporte coletivo. É necessário planejar desde já, porque é uma realidade que logo irá acontecer por conta do crescimento da região”, destaca Martha Martorelli, analista de infraestrutura da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades. 12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
DEZEMBRO 2014
foNTE: ToNy cRUz dE SoUzA / MUSEU dE bRiNQUEdoS iTiNERANTE
VALE / CSIRO
AMAZÔNIACONNECTION
NORUEGA ESTUDA A BIODIVERSIDADE NAS MATAS DO PARÁ O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), NO HANGAR
O público lotou todas as programações da megafeira, que registrou grande número de visitações no estande da Vale
10
MIL PESSOAS PARTICIPARAM
dos quatro dias de evento, que divulgou a produção mineral no Estado do Pará
SUSTENTABILIDADE FOI DESTAQUE NA EXPOSIBRAM 2014
O uso sustentável dos recursos naturais foi destaque na pauta da Exposibram Amazônia 2014, o maior evento de mineração da região Norte. Com mais de 100 expositores e cerca de 10 mil visitantes, a programação incluiu minicursos, palestras e painéis. Os debates foram abrangentes, envolvendo desde a relação com as comunidades locais até os impactos ambientais, passando por questões burocráticas, como licenciamentos. Especialistas e empresários se reuniram para discutir os temas e compartilharam experiências, apresentando estratégias inovadoras e diferenciadas para o segmento mineral. Dentre os palestrantes esteve Dir-
ceu Azevedo, diretor da Accenture Strategy, que mostrou uma pesquisa onde 97% dos CEOs de grandes empresas classificaram a sustentabilidade como um pilar importante para os negócios. “A mineração tem um planejamento de longo prazo, dessa forma, procuramos sempre enxergar as oportunidades. O Brasil tem ótimos depósitos minerais e profissionais do setor”, frisou o diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), José Fernando Coura. No estande da Vale, que patrocina o evento desde a primeira edição no Pará, em 2008, os visitantes conheceram melhor os projetos e valores da mineradora.
a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) iniciarão projetos de monitoramento da biodiversidade da Amazônia Oriental ,ainda este ano, em parceria com a Universidade de Oslo, da Noruega. As instituições atuarão de forma conjunta em pesquisas de controle do fluxo de gases climáticos em áreas afetadas pela mineração de bauxita e na restauração da vegetação natural de florestas tropicais. Segundo a coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação e diretora substituta do MPEG, Marlúcia Martins, o convite para que fosse organizado um trabalho entre pesquisadores brasileiros e europeus veio da Universidade de Oslo. “A entrada do museu deve-se a uma avaliação de oportunidade, por ser um tema de nosso interesse e expertise”, afirma. O Museu Goeldi possui larga experiência em ações relacionadas a políticas públicas visando à conservação e sustentabilidade do desenvolvimento da região. Alguns exemplos são os trabalhos desenvolvidos na área do rio Urucu, junto com a produtora de bauxita Mineração Rio do Norte. O consórcio “Biodiversity Research Consortium Brazil-Norway (BRC)” foi assinado em 2013 e conta hoje com quatro
ANDRÉ ABREU
SEMEANDO CONHECIMENTO
projetos, dois dos quais com a maioria da equipe formada por pesquisadores do
A Rede de Sementes do Xingu lançou uma cartilha explicando como coletar,
Museu Goeldi, e com agenda de execução
manejar e armazenar sementes florestais. A publicação mostra o processo
para 2015. “As equipes são estruturadas
de coleta feita pelos integrantes da rede. Um DVD traz vídeos que retratam
por afinidade temática e mistas, com bra-
as experiências, técnicas de produção e reflexões sobre a importância da
sileiros e estrangeiros”, diz Marlúcia.
atividade. A cartilha está disponível no site www.sementesdoxingu.org.br. DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 13
primeiro Foco
gESTãO vERDE
Mais de mil pessoas são beneficiadas pela
começou a funcionar em janeiro deste ano,
gOVERNO ANuNcIA PROcEssO DE cONcEssÃO DE FlONAs NO PARÁ
com o apoio do lar Fabiano de Cristo, insti-
O Serviço Florestal Brasileiro (SFB) anunciou que três unidades de manejo das Florestas Nacionais
tuição responsável pela operacionalização
de Itaituba (I e II), no oeste do Pará, serão colocadas à disposição de madeireiras sustentáveis por
da Estação. Para comemorar os resul-
meio de processo licitatório. A empresa vencedora poderá produzir na área por até 40 anos.
tados da parceria, as famílias atendidas
Pelo menos 295 mil hectares, divididos em três unidades de manejo florestal de 39 mil (UMF I), 127
participaram de um evento especial, onde
mil (UMF II) e 129 mil (UMF III) hectares, serão disponibilizados. Duas audiências públicas já ocorre-
conheceram os novos espaços, já prontos.
ram em Itaituba e Trairão, no mês passado, para a discussão do edital com as comunidades.
MARABá
Estação Conhecimento, implantada pela Fundação Vale em Marabá. A unidade
INFOgRAFIA : MáRCIO EUClIDES
ATENDIMENTOS
A unidade conta com uma cozinha indus-
SOMANDO PONtOS
trial para a produção de 14 mil refeições
Conheça alguns critérios que as empresas precisarão respeitar para ganhar a licitação
por mês, parque infantil para a integração e diversão das crianças e laboratório de in-
1
formática, com capacidade para 16 alunos por turma. A proposta da Estação é atuar
É preciso apresentar propos-
a concessão. A SPE é um mode-
tas de preço a ser pago pelo o
lo de organização empresarial
no atendimento integral aos membros que
metro cúbico de madeira extraí-
pelo qual se constitui uma nova
compõem um núcleo familiar em situação
da. O mínimo sugerido pelo edital
empresa limitada ou sociedade
de vulnerabilidade social, além de ser a
é R$ 33 para a UMF I, R$ 61 para a
anônima com um objetivo es-
primeira instituição social no município
UMF II e R$ 68 para a UMF III.
pecífico, no caso, para a gestão
a oferecer, gratuitamente, educação em
do empreendimento.
2
Terá a maior pontuação a
tempo integral para cerca de 100 crianças
empresa que se propor a
de 2 a 5 anos. CURRO VElHO
criar uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para gerir
POVOS
UMF III
“Mobilização social na Amazônia: a luta
UMF II
por justiça e por educação” é o título do livro lançado pela professora doutora Paula
de valor, de cunho comer-
cial, valem 140 pontos
5
A empresa que somar mais pontos na avaliação das
propostas técnicas e de preço terá o direito de realizar o ma-
3
Os critérios ambientais, so-
nejo florestal sustentável.
ciais e de eficiência valem
agora 120 pontos
AP
uNIDADEs DE mANEJO FlOREsTAl
COlETÂNEA
4
Os critérios de agregação
PA
MA
UMF I
Lacerda, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Ela é organizadora da obra, que reúne textos sobre o papel das (umF I) 39.035,41 ha
coletividades e identidades vulneráveis na Amazônia e na construção de processos políticos. Como parte da inovação do projeto, a obra tem a colaboração de autores quilombolas do Marajó, agricultores familiares da Transamazônica e pessoas pertencentes aos povos indígenas Kaingang e Xipaya que estão em formação pela Universidade Federal do Pará (UFPA). 14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
DEZEMBRO 2014
(UMF III) 129.277,81 ha (umF II) 126.735,38 ha limite municipal Flonas de Itaituba I e II Hidografia Cidade foNTE: WWW.floRESTAl.gov.bR
CRISTINO MARTINS / AgêNCIA PARá
PERgUnTA-SE
QUAL é O PODER tERAPêUtICOS DOS “PUXADORES”? Com leves toques nas pontas dos dedos
besuntados com óleos artesanais, o puxador inicia seu ritual. Depois de se inteirar sobre a origem da torção, fratura, luxação ou inchaço qualquer, sua ferramenta principal – a mão calejada – opera segundo seu saber empírico. O puxador poderia ser o ortopedista da cultura cONsERVAÇÃO
A medida vai fortalecer as ações de preservação do ecossistema no local, um dos recantos naturais do nordeste do Pará
COMUNIDADE DE ALGODOAL APROVA UNIDADE
256
vou a iniciativa, ressaltando que a preservação da ilha é um assunto que sempre deve ser debatido por todos. “A responsabilidade sobre a conservação ecológica da ilha é um assunto que interessa a todos os moradores daqui. Portanto, nada mais justo que ouvir os nativos”, afirmou. Para Adriana Maués, gerente da Área de Proteção Ambiental (APA)/ Algodoal-Maiandeua, a nova unidade vai trazer mais visibilidade aos atrativos turísticos da ilha. “A aprovação do Monumento Natural é um importante passo não apenas para a proteção, mas para o desenvolvimento da ilha. Ampliamos o leque de investimentos para o local, alinhando desenvolvimento e preservação ambiental”, disse.
Ele, na verdade, é mais: está inserido no universo da encantaria amazônica, é conhecedor da biodiversidade e seus usos, e tem consigo o acúmulo simbiótico da cultura regional. Reunindo conhecimentos tradicionais direcionados a problemas relacionados a ossos, músculos e nervos, o puxador guarda o conhecimento que vem “dos avós que transmitem para os filhos e destes para os netos”, afirma Agenor Sarraf Pacheco, doutor em História, em seu artigo “Religiosidade Afroindígena e Natureza na Amazônia”. Ele presta um serviço à comunidade, sem cobrar ou pedir coisa em troca. Não por falta de médicos na região, em muitos casos, mas por confiança, proximidade com o puxador, que alcançaram um conhecimento em anatomia que “não foi fruto da dissecação de cadávares, como fazemos nas escolas de medicina”, lembra a antropóloga Jane Felipe Beltrão, no livro “Saber popular ou a experiência de saber: isto não se aprende na escola!”. HEly PAMPlONA
Foi aprovada uma nova unidade de conservação ambiental na Ilha de Maiandeua, no município paraense de Maracanã. Após consulta pública, os moradores e lideranças locais votaram a favor da criação do Monumento Natural Dunas e Lagos de Algodoal. A área escolhida compreende 256,4 hectares e abrange ambientes de dunas, restingas, lagos e manguezais. O objetivo, segundo o diretor de Áreas Protegidas da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Crisomar Lobato, é beneficiar o ecossistema e conservar sítios naturais do local, alihEcTAREs TEm A ÁREA nhando desenvolvimento e EscOlhIDA PARA A preservação ambiental. instalação do Monumento Natural Dunas e lagos de Presidente da Associação Algodoal, decisão entre de Carroceiros de Algodoal, governo do Estado e comunidade local Ailton Macedo, 29 anos, apro-
popular, fosse a medicina científica a referência.
GPS DO AMOR A ecologia reprodutiva de três espécies de quelônios da região do
ANDRÉ ABREU
Médio Solimões é o objeto de estudo do Instituto Mamirauá. A iaçá (Po-
docnemis sextuberculata), o tracajá (Podocnemis unifilis) e a tartarugada-amazônia (Podocnemis expansa) estão sendo monitorados, pois
mANDE A suA PERguNTA
Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br
são animais classificados como “quase ameaçados de extinção”. DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 15
Quem É?
ANNA LUIzA BORGES
pesQuisadoRa desvenda o misteRioso mundo dos musgos na amaZÔnia TEXTO BRUNO ROchA fOTO ROBERTA BRANDãO
“B
riófita não se come e nem se planta, mesmo assim é preciso entender a importância delas no reino das plantas. E isso eu tive que fi rmar durante todo o meu período de graduação, quando escolhi estudar a taxonomia de briófitas”, conta Anna Luiza Borges, pesquisadora do Museu Emílio Goeldi e atual coordenadora do departamento de Botânica do Museu. O interesse começou quando, ainda estudante de agronomia na Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), conseguiu uma bolsa estágio no núcleo de pesquisa do Museu Goeldi para trabalhar com a professora Regina Lisboa, na época a única especialista em briófitas na Amazônia. O grupo de plantas avasculares é agrupado em três divisões distintas e, diferente
16 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
DEZEMBRO 2014
das plantas superiores, chamadas de vasculares, os fluídos passam de célula a célula sem a presença de vasos condutores. “A grande importância dessas plantas é ecológica. Elas servem de alimento e abrigo para pequenos animais e insetos. Também como ‘cama’ para sementes de outras espécies. Então, ela interage com a floresta nessa parte mais micro. Outra característica delas é o que chamamos de plantas pioneiras, colonizadoras”, explica a pesquisadora, referindo-se a capacidade que as briófitas têm de se fi xarem em lugares inóspitos, devido à alta capacidade reprodutiva. Além disso, as briófitas são bioindicadoras da qualidade e preservação do ambiente e desenvolvem um papel na absorção de umidade da floresta. Uma das pesquisas atualmente desenvolvida por Anna Luiza é o levantamento das briófitas em dife-
rentes áreas da Amazônia. Para ela, a maior dificuldade de qualquer tipo de avaliação da conservação das espécies é a falta de conhecimento de distribuição delas. Ainda vinculada ao conhecimento e catalogação de espécies de briófitas, Anna Luiza participa do Guia de Musgos do Brasil, editada pela Sociedade Brasileira de Botânica. A pesquisadora é uma das pioneiras no Brasil no estudo de Lejeuneaceae, a maior família das plantas hepáticas, e durante seu trajeto como pesquisadora já teve oportunidade de identificar pelo menos sete novas espécies de briófitas. Para a agrônoma, o enorme campo aberto de possibilidades de estudo é o que mantém o gosto pela pesquisa com briófitas. “Já que é uma área pouquíssimo estudada ainda, sempre desperta a curiosidade de buscar coisas diferentes”, afirma.
NOmE
Anna luiza Ilkiu Borges Benkendorff
IDADE 42 anos
FORmAÇÃO
Mestre em Agronomia e doutora em Ciências Naturais
TEmPO DE PROFIssÃO 22 anos
eu diSSe
aPPLICATIVoS
BOAS IDEIAS NUM tOQUE DE DEDOS
“o objetivo principal é proteger parte desse litoral da expansão urbana e garantir a manutenção das espécies de flora e fauna residentes e migratórias”
COOKPAD RECIPE Cozinhar é uma atividade que deixou de ser
Crisomar lobato, diretor de áreas Protegidas da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema),
exclusiva de mulheres e hoje é uma arte que
sobre a criação de uma Unidade de Conservação de Proteção Integral no município de Salinópolis.
atrai muita gente. Este app é uma rede social
(Portal G1 Pará)
de culinária, com mais de 150 mil receitas, além de pratos específicos para festas, como
CRISTINO MARTINS / ARQUIVO O lIBERAl
“Carajás é uma das minas mais competitivas do mundo”
Natal e Ano Novo. Também há receitas para diabéticos e hipertensos. Plataformas: iOS, Android e windows Phone/ Preço: gratuito
Augusto Mendonça, geólogo e PhD em Economia Mineral pela Colorado School os
Mines, nos Estados Unidos, sobre a mineração no Pará durante a Exposibram 2014.
FAMILY LOCAtOR - GPS tRACKER
(Jornal O Liberal)
Este é um app dois em um: segurança da fa-
“se não mudarmos nossos hábitos e a infraestrutura das cidades, veremos conflitos globais pela posse da água no próximo século”.
mília e dos próprios dispositivos. O aplicativo
Tim Duggan, arquiteto da ONg Make it Right, especialista em projetos ambientais.
encontrar os telefones perdidos.
(Revista Época)
Plataformas: Android e iOS
serve para cadastrar aparelhos e criar um sistema de monitoramento da família por gPS, conhecendo a localização de cada um. Em termos de segurança, é possível saber onde as crianças estão e, em caso de roubo,
Preço: gratuito AgêNCIA ESPACIAl EUROPEIA / DIVUlgAÇãO
YOGA.COM StUDIO yoga é uma atividade que cada vez mais tem conseguido adeptos pelos resultados obtidos na redução do estresse e no alcance do bem-estar físico e mental. Com mais de 280 posições e 37 programas de exercícios, o app tem ilustrações interativas, vídeos, músicas, mantras, técnicas de respiração, relaxamen-
“os experimentos no espaço têm como finalidade melhorar a vida das pessoas na terra”.
Plataformas: iOS, Android e windows Phone
Alexander Gerst, astronauta alemão, após retornar da Estação Espacial Internacional,
Preço: gratuito (Android), US$ 3,99 (iOS) e
em 19 de novembro deste ano.
US$ 2,99 (windows Phone)
(Portal UOL)
to e uma rede social integrada para compartilhamento do desempenho dos praticantes.
FONTES: PlAy STORE E ITUNES
DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 17
como Funciona
O filtro de barro TEXTO E iluSTraçÃO SávIO OlIvEIRA
Para muitos amazônidas, as lembran-
vizinhos. No final da tarde, depois de
aquela vontade de um copo d’água.
refrescante. É o filtro de cerâmica, ou
ças da infância remetem às visitas
tanta diversão, chega o cansaço e com
Eis que, no canto da cozinha, coberto
de barro como também é conhecido,
aos parentes do interior com muita
ele o momento de uma pausa. Suados,
por um tecido bordado, um recipiente
presente em diversas habitações do
correria na companhia dos primos e
pés descalços e sujos de areia, surge
conserva água em estado líquido e
interior da Amazônia.
INFILtRADO
3
No dispositivo, a água passa por um eficiente processo artesanal de filtragem
Outro material que contribui para a eficiência do sistema de
1
filtragem é a cerâmica. A argila é um material poroso que transfere
O sistema de filtragem
calor para fora do
funciona por meio da
filtro, o que faz com
gravidade. A água é
que a temperatura
depositada na parte de
na parte interna seja
cima do filtro, local em
inferior.
que fica a vela, um tipo de bastão que absorve substâncias impuras e
4
indesejadas.
Após a filtragem e o
2
resfriamento, a água está pronta para ser
O tempo para água cair
consumida. Segundo
entre um compartimen-
o livro “The Drinking
to e outro contribui para
water Book”, a taxa de
retenção de impurezas
retenção do filtro de
na vela, feita de quartzo
cerâmica é de 95% para
e dolomita, minerais
cloro, pesticidas, ferro,
que agem como uma
alumínio e chumbo, que,
espécie de peneira, acu-
em altas concentrações,
mulando substâncias
são prejudiciais à saúde
nocivas ao organismo
humana.
humano.
FONTES: MANUAl glOBAl DE ECOlOgIA: O QUE VOCê PODE FAZER A RESPEITO DA CRISE DO MEIO AMBIENTE. EDITADO POR wAlTER H. CORSON E REVISTAECOlOgICO.COM
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DEZEMBRO 2014
DEU N’O LIBERAL reprodução / o liberal
inocêncio gorayeb / ARQUIVO
FATO REGISTRADO
a primeira aventura do homem na lua
Os Yanomami sob o olhar dos pesquisadores Um grupo de índios da etnia Yanomami marca a paisagem amazônica acima com olhares de soslaio, provavelmente fitando os visitantes da aldeia. Os estrangeiros ocultos na fotografia eram membros de uma equipe do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que esteve no norte do Estado do Amazonas em 1975. Na foto, o registro dos rostos desconcertados. Por certo, um olhar insólito também figurava na face dos pesquisadores do Inpa, que observavam a chegada dos Yanomani na canoa de tronco de árvore. O objetivo da missão era o rio Tootobi, afluente do rio Demeni. Lá, a equipe do Inpa estudou
os piuns, insetos que picavam os membros da tribo, transmitindo uma doença conhecida como Oncoceercose, uma filariose que migra a partir da derme. A doença causa coceira e deixa a pele rugosa, como que estriada, podendo chegar à córnea, causando cegueira irreversível. Os piuns são “mosquinhas” da ordem Diptera, família Simuliidae, que picam insistentemente causando transtornos. Na foto, é ainda possível ver as mulheres com suas tipoias confeccionadas com fibras de palmeiras, usadas para carregar curumins, apoiadas na costa e sustentadas por outras tipoias na cabeça. O piun é famoso na re-
rio adentro
Família de índios Yanomami fugindo de piuns e também dos desconhecidos observadores
gião. Em algumas comunidades, onde o inseto ataca intensamente, moradores chegam a construir plataformas de cinco metros de altura no terreiro da casa, onde a ventilação é mais intensa. Era como um bunker, um abrigo contra o ataque aéreo desses insetos, que bombardeiam incessantemente nos horários de “pico”. No caso dos Yanomami, a resistência aos mosquitos era maior, tamanho o hábito de se defender dos bichinhos. Segundo sua tradição, pinturas com urucum amenizavam o ataque durante o dia; à tarde, porém, o banho de igarapé era o último refúgio. Um banho à flor, o fim do piun.
Em 24 de julho de 1969, chegava ao fim uma das mais fantásticas aventuras da humanidade. Naquele dia retornaram à Terra os primeiros astronautas a pisarem na Lua. A espaçonave Apollo 11, com a equipe da Agência Espacial Americana (Nasa) formada por Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins pousou no oceano Pacífico, depois de nove dias de viagem. O LIBERAL acompanhou todos os momentos importantes da pesquisa, desde a preparação para a viagem até o regresso dos astronautas. Os paraenses foram informados sobre um dos maiores feitos da humanidade, dos bastidores da viagem e da ciência de ponta envolvida naquele acontecimento. No dia 25 de julho, O LIBERAL noticiou o final feliz desse evento que uniu o mundo. Desde o dia 15 de julho, com a manchete “O gigante está pronto para o vôo”, o jornal noticiou os preparativos para a viagem. No dia 20 de julho de 1969, finalmente o homem pisava na Lua pela primeira vez. A edição histórica se esgotou antes do esperado e O LIBERAL teve que fazer um reimpressão, tamanho foi o interesse dos leitores paraenses.
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CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE
As sementes da palmeira jarina (Phytelephas macrocarpa) são conhecidas como o marfim natural da Amazônia. Depois de polidas e pintadas, elas se tornam belas biojoias e bibelôs nas mãos de artesãos e joalheiros criativos. E, por ser um produto natural, não degrada o meio ambiente. Uma peça feita de jarinas pode durar anos. Os segredos e formas de utilização dessa semente são descritos no livro “Jarinas - O marfim da Amazônia”, do doutor em Geologia e Mineralogia Marcondes Lima da Costa, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Além de serem matéria-prima das biojoias, as palmeiras produzem um coco bem servido de água e carne, ambas saborosas e nutritivas. “Em Belém, temos lojas com joias e outros produtos feitos de jarinas na Estação das Docas, Polo Joa-
lheiro São José Liberto e no Aeroporto Internacional de Belém. Depois de secos e polidos, ficam parecidos mesmo como marfim mineral, mas é totalmente vegetal”, diz Marcondes. O geólogo destaca que os principais consumidores das biojoias de jarinas amazônicas são os alemães, que chamam as sementes de “steinnuss” (semente petrificada) e os norteamericanos, que a batizaram de “ivory nut” (amêndoa de marfim). E com a criatividade, a semente começou a ser combinada com metais, ganhando ainda mais valor. “É uma bijuteria refinada e mesmo sendo orgânica dura bastante. Minha mãe usou botões de jarina por muito tempo”, conclui, lembrando que o material pode muito bem substituir o marfim extraído de animais, como os indefesos elefantes da África.
fotos: hely pamplona
Jarina, o marfim da Amazônia
pescador só
O socozinho é um hábil caçador, apesar da aparência desengonçada
ELES SE ACHAM
Sapos da espécie Rhinella mar-
jato de uma substância cardiotó-
garitifera,
xica, um veneno que age direta-
conhecidos
como
sapos-folhas, se acham grandes
mente o coração.
soldados em operação, ocultos
É um sapo costumeiramente no-
e perigosos. No meio de matas
turno, sendo ainda mais difícil
úmidas, como a floresta amazô-
detectar esse soldado camufla-
nica, é difícil distingui-los de fo-
do em um ambiente com pouca
lhas secas, troncos, lama escura e
luz. As fêmeas, no entanto não
até alguns cogumelos. E encostar
se camuflam, sendo alvo fáceis
nesses anfíbios é arriscado, pois,
dos predadores. Em alguns lu-
mesmo com apenas cinco centí-
gares, os batalhões de sapos-
metros de comprimento, esses
folhas atacam plantações e são
baixinhos são conhecidos por se-
uma praga para agricultura.
rem bons de briga, destilando um
Guerra é guerra.
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DEZEMBRO 2014
abstrato
Insetos da espécie Cladonota se transformam em obras de arte da natureza
inocêncio gorayeb
sapo camuflado para o combate
ConCEIToSAMAZÔNIcOS
EláDIO lIMA / REPRODUÇãO / MUSEU gOElDI
deSenhoS naturaliStaS
TUÍRA, SUA FORÇA E sIgNIFIcADO NA REgIÃO AmAZÔNIcA No balcão do boteco, o bom caboclo da nação brasileira pede uma cerveja gelada, geladíssima: tem que ser canela de urubu, canela de pedreiro, a conhecida tuíra. Esse é o significado tradicional do termo: poeira fincada na parte superior da pele, que sai quando friccionada soltando um pó branco. Mas, se alguém gritar por um tuíra no meio do açaizal, o significado é outro. O termo compõe o egrégio dicionário popular da língua amazônica. Ele se refere ao melhor estado do fruto do açaí, quando os caroços
Os simpáticos zogue-zogues de Eládio Lima em 1945 pelo MPEG. “Os livros publicados com o trabalho de Eládio são base de pesquisas para especialistas em mamíferos”, diz a bibliotecária Olímpia Resque, do Museu Goeldi. A figura acima é a prancha 29 do livro Primatas da Amazônia. Na imagem, estão representadas duas espécies de macacos zoguezogue. O primeiro, na parte superior do desenho, é um Callicebus hoffmannsi, descrito por Thomas, em 1908, com ocorrência ao sul do rio Amazonas, na margem direita do rio Canumã. Seu estado de conservação atual é pouco preocupante. O segundo primata é um Callicebus torquatus torquatus, este descrito por Hoffmannseggem, em 1807, cujo nome foi dado à
olhar já dá pra sentir o gosto do açaí papa descendo na garganta, com farinha, sem farinha, com açúcar, in natura. É que, nesse estado, gRAcIOsOs glOBAIs os macacos zogue-zogues são encontrados em quase toda a amazônia internacional
espécie anterior. O segundo zogue-zogue ocorre nas terras baixas – até 500 metros de altitude – da Amazônia colombiana, estendendo-se ao Equador, Peru, Venezuela e Brasil, no sul do Amazonas. Os desenhos desses macaquinhos são obras grandiosas. Nela podemos ver detalhes dos símios graciosos pela profusão de cores. Um traço conhecido de Eládio Lima, que conseguia retratar minúcias, com o cuidado de mostrar cada espinho do porco-espinho e a posição exata das manchas na pelagem da onça-pintada. Sem estudo nem arte, esses traços fazem parte das obras da Criação, com a licença do grande escritor Patativa do Assaré.
o caroço tem uma pequena polinosidade branco-acizentada que os recobre. Um tuíra conhecido entre o povo. E tem mais: tuíra é o nome de um cipó. Comum nas capoeiras da terra firme do Estado do Amazonas, o cipó-tuíra (Bonamia ferrugí-
nea), cujos caules são utilizados no tratamento de icterícia, hepatite e malária, sendo ainda ativador celular e desintoxicante da pele. A tuíra pode ter um futuro ainda maior que na mesa do bar – pelo menos o termo. É que devido à sua ampla utilização na medicina popular, apesar de pouco estudada, a espécie pode ser uma alternativa promissora como fonte para a indústria de fitoterápicos. SáVIO OlIVEIRA
Sem passar pelo ensino formal das grandes academias, o paraense Eládio Cruz Lima (1900-1943) buscou inspiração na natureza: com um desenho em “cada galho” e uma pintura “em cada fulô”, tornou-se ilustrador de pranchas científicas. Talento nato! Sem conhecimentos técnicos em Arte, Zoologia ou Botânica, suas obras impressionam pelo traço preciso. Bravo! O acervo de Obras Raras do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) possui 42 pranchas pintadas por ele, ilustrando 50 espécies. Além delas, ainda há um livro, de autoria de Eládio Lima, sob o título de “Primatas da Amazônia” em edição bilíngue – português e inglês –, publicado
refletem um roxo escuro intenso, que só de
DEZEMBRO 2014
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 21
EM NÚMEROS
estoque DE AMOR
Fundação Hemopa incentiva a doação de sangue no Estado TEXTO victor furtado infografia márcio euclides
A Fundação Centro de Hemoterapia
que corresponde a uma cobertura
Association of Blood Banks (AABB).
transfusões, por conta dos riscos de
e Hematologia do Pará (Hemopa) é
transfusional de mais de 90% em
Contudo, não bastam somente a boa
acidentes nas estradas e em exces-
responsável pela coordenação da
toda a rede hospitalar pública e
estrutura e premiações. A necessi-
sos em festas. Nesses períodos são
Política Estadual do Sangue, tendo
privada paraense.
dade de sangue é diária e constante.
realizadas campanhas de estímulo
três hemocentros regionais (Mara-
Neste ano, a Fundação Hemopa
Com a chegada das festas de final
à doação para manutenção do esto-
bá, Castanhal e Santarém); cinco
conquistou a “Acreditação Nacional
de ano, com a realização de even-
que necessário ao atendimento. Por
hemonúcleos (Altamira, Tucuruí,
e Internacional pela Excelência de
tos com grande concentração de
isso, o Hemopa convoca os doadores
Redenção, Capanema e Abaetetuba)
Gestão concedida pela Associação Bra-
pessoas ou feriados prolongados,
a fazerem novas coletas e convida
e agência transfusionais, formando
sileira de Hematologia, Hemoterapia e
as doações diminuem. Em contra-
novos voluntários a se tornarem
uma hemorrede com 49 unidades,
Terapia Celular (ABHH) e pela American
partida, aumenta a quantidade de
salvadores de vidas.
DANDO O PRÓPRIO SANGUE
Os números de uma nobre causa
A VIDA EM VERMELHO
O sangue que se move no organismo De 5 a 6 litros de sangue é a quantidade que um ser humano adulto possui circulando no organismo
450 ml
7%
é a quantidade média doada por pessoa. Não chega nem a 10% do sangue de uma pessoa sadia, logo, doar não causa qualquer mal
Homens podem repetir as doações a cada 60 dias, o equivalente a 4 doações por ano
Mulheres podem repetir as doações a cada 90 dias, o equivalente a 3 doações por ano
40,5%
das doações coletadas são de jovens voluntários
400 mil doadores estão cadastrados em todo o Estado
70%
Correspondem às doações são feitas por homens no Estado
equivalem ao peso corporal do sangue
200 3% a 5%
22 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
DEZEMBRO 2014
é o número de coletas feitas diariamente para 300 transfusões no Pará
Correspondem aos percentuais ideais de doações em uma cidade, de acordo com a Organização das Nações Unidas
50%
das doações está na faixa etária de 18 a 29 anos
45,26%
das doações efetivadas na sede do Hemopa, em Belém, são de repetição
1,7% da população paraense doa sangue
NA VEIA DO PARAENSE
Como estão distribuídos os tipos sanguíneos no Estado
O+
55%
O-
tRANSFUSÃO DE SOLIDARIEDADE As coletas de sangue dependem do espírito fraterno e social das pessoas
300
unidades de sangue são necessárias todos os dias no Hemopa
4%
93
mil bolsas de sangue são coletadas anualmente
B+
B-
8%
1%
No interior do Pará, a necessidade é de 8 unidades diárias
125 mil atendimentos podem ser feitos com essa quantidade
200
49
hospitais são atendidos em todo o Estado
unidades formam a hemorrede paraense
100
90%
doações diárias poderão ser feitas na nova estação de coleta do Pórtico Metrópole, em Belém, atendendo 700 mil pessoas
do Estado é coberto com todas as unidades do Hemopa
SEjA UM DOADOR
A+
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27%
25%
AB+
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2%
0,5%
Além de estar bem de saúde e possuir documento de identidade original, como carteira de identidade (Rg), carteira profissional, certificado de reservista, carteira de motorista ou carteiras de conselhos de classe, o candidato precisa seguir alguns requisitos
•Ter idade entre 16 e 69 anos •Menores de 18 anos precisam de autorização do responsável •Peso a partir de 50 kg •Não ter tido hepatite após os 10 anos de idade
Tv .P ad re Eu tíq uio
Vá AO HEMOPA
A Fundação Hemopa fica na travessa Padre Eutíquio, 2109. Funciona para coleta de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h, e aos sábados, das 7h30 às 17h. E-mail: captacao@hemopa.pa.gov.br Telefone: 0800 280 8118
a rrê Co o l Ru de ad rze os . Se v Ca A rip Ru ad un as os Pa riq uis
foNTE: hEMoPA, MiNiSTÉRio dA SAÚdE E EXPlicAKi
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OLHARES NATIVOS
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Mas afinal, o que é a vida? A vida cobra: taxas, posturas, respostas. A vida pesa: no lombo, na cabeça, nos olhos. A vida cansa: de repetições, tentativas, tropeços. A vida avança: veloz, certeira, orgulhosa. A vida refaz: quando, onde e se quer. A vida é moto-contínuo, moto na estrada, motor de barco. A vida é barulho de porta, ronco de carro, apito de fábrica, ainda que hoje não haja mais fábricas apitando. A vida é tela branca e teclas cuspindo relatórios, cumprindo prazos, brotando e-mails com jeito de carta. A vida é café quente tomado em gole só, é nota dó em primeiro acorde, é último suspiro. É correria, é multidão, é banco de ônibus, é fila para o pão. É choro engolido, é tropa em avanço. Mas também é paz, é remanso, estado de graça. É sereno, é canto, silêncio e quietude no banco de praça... FOTO: HELY PAMPLONA
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OLHARES NATIVOS
Amparado pela proteção maternal O que enxergam as crianças? Para onde vão de pés ligeiros, de mãos inquietas? Não mexe aí, menino! Não vai pra aí! Deixa de ser enxerido! E eles não param, não deixam de olhar nem se inquietar. Nunca. Que bom. O registro do leitor APOENA AUGUSTO foi feito durante uma travessia de balsa para a Ilha do Marajó.
Contemplar a baía sem preocupação Descer da nuvem para a realidade e contemplar, pois isso é preciso. Viver também. Pés são hinos de liberdade, muita gente não sabe porque nunca os olham. Tristes são pés de sapatos, mais ainda se estiverem apertados. Pés descansados voam. Foto enviada pelo leitor APOENA AUGUSTO
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Fortaleza de São José, em Macapá Por trás da muralha, a vontade de ficar na região mais cobiçada do mundo. Cada pedra é um medo. Selvagens, estrangeiros, fracasso. Cada torre, uma olho a espreita. Cada portal, prontidão. De história e belas construções se perpetua também a Amazônia. FOTO: OSWALDO FORTE
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OLHARES NATIVOS
Cumplicidade para toda vida Eu espero, ela espera. Estamos prevenidos. Estamos gratos pela beira de calçada. Os olhos esperam a mãezinha. Será que já dobra a esquina. Espia. E espicha o pescoço. Os joelhos, cansados da pernada, aproveitam e põem o papo em dia. FOTO: FERNANDO SETTE
Doce gosto, voo azul No pé de mamão, o suí-azul pousou. E aproveitou o tempo para melar o bico em doce e macia polpa. Aproveitou a manhã para se refestelar. Esqueceu dieta, esqueceu hora de piar, do seu turno de enfeitar o céu. FOTO: HELY PAMPLONA
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Operárias da natureza Diligentes, sisudas, trabalhadoras. Por que as abelhas labutam tanto? Nunca se viu uma delas dormindo num saco de aniagem da dispensa, como um gato, tampouco no batente da porta atrapalhando a passagem, tal cachorro. Que exemplo de operárias... FOTO: CARLOS BORGES DEZEMBRO 2014
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Singrando o caminho para Soure Como explicar que o mesmo caminho da ida é mais longo do que o da volta? Na partida, o passado repuxa o tempo para trás o quanto podem, reduzem a velocidade do barco e o coração se amplia para os novos cenários. Partir e voltar... FOTO: HELY PAMPLONA DEZEMBRO 2014
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Romantismo indígena Há alegria e deslumbramento no olhar que trazem na pele a suave cor da terra e na vida a sabedoria. Nos olhos das novas gerações, a esperança de uma nação que é genuinamente brasileira. FOTO: FERNANDO SETTE
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Artífices aranhas e seu ofício Artesãs pacientes, perfeccionistas, sorrateiras, fantásticas, atentas às presas, assustam, protagonizam filmes, são brinquedos para crianças destemidas. E, sobretudo, decoram velhas casas abandonadas como ninguém. FOTO: CARLOS BORGES DEZEMBRO 2014
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OLHARES NATIVOS
A vida que sempre ressurge Nem que toda força seja empregada contra. Nem a chama mais violenta e feroz. Nem os machados mais afiados ou a ganância mais cega. Nada impedirá a vida de se reerguer das cinzas e escrever um novo verde-começo. FOTO: HELY PAMPLONA
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos 34 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o email amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome do fotógrafo, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto da obra. As fotografias devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das imagens tem fins meramente de divulgação, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos fotógrafos. Participe!
OPINIãO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E sOluÇõEs ROBERTA BRANDãO
IDEIASvERDES
AMOR ANIMAL A ASSOCIAÇÃO AMOR DE PAtAS RESGAtA, CUIDA E PREPARA O PROCESSO DE ADOÇÃO DE CÃES E GAtOS ABANDONADOS NAS RUAS DE BELéM. PágInA 46
PELoS RIoS o engenheiro naval hito Braga aposta no investimento em hidrovias como forma de melhorar o transporte público. Pág.36
AmAzônIDAS a sociedade amazônica é protagonista de um Brasil que desponta no século XXi como um país promissor. Pág.38
EDUCAÇÃo o projeto prosseguir, do hospital ofir loyola, ajuda pacientes a continuarem os estudos mesmo diante do tratamento. Pág.50
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OUTRAS CABEÇAS
E
m 1986, quando o professor e pesquisador Hito Braga de Moraes finalizou, na Universidade Federal do Pará, seus estudos em engenharia civil, o curso de engenharia naval não passava de um sonho para muitos amazônidas. Hoje, com quase dez anos desde sua fundação, a Faculdade de Engenharia Naval (Fenav) da UFPA criou também um curso de pósgraduação, que iniciará as aulas de sua primeira turma em março de 2015. Na entrevista a seguir, Braga, atualmente diretor da faculdade e coordenador do mestrado, conta como surgiu o primeiro curso de Engenharia Naval da Amazônia, a sua trajetória pessoal e a importância dos investimentos em hidrovias para a economia e para o meio ambiente da região.
O curso de engenharia naval da UFPA é um dos mais bem conceituados do Brasil pelo Ministério da Educação, obtendo nota 5 em 2011. Como se deu a sua criação? Em 2004, eu e o professor Roberto Pacha fomos convidados a participar de uma reunião na Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) para definir prioridades de âmbito político e acadêmico para a Amazônia. Ali surgiu a oportunidade de apresentarmos a importância dos estudos de engenharia naval para a região amazônica. Ao fim do encontro, fomos surpreendidos com o apontamento de que o curso deveria ser criado imediatamente na região. Fizemos um projeto de graduação e, em 2005, foi feito o primeiro vestibular para Engenharia Naval na UFPA. No início, não tínhamos nada. Inclusive, disputávamos salas dentro do Departamento de Engenharia, que se tornou depois uma faculdade. Como o senhor se tornou engenheiro naval? Sou engenheiro civil com especialização, mestrado, doutorado e pós-douto36 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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“A hidrovia é o maior amigo do meio ambiente” Prestes a completar dez anos de fundação no Estado, a Faculdade de Engenharia Naval da UFPA coleciona hoje projetos e soluções para a navegabilidade da Amazônia, com apoio de Um dos idealizadores do curso, Hito Braga TEXTO Abílio Dantas FOTO roberta brandão
rado em engenharia naval. Fiz mestrado e doutorado no Rio de Janeiro e pós-doutorado na Universidade de Southampton, na Inglaterra. Sempre gostei da área, sempre quis ser engenheiro naval e trabalhar com isso. Mesmo quando dava aula no curso de engenharia civil, onde trabalhei durante alguns anos, eu lecionava sobre portos, hidrovias, transporte aquaviário; matérias relacionadas a engenharia naval na área de transportes. Depois que fiz o doutorado, retornei e surgiu a oportunidade de fazer, junto com o professor Roberto Pacha, o curso de engenharia naval. Talvez, se já existisse esse curso em Belém, eu teria feito. A minha vida toda foi nessa área, mesmo sendo engenheiro civil. Sobre pesquisas, quais temas o senhor destacaria na trajetória do curso? Estudamos as embarcações de madeira, suas construções e hidrodinâmica na Amazônia, assim como com embarcações de alta velocidade para ser implantados na região amazônica, como o catamarã. Nesse setor, temos dificuldades. Não temos um laboratório que estime a potência das embarcações. Estudei muitos cascos fora do Estado para extrair recentes avanços. Na área de hidrovias, fizemos alguns projetos como o do derrocamento do Pedral do Lourenço (área de pedras localizada na hidrovia Araguaia-Tocantins), feito por nós aqui da Universidade. Foi a primeira vez que um grupo de profissionais no Brasil desenvolveu um projeto dessa magnitude. Também fizemos aqui na UFPA vários projetos portuários. Dentre eles, o projeto de expansão do Terminal de Vila do Conde, em Barcarena. Estamos fazendo agora um porto em Santarém e o plano de zoneamento dos portos da CDP (Companhia de Docas do Pará). Fizemos também alguns estudos de viabilidade econômica de terminais da CDP. É preciso destacar também o estudo que entregamos no ano passado para a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) sobre o transporte hidroviário na Amazônia. Nele, fizemos um levantamento de frotas, de demanda de passageiros, do perfil socioeconômico das pessoas, das condições dos terminais. Foi
“Essas estruturas (hidrovias) possibilitam uma navegação com maior economicidade e mais segurança” um trabalho pioneiro. Ninguém nunca havia feito algo com a mesma abrangência que fizemos. Todos estes trabalhos deram uma boa visibilidade para o curso. Após os 10 anos, o que o senhor acha que ainda necessita ser feito no campo de engenharia naval na Amazônia? Precisamos nos aperfeiçoar. Os primeiros anos foram de implantação e consolidação. Agora, damos um passo a mais. Quando o curso completar 10 anos, teremos um mestrado. É o passo seguinte. Nós já criamos a graduação, nós formamos a mão de obra. Agora vamos desenvolver ainda mais a pesquisa aplicada aos problemas da Amazônia com as dissertações e projetos de mestrado. Veio em uma oportunidade muito boa. Nosso mestrado é em convênio com a Universidade de Southampton, na Inglaterra, onde fiz o pós-doutorado. Os alunos vão poder estudar aqui, fazer doutorado lá e assim desenvolveremos trabalhos em conjunto entre os dois países. Eles ajudarão a gente a resolver os nossos problemas. Quais são hoje os principais entraves em relação às hidrovias? Acredito que faltam investimentos semelhantes aos que se aplica às hidrelétricas e ao transporte rodoviário. É preciso investir em hidrovias. O transporte por água é o mais barato do mundo. Na hidrovia que liga o Araguaia ao Tocantins, por exemplo, fizeram a eclusa, mas ainda é preciso fazer o
derrocamento do Pedral do Lourenço, que é a retirada das pedras para que a via seja 100% navegável. Esse é um obstáculo que tem que ser removido. O que caracteriza uma hidrovia apropriada para uso? O rio Guamá, por exemplo, é uma via navegável. Mas para ele se tornar uma hidrovia é preciso que haja sinalização, frotas padrão, terminais hidroviários e medidas normatizadas como larguras determinadas e profundidade mantida ao longo do ano. Nessa questão, são semelhantes às rodovias, que também precisam de sinalização rodoviária, polícia rodoviária, terminais rodoviários. Um caminho qualquer que você anda não é necessariamente uma rodovia, é só um caminho. A mesma coisa se dá em relação à hidrovia. Ela é uma via preparada para o homem com segurança e condições de navegabilidade, que também devem levar em conta as condições econômicas da população. Além do preço do transporte, quais são as outras vantagens da hidrovia? Essas estruturas possibilitam uma navegação com maior economicidade e mais segurança. Do ponto de vista ambiental, a hidrovia é o maior amigo do meio ambiente, pois uma balsa ou barcaça que é capaz de suportar 10 mil toneladas pode tirar 278 caminhões da estrada. Imagine quanto de CO2 não deixa de ser emitido na atmosfera ou quanto o número de acidentes é reduzido. Construir hidrovias causa muito menos impacto em relação a rodovias. Para abrir estradas você precisa desmatar, aterrar, fazer buracos, rasgar morros. Por que não se constroem mais hidrovias no País? Aqui no Brasil, historicamente, se investiu muito mais em rodovias, Cidades foram construídas ao longo das estradas. Mais pessoas vivem das rodovias. Mas o setor privado percebeu que a solução mais barata é a hidrovia e passou a investir mais nessa área. Também começou a construir suas barcaças, seus terminais e iniciou a dragagem de rios. Algumas empresas estão fazendo o que seria papel do governo. DEZEMBRO 2014
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ASSUNTO DO MÊS
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AMAzÔNIDAS DO SéCULO XXI MESMO DIANTE DOS CONSTANTES DESAFIOS SOCIAIS DA
ATUALIDADE, QUE ENVOLVEM SAÚDE, EDUCAÇÃO, GERAÇÃO DE RENDA E SEGURANÇA, OS 27 MILHÕES DE HABITANTES DA AMAZÔNIA CONGREGAM UM MODO ESPECIAL DE SER E VIVER NA REGIÃO. TEXTO fABRícIO QUEIROZ fOTO IgOR MOTA
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aSSunto do mÊS
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“paraíso na Terra”, o “El Dorado”, o “inferno verde” e o “pulmão do mundo” são alguns dos vários clichês criados em torno da Amazônia ao longo da História. Para muitos estudiosos, compreensões pautadas no desconhecimento. Mais do que um grande território, a região amazônica é um espaço de vidas e culturas, que pesquisas demográficas, sociais e antropológicas e a própria população ajudam a desvendar. Ocupando 59% do território brasileiro, a Amazônia Legal é composta por nove estados nos quais vivem uma população de mais de 27 milhões de pessoas, segundo a estimativa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) este ano. A vida às margens dos rios ou que tem como base a extração de recursos naturais ainda é comum, mas a demografia aponta que hoje a sociedade amazônica é marcada pela urbanidade, pois 72% da população está concentrada nas capitais e metrópoles, como Belém e Manaus. Mas tanto no espaço urbano quanto na zona rural, os amazônidas são essencialmente um povo com características diversas. Os povos tradicionais incluem diferentes populações indígenas, afro-brasileiras e caboclas. Além disso, a história mostra, por exemplo, a importância que nordestinos e sulistas tiveram na ocupação, desenvolvimento e constituição do que é a Amazônia hoje. O IBGE aponta que é na região que se encontra a maior concentração de populações indígenas do País, com 170 registradas no último Censo, em 2010. Entre os mais de 896 mil indígenas brasileiros, 168 mil estão no Estado do Amazonas. No Pará, estudo do Instituto de Desenvolvimento Eco40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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“Vivemos em um espaço onde temos que ver como um todo a questão geográfica, econômica, social e ambiental. Por tudo isso a gente se sente satisfeito de viver nessa região porque ela é diferenciada das outras. A gente sabe que cada vez mais a Amazônia vem ganhando visibilidade mundial e a gente tem esse privilégio de viver e fazer parte desse espaço”. Rildo Martins, 23 anos, pedagogo
“É um povo bonito, acolhedor, bom de coração, sempre disposto a ajudar e fazer o melhor. Fisicamente, eu acho que predomina uma mistura do negro com índio. E aqui tem muita coisa boa: tacacá, caruru, maniçoba, cheirodo-pará. A gente tem problemas também, mas eu não trocaria o Pará por outro Estado”. Maria Lúcia Santos da Silva, 44 anos, fiscal de loja
nômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp) divulgado em novembro aponta que mais de 80% dos paraenses se declaram negros ou pardos (6,3 milhões do total de 8 milhões). E em todo o território amazônico observa-se a participação marcante de migrantes de ou-
tras regiões que vieram atraídos pelos incentivos à agricultura e pecuária e pela instalação de grandes projetos de infraestrutura. Além do panorama populacional, compreender quem são os amazônidas passa pela visão de como vivem essas pessoas. Nes-
se sentido, os aspectos econômicos e sociais revelam os desafios a serem superados na região, conforme o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), principal indicador social desenvolvido pela Organização das Nações Unidas e parâmetro para a implementação DEZEMBRO 2014
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“Aqui é diferente. As pessoas são diferentes. Eu acho que a gente se trata melhor, temos um contato muito íntimo, por exemplo, quando a gente fala ‘maninho’. A gente consegue viver melhor por causa dessa naturalidade que o povo tem” Felipe Cordeiro, 22 anos, jovem-aprendiz
de diversas políticas públicas no Brasil. Outras pesquisas apontam, por exemplo, a necessidade de mais investimentos em serviços de saúde, abastecimento de água e educação. Esses dados subsidiaram a realização de um estudo inédito na região, o Índice de Progresso Social (IPS Amazônia), iniciativa do Instituto do Homem e Meio 42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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Ambiente da Amazônia (Imazon) em parceria com a Social Progress Imperative (SPI). O IPS tem grandes diferenças em relação a outros indicadores como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), porque isola o componente econômico que pode elevar o desempenho dos países, estados e municípios. O pesquisador sênior do Imazon,
Adalberto Veríssimo, explica que a intenção do IPS é oferecer um cenário mais completo da realidade analisada a partir de três eixos: Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos para o Bem-Estar e Oportunidades. “A principal diferença é que o IPS pega todas as dimensões da vida da pessoa, como segurança, comunicação, acesso à internet,
“Eu viajo para Belém há 30 anos e vejo que aqui se tem uma grande oportunidade de conviver com a natureza. O povo da Amazônia é trabalhador, enfrenta dificuldades para lidar com os problemas sociais. Com certeza é um povo guerreiro” Roberto Pitanga, 55 anos, piloto
“Eu tenho muito orgulho de ser daqui. Eu morei muito tempo em Salvador, Bahia. E sempre que se falava sobre Belém, a floresta, o açaí, o tacacá, eu me sentia muito orgulhosa. Eu não tenho nem explicação. Ser da Amazônia é uma coisa que só me traz orgulho”. Priscila Matos, 25 anos, enfermeira
cultura, esporte e lazer. Então, ele tem um escopo muito mais amplo”, explica Veríssimo. “O índice tem o foco em resultados. O IPS não quer saber quanto foi investido em educação, saúde, em lazer, em moradia, em nutrição, em comunicação. Ele quer saber o resultado objetivo. Qual é a taxa de nutrição? Qual a nota do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica)? Qual a percentagem de analfabetos? Quanto é a taxa de conexão da internet?”, complementa. Na nota geral, o Índice de Progresso Social da Amazônia ficou em 57,31 em uma escala que vai de 0 a 100 na qual a média brasileira é de 67,73, o que reforça a ideia da necessidade de avanços em especial no acesso a serviços de água e saneamento e na geração de oportunidades de ensino superior. Apesar do alerta, a mesma pesquisa aponta um aspecto bastante positivo ao indicar as potencialidades e de onde podem surgir alternativas edificantes para a Amazônia. Na dimensão Fundamentos para o Bem-Estar, a região obteve o seu melhor resultado no componente Sustentabilidade, com nota 74,85. Para Veríssimo, os recursos naturais como a água, a floresta e a biodiversidade são ativos para o desenvolvimento econômico e social da Amazônia, que deve ser construído levando em consideração o conhecimento e o diálogo à população amazônica. “Eu diria que o ativo da Amazônia são as pessoas, sua gente. A diversidade cultural e étnica da região é o seu ativo e em cima dele que a gente tem que construir as soluções”.
RELAÇÕES
Os dados estatísticos e a avaliação da condição de vida dos amazônidas, contudo são apenas uma parte da realidade humana na região. Em meio a isso, no dia a dia, as pessoas estabelecem relações entre si e com o meio em que vivem, o que particulariza formas únicas de lidar e de se expressar. São as peculiaridades de um povo que a diferenciam de outro e permitem construir uma identidade própria, o que, para quem habita aqui, se torna uma espécie de marca registrada, dada à alegria, à solicitude, ao jeito cantado de falar, à hospitalidade. Porém, com uma diversidade cultural e étDEZEMBRO 2014
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“Ser da Amazônia é muito mais do que morar em Belém, em Manaus ou em qualquer outra cidade. É mais uma identificação com o povo da região porque, querendo ou não, é uma região que o mundo inteiro está de olho. Então, ser da Amazônia é um privilégio para poucos. E não é apenas ser, a pessoa tem que gostar porque a gente possui uma cultura diferente” Igor Cardoso, 20 anos, estudante
nica tão grande, seria possível definir quem são os amazônidas? A doutora em Sociologia e coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas, Therezinha Fraxe, acredita que a própria diversidade é uma marca dessa população, e por isso reconhe44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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cê-la é um primeiro passo importante. “Na realidade, quando falamos em identidade amazônica, estamos falando de grupos societários com ‘ethos’, gosto, estilo de vida e culturas diferentes. Portanto, essa identidade, necessariamente tem que ser entendida no plural”. O ethos é uma essência, um modo de
ver o mundo, que no caso da Amazônia seria orientado pela harmonia que permite a convivência de indivíduos com culturas diferentes; ou, ainda, a simplicidade que marca a vida de extrativistas e pescadores, por exemplo. Uma visão que pode ser considerada romântica, mas que é parte da essência do caboclo amazônico, que tem na pirace-
“Tudo aqui é muito bom. O clima, as pessoas, a paisagem, a baía, as praias, as comidas típicas, o Círio de Nazaré, que é maravilhoso. Amazônia é tudo isso. Eu sou paulista, mas fui criada aqui no Pará. Então, sou ‘paraense’ e não pretendo sair daqui nunca”. Vanessa Coutinho, 42 anos, terapeuta ocupacional
“Nós temos várias características que nos distinguem por ser da Amazônia. A gente é uma mistura, uma junção da nossa fauna com a nossa flora. A gente deve se identificar mais com o ‘ser da Amazônia’ porque é uma região muito rica e que tem muito a contribuir para o Brasil”. Luana Freitas, 22 anos, estudante
ma um período de fartura e felicidade, o que gera muitos simbolismos em suas vidas. Logo, para a professora, o amazônida é um ser que vive e pertence a um ecossistema multicultural. “Ser da Amazônia, é ser caboclo, camponês, ribeirinho, extrativista, pescador, caçador, agricultor, artesão, carpinteiro, ervateiro. Enfim, somos e pertencemos há um hibridismo cultural”, afirma Therezinha Fraxe. Para o doutor em Sociologia da Cultura e professor da Universidade Federal do Pará, João de Jesus Paes Loureiro, a forma preponderante com que a natureza se apresenta no cotidiano dos amazônidas também a coloca como elemento constituinte dessa identidade, algo não superado mesmo nos ambientes urbanos. “As nossas capitais são ribeirinhas também. Você tem a grandiosidade da imagem dos rios que passam em frente das cidades, e da floresta um pouco mais distante. De modo que esse confronto entre a cultura urbana, sobretudo das capitais, e a cultura interiorana, não se sobrepõem”, diz. Além disso, Paes Loureiro ressalta que as dinâmicas culturais da atualidade também permitem um processo de identificação, em que é possível estabelecer relações e sentimentos integrados com a região, mesmo para aqueles que não nasceram nela. Por isso, ser amazônico parte de uma atitude de identificação. “Ser da Amazônia é se sentir amazônida. Você tem que se sentir que é da Amazônia, acreditar nesse sentimento e respeitar a Amazônia naquilo que ela é. Esses fatores poderão gerar uma vivência que caracteriza o ser amazônida como uma coisa legítima e identificada com a região”, opina o professor. Para isso, Paes Loureiro defende o uso e a divulgação dos signos da região, como a floresta, o rio, o modo de falar e tantos outros. Mas longe de taxar um estereótipo, o sociólogo considera que esses aspectos são, de fato, traços únicos dos amazônidas, que expressam valores de originalidade, garantindo a permanência dessa cultura na sociedade brasileira. “Um ser amazônico me parece adotar uma atitude positiva diante da região, no sentido de se sentir orgulhoso dela”. DEZEMBRO 2014
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comportamento SuStentÁVel
UM AtO DE AMOR PELOS ANIMAIS ABANDONADOS
A ASSOCIAÇãO AMOR DE PATAS RESgATA CãES E gATOS QUE PERAMBUlAM PElAS RUAS DA CIDADE. DEPOIS DE BEM CUIDADOS, ElES ESTãO PRONTOS PARA ADOÇãO POR FAMÍlIAS VOlUNTáRIAS. TEXTO MOENAh cASTRO fOTOS ROBERTA BRANDãO
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las estudam, trabalham e ainda arranjam um tempinho para amar e cuidar dos animais. E é esse o exemplo que as voluntárias da Associação Amor de Patas querem passar às outras pessoas. “Nem todo mundo pode adotar um animal, mas pode ajudar de alguma forma a cuidar deles”, diz a cientista ambiental Aina Gorayeb. Ela é uma das fundadoras da associação criada em agosto de 2013 e que já ajudou mais de 500 cachorros e gatos a encontrarem um novo lar. A maioria das voluntárias sempre gostou de animais e já na adolescência começou a alimentar e cuidar de cães e gatos de rua. As jornalistas Nathália Proença e Elyne Santiago, também da associação, já faziam parte de outras organizações em defesa dos animais. Com o desejo comunitário de ajudar, logo elas se juntaram e perceberam que podiam fazer mais pelos bichinhos. Hoje, são sete associadas que dedicam o seu tempo livre a recolher, alimentar, tratar e procurar uma família para animais abandonados.E eles não são poucos. Segundo a médica veterinária Mônica Fadul existem cerca de 120 mil animais em Belém e parte deles não é domiciliada. “A maioria dos abrigos estão lotados e o Centro de Controle de Zoonozes está em reforma. As pessoas precisam ter a posse responsável do animal sem deixar que ele passe o dia fora de casa sozinho. Muitos não voltam ou ficam doentes”, esclarece Mônica. Sem cuidados, eles podem contrair doenças, como a raiva, e até transmiti-las para as pessoas. A maioria desses cães e gatos não tem raça definida. Chamados de “vira-latas”, vivem nas ruas da cidade sem alimentação e cuida-
dos adequados. Nathália conta que maus-tratos são constantes. “Nós recebemos muitos chamados para atropelamento sem socorro, a maioria das pessoas não socorre os cachorros e gatos que atropelam. Então a gente faz o resgate, leva para o veterinário, paga o tratamento e, às vezes, precisamos pagar estadia em uma clínica até que ele esteja recuperado. Fazemos isso também com os animais grávidos”. Segundo a voluntária, todos esses serviços custam caro e somam uma conta média de R$ 4 mil por mês. “A castração custa em torno de R$ 400,00, fora os remédios, vacinas e ração”, comenta. “Nós resgatamos um cachorro atropelado recentemente que precisou fazer uma cirurgia para amputar a perna. Só a cirurgia custou R$ 5 mil, fora as diárias e os remédios. Demos o nome de Valentim. Ele ficou bem e, por sorte, não demorou para encontrar uma família adotiva”, conta Aina.
É aí que a corrente de solidariedade cresce. Com as doações que recebe, a associação consegue pagar as contas e tirar mais animais das ruas. A corrente se estende até para fora do Estado e conta com o apoio, inclusive, de atores globais como Bruno Gagliasso e Tatá Werneck. Eles compartilham fotos com a blusa da associação e também fazem campanha pela adoção dos pets. Ao todo, são 12 mil pessoas que seguem o trabalho da associação Amor de Patas por meio das suas redes sociais.
corrente do bem
Com mais de 500 atendimentos de cães e gatos vira-latas, a associação Amor de Patas também conta com dezenas de seguidores nas redes sociais. “Nem todo mundo pode adotar um animal, mas pode ajudar de alguma forma a cuidar deles”, diz uma das fundadoras do grupo, Aina Gorayeb (de rosa)
SOLIDARIEDADE
Foi numa dessas postagens na internet que a bacharel em turismo, Ana Pantoja, conheceu a história de Valentim, o cachorro que foi atropelado e precisou amputar uma pata. “Eu comecei a seguir o trabalho da associação na internet e quando elas divulgaram a história do Valentim eu fiquei muito comovida. Ele tem o porte médio, DEZEMBRO 2014
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL
“Eu comecei a seguir o trabalho da associação na internet e quando elas divulgaram a história do Valentim eu fiquei muito comovida. Ele teria pouca oportunidade” Ana Pantoja, “mãe adotiva” de um cachorro amputado
mais de cinco anos e agora deficiente. Sei que ele teria pouca oportunidade”. Segundo as voluntárias do Amor de Patas, a maioria das adoções acontece com cachorros de raça ou filhotes. Animais sem raça definida e com mais de um ano têm mais dificuldade. Mas em seu novo lar, Valentim pôde receber os cuidados que não teria se continuasse nas ruas. “Ele se adaptou muito rápido, brinca com o bebê de onze meses que temos em casa e traz mais alegria. Mesmo sem uma patinha ele até corre”, diz Ana Pantoja. Além de facilitar a adoção de animais, a associação também conta com várias formas de auxílio. “As pessoas que quiserem ajudar em dinheiro podem depositar na nossa conta, pagar contas nos pets parceiros, doar ração, ou simplesmente oferecer uma carona solidária ou um lar temporário. No último caso nós levamos o animal com a alimentação e o material de higiene para ele usar e estipulamos uma data para ir 48 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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buscá-lo, caso ele não seja adotado antes”, detalha Aina Gorayeb. A carona solidária é importante no resgate de animais atropelados ou machucados na rua. “Às vezes recebemos um chamado de atropelamento e não podemos ir buscá-lo e levá-lo até a clínica naquele exato momento. Então, pedimos para nossos seguidores uma carona solidária para resgatá-lo”, diz Aina.
MEIO AMBIENTE
O cuidado com os animais faz parte do zelo pela natureza e a situação dos animais abandonados também pode se tornar um caso de saúde pública se não for bem administrado. O número de gatos e cachorros nas ruas da cidade pode diminuir bastante com um trabalho de conscientização: “As pessoas pagam caro por um gato ou cachorro de raça em uma loja, mas o amor de um vira-lata é o mesmo. Sem contar no sofrimento da fêmea de raça que muitas vezes só vive procriando para que seus filhotes sejam vendidos”,
comenta Elyne Santiago. “O ideal é que os animais sejam castrados. Isso não causa nenhum dano ao animal, só vantagens”, defende a veterinária Mônica Fadul. Ambas atestam que a adoção seguida de castração destes animais é a melhor maneira de evitar o sofrimento deles nas ruas e trazer mais alegria para as casas. Apesar dos obstáculos, Nathália Proença acredita que o cenário do cuidado de animais abandonados é animador: “Dá para perceber que hoje os jovens têm um pouco mais de consciência ambiental e de preocupação com os animais”, afirma. Ela também diz que apesar das dificuldades da associação, o trabalho é recompensador: “É um trabalho de formiguinha, mas nós somos muitas e estamos nos multiplicando. A alegria de resgatar um animal que está entre a vida e a morte, triste e abatido, cuidar dele com carinho e depois vê-lo bem e feliz não têm preço que pague. Saber que você foi responsável por isso e sentir a gratidão dele é incrível”.
SAIBA MAIS
Seja um voluntário da Associação Amor de Patas. Facebook: facebook.com/ amordepatas1 Twitter (@amordapatas) E-mail: amordepatas1@ gmail.com Participe da Campanha de Natal Amor de Patas, doando ração, produtos veterinários, cama, comedouro, toalhas, cesta básica e roupas usadas. Os donativos podem ser entregues até o dia 23 de dezembro nos seguintes pontos de arrecadação: - Pet Bichão - Av. Conselheiro Furtado, 1858 - Cremação - (91) 3230-1100 - Pet Stop - Travessa Dr. Moraes, 546 - (91) 3230-1966 - Pet Stop Marco - Av. Duque de Caxias, 860 – Marco - (91) 3236-3630 - Pet House - Rua Oliveira Belo, 539 - (91) 3242 1046
Inclusão digital no assentamento Educação e o livre acesso às tecnologias de informação e comunicação, em assentamentos de reforma agrária e comunidades em situação de vulnerabilidade social, são as premissas fundamentais para a criação do projeto “A conexão entre saberes tradicionais e o acesso as Tecnologias da Informação e Comunicação”, coordenado pela professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Ana Lídia Cardoso. Há quase um ano o projeto está no assentamento Abril Vermelho, em Santa Bárbara, e na Vila de Santo Antônio do Prata, localizada no município de Igarapé-Açu. Mais do que dar acesso e ensinamentos de uso das mídias e plataformas digitais o projeto
objetiva estimular o autorreconhecimento das comunidades, e, através de oficinas e minicursos, passar noções básicas de informática, criação e gerenciamento de redes sociais e blogs, linguagem audiovisual e criação de softwares de texto. Para Ana Lídia a ideia é mostrar para as crianças e jovens das comunidades como se fazerem protagonistas da própria história. “Pessoas que moram em um local como a Vila do Prata, antiga colônia de reclusão de hansenianos, têm naturalmente sentimento de inferioridade. Não é muito diferente com os assentados também. Precisamos trabalhar a potencialidade dessas pessoas, tirando deles essa ima-
gem de submissão social”, opina Ana. A utilização de ferramentas de comunicação e informação possibilita ainda a construção da cidadania nesses locais, assegura a coordenadora. “Buscamos sempre apontar para a necessidade de se saber um cidadão com direitos e deveres, primando sempre pelo saber local”. O conteúdo dos cursos também dá ênfase a temas que são do cotidiano da comunidade, justamente para ajudar no desenvolvimento local. Por isso, além de jovens, são alvos do projeto também os professores, que se tornam como agentes multiplicadores. A equipe do projeto é interdisciplinar, trabalhando com assuntos ligados à tradição local e agropecuária.
mUDAnÇADEATITUDE HEly PAMPlONA
MARIO gUERRERO/ DIVUlgAÇãO UFRA
BonS eXemploS
FRUTAS, LEGUMES E VERDuRAs NAs NOssAs VIDAs Quer, de uma só vez, diminuir o risco de doenças crônicas não-transmissíveis, como infarto, Acidente Vascular Cerebral (AVC) e hipertensão, além de aumentar a imunidade de seu organismo, reduzir o nível de colesterol e muitos outros ganhos? Não perca mais tempo, essa não é uma dieta milagrosa, mas funciona: basta seguir a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), ingerindo 400 gramas – ou cinco porções – de frutas, verduras e legumes ao dia. longe das dietas de shakes, de proteínas ou de celebridades, com seus efeitos duvidosos, levar uma alimentação saudável é bem mais simples e mais seguro que as promessas de resultados em curtíssimo espaço de tempo. Os ganhos com a ingestão de frutas, verduras e legumes estão ao alcance de todos porque “esses alimentos são importantes fontes de vitaminas, minerais, fibras e uma enorme variedade de outras substâncias, como fitoesteróis, flavonoides e outros antioxidantes”, garante a nutricionista Naíza de Sá, doutoranda do programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB) e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA). “O maior segredo para uma alimentação adequada e saudável chamase organização e planejamento”, orienta a pesquisadora. “Organize potes com frutas e saladas para cada dia da semana, facilitando o consumo ao longo dos dias”, ensina.
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VIDA EM COMUNIDADE
Quando é preciso prosseguir
Projeto EDUCACIONAL do Hospital Ofir Loyola ajuda pacientes a darem continuidade À ROTINA DE estudos TEXTO Natália Mello fotos Carlos Borges
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ara crianças, jovens e adultos, a educação é a porta de acesso para muitos caminhos, sejam eles profissionais ou pessoais, em que os valores inerentes ao conhecimento são agregados à experiência de vida e ao desenvolvimento social de um cidadão. Para João Vinicius Araújo Vieira, de 11 anos, a possibilidade de continuar estudando proporciona um sentimento ainda mais significativo, que alimenta o desejo de seguir em frente enfrentando a doença: a esperança. O pré-adolescente, que cursa o 6º ano do ensino fundamental, foi diagnosticado com leucemia em agosto deste ano. Natural de Novo Progresso, no sudoeste do Pará, João veio para a capital do Estado em busca de tratamento especializado. Em Belém, encontrou bem mais que especialistas da área da saúde. O menino de olhar brilhante e cheio de sonhos se deparou com novos amigos e a certeza de que é possível enfrentar a doença com a ajuda de educadores. “Eu não vou perder o ano. Os professores são muito bacanas, participamos de
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oficinas artísticas, interagimos com outras crianças. No dia 7 de setembro, a gente até fez desfile. É importante estar aqui porque continuo estudando e brincando como era na minha casa”, diz. João é um dos cerca de 180 pacientes de diversas faixas etárias atendidos pelo projeto Prosseguir, que funciona dentro do Hospital Ofir Loyola. No centro de referência do tratamento oncológico da rede pública do Estado, eles continuam o aprendizado escolar com aulas periódicas. Há professores de português, geografia, artes, inglês, história e educação infantil. João Vinicius não esconde o talento e a preferência pelas artes. Durante esta entrevista, ele deu uma palhinha dos trabalhos que realiza nas oficinas e, em meio a uma apresentação improvisada, revelou a dúvida sobre que profissão seguir, mas a carreira de ator permeia as aspirações do menino. “Geralmente sou o último a sair das oficinas. Fico conversando com os professores. Consigo atuar bem. Na minha escola, eu participava das peças de teatro, decorava os textos”, conta.
sempre em frente
Dhionatan Mercês dos Santos tem 15 anos e cursa o primeiro ano do ensino médio no hospital. Com o fim do tratamento, pretende se preparar para o curso de medicina e ajudar outras pessoas .
Apesar da pouca idade, João Vinicius parece já conhecer um pouco da vida, e duas palavras que fazem parte do seu cotidiano dão origem a uma fórmula para driblar os obstáculos impostos pela sua trajetória: alegria e fé. “Eu não sou o único que enfrenta essa doença. Infelizmente, alguns estão piores do que eu. Foi uma surpresa encontrar esse projeto. Onde eu estava não tinha ninguém para eu interagir, estudar. Me sinto acolhido e vejo que não sou doente, eu estou doente”, diz o menino, confiante em um futuro melhor. Cristiane Araújo viajou aproximadamente 2.500 km até Belém junto com o filho. A ex-funcionária pública largou tudo para acompanhar de perto o tratamento de João Vinicius. Vindos do interior do Estado, se sentiram acolhidos no hospital. “Aqui tem uma ótima estrutura. Eles dão suporte pedagógico e emocional. O João interage com crianças da idade dele e tem o compromisso com a escola. O projeto traz para a criança para a rotina de antes, não deixando perder o conhecimento. O tratamento atinge muito o emocional da criança e as professoras conversam, orientam, procuram estar próximas sempre”. Ainda sem previsão de saída do hospital, Cristiane acredita que João Vinicius está se saindo muito bem. Para ela, o Prosseguir resgata a criança de uma situação de isolamento. “Aqui as crianças são todas iguais. O projeto traz essa igualdade”, afirma.
ATENDIMENTO
180
JOVENS PACIENTES DO HOSPITAL OFIR LOYOLA
são acompanhados pelo projeto Prosseguir. “Os pais recobram as esperanças, ganham uma expectativa de vida”, diz a pedagoga e coordenadora do projeto, Zoe Cotta.
As professoras do projeto Prosseguir recebem os alunos após o encaminhamento de psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais do Hospital Ofir Loyola. Os estudantes continuam matriculados na escola de origem e recebem tratamento de pedagogos e professores, disponibilizados pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc), dentro do espaço hospitalar. “Os professores recebem a grade curricular do ano e da escola dos pacientes, passam as aulas e a avaliação. O resultado é enviado para as instituições. O nosso objetivo é dar amor, carinho e, especialmente, reinserir essas crianças, mostrar para elas que podem se relacionar DEZEMBRO 2014
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VIDA EM COMUNIDADE
fortalecidos
João Vinicius não perde as aulas nas oficinas artísticas do hospital. Na escola onde estudava, em Novo Progresso, também gostava de atuar nas peças de teatro. Para a professora de geografia Micheline Barros, a sensação é de cumprir um dever.
e se desenvolver. Os pais recobram as esperanças, ganham uma expectativa de vida”, diz a pedagoga e coordenadora do projeto, Zoe Cotta. Após 21 anos de trabalho no hospital e quatro anos no projeto Prosseguir, Zoe diz que a aceitação dos pais é um dos estímulos para continuar o trabalho. “Fazemos atendimento pedagógico com os pais também. É gratificante, pois vemos que isso muda a vida deles. Duas alunas que nós atendemos, pacientes renais crônicas, passaram no vestibular. Uma está fazendo tratamento há cinco anos, a outra há sete, e já é transplantada”. Walcilene Trindade, de 34 anos, é uma delas. A moradora do bairro do Guamá reencontrou o caminho para os livros dentro do Hospital, durante os nove anos de tratamento de hemodiálise. Ela tinha parado os estudos na 5ª série do ensino fundamental. “Sem o projeto, eu não teria conseguido, porque a escola perto da minha casa era só à noite. Passei em Serviço Social e quero seguir estudando. Meu sonho é fazer Direito. Nunca tive vontade de desistir”. 52 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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RECOMEÇO
Dhionatan Mercês dos Santos tem 15 anos e cursa o primeiro ano do ensino médio. Vindo de Altamira, no sudoeste do Pará, ele se internou pela primeira vez em agosto de 2012 para fazer tratamento para hidrocefalia. Após colocar um aparelho para drenar líquido do cérebro, ele descobriu um tumor na cabeça. Depois de mais de um ano de sessões de quimioterapia, ele retornou para a cidade natal totalmente revigorado. “Consegui terminar a série aqui no hospital e continuar os estudos no ano passado. Tive que voltar agora porque o aparelho saiu do lugar e eu vou ter que fazer cirurgia de novo para ajeitá-lo e voltar a fazer a quimioterapia. Saber que vou continuar estudando me ajuda muito. Depois do que eu passei, dos pacientes que eu vejo, tenho vontade de fazer Medicina e optar pela área da neurologia, com o intuito de ajudar assim como eu fui ajudado quando precisei. Nós jamais vamos esquecer o apoio que eles nos deram e dão”, conta o adolescente. Esse resultado é como se fosse um troféu que reluz nos olhos de Micheline Banhos,
“Me sinto acolhido e vejo que não sou doente, eu estou doente” João Vinicius Araújo Vieira, de 11 anos
professora de Geografia. A educadora acredita que a função de professor é exercida na sua essência dentro do hospital. “Fazemos de tudo para que eles tenham prazer de estar nas aulas. Nós somos a única escola que não quer alunos. Nós queremos que eles continuem os estudos fora do hospital. Ouvir eles dizerem do avanço do tratamento dá a sensação de dever cumprido”, diz a professora, que junto com os envolvidos no projeto, tem a missão de fazer a vida dos pacientes prosseguir em frente.
arte, cultura e reflexão carlos borges
PENSELIMPO
a voz do ver-o-peso
ao posar cheia de estilo no mercado de ferro da maior feira de Belém, a cantora gina lobrista mostra sua autoconfiança na carreira que se consolida
pÁGINA 54
ANGELICAL A programação natalina começa a receber os acordes das cantatas e madrigais que encantam o público nesse período. Pág. 58
o astro O engenheiro geógrafo paraense Sebastião Sodré da Gama tornou-se um nome promissor no estudo do cosmos e do tempo. Pág.60
zona verde Em pleno século XXI se faz cada vez mais necessário a criação de parques ambientais no País, dizem os especialistas. Pág.66
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DEDO DE PROSA
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índia Apaixonada pelo Ver-o-Peso
Dona do maior hit das rádios paraenses da atualidade, a cantora Gina Lobrista é um fenômeno nascido nas ruas e alçado à visibilidade mundial graças à internet TEXTO João Cunha FOTOS Carlos Borges
N
o início era a voz onipresente em rádios, aparelhagens, alto-falantes e bikes-som do Pará, cantando a celeridade da vida versus a necessidade de expressar/ viver o amor. Desde setembro passado, a imagem da mulher, pele e cabelos que lembram a Iracema das lendas amazônicas, deslizando uma caixa de som e se apresentando pelas calçadas do Ver-o-Peso veio completar na mente do público a figura de Gina Lobrista. A artista de rua e nova popstar refez a caminhada do começo de “Eu Estou Apaixonada Por Você”, clipe que está rendendo milhares de views e grandes mudanças na vida da cantora, para encontrar a equipe de reportagem da Amazônia Viva. Na feira, há quase quatro anos seu palco e local de trabalho, ela fala sobre essa fase tão esperada de reconhecimento da carreira, as dificuldades e caminhos que a trouxeram de Recife, capital de Pernambuco, para o epicentro da cor-
rida de ouro em Serra Pelada, na infância, até encontrar o estrelato no Ver-o-Peso, lugar que ela não pretende deixar mesmo com o sucesso ascendente.
acertava falar o sobrenome dela, então inventou o “Lobrista”. É uma coisa de infância, nós somos muito apegados. Ele chegava em casa e perguntava “Cadê a Lobrista?”
Teus traços físicos são muito fortes da região, mas tu não és uma paraense de berço. Verdade, eu sou de Recife. Sai de lá com a família, aos quatro anos, para Serra Pelada. Meu pai veio se aventurar no negócio do ouro. Ele era dono de bar, então ouvíamos música o dia inteiro. Na nossa casa tinham muitos quartos e nós hospedamos vários artistas que iam se apresentar na Serra, no auge do garimpo, como Zezé di Camargo, Leandro e Leonardo, Amado Batista e Odair José. Foi o meu primeiro contato com a música.
E como te tornaste a cantora Gina Lobrista? Minha família comprou instrumentos, som e montou uma banda de melody, a Geração Eletrizante. A vocalista era a minha irmã, Geanny, mas aos poucos eu deixei de ser empresária dela para me tornar cantora também. Comecei tarde, aos 29 anos, em uma idade que as pessoas dizem que a voz já não presta para cantar. No início, eu fingia que cantava porque tinha vergonha e medo de cantar, medo de a voz não sair boa. Mas aí fui aprendendo, chegando perto de cantores experientes e analisando. De tudo que eu via, queria fazer melhor. Atender ao telefone melhor do que aquela pessoa atendia para banda dela, sabe? Queria chegar mais perto do público do que os outros artistas.
Antes do nome artístico, eras Gina da Silva. De onde vem o “Lobrista”? Vem da Gina Lollobrigida (atriz italiana). Meu pai era fã, mas não
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DEDO DE PROSA
“Agora eu tenho um empresário. A primeira coisa que eu pedi foi para ele não me afastar do povo, da feira.” identidade cultural
Gina Lobrista nasceu em Pernambuco, mas cedo se mudou para Serra Pelada com a família. Depois, vindo para Belém, se identificou com a diversidade das pessoas do Ver-o-Peso e ali decidiu consolidar sua veia artística.
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Como foi se aproximar do público que chegaste às ruas? O Vero-Peso, hoje teu local de trabalho, foi um palco receptivo para uma artista estreante? Eu fui para as ruas divulgar a Geração Eletrizante para conseguir mais shows. Em 2010, eu cantava de porta em porta em Belém com a mala cheia de CDs, sem microfone e caixa, só com as músicas mesmo. Mas foi uma fase que durou pouco, muitas pessoas me ridicularizavam, me chamavam de doida. Foi quando, em uma esquina do bairro do Jurunas eu vi o Bacalhau trabalhando numa bike-som (bicicleta com pequenos e potentes sistemas de som instalados) e me apresentei. Foi ele quem me lançou na cidade e me trouxe ao Ver-o-Peso. No início, era expulsa do local, mas eu voltava e ficava sempre ali, atrás dos bares, até que fui conquistando todo mundo. Não havia artistas que faziam isso aqui, se apresentar no meio da feira. Os feirantes olhavam aquela “arrumação” e achavam engraçado. Depois eles foram me ajudando, dando ideias, como usar o chapelão, porque eu canto debaixo do sol. DEZEMBRO 2014
“Eu Estou Apaixonada Por Você” impulsionou tua carreira das ruas para as rádios e aparelhagens de Belém, se destacando entre as músicas mais tocadas do ano passado. Por que decidiste gravar essa versão de uma canção de 1966 de Roberto e Erasmo Carlos? Essa era a música que a minha mãe mais gostava. A primeira gravação que fiz dela foi em um CD da “Geração”. Nós achamos que ficou tão bonita que a escondemos na 8ª faixa com medo que o Roberto Carlos processasse a gente. Minha mãe morreu há quase dois anos. Poucas horas antes dela falecer, eu cheguei no ouvido dela e cantei: “Nessa minha vida agitada...”. Depois disso, eu enterrei tudo, não quis mais saber de música. A minha mãe era tudo, ela passava noites comigo nas aparelhagens, mostrando o CD, cartaz, pedindo para os DJs rodarem nossas músicas. Fiquei cinco meses chorando a morte dela. Então as coisas começaram a acontecer muito rápido. “Eu Estou Apaixonada Por Você” estourou. Tocava direto em todas as aparelhagens e quando chega a esse ponto é porque
sua música já faz muito sucesso. Eu fiquei muito emocionada e pensei: “Poxa, que pena que a minha mãe não está aqui para ver isso”. Mas foi com o vídeo desse hit que tu conquistaste visibilidade nacional. “Eu Estou Apaixonada Por Você”, o clipe, já tem milhares de acessos em poucos meses no Youtube. Como surgiu a ideia? Em fevereiro deste ano, eu estava me apresentando na praça da República e conheci os meninos da Platô (Produções, realizadora do clipe). Eles ficaram surpresos ao saber que eu era a cantora de “Eu Estou Apaixonada Por Você”. Até então ninguém sabia como eu era. Aí eles tiveram a ideia do clipe e eu, mesmo desconfiada, aceitei. Quinze dias depois eles apareceram no Ver-o-Peso, aí fizemos um roteiro, eu dei a minha ideia, eles deram a deles. A minha era totalmente fora da realidade. Era glamour mesmo, sair da pobreza. E eles disseram “Não, mas tu não estás fazendo sucesso no Ver-o-Peso? Pois vais ficar aqui dentro do Ver-oPeso mesmo”. Então é assim que eu pretendo construir minha carreira.
Além de Roberto Carlos, já regravaste canções antigas de outros artistas como Raul Seixas. Teu repertório, em geral, tem um tom saudosista, mesmo assim as crianças e os jovens estão entre o teu grande público. Foi uma surpresa ver que os jovens gostam da minha música. Realmente eu não sei, acho que primeiro eles buscaram a minha história. Aqui no Pará, muitas pessoas, principalmente os jovens, nem sabem que “Estou Apaixonada por Você” é do Roberto, porque a minha versão é muito diferente, tem uma batida moderna e agitada. Inclusive ele ouviu a música. E o que ele achou? O medo do processo se concretizou? Não (risos). Ele gostou muito da minha versão. O empresário dele entrou em contato com a minha produtora e registrou “Eu Estou Apaixonada por Você”. Hoje, ele recebe os direitos da música. No disco mais recente, adotaste um novo título: a Índia Apaixonada. De onde surgiu esse codinome? A figura do índio te inspira? Convivi com indígenas e visitei várias aldeias no sul do Pará, na década de 1990. Eu gosto de tudo que diz respeito ao índio, acho de uma beleza extraordinária as culturas deles, o cabelo, a cor de pele. Faço questão de me parecer com uma índia. Por causa disso e da música “Eu Estou Apaixonada Por Você” as pessoas na rua começaram a me chamar assim, por que tem o Índio Apaixonado, que é o Frankito (Lopes, cantor de brega goiano). E eu gostei. Em Macapá, não me conhecem como Gina Lobrista, só como a Índia Apaixonada. O sucesso do clipe influenciou a tua carreira e a rotina de artista de rua no Ver-o-Peso? Com certeza influenciou, o número de shows aumentou bastante, tenho recebido propostas de fora do Estado e até de fora do país. Agora eu tenho um produtor nacional, um empresário e a primeira coisa que eu pedi foi para ele não me afas-
tar do povo, da feira. A minha bolsa está cheia de CDs que eu vou vendendo na rua. Às vezes, saio de casa sem um real no bolso e volto com R$ 200, R$ 300, só das vendas. E isso me faz muito bem. E quais serão os teus próximos passos diante de todo esse reconhecimento? Estou gravando um novo CD com menos regravações e muitas músicas inéditas minhas, de compositores paraenses, como o Tonny Brasil, Manoel Cordeiro, Edilson Moreno e também de pessoas que frequentam o Ver-o-Peso, compositores desconhecidos e me dão músicas. Até o fim do ano, o pessoal da Platô vai filmar o meu segundo clipe, também no Ver-o-Peso, só que em um fomato acústico, de noite, reunindo as pessoas daqui em volta das escadas do mercado.
Do veropa para o mundo
Devido ao sucesso nas rádios e na internet, Gina Lobrista começa receber convites para apresentações fora do Estado e até do País
Assista ao clipe “Eu estou apaixonada por você”, da cantora Gina Lobrista
USE um leitor de QR Code para ouvir o som de Gina Lobrista
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ARTE REGIONAL MARCELO SEABRA / ARQUIVO O LIBERAL
Singelas notas natalinas Herança MUSICAL do século XVIII, os madrigais e AS cantatas tomam conta das programações de fim de ano na cidade TEXTO Moenah Castro 58 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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SENSIBILIDADE
Com apresentações em locais históricos, como a Igreja de Santo Alexandre, o Madrigal da Uepa executa um repertório que mistura canto coral e a música lírica. “Qualidade de tocar as pessoas”, diz o professor Milton Monte.
as áreas. O objetivo é divulgar a Música Antiga, que vai do período Medieval ao Barroco, e ampliar, no meio acadêmico e na população leiga a visibilidade deste tipo de execução. Seus concertos já ocuparam diversos espaços da cidade, como Theatro da Paz, Igreja de Santo Alexandre, Teatro Maria Sylvia Nunes, Catedral Metropolitana de Belém, Igreja do Carmo e outros. “É um desafio muito bom porque chega um aluno de Ciências da Religião, por exemplo, e juntos estudamos e trabalhamos a voz dele. Ao contrário do que se pensa o coral não é o mais fácil. É difícil conseguir harmonizar todas as vozes”, explica Adnaldo. Na última seleção foram ofertadas 17 vagas para regente, pianista, tenores, barítonos, baixos e mezzo-sopranos. Quem se inscreve e é aprovado na prova prática recebe uma bolsa para se dedicar ao projeto. O regente Adnaldo Souza diz que o grupo também incorpora música contemporânea brasileira de compositores como Caetano Veloso e Chico Buarque, e paraense, como as do maestro Waldemar Henrique.
DIVULGAÇÃO
P
apai Noel, família reunida, presentes... Para celebrar o Natal são vários os elementos que não podem faltar, e a música é um deles. É por isso que os corais e os madrigais são tão presentes nas programações culturais de fim de ano. “Nessa época do ano, as pessoas ficam mais sensíveis e o canto coral e a música lírica têm essa qualidade de tocar as pessoas”, afirma o professor da Escola de Música da Universidade Federal do Pará, Milton Monte, que também é regente e barítono. Segundo ele, em Belém, tais formatos são tão antigos quanto a própria tradição de se festejar o Natal. O começo do século XVIII é apontado por Monte como o período inicial desse costume na capital, uma vez que os europeus que moravam na cidade “importaram” as composições da hábitos do período natalino. A Catedral Metropolitana de Belém foi palco de ladainhas, hinos e corais. Ainda no final do mesmo século, óperas lotavam o Theatro da Paz. Em 1862, o Conservatório Carlos Gomes foi criado para também ensinar e receber o estilo musical em Belém, sendo o terceiro desse gênero no Brasil. Desde então, essa tradição se perpetua no Estado. “Eu passei 10 anos fora do Pará e na volta percebi muitas mudanças positivas”, diz o professor. Outro exemplo positivo do cultivo da tradição musical natalina na cidade é o Madrigal da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Fundado em 2001 por Milton Monte, mais de 100 cantores já passaram pelo projeto. As apresentações acontecem em diferentes lugares e datas, mas já se tornaram tradicionais no período do Natal. O professor e atual regente do projeto, Adnaldo Souza, explica o que madrigal é uma forma de unir poesia e canto. “É diferente de um coral porque nele juntamos coristas e solistas e conta com um número menor de cantores”, comenta. A atividade é um projeto de extensão da Uepa e recebe estudantes de todas
ETERNAS CANÇÕES O que não pode faltar no repertório do Madrigal da Uepa O Glória, de Antonio Vivaldi Estilo: Barroco. Ano: 1717 White Christmas, com libreto de David Ives Paul Blake e letra de Irving Berlin Estilo: Canto Coral. Ano: 1954 Chorinho Natalino, com letra e música
PROFISSIONAIS
São projetos desse tipo que fortalecem o cenário musical paraense. Segundo Milton Monte, o Pará já exporta muitos profissionais qualificados e conta com professores competentes e de carreira sólida. “O que precisamos é de projetos que propiciem a permanência desses profissionais no Estado. Temos ótimos profissionais que seguem carreira no sul ou fora do País”, destaca. “Nós somos muito emotivos. Essa mistura de portugueses, índios e negros nos torna muito amantes da música e da arte”. Para Milton, essa é a razão do sucesso de público e do envolvimento instantâneo deste com essas apresentações musicais. “É incrível como mesmo as pessoas leigas se envolvem e se emocionam. Público nós temos e o período natalino é muito propício para isso, para essa emoção”, completa. Já para Adnaldo Souza, o difícil é não se encantar, já que a “música alegra a alma e a arte educa”. E dezembro é uma ótima oportunidade para quem gosta ou tem vontade de co-
de José Vieira Brandão Ano: 1980 Aleluia, 42º movimento do oratório Messias, de Georg Friedrich Händel Estilo: Barroco. Ano: 1741 O Oratório de Natal (1ª parte), de Johann Sebastian Bach Estilo: Barroco. Ano: 1734
nhecer esse trabalho. Este ano, o professor Milton Monte, pós-graduado pela Escola Guildhall School of Music and Drama, de Londres, coordena a Ópera Dom Pasquale, que faz parte da programação do Encontro de Arte de Belém (Enarte). A peça é uma ópera cômica, dividida em três atos do maestro Gaetano Donizetti. Estreou em 1843, no Teatro Italiano, na França. A famosa comédia será apresentada no dia 12 de dezembro. Mais informações pelo (91) 9144-2527. DEZEMBRO 2014
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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
O engenheiro que regia o TEMPO TEXTO rosana medeiros ilustrações jocelyn alencar
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Sebastião Sodré da Gama 1883-1951
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oram os egípcios e parte dos povos da Ásia ocidental que primeiro organizaram o dia em 24 horas. Para isso, usaram uma haste vertical fincada no centro de uma superfície circular, projetando uma sombra do Sol para indicar o tempo. De lá para cá muita coisa mudou. Os países unificaram a medida da hora, criando o fuso horário e o horário de verão. No Brasil, o paraense Sebastião Sodré da Gama se destacou como um dos responsáveis por aperfeiçoar o serviço da marcação das horas. Sebastião nasceu em 7 de novembro de 1883. Pouco conhecido no Pará, teve ligação com quatro importantes instituições de ensino e pesquisa brasileiras: a Escola Politécnica, a Academia Brasileira de Ciência, o Conselho Nacional de Geografia e o Observatório Nacional. Ele estudou o ensino médio no Colégio Paes de Carvalho e o ensino superior na mais afamada escola de engenharia do País, a Politécnica, do Rio de Janeiro. Formou-se engenheiro geógrafo em 1911, tendo cursado as “cadeiras fundamentais”, entre elas a de astronomia. Em 1913, apenas dois anos após sua formatura, foi aprovado para professor substituto na Escola Politécnica, onde trilhou uma longa carreira docente, chegando ao posto de professor catedrático nas disciplinas de cálculo das variações, em 1915, geometria descritiva, em 1918, geometria analítica, em 1919, e cálculo das variações e mecânica racional, em 1925. Seus anos de estudante da Politécnica lhe rendaram boas amizades como os engenheiros Fonseca Costa e Francisco Sá Lessa. Juntos, fundaram a Academia Brasileira de Ciência, em 1916. Em 1939, integrou o Conselho Nacional de Geografia como astrônomo de campo. Mas o momento mais importante de sua carreira aconteceu em 1929, quando foi nomeado diretor do Observatório Nacional, cargo que exerceu até 1951. Apesar de ser um nome importante no cenário intelectual brasileiro daquele período, a indicação de Sebastião Sodré da Gama para a direção do Observatório Nacional não foi bem aceita por alguns colegas. Para Ruy Guilherme de Almeida, coordenador do
Grupo de Estudo e Pesquisa em História e Filosofia da Ciência na Amazônia, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), isso pode ter ocorrido por duas questões. “Ou porque ele não era reconhecidamente um astrônomo ou pelo fato de que quem o nomeou foi o então presidente Getúlio Vargas, (considerado) um ditador”. Se, hoje, anualmente, os brasileiros têm quatro meses de horário de verão, com impacto direto no consumo de energia e na economia, devem em parte aos esforços do engenheiro paraense. O primeiro horário de verão do Brasil foi instituído entre 1931 e 1932, com duração de cinco meses. Além disso, seu trabalho conferiu ao Serviço da Hora no Brasil o reconhecimento do Serviço Internacional de Longitudes como estação fundamental da hora no Hemisfério Sul, conta Ruy Guilherme. Sebastião também iniciou a construção de uma série de estações magnéticas por todo o País, sendo 26 estações implantadas até 1930. Uma dessas foi construída na Ilha de Tatuoca, no Pará. Os resultados de registros da estação sobre a variação diurna do campo magnético local, em uma pesquisa que durou cinco meses, foram publicados pelo Danish Meteorological Institute, em 1933. Em 1949, o paraense estabeleceu parcerias com o Observatório de Greenwich para estudos das irregularidades para o longo período de rotação da Terra, com observações de ocultações de estrelas pela Lua. Além de alavancar a atuação prática do Observatório Nacional, Sebastião fez história também internamente, sendo o responsável pelo regimento de 1940, que reestruturou o centro de pesquisas e possibilitou a ampliação do quadro de funcionários. Sebastião Sodré da Gama morreu no dia 8 de janeiro de 1951, aos 68 anos, no Rio de Janeiro. Em sua homenagem, a lei n° 6149, de 1998, denomina o Planetário do Pará com o nome do engenheiro. O paraense também foi homenageado recentemente, em ocasião dos 15 anos do planetário. Para o biólogo Thomas Xavier Carneiro, do Centro de Ciências e Planetário do Pará, a história de Sebastião “serve como exemplo para todos os DEZEMBRO 2014
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AGENDA Vantoen Pereira Jr / Agência Vale
MESTRADO Estão abertas as inscrições para o curso de mestrado 2015/2016 do Programa de PósGraduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários (PPGBAIP) da Universidade Federal do Pará (UFPA). São ofertadas dez vagas para a “Área de Concentração em Agentes Infecciosos e Parasitários (AIP)” e outras cinco são para a “Área de Epidemiologia e Controle de Agentes Infecciosos (ECAI). Os interessados tem até o dia 9 de janeiro pra se inscreverem, por meio do site www.portalfadesp.org.br.
DESIGN Uma das fases de produção mais famosas do artista, arquiteto e designer paulista Cláudio Tozzi está em cartaz no Centro Cultural Sesc Boulevard, em Belém. Intitulada “Canteiro de Obras”, a mostra é composta por serigrafias no estilo pop art, com cores, formas e enquadramentos típicos dos quadrinhos da década de 1960. A exposição fica aberta até 28 de dezembro e prioriza temas urbanos e apresenta o olhar do artista sobre os grandes acontecimentos que marcaram a sociedade na época, como os protestos dos estudantes contra a ditadura militar. Contatos: (91) 32245305 e 3224-5654.
PARQUE
SOSSEGO 10 ANOS Exposição
O Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT
“Sossego 10 anos” é o tema da mostra fotográfica aberta na Casa da Mineração, em Belém. A exposição é uma realização da Vale, em parceria com o Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral). O Brasil passou a ser exportador de cobre a partir da operação do Sossego. A mina começou a operar há 10 anos e com ela a Vale se consolidou com uma das maiores empresas de mineração diversificada do planeta. A mostra apresenta também as diversas tecnologias usadas no Sossego e os benefícios gerados pela operação de cobre, em Canaã dos Carajás. Os visitantes podem conferir a exposição até o final de dezembro, na Casa da Mineração, localizada na travessa Rui Barbosa, n° 1536, entre as avenidas Braz de Aguiar e Gentil Bittencourt. A mostra fica aberta de segunda a sexta, de 9h às 11h e das 14h às 17h. Informações pelos números (91) 32304045/ 3230-4066. A entrada e gratuita.
A exposição “A Festa do Caium - Ka’apor akaju kawĩ ta’yn muherha” está aberta para visitação pública no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. A mostra é dedicada à Festa do Cauim, celebração que marca vários ritos de passagem do povo indígena Ka’apor, como a iniciação feminina, o casamento, a posse do cacique e principalmente a nominação das crianças. Durante o trajeto expositivo, os visitantes poderão ver um rico acervo da cultura material Ka’apor, como objetos de arte plumária, cestaria, flechas,
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adornos de miçangas e sementes, desenhos, além de indumentárias masculinas e femininas. Outro ponto importante da mostra são fotografias do acervo do Museu do Índio e vídeos de registro da festa do Cauim, com imagens capturadas na década de 1960 e em 2007 nas aldeias Ka’apor. A exposição segue até 28 de setembro de 2015. As visitações ocorrem das terças-feiras aos domingos, de 9h às 17h. A entrada é gratuita. Mais informações pelos telefones (91) 3182-3200 e 3182-3231.
novo edital para a Concessão Onerosa de Uso de quatro lotes em áreas do parque paraense. As empresas de base tecnológica com perfil inovador interessadas devem apresentar propostas no dia 30 de abril de 2015, às 9h, na sede do PCT Guamá. O edital está disponível na página www.pctguama.org.br. HELY PAMPLONA
RITUAIS indígenas
Guamá) está com inscrições abertas para o
Faça VocÊ meSmo
uma GUIRLANDA sustentável Estamos no mês do Natal! Ter uma guirlanda em casa traz um tom “noélico”, mas uma guirlanda com materiais reaproveitáveis vai muito mais além do espírito fraterno desse período. Nesta edição, a Fundação Curro Velho apresenta uma nova forma de se confeccionar uma guirlanda, ornamento feito com flores e ramagens, velho conhecido da decoração natalina, que foi criado pelos gregos antes mesmo do nascimento de Jesus Cristo, há 2.014 anos, segundo a tradição cristã. Por ter o for-
Conceiç Maria da
mato circular, simboliza o recomeço e a prosperidade de uma nova era. Para resgatar o verdadeiro espírito de Natal, e também relembrar valores fundamentais, dentre os quais a defesa do meio ambiente e a sustentabilidade, vamos ensinar a fazer uma guirlanda sustentável com pastas de arquivo usadas em escolas, consultórios médicos e escritórios. Mas diversos materiais podem ser usados na confecção do objeto. A criatividade é livre, como o espírito do bom velhinho Noel.
, 66 ão Santos
a nos
DO QUE VAMOS PRECISAR?
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Pastas de plástico de arquivo verde e vermelha Fio de nylon Arame Alicate Agulha Tesoura com pontas arredondadas Retalhos Copo descartável de 300 ml
INsTRuTORA hElENA SEgToWich cOlABORAÇÃO dEUSARiNA vAScoNcEloS FOTOs AlySSANdRA MoURA
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aTEnçÃO: essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável
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Para começar, faça o molde da roda no pedaço de papelão com a boca do copo; Com a tesoura, recorte o desenho do círculo.
Atenção: separe 12 rodas de cada cor. Em seguida, enfie o arame nos furos e, assim, sucessivamente até acabar de transpassar todas as rodas.
Agora, faça fuxicos com retalhos para decorar a guirlanda sustentável.
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Com esse molde em mãos, faça 360 rodas com as pastas, sendo 180 de pastas vermelhas e 180 de pastas verdes.
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Depois de completar toda a guirlanda, prenda ou amarre as pontas para compor o arco.
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Estamos quase lá. Com a agulha, costure os enfeites na guirlanda.
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Com a agulha, faça um furo no meio de cada roda.
Completando a decoração, faça o molde de bengala ou meia de Natal, recortando na pasta da cor que preferir.
“Jingle Bells”: agora é só pendurar a guirlanda de pasta de arquivo. Tenha um feliz e sustentável Natal!
PARA SABER MAIS Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas da Fundação Curro Velho, do governo do Estado do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109.
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recorte aQui
Faça VocÊ meSmo
BOA HISTÓRIA
leonardo nunes
Dica divina Artistas e sonhos não envelhecem. Está nas músi-
cas, na filosofia, no povo, na realidade de quem ostenta a arte na fronte branca, nas mãos salpicadas de sol, no azul dos olhos que um dia foram castanhos intensos e agora parecem enxergar o que, nós, mortais, jamais teremos a chance de ver. Mas, está principalmente no riso de quem superou a existência e se tornou lenda viva. Quando Raimunda Rodrigues Frazão, de 94 anos, surge, pequena, na cozinha de sua casa-museu os sinais de eternidade se abrem, evidentes. Estão todos nela: musicalidade, sabedoria, os cabelos nevados, que ela teima em dizer que não tem. E eu acredito nela, embora os veja. Talvez Dica Frazão, como é mundialmente famosa, seja a artesã mais velha em atividade no Pará. Nos seus 1,38 de altura, ela recebe em pessoa quem visita sua casa e apresenta o relicário de peças feitas com uma habilidade única em fibras, cascas, palhas, segredos
de bordadeira. Naquela tarde de novembro, abriu as portas de seu museu, no Centro de Santarém. De cadeira de rodas, memória nada menos que impressionante, voz firme e uma impaciência adorável para lentidões desnecessárias, ela mostrou suas mágicas criadas com as mãos que ignoram limitações e tecem, costuram, cerceiam, emendam, criam. Estão expostas nas vitrines as obras da estilista que encantaram presidentes, adornaram princesas e chegaram às mãos até do papa João Paulo II. Mas, quem disse que o mais fantástico do Museu Dica Frazão está em suas peças? São elas espetáculo à parte em delicadeza, qualidade e engenho, o legado em si da artista para quem quiser conhecê-la a posteriori. Porém, Dica é a grande joia do recinto, transmutada em doçura e história de vida narrada em detalhes de só quem viveu intensamente pode realçar com tamanha precisão. De Capanema, onde nasceu, a Santa-
rém, lugar de seu brilho maior, são mais de sete décadas em que Dica travou suas batalhas com a vida, amou sem concessões, viu seu primeiro marido perder a noção da realidade, criou sete irmãos, sete filhos naturais e nove adotivos com dignidade ímpar. E, no intervalo, tornou-se “divina”, como artesã, termo que ela usa, sem nenhuma modéstia ou medo de errar. Dica precisa de apoio para o Museu, mas não tem ilusões na espera e faz sua parte. Quer viver muito ainda. E, ao visitá-lo, rogo que seu desejo se concretize. No caderno de visitas do museu, um francês atrevido escreveu, junto à assinatura, uma ordem a ela: “você está proibida de nos deixar”. Na saída, dou-lhe um beijo e recebo outro, e repito a ordem. Ela sorri e acena. Há muito deixou essas questões menores para nós, que não tivemos a fortuna de bordar a existência com os fios imperecíveis da arte, como ela o fez com tanto amor e eficiência. DEZEMBRO 2014
Anderson Araújo
é jornalista, escritor e blogueiro
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NOVOS CAMINHOS
Áreas verdes, UM direito dos cidadãos Num irônico piquenique
THIAGO BARROS
é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEAUFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros
em uma praça árida e sem cor no centro de Beirute, a jovem Dima Boulad e outros ativistas protestaram contra a ausência de parques públicos e outros tipos de áreas verdes na capital e maior cidade do Líbano, que abriga 1,8 milhão de pessoas. Há cerca de três anos, quando plantou um naco de grama na areia, Dima mandou um recado para o mundo todo, que, auxiliado pelas redes sociais, ecoou como um problema comum: a frustração da toada do desenvolvimento dos centros urbanos, sem priorizar necessidades básicas para a qualidade de vida da população. Os protestos do grupo de Dima cresceram e deram origem ao Beirut Green Project (BGP), que tem pressionado o poder público libanês. Com apenas 0,8 metro quadrado de áreas arborizadas por pessoa, índice muito inferior aos 12 metros quadrados recomendados pela Organização Mundial da Saúde, Beirute poderá ser uma das primeiras cidades do planeta a obrigar, por lei, a criação de espaços verdes em terraços, tetos de casa e muros. Em novembro, a ativista libanesa representou o BGP no seminário de arquitetura e urbanismo Arq.Futuro, no Rio de Janeiro, que teve os debates centrados nos parques do Brasil. Mas o link de Dima Boulad com o Brasil não para no evento feito no Rio. O apelo que surgiu em Beirute, no Oriente Médio, se encaixa muito bem à realidade de metrópoles encravadas na floresta amazônica, mas contraditoriamente detentoras dos menores índices de arborização do
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País, de acordo com o IBGE: Belém e Manaus, que, juntas, têm quase 4 milhões de habitantes. Na última década, as maiores cidades da Amazônia Brasileira avançaram na oferta de áreas de convivência e lazer, como o Parque dos Bilhares – construído no centro de Manaus – e o Portal da Amazônia – um calçadão na orla do rio Guamá, em Belém –, mas ainda caminham lentamente na implementação de grandes parques, a exemplo do Ibirapuera, em São Paulo. É importante dizer que a capital paulista tem outros 93 parques com bosques, lagos, campos de futebol, ciclovias, aparelhos para ginástica e pistas para corrida. Nesse sentido, no entanto, Belém deve ganhar boas notícias nos próximos anos. O Museu Goeldi e o Bosque Rodrigues Alves, fragmentos de floresta cercados por avenidas, deverão ganhar o apoio de mais duas áreas para a prestação de serviços ambientais e sociais à cidade: a revitalização e readequação do Parque Ambiental do Utinga, que protege os mananciais que abastecem a região metropolitana, além da possível criação de um superpaque de 60 hectares onde hoje funciona o Aeroclube. Contudo, iniciativas assim só poderão se tornar efetivas com o envolvimento da população. Como reforça Dima Boulad, “as pessoas precisam primeiro conhecer os seus parques, para, então, lutar por eles”. Só assim os espaços verdes nas cidades não serão considerados privilégio secundário, mas, sim, um direito de todo cidadão.
“Na última década, as maiores cidades da Amazônia Brasileira avançaram na oferta de áreas de convivência e lazer”
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