Revista Amazônia Viva ed. 46 / junho de 2015

Page 1

REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

JUNHO 2O15 | EDIÇÃO NO 46 ANO 4 | ISSN 2237-2962

BURITI

ALIADO NATURAL DA SAÚDE E DA BELEZA AS PROPRIEDADES DERMATOLÓGICAS DO FRUTO EXTRAÍDO DA FLORESTA AMAZÔNICA ALAVANCAM A INDÚSTRIA DE BIOCOSMÉTICOS NO PAÍS E INCENTIVAM AS PESQUISAS SOBRE OS VEGETAIS DA REGIÃO

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO




CARLOS BORGES

DA EDITORIA

PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA JUNHO 2015 / EDIÇÃO Nº 46 ANO 4 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAN Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor Corporativo de Jornalismo WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA

BOM PRA QUASE TUDO

O óleo de copaíba, vendido também em cápsulas, é usado contra inflamações e até como loções hidratantes e espumas de banho

COSMÉTICOS E MEDICAMENTOS SAÍDOS DA TERRA

FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe 4 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

O número cada vez maior de

do também investimentos, aliados

pesquisas em diversos segmentos

à necessidade de uma produção

sobre os “produtos da floresta ama-

sempre sustentável.

Diretor de Novos Negócios RIBAMAR GOMES Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR Diretores JOSÉ EDSON SALAME JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB

zônica” é no mínimo animador. E

Para se ter uma ideia, de acordo

no caso dos biocosméticos e fito-

com o professor José Carréra, do

medicamentos, tema de capa desta

Laboratório de Pesquisa e Desen-

edição de junho, chama a atenção o

volvimento Farmacêutico e Cos-

emprego das propriedades naturais

mético, da Universidade Federal do

Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Universidade Federal Rural da Amazônia, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho (acervo); Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Abílio Dantas, Brenda Pantoja, Bruno Rocha, Sávio Oliveira, Vito Gemaque, Rosana Medeiros, Arnon Miranda, Natália Mello, Dominik Giusti (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Bruno Rocha (produção); Hely Pamplona, Carlos Borges, Fernando Sette, Roberta Brandão, Oswaldo Forte (fotos); Thiago Barros (artigo) André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem).

dos frutos e ervas da região em um

Pará (UFPA), a indústria dos biocos-

FOTO DA CAPA Cesto de buritis, por Carlos Borges

setor industrial que cresce a cada

méticos foi uma das que mais cres-

ano no País, movimentando mi-

ceram e se reiventaram nos últimos

lhões de reais na economia.

20 anos no Brasil, puxada, além da

AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará. amazoniaviva@orm.com.br

O uso de produtos regionais

preocupação com a saúde e o bem-

como açaí, cupuaçu, buriti e tan-

estar, por uma “consciência verde”

tos outros ultrapassa as barreiras

que vem se consolidando no mun-

da gastronomia para chegar às

do. Mas muito, principalmente em

prateleiras de farmácias e lojas es-

relação à Amazônia, ainda precisa

pecializadas em beleza e estética. A

ser estudado. “Temos a maior bio-

demanda desses mercados exige a

diversidade do planeta, mas tam-

todo instante inovações no setor, o

bém a mais desconhecida em todo

que estimula novos estudos, atrain-

o mundo”, alerta o pesquisador.

JUNHO DE 2015

PRODUÇÃO

REALIZAÇÃO

PATROCÍNIO

REVISTA IMPRESSA COM O PAPEL CERTIFICADO PELO FSC - FOREST STEWARDSHIP COUNCIL


JUNHO 2O15

NESTA EDIÇÃO

EDIÇÃO Nº 46 / ANO 4

CARLOS BORGES

ESTÉTICA E SAÚDE

38

Frutos regionais, como a castanha-do-pará, possuem amplas propriedades empregadas na indústria de biocosméticos e fitomedicamentos. ASSUNTO DO MÊS ROBERTA BRANDÃO

36 16

FERNANDO SETTE

ROBERTA BRANDÃO

ROBERTA BRANDÃO

54

58

PARCERIA

COSTURA

O gerente de Inteligência

A professora de modelis-

HISTÓRIA

e Desenvolvimento de

ARTE GRÁFICA

mo Cristiane Albuquer-

Pró-reitor do curso de Re-

Fornecedores da Vale,

Com pincel, tintas e uma

que deixou de lado as

lações Internacionais da

Luiz Scavarda, afirma

tela, o artista plástico

réguas e os moldes tradi-

UFPA, o arquiteto Flávio

que estabelecer relações

PP. Condurú é ousado em

cionais dos manuais de

Nassar coordena o Fórum

diretas entre empresas

suas pinturas de grandes

costura para se dedicar

Landi, que se debruça so-

e fornecedores locais

dimensões, impregnadas

aos cortes baseados nos

bre as obras do arquiteto

propicia o desenvolvi-

de um talento muito

princípios da antropo-

italiano em Belém.

mento da região.

peculiar.

metria.

QUEM É?

OUTRAS CABEÇAS

DEDO DE PROSA

ARTE PESQUISADA

4 6 7 11 13 15 17 17 18 19 19 20 20 21 21 22 24 46 49 49 50 60 62 63 65 66

E MAIS DA EDITORIA

AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES AMAZÔNIA CONNECTION PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS COMO FUNCIONA FATO REGISTRADO DEU N’O LIBERAL CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE ELES SE ACHAM DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS EM NÚMEROS OLHARES NATIVOS COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL BONS EXEMPLOS MUDANÇA DE ATITUDE VIDA EM COMUNIDADE MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5


ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES

DOCUMENTÁRIO

HELY PAMPLONA

Excelente iniciativa dos realizadores do documentário “Mestres Praianos do Carimbó de Maiandeua” (“Carimbó na Praia”, Vida em Comunidade, maio de 2015, edição nº 45). É um grande registro audiovisual de nossa cultura popular. Rogério Pantoja Belém-Pará Conheço os mestres de carimbó de Algodoal e fiquei muito feliz em ver seu trabalho divulgado

O VOO SINGELO QUE CORTA A PAISAGEM

O instante preciso do rasante da garça no Ver-o-Peso registrado pelo fotógrafo Hely Pamplona foi a foto mais curtida em nosso Instagram na edição de maio.

nas páginas da Amazônia Viva. Yullianne Dias Belém-Pará

ARQUIVO PESSOAL

CONSTRUÇÃO Parabéns ao engenheiro Bernardo Moraes Neto por se dedicar a pesquisas de alternativas para a construção civil (Quem É?, maio de 2015, edição nº 45). Na era da sustentabilidade precisamos encontrar soluções para o caos urbano da atualidade. Paulo Henrique Penna Belém-Pará

PESCA Com o título sugestivo “Ensinando a pescar”, a

SOLUÇÃO PARA O BAGAÇO DO MIRITI

reportagem da Amazônia Viva (Vida em Comu-

O estudante paraense Maurício Pantoja, de 18 anos, criou uma forma de reaproveitamento das sobras do miriti convertendo-as em ração para animais. Ganhou o maior número de curtidas em nosso Facebook. No mês passado, ele foi aos Estados Unidos apresentar o projeto sustentável.

o importante é investir e formar o cidadão em uma profissão e não o aparando com programas sociais paternalistas. A comunidade de Outeiro agradece. Sandrelena Maia Belém-Pará

CARLOS BORGES

SIGA A AMAZÔNIA VIVA NAS REDES SOCIAIS E COMPARTIHE A EDIÇÃO DIGITAL, DISPONÍVEL GRATUITAMENTE NO ISSUU.COM/AMAZONIAVIVA

nidade, abril de 2015, edição nº 44) mostrou que

Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários,

fb.com/amazoniavivarevista

dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva

instagram.com/amazoniavivarevista twitter.com/amazviva 6 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE MAIO

Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.


O QUE É NOTÍCIA PARA A AMAZÔNIA ADOLFO LEMOS/ ASCOM UFPA

PRIMEIROFOCO

PUPUNHA DE TODO JEITO

DE CASQUINHA DE SORVETE A MACARRÃO SEM GLÚTEN, UM DOS PRINCIPAIS FRUTOS CONSUMIDOS NA AMAZÔNIA GANHA NOVAS POSSIBILIDADES GASTRONÔMICAS GRAÇAS A PESQUISAS CIENTÍFICAS PÁGINA 8

ARRASTÃO O Instituto Arraial do Pavulagem lança campanha de financiamento coletivo para realizar os cortejos culturais deste mês nas ruas de Belém. PÁG.9

PRESERVAÇÃO Fapespa e UFPA iniciam parceria com comunidades para a implantação do Parque Tecnológico de Tucuruí. PÁG.13

FAUNA Cientistas descobrem nova espécie de macaco nativa da região amazônica, o zoguezogue-rabo-de-fogo, do gênero Callicebus. PÁG.14

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 7


PRIMEIRO FOCO

AO SABOR DA PESQUISA

O

café quente acompanhado da pupunha cozida é uma das delícias da culinária paraense. É comum, no entanto, que os vendedores e feirantes escutem reclamações do tipo “essa pupunha tá muito seca” ou “essa não é da boa”, dependendo da variedade do fruto, como a vaupés, que tem uma polpa mais seca e menos gordurosa do que a pupunha tradicional. Por não agradar a maioria dos consumidores, este tipo tem um valor comercial inferior, apesar de seu elevado valor nutricional. Na composição da vaupés são encontrados fibra, selênio, provitamina A e compostos bioativos. A riqueza pouco conhecida desse tipo de pupunha incentivou estudos que criam um novo mercado de produção e consumo para o fruto. Esta foi a linha de pesquisa de Marlia Barbosa Pires, na dissertação “Obtenção de farinhas de pupunha ( Bactris gasipaes Kunth) para aplicação no desenvolvimento de produtos”, realizada no Programa 8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA), do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará, sob orientação dos professores Antonio Manoel Rodrigues e Luiza Helena Meller. “O estudo apresenta as propriedades que são consideradas visando à aplicação industrial da farinha, além de demonstrar em quais produtos ela poderia ser utilizada e as possibilidades de obtermos um resultado positivo”, explica a pesquisadora. As farinhas elaboradas a partir da vaupés foram analisadas em laboratório e a prioridade foi avaliar algumas propriedades, como capacidade de absorção de água e de óleo. Marlia conta que as análises apontaram os produtos de panificação como os mais adequados para o uso da farinha da pupunha. Pães, bolos, panetones, sopas e mingaus são alguns dos alimentos que podem ter o produto como ingrediente. A pesquisa foi desenvolvida em parceria com o Centro de Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade

FOTOS: ADOLFO LEMOS/ ASCOM UFPA

Federal de Santa Catarina, onde também foram realizados alguns experimentos. A dissertação inspirou outros estudos, como o Trabalho de Conclusão de Curso da graduanda em Engenharia de Alimentos Yasmin Nóvoa. Ela desenvolveu um macarrão a partir da farinha da pupunha, que não possui glúten em sua composição, uma característica que poderá atender uma parcela de consumidores diferenciada. As pesquisas não param por aí. O bolsista de Iniciação Científica Paulo Chada trabalhou na elaboração de uma casquinha de sorvete usando a farinha da pupunha. Também sem glúten, ela apresenta sabor muito semelhante ao da casquinha tradicional. Os pesquisadores acreditam que tais resultados contribuem para que a pupunha do tipo vaupés, rejeitada na forma de consumo tradicional do paraense, possa ser valorizada e redirecionada no mercado consumidor. (Com informações de Brenda Rachit/ Revista Beira do Rio-UFPA).

NOVOS PRODUTOS

Os pesquisadores Paulo Chada, Marlia Pires e Yasmin Nóvoa desenvolvem pesquisas sobre novos usos da farinha de pupunha

DELÍCIA

A farinha do fruto tipo vaupés pode ser amplamente usada na panificação


ELISEU DIAS / AGÊNCIA PARÁ

REAPROVEITAMENTO

JOVEM CIENTISTA

Ao desenvolver um adubo com resíduos de peixes, o estudante paraense Moisés Lopes Rodrigues, de 20 anos, da Escola Estadual Rui Barbosa, no município de Tucuruí, conseguiu o 2º lugar na 28ª edição do Prêmio Jovem Cientista, na categoria Estudante do Ensino Médio. Motivado pelo problema do descarte das carcaças dos peixes, ele usou as sobras para desenvolver o produto. Os testes de cultivo foram bem-sucedidos e o adubo tem baixo custo, fácil acesso e produção para o agricultor familiar, capaz de reduzir o uso de

PAVULAGEM SE PREPARA PARA GANHAR AS RUAS Os arrastões do Instituto Arraial do Pavulagem já tem data marcada. Os tradicionais cortejos de rua serão realizados nos dias 14, 21 e 28 de junho e 5 de julho e celebram a rica cultura popular paraense e a quadra junina, quando são homenageados os santos católicos Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal. Neste ano, o Instituto lançou uma campanha de financiamento coletivo para conseguir recursos e tornar possível o folguedo realizado desde 1987. Quem quiser colaborar pode entrar em contato através do site www.eupatrocino.com.br. Em troca da contribuição, serão oferecidos kits com produtos de acordo com o valor doado.

O Arraial do Pavulagem é uma organização autônoma, sem fins lucrativos, criada em 2003. Nesse tempo, tem desenvolvido ações de educação cultural na Amazônia que contribuem para transmitir e fortalecer o saber oral tradicional, através de linguagens como a dança, a música e a visualidade cênica. Seus principais projetos são os cortejos de cultura popular Cordão do PeixeBoi (último domingo de março), Arrastão do Pavulagem (junho) e Arrastão do Círio (outubro). Os cortejos somam-se a oficinas, palestras, seminários, pesquisas, projetos de extensão, rodas cantadas, ensaios, mostras e shows, que valorizam as manifestações artísticas da Amazônia.

fertilizantes químicos e o impacto da atividade pesqueira sobre o meio ambiente. Além disso, Moisés afirma que sua pesquisa pode garantir uma maior rotação de culturas, elevando a ARTE

O Instituto Arraial do Pavulagem promove um dos principais eventos culturais do Estado neste mês

lucratividade. “Nosso objetivo é colocar em prática esse projeto. Já temos uma parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, mas precisamos de mais ajuda para comercializar nosso adubo”, comenta.

COMPROMISSO

BIODIVERSIDADE

Compromisso em escala global para reduzir o índice de perda da biodiversidade. Este foi o pedido da ONU no Dia Internacional da Diversidade Biológica

14

DE JUNHO É A DATA

prevista para o primeiro Arrastão do Pavulagem deste ano

ao destacar o Plano Estratégico para Biodiversidade 2011-2020. “A biodiversidade sustenta todas essas funções e benefícios essenciais para o bem-estar humano nos ecossistemas, não só em termos de nossas economias, mas também para a nossa saúde, segurança alimentar, prevenção de riscos naturais, e as

ANDRÉ ABREU

BICHOS ESTRANHOS

nossas raízes culturais”, disse o secretário executivo da Convenção sobre Diversidade

As dez novas espécies consideradas mais interessantes, entre as

Biológica (CDB), o brasileiro Braulio Souza

mais de 18 mil descobertas nos últimos 12 meses no mundo todo,

Dias. A ONU se prepara para adotar um novo

foram reunidas em uma lista. O “Top 10”, elaborado pelo Suny Col-

conjunto de metas de desenvolvimento em

lege of Environmental Science and Forestry, inclui uma aranha que

setembro durante a Assembleia Geral.

dá cambalhotas e uma rã que em vez de botar ovos, dá à luz girinos desenvolvidos.

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL / FABIO RODRIGUES POZZEBOM / AGÊNCIA BRASIL JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 9


ILUSTRAÇÕES: MÁRCIO EUCLIDES

PRIMEIRO FOCO

BIODEGRADÁVEL

ESPORTE

Cientistas inventam plástico feito de frutas

INCENTIVO

Contribuir para a formação de professores de Educação Física e gestores públicos, de Canaã dos Carajás, em Esporte Educacional. Este é o objetivo do projeto de Formação Continuada lançado pela Fundação Vale, Prefeitura

Você costuma utilizar saco plás-

brapa) desenvolveram uma série de

Municipal e Instituto Esporte Educação (IEE),

tico em seu dia a dia? Infelizmente,

películas comestíveis que funcionam

da ex-atleta e atual empreendedora social,

é muito provável que sua resposta

como plástico. Nos sabores mamão,

Ana Moser. Durante sete meses, um média

seja sim. No entanto, a ciência tem

goiaba, tomate e espinafre, o mate-

de 25 profissionais serão envolvidos em

desenvolvido soluções que podem

rial, além de ser biodegradável, pode

atividades teóricas e práticas de formação

alterar, pouco a pouco, os resultados

ser utilizado também no preparo

pedagógica e gestão da educação. Além de

de questionamentos como esse no

de alimentos. Ao preparar uma pi-

atualização de conceitos e técnicas, os grupos

futuro.

zza, por exemplo, a própria película

terão a oportunidade de elaborar um plano

Pesquisadores da Empresa Brasi-

de ação para qualificar e ampliar ações de

leira de Pesquisa Agropecuária (Em-

pode servir de tempero. O invento é o primeiro do mundo nesse campo.

esporte educacional e educação física no município. “Com a participação no projeto, a

SACO NATUREBA

expectativa é que os profissionais envolvidos

Veja como é produzida a embalagem natural

tornem-se multiplicadores do esporte como premissa de inclusão e participação de todos, independentemente dos potenciais e das

O PROCESSO 1 Primeiramente, a matéria-prima, como frutas e verduras, é transformada em uma pasta.

limitações individuais”, afirmou Camila Abud, analista de esporte da Fundação Vale. Presente

2 A seguir, os pesquisadores adicionam

em 19 estados e 66 municípios brasileiros, o IEE

componentes para dar liga no material e o colocam em uma forma transparente.

já formou mais de 26 mil professores.

POSSÍVEIS USOS Outras possibilidades incluem goiabadas vendidas em plásticos feitos de goiaba, sushis envolvidos com filmes comestíveis no lugar das tradicionais algas e perus vendidos em sacos feitos de laranja, que vão direto ao forno.

BROCKEN INAGLORY / WIKIMEDIA

3 A forma é levada a uma câmara que emite raios ultravioleta. 4 Depois da incidência de raios, o plástico recebe o último processamento e toma forma de filme. 5 Os pesquisadores adicionam, ainda, quitosana, um polissacarídeo formador da carapaça de caranguejos, com propriedades bactericidas, o que pode aumentar o tempo de prateleira dos alimentos. MATÉRIA-PRIMA A película é formada por água, polpa de fruta e carboidratos vegetais. No meio ambiente, se descartado, o plástico natural se decompõe em três meses e pode ser utilizado como adubo, ou mesmo jogado na rede de esgoto, sem prejuízos.

MICROCHIP

TARTARUGAS

Mais de 100 tartarugas-verdes (Chelonia mydas) na reserva biológica do Atol das Rocas, no Rio Grande do Norte, já receberam o microchip que garante o monitoramento seguro dos animais. A espécie está ameaçada de extinção e o projeto, pioneiro no país, ajudará na coleta de dados e na realização de estudos sobre hematologia, taxa de crescimento, hormônios, parasitas e se há algum indício de contaminação por poluentes orgânicos, por exemplo. 10 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

MELHOR QUE O OUTRO Além de ter a capacidade de conservar os alimentos pelo dobro do tempo, o plástico comestível tem ainda a vantagem de reaproveitar alimentos rejeitados pelas indústrias e vegetais que deixam de ser comercializados por não apresentarem bom aspecto visual, mesmo estando em condições de consumo. FONTE: EMBRAPA

JUNHO DE 2015


RODOLFO OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ

TRÊSQUESTÕES

SOBRE O TRABALHO INFANTIL DOMÉSTICO Danila Cal Lage é jornalista e, em 2014, obteve doutorado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais, com a tese Configuração Política e Relações de Poder no Trabalho Infantil Doméstico: Tensões nos Discursos dos Media e de Trabalhadoras. Foi com esta pesquisa que Danila venceu o Prêmio Compós de Teses e Dissertações Eduardo

Com 160 hectares de mata, a área operacional da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), em Belém, é um dos poucos espaços com alta densidade de árvores no perímetro urbano. Com o objetivo de fazer um levantamento dos animais silvestres que habitam esse fragmento f lorestal, a Infraero firmou uma parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio do Instituto de Ciências Biológicas. O projeto de pesquisa “Monitoramento da Fauna de Mamíferos Terrestres na Área Operacional da Infraero em Belém” registrou 102 mamíferos de médio e grande por-

te, de seis espécies diferentes. Em relação aos pequenos mamíferos, foram identificados 80 animais, de cinco espécies. Preguiças, macacos, tamanduás, tatus, cutias e cachorro-do-mato foram alguns dos exemplares observados. As principais conclusões do estudo dizem respeito ao baixo número de espécies encontradas no local. “São poucas espécies, mas em altíssima abundância, e com baixas demandas ecológicas, que ainda conseguem tolerar ambientes degradados com alto grau de perturbação”, explica a coordenadora do projeto, professora Ana Cristina Oliveira.

Pesquisa faz levantamento de animais silvestres na área de operação do Aeroporto Internacional de Belém

Peñuela,concedido pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação.

DE ONDE VEIO A IDEIA DO TEMA PESQUISADO? No início dos anos 2000, quando estagiei no escritório do Unicef em Belém. Naquele ano, começaram as primeiras ações de enfrentamento ao trabalho infantil doméstico no Pará e participei de várias discussões sobre o assunto. Era uma realidade bastante comum, mas pouco discutida. Decidi investigar a partir da comunicação. É um tema que me acompanha na trajetória acadêmica .

COMO FOI O PROCESSO DE PESQUISA DE SUA TESE? Primeiro analisei como as trabalhadoras infantis domésticas eram posicionadas no discurso midiático no período de 2000 a 2009. Depois fiz a apreensão dos discursos das próprias trabalhadoras e ex-trabalhadoras infantis domésticas. Nesta etapa me chamou a atenção o fato de que, as

102

MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE foram encontrados na área florestal pertencente à Infraero

entrevistadas me agradeciam muito. Conclui que elas tinham um desejo enorme de serem ouvidas e consideradas na cena pública.

O QUE SIGNIFICA A CONQUISTA DESSE PRÊMIO NACIONAL? Concorrer a esse prêmio já é uma honra muito grande. Fiquei extremamente feliz pelofatodequea

ANDRÉ ABREU

ESTÃO CALANDO O PAPAGAIO...

tese escolhida trata de um estudo de caso paraense e discute uma temática social importante. Não é

O papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea), comum no Brasil, no Para-

uma conquista individual, mas do nossoEstadoeda

guai e na Argentina, está seriamente ameaçado. Segundo o projeto Charão,

nossaregião. Atribuo o prêmio às meninas e mulheres

a população dessas aves se resumiu a três mil indivíduos em todo o mundo

que entrevistei e espero queapartir dele elas tenham

e 91% deles estão em mata brasileira. Pesquisadores estimam que há 10

mais oportunidade para ecoar suas vozes.

anos, a espécie contava com cerca de 10 mil exemplares. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 11

ARQUIVO PESSOAL

PROJETO MONITORA ANIMAIS NO ENTORNO DO AEROPORTO

EM VOLTA


PRIMEIRO FOCO

Aldeias Yanomami vão receber purificadores de água

EDUCAÇÃO

O livro Educação das Relações Étnico-raciais no Brasil, iniciativa da Fundação Vale e parceiros, aborda a história e a cultura afro-brasileira. Disponível gratuitamente na internet, já foram

O termo inovação científica deixou, há

município de Santa Isabel do Rio Negro

em países como Canadá, Estados Unidos, Suíça,

tempos, de estar restrito apenas a pro-

(distante 630 quilômetros de Manaus),

Moçambique, além de várias cidades brasileiras.

jetos futuristas. Atualmente, refere-se

no Estado do Amazonas.

A repercussão tem sido positiva entre professores

principalmente a iniciativas que buscam

De acordo com o pesquisador Roland

e especialistas em Educação, consolidando

melhorar a vida da população no tempo

Vetter, criador do dispositivo nomeado

a publicação como referência na temática. O

presente. Um exemplo é a unidade do

anteriormente de “Água Box”, a invenção

material pode ser encontrado no site da Fundação,

purificador de água que o Instituto Na-

será capaz de desinfectar a água conta-

em www.fundacaovale.org, e no site da Unesco,

cional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),

minada, tornando-a potável em poucos

no endereço www.unesco.org/new/pt/unesco/.

por meio da Coordenação de Tecnologia

segundos. O invento, batizado de Ecolá-

Social (COTS), implantará em uma das

gua, foi criado pela empresa amazonen-

12 aldeias Yanomami localizadas no

se QLuz Econergia.

TAMARA SARÉ / AGÊNCIA PARÁ

feitos mais de 2.500 downloads em dois meses,

ÁGUA BOA

Ecolágua é sustentável CARACTERÍSTICAS O equipamento de tamanho compacto pesa 13 quilos, purifica até 400 litros de água por hora.

CARBONO

FLORESTA

Metade do carbono que árvores amazônicas capturam da atmosfera é aprisionada por apenas 1% das espécies da floresta, aponta uma pesquisa publicada na revista Nature Communications. Das quase 16 mil espécies de árvores que a Amazônia abriga, apenas 182 dominam o processo de captura de gases que causam o efeito estufa. “Dada a quantidade de mudanças que estão ocorrendo

FUNCIONAMENTO O Ecolágua utiliza raios ultravioleta, por meio de energia solar e bateria, para provocar um dano fotoquímico instantâneo no material genético das bactérias, causando o efeito desinfetante. A vida útil da lâmpada ultravioleta é de 10 mil horas (o equivalente a três anos de duração).

problemas graves de saúde por causa do consumo de água poluída. HISTÓRICO A tecnologia já foi implantada em 19 comunidades do município de Benjamim Constant, no Amazonas, além de dez equipamentos instalados em oito aldeias indígenas. No próximo dia 10 de julho, o Inpa instalará dois aparelhos em Nampula, no interior de Moçambique, África.

BENEFÍCIOS O equipamento, que será implantado no segundo semestre de 2015, beneficiará cerca de 150 indígenas que enfrentam

nas regiões tropicais, em termos de clima e uso do solo, no futuro espécies diferentes podem se tornar mais importantes”, afirma o estudo. ALTAMIRA

MANEJO

O Ministério do Meio Ambiente concedeu quatro áreas da Floresta Nacional de Altamira, no sudoeste do Pará, para uso da iniciativa privada. As unidades têm o tamanho de 360 campos de futebol e potencial para produzir 200 mil metros cúbicos de madeira por ano. A expectativa é que as novas concessões, válidas pelos próximos 40 anos, gerem até R$ 80 milhões por ano e cerca de 900 empregos com carteira assinada. 12 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

FONTE: INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISA DA AMAZÔNIA

INFOGRAFIA: MÁRCIO EUCLIDES

INOVAÇÃO

DIVERSIDADE


REGIÃO DO LAGO TUCURUÍ PODE RECEBER PARQUE TECNOLÓGICO A Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) dão os primeiros passos para a implantação do Parque Tecnológico de Tucuruí e a criação de uma incubadora de empresas na Região de Interação do Lago Tucuruí. Ainda será celebrado o termo de cooperação técnico-científica para a consolidação do projeto.

“A implantação do Parque Tecnológico de Tucuruí é um desafio e, ao mesmo tempo, um projeto que certamente trará repercussões positivas para o desenvolvimento da região”, disse o presidente da Fapespa, Eduardo Costa. A secretária geral da Associação comunitária do bairro do Getat, também conhecido como Caripé, Cleane Pereira, avalia a realização da audiência. “É

muito importante que nossos representantes estejam presentes para ouvir essas demandas, as nossas necessidades, e por isso não podemos deixar passar a oportunidade de fazer também nossos pleitos localizados”. As audiências públicas não se esgotam nas cidades e as contribuições podem ser encaminhadas via internet pelo link http://goo.gl/ M6RHD9

AMAZÔNIACONNECTION

NORUEGA E A CONSERVAÇÃO DO SOLO

A atividade mineral no Pará também está relacionada à atividade com a biodiversidade local e acordos firmados com instituições acadêmicas viabilizam essa base. Um exemplo dessa iniciativa é uma parceria entre a Universidade Federal do Pará, a Universidade Federal Rural da Amazônia e o Museu Paraense Emílio Goeldi, que

CRISTINO MARTINS / AGÊNCIA PARÁ

se uniram para criar um consórcio com instituições norueguesas: a mineradora Hydro e a Universidade de Oslo. O acordo busca assessorar a indústria em pesquisas e monitoramento da biodiversidade, reflorestamento e conser vação da floresta. O bônus é a cooperação entre organizações científicas do Brasil e da Noruega. Foi dentro desse consórcio, por exemplo, que a Ufra aprovou o projeto “Biodiversidade, propagação de espécies vegetais e recuperação de áreas degradadas pela mineração de bauxita na região nordeste do Pará (Paragominas)”. A par tir dessa iniciativa, a universidade rural estuda os atributos do solo, a biodiversidade e a disseminação PARTICIPAÇÃO Representantes das comunidades no entorno do lago Tucuruí estiveram em audiência pública no município

ANDRÉ ABREU

PEIXE ESQUENTADO

de plantas para criar um modelo em que as áreas de ambiente minerado se integrem à paisagem com eficiência ecológica e econômica.

O peixe opah é o primeiro de sangue quente identificado por cientistas.

O consórcio foi uma solicitação da

Ele pode se aquecer de modo semelhante a um radiador do carro e vive nas

Hydro ainda em 2012. Hoje, a em-

profundezas frias do oceano, permanecendo sempre aquecido por completo.

presa é parceira da Ufra no projeto

Com o metabolismo acelerado, tem reflexos rápidos e músculos ativos, sendo

para conser vação dos solos.

ágil na captura de presas. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 13


PRIMEIRO FOCO

PRÊMIO

PROJETO ITACAIÚNAS

Pesquisa do Instituto Tecnológico Vale (ITV) que monitora os recursos hídricos e o uso e cobertura do solo da bacia no rio Itacaiúnas,

Zogue-zogue-rabo-de-fogo é o mais novo macaco da região

no sudeste do Pará, foi premiado durante o

A grande dimensão da biodiversidade

O primata do gênero Callicebus foi

36° Simpósio Internacional de Sensoriamento

amazônica é muito divulgada em ambien-

avistado pela primeira vez em 2011, em

Remoto do Ambiente, na Alemanha. Dentre

tes acadêmicos e nos meios de comuni-

uma expedição científica, por pesquisa-

outros 399 trabalhos inscritos, o estudo

cação, tendo se tornado quase um lugar

dores do Instituto para a Conservação

recebeu o prêmio “Buddy Bear Berlim –

comum contemporâneo. No entanto, essa

dos Carnívoros Neotropicais (Pró-Carní-

Best Poster”. O evento reuniu mais de mil

riqueza é muito mais que apenas um dis-

voros), do Instituto de Desenvolvimento

pesquisadores e é considerado o principal

curso. Um exemplo é a descoberta de

Sustentável Mamirauá e do Museu Para-

espaço de discussão sobre o tema em nível

uma espécie nova de macaco na região,

ense Emílio Goeldi. Recentemente, os es-

mundial. A grande contribuição da pesquisa

o zogue-zogue-rabo-de-fogo (Callicebus

tudiosos publicaram a descrição comple-

foi mostrar que os principais projetos de

miltoni), o que demonstra que ainda há

ta da espécie na revista científica Papéis

mineração se situam em áreas de conservação

muito a se conhecer sobre a Amazônia.

Avulsos de Zoologia.

ambiental, nas quais a floresta encontra-se preservada.

As principais características do animal recém-descoberto

PRESERVAÇÃO

FUNDO

Como parte da campanha Alerta Vermelho, de proteção aos botos da Amazônia, foi criado um fundo para auxiliar as atividades ambientais. A iniciativa é da Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), que atua em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). A contribuição é feita via financiamento coletivo e os doadores recebem recompensas exclusivas do projeto. O objetivo é combater as atividades ilegais de caça e pesca do boto, por meio ds participação ativa das pessoas, dentro e fora da região amazônica.

VEGETAÇÃO

DIGITAL

Está disponível em formato digital um conjunto de informações históricas sobre a vegetação do país, produzido nas décadas de 1970 e 1980. O material elaborado a partir dos projetos Radar da Amazônia (Radam) e Radambrasil foi reunido e divulgado pelo IBGE. A obtenção do mapa da vegetação destes períodos permitirá a modelagem das informações para as atuais estatísticas ambientais dos estados e a comparação dos níveis de desmatamento do passado e da atualidade. O material com os dados digitalizados e ajustados, com georreferenciamento, pode ser consultado no link http://goo.gl/nxEQIh 14 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

NOVATO

HABITAT O macaco está presente em uma área em torno de 4,9 milhões de hectares, que compreende o norte do Mato Grosso ao sul do Amazonas, entre os rios Aripuanã e Roosevelt. PARTICULARIDADES De acordo com Felipe Ennes Silva, biólogo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá que participou da descoberta, a característica mais marcante da espécie é sua cauda avermelhada, cor de tijolo, por isso o nome ‘rabo de fogo’. Essa mesma coloração é encontrada ainda na região ventral do animal até a altura do pescoço. PARENTES As espécies Calicebus bernhardi e Calicebus cinerascens possuem algumas semelhanças com a nova espécie. O que diferencia o “rabo de fogo” é mesmo a coloração particular e o material genético comparada aos outros em uma análise molecular. RISCO DE EXTINÇÃO Apesar de recém-descoberto, o zoguezogue-rabo-de-fogo já pode estar correndo risco de extinção pois, de acordo com os pesquisadores, somente nos rios Aripuanã e Roosevelt, sete hidrelétricas estão previstas para serem implementadas nos próximos anos. Fonte: Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

FONTE: INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISA DA AMAZÔNIA JUNHO DE 2015

INFOGRAFIA: MÁRCIO EUCLIDES

FAUNA AMAZÔNICA


CARLOS BORGES

PERGUNTA-SE

CINZA DE CIGARRO CURA A BOQUEIRA? Era de se esperar que um tratamento popularesco da Amazônia envolvendo cigarros fosse mito e, de fato, cinza de cigarro não ajuda em nada a curar as queilites, aquelas pequenas feridas dolorosas nos cantos da boca, popularmente chamadas de boqueiras. O cigarro, por conter de seis a oito mil substâncias tóxicas, pode

VISITAS GUIADAS À IGREJA DO CARMO SÃO SUCESSO DE PÚBLICO

trimônio histórico de Belém. “A preservação só acontece através da educação. Devemos compreender que o patrimônio cultural, seja material ou imaterial, é o elo vital que nos une ao lugar onde vivemos”, destaca o artista plástico Armando Sobral, coordenador das visitas. Para ele, além de revitalizar o templo, é importante que a comunidade compreenda a importância em restituir o que lhe pertence, os elos com a sua própria história e cultura. “Não se pode pensar em preservação se a comunidade não se torna protagonista desse processo”, completa. Ainda na fase de restauração, entre 2013 e 2015, durante um período de quatro meses, o templo recebeu cerca de dez mil visitantes.

de que, se ainda quente, a cinza pode causar queimaduras mais leves, também piorando a situação na região fragilizada da boca. Quem deixa claro que esse tratamento é um mito é a dermatologista Deborah Aben-Athart Unger, professora mestre da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela explica ainda que as queilites podem ser infecções causadas por fungos, como os do gênero - pode ser o Candida, causador da candidíase -, além de outras fissuras, acne e inflamações em geral. “Como as causas para a boqueira são várias, a orientação é procurar um médico para saber qual o tratamento adequado. Se for por fungos, será preciso fazer um antifúngico. Mas cinza de cigarro não tem qualquer fundamento”, conclui.

CARIN / SXCHU

Nos meses de abril e maio deste ano, 1.250 pessoas participaram do projeto Visitas Guiadas à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, com a monitoria de jovens da comunidade no entorno do templo. A igreja foi totalmente restaurada com patrocínio da Vale, via Lei Rouanet e recursos próprios, e reaberta ao público em março passado. Os guias do projeto de visitas, realizado pela mineradora, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Obras Sociais da Arquidiocese de Belém, foram qualificados em uma ação educativa chamada “Visitação às Obras do Carmo”, criada pela Vale ainda em 2013. A iniciativa buscou aproximar os moradores desse importante pa-

até agravar o quadro de inflamação, além

EMPREGADOR VERDE O Brasil aparece em 2o lugar no ranking de países que mais empregam no setor de energias renováveis, com mais de 934 mil postos de trabalho liANDRÉ ABREU

gados à energia solar, eólica e outras fontes verdes. Só fica atrás da China, com quase 3,9 milhões de pessoas. Só em bioenergia, o Brasil tem 845 mil

MANDE A SUA PERGUNTA

Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br

postos, sendo o empregador líder em biocombustíveis no mundo. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 15


QUEM É?

FLÁVIO NASSAR

ARQUITETO ESPECIALISTA EM ANTONIO LANDI TEXTO ARNON MIRANDA FOTO ROBERTA BRANDÃO

F

lávio Nassar, atual pró-reitor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador do Fórum Landi, fez da vontade de responder a uma pergunta o seu caminho na vida profissional. Ele queria saber, em todos os aspectos, quem era o arquiteto italiano Antônio Giuseppe Landi, que veio a Belém patrocinado pela coroa portuguesa, em 1753, e autor de icônicos projetos arquitetônicos das igrejas históricas da cidade, como a Catedral, Nossa Senhora do Carmo e Sant’Ana. Nassar viu que poucas pessoas tinham acesso à obra de Landi e, consequentemente, conhecimento sobre o estilo arquitetônico que empregava em suas obras. “Nos anos 1960, alguns paraenses ilustres estudaram Landi. Mas existia uma imensa carência de bibliografias sobre ele. Os livros que haviam sido editados aqui não existiam mais, outros eu tive 16 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

que procurar em sebos. E os que tinham sido editados em Portugal eram impossíveis de ser adquiridos por nós aqui. Não existia essa facilidade de hoje, de comprar qualquer livro do mundo na internet”, contou Flávio Nassar. A ideia de montar o Fórum Landi nasceu da montagem de uma estante virtual, escaneando livros para as novas gerações. Nassar notou que haviam questões não resolvidas sobre qual era o estilo de Landi no século XVIII. Procurando as pessoas que também estudavam as obras de Landi. “O Fórum Landi tinha sempre essa proposta de ser o fórum internacional para estudar a obra de Landi, mas sempre com o objetivo de restaurar o Centro Histórico de Belém. Com isso, iniciamos muitos diálogos com a Itália, com Portugal e outros países”, afirma o coordenador do Fórum Landi. Atualmente, com 12 anos de existência, o Fórum Landi foi responsável por importantes ações,

como a exposição “Cidade Velha, Cidade Viva”, que reuniu pessoas de diversos países para debater a obra de Landi, criação de um documentário sobre o mestre e a intenção de fazer da Cidade Velha um grande palco de arte cultural. Hoje há quatro projetos frutos do Fórum Landi: A restauração da própria sede, para ser transformada em um núcleo de integração interdisciplinar; a criação do albergue do estudante e do professor estrangeiro, que conta com verba do Programa Monumenta, do Ministério da Cultura; a criação do Memorial do Livro, com acervos especializados da UFPA; e a restauração da Capela Pombo, que será restaurada com a assistência técnica da professora Isabel Mendonça, especialista na obra de Landi. Durante o restauro, o local deverá ser aberto à visitação para que as pessoas acompanhem a obra, além de servir como canteiro-escola para alunos de arquitetura e arqueologia.

NOME

Flávio Augusto Sidrim Nassar

IDADE 63 anos

FORMAÇÃO

Arquitetura e urbanismo com especialização em Engenharia de Sistemas Urbanos

TEMPO DE PROFISSÃO 39 anos


APPLICATIVOS

FACEBOOK

EU DISSE

BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS

“O aplicativo é utilíssimo, pois ele ajuda a selecionar melhor onde comprar açaí com qualidade e de maneira simples”

Fábio Bezerra, professor da Universidade Rural da Amazônia, sobre a invenção

LINQAPP

do aplicativo “Açaí Pai D´égua”, que identifica pontos de venda de açaí em Belém (Site da Ufra)

O app auxilia em traduções específicas entre

“A mecanização ou robotização dos comportamentos humanos é o maior risco que a cultura enfrentará no futuro”

vários idiomas. As respostas são obtidas através de usuários do app que sejam nativos daquela língua. Ferramenta útil para quem quer viajar e precisa de orientações específicas. Com uma interface simples e intuitiva, o app também possui áudios para compreender as pronúncias e tutores diretos. Plataformas: iOS e Android

Miguel Nicolelis, médico e cientista brasileiro, em entrevista a internautas.

Preço: Gratuito

(Revista Galileu)

“A educação contribui para o resgate das adolescentes, para que elas saiam da condição de violência, promovendo a autoestima, fazendo com que se percebam como sujeitos de direito”.

O aplicativo ensina regras fáceis e rápidas so-

Lana Macedo, professora da Universidade Estadual do Pará, sobre a violência sexual contra

saúde como também evita desperdícios. Foi

adolescentes na Região Metropolitana de Belém.

desenvolvido pelo Departamento de Agricul-

(Revista Saber Amazônia)

tura dos Estados Unidos (USDA) justamente

FOODKEEPER bre como armazenar alimentos, reconhecer o período de deterioração e orientar sobre o melhor período de consumo. Não só ajuda a

para reduzir a quantidade de alimentos CARLOS BORGES

jogados fora por estarem estragados. Plataformas: iOS, Android e Windows Phone Preço: Gratuito

MEDISAFE Esse app gerencia todas as doses de me-

“Vamos nos reunir para debater problemas recorrentes e encontrar soluções para levar aos secretários de políticas e desenvolvimento da Amazônia”

dicamentos que o usuário precisa tomar. Basta criar as planilhas - tudo numa interface amigável e acessível - com os nomes dos remédios, horários e dosagens. Pronto. No horário de tomar o medicamento, um alarme soará para avisar.

Nilson Gabas Júnior, diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi, durante a primeira reunião do

Plataformas: iOS e Android

Conselho Técnico Científico (CTC) no mês passado.

Preço: Gratuito

(Portal do Inpa) FONTES: PLAY STORE E ITUNES JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 17


COMO FUNCIONA

A restauração de esculturas de madeira TEXTO E ILUSTRAÇÃO SÁVIO OLIVEIRA

A restauração de uma escultura de

com vários procedimentos e téc-

Escultura de Vulto, como imagens re-

zidas para rituais póstumos, como

madeira é um processo tão longo e

nicas, sempre cheios de cautela e

ligiosas, estátuas e bustos; Arquite-

efígies ou lápides. Dependendo do

complexo quanto as ramificações

paciência para avaliar as nuances e

tônica, que integram edifícios, como

estado de conservação da obra e da

abertas pelos cupins em uma estru-

percursos a serem percorridos em

retábulo ou base; Heráldica, que são

metodologia interventiva, a restau-

tura corroída. O trabalho de restauro

cada etapa. As esculturas podem

insígnias ou brasões esculpidos para

ração pode ser feita em basicamente

envolve um caminho diversificado,

ser divididas em quatro categorias:

nobres; Funerária, que são produ-

quatro passos.

MÃOS SANTAS Restaurar imagens requer técnica e talento

3

1

Com tudo avaliado, pode-se

Com as luvas em mãos, o primeiro passo

necessidades de cada restauro.

é avaliar o estado de conservação da

Pode ser feita a consolidação

obra, observando danos, como empe-

estrutural, que é feita para re-

namento, fendas, fissuras, fraturas e

cuperar a sustentação da peça.

oxidações. Na pintura, é preciso verificar

Também são feitas limpeza, que

alteração de cor, descolamento, sujeira e

pode ser de água ionizada ou

o estado do suporte da peça. Tudo deve

solventes químicos. E caso seja

ser bem detalhado para ser descrito no

preciso, aplica-se emassamento

Relatório. Aí é preciso diagnosticar a obra

ou vermiculita, para preencher

com o histórico da peça, tamanho da

cada lacuna que o tempo ou os

escultura e técnicas utilizadas na pintura.

insetos abriram. Nesta etapa,

2

são utilizadas ferramentas,

iniciar o tratamento interventivo, que varia conforme as

como bastonetes, espátulas e pinceis para recompor as carac-

Depois é preciso fazer os exames. Primeiro o organoléptico,

terísticas artísticas da obra.

dos, como visão, tato e olfato.

4

Depois são feitos testes com

Por último é aplicado um verniz

luz ultravioleta, raio-x, fotogra-

de proteção, para conservar a

fia microscópica e testes com

obra por mais um tempo até que

solventes químicos para fazer a

ela seja restaurada de novo. Todo

prospecção, ou seja, verificar se

o processo é fotografado, antes,

há restauros anteriores e quan-

durante e depois, para documentar

tas camadas de pintura da peça

e comparar o trabalho feito. Com a

podem ser recuperadas. Além

obra restaurada, é preciso expô-la

disso, é preciso saber quais se-

em um local limpo e em condi-

rão os produtos químicos mais

ções de temperatura e umidade

eficientes a serem utilizados.

adequadas.

que são aqueles que podem ser percebidos por nossos senti-

FONTE: TÂNIA VELOSO, RESTAURADORA

18 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


FATO REGISTRADO

Dois símbolos da modernidade na virada do século XX disputavam a cena de Belém. Ao alto, a caixa d’água, aparelho público, toda de ferro; no chão, o trem – o trem! – a recortar o tempo e o espaço da capital da borracha no Pará. As árvores como moldura, o espaço aberto – havia espaço. E pessoas com roupas pesadas, mangas, ternos, vestidos longos. O clima era mais ameno, certamente, porque sem asfalto no chão, concreto, motores de automó-

veis e prédios a impedir a circulação do vento. Ainda assim, os vagões de passageiros não tinham paredes, como os dos bondes do centro da cidade; nas laterais, as lonas podiam ser baixadas nas horas de chuva. Havia algo de agradável na viagem. A “maria-fumaça” era do tipo “44-FEPASA”. Bela, com aquele “beiço” dentado, o grande farol e a chaminé bem evidentes. Na esquina, a “Pharmácia”, sim, com “ph”. O trem já era íntimo da cidade: ao lado da barulheira,

uma galinha ciscava tranquila. A data exata: 15 de agosto de 1901, há 113 anos, fotografada por Ernest Lohse, litógrafo do Museu Paraense de História Natural (hoje Museu Paraense Emílio Goeldi). A imagem foi feita com aquelas câmeras grandes, mais de metro de altura, suspensas em tripé de madeira, com negativos de vidro. A imagem é essência daquela cidade: pertence ao acervo do Museu Goeldi e à memória de uma Belém nas margens da modernidade.

Na Belém de 1901, era comum ouvir o barulho da maria-fumaça e observar a caixa d’água, uma novidade

REPRODUÇÃO / O LIBERAL/ HELY PAMPLONA

ACERVO MUSEU GOELDI

O trem e a caixa d´água em São Brás

CENAS DO COTIDIANO

DEU N’O LIBERAL

BELÉM, CAPITAL UNIVERSAL DA ECOLOGIA

Em 1989, a Prefeitura de Belém instituiu um decreto tornando o município como a “Capital Universal da Ecologia”. A medida entusiasmou os grupos ambientalistas da cidade, que fizeram diversas propostas para melhorar a relação dos belenenses com o meio ambiente. O fato virou notícia nas páginas de O Liberal com a matéria “Sopren vai cobrar o ônus do título de capital da ecologia”, publicada na edição de 16 de janeiro daquele ano. Uma semana depois do decreto, ambientalistas de Belém encaminharam uma série de propostas ao poder municipal. Dentre elas estavam a criação de grandes bosques na capital e nos distritos, bosques escolares e bosques comunitários. À frente estava o ambientalista Camilo Vianna, da Sociedade de Preservação dos Recursos Naturais e Cultuais da Amazônia (Sopren), que juntou forças com a Sociedade dos Amigos de Belém. Ambas queriam que uma série de ações para proteger a natureza a paraense.

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 19


CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE INOCÊNCIO GORAYEB

Matupá, massa vegetal nas águas

FLUTUANTE

O monturo formado por folhas e galhos no rio Amazonas são comuns na paisagem da região

O rio Amazonas apresenta um fenômeno responsável pelo deslocamento de terra e vegetação: o matupá. O termo, originário do tupiguarani, numa tradução livre, representa uma massa flutuante de vegetais sobre as águas. Geralmente é um pedaço de terra desprendido após erosão das margens. Solo, galhos, folhas e

plantas formam microilhas que, às vezes, ficam à deriva por vários anos até chegar em terra firme novamente. Ou acabam se fixando num ponto e formam novas áreas ou ilhas estáveis. Nas secas do Amazonas e de outros rios da região, os matupás já em deslocamento ou fixos se tornam evidentes. É fácil perceber

pelo amontoado de pequenos vegetais e a atividade animal na área, principalmente com pássaros, alguns insetos e até mesmo cobras. Bonito de se ver, mas geralmente representa um risco para a navegação nas épocas mais cheias do leitos fluviais, afinal, há matupás de vários tamanhos, que podem se chocar com as em-

barcações. Em geral, os matupás são cobertos de canaranas, mururés e outras plantas e favorecem a expansão e disseminação territorial de várias espécies animais e vegetais. Em grandes enchentes, a força das águas arranca pedaços grandes das margens com árvores de até 4 metros de altura.

ELES SE ACHAM

Encontrar esse anfíbio do gênero

Os anfíbios são conhecidos por se

Rhinella, conhecido como sapo-

camuflarem com eficiência nesse

boi ou sapo-cururu, é um desafio

tipo de ambiente. Vale ressaltar

para qualquer predador ou víti-

que outros sapos desse gênero (co-

ma - incautos insetos de pequeno

muns em todos o Brasil) são bons

porte - , pois ele é um mestre dos

em se misturar com as cores mais

disfarces. Até para o leitor fica o

improváveis, como a Rhinella mar-

desafio de encontrar o sapo, ca-

gatifera, capaz de ser confundido

paz de se camuflar perfeitamente

com muitos caules e folhas secas,

em solos arenosos e pedregulho-

imitando até pontos mais escuros

sos, ganhando várias tonalidades

das folhas.

de cinza possíveis. Isso porque a derme do Rhinella marina é muito parecida com esse tipo de terreno. 20 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

TUDO CINZA

O gênero Rhinella pode se camuflar em ambientes rochosos

MIRANDA RIBEIRO

CINQUENTA TONS DE SAPO


DESENHOS NATURALISTAS ERNEST LOHSE

CONCEITOSAMAZÔNICOS

AS CABAS E AS MARCAS DA INFÂNCIA Bastava que um exemplar aparecesse nas cozinhas e pátios. Sorrateiramente, quem estivesse por ali se armava com chinelos – de preferência de dedo – para começar o ataque. Caba no alvo! Não era maldade, a ferroada da caba dói mesmo. As chineladas iam ao ar e às paredes até que se abatesse a bichinha. O termo é regional. Noutras partes do Brasil a palavra mais usada para designar o inseto é “marimbondo”. Ela faz parte da família Vespidae, mas não apenas. Caba, caba, caba... Outras famílias da ordem Hymenoptera também são reconhecidas como caba, como

DELICADA

as vespas solitárias da família Sphaecidae.

Os traços e cores retratados na espécie Neoregelia margaretae LB Smith marcam o trabalho da artista inglesa

Mas, na hora da correria, qualquer inseto com um ferrão parecido ao dos marimbondos é chamado de caba. Coragem, amigos! As “casas de caba” ficam ao alto, geralmen-

A sutileza de Margaret Mee Amazônia. Destas, três receberam nomes em sua homenagem: N. margaretae, N. meena Reitz e N. leviana LB Smith. O extenso trabalho de Mee ao dedicar 30 anos de sua vida ao estudo e trabalho no campo da Botânica deixou um importante legado, que não foi esquecido pelos seus pares. Em sua homenagem, foi fundada, na Inglaterra, a “Margaret Mee Amazon Trust”, instituição voltada para educação, pesquisa e conservação da flora amazônica a fim de promover o intercâmbio entre Brasil e Inglaterra. O alvo são estudantes de Botânica e ilustradores de plantas brasileiras

interessados em estudar no Reino Unido. Um dos primeiros alunos desta instituição foi Antônio Elielson Sousa Rocha, hoje artista e ilustrador de plantas e pesquisador em Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi. Dois livros com as belas artes de M. Mee são: - 2004. Margaret Mee’s Amazon. Diaries of an Artist Explorer. Antique Collectors’ Club and The Royal Botanic Gardens. 320p. - Kramer, Jack. 2006 and 2011. Flowers of the Amazon Forests. The Botanical Art of Margareth Mee. Gardem Art Press and The Royal Botanic Gardens. 168p.

das residências. E também viram alvo da molecada. Aí quem deveria pegar no chinelo eram as cabas mesmo... O termo vem do tupi kawa. E as classificações populares são diversas: caba-tatu, caba-de-igreja, caba-noturna, caba-preta, caba-vermelha, caba-braba, caba-mansa, caba-piranga, caba-caçadeira... As ferroadas, apesar de doídas, logo somem e deixam de arder. É uma “marca” de infância, uma medalha pelos serviços prestados no decorrer dos anos da criança na Amazônia. Caba, caba, caba... Lembram-se da brincadeira?

SÁVIO OLIVEIRA

Neoregelia margaretae LB Smith é uma homenagem. Uma espécie de planta que foi coletada por Margaret Mee em 1965, no rio Içana, tributário do rio Negro, Estado do Amazonas. Mee foi uma artista botânica inglesa, especializada em plantas amazônicas, vivendo no Brasil por 30 anos, de 1952 a 1982. Ela desenhou a N. margaretae da imagem com um tom de roxo único, assim como uma infinidade de outros registros no território brasileiro. Margaret e margaretae. A artista inglesa coletou e ilustrou quatro das cinco espécies do gênero Neoregelia conhecidas na

te, ou nos galhos de árvores e nos telhados

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 21


EM NÚMEROS

FARTURA DE PEIXES

O PESCADO DA AMAZÔNIA NA ECONOMIA MUNDIAL TEXTO VICTOR FURTADO INFOGRAFIA MÁRCIO EUCLIDES

O Pará sempre foi visto como um dos

de países da Europa, movimentando

exportador, sendo que os princi-

da pesca, também podemos citar a

maiores produtores de pescado do

mais de R$ 100 milhões por ano.

pais produtos são as pescadas do

piramutaba, a dourada, o mapará, a

País e com representatividade em

O Estado também concentra grande

gênero Cynoscion e pargos, além

gurijuba e o caranguejo-uçá. Os prin-

nível internacional por ter grandes po-

parte dos profissionais envolvidos

do camarão rosa, lagosta e peixes

cipais consumidores dentro do país

tências que consomem nossos peixes,

no setor de todo o Brasil. Nos últimos

ornamentais.

são os estados das regiões Sudeste,

como Japão e Estados Unidos, além

anos, o Pará se tornou um exímio

Entre as principais espécies oriundas

Centro-Oeste e Nordeste.

BOA PESCARIA

A atividade econômica gera emprego e renda na região

FONTES: DIEESE, FAO/ONU, IBGE, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PESCA E ABASTECIMENTO (MAPA), MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR, SECRETARIA DE ESTADO DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO E DA PESCA (SEDAP), SINDICATO DA INDÚSTRIA DE PESCA DO ESTADO DO PARÁ (SINPESCA), SERRA DA COSTA, L., RODRIGUES DA SILVA, J. Y DA SILVA, F.: “ANÁLISE DA PRODUÇÃO PESQUEIRA NA REGIÃO NORTE DO BRASIL: UMA ABORDAGEM ATRAVÉS DE MODELOS DE REGRESSÃO E COMPONENTES PRINCIPAIS”, EN OBSERVATORIO DE LA ECONOMÍA LATINOAMERICANA, NÚMERO 191, 2013.

22 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


234 MIL

O MAR ESTÁ PRA PEIXE

A pesca na produção do Brasil e no Pará

pescadores em todo o Pará

800 MIL

Em todo o Brasil, são cerca de 800 MIL profissionais, incluindo pescadores

O PIB da pesca passa de

R$ 5 BILHÕES

US$50.617.009,00

foi o que o Pará gerou entre janeiro e novembro de 2014

R$ 4,1 BILHÕES

em créditos investidos no setor em 2012 pelo Ministério da Pesca e Aquicultura

4.255.465 QUILOS

foram exportados para os principais consumidores: Japão, Estados Unidos e Europa

100

765 MIL TONELADAS

COMUNIDADES pesqueiras somente nos 12 MUNICÍPIOS da região do Salgado

são produzidas pela pesca atualmente

3,5 MILHÕES

183

EMPRESAS de pesca atuam no Pará, entre armadores e indústrias de processamento

728.393,80 TONELADAS

foram produzidas no Pará em 2013

de empregos diretos e indiretos em todo o território nacional

NÃO É HISTÓRIA DE PESCADOR Grandes números acerca da atividade pesqueira

670.961 da pesca artesanal

41.250 da pesca industria

16.182 da piscicultura

67.972 KM²

de área litorânea do Pará com potencial pesqueiro para extração marinha ou estuarina

400%

correspondem ao aumento do consumo de peixes no Pará somente na Semana Santa

92,1%

5,7%

2,2%

80

espécies compõem na produção artesanal e industrial

JUNHO DE 2015

21

espécies são produzidas em cativeiro

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 23


OLHARES NATIVOS

24 窶「 REVISTA AMAZテ年IA VIVA 窶「

JUNHO DE 2015


Um tempo que está bem ali Nem faz tanto tempo. Foi no ano passado, foi ontem, foi dia desses, foi na última hora, um minuto atrás. Onde estávamos que nem vimos? Está ali, atrás da última porta com tramela. Na poeira dos cantos do casarão. Está no álbum de papel. Ainda há fotos impressas em papel? Ninguém lembra, ninguém sabe. Muito menos como aconteceu tão rápido. Foi ontem, dia desses, no segundo passado, na piscada d’olhos, o menino levado pela mãe ao barbeiro. Não era cabeleireiro, nem coifeur, nem hair stylist. Era barbeiro, de verdade, com navalha, pincel de espuma, cadeira giratória e jeito sisudo. Foi quase “indagora” que a cidade mudou e sumiram o barbeiro e a barbearia; o menino também nem deu mais as caras. Agora é homem feito, apressado, de cabelo aparado à máquina. E foi tudo tão veloz, sem dar tempo de pensar quando aconteceu e, se aconteceu, da noite pro dia, um sopro, um clique. Será que um dia o preto e branco já foi colorido? Conversa! Alguém lembra, quem viu? Nem faz tanto tempo, foi dia desses, foi agora, atrás da porta, escondido no pó do esquecimento no batente das janelas das memórias de ninguém. Nas próximas páginas, um ensaio especial do fotógrafo OSWALDO FORTE, sobre um Belém eternizada através do projeto pessoal Jornada 24 Horas, em 1989. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 25


OLHARES NATIVOS

Templo, palácio, templo... Era Palácio e, no escuro dele, brotavam ilusões na imensa tela, janela mágica para ver outros mundos, outras histórias. Era Palácio e virou templo, porque as ilusões na esquina passaram a desinteressar e a realidade, com pedidos de ajuda ao divino, fala mais alto.

Um lugar icônico da cidade Recanto dos intelectuais, nele muitas conspirações e inspirações sobre a cidade, muita cantoria e poesia, entre um gole e outro, uma epifania e outra, um riso largado e uma frustração incontida, que nada é fácil e a vida é dura.

26 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


Ponto de deliciosa saudade A calçada vazia, a calma na luz chapada do dia, o batedor de açaí à espera do freguês. A cena vive, hoje inclusive, embora a cidade seja outra e o ponto de venda tenha se incrementado. Mas o sabor cravado na lembrança... ah, o sabor da lembrança...

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 27


OLHARES NATIVOS

A marcha esquecida do marchante As câmeras frias, os novos tempos, transformaram à ida ao mercado em página virada, hábito abandonado. Perdia-se tempo enorme na conversa com o açougueiro, senhor de conhecimento utilíssimo sobre as peças do talho e possíveis preparos.

28 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


Clássicos peixeiros Resistem os peixeiros. Resistem à beira do rio, no Mercado de Ferro. Resistem à embalagem a vácuo. Resistem ao tempo imersos no cheiro da maresia, junto com os sacoleiros e os vendedores de cheiro-verde. Peixe bom é peixe fresco.

O barro nas mãos do oleiro E do barro vem o pote de água fresca com gosto de barro cozido e saúde. E o alguidar que vai guardar o açaí feito nos fundos do quintal e a oferenda nas encruzilhadas. Em época de utensílios ultracoloridos com teflon fácil de limpar, a cerâmica permanece, bravamente, nas feiras.

Labuta diária nas esquinas Quantos ganha-pães noutros tempos, noutras realidades. Como se multiplicaram, hoje, os operários da rua, como dominaram a rua com seus pregões, suas manufaturas de vencer a vida.

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 29


OLHARES NATIVOS

Lágrimas, suor e graxa São figuras de um antigo cenário. Ganharam a vida em um tempo que os sapatos duravam décadas e os donos tinham mais autonomia para viver a cidade enquanto o engraxate caprichava no brilho.

Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos 30 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!


Para um mundo com novos valores.


Informe Publicitรกrio

Governanรงa Interna e Externa

Perspectivas de Negรณcios


Informe Publicitário

Relação com as pessoas


Informe Publicitário

Relação com o Meio Ambiente e as Mudanças Climáticas

Siga a Vale nas redes sociais facebook.com/valenobrasil

instagram.com/valenobrasil

twitter.com/valenobrasil

youtube.com/vale

linkedin.com/company/vale


OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES

CARLOS BORGES

IDEIASVERDES

DA TERRA PARA O CORPO

FRUTOS AMAZÔNICOS, COMO O BURITI, GANHAM CADA VEZ MAIS ATENÇÃO NO MERCADO DE BIOCOSMÉTICOS E FITOMEDICAMENTOS PÁGINA 38

PARCERIAS O gerente de Inteligência e Desenvolvimento de Fornecedores da Vale, Luiz Scavarda, fala de investimentos na região. PÁG. 36

PROSPERIDADE Projeto Saúde e Alegria constrói sistemas de abastecimento de água para ribeirinhos do Baixo Amazonas . PÁG.46

VIRTUAL Cesupa monta o primeiro time universitário de jogadores profissionais de videogame da Amazônia. PÁG.50

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 35


OUTRAS CABEÇAS

H

á várias formas de administrar um empreendimento na atualidade. Desde a construção de um hospital público até a criação de uma banca de comidas, é possível identificar a existência de diferentes modelos de negócio. Micro e macroempresários podem optar pelo caminho que considerem mais apropriado para a conquista de seus objetivos. No entanto, há um personagem invariável e indispensável em qualquer cadeia econômica: o fornecedor. Luiz Scavarda, gerente de Inteligência e Desenvolvimento de Fornecedores da Vale, acredita que estabelecer relações diretas com fornecedores locais, independente do empreendimento, é uma medida fundamental para alcançar sucesso e estimular o desenvolvimento da região onde o negócio está situado. Na entrevista a seguir, o executivo fala sobre a importância de parcerias para alcançar bons resultados. De que forma as estratégias para aproximar os fornecedores locais das empresas podem promover o desenvolvimento da região? O fornecedor local é uma necessidade para as operações das empresas. Há uma série de categorias que, pela própria vocação, a compra precisa ser feita onde se atua. Os benefícios são mútuos, pois, além do retorno para quem está fazendo a aquisição, ao conseguir um preço melhor e com qualidade, há também os ganhos para o mercado local com seu crescimento. Isso também gera a arrecadação de impostos, empregos e novos negócios na região. 36 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

“O FORNECEDOR LOCAL É UMA NECESSIDADE” O GERENTE DE INTELIGÊNCIA E DESENVOLVIMENTO DE FORNECEDORES DA VALE, LUIZ SCAVARDA, AFIRMA QUE O BOM RELACIONAMENTO ENTRE EMPRESAS E FORNECEDORES LOCAIS É ESSENCIAL PARA O ÊXITO DE QUALQUER EMPREENDIMENTO, RESULTANDO, PRINCIPALMENTE, NO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO. TEXTO ABÍLIO DANTAS FOTO ROBERTA BRANDÃO


Ao qualificar uma empresa os serviços prestados melhoram, não necessariamente apenas para a contratante, mas também para as fornecedoras e para os próprios funcionários. Como consequência, temos melhoria da infraestrutura e da qualidade de vida das pessoas. Quais ações são para incentivar empresários locais a fornecer seus produtos a setores como o da mineração? Para a Vale, o primeiro ponto é respeitar as particularidades de cada localidade. É necessário um mapeamento que mostre qual é a vocação do lugar. Para isso, executamos uma série de iniciativas. Uma delas é o Programa Inove, que começou em 2008. Ele abrange todas as regiões onde a empresa está presente e se baseia em três pilares: capacitação, fomento de negócios, e a melhoria da competitividade das empresas. Existe um trabalho de parceria? Sim, não adianta agir apenas a partir de ações lideradas por nós. Entendemos que existem competências que são complementares. No caso do Pará, temos como parceiro a REDES - Inovação e Sustentabilidade Econômica, que é o programa de desenvolvimento da Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará); na esfera nacional, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), que é especializado em capacitação e desenvolvimento de empresas de pequeno porte, e avançamos também na esfera do mercado financeiro, em busca de parcerias com instituições que facilitem a obtenção de crédito pelas as empresas. Houve resultados positivos em relação a compra dos produtos de fornecedores locais?

“Desenvolvemos um programa em 2011 de conscientização e engajamento da cadeia dos fornecedores para controle de emissão de gases de efeito estufa. Diversas empresas foram capacitadas.” Quando olhamos em uma linha do tempo, vemos que o volume de compras locais vem crescendo ano após ano, fato que é reportado em nosso relatório de sustentabilidade. Empreendimentos de grande porte, como é o caso do Projeto Ferro Carajás S11D, alavancaram esse indicador nos últimos anos. Este é o maior projeto da Vale em implantação no mundo e está localizado em Canaã dos Carajás. Outros projetos de grande porte, como a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, também têm contribuído no aumento do volume da compra local. Como a Vale tem trabalhado em parceria com fornecedores para o desenvolvimento de novas tecnologias para a mineração? Acreditamos que a parceria com nossos fornecedores é uma importante alavanca para a identificação de novas oportunidades, gerando redução de custos,

aumento de produtividade, elevação do nível de segurança e preservação ambiental. Quando falamos em redução de custos, fazemos associação também ao desenvolvimento de empresas locais, porque em muitos casos é preciso estar presente na região para alcançá-lo. Um bom exemplo é o projeto de reconstrução de pneus em que utilizamos tanto pneus rodoviários quanto os conhecidos como fora de estrada, com diâmetro de quatro metros. Durante as operações na mina, podem ocorrer rasgos e ao invés de descartá-los, como fazíamos antes, conseguimos reconstruí-los em uma empresa estabelecida no interior do Estado. Reduzimos também os custos logísticos pois atendemos todas as operações no sudeste do Pará localmente. Isso só foi possível porque atuamos em parceria com fornecedores da região para essa inovação. Na questão ambiental, a Vale também tem iniciativas que estimulam os fornecedores da cadeia de valor da empresa a elaborarem inventários de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE). Como tem sido a receptividade dos empresários? Desenvolvemos um programa em 2011 de conscientização e engajamento da cadeia dos fornecedores para controle de emissão de gases de efeito estufa. Diversas empresas foram capacitadas em todos os continentes em que atuamos com o objetivo de sensibilizar os fornecedores a abraçarem a causa. Mais de 200 foram treinados em elaboração de inventários a partir de encontros onde divulgamos as melhores práticas. Em 2014 tivemos mais de 100 fornecedores contribuindo com nosso controle de inventário de emissão destes gases. Estamos trabalhando para fazer o programa chegar a um número maior de localidades no Brasil e, por isso, nos cursos de capacitação com nossos parceiros incluiremos o tema do “Efeito Estufa”. Queremos nos tornar uma referência institucional no tema. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 37


ASSUNTO DO MÊS

À FLOR DA PELE

PRODUTOS DE BASE NATURAL, PRODUZIDOS COM ÓLEOS E EXTRATOS VEGETAIS NATIVOS DA AMAZÔNIA, DESPONTAM COMO A APOSTA DE MERCADO SUSTENTÁVEL E RENTÁVEL NA INDÚSTRIA PARAENSE DE FITOMEDICAMENTOS E BIOCOSMÉTICOS TEXTO NATÁLIA MELLO FOTOS CARLOS BORGES E ROBERTA BRANDÃO

38 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

FEVEREIRO DE 2015


“A

ESFOLIANTE DAS MATAS Por apresentar alto teor de ácidos graxos, o óleo do buriti (Mauritia flexuosa) atua como um excelente esfoliante natural, sendo capaz de promover renovação celular ao remover as células mortas. Atua também como filtro solar natural e fotoprotetor. Por ser dotado de corantes naturais oferece proteção contra o câncer, doenças vasculares, endemias de carência de vitamina, degeneração macular e catarata.

Amazônia é o celeiro do mundo”. No final do século passado, esse termo se consolidou em todo planeta. Os olhos se voltaram para a biodiversidade amazônica e para toda riqueza abrigada em sua floresta. A máxima ditou um novo ritmo para o mercado, nacional e internacional, que avistou o potencial inestimável dos recursos naturais existentes em nossas matas. Alguns setores da indústria despontaram seguindo essa tendência e, com eles, o de biocosméticos, atualmente um dos protagonistas da atividade industrial mais promissoras da Amazônia e que utiliza espécies nativas como base de produtos. Empresas nacionais como a Natura, atualmente com uma fábrica instalada em Benevides, na Região Metropolitana de Belém, ajudam a divulgar as propriedades cosméticas de nossas plantas e frutos em seus produtos comercializados em todo o país, além de gerar emprego e renda com mão de obra local, movimentando a economia do Estado. Contudo, para se prevalecer de forma racional e sustentável diante de tamanha diversidade, é preciso conhecimento, e esta lacuna é preenchida pelos centros de pesquisa científica. “No laboratório, desenvolvemos diversos projetos tais como obtenção e padronização de extratos vegetais de espécies da Amazônia visando ao desenvolvimento de fitomedicamentos e cosméticos. Também aproveitamos resíduos agroindustriais para obtenção de bioprodutos e na área da nanotecnologia trabalhamos com gorduras vegetais, como as do cupuaçu, murumuru, ucuúba e tucumã, utilizandoas na obtenção de fármacos ou até mesmo

ativos cosméticos”, explica o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Inovação Farmacêutica, vinculado ao Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento Farmacêutico e Cosmético, da Universidade Federal do Pará (UFPA), José Otávio Carréra Silva Júnior. “Com trabalhos desenvolvidos neste laboratório, foi possível reivindicar patentes com o Produto Cosmético para os Lábios a Base de Manteiga de Bacuri (Platonia insignis) e Formulação de Uso Tópico na Forma de Nanopartículas, com Propriedade Auto-Emulsificante para Veicular Ativos Lipossolúveis, utilizando gordura de cupuaçu ( Theobroma grandiflorum). São também estudadas atividades antioxidantes destes extratos e gorduras vegetais podendo ser planejado a obtenção de produtos com propriedades até mesmo superiores aos de origem sintética”, esclarece Carréra, ao afirmar que as propriedades químicas e os benefícios de diversos insumos encontrados na floresta amazônica precisam ser cada vez mais estudados, pois ainda há muito a ser descoberto e mapeado. A indústria farmacêutica investe em média cinco vezes mais em pesquisa e desenvolvimento do que outros setores industriais no mundo, figurando à frente até mesmo dos eletrônicos e automotivos. É que o setor tem lá seus privilégios: sua capacidade de trabalhar aliado ao conhecimento é superestimada, necessitando, a todo momento, de inovação. Mas os biocosméticos têm se tornado a menina-dos-olhos dessa indústria, e, segundo Carréra, foi o setor que mais cresceu dentro do segmento nos últimos 20 anos. Embora o potencial do setor apresente bons motivos para crescer, ainda é preciso investir mais. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 39


ASSUNTO DO MÊS

“O custo do desenvolvimento de um novo medicamento, por exemplo, de origem sintética, gira em torno de US$ 250 milhões a US$ 880 milhões, e pode levar até 12 anos para esse produto ter registro e estar no mercado. Já com um fitomedicamento, o custo para o desenvolvimento é em torno de US$ 4 milhões a US$ 20 milhões, podendo levar até sete anos para estar no mercado. Isso já é uma razão para se investir”, diz Carréra. “Além disso, nós temos a maior biodiversidade do planeta, mas também a mais desconhecida no mundo. São em torno de 55 mil espécies vegetais catalogadas entre os biomas do Brasil, e apenas 1% deste total foi estudado com sucesso. São mais razões para se investir, de forma racional e sustentável, em pesquisa e desenvolvimento desses recursos, até por uma questão de avanço econômico do país. Isso se aplica também aos biocosméticos”, acredita o pesquisador.

BIOPRODUTOS

Graças às pesquisas no laboratório da UFPA, o professor Carréra conseguiu patentear o Produto Cosmético para os Lábios a Base de Manteiga de Bacuri

40 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

SUSTENTABILIDADE

Uma das alternativas para desenvolver melhor o segmento é a sustentabilidade da atividade. Graças à infinidade de vegetais e óleos encontrados na região, há um leque de possibilidades para a criação de linhas de cosméticos naturais, sem degradar o meio ambiente e em parceria com as comunidades locais. O crescimento deste segmento industrial já pode ser percebido, mas ainda é preciso organização entre as empresas dentro da região amazônica para que conquistem seu espaço no mercado nacional e internacional. A estruturação de um modelo de negócio é um processo em andamento, porém bastante embrionário, segundo a diretora de mercado da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), Lucélia Guedes. “Nós ainda não temos o apelo nacional, não temos organização do setor para a pequena indústria ser competitiva. Por isso, em julho do ano passado, reunimos representantes da Sedeme, do Sindicato (da Indústria de Produtos Químicos, Farmácia e de Perfumaria e Artigos de Toucador do Pará - Sinquifarma), da Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará) e também da UFPA para discutir o setor. Percebemos que o potencial no mundo é muito grande, e que ele tem forte interesse pelos produtos de base da nossa biodiversidade, no Pará e dos outros estados da Amazônia Legal”, diz. O encontro resultou no início da construção do Arranjo Produtivo Local (APL). O documento inclui a análise de fatores econômicos, políticos e sociais dentro de um mesmo território, neste caso, inicialmente, na Região Metropolitana de

CHEIRINHO DA TERRA A priprioca (Cyperus articulatus) é bastante usada, atualmente, para perfumar o corpo, na forma de banho e fragrância. Também é aplicada contra dor de cabeça, enxaqueca, malária, dor de dente, diarreias, febres, gripes e epilepsia.

Belém, com a participação de diversos representantes do setor privado, instituições de pesquisa e financiamento, Estado, cooperativas e técnicos do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Todos devem desempenhar um papel dentro do processo, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e apresentando vínculos de produção, interação, cooperação e aprendizagem. O APL foi designado para que as entidades, juntas, trabalhem para o desenvolvimento da cadeia de produção do setor, desde a sua base – quando os in-


sumos são colhidos pelas cooperativas –, passando pela produção dos biocosméticos, até a comercialização e exportação. O foco é fazer com que os produtos de base florestal tenham inserção no mercado e também visibilidade como um cosmético de base natural originário da Amazônia. “O APL vai estudar, do início ao fim, insumos, embalagem dos produtos, apelo comercial, selo, mercado, feiras de comercialização, dificuldades de financiamento. Toda a cadeia produtiva. Sua visibilidade no país e entre os consumidores, seu processo sustentável de produção, o investimento em pesquisas no setor, o fomento de políticas públicas para a geração de emprego e renda. Tudo”, afirma Lucélia Guedes.

DESAFIOS

A logística ainda é o calcanhar-de-aquiles para o escoamento da produção de biocosméticos na Amazônia. Mas, ainda na base da cadeia, existem outros fatores que dificultam o crescimento dessa indústria na região, como a própria legislação que rege o setor. Além disso, existem outros impasses, como a apresentação do produto para o mercado, que precisa ser aprimorada para ter condições de competir de forma igualitária com as empresas de outras regiões do Brasil ou até mesmo do mundo. Com o APL, a ideia é melhorar a qualida-

de de apresentação do produto e deixá-lo pronto para o mercado internacional. O potencial do setor para a economia do Pará e para os outros estados da região amazônica é considerado alto. Uma das bases que leva os empresários e pesquisadores a apostar nessa afirmativa é que a verticalização permite que o desenvolvimento da indústria de biocosméticos seja sustentável e ocorra com a floresta em pé. Com essa prática, a produção se torna economicamente viável e com o maior facilitador: a abundância de matéria-prima da floresta. Além disso, outro ponto que agrega valor ao segmento é a geração de emprego para os pequenos produtores de cooperativas e associações rurais. “Estamos verticalizando um produto nosso e permitindo manter a floresta em pé de forma sustentável. Estamos trabalhando em uma ação com pequenas indústrias e o efeito que isso pode gerar na economia é muito bom. A empresa sai mais competitiva. Fora que a produção traz divisas para dentro do Estado, porque a empresa se prepara para competir fora do Brasil. As comunidades também se incluem nesse processo. Se as empresas estão preparadas para comprar da maneira correta e ensinar boas práticas de como extrair e manter a biodiversidade local”, explica a diretora da Sedeme.

BOM PARA PELE E OSSOS A andiroba (Carapa guianensis Aublet) tem propriedades anti-inflamatórias, cicatrizantes, antirreumáticas. Também é usada como repelente de inseto, no combate a doenças de pele e apresentou eficácia no tratamento contra acne e espinhas. Na Amazônia, é tradicionalmente em contusões e inchaços no corpo. Um tratamento experimental estimula pacientes de câncer a ingerir a andiroba em forma de cápsulas.

RESPONSABILIDADE

Para Lucélia Guedes, da Sedeme, é preciso verticalizar a produção local permitindo manter a floresta em pé de forma sustentável

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 41


ASSUNTO DO MÊS

ESTUDO CONTÍNUO DE PLANTAS PERMITE NOVAS DESCOBERTAS No laboratório de Fitoquímica da UFPA são realizados diversos estudos sobre plantas e frutas regionais para uso em diversos fins. Na indústria farmacêutica fitoterápica, que aproveita vegetais com uso tradicional ou popular comprovado para o desenvolvimento e produção de medicamentos, utiliza-se em geral a extração por meio da maceração com etanol e sua mistura com água em diferentes graduações alcoólicas, já que esses líquidos extratores são bem tolerados pelo organismo humano. “Os frutos são consumidos in natura ou na forma de suco, o que exige o uso de água potável para a obtenção de produtos, aos quais se devem adicionar aditivos para garantir estabilidade química (antioxidantes) e estabilidade microbiológica (conservadores), quando se produz em escala”, explica o professor Wagner Barbosa (foto abaixo), doutor em Ciências Naturais e coordenador do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento Farmacêutico e Cosmético, da UFPA, ao falar sobre a obtenção desses recursos naturais. Barbosa explica ainda que as plantas são extraídas segundo a fitote-

MERCADO

O sobrenome da família Chamma deu nome ao negócio iniciado ainda em meados da década de 1940. O amor pela química e pela Amazônia despertou o interesse do empresário Oscar Chamma pelos biocosméticos. À época, ele já inseria na composição dos óleos capilares insumos amazônicos, misturando aos insumos europeus. Oscar trabalhava com perfumes, óleos, sabonetes e também com um tipo de venda que chamavam de “arretalho”, quando o cliente levava o frasco e o comerciante vendia apenas o refil do líquido.

O negócio cresceu com o passar dos anos e, com a morte do patriarca, uma dentre os sete filhos, Fátima, assumiu o legado construído pelo pai. “Na década de 1990, começamos a participar de feiras, eventos e exposições para perceber como era o nosso público e como trabalhar com ele, pensando em novas necessidades para o cliente. Percebemos que poderíamos entrar no uso de insumos amazônicos. E fomos pioneiros. Foi quando a UFPA lançou o edital buscando empresas para a incubadora e nós fomos selecionados”, lembra a empresária, que preside o Sindicato da Indústria de Produtos Químicos, Farmácia e de Perfumaria

rapia popular e em sua grande maioria, com água potável, geralmente aquecida. “Podem-se preparar oleatos, por tratamento da planta com gorduras e óleos. Também muito recorrente é a utilização de aguardente ou vinho para a preparação de remédios artesanais, este processo contribui para a conservação do remédio, embora haja contraindicações para alcoolistas, grávidas e crianças. Os preparados de base aquosa são para uso extemporâneo, ou seja, prepara-se no momento de uso”, detalha.

NA HORA DO BANHO A copaíba (Copaifera sp.) tem propriedades terapêuticas. É bastante empregado em formulações de xampu, loções capilares, sabonete, cremes condicionadores, loções hidratantes e espumas de banho. Na indústria de perfumes é utilizado como fixador de essências. Também é considerada um eficiente antiúlcera, antiviral, antirrinovírus e anti-inflamatório. O óleo é usado como repelente de insetos e apresenta propriedades bactericidas.

42 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


FORÇA NA CABELEIRA O açaí (Euterpe oleraceae Mart), em forma de óleo ou extrato, é usado em xampus e condicionadores, melhorando a hidratação e a estrutura do cabelo e condicionamento. Rico em ativos antioxidantes, possui elevada concentração de substâncias que previnem doenças degenerativas e considerado bom para o metabolismo. Pode ser usado em tratamento de desordem cutânea.

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 43


ASSUNTO DO MÊS

GOVERNO CRIA FUNDO PARA PROTEGER O CONHECIMENTO TRADICIONAL A partir de novembro de 2015, o processo de pesquisa e industrialização de um biocosmético feito com produtos naturais deve ser mais eficiente. Essa é a finalidade da nova lei sancionada pela Presidência da República em maio. Os estudos na área não vão mais precisar de autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético, processo que podia levar até dois anos. Agora, os pesquisadores poderão fazer apenas um cadastro pela internet. A legislação surge para estimular a pesquisa e proteger o conhecimento dos indígenas e povos tradicionais como ribeirinhos

e quilombolas. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, quase 300 povos e comunidades tradicionais vão estar integrados nesse processo, e as normas criam um ambiente favorável para o acesso à biodiversidade brasileira. Quem detém o conhecimento tradicional terá direito a receber sua participação em royalties. Já os pesquisadores não terão limites para pesquisar. A ideia é que as empresas possam, sem conflito, utilizar desse conhecimento. Todo o saber tradicional poderá ser usado pelos pesquisadores e indústria para desenvolver um produto, por exemplo. Mas, para isso, o pesquisador ou a indústria que vai comercializar o produto descoberto na comunidade terá que negociar direto com os indígenas e povos tradicionais e compensá-los em dinheiro ou com tecnologias. A empresa ou responsável pela pesquisa também vai ter que depositar em um fundo até 1% da renda obtida com a venda do produto. Caso o conhecimento de povos tradicionais tenha sido usado na produção, o fabricante deve depositar no fundo mais 0,5% do lucro com a venda. A lei foi sancionada no dia 20 de maio deste ano pela presidente Dilma Rousseff, mas as novas regras têm 180 dias para começarem a valer.

e Artigos de Toucador do Pará (Sinquifarma). A incubadora tem quatro fases até a saída da empresa no seu espaço próprio. Fátima explica que o apoio inicial, de 1996 a 2000, foi fundamental para o crescimento do negócio, pois há incentivo na redução de custos para o acesso à tecnologia, à informação, além da interação entre a universidade e a empresa. “Ano passado fomos surpreendidos com a pesquisa

de uma revista que selecionou dentre 500 empresas, as 50 que mais investem em tecnologia no setor, e nós ficamos 27° lugar no Brasil. Então, depois de crescer vendo o meu pai falar da potencialidade da riqueza amazônica, ver que deu certo é muito bom. Importamos matérias-primas e agregamos matérias-primas locais, óleos naturais puros. Não é uma matéria transformada quimicamente. É tudo nosso”, comenta Fátima Chamma.

BOM PRA QUASE TUDO A castanha-do-pará (Bertholletia excelsa H.B.K), além de sua reconhecida constituição em macronutrientes, apresenta-se como considerável fonte de importantes constituintes de ação antioxidante. Também se mostra eficiente no tratamento de artrite, catarata, inflamações crônicas e cardiopatias. Alguns

MÃO DUPLA

Lei federal determina que os povos tradicionais participem dos lucros das empresas que pesquisam e produzem produtos com elementos da floresta 44 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

estudos mostraram que essa oleaginosa ajuda a prevenir câncer, esclerose múltipla e mal de Alzheimer. Sua fração oleosa é indicada na prevenção de doenças cardiovasculares, controles glicêmicos e de peso.


Os produtos são dermatologicamente testados e feitos com óleos de andiroba, copaíba, açaí, cupuaçu, castanhado-pará, buriti, óleo de palma. Os óleos são trabalhados in natura e, após o tempo na incubadora, a tecnologia utilizada é toda da empresa. “O açaí, como alimento, tem propriedades fantásticas. Mas se aplicado à pele ele tem um efeito maravilhoso. Então, podermos utilizar a abundância e a diversidade da nossa floresta a nosso favor vai contribuir com o crescimento do estado como um todo, gerando renda para a comunidade, para o setor extrativista. O setor de biocosméticos está demandando produtores verdes e de fontes renováveis”, analisa a empresária. Para a consolidação dos pro-

CREDIBILIDADE

A empresária Fátima Chamma acredita que o setor de biocosméticos com produtos regionais tende a crescer no País

dutos amazônicos no mercado nacional e internacional é preciso um trabalho profissional, que prioriza a qualidade, segundo Fátima. Desta forma, o próprio consumidor local e de outras regiões do país terá ainda mais motivos para valorizar o que é produzido na Amazônia. “Temos por hábito prestigiar sempre o que vem de fora. De repente, essa nova legislação (Marco Legal da Biodiversidade, ver box à esquerda), com políticas de proteção às indústrias locais, pode nos ajudar a trabalhar um manejo sustentável, certificação das espécies, a maioria delas nunca foi usada, muitas coisas da legislação antiga vinha na contramão do que se chama de estímulo ao empreendedorismo à inovação, à pesquisa e à tecnologia. Esse segmento é altamente exigente. Tem que estar apto à legislação ambiental interna e externa, mas podemos vencer esses desafios”.

PROTETOR SOLAR NATURAL O cupuaçu (Theobroma grandiflorum) ajuda a melhorar a elasticidade da pele, a retardar o envelhecimento e a melhorar a capacidade de hidratação da pele. A manteiga de cupuaçu pode ainda servir como um protetor solar natural e como calmante para irritações da pele como eczema e dermatite. Possui efeito energético, beneficia o sistema imunológico, pode diminuir a pressão arterial, aumentar a libido e diminuir o colesterol LDL (colesterol ruim). JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 45


COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

LATA D´ÁGUA NA CABEÇA É COISA DO PASSADO FOTOS: PROJETO SAÚDE E ALEGRIA/ DIVULGAÇÃO

COM A MONTAGEM DE MICROSSISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA COMUNITÁRIOS NO BAIXO AMAZONAS PELO PROJETO SAÚDE E ALEGRIA, RIBEIRINHOS GERENCIAM OS RECURSOS HÍDRICOS NO LOCAL ONDE HABITAM

Q

TEXTO JOÃO CUNHA

uantas pessoas é preciso para fazer um sistema de abastecimento de água? No centro da comunidade, forma-se o puxirum e grupos de homens e mulheres, em turnos, se revezam nas tarefas de cavar a terra à procura da água de qualidade, abrir o caminho das valas para escoamento, colocar os canos da rede hidráulica, erguer a torre da caixa d’água e, enfim, transportar a água até lá.

46 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

O ritual se repete há 20 anos na região do Baixo Amazonas, no Pará, e já foi realizado em 36 polos comunitários. Não há novidade no sistema. O que foge do padrão e destaca o que vem sendo feito às margens dos rios Tapajós, Arapiuns e Amazonas é a organização, montagem e gerência da tecnologia, tudo feito e pensado coletivamente e depois entregue aos cuidados dos moradores. “Pelos puxiruns (mutirões), as popu-

lações se apropriam dessas estruturas. Estando à frente das atividades, elas se sentem e de fato se tornam donas dos sistemas de abastecimento”, diz Caetano Scannavino, coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria (PSA), à frente da implantação dos sistemas de abastecimento no Baixo Amazonas. No trabalho direto com comunidades ribeirinhas na Amazônia desde 1987, o “Saúde e Alegria” assessorou a construção de mais de 100 km de


FOTOS: PROJETO SAÚDE E ALEGRIA/ DIVULGAÇÃO

rede hidráulica em locais onde a água encanada, ainda mais em escala residencial, era privilégio ou ausência. Em 2013, a implantação de sistemas de abastecimento de água, ação tradicional do “Saúde e Alegria”, se uniu ao projeto Floresta Ativa, parceria da instituição com o Fundo Vale, Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), Instituto Chico Mendes (ICMbio), Organização das Associações das Comunidades da Resex – Tapajoara e o Lateinamerika-Zentrum e.V. (LAZ). Em fevereiro, o projeto inaugurou o maior sistema de abastecimento já feito na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns. Com 10 km de extensão, ele alcança as comunidades de Capixauã, Novo Progresso, Vista Alegre de Capixauã (onde está a fonte do sistema) e Araçazal, que juntas somam cerca de 110 famílias. Para servir bem a todas elas, montou-se uma caixa d’água de 20 mil litros, abastecida por um poço de 55 metros de profundidade. Em paralelo às obras, os moradores recebem treinamento para operar o microssistema e participam de oficinas de autogestão. “Nós oferecemos o que temos, o conhecimento especializado, e as comunidades a disposição e o trabalho para ajudar a construir os sistemas de abastecimento de água”, explica Caetano. Com o envolvimento comunitário, o coordenador do Núcleo de Organização Comunitária do PSA, Carlos Dombroski, calcula que o custo para montar um sistema desses pode cair para menos de um terço do valor usual de projetos governamentais ou privados. “Investimos, entre R$ 50 mil e R$ 200 mil (dependendo do tamanho da comunidade) na compra de materiais e contratação de alguns serviços técnicos para fazer cada sistema, enquanto que normalmente o mesmo serviço sairia por R$ 320 mil. Trata-se de um modo de produção e de uma tecnologia econômicas, e bastante eficientes também”, afirma.

PUXIRUNS

Os mutirões para construção de microssistemas de abastecimento de água apoiados pelo Projeto Saúde e Alegria, no Baixo Amazonas, deram novo vigor às comunidades, que antes tinham dificuldades para usufruir de água de qualidade

Montada a infraestrutura, cada local decide qual a melhor maneira de cuidar do sistema. Um estatuto da água é formado, onde estão os direitos e deveres de cada usuário, a finalidade, e as taxas pagas por família para a manutenção do maquinário. Toda essa dinâmica é administrada por um grupo de gestores com membros de todas as comunidades envolvidas, arranjo que inclusive melhorou as relações entre elas. “Temos relatos de brigas históricas entre pessoas e localidades que foram superadas por causa da gestão da água”, conta Dombroski.

BENEFÍCIOS

Ter água na torneira e um poço artesiano no quintal de casa ou em algum ponto acessível de sua comunidade, em um cenário de fartura hídrica como a Amazônia, não é incongruência nem ostentação. É, sobretudo, uma prerrogativa para a saúde. A necessidade e o costume de beber a água dos rios, muitas vezes contaminados ou com dejetos da decomposição natural de matéria orgânica, ainda hoje é motivo de altas taxas de mortalidade infantil na região. Doenças de veiculação hídrica, como amebíase, giardíase e febre tifoide, de fácil tratamento no meio urbano, são fatais nos interiores de JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 47


FOTOS: PROJETO SAÚDE E ALEGRIA/ DIVULGAÇÃO

FOTOS ASCOM UFRA

COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

VIDA DIGNA

Antes, hábitos domésticos que podem parecer simples no dia a dia, como lavar a louça e tomar banho, eram muito mais difíceis para os ribeirinhos da região dos rios Tapajós, Amazonas e Arapiuns.

“Nós oferecemos o conhecimento especializado, e as comunidades a disposição para ajudar a construir os sistemas de abastecimento de água” CAETANO SCANNAVINO

Coordenador geral do Projeto Saúde e Alegria

48 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

Santarém e municípios vizinhos no Baixo Amazonas. “É inadmissível, no terceiro milênio, a perda de uma criança por desidratação de diarreia”, resume Caetano Scannavino. Foi no início da década de 1990, durante um surto de cólera na Amazônia, que ele e seu irmão, o médico Eugênio Scannavino, resolveram estabelecer sistemas de tratamento de água dentro do Projeto Saúde e Alegria. Com o recurso de um consórcio alemão e o trabalho conjunto da comunidade construíram o primeiro modelo em Suruacá, na margem esquerda do rio Tapajós. O morador e agente comunitário de saúde, Djalma Lima, recorda que antes da cisterna eram recorrentes os casos de verminose, vômito e diarreia por causa do consumo das águas fluviais. “O rio tinha água de baixa qualidade e em um período do ano, enchia de algas que causavam mau cheiro”, comenta. Atento ao aspecto cultural de Suruacá, o Saúde e Alegria desenvolveu campanhas de educação e prevenção em saúde, higiene e saneamento. Desde o princípio, a arte e a comunicação foram formas de interagir e estimular o público, e Djalma viu-se então mais um membro da trupe do projeto, interpretando um palhaço nas peças educativas. “Com esses recursos e o funcionamento da cisterna, desde então não registramos mais nenhuma morte de criança na comunidade”, afirma orgulhoso. O modelo integrado de infraestruturas de saneamento e mobilização para incentivar hábitos, higiênicos e saudáveis virou referência e foi replicado em todas as comunidades atendidas pelo PSA, somando de 2 mil famílias, equivalente a mais de 10 mil pessoas. No final deste mês, esse universo vai aumentar com a inauguração da cisterna de Pedra Branca, mais adentro da Resex Tapajós-Arapiuns.


BONS EXEMPLOS

REPRODUÇÃO

ROBERTA BRANDÃO

MUDANÇADEATITUDE

VÁ A UM PSICÓLOGO VOCÊ TAMBÉM Escuta-se, em rodas de amigos e em família, tom de brincadeira ou recado, a famosa frase: “você precisa de um psicólogo”. A despeito

Pela mulher e pela dignidade Trabalhar em defesa dos direitos da mulher, profissionalização, melhoria das condições de vida e promoção cultural são alguns dos objetivos desenvolvidos pelas Religiosas de Maria Imaculada do Centro Social Vicenta Maria, em Belém. A irmã Rita Martín Gimenez, responsável pela congregação, conta que atualmente, a comunidade trabalha com vários projetos sociais, como o Centro de Adolescentes Vicenta Maria (Cavim), onde são atendidas crianças e adolescentes de famílias carentes que recebem aulas de reforço de inglês, espanhol e outras atividades de ressocialização. A entidade também faz orientação e encami-

nhamento a empregos para as mulheres atendidas pelo centro, além do Projeto Esperanza, realizado no bairro do 40 Horas, em Ananindeua, com atividades de reforços, palestras, sensibilização social, formação cultural, e cursos voltados para a valorização da autoestima e alfabetização. O Cavim também funciona como um espaço de pensionato, onde são atendidas jovens de 16 a 25 anos que vem do interior do Estado para estudar e trabalhar, e precisam de um lugar para morar. São ofertadas à elas, além do espaço, algumas atividades e celebrações voltados aos cuidados com a educação e convivência entre as jovens.

do senso comum, “ir ao psicólogo pode ser muito mais saudável do que as pessoas imaginam”, garante a psicóloga e psiquiatra Elizabeth Levy, mestre em psicologia clínica e coordenadora da Clínica de Psicologia da Universidade da Amazônia (Unama). Na rotina

“É muito bom que as pessoas saibam do trabalho que fazemos e o que isso significa para vida dessas mulheres e como isso influencia nos seus futuros. Precisamos da ajuda de todos na doação de alimentos, roupas, brinquedos e materiais escolares para realizar as ações sociais”, afirma irmã Rita. Hoje, a Congregação das Religiosas de Maria Imaculada está presente em quatro continentes: África, Ásia, América e Europa com mais de 130 comunidades que trabalham pelas jovens, especialmente as que mais precisam de formação, orientação e as que moram longe de suas famílias.

estafante, nos corre-corres cotidianos e no estresse corrosivo, estão elementos muito ligados à subjetividade – e procurar um psicólogo pode ser a chave para uma vida, no mínimo, melhor. Mais autoconhecimento, mais sustentabilidade do ser. De fato, algumas pessoas precisam ir ao psicólogo mais que outras, afirma Elizabeth Levy, já que “são mais vulneráveis ou sensíveis diante dos conflitos e das situações de risco”. A visita a esse tipo de profissional é uma busca para “ajudar o sujeito a se conhecer melhor e se ajudar”, completa Levy, compreendendo “o porquê de a pessoa se comportar desta ou daquela forma, o porquê de ela repetir coisas que conscientemente não gostaria, o porquê de brigas excessivas com pessoas com quem convive, o porquê de se culpar de tudo, o porquê de viver adoecendo e etc”. No Sistema Único de Saúde, pode-se acessar ao atendimento por profissionais da Psicologia nas unidades básicas de saúde, por exemplo.

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 49


VIDA EM COMUNIDADE

UNIDOS PELO COMPUTADOR JOGADORES PROFISSIONAIS DO PARÁ FORMAM O PRIMEIRO TIME UNIVERSITÁRIO DE E-SPORTS DO PAÍS

O

TEXTO VICTOR FURTADO FOTOS FERNANDO SETTE

Pará é o primeiro estado brasileiro a ter times universitários de e-sports - esportes eletrônicos de videogames. O Cesupa Team White e Cesupa Team Blue, ambos do Centro de Estudos Superiores do Pará, são formados por dez jovens, sendo cinco em cada equipe, que vão representar o Estado e a instituição no competitivo mundo do jogo League of Legends (LoL), um dos mais populares games do estilo MOBA (Multiplayer Online Battle Arena ou Arena de Batalha Multijogador Online em tradução livre) com milhões de jogadores em todo o planeta.

50 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

Mas para se manterem nos times, os jogadores não poderão vacilar nos estudos, então uma atividade deve incentivar a outra. Muitos não se conheciam e agora se tornaram amigos, que não convivem apenas no ambiente virtual. Na região Norte, estima informalmente o site TeamPlay, existem cerca de 80 mil gamers ativos com perfil profissional ou amador no segmento. Em países asiáticos, os e-sports chegam a ser mais famosos que muitos esportes comuns, com plateias lotadas e “cyber atletas” (como são chamados os jogadores) tratados como ídolos. Cada “kill” em LoL (quando um jogador derrota o perso-

nagem de outro) é comemorado como um gol. Um “quadra kill”, então, gera ainda mais euforia nos expectadores. Essa tendência é vista aqui também. No evento de lançamento do Cesupa Team, no dia 15 do mês passado, a plateia estava lotada e vibrava a cada jogada. O evento teve direito a narrador e comentarista. Não devia nada a nenhuma partida do esporte nacional preferido, exceto que os fãs, por enquanto, não têm onde curtir as partidas se não em lan houses ou pela internet. Os e-sports são reconhecidos como esportes oficiais em muitos países como na mesma categoria de xadrez, damas ou pôquer. Alguns


dos jogos mais conhecidos do mundo dos e-sports, além de League of Legends, são também Defense of the Ancients (DotA), Starcraft, Fifa, Street Fighter. Mas a lista sempre aumenta. Passada a euforia do primeiro amistoso em Belém, chegava o momento de conversar de novo como amigos. A equipe White provavelmente iria jogar mais uma partida. A equipe Blue já planejava um churrasquinho, mas algo que não atrapalhasse o Wyllis Vogado, 20 anos, o mais adiantado de todos, cursando o sétimo semestre de Direito e já na reta final do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), além de estar com os olhos na pós-graduação em Ciências Forenses. “Já soube que poderia continuar no time estando na pós-graduação, então é um incentivo a mais para estudar e viceversa. Mas acho que todos já sentimos que estamos mais dedicados ainda aos cursos”. André Luz, do Cesupa White, tem 23 anos e é estudante do primeiro período de Publicidade e Propaganda. Ele “vive os games”, tanto que um dos brincos que usa é um triângulo verde, símbolo de um dos botões dos controles do PlayStation. Ele já competia em torneios de LoL, como o Go4LoL, em nível nacional. Jogou no time do gamer “Minerva”, que chegou ao mundial e competia pela equipe da loja Kabum!. “A expectativa

agora é que o time se desenvolva, cresça e possa viajar, participar de eventos. Já estamos convivendo como amigos. O Daniel Gatinho é que é nosso líder. Ele é humilde, modesto, coisa de líder. É o ‘Mestre Poro’ (alusão a um personagem do LoL)”. Para as duas equipes, treinar tem sido um pouco difícil, já que há alunos de vários cursos em turnos diferentes. Os treinos acabam ficando para a madrugada ou finais de semana, mas sem comprometer o descanso e, consequentemente, atrapalhando os estudos ou a concentração nos jogos. Cada equipe já tem sua rotina própria de treinamento, ainda informal. Agora a instituição busca patrocínios e apoios para fortalecer o time e estimular o esporte no Estado. A repercussão do Cesupa já foi suficiente para mobilizar estudantes de várias universidades e buscarem a formação de times próprios.

HABILIDADES

“Para que se entenda a razão pela qual o Cesupa está lançando um time oficial de esportes eletrônicos (e-Sports), temos de entender o conceito da palavra esporte, que vem do francês ‘desport’, que significa recreação, prazer, lazer e diversão”, explica o professor Rafael Boulhosa, coordenador de Extensão do Cesupa. “O time que o Cesupa está lançando se alinha com esta ideia que universidades norte-americanas, europeias e asiáticas já fizeram. Os esportes

ESPORTISTAS ELETRÔNICOS

O Cesupa montou dois times para representar a Amazônia nos torneios nacionais, que têm direito a torcidas organizadas e plateia lotada

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 51


VIDA EM COMUNIDADE

“Os esportes eletrônicos contribuem para o pensamento estratégico, liderança, trabalho em equipe” RAFAEL BOULHOSA

COORDENADOR DE EXTENSÃO DO CESUPA

EXPECTATIVA

Incubadora de empresas do centro universitário há um projeto para organização de eventos de e-sports no Estado

eletrônicos não propiciam atividade física, mas certamente contribuem para o desenvolvimento de algumas habilidades que consideramos importantes, como pensamento estratégico, liderança, trabalho em equipe e raciocínio rápido”, completa. Na incubadora de empresas do centro universitário há um projeto para organização de eventos de e-sports no Estado. Posteriormente, se mais times se organizarem após a iniciativa, haverá uma solicitação para tentar incluir a modalidade nos Jogos Estudantis Paraenses (Jeps), além de tentar trazer torneios já conhecidos ou iniciar novos eventos do setor. Até o início do ano que vem, mais oito equipes

serão formadas pelo Cesupa e um total de 50 estudantes seguindo a filosofia dos games aplicada aos estudos. Sobre se o Pará pode se tornar um palco dos e-sports na região Norte, Boulhosa é enfático: “Tenho observado um Estado com habilidade em e-sports. Acredito que esteja faltando um direcionamento que aplique os mesmos conceitos de disciplina de organização, conduta e treinamento para que nossos jogadores comecem a despontar no cenário nacional “, diz. Cássio Soares, diretor de Marketing do Portal TeamPlay e à frente do departamento comercial da startup Hertz One Gaming Society, adianta: a região Norte

terá muitas surpresas no cenário gamer a partir de julho, começando com três eventos regionais já confirmados para Belém. “Em julho teremos um grande campeonato no evento Belém Comic Con (Hangar). Este evento também contará com três modalidades e uma delas será o LoL. Também em julho teremos um campeonato de LoL na programação da feira de entretenimento e cultura japonesa Animazon, também no Hangar”, destaca Cássio. Em outubro, um shopping em construção em Belém terá um evento de e-sports e os jogos que farão parte da programação são LoL (PC), Fifa 15 (Xbox 360) e Dance Central 3 (Xbox 360).

NA TELA Jogos como o Dota 2 e League of Legends despertam o espírito comunitário nos cyberatletas de todo o planeta. É preciso trabalho em conjunto para vencer os desafios propostos pelos videojgos.

52 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


ARTE, CULTURA E REFLEXÃO FERNANDO SETTE

PENSELIMPO

POSTURA DE ARTISTA

PP. CONDURÚ ABRE O ATELIÊ PARA QUE AS PESSOAS POSSAM IMERGIR EM SUAS OBRAS, QUE TRADUZEM O UNIVERSO DE SUAS IDEIAS DIANTE DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

PÁGINA 54

CORTE E COSTURA A professora de modelismo

GÊNIO O maestro Carlos Gomes, autor de

Cristiane Albuquerque adotou os conceitos da antropometria em seu trabaalho. PÁG. 58

clássicos da ópera universal, como O Guarani, deixou um legado na Amazônia. PÁG.60

ECO-92 Uma das maiores conferências mundiais sobre meio ambiente completa 23 anos com muito ainda a ser realizado no planeta. PÁG.66

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 53


DEDO DE PROSA

Mundo gráfico

O ARTISTA PLÁSTICO PP. CONDURÚ SE CONSIDERA UM SER INQUIETO AO EXPERIMENTAR AS VÁRIAS POSSIBILIDADES DE EXPRESSAR SUA ARTE TENDO COMO FERRAMENTAS PINCEL, TINTA E UMA BOA DOSE DE LIBERDADE NO PROCESSO DE CRIAÇÃO TEXTO DOMINIK GIUSTI FOTOS FERNANDO SETTE

54 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


D

estemido com o pincel na mão, o artista plástico paraense PP. Condurú ficou conhecido por suas pinturas de grandes dimensões, com energia particular. São obras que mostram seu interior, sua maneira desprendida de preceitos técnicos e ainda sua postura de artista. Diz não ter uma maneira exata de criar e que trabalha conforme o humor/amor do dia. Com mais de 30 anos de carreira, decidiu abrir as portas de seu atelier, em uma casa no bairro da Cidade Velha, em Belém, para encontrar-se, para perceber-se diante de quem o contempla. A inauguração foi durante o “Projeto Circular”, em abril. O objetivo é desmistificar a ideia do pintor que se isola do mundo, se aparta da realidade mundana e das pessoas. A pintura tem lugar especial em sua carreira, de mais de 30 anos, mas PP é também desbravador de um mundo – que foi novo: no início da computação gráfica começou a explorar os mecanismos da máquina, e com o computador começou a criar obras também. Passava horas procurando as imagens da internet, misterioso universo, e imprimia o que queria para realizar uma intervenção, com desenhos burlescos. Dedicou cinco anos para o projeto “PP Condurú - Mostra 30 anos”, que ocorreu em 2006, no Museu Casa das Onze Janelas, com uma grande retrospectiva de sua trajetória. Foi um momento de profundo refletir também sobre os rumos que estava tomando. Praticamente parou de produzir telas de acrílica e concentrou-se no projeto, que acabou sendo compilado em um livro, de mesmo nome, e um DVD – o que o artista considera um divisor de águas. “Reavaliei minha produção e li que o que tinha feito até naquele momento era uma espécie de universidade, pois trabalho, estudo e pesquiso por conta própria. Resolvi sair de uma empresa que era sócio e trabalhava nessa área de computação e voltar a pintar, só que queria misturar as JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 55


DEDO DE PROSA

duas coisas computação gráfica e pintura. Queria me envolver com o público, queria saber de outros pensamentos que não só o meu, buscar essa troca”, diz. Como surgiu a ideia de criar o “escritório galeria” ou “casa estúdio”. Você acha que abrir as portas do seu local de trabalho e pensamento artístico promove maior interação com o público? Foram várias coincidências que levaram abrir minha casa ao público em geral. Antes eram visitas de interessados. Aí veio o projeto “Circular Campina – Cidade Velha” e o fato da minha casa ser térrea e na Cidade Velha, juntou para que eu abrisse o espaço. Basicamente foi isso, que apesar do medinho, como tímido, medo de me expor dessa maneira, expor meu canto. Mas deu tudo certo e foi muito gratificante. Suas obras refletem suas experiências com o mundo, o seu estar no mundo? De que maneira você costuma sistematizar sua produção? Como surge uma obra para você? Tenho uma premissa de ser feliz com que faço, porque no pintar isolado há muito sofrimento. Quero sair desse isolamento, quero ter mais prazer me inteirar mais com a realidade com o mundo com as pessoas e assim criarmos e nos divertimos. Estou elaborando uma técnica de computação com pintura, uma coisa que pode ser executado por qualquer pessoa desde o início até o término do trabalho que ainda virará game-arte, estou nesse processo na execução do projeto. O trabalho consiste em várias etapas e possuem várias frentes de trabalho, e tem muito trabalho, vou fazendo a medida do possível. Isso inclui desde a disponibilidade de material, de tempo e prioridades. Assim vou tocando já entro no quarto ano e acho que isso não cessa mais. Isso já me deixa bastante contente. Tenho trabalho pro resto da vida. No início de sua carreira, você foi para a região sudeste. Como essa passagem pelas grandes capitais influenciou sua visão

56 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

“Queria me envolver com o público, queria saber de outros pensamentos que não só o meu, buscar essa troca” sobre a arte e direcionou sua escolha estética? Na época [em que iniciou os trabalhos artísticos] Belém não tinha esse movimento de arte de agora e nem cursos nem nas universidades. A primeira vez, em 1978, fui estudar no Parque Lage, no Rio de Janeiro. Já a segunda, em 1985, fui a São Paulo pra vivenciar junto a artistas de lá e ter uma profissionalização, ficar perto da produção nacional me misturar à produção explosiva dos anos 1980. Quais foram as suas grandes referências para a sua formação artística? Na década de 1970, Belém não tinha muito onde se aprender. Aí nos virávamos com que tínhamos. Reuníamos, na época eu Simões e Roberto Santos, pra consumirmos livros de gênios da pintura. Então as referências eram Picasso, Van Gogh, Lutrec, Gauguin. Curtia mais pintura e desenho. Não entendia muito a arte conceitual nem as linguagens contemporâneas da época, apesar de simpatizar com posturas de alguns artistas como Andy Warhol e outros que não recordo agora. Então, basicamente foram essas referências. De que forma as técnicas foram sendo desenvolvidas por você. Hoje, já transita da pintura à gravura eletrônica? Experimentei diversas formas de


linguagem e matérias, e estou juntando tudo num único projeto, onde misturo essa experiência com materiais linguagens e postura como artista. É isso que busco agora uma forma de discutir todas essas formas com o distinto publico, como já dizia Oiticica (Hélio Oiticica, renomado artista plástico brasileiro), quebrar essa barreira, me misturar ser mais feliz com a produção e com as novas parcerias. A exposição “PP Condurú Mostra 30 anos”, realizada em 2006, no Museu Casa das Onze Janelas, reúne a sua produção de uma vida inteira. Como foi compilar esse material e de que forma você fez essa revisão de sua carreira? O que sentiu?

Foi divisor de águas. Quando comecei esse projeto minha intenção era tentar reunir o máximo que pudesse da minha produção, que já passa de mil trabalhos. Como sempre fiz exposições de maneira experimental e nunca tinha catálogo, os professores de arte me perguntavam onde poderiam ver essa produção, então a primeira intenção era ter esse material para sala de aula, para os professores e as coisas foram acontecendo. O espaço, que era no Museu do Estado do Pará, mudou para o Museu Casa das Onze Janelas por circunstância de momento. Seria um mês de exposição e acabou que ficou quatro, nem era essa a intenção, era só um livro e acabou que virou mostra

com DVD. Os ventos iam ajudando e formatando o projeto que durou cinco anos. Bom, passado isso reavaliei minha produção e li que o que tinha feito até naquele momento era uma espécie de universidade, pois trabalho, estudo e pesquiso por conta própria. Como trabalho com computação gráfica desde 1997, resolvi sair de uma empresa que era sócio e trabalhava nessa área de computação e voltar a pintar, só que queria misturar as duas coisas computação gráfica e pintura, só que de uma maneira que não me isolasse, sair daquela máxima de pintor solitário. Queria me envolver com o público, queria saber de outros pensamentos que não só o meu, buscar essa troca.

JUNHO DE 2015

CONTATO

PP. Condurú diz que pintar isolado é um sofrimento para o artista. Ele precisa encontrar, conhecer pessoas.

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 57


ARTE PESQUISADA

Com que roupa? COM BASE NOS CONCEITOS DA ANTROPOMETRIA, PROFESSORA DE MODELISMO DESENVOLVE MÉTODOS DE COSTURA PERSONALIZADA QUE FOGEM DOS PADRÕES INDUSTRIAIS P, M E G TEXTO DOMINIK GIUSTI FOTO ROBERTA BRANDÃO

P

ara estimular os estudantes de moda a se interessarem mais pelo curso, a professora Cristiane Albuquerque desenvolveu dois métodos de costura baseados na antropometria, que visa a melhorar o ensino de moldes e cortes. Ela mesma os batizou de “método caimento perfeito” e “método arquitetura do corte”, que não dependem de cálculos para serem executados. “É muita matemática e isso dificulta o aprendizado dos alunos, faz com que muitos desistam”, resume. Por conta dessa constatação, a professora, que há mais de 25 anos leciona modelismo, disciplina que ensina a fazer moldes das roupas, Cristiane observou que poderia simplificar a técnica da costura, deixando o ensino mais fácil e rápido. O “método caimento perfeito” é aplicado apenas com fita métrica e lápis. A professora explica que as tradicionais réguas de costura, ferramentas clássicas

58 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


MASCARADOS

CAI BEM NO CORPO

Segundo os atores da trupe, as máscaras têm o poder de levar o público para um mundo místico, de fazer a fantasia ser aceita no ambiente real

que orientam as costureiras, foram aposentadas por ela. “A primeira coisa que eu fiz foi parar de usar essas réguas, abdiquei desses instrumentos. A fita métrica faz todo o desenho da roupa, sem precisar de cálculos matemáticos. Descobri que a partir do momento que traçava a roupa nesse método, não tinha erro. A roupa estava exatamente igual como a pessoa era. A gente paga para estar bem vestida, e quem dá isso é o modelista, que pega o croqui e desenvolve os moldes. É como se fosse o engenheiro, faz a ‘planta’ da roupa. Dessa forma é possível costurar de forma personalizada”, enfatiza. Para Cristiane, o caimento é a principal característica da roupa. A pessoa tem que se sentir confortável. Foi assim que percebeu, por exemplo, onde poderia dar os cortes exatos dos recortes e pinças, que no método normal depende de cálculo. Ela percebeu que na metade do ombro é onde passa o bico do seio. E que ele fica na terça parte da cintura. “Se for fazer uma pinça para ajustar a roupa, sei qual é o lugar”, diz. O molde personalizado vai na contramão da costura industrial, que tem os tamanhos padronizados em P, M e G.

A professora Cristiane Albuquerque abandonou as réguas e os moldes tradicionais de costura para desenvolver uma nova técnica a partir da antropometria, respeitando as medidas de cada pessoa

A professora também percebeu que a costura pode ser uma aliada para salientar as curvas do corpo sem que a costura pareça malfeita. “Fazemos o molde e cortamos. Não tem erro, cai como uma luva”, orgulha-se.

RECICLAGEM

Sobre reciclagem de roupa, Cristiane Albuquerque começou a estudar uma maneira de refazer modelos aproveitando os cortes da própria roupa. Dessa forma, surgiu o “método arquitetura do corte”, que é usado para reformas e customizações. São aproveitadas as formas antropométricas de pontos anatômicos, como a já conhecida medida de que o cós de uma calça por exemplo ser equivalente a uma volta no pescoço. Os dois métodos foram patenteados e são a base dos cursos ministrados pela professora. O “caimento perfeito” é como se fosse o primeiro módulo para quem está iniciando os estudos de corte e costura, mas ela garante que serve também para quem quer fazer os moldes com mais facilidade. E “a arquitetura do corte” é como se fosse um segundo módulo, para quem já entende do assunto e quer refor-

mar roupas. Por conta das dificuldades de se fazer um molde, Cristiane Albuquerque diz que há uma lacuna de profissionais no mercado de trabalho. “É um profissional que trabalha em off. O estilista precisa do modelista. O diferencial de uma grife para outra é o caimento, às vezes nem é a criação. Você vê num desfile peças que às vezes você não vai usar. Não estão mostrando um modelo, mas o tecido, a padronagem. Mas o que faz um estilista fazer sucesso é o caimento da roupa. A costura industrial não prima por esse caimento”, comenta a professora. Apesar de atuar há muito tempo na área, a professora diz que não costuma costurar. “Eu não gosto da máquina e a máquina não gosta de mim”, brinca. Cristiane ministra aulas desde 2008 em projetos do governo federal, como o antigo Bolsa Trabalho e o Pronatec, pelo Pará, e também pela região Nordeste, além de aldeias indígenas. Para contar um pouco da sua história de trabalho e interação com esses alunos diferenciados, ela prepara um livro para ser lançado ainda este ano. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 59


MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Carlos Gomes 1836-1896

Maestro das óperas em português TEXTO ROSANA MEDEIROS ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR

60 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


Q

Em 1836, nascia em Campinas até então uma cidade de pouca importância no interior de São Paulo - o compositor mais famoso do Brasil. De família pobre, Antônio Carlos Gomes conseguiu o êxito ao fazer sucesso num dos mais importantes teatros de ópera do mundo, o Teatro Alla Scala, de Milão, Itália. Filho de músico, desde cedo demonstrou talento musical. Na adolescência já se apresentava com o pai e o irmão nos bailes e pequenos concertos da cidade. Sabia tocar vários instrumentos e podia assumir qualquer posição do grupo, sendo uma espécie de “coringa” da banda. Nessa época, dividia o tempo entre a música e os trabalhos como ajudante de alfaiate, profissão que o pai gostaria que ele seguisse. Mas o amor pela música foi mais forte. “O mais importante que ficou de Carlos Gomes é esse amor pela música que ele mostrou para o Pará e para o Brasil”, afirma Urubutan de Castro, professor do bacharelado em música do Conservatório Carlos Gomes e da Licenciatura em Música da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Em 1860, aos 24 anos, o músico foi morar no Rio de Janeiro para consolidar sua formação musical. Lá, estudou no conservatório da cidade e conheceu Dom Pedro II, que se tornou seu admirador e mecenas. Nesse mesmo ano, Carlos Gomes, ainda pouco conhecido, regeu “A Noite de São João”, primeira ópera criada por um brasileiro, de autoria de José de Alencar. Fascinado por seu talento, o imperador o enviou a Milão para que aprimorasse os conhecimentos em música. Uma década depois, Carlos Gomes apresentou, no Teatro Alla Scalla, a famosa ópera O Guarani, baseada no romance de mesmo nome de José de Alencar. A obra o tornou conhecido mundialmente. Segundo Castro, “ele (Gomes) apresenta para o Brasil e para o mundo a ópera cantada em português. Isso é maravilhoso porque a língua oficial da ópera no século XIX é italiana. Alguns poucos compositores discordaram disso à época”. Para o professor de música, ao escrever suas obras em português o maestro exercia um nacionalismo romântico. E também, de acordo com Castro, “Carlos Gomes tem, além desse valor musical, esse valor sociológico e antropológico da valorização da sua língua natal, que era o português, porque na Europa ninguém sabia como escrever ópera para ser cantada em português”.

Um dos maiores compositores de ópera de todas as Américas, Carlos Gomes compôs nove grandiosas peças ao todo. Além disso, o artista teve também uma ampla participação na composição de músicas de banda, canções, poemas sinfônicos, quartetos de corda, missas, músicas para piano e outras. Essas composições, a maioria, foram criadas em português. Além de projetar a língua portuguesa para o mundo, Gomes inseriu instrumentos culturalmente brasileiros em suas obras. “Ele coloca, por exemplo, uma banda de coreto dentro de uma missa. Isso não era permitido à época. As peças dele para piano, enquanto os estrangeiros chamavam de ‘suíte’, ele chamava de quadrilha, por causa da festa de São João”, destaca Castro. Apesar de ser o primeiro compositor brasileiro a adquirir renome internacional, Carlos Gomes foi injustiçado no Brasil, primeiro pelos republicanos, e depois pelos modernistas de 1922. Eles o acusavam de difamar o Brasil. O escritor Oswald de Andrade chegou a chamar as obras de Gomes de inexpressivas e desprezíveis. Antes disso, os republicanos já o tinham condenado. O motivo: ter se mantido na Itália com uma espécie de bolsa cedida pelo imperador. Os defensores da República o acusaram de viver à custa do Brasil. E com a instituição da República, os brasileiros o renegaram por que associavam sua imagem à de Dom Pedro II. Esse desprezo fez com que Carlos Gomes não conseguisse se tornar diretor dos conservatórios de São Paulo e Rio de Janeiro quando decidiu voltar ao Brasil na década de 1880. Apesar de diversas turnês exitosas pelo país naquele período, o retorno definitivo à pátria só se daria em 1892. O local de destino foi o então Estado do Grão-Pará. Convidado pelo intendente Antônio Lemos, Carlos Gomes veio exercer a função de diretor do Conservatório de Música de Belém, cargo criado especialmente para ajudá-lo a se manter após a queda da monarquia. Mas exerceu o cargo por apenas três meses, quando morreu em 1896. Em sua homenagem, foi criado Instituto Estadual Carlos Gomes (IECG), também conhecido como Conservatório Carlos Gomes. Hoje, a importância desse grande artista para a música brasileira é indiscutível. “Carlos Gomes está para o Brasil como Beethoven está para a Alemanha”, afirma o professor de música Urubutan de Castro. JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 61


AGENDA DIVULGAÇÃO

VÍDEOS O festival de vídeo PLURAL+Youth convida jovens de todo o mundo a enviar vídeos dinâmicos e com visão de futuro focados nos temas da migração, diversidade e inclusão social. A iniciativa é organizada pela Aliança de Civilizações das Nações Unidas (UNAOC) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), em colaboração com muitos outros parceiros. Podem participar jovens de até 25 anos com vídeos curtos, de no máximo 5 minutos. Os vídeos devem ter legendas em inglês. O prazo para envio dos vídeos é dia 15 de junho. Informações: em www.unaoc.org/pluralplus.

ENFERMAGEM A Universidade Federal do Pará (UFPA), campus Belém, torna público, a abertura das inscrições para a Seleção do Curso de Especialização em Enfermagem Oncologia Pediátrica, aprovado pela Resolução N. 4.664, de 28 de abril de 2015- CONSEPE, a ser promovido pela Faculdade de Enfermagem do Instituto de Ciências da Saúde. As inscrições vão até o dia 25 de junho. O edital pode ser encontrado no site www.portal.ufpa.br.

ARGILA

GEOGRAFIA

EXPOSIÇÃO

O Centro de Ciências Sociais e Educação

A exposição “Entorno do torno” segue aberta ao público até o dia 18 de junho, no Museu do Estado do

(CCSE) da Universidade do Estado do Pará

Pará (MEP). Com curadoria do diretor da Casa das Onze Janelas, Armando Queiroz, e do diretor do MEP,

(Uepa) realiza, entre os dias 23 e 26 de junho,

Sérgio Melo, a mostra é composta por um total de 40 peças feitas de barro ou argila, como pinturas, peças

o I Encontro de Geografia (ENGEO) 2015. O

arqueológicas e fragmentos de cerâmica, revelando a materialidade do barro que acompanha os proces-

evento trará como tema “A Geografia na Ama-

sos civilizatórios de ocupação da Amazônia. A mostra integra a programação da 13ª Semana de Museus

zônia: desafios e perspectivas da pesquisa e

que este ano tem como tema: “Museus para uma sociedade sustentável”. Informações: (91) 4009-9833.

do ensino”, e objetiva agrupar um conjunto de trabalhos e discussões envolvendo temáticas relacionadas à questão das cidades na Ama-

PÁSSAROS

zônia. São disponibilizadas 300 vagas para

O curso “Conhecendo o Universo dos Pássaros Juninos” segue até o dia 12 de junho, com Rodolpho San-

ouvintes. Os interessados devem realizar as

chez, Thayres Pacheco e participação especial de um guardião de Pássaro. A proposta da atividade é trazer

inscrições até o primeiro dia do evento. Mais

à tona esta pérola da cultura do estado, ainda por tantos desconhecida, através de uma metodologia que

informações no site www.engeo2015.com.

envolve cultura popular, teatro e o incentivo a leitura, explorando elementos como a história da manifestação, sua dramaturgia e peças juninas.

ARTE O Cena Aberta, projeto de extensão da Escola

REDAÇÃO

de Teatro e Dança da UFPA, realizará uma

As inscrições para o Concurso de Redação da Mineração foram prorrogadas até o mês de outubro, devido

mostra de artes em todas as suas dimensões

à greve na rede pública de ensino. O tema permanece o mesmo: “Mineração com Responsabilidade Social.

e plataformas. O evento, que será realizado

A vida é nossa maior riqueza”. O concurso será realizado pelo quarto ano seguido e tem como objetivo

no dia 13 de junho, é uma oportunidade de

contribuir para a ampliação do conhecimento dos alunos sobre a indústria da mineração do Pará e o apri-

trazer à tona os talentos da comunidade

moramento da ação da escrita e da leitura. O concurso é promovido pela Secretaria de Estado de Educação

acadêmica e do público externo que queiram

(Seduc) e o Sindicato das Indústrias de Mineração do Estado do Pará (Simineral), e as inscrições podem ser

difundir suas criações e poéticas para o públi-

realizadas pelo site www.seduc.pa.gov.br.

co. Informações (91) 3212-5050.

62 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015


FAÇA VOCÊ MESMO

CuSTOMIZAÇÃO DE GARRAFAS Consagrou-se a imagem da garrafa como canal de comunicação de náufragos ilhados em busca de ajuda. Um recipiente tomado por musgo, navegando por milhas e milhas, com o mais importante de sua missão: uma mensagem. Nesta edição, a Fundação Cultural do Pará, através das Oficinas Curro Velho, mostra como

uma garrafa pode navegar sem mar, pelos cômodos de casa; assim como o recipiente dos náufragos, também levando uma mensagem. Com os materiais necessários, podemos transformar os objetos que iríam para lixo em pequenos diálogos entre o isolamento de nossas ilhas e os visitantes a nos resgatar.

DO QUE VAMOS PRECISAR?

• • • • • • • • •

Papel kraft Cola branca Lixa 220 Pincel Linha de crochê colorida Retalho de tecido chitão Copo com água Tesoura Garrafa de vidro

INSTRUTORA: NAZARÉ MACIEL COLABORAÇÃO: CLÁUDIA RÊGO FOTOS: JORGE RAMOS

JUNHO DE 2015

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 63


1 4

Primeiro passo: amasse o pedaço de papel kraft para quebrar as fibras do material.

Agora umedeça as tiras de papel na solução de água e cola. Retire o excesso. Inicie a papietagem: dê a forma com o papel umedecido em sentido vertical ou horizontal.

7

Quase lá: recorte a estampa do tecido. Utilizando cola pura, aplique com o pincel sobre a área onde será fixado o tecido cortado.

10

Para finalizar, corte a linha de crochê e esconda a ponta por baixo do enrolado, caprichando no acabamento.

2 5 8 11

Depois de bem amassado, rasgue o papel em tiras, sempre no sentido das fibras.

Um intervalo. Aguarde a secagem da aplicação. Aí comece uma nova aplicação, agora no fundo da garrafa, colocando o papel no sentido centrolateral, sem deixar áreas livres.

Para ficar “no jeito”, também passe cola sobre a estampa do tecido, no sentido centro-fora, para não formar bolhas de ar.

Último passo: pincele goma laca ou cola branca pura sobre a superfície da peça

3

Pegue a cola branca e misture-a com água. A solução não deve ficar num meio-termo: nem muito grossa e nem muito aguada.

6

Aguarde novamente a secagem. Após a papietagem, lixe levemente toda a superfície da garrafa, no sentido do papel, para retirar as imperfeições e saliências.

9

Passe cola no gargalo da garrafa e, em seguida, enrole a linha de crochê colorida, de cima para baixo, girando a garrafa. Tenha o cuidado de cobrir toda a área.

12

Espalhe de modo uniforme e pronto. Esse é o brilho.

PARA SABER MAIS Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas Oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. 64 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

RECORTE AQUI

ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável

FAÇA VOCÊ MESMO


Dois

O barulho nas copas remexidas e o estrondo maior duraram um quase nada. Eles estavam de peito

no chão olhando com atenção redobrada a fila de formigas a caminho do formigueiro. A maior, com uma mancha clara na cabeça, carregava um pedaço de folha que era três vezes seu tamanho, enquanto as outras a seguiam com materiais diversos e menores. Os meninos respiravam devagar para não espantar nem atrapalhar a rotina dos insetos quando ouviram o rasgo na mata. O mais velho arregalou o olho, e o mais novo segurou a cabeça, de susto, por impulso. As formigas ficaram para depois, porque a dupla se levantou, de pronto, sem combinar nada. Correram para o mato. As mães estavam não muito longe com bebês no colo, deitadas na rede. Os pais haviam saído mais cedo rumo aos perais, porque era dia de comer peixe, como as mulheres pediram. Os homens não ouviram nada, mas elas sim. E lembraram dos pequenos soltos no mundo.

LEONARDO NUNES

BOA HISTÓRIA

Estavam os dois correndo entre as árvores, território sabido onde viam tudo com clareza premonitória, conheciam as tocas de cotias, os esconderijos de serpentes, os galhos preferidos dos símios, a rota das antas, o campo de atuação das onças, a área dos gaviões, socós e sanhaçus, o cochilo das preguiças, as trilhas dos caititus, as manhas da caipora, as proibições da matinta, o cheiro lodoso e úmido dos mapinguaris, o significado dos ventos que circulavam nas touceiras e a severidade das castanheiras gigantes. Era a curiosidade que guiava os pés descalços lépidos nas picadas, desviando dos perigos, para saber o descobrir a origem do que lhes tirou a tarefa mais importante do dia que era acompanhar o que parecia as horas finais do trabalho das saúvas. Viram a máquina destroçada no matagal. Tinha a cor das fogueiras pela manhã consumidas por inteiro durante as noites sem lua. Uma das asas se desfez por completo com o impacto em um

taperebazeiro e uma roda do trem de pouso descansava não muito longe do acidente. Havia uma pequena coluna de fumaça e a cabine estava com poucas avarias. Os pequenos se esconderam ao avistar o homem brotando das ferragens com um corte na cabeça e as roupas rasgadas. Logo que percebeu os curumins, ele agradeceu ao criador, mais uma vez, pela sucessão de lances de sorte desde que teve certeza de que iria cair. Sorriu para eles e eles sorriram também, tímidos, encarando o estranho somente com metade da visão, protegido pelos troncos. E o alumbramento das crianças com o monturo de peças espalhadas e a figura do sobrevivente despencado do infinito e a preocupação do piloto por não ter ideia de onde estava, misturada ao pavor produzido pela queda, viraram empatia, milagre, festa cuja trilha sonora era uma massa difusa de silêncios salpicadas por sons de pássaros e outros bichos que o forasteiro não sabia identificar. Estava a salvo, enfim. JUNHO DE 2015

ANDERSON ARAÚJO

é jornalista, escritor e blogueiro

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 65


NOVOS CAMINHOS

O legado da Eco-92 após 23 anos A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como

THIAGO BARROS

é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEAUFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros

Cúpula da Terra, Rio-92 ou Eco-92, reuniu, de 3 a 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro, 108 chefes de Estado e 10 mil delegados de 180 países para a discussão de soluções para a diminuição do abismo social entre os países do Norte e Sul e conservar os recursos naturais da Terra. A Conferência foi fruto da primeira reunião ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU), 20 anos antes, em Estocolmo (Suécia), onde foi apresentado o relatório “Nosso Futuro Comum”, que iniciou os primeiros debates sobre o conceito de desenvolvimento sustentável. No Rio, após intensas negociações entre os líderes políticos dos então Primeiro e Terceiro Mundos, foi produzido o documento chamado de Agenda 21, com 2.500 recomendações para a implementação em diversas escalas (global, regional e local) das teorias de sustentabilidade para garantir a satisfação das necessidades atuais sem o esgotamento dos recursos para as gerações futuras. Os problemas ambientais globais foram enfrentados na Eco-92 através de duas estratégias principais: a primeira, o debate e a conclusão de acordos formais e declarações de intenções entre os países participantes sobre temas ligados à biodiversidade, conservação e uso das florestas, ao clima do planeta e à qualidade de vida de modo geral; a segunda, formular a criação, pelas entidades participantes, de mecanismos financeiros específicos capazes de viabilizar o cumprimento

66 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

JUNHO DE 2015

das metas fixadas nos documentos assinados. A Eco-92, seja pela importância sem precedentes dos assuntos discutidos, pelo gigantismo do evento ou encontros paralelos à convenção, recebeu um tratamento especial da mídia, com um “exército” de nove mil jornalistas de todo o mundo em atuação. Nunca, em nenhum outro período da história, se falou tanto de meio ambiente, especialmente no Brasil. Expressões do campo científico ganharam os televisores de milhares de famílias e começaram a entrar de forma recorrente na pauta da sociedade, seja nas escolas, em conversas nos bancos de praça; tornaram-se familiares à população em geral, num despertar para a consciência acerca dos problemas globais. Para diversos pesquisadores, a cobertura da Eco-92 pela mídia brasileira inclusive mudou a trajetória do movimento ambientalista no país. Neste mês, a realização da Eco-92 completa 23 anos, mas seu legado é tratado de forma burocrática. A Semana Nacional do Meio Ambiente, entre 31 de maio e 10 de junho – período que envolve outras datas importantes, como a Semana Mundial do Meio Ambiente (de 1º a 7 de junho) e o Dia Mundial do Meio Ambiente e da Ecologia (5 de junho) –, foi institucionalizada para pontuar atividades junto à população e promover o debate e o acesso a informações sobre o tema. Contudo, não tem sido suficiente para causar impactos sociais. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável precisam ser encarados como questões que vão além de datas num calendário governamental.

Nunca, em nenhum outro período da história, se falou tanto de meio ambiente, especialmente no Brasil


ECOCHARGE


ORM A . o h l o traba ece filmes, n u o casa , ofer m o s e té 218 s r i i a t r s i o m s P s e que a E entrega. ótica tários o a n r r e b i e f m h l u a ão. sco açno e doc smissão vi ndimento e eassistir m d e a t Você tem o direito de escolher o que em casa ou trabalho. A ORM r o r t i g o e o p r r s tran rE pentrega. ePor l, ate larga e , eoferece o di programação. o a m o h n l o h m i c e s n e t CaboVpromete a melhor isso, filmes, m o e s a iss ocê ade d rnet banda doem o, deedocumentários ete desenho, d u i l m m i T s o i b . l r a a D p t . séries, shows, jornalismo, esporte até 218 Cabo shows, jorn anais em H imagem, es isso, tem inte elefonia fixa canais digitais e 52 canais em HD. Tudo isso com transmissão via fibra ótica éries, igitais e 52 c e de som e pida. Além d , internet e t s com a melhor de somaeliimagem, á sinal, atendimento dad estabilidade sd de TV il e rde s c naiqualidade u i á a q a f c n r o o o i ã ç disso, tem pessoal e localae instalação enrápida. moc banda larga e melh fácil stalaAlém rointernet p i m s e o o l c b a telefonia. Conheça de TV, internet e telefonia fixa. loc promocionais e combos s com alos pesso . Conheça o ia telefon


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.