REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.
JULHO 2O15 | EDIÇÃO NO 47 ANO 4 | ISSN 2237-2962
LITORAL AS EXPRESSÕES POPULARES QUE VÊM DO
O MODO DE VIVER E DE SE COMUNICAR DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DA ZONA COSTEIRA AMAZÔNICA É TEMA DE PESQUISA INÉDITA DO MUSEU GOELDI E APROXIMA CIÊNCIA E SOCIEDADE EM UMA SÓ LÍNGUA
REALIZAÇÃO
PATROCÍNIO
FERNANDO SETTE
DA EDITORIA
PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA JULHO 2015 / EDIÇÃO Nº 47 ANO 4 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR. Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAN Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor Corporativo de Jornalismo WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA Diretor de Novos Negócios RIBAMAR GOMES
COMO SE FALA NA AMAZÔNIA
Os termos e expressões populares da zona costeira da Amazônia unem as populações tradicionais numa só língua falada no Brasil, apesar das diferenças
ENTRE A PROSA E A PRAIA NA AMAZÔNIA
FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
Há um jeito próprio no modo de
úne quase 900 palavras faladas no
falar das populações ribeirinhas do
litoral paraense, abrangendo muni-
Estado. A cadência na forma de ar-
cípios como Bragança, São Caetano
ticular as palavras e de dar nomes
de Odivelas, Gurupi, Soure e Vigia
às coisas imprime uma característi-
de Nazaré.
ca ainda mais peculiar a já conhe-
Mas o compêndio se propõe
cida forma “cantada” de falar dos
não apenas a esclarecer as expres-
paraenses.
sões usadas pelas comunidades
A variação dessas expressões e
tradicionais, mas, principalmente,
termos populares mostra o quanto
facilitar o intercâmbio cultural en-
a língua portuguesa é rica. Mostra
tre ciência e sociadade. O livro traz
também que desse palavreado ca-
também um vasto material explica-
boclo ainda há muito a conhecer
tivo sobre o ecossistema das áreas
e a estudar. E foi com esse objetivo
costeiras, conceitos científicos e
que um grupo de pesquisadores
suas respectivas referências no lin-
do Museu Paraense Emílio Goeldi
guajar caboclo e um glossário que
organizou o livro “Amazônia, Zona
divulga e ajuda a compreender tan-
Costeira: Termos Técnicos e Popu-
tas palavras que compõem o uni-
lares”. A obra, com 350 páginas, re-
verso amazônico.
JULHO DE 2015
Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR Diretores JOSÉ EDSON SALAME JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor-chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Universidade do Estado do Pará, Universidade Federal Rural da Amazônia, Fundação Cultural do Pará - Oficinas do Curro Velho (acervo); Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Abílio Dantas, Brenda Pantoja, Bruno Rocha, Sávio Oliveira, Vito Gemaque, Rosana Medeiros, Arnon Miranda, Dominik Giusti (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Bruno Rocha (produção); Hely Pamplona, Tarso Sarraf, Fernando Sette, Roberta Brandão (fotos); Thiago Barros (artigo) André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Pescador de São Caetano de Odivelas, por Fernando Sette AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará. amazoniaviva@orm.com.br PRODUÇÃO
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REVISTA IMPRESSA COM O PAPEL CERTIFICADO PELO FSC - FOREST STEWARDSHIP COUNCIL
JULHO 2O15
NESTA EDIÇÃO
EDIÇÃO Nº 47 / ANO 4
O modo de falar e costumes das populações tradicionais de cidades como São Caetano de Odivelas é tema de estudo científico de pesquisadores do Museu Goeldi. ASSUNTO DO MÊS
36
MAÉCIO MONTEIRO / DIVULGAÇÃO
54
ROBERTA BRANDÃO
TARSO SARRAF
ROBERTA BRANDÃO
16
58
EDUCAÇÃO
GRAFISMO
Rodrigo Vale é gerente
Os elementos do carimbó
RELIGIÃO
sênior de Programas do
POESIA
inspiraram o designer
A doutora em Antropo-
Google e um dos princi-
O poeta Airton Souza é
Máecio Monteiro a criar
logia, Taissa Tavernard,
pais nomes dos projetos
de Marabá e participa do
dingbats, fontes de
é vice-presidente da
de Educação da empresa.
Projeto Tocaiúnas, que
computador em forma
Federação Espírita,
Nascido no Pará, ele quer
lança livros de autores
de desenhos, com base
Umbandista e dos Cultos
contribuir com ações edu-
paraenses a preços
nos instrumentos e dança
Afro-Brasileiros do Estado
cativas no Estado através
acessíveis, difundindo a
do ritmo tipicamente
do Pará.
da Matemática.
leitura nas escolas.
paraense.
QUEM É?
OUTRAS CABEÇAS
DEDO DE PROSA
ARTE PESQUISADA
4 6 7 11 13 15 17 17 18 19 19 20 20 21 21 22 24 46 49 49 50 60 62 63 65 66
E MAIS
38
DA EDITORIA AS MAIS CURTIDAS PRIMEIRO FOCO TRÊS QUESTÕES AMAZÔNIA CONNECTION PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS COMO FUNCIONA FATO REGISTRADO DEU N’O LIBERAL CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE ELES SE ACHAM DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS EM NÚMEROS OLHARES NATIVOS COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL BONS EXEMPLOS MUDANÇA DE ATITUDE VIDA EM COMUNIDADE MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS
JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5
FERNANDO SETTE
A vida na zona costeira
ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES
OLHARES
OSWALDO FORTE
Incrível o ensaio fotográfico em preto e branco sobre Belém registrado em 1989 (Olhares Nativos, junho de 2015, edição nº 46). Parabéns ao fotógrafo Oswaldo Forte. Tobias Alencar Belém-Pará A seção de fotografia da revista é uma das minhas preferidas. São imagens belas e ao mesmo tempo visualmente impactantes sobre nossa
A ANTIGA BARBERARIA DA CIDADE DE BELÉM
A galeria de fotos de Oswaldo Forte recebeu o maior número de acessos em nosso Facebook, na edição passada. As imagens fazem parte do acervo pessoal do fotógrafo, quando participou do projeto Jornada 24 Horas, da Fotoativa, em 1989.
Amazônia. Por isso, peço licença para sugerir uma reportagem sobre a importância da fotografia em nossa região. Sem ela, não conheceríamos muita coisa da nossa realidade. Arlindo Castro Abaetetuba-Pará
CARLOS BORGES
N.R.: Arlindo, obrigado pela dica. De fato, sua sugestão rende uma boa reportagem nas próximas edições. Grande abraço!
EDUCAÇÃO Li com entusiasmo a notícia de que o estudante Moisés Lopes Rodrigues, de Tucuruí, teve seu talento reconhecido pelo Prêmio Jovem Cientista (Primeiro Foco, junho de 2015, edição nº 46). É preciso incentivar sempre o conhecimento. Grace Marques
O PANEIRO DE BURITI NO VER-O-PESO
Uma das fotos da nossa reportagem de capa da edição de junho recebeu muitas curtidas no Instagram da revista. Clicado por Carlos Borges, o cesto cheio de buritis mostra a beleza dos frutos amazônicos, que ganham destaque na indústria nacional dos biocosméticos.
JULHO DE 2015
no Estado mostram o valor da nossa economia no Brasil (Em Números, junho de 2015, edição nº 46).
Para se corresponder com a redação da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva
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• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
Os números grandiosos da atividade pesqueira
Belém-Pará
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PESCADO
Nickson França
CARLOS BORGES
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O QUE É NOTÍCIA PARA A AMAZÔNIA PAULA SAMPAIO / ARQUIVO O LIBERAL
PRIMEIROFOCO
Flores no agronegócio O CULTIVO DE ESPÉCIES NATIVAS E EXÓTICAS GERA EMPREGO E RENDA NO MERCADO PARAENSE
PÁGINA 8
NATUREZA Programa ambiental na área da
CULINÁRIA Cacau produzido no Pará será
RECONHECIMENTO Três projetos paraenses
construção da usina de Belo Monte monitora ariranhas, animais vulneráveis de extinção. PÁG.9
um dos principais destaques em evento da indústria de chocolate, na França. PÁG.10
ficaram entre os dez primeiros colocados, vencedores do Prêmio Voluntários Vale 2015.
JULHO DE 2015
PÁG.12
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
PRIMEIRO FOCO
PRODUÇÃO FLORIDA
O
Pará é bastante conhecido por sua extensão territorial e iniciativas de agronegócios voltados para a pecuária e exportação de frutas, porém, na última década, o Estado vem apresentando um crescimento em um setor até então pouco explorado na região Norte: a floricultura. A região Norte se caracteriza pela produção de espécies próprias ou exóticas, adaptadas sem similares em outras regiões produtoras e com qualidade comercial e maior durabilidade. Segundo o pesquisador Ismael Viegas, da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), uma das vantagens de se investir no novo negócio é que ele não necessita da derrubada de novas áreas para o plantio, que pode ser realizado, inclusive, em áreas degradadas. De acordo com ele, o plantio de flores pode ser visto também como uma opção de fonte de renda, exercida principalmente pela agricultura familiar.
8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
Segundo o pesquisador, atualmente a produção está concentrada no Nordeste paraense, especialmente nos municípios de Benevides, Castanhal, Santa Bárbara e Santa Isabel. Cerca de 300 produtores rurais já estão envolvidos no cultivo de flores tropicais de corte, gramas, flores temperadas e folhagens. Pequenas empresas de produtores como Agroflora, Paraíso Verde e Amaflor também estão investindo na área. E o brasileiro já está se interessando mais pela compra desse tipo de produto. De acordo com os pesquisadores, há mais de dez anos o consumo per capita de flores no Brasil era de R$ 6. Hoje em dia, esse valor alcança cerca de R$ 25,00 por pessoa. Um número que ainda cresce em relação aos países europeus, que possuem uma tradição de produção de flores e o consumo de pelo menos R$ 140,00 por habitante. Esses dados foram obtidos durante mais de cinco anos de pesquisa, que resultaram na publicação do livro “Contribuição ao
SIDNEY OLIVEIRA / AGÊNCIA PARÁ
Desenvolvimento do Agronegócio da Floricultura na Amazônia”, que reúne os dados de trabalhos de 27 pesquisadores da área. Os organizadores do livro foram Ismael Viegas, Dilson Augusto Capucho Frazão e Heráclito Eugênio Oliveira da Conceição, que contaram também com a participação de estudantes de graduação e pós-graduação da Ufra. O pesquisador constatou ainda que para alavancar a produção e a comercialização no Estado são necessárias algumas medidas, como investir em aparatos tecnológicos e pesquisas. “Algumas iniciativas têm sido realizadas no sentido de melhorar o consumo de flores, como nos anos de 2007 e 2008, quando os floricultores conseguiram ornamentar a berlinda que conduz a imagem de Nossa Senhora, durante o Círio de Nazaré, com flores e folhagens tropicais produzidas regionalmente. Essas ações ajudam a valorizar as flores e os produtos regionais frente aos produtos oriundos do Sul e Sudeste do Brasil”, diz.
PRIMAVERA PARAENSE
A produção de flores no nordeste paraense está concentrada principalmente nos municípios de Benevides, Castanhal, Santa Bárbara e Santa Isabel
300 PRODUTORES RURAIS CULTIVAM FLORES tropicais de corte, gramas, flores temperadas e folhagens em todo o Estado
DANIELL VILLAR / DIVULGAÇÃO NORTE ENERGIA
CIÊNCIA
RECONHECIMENTO
Três brasileiros e um paraguaio receberam o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, cujo tema foi Popularização da Ciência. Foram premiadas iniciativas com potencial de desenvolver a ciência nos paísesmembros do Mercosul. O prêmio de integração ficou com a jornalista e pesquisadora brasileira Luisa Medeiros Massarani, pelo projeto Monitoramento, Capacitação e Aprimoramento em Jornalismo Científico em Países do Mercosul, que tem por objetivo melhorar a cobertura científica na América Latina. Ela destacou que as pesquisas da rede mostram que a população quer se informar sobre ciência. “Observamos que o percentual de in-
ARIRANHAS MONITORADAS NA ÁREA DE BELO MONTE
O monitoramento de fauna feito pela Norte Energia na região da Usina Hidrelétrica de Belo Monte identificou 143 ariranhas em 58 grupos, que variam entre um e dez espécimes. Conhecidos também como onças d’água, o comportamento desses animais é acompanhado desde janeiro de 2012 em 14 campanhas de campo, realizadas em cinco áreas do rio Xingu. Os técnicos catalogaram 694 vestígios e 393 animais vistos. As ariranhas atualmente figuram como espécie vulnerável na lista nacional de animais em extinção e como ameaçada pela União Internacional para a Conservação
da Natureza. O projeto conta com seis pesquisadores, três auxiliares de campo e três barqueiros. O monitoramento orienta tecnicamente as ações de manejo e conservação das espécies de mamíferos aquáticos na área do empreendimento, com atenção especial aos que estão ameaçados de extinção, como a ariranha. A ação é parte do Projeto de Monitoramento de Mamíferos Aquáticos e Semiaquáticos, que acompanha nesta etapa também lontras e botos tucuxis e peixesboi, em diferentes fases do trabalho de campo.
NA NATUREZA
Também conhecidas como “onças d’água”, as ariranhas estão sob proteção do Projeto de Monitoramento de Mamíferos Aquáticos e Semiaquáticos no rio Xingu
teresse em ciência está próximo do interesse em esportes.” Sobre os principais desafios do jornalismo científico na América Latina, a pesquisadora ressaltou a necessidade de os veículos olharem mais para o que está sendo feito na região, perto da realidade local.
TARIFAS
AVIAÇÃO
A região da Amazônia Legal será a primeira a receber subsídios do governo federal para tarifas e passagens aéreas. A medida faz parte de um
143 ARIRANHAS FORAM IDENTIFICADAS
pelo programa de monitoramento na região de Belo Monte
programa voltado para a aviação regional, e, segundo o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, o incentivo deve começar no segundo semestre. Além de ser a primeira, a Amazônia Legal terá também condições diferenciadas. “Não vai ter os limites que teremos nas outras regiões, não está limitado a 60 lugares [subsidiados por aeronave]. Lá,
ANDRÉ ABREU
PEQUENINOS E PERIGOSOS
pode chegar até a aeronave inteira, se ela tiver até 120 lugares”, disse. A declaração foi dada
Sete novas espécies de sapos minúsculos foram encontradas
durante audiência pública, na Câmara dos
em sete montanhas diferentes no sul do Brasil. O clima único
Deputados, convocada pelas comissões de
da região isola os picos montanhosos, onde as temperaturas
Turismo e de Integração Nacional, Desenvol-
são mais baixas. O isolamento, segundo os cientistas, também
vimento Regional e da Amazônia.
permitiu o achado de 21 espécies. Todos eles têm cerca de 1 cm de comprimento e possuem peles coloridas e venenosas.
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL / JOSÉ CRUZ / AGÊNCIA BRASIL JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 9
PRIMEIRO FOCO
Cogumelo-do-sol contra o vírus do HIV
CACAU
É DO PARÁ
Pela primeira vez, amostras de cacau paraense foram selecionadas para disputar os prêmios Internacional de Cacau (ICA) e Cacau de Excelência (CoE) que serão anunciados,
onde esses fungos podem atuar: o tratamen-
em outubro deste ano, durante o Salão do
sylvaticus? Ele é mais conhecido como co-
to de crianças e adolescentes portadores do
Chocolate de Paris. O feito inédito consolida
gumelo-do-sol, um fungo comestível, com
vírus da imunodeficiência humana, o HIV.
a qualidade internacional das amêndoas
propriedades medicinais, sendo usado ge-
O Agaricus sylvaticus é um alimento rico
produzidas no Estado, o que abre a perspectiva
ralmente no controle do colesterol, da dia-
em fibras, vitaminas e minerais. Por possuir
de novos mercados exportadores para o cacau
betes e no tratamento de doenças relacio-
também uma grande capacidade antioxi-
do Pará, além de servir como atrativo para que
nadas à tireoide. Mas a professora Marcela
dante, foi testado para auxiliar na redução
indústrias do setor de chocolate se instalem em
de Souza Figueira, vice-diretora da Faculda-
do estresse oxidativo, um desequilíbrio en-
território paraense. No total, foram enviadas
de de Nutrição da Universidade Federal do
tre a defesa antioxidante e a produção de
sete amostras de produtores paraenses.
Pará (UFPA), apresentou, em sua dissertação
radicais livres, comum em pacientes com
no Programa de Pós-Graduação Biologia de
HIV. Pode causar danos celulares e outras
Agentes Infecciosos e Parasitários, orienta-
doenças por diminuir a presença de antio-
da pelo dr. Sandro Percário, uma nova área
xidantes.
AGÊNCIA PARÁ
Você já ouviu falar sobre o Agaricus
O TESTE
Veja como foi feito o estudo da nutricionista da UFPA
1 CHIP
BIODEGRADÁVEL
Pesquisadores conseguiram construir um chip biodegradável composto de celulose, a fibra
2
presente na madeira. Cientistas da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, se uniram ao Departamento de Agricultura Americano para desenvolver o novo semicondutor. A equipe de pesquisadores trocou essa camada, normalmente composta por um metal que não é biodegradável, por um composto chamado de celulose nanofibril (CNF), um material flexível e biodegradável.
MUSEUS
3 4
ARQUEOLOGIA
Um projeto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e o Instituto do Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), vai transformar em museus dois sítios arqueológicos do Parque Estadual de Monte Alegre (Pema), no Baixo Amazonas. Os locais escolhidos são a Serra da Lua e a Pedra do Mirante. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
5
Vinte e nove crianças e adolescentes entre 1 ano e meio e 18 anos de idade, de ambos os sexos, que nasceram com o HIV, tiveram o cogumelo inserido em sua alimentação por meio de xarope (produzido especialmente para a pesquisa com as crianças menores) e comprimido. Para atestar com segurança os efeitos da implementação, a pesquisa realizou o chamado recordatório 24 horas, que consiste em fazer um relatório com todos os alimentos ingeridos pelo paciente nas últimas 24 horas. O processo do recordatório foi realizado duas vezes, uma, antes; e outra, depois da suplementação do cogumelo do sol. Todo o processo de coleta de sangue durou seis meses. As conclusões da pesquisa apontaram a diminuição do estresse oxidativo nos pacientes que haviam realizado a suplementação com o Agaricus sylvaticus. A suplementação do cogumelo era feita junto com o tratamento tradicional, composto pelos coquetéis para HIV. Os resultados do trabalho de dissertação de Marcela Figueira, defendida em 2011, foram publicados em outubro de 2014, na revista científica Canadian Journal of Infectious Diseases and Medical Microbiology. O estudo ainda está em fase de conclusão.
FONTE: JORNAL BEIRA DO RIO/ UFPA
INFOGRAFIA: MÁRCIO EUCLIDES
FUNGO DO BEM
VALE / DIVULGAÇÃO
TRÊSQUESTÕES
MOTIVADOS NA COMUNICAÇÃO Os alunos da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará conquistaram 12 premiações na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) da Região Norte. A professora Elaide Martins, coordenadora da etapa local, conta um pouco do processo que levou os estudantes a ganharem todas as
Mais da metade dos lubrificantes e óleos hidráulicos utilizados em equipamentos diversos do Complexo Minerador de Carajás, no Pará, está sendo reprocessado e reutilizado pela Vale. O processo de regeneração, que consiste em recuperar todas as características físicas e químicas perdidas ou modificadas durante o uso é feito em uma unidade de regeneração dentro das instalações industriais. De acordo com o gerente de Engenharia e Subconjuntos da área de Manutenção de Equipamentos, Ediney Drummond, o projeto de regeneração de óleos, dentro daquela operação, não só reduziu significativamente o descarte do
produto usado, como também diminuiu a extração de recursos para produção de óleo novo. O projeto trouxe ainda redução de 40% nos custos de aquisição em comparação à compra de um mesmo volume de óleo lubrificante novo com as mesmas características. Em 12 meses, mais de 1 milhão de litros de óleos usados serão regenerados, 55% do total anual consumido na mina de Carajás, o que representará uma economia de mais de R$ 2 milhões e a redução significativa no indicador de geração de resíduos oleosos do empreendimento. O restante do produto usado permanece sendo destinado para reciclagem fora da unidade.
Em torno de 55% de todo óleo usado na Mina de Carajás deverá ser regenerado
categorias que a universidade foi inscrita.
COMO FORAM REALIZADAS AS SELETIVAS LOCAIS? Cada universidade selecionou seus trabalhos para participar da etapa regional. Esse ano, nós criamos o FestCom, Festival de Produção Experimental da UFPA, realizado pela primeira vez. Percebemos que a procura dos alunos foi maior, com um envolvimento mais evidente e um aumento dos bons resultados também.
NO QUE CONSISTIRAM OS TRABALHOS APRESENTADOS? Eles foram bem diversos. Para citar alguns premiados tivemos na área de produção em jornalismo digital o “Locomoção”, blog sobre mobilidade urbana em Belém, e na área de produção multimídia, o blog “Quede?”, comunicação multimídia na construção de um repositório de memória e informação sobre Belém. Os prêmios são um reconhecimento, se traduzem
40%
no troféu, mas o conhecimento e experiências
sição de lubrificantes e óleos nas operações do Complexo Minerador da Vale
Um grande incentivo à pesquisa e produção.
FOI A REDUÇÃO DO CUSTO DE AQUI-
adquiridas são imensuráveis.
O QUE SIGNIFICA A CONQUISTA DO PRÊMIO? Outros alunos podem se sentir mais motivados para criarem também seus próprios projetos
ANDRÉ ABREU
O MELHOR AMIGO DOMÉSTICO
e obterem sucesso. É de grande importância também para a universidade esse reconheci-
A Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo Instituto Brasileiro de Geo-
mento, cresce positivamente, com uma imagem
grafia e Estatística (IBGE), traz novos dados sobre animais de estima-
sólida da comunicação na Amazônia. Agora
ção nos lares do país. O estudo aponta que 44,3% dos domicílios do
ficamos no aguardo da etapa nacional que será
país possuem pelo menos um cachorro, o equivalente a 28,9 milhões
realizada em setembro, no Rio de Janeiro.
de unidades domiciliares. Os dados se referem a 2013. JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
ARQUIVO PESSOAL
MINERADORA RECICLA ÓLEOS LUBRIFICANTES EM MINA DE CARAJÁS
SUSTENTÁVEL
ARQUIVO VALE DIVULGAÇÃO VALE
PRIMEIRO FOCO
FILME
NA ESTRADA
O governo do Pará e a produtora Cabocla Filmes firmaram convênio de repasse de recursos para filmagens do longa-metragem “Amores Líquidos”, com direção da cineasta Jorane Castro. O filme foi rodado em Belém, Ananindeua, Benevides, Castanhal, Bragança, Tracuateua, Igarapé-Miri, Santa Maria do Pará, São João de Pirabas e Salinópolis, adotando o gênero “road movie”, os chamados “filmes de viagens”. A obra terá ampla repercussão seguindo carreira em festivais de cinema, a exemplo do Festival de Cinema de Gramado e do Rio de Janeiro. TAMARA SARÉ / AGÊNCIA PARÁ
VOLUNTÁRIOS QUE ATUAM NO ESTADO SÃO PREMIADOS PELA VALE
ENERGIA
MERCADO
As energias renováveis mostram que tendem a ganhar cada vez mais espaço no mercado global de energia. O relatório Renewables 2015 Global Status Report, da REN21, traz importante balanço sobre as fontes renováveis no ano de 2014: recorde de instalação, de crescimento e de investimentos. Pela primeira vez em quatro décadas, a economia mundial cresceu sem um aumento paralelo das emissões de CO2, que em 2014 mantiveram-se estáveis em relação a 2013.
RELATÓRIO
BIOENERGIA
O
relatório
INCENTIVO O diretor de Ferrosos Norte, Paulo Horta (à direita), entregou o prêmio aos voluntários de Parauapebas
mundial
sustentabilidade,
sobre
coordenado
bioenergia por
e
cientistas
brasileiros, diz que não há falta de terras no planeta para a produção de bioenergia. De acordo com a pesquisa, entre as regiões em que há mais terras para desenvolvimento da bioenergia estão a África e a América do Sul. O estudo ressalta também que essa contribuição pode chegar a ser um quarto da energia utilizada no mundo em 2050. O estudo foi desenvolvido por 137 especialistas de 24 países. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
Três projetos pa raenses f ica ra m entre os dez primeiros colocados, vencedores do Prêmio Voluntários Vale 2015. As ações desenvolvidas nas cidades de Belém, Parauapebas e Ourilâ ndia do Norte destacaram-se entre 39 ações inscritas de seis diferentes estados: Minas Gera is, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Serg ipe. Em Belém, o projeto “Traça ndo o Recomeço” a lca nçou o seg u ndo luga r. A i n iciat iva envolveu a ded icação de volu ntá r ios em at iv idades pa ra geração de renda e ressocia l ização de v ít i mas de esca lpela mento. A ação teve a pa rcer ia da ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes de Motor. Em Ourilâ ndia do Norte, um projeto de horta comunitá ria tra nsformou a a limentação de 120 cria nças. Fora m envolv idos 50 voluntá rios da Va le, que promovera m o cultivo de
horta liças hidropônicas. O projeto f icou em quinto luga r. Já em Pa rauapebas, o objetivo era contribuir pa ra a melhoria do aprendizado. A ideia foi impla nta r uma metodologia em que o xadrez fosse v isto como suporte pedagógico pa ra o desenvolv imento disciplina r e não apenas uma moda lidade esportiva. A ação conquistou o oitavo luga r. Em sua sétima edição, o prêmio é orga nizado pelo Progra ma Voluntá rios Va le. E em quatro a nos, o progra ma já rea l i zou ma is de m i l ações, sendo desenvolv ido em dez estados do Brasi l: Ba h ia, Espí r ito Sa nto, Pa rá, Ma ra n hão, Goiás, Mato Grosso do Su l, Mi nas Gera is, R io de Ja nei ro, São Pau lo e Serg ipe. Hoje é composto por 29 redes loca is, os comitês regiona is. A lém disso, foi impla ntado em outros pa íses, como Ma lásia, em 2012, Omã, em 2013, e Pa rag ua i, em 2014.
IPHAN RECONHECE CUIA TAPAJÔNICA COMO PATRIMÔNIO NACIONAL A prática artesanal de fazer cuias no Baixo Amazonas foi declarada Patrimônio Cultural do Brasil. A proposta para o pedido de registro da técnica amazônica foi avaliada durante a 79ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. As cuias pintadas do
Espaço São José Liberto, segundo o Núcleo de Produção e Comercialização do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), são produzidas por dez artesãos paraenses cadastrados no programa. E as inspirações são a arte rupestre, marajoara, tapajônica e africana. Os desenhos são baseados nos registros dos sítios arqueológicos ao longo dos rios
Trombetas e Xingu, e nas regiões de Prainha, Monte Alegre, Alenquer e Serras das Andorinhas. Em Belém, a Casa do Artesão do Espaço São José Liberto – Programa Polo Joalheiro do Pará, referência em artesanato paraense, expõe para comercialização as cuias pintadas, artesanato de todas regiões do Estado, reunindo cerca de 45 tipologias.
AMAZÔNIACONNECTION
DOS ESTADOS UNIDOS PARA A FLORESTA AMAZÔNICA
Desde 1988, a ONG nor te-ameri-
cana Conser vação Internacional desenvolve atividades no Brasil e, em 1992, inaugurou um projeto na Amazônia junto aos índios Kayapó. Sediada em Washington (DC), a ONG tem como o objetivo proteger recursos naturais em áreas de grande biodiversidade.
ARY SOUZA / ARQUIVO O LIBERAL
Em 2006, a CI ajudou a criar o Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical da Universidade Federal do Amapá (Unifap). Já na Universidade Federal do Oeste Paraense (Ufopa), a Conser vação pretende desenvolver o zoneamento ecológico do município de Juruti, além de monitorar a biodiversidade da área por meio do projeto Tapajós. Na capital paraense, a parceira é a Universidade Federal do Pará (UFPA), num projeto cujo intuito é realizar o monitoramento da biodiversidade do Centro de Endemismo Belém – área composta por 243 mil km2 de 147 municípios de Pará e Maranhão. Parcerias como essa buscam “desenvolver a região amazônica de CULTURA A produção das típicas cuias no Baixo Amazonas foi declarada patrimônio nacional pelo Iphan
forma sustentável e não predatória”, explica o vice-presidente da CI-Brasil, Rodrigo Medeiros. Daí o
ANDRÉ ABREU
REPRODUÇÃO INUSITADA
direcionamento a “inovações de base científica para solução de
Uma pesquisa sobre a população de uma espécie ameaçada de peixe-
problemas do mundo real e a reali-
serra nos Estados Unidos levou a uma descoberta surpreendente: algumas
zação de demonstrações de campo
fêmeas estavam se reproduzindo sem sexo nem qualquer participação dos
da efetividade dessas inovações”,
machos, em um processo chamado partenogênese. Esta é a primeira vez
completa.
que foram identificados filhotes de vertebrados nascidos desta forma. JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
INFOGRAFIA: MÁRCIO EUCLIDES
PRIMEIRO FOCO
REGISTRO
QUILOMBOLAS
O livro “Patrimônio, Cultura e Territorialidade dos Quilombolas do Rio Capim”, de autoria de Rosa Elizabeth Acevedo Marin, Eliana Ramos Ferreira e Fernando Luiz Tavares Marques, foi lançado no mês passado, em São Domingos do Capim, nordeste paraense. Ao longo do trabalho foram realizadas oficinas, excursão, reuniões com professores, registros fonográficos e audiovisuais sobre as festas, o trabalho de reconstrução de casa de farinha, as técnicas de pescaria e de plantio, apresentando a diversidade de práticas sociais na vida do grupo.
LIVRO
LÁ DE CIMA
TIKUNA
A língua, cultura e história dos índios Tikuna são o foco do livro “Minha luta pelo meu povo”, da pesquisadora Marília Facó Soares. A obra é composta a partir das narrativas do líder Pedro Inácio Pinheiro, ou Ngematücü. As histórias narradas por Pedro em tikuna foram publicadas ao lado da tradução para o português, buscando manter as características de cada idioma. Os Tikuna integram o mais numeroso grupo indígena da Amazônia, que é distribuído em três países: Brasil (em maior número), Peru e Colômbia.
FOTOS
MEIO AMBIENTE
Foram anunciados os finalistas do concurso Atkins CIWEM Fotógrafo de Meio Ambiente 2015. Mais de 10 mil fotos foram enviadas por fotógrafos de mais de 60 países. A competição foi criada para que profissionais compartilhem suas imagens de questões ambientais
Satélite monitora secas no planeta Antigamente, quando pensávamos em estudos espaciais, nossa imaginação talvez nos levasse às naves voadoras e explosões como nos filmes de ficção científica. Hoje, a história é outra. Cientistas têm mostrado em pesquisas que a importância de estudar o espaço é de nos fazer olhar melhor para a Terra, para os nossos problemas. Pensando assim, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) apresentou um novo sistema que permite detectar do espaço as zonas agrícolas que têm uma alta probabilidade de sofrer com a seca em nível global.
1
2 3
e sociais com o público internacional.
SAPO E AÇAÍ
ERRAMOS
Na edição passada, o sapinho cinza que aparece na foto da página 20, de autoria de Inocêncio
4
Gorayeb, é da espécie Rhinella mirandaribeiroi e não R. marina, como citado no texto. O exemplar fotografado é o primeiro registro da espécie em campinas amazônicas, coletado em Cametá, Pará, por pesquisadores do Museu Goeldi. E, na página 46, a foto de Carlos Borges não é de sementes de açaí (Euterpe oleracea), mas de bacabinha, também conhecida como bacabaí, da espécie Oenocarpus
mapora. Ambas pertencem à família Arecacea.
5
O Sistema de Índice de Estresse em Agricultura (ASIS, da sigla em inglês) apresenta um mapa da situação no mundo a cada dez dias usando dados de satélites da vegetação e da temperatura na superfície da Terra.
A estrutura funciona a partir de um sensor que tem um quilômetro de resolução.
A base de dados do novo sistema abrange 30 anos de experiência e reflete os principais pontos do planeta afetados pela falta de água desde que a zona do Sahel, no norte da África, sofreu com uma grande seca, em 1984. Para assegurar que a informação deste fenômeno não está falsificada por fatores externos, como guerras, os especialistas comparam a observação com dados complementares, entrando em contato com as autoridades dos países afetados.
A seca é resultado da baixa atividade das plantas e das temperaturas altas anormais, que impactam negativamente a produção de alimentos. Nos últimos 20 anos, tem aumentado em frequência e intensidade da seca no planeta.
FONTE: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
Um programa na vila Lindoeste, município de São Félix do Xingu, no Pará, tem alterado a paisagem no entorno da Floresta Nacional TapirapéAquiri. A cor cinza de áreas anteriormente degradadas pela criação de gado de forma inadequada tem ganhado o verde de terras produtivas. A iniciativa vem combater o avanço do desmatamento, contribuir para aumentar de forma gradativa a renda de produtores locais e combater o garimpo e a extração de madeira ilegal nessas áreas mais vulneráveis, por ser limite com a Floresta. O Programa de Agroextrativismo da Floresta Tapirapé (Flonata) foi iniciado em 2014 pelo Instituto Chi-
IMAGENS DE SATÉLITE
co Mendes de Biodiversidade (ICMBio), a quem cabe a gestão das unidades de conservação federais, com o apoio da Vale, por meio do Salobo. A empresa contribui de forma decisiva para a preservação das áreas de proteção na Floresta Nacional de Carajás desde o começo do Projeto Ferro Carajás, em 1981. Fora das áreas protegidas, a ocupação humana e atividades provocaram desmatamento da Floresta Amazônica na região. O programa baseia-se no método do piquete rotacional e tem a consultoria técnica do Sebrae e do campus Parauapebas da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).
SAL DEBAIXO DA LÍNGUA REVERTE A PRESSÃO BAIXA? A pitada de sal debaixo da língua de quem está com todos os sintomas de pressão arterial em baixa - suor frio, mal-estar, tontura, enjoo e sensação de desmaio - não é recomendada. Entretanto, esse costume é 50% verdade. O sal de cozinha, de fato, aumenta a pressão, mas até que isso ocorra, como explica o cardiologista Carlos Alberto Machado, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), são necessários pelo menos dois dias. Até lá, o sal pode reter líquidos. Ingerir bastantes líquidos, sim, é um meio eficaz de regular a pressão. Em todo caso, ir ao médico é fundamental caso os sintomas não passem. Quedas de pressão podem estar relacionadas a doenças graves, como infartos e diabetes, e mesmo pessoas sadias podem
1985
apresentar pressão sanguínea abaixo de 9
1
A área marcada em amarelo no mapa mostra os 8.679 km2 do mosaico das UCs da região de
por 6 (o ideal é 12 por 8). As causas podem
5
Carajás. A Vale ajuda a proteger as unidades que
2
4
compõe o mosaico em parceria com o ICMBio.
CARLOS BORGES
PROGRAMA AMBIENTAL FREIA O DESMATAMENTO EM SÃO FÉLIX DO XINGU
PERGUNTA-SE
3
Na comparação das imagens de satélite de
ser jejum prolongado, desidratação e uso de determinadas medicações com esse fim ou com esse efeito colateral. Uma medida eficaz é deitar-se com as pernas levan-
1985 e 2010 percebe-se a importância do
tadas e respirar normalmente, além de
trabalho de proteção para a preservação
ingerir líquidos.
da Floresta Amazônica.
DIVULGAÇÃO
2010
1 Reserva Biológica de Tapirapé 2 Área de proteção do Igarapé do Gelado 3 Floresta Nacional de Carajás 4 Floresta Nacional do Itacaiúnas 5 Floresta Nacional do Tapirapé-Aquiri Área de Floresta Área antropizada / desmatada
PÁSSARO BEM ANTIGO Pesquisadores descobriram, no Nordeste do Brasil, um fóssil de pássaro excepcionalmente completo do período Cretáceo Inferior. ANDRÉ ABREU
A ave foi encontrada em uma rocha de 115 milhões de anos. O espécime, encontrado na região da Chapada do Araripe, no Ceará, tem o
MANDE A SUA PERGUNTA
Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br
tamanho de um beija-flor. JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5
QUEM É?
TAISSA TAVERNARD
ESTUDIOSA DE RELIGIÕES AFRO
D
TEXTO ARNON MIRANDA FOTO ROBERTA BRANDÃO
esbravar academicamente o universo das religiões de matriz africana é a razão que guiou a carreira da doutora em Antropologia, Taissa Tavernard de Luca, integrante do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP) e vice-presidente da Federação Espírita, Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Pará (Feucabep). O interesse pelas religiões de matriz africana nasceu academicamente em 1995, quando Taissa ingressou no curso de História, pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Havia uma linha de pesquisa muito forte sobre os estudos acerca da escravidão em todos os sentidos, como o papel da mulher negra, a participação do negro na Cabanagem e a atuação de comunidades remanescentes de quilombos. E das diversas religiões de matriz africana, o objetivo maior para Taissa era estudar o “Tambor de Mina”, porque foi a primeira re• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
ligião de origem africana em solo paraense, que, segundo a pesquisadora, há estudos que indicam a presença de negros mina no Pará desde o século XVII, e que difundiram a religião tanto no Pará quanto no Maranhão e hoje está presente em todo o país. Durante a pesquisa sobre o Tambor de Mina, a professora buscou entender a presença de reis portugueses fazendo parte dessa religião em categorias de alto status no panteão do Tambor de Mina, que possui vários graus de hierarquia; os mais altos são os Orixás, Nagôs, Vodus, Geges e os Nobres Gentis Nagôs ou Senhores de Toalha, categoria a que a realeza portuguesa pertencia. Esse fato embasou a tese de doutorado da antropóloga, denominada “Tem Branco na Guma: A Nobreza Europeia Montou Corte na Encantaria Mineira”. Com a experiência adquirida em anos de pesquisa, a antropóloga formou em 2011, e coordena hoje, o Grupo de Estudo Religiões
de Matriz Africana na Amazônia (Germaa) na Universidade do Estado do Pará (Uepa), que conta com doutores, mestres e alunos de graduação do curso de Ciências da Religião. A fi nalidade é ministrar um ensino religioso laico e aplicar a Lei 10.639, cuja função é inserir os conteúdos de história e cultura afro-brasileira nas escolas. O grupo também atua com pesquisa ensino e extensão, difundindo em escolas paraenses de ensinos fundamental e médio o conhecimento das religiões de matrizes africanas e o respeito às manifestações de religiosidade e do combate à intolerância religiosa no ambiente escolar. Um exemplo disso é o Cine Africanidade, que mostra documentários de média ou curta duração e desenhos animados, garantindo o contato da comunidade com a universidade através de jogos interativos para desconstruir a ideia de negatividade associada à negritude.
NOME
Taissa Tavernard de Luca
IDADE 38 anos
FORMAÇÃO
Graduada em História, mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutora em Antropologia pelo Programa de PósGraduação em Ciências Sociais da UFPA
TEMPO DE PROFISSÃO 20 anos
APPLICATIVOS
ARQUIVO PESSOAL
EU DISSE
“Conseguimos capturar a energia da água que desce das nuvens. Agora, queremos capturar a energia da evaporação da água a partir do ar, na atmosfera”
BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS
GASOSA
Ozgur Sahin, pesquisador da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e coautor de estudo que busca usar a energia da evaporação da água para operar motores.
Possui uma função essencial para quem tem
(Portal UOL)
carro total flex: economizar combustível e
“Trazer artistas que vêm mostrar a cultura do seu país é algo diferente para os pacientes”
dinheiro. Basta preencher as informações requisitadas pelo app sobre o veículo e aguardar o cálculo, que indica quantos litros de álcool e de gasolina devem ser colocados no tanque para aproveitar a função flex. Plataformas: Android, iOS e Windows Phone
Sandra Maria Nascimento, vice-presidente Associação Voluntariado de Apoio à Oncologia (Avao),
Preço: Gratuito
sobre a apresentação do Ballet Nacional Russo ocorrida dentro do Hospital Ophir Loyola. (Agência Pará de Notícias)
“Em um levantamento de 788 espécies de sementes florestais de interesse econômico existentes na Amazônia somente metade delas foram estudadas”
É um guia completo para melhoria da quali-
Isolde Ferraz, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e coordena-
objetivos podem ser criados e terão tarefas
dora do projeto Bio-Economia e Serviços de Ecossistemas de Sementes Nativas da Amazônia (Besans),
agregadas, como o que comer, quantidade
sobre a importância de se investir mais em estudos na região.
de exercícios, avaliação de calorias inge-
(Site do INPA)
ridas e outras atividades que envolvem
LIFESUM dade de vida através do monitoramento de metas alimentares e de exercícios. Vários
bem-estar geral. AGÊNCIA BRASIL
Plataformas: Android, iOS e Windows Phone Preço: Gratuito
ANATEL - SERVIÇO MÓVEL O app oficial da Agência Nacional de Teleco-
“Vivemos em uma sociedade marcada pela intervenção humana. Tudo o que vemos à nossa volta é produto da tecnologia”
municações avalia em tempo real a qualidade do sinal, antenas e pontos de acesso de todas as operadoras de telefonia no Brasil. Plataformas: Android, iOS e Windows Phone Preço: Gratuito
Douglas Falcão, diretor de Popularização e Difusão da Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). (Site do Ministério da Ciência e Tecnologia) FONTES: PLAY STORE E ITUNES JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
COMO FUNCIONA
A coleta de seres vivos numa pesquisa de campo TEXTO E ILUSTRAÇÃO SÁVIO OLIVEIRA
Pesquisador só acredita vendo. Tem
ção que dá resultados quando o traba-
tionamentos, disciplina e estratégia.
consideravelmente. Portanto, cada
que provar por “a + b” que o experimen-
lho científico visita habitat, indivíduos,
Dependendo do tipo de pesquisas a ser
tipo de pesquisa necessita de um de-
to é verdadeiro, onde “a” é a pesquisa e
comunidades e populações, conhe-
desenvolvida, da pergunta das hipóte-
senho experimental que demanda a
“b” é o campo natural. São duas variá-
cendo cada ser vivo, de cada canto ge-
ses científicas que definem o universo
definição das amostras que são ne-
veis inseparáveis para uma coleta de
ográfico desse planeta. Neste cálculo,
da pesquisa, a estratégia de amos-
cessárias para sustentar os resulta-
informações de qualidade. É uma equa-
também é necessário adicionar ques-
tragem e o número de amostras varia
dos e as conclusões.
COLHENDO RESULTADOS
Com dados em mãos, cientista ta seguem, resumidamente, seis etapas:
1
Debruçado sobre a mesa de tra-
4
balho, a primeira fase é estabele-
Corre, pega, anota, acondiciona,
cer o planejamento, elaborando
transporta, etiqueta e fotografa.
o calendário, o mapeamento e a
Muitos verbos em uma oração e
metodologia para a pesquisa. Há
muito trabalho nessa etapa, em
alta taxa de suor e uso do cére-
que é preciso cuidado para
bro, pois as principais possibili-
conservar direitinho cada
dades devem ser estabelecidas
exemplar capturado.
nessa etapa.
5
2
Como o conhecimento é algo que se constrói com o diálogo, nesse momento é preciso apresentar o planejamento para equipe. Com a discussão detalhada, as qualidades e
De volta ao laboratório, é hora de preparar a etiqueta completa, definindo especificamente os exemplares para incorporar e conservar na nova coleção. Perfeccionismo e foco aos detalhes são bemvindos!
deficiências do projeto ficam mais claras, assim como já são pensados os materiais que serão levados.
6 Concluindo a pesquisa, ela
3
retorna à mesa de trabalho, mas dessa vez para exame do exem-
Com os materiais separados e o
plar com microscópio, identifica-
cronograma definido é preci-
ção e análise de dados. Se estiver
so correr atrás das espécies,
tudo certo começa a escrita dos
literalmente. A engenhosidade
resultados, com a produção de
é bem-vinda para a criação e
artigos científicos. Mas aí já as-
instalação das armadilhas de
sunto para outro infográfico...
coleta para as espécimes. 8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
FONTE: PROFESSOR INOCÊNCIO GORAYEB, MESTRE E DOUTOR EM ENTOMOLOGIA, PÓS-DOUTOR EM SISTEMÁTICA ZOOLÓGICA E PESQUISADOR DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
FATO REGISTRADO
A esquina: ano de 1901. A cidade em ebulição. O canto da avenida Independência com a rua 22 de Junho era a representação dos ventos do novo século. Dia 26 de Junho, capital do Estado do Pará. República. A foto, tomada por Ernest Lohse, que também era litógrafo, é marcante pela composição. Num canto, pedras de paralelepípedos lembram a demolição do antigo a dar lugar ao novo; no outro, a árvore como símbolo do vigor, do crescimento, da renovação. A busca pela tal Paris dos Trópicos. O lugar já mudou de nome. Hoje, é mais conhecido como a esquina entre a avenida Magalhães Barata e a rua Alcindo Cacela. À época, o trecho já possuía linha de trem e, então, estava a receber uma camada de paralelepípedos. A composição pode mostrar mais. Dá para notar a vestimenta de então, mar-
O calçamento da área central de Belém ganhava seus primeiros paralelepípedos
cada pela formalidade de calças e camisas em mangas longas. Lá também dá para ver o prédio histórico da antiga biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi. Às margens da rua, os postes menores de energia elétrica, provavelmente de ferro, importados da Inglaterra. À frente, um maior, poste de madeira, a competir. As duas carroças puxadas por burros completam o cenário. Certamente fazia um céu estonteante da despedida de junho de 1901. Certamente ventava como numa preamar eterna, já que ainda se levaria algum tempo para que os prédios bloqueassem o caminho dos ventos. As sombras denunciam. Por elas, pode-se perceber a posição do sol e, então, sabemos que a foto fora tomada provavelmente antes das oito horas da manhã. O clima era fabuloso: ventos, tempos e ares!
REPRODUÇÃO / O LIBERAL/ HELY PAMPLONA
ACERVO MUSEU GOELDI
Reforma em uma esquina de 1901
OBRAS NA CIDADE
DEU N’O LIBERAL
ALIMENTAÇÃO NATURAL NO JORNAL DOS BAIRROS
O antigo Jornal dos Bairros, caderno encartado em O Liberal, trazia matérias sobre o dia a dia diretamente dos bairros de Belém. Em 18 de janeiro de 1989, a reportagem “Natural sim, mas com cuidados e precauções” falava de um hábito que já se disseminava entre os belenenses: a alimentação de produtos naturais. A reportagem mostrava que já na década de 80 muitas pessoas buscavam se alimentar de maneira saudável com base em produtos integrais, sem qualquer mistura química, como o trigo, o arroz, o macarrão e o pão. E também a soja, o açúcar mascavo, além de legumes, verduras, cereais, castanhas, guaraná e complementos alimentares. Os praticantes dispensavam a ingestão de carnes.Já se praticava três alternativas de alimentação, cada uma com suas características e restrições: a natural, a vegetariana e a macrobiótica.
JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 9
CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE INOCÊNCIO GORAYEB
Campinas, as quase savanas brasileiras
VASTAS TERRAS
No Pará, as campinas são encontradas em Acará, Cametá, Oeiras do Pará, Oriximiná e Vigia
Campinas são ecossistemas de solos arenosos, lençol freático superficial e vegetação aberta com muitas espécies arbustivas e poucas espécies de árvores, a maioria retorcidas parecidas com os cerrados e as savanas africanas. Manchas e enclaves de campinas ocorrem nos estados do Amazonas, Acre, Amapá e Rorai-
ma. No Pará, as campinas estão nos municípios de Acará, Cametá, Oeiras do Pará, Oriximiná e Vigia. Esses ecossistemas também são chamados de caatinga-igapó, caatingas do rio Negro e caatinga amazônica, observadas pela primeira vez em 1908, pelo botânico Richard Spruce. O termo cam-
pina só surgiu em 1959, quando Andrade Lima chamou de “Campina do Caimbé” a mancha encontrada no município de Vigia, nordeste paraense. Esse tipo de sistema compõe os mais de 226 mil km² de florestas arenícolas da Amazônia brasileira. Pesquisadores apontam que as campinas amazônicas
se originaram da destituição de rochas do escudo Guianense e do escudo do Planalto Central transportadas pelos rios. Outra hipótese é que as áreas de campinas estariam associadas aos resquícios de regressões marítimas. Uma terceira hipótese indica que foram lares de grandes comunidades no passado.
ELES SE ACHAM
NA MOITA
Aranhas se disfarçam de folhas
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
As aranhas do gênero Bordoro-
pouco de teia. Os resultados, às
espécie para a passagem da po-
pactus sp. têm a manha para se
vezes, são como uma obra de arte
pulação para a geração seguin-
esconderem dos predadores e
ao imitar até outros animais. Na
te.
atacarem suas presas: camufla-
foto ao lado, é difícil não pensar
Obviamente essas táticas não
gem no ambiente. Pela tonalida-
na asa de um morcego à primei-
servem apenas para escapar dos
de da pele, se mistura tão bem a
ra vista.
predadores, pois nos períodos re-
ponto de ser invisível em folhas
Na situação em que se encontra
produtivos, na hora de se alimentar
secas, terra e madeira. O corpo
na foto ao lado, a aranha está
e na hora do descanso, encontrá-
esguio e patas dianteiras com-
camuflada para proteger sua
las não é fácil. Você já conseguiu
pridas facilitam o esconderijo
prole sob ela, desempanhando o
encontrá-la na imagem? Outra
em galhos. E se a tonalidade não
principal papel dos indivíduos da
pergunta: Há quantos milhões de
combinar com a “cútis” da mes-
espécie, a reprodução, e assim
anos esta espécie existe e chegou
tra dos disfarces, ela aplica um
contribuir com outras da mesma
até hoje sem ser extinta?
CÉSAR FAVACHO/ MPRG
A ARTIMANHA DA ARANHA
DESENHOS NATURALISTAS BUFFON / COENREAAD JACOB TEMMINK / REPRODUÇÃO
CONCEITOSAMAZÔNICOS
Um peixinho frito, que de tão frito, suas espinhas quebram, crocantes, na boca. Quem nunca sucumbiu ao “peixe do mato” empanado com trigo? Mas, para chegar às mesas, o tal peixinho precisa ser enfiado. É assim que jijus, piabas e maparás desembarcam
AVE IMPONENTE
O desenho desse uruburei é associado a Buffon e foi publicado pela primeira vez em Paris, em 1821
Sua majestade, o urubu-rei O bicho não recebe o título monárquico à toa. Olhe para ele: as cores, a postura e a crista. Um augustíssimo soberano dos ares amazônicos: uruburei, que, de real, tem tudo. O desenho, provavelmente feito por Buffon, fora divulgado muito cedo, na Paris de 1821. Tudo através da publicação de Coenreaad Jacob Temmink, tratando da nova coleção de aves coloridas nas pranchas iluminadas de Buffon. Tanto o livro quanto as pranchas fazem parte do acervo de obras raras da coleção da biblioteca do
Museu Paraense Emílio Goeldi. O urubu-rei, também conhecido como Sarcoramphus papa, foi descrito mais cedo ainda, em 1758, por Linnaeus. Majestade que governa por largas terras, já que ocorre em zonas tropicais e semitropicais, desde o México até a Argentina, zona em que inclui-se o Brasil. No seu reino, muitos títulos recebe: urubu-real, urubutinga, corvo urububranco, iriburubixá. Geralmente alça voos de até 400 metros, podendo visualizar uma presa de 30 centímetros no solo. Ele prefere, porém, os grandes
animais das florestas e de áreas de cerrado, suas zonas habituais. Zonas essas que, no Brasil, se estendem pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Com uma envergadura de 2,4 metros e peso que vai de três a cinco quilos, o urubu-rei alcança seus 85 centímetros de cumprimento. Na natureza, possui poucos predadores, mas, devido à baixa reprodutividade da espécie e à degradação do seu habitat, está cada vez mais raro fazer reverência à ave. Por isso repetimos: vida longa à vossa majestade, o urubu-rei!
nas frigideiras: agarrados à enfieira! Enfieirados. Já viram? Os pescadores passam pelas ruas, logo após a pescaria, com um talo de folha de palmeira. Nele, estão os peixes, um do lado do outro, “enfieirados”, enfiados. Essa é uma prática comum na pesca artesanal de subsistência na região. No geral, usase o talo da folha de uma palmeira, do açaí ao coco, mas também servem cipós, cordões e arames. Passa-se o “fio” pela abertura das guelras até retirá-lo pela boca do peixe. Aí, então, se enfia mais um e mais um até que se consiga uma penca. A técnica é uma herança indígena, hoje não tão comum nas regiões mais urbanizadas, para o transporte dos pequenos peixes. Mas há, como sempre, outros usos. O termo também é utilizado para se referir a uma parceria entre pessoas visando a um objetivo em comum. Nas comunidades interioranas, é empregado quando da busca pela solução dos problemas do povo. Algo bloqueando o caminho? Façamos uma enfieira para contornar a situação. E se o teu mal é fome? A enfieira com seus peixinhos dependurados também pode ser a solução. O peixe, nesse caso, morre – e chega às cozinhas – pela boca.
JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
SÁVIO OLIVEIRA
DELÍCIA PENDURADA NA ENFIEIRA
EM NÚMEROS
A HERANÇA DE CARLOS GOMES
INSTITUTO DE FORMAÇÃO MUSICAL COMPLETA 120 ANOS NO PARÁ TEXTO VICTOR FURTADO INFOGRAFIA MÁRCIO EUCLIDES
O Instituto Estadual Carlos Gomes
ceiro estabelecimento público de
com cursos livres ou superiores a
nove óperas em português falado
completou 120 anos de história em
ensino musical mais antigo do País,
adultos e profissionais. Trabalho e
no Brasil - O Guarani é a mais
fevereiro, mas as comemorações
incluindo atividades de pesquisa
história dignos de um dos músicos
famosa de todas -, desafiando a
seguem até o final deste ano com
e extensão, formando músicos
de maior destaque das Américas,
língua italiana, a oficial das óperas
variadas programações. É o ter-
desde crianças até atualização
responsável pela composição de
no século XIX.
UM TOM A MAIS Motivos para comemorar o aniversário do instituto
10
28
escolas públicas do Estado receberão concertos pedagógicos ainda este ano
edições do Festival Internacional de Música do Pará (Fimupa) já foram realizados pelo IECG em toda a história
700
pessoas, entre alunos e profissionais, participam de 50 cursos oferecidos gratuitamente
NO MESMO TIMBRE Centenas de pessoas de várias idades estão ligadas ao Carlos Gomes
70
2.009
cidades paraenses possuem atividades do IECG
alunos fazem o curso de musicalização
20
15
23
98
anos é o tempo de existência do Coral Carlos Gomes, que realiza apresentações bimensais
grupos musicais estão cadastrados pela Fundação Carlos Gomes
900
crianças de escolas públicas assistem, mensalmente, aos concertos didático-pedagógicos gratuitos, realizados no Theatro da Paz
anos é o tempo de existência da Banda Sinfônica do Carlos Gomes, que se apresenta todos os meses
professores de música
600
instrumentos pertencem ao instituto
58
novos instrumentos de sopro, cordas, percussão e piano foram adquiridos este ano
SOB A BATUTA
Os cursos oferecidos pelo IECG no Pará
4
habilitações para o curso Técnico Profissionalizante (ensino médio): Canto Lírico, Técnico em Instrumento, Mestre em Bandas e Regência de Coro
4
habilitações para o curso superior de Bacharelado em Música: Canto Lírico, Instrumento (Piano, Flauta Transversal, Clarinete, Fagote, Trompa, Trombone, Trompete, Saxofone, Oboé, Tuba, Percussão, Violino, Viola, Violoncelo, Contrabaixo e Violão), Composição e Arranjo e Regência de Bandas.
3
programas de ensino do curso fundamental
10 14
a anos Programa “B”: Viola, Violoncelo, Contrabaixo, Violão Clássico, Saxofone, Flauta Transversal, Clarinete, Fagote, Oboé, Trompete, Trombone, Trompa, Tuba, Eufônio e Percussão
79
THIAGO ARAÚJO / AGÊ NCIA PARÁ
3
cursos livres: Violão Popular, Cavaquinho e Teclado
a anos Programa “A”: Piano, Violino, Violoncelo e Flauta Doce
5 19
a anos Programa “C”: Violão, Contrabaixo, Percussão (incluindo Bateria) e Canto Líricos
PALMAS AO MAESTRO
Antônio Carlos Gomes é considerado um dos mais importantes músicos de toda a história brasileira
10
anos foi quando o menino pobre de Campinas (SP) começou a estudar música com a supervisão do pai
9
grandes óperas compostas em português falado no Brasil
1870
, ano quando apresentou pela primeira vez a ópera O Guarani, baseado na obra de José de Alencar
1892
foi o ano da chegada a Belém, no retorno ao Brasil após um período fora
60
anos tinha o maestro quando morreu em 1896
3
meses foi o tempo em que morou na capital paraense Foi diretor do Conservatório de Música de Belém, cargo concedido pelo intendente Antônio Lemos, hoje conhecido como Conservatório Carlos Gomes
24
anos tinha Carlos Gomes quando conheceu o imperador DPedro II, que financiou seus estudos na Europa
1860
foi o ano de estreia como maestro, regendo sua primeira ópera, composta pelo escritor José de Alencar: A Noite de São João FONTE: IECG, UOL EDUCAÇÃO, E-BIOGRAFIAS
OLHARES NATIVOS
窶「 REVISTA AMAZテ年IA VIVA 窶「
JULHO DE 2015
O mundo oco, tronco-abrigo O mundo construído de ocos, profundos, à espera de conteúdo e do próprio todo que o preenche. É fresta que aguarda o olho para descobrir o que há por trás do cercado, e a própria retina a mirar a brecha, maravilhada. É ressignificação o mundo imenso, vasto mundo, pequenino no escuro do toco oco adornado e preenchido de beleza, pendurado, assustado, no azul (como o mundo) do olho do tucano. É começo e fim, o mundo. Em si mesmo, em seus esconderijos fantásticos. E todo ou parte que nos cabe onde nos bate e abate fundo. Afinal, é feito de fim para a árvore outrora frondosa ou começo de vidacasa da ave pronta para enfeitar o céu? É toco ou abrigo? O mundo é tudo à volta e, pelo avesso, para nossa surpresa dá voltas. É o todo interno e eterno que ficará no momento captado pelo olho de quem vê, que registrará o mundo para sempre, com tinta única da própria memória, e o representará como ninguém poderá fazê-lo, em universo só seu, na solidão de compreender-se e compreendêlo. O mundo é oco e, dizem muitos: mouco. O mundo, de fato e direito, é pouco para quem quer preenchê-lo. FOTO: HELY PAMPLONA
JULHO DE 2015
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5
OLHARES NATIVOS
O colhereiro à beira do rio O bico n’água, o refresco, a fragilidade, o desengonço, a indefinição à sombra, em algum recanto da natureza, tão simples, tão terno, que é possível ouvir o vento nas árvores ao redor do pássaro. FOTO: HELY PAMPLONA • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
Um barquinho e uma lembrança A Amazônia longe de estereótipos no engenho do menino que não demanda a remo. Há de se acelerar a canoa que clamam por motores, ora. À pilha. FOTO: HELY PAMPLONA
JULHO DE 2015
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OLHARES NATIVOS
No meio do breu A vendinha providencial a qualquer hora a socorrer. Um farnel sem fim de miudezas de imensa serventia em qualquer lugar para qualquer necessidade. FOTO: SUSAN GERBER
Noite de trabalho e conversa Em frente à casa o ganha-pão, o bate-papo, a espera do freguês, o boró, o troco, a fatia, a folga, a graça, a luz fraca, o abacaxi, a melancia. Três por uma, doutor. Vai levar? FOTO: SUSAN GERBER
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JULHO DE 2015
À espera daqueles que vêm Ela já passou ou ainda vai passar? É fim de tarde ou fim de noite na Trasladação? Há por ali um cheiro de pipoca e de Círio, uma conta de férias, uma cena etérea da cidade que amamos. FOTO: SUSAN GERBER
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OLHARES NATIVOS
Unidos sobre a canoa Vambora, que há logo mais o outro lado, a feira, a cidade, a margem, a banda de lá, pequeno. Vambora, que a hora é essa de descobrir o que nos resta nesse rio que divide a tua da minha realidade. FOTO: OSWALDO FORTE
Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o e-mail amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome completo do autor, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto do registro fotográfico. As imagens devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das fotos tem fins meramente de divulgação, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos autores. Participe!
Fotos: Amazon Films
Para um mundo com novos valores.
Ensino e pesquisa para o desenvolvimento sustentável Criar opções de futuro por meio de pesquisa científica e do desenvolvimento de tecnologias. Essa é a missão do Instituto Tecnológico Vale, em atividade desde 2009, em Belém. O ITV trabalha em parceria com a comunidade científica internacional, em três vertentes: pesquisa, ensino e empreendedorismo.
Informe Publicitário
Pesquisa Neste eixo de atuação, o ITV promove, difunde e realiza a pesquisa, a tecnologia e a inovação relacionadas às áreas de conhecimento em Desenvolvimento Sustentável, com ênfase no papel da mineração. O objetivo é contribuir para a expansão do conhecimento, por exemplo, sobre o meio biótico e os efeitos do clima na região. Atualmente, mais de 30 pesquisadores atuam no Instituto conduzindo diversos projetos.
Uma das pesquisas desenvolvidas monitora os recursos hídricos da bacia do Rio Itacaiúnas, no sudeste do Pará, e faz a análise da dinâmica de uso e ocupação do solo da região. O trabalho é desenvolvido em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) e Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas). Com o estudo é possível acompanhar a evolução da quantidade e qualidade da água. Outra pesquisa é voltada para o Plano de Recuperação de áreas degradadas no projeto Ferro Carajás S11D. O ITV tem contribuído com a definição sobre a escolha de espécies, uso de “biomantas” na revegetação e controle de plantas invasoras.
Fotos: Amazon Films
Informe Publicitário
Linhas de pesquisa t #JPEJWFSTJEBEF F CJPUFDOPMPHJB t $JÐODJB EF QMBOUBT F TPMP t $PNQVUBÎÍP BWBOÎBEB t &DPMPHJB F TFSWJÎPT EF FDPTTJTUFNBT t (FPMPHJB BNCJFOUBM F SFDVSTPT IÓESJDPT t .FUFPSPMPHJB F NVEBOÎBT EF DMJNB t 4PDJPFDPOPNJB F TVTUFOUBCJMJEBEF
Fernando Sette
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Ensino Fernando Sette
Por meio do Ensino, o ITV oferece pós-graduação stricto sensu. No Pará, o curso de mestrado profissional voltado à sustentabilidade de recursos naturais em regiões tropicais está na sua terceira turma. O mestrado conta com duas linhas de pesquisa e é composto por 23 docentes que ministram aulas e orientam pesquisas científicas com escopo interdisciplinar em ciências ambientais e sustentabilidade dos recursos naturais. “O objetivo do curso é formar profissionais aptos a enfrentar questões relacionadas com o aproveitamento sustentável de recursos naturais e atrair e desenvolver talentos com competências voltadas para a mineração”, explica o pesquisador do ITV, Everaldo Barreiros, que coordena o mestrado. O mestrado do ITV é reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, e tem a duração de dois anos. São sessenta alunos cursando o mestrado. Quase 70% deles são paraenses.
Desenvolvimento sustentável
Com pesquisa, conhecimento e soluções sustentáveis para a vida das pessoas, o Instituto Tecnológico Vale coloca a região amazônica como um pólo de ciência do Brasil.
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OPINIÃO, IDENTIDADE, INICIATIVAS E SOLUÇÕES FERNANDO SETTE
IDEIASVERDES
A VIDA NA COSTA AMAZÔNICA LIVRO DESVENDA OS VOCÁBULOS E COSTUMES DAS POPULAÇÕES DA ZONA COSTEIRA DO ESTADO E APROXIMA A CIÊNCIA DA POPULAÇÃO PÁGINA 38
EDUCAÇÃO O gerente sênior de Programas do Google, Rodrigo Vale, é paraense e investe na formação educacional das comunidades. PÁG. 36
MONITORAMENTO Pesquisadores do Museu Goeldi acompanham as populações de borboletas na ilha do Combu. PÁG.46
IDIOMA Projeto linguístico da UFPA ensina alemão para crianças de famílias de baixa renda como forma de conhecimento cultural. PÁG.50
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OUTRAS CABEÇAS
“O
que fazer para que os olhos deles brilhem na minha aula?”. Essa é a pergunta que muitos professores devem se fazer diante do desafio de ensinar em uma realidade de estímulos e dificuldades que ultrapassam a escola. Com o “Google para Educação”, a multinacional de serviços on-line e softwares apresenta uma solução para juntar aprendizado com as tecnologias digitais que as crianças e adolescentes se relacionam com facilidade e gosto. Uma plataforma de compartilhamento e acesso a livros, vídeos, aplicativos educacionais e outros conteúdos gratuitos via tablets, celulares e mesmo telefones em casa. Recentemente, uma tecnologia paraense inédita se associou ao acervo educativo do Google. Usando a linguagem dos games, o aplicativo “Matematicando” revisita a velha “tabuada” com um espírito lúdico para envolver estudantes e docentes no ensino da Matemática. A inclusão do jogo na rede básica de ensino virou projeto educacional em Marituba, município com um dos piores índices de desenvolvimento humano e escolar do Brasil, foi escolhida como cidade-teste e a primeira da região Norte do país a utilizar a plataforma do ‘Google para Educação’ nas escolas municipais. Em passagem por Belém para uma palestra na XIX Feira Pan-Amazônica do Livro, em junho, sobre o uso das tecnologias na educação, o gerente sênior de Programas do Google e também paraense, Rodrigo Vale, conversou com a Amazônia Viva sobre seu projeto educacional no Pará. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
“ TRAZER O ALUNO PARA SALA DE AULA” RODRIGO VALE É O GERENTE SÊNIOR DE PROGRAMAS DO GOOGLE E UM DOS PRINCIPAIS NOMES DOS PROJETOS DE EDUCAÇÃO DA EMPRESA. DEPOIS DE TRABALHAR COM MERCADOS EMERGENTES NA AMÉRICA LATINA, O PARAENSE VOLTA AO BRASIL COM O PROJETO DE IMPLANTAR UM APLICATIVO DE MATEMÁTICA NA REDE MUNICIPAL DE MARITUBA, UMA DAS CIDADES COM OS PIORES ÍNDICES DE DESENVOLVIMENTO DO PAÍS. TEXTO JOÃO CUNHA FOTO TARSO SARRAF
Você trabalha com Educação em uma das maiores empresas do mundo, mas essa não é originalmente a sua área. Qual foi o seu percurso profissional até chegar a esse ponto? Me formei em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Pará em 1999 e desde 2005 estou no Google, depois de a empresa entrar no mercado brasileiro e comprar a start-up que eu fazia parte. Depois de muitos anos nas áreas de e-commerce (comércio eletrônico), análise de resultados e automação de anúncios eu senti que minha contribuição nesse campo já estava feita e sentia a necessidade de algo novo. Fui então para o desenvolvimento do ecossistema da internet na América Latina e daí para a Educação. O meu foco hoje é o Brasil. Trabalho com prefeituras, governos de Estado, escolas em geral, ajudando a melhorar a presença dos recursos de tecnologias no ensino por meio de recursos como o “Google para Educação”. Quais são as referências pedagógicas do “Google para Educação”? Dei aulas na PUC Minas durante o mestrado, mas não sou pedagogo. Estou aqui para aprender com os educadores. Sempre que começamos o projeto, deixo claro que temos a tecnologia e quem entende de dar aula é o professor. Entendemos que cada projeto, cada cidade tem uma pedagogia e uma realidade escolar e social diferente. Então de forma alguma a gente cria uma receita, o caminho do sucesso é sim escutar o professor e os estudantes, entender quais as necessidades deles, o contexto local e adaptar a tecnologia junto com eles. E como será a implantação do aplicativo “Matematicando” em escolas públicas? O “Google para Educação” é uma tecnologia de troca de conhecimento, qualquer que ele seja e é esse o grande
“Queremos caminhar ao lado do professor e crescer junto com a infraestrutura. Ter uma conversa muita aberta, definindo objetivos claros e realistas” trunfo que o Google tem, ter desenvolvido uma plataforma que se o professor é de Matemática, Português ou Química, ele pode usá-la. A Editora Interceleri tem esse aplicativo, o Matematicando, que é um jogo de tabuada disponível pelo sistema Android e na web também, que auxilia o ensino da Matemática. Conversando com o professor Walter Santos Jr., criador do aplicativo, decidimos unir a ferramenta ao “Google para Educação” para expandir muito mais rápido a adoção por parte do professor e do aluno junto com um projeto de base no sistema local de ensino. A Interceleri fez uma versão piloto em Ananindeua em 2014, com um torneio escolar e formação dos alunos e professores para o uso do Matematicando, mas o primeiro projeto completo vai ser em Marituba, em parceria com o Google. O projeto vai ser desenvolvido na rede municipal? Que público vocês pretendem alcançar? Hoje, em Marituba, nós vamos fechar toda a rede municipal, o que representa 20 mil alunos, aproximadamente, e 900 professores da rede fundamental. Fizemos um cronograma de atividades e vamos começar o processo de formação
dos professores e inclusão do aplicativo a partir deste ano. E sobre essa tecnologia paraense, quais são as perspectivas dela ser replicada em outros polos, no Estado e no país? O “Google para Educação” é uma plataforma gratuita e tem um percentual gigantesco nas escolas do ensino básico americano (EUA). Nosso objetivo é trazer essa tecnologia para o Brasil e ter esse sucesso também nas escolas públicas daqui com aplicativos como o “Matematicando”. Queremos poupar o tempo do professor e fazer com que ele tenha uma melhor qualidade de ensino. Engajar, incluir e trazer o aluno de volta para a sala de aula com o atrativo tecnológico aliado a um plano de educação sólido. Quando a gente capacita o professor a ver a tecnologia como uma aliada, há todo um processo que vai até uma etapa que chamamos de redefinição, quando o professor é capaz de olhar para a sua realidade e a tecnologia disponível e vai começar a conectá-la de tal forma que ela atenda aquele universo escolar. Nesse momento, o professor chegou a uma fase em que se apropriou plenamente da tecnologia e sabe usá-la em benefício dos seus alunos. Além da palestra na Feira do Livro, você veio fazer uma rodada de conversas com várias instituições para apresentar o projeto e o que elas podem oferecer em parcerias. Quais as perspectivas sobre as visitas em instituições de pesquisa? As perspectivas são muito positivas, as prefeituras têm muito interesse de conhecer o Google, de iniciar o projeto. A gente tem o pé no chão. De novo, queremos caminhar ao lado do professor e crescer junto com a infraestrutura. Ter uma conversa muita aberta, definindo objetivos claros e realistas. Meu objetivo é compartilhar um pouco da minha experiência, falar o que pode funcionar. Estou muito feliz, sempre tive vontade de voltar ao Pará, trabalhando em um projeto na região. JULHO DE 2015
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ASSUNTO DO MÊS
PRA MODE QUE... O MODO DE SE COMUNICAR TÍPICO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS QUE VIVEM NA ZONA COSTEIRA AMAZÔNICA ESTÁ PRESENTE EM UM LIVRO COM QUASE 900 VOCÁBULOS ORGANIZADOS POR PESQUISADORES DO MUSEU GOELDI. O OBJETIVO: COMPREENDER À LUZ DA CIÊNCIA E PRESERVAR UMA PARTE DO LINGUAJAR, DOS COSTUMES E HÁBITOS DAS POPULAÇÕES LITORÂNEAS DO PARÁ. TEXTO SÁVIO OLIVEIRA FOTOS FERNANDO SETTE
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FEVEREIRO DE 2015
A
fundura das águas cobre a linha do horizonte, de uma ponta à outra da vista, que se aperta por causa do panavuê e do sol forte na cara. Uma montueira de areia se acumula entre os dedos dos pés. O marulho é ouvido próximo aos barrancos de terra enquanto o cheiro do avuado exala pela costa da praia, rápido e gostoso como a brisa da maré. Pelas bandas de cá, disque é o melhor jeito de se preparar um peixe assado. “Para fazer, é só cavar um buraco na areia, para não apagar a brasa, né? Aí coloca o carvão no buraco e ajeita a grelha. Pega a faca e vai cortando o peixe. Depois abre ele, lava na maré e sapeca o sal. Deixa a pele do peixe em cima do carvão para levantar o fogo. Aí vai assando e vai comendo, vai assando e comendo... Quanto mais come, mais vontade dá,” conta Orlando Lobato, um dos pescadores mais antigos de São Caetano de Odivelas, município do nordeste paraense. Ele explica que o cozimento é mesmo na pûrrada (Assim como está escrito, com o “U” pronunciado com a boca fazendo um bico e a entonação cortada no final da palavra, parecendo que perdeu o ar, com a voz anasalada, forçando um pouco o grave). Mas além da receita do avuado, o pescador gosta de conversar sobre a cidade, política, educação e contar lendas, principalmente aquela “da cobra que buiava à noite no rio”. JUNHO DE 2015
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ASSUNTO DO MÊS
MODOS DE FALAR Significado de alguns termos encontrados no início desta reportagem Fundura: Profundidade. Panavuê: Vento forte que vem da praia. Montueira: Ação ou efeito de acumular. Quantidade excessiva de algo. Marulho: Barulho produzido pela agitação das águas do rio ou do mar. Avuado: Método de preparo de peixe que consiste em assá-lo em um buraco na areia, para o vento não apagar o fogo. Primeiro abre-se o peixe com uma faca, retirando as vísceras, então, com a pele encostada no carvão, colocase o peixe sobre a brasa. As espécies mais usadas são bandeirada, caíca, pratiqueira e pescadagó. Dependendo da excentricidade do pescador, o peixe pode ser servido na pá do remo. Disque: Aglutinação do verbo “dizer” e do pronome “que”. Gíria utlizada para afirmar que algúem ou várias pessoas estão falando sobre algo ou alguém. Pûrrada: Porrada . Rápido, às pressas. Buiava: Boiava, do verbo boiar. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA
PAISAGEM LITORÂNEA
Municípios praianos paraenses, como São Caetano de Odivelas, na região do Salgado, detêm o conhecimento popular dos ribeirinhos
VIDA SIMPLES
A vivência dos pescadores entre o mar e a terra cria um estilo de vida peculiar com influências do meio ambiente
Tantas histórias, costumes e um jeito de falar característico, percebido quando nos aproximamos da dinâmica social e cultural da Zona Costeira Amazônica. É um estilo de vida influenciado por trocas constantes entre o meio ambiente terrestre e o marinho, ou seja, pela movimentação pesqueira e também pelo extrativismo. Nesse trajeto entre o terrestre, o fluvial e o marinho, que deságua o vocabulário costeiro, com influências indígenas, negras e portuguesas. “No mundo amazônico não é possível falar de culturas uniformes, descoladas dos contatos com narrativas, saberes, cosmologias e patrimônios de populações indígenas. Em diferentes momentos, populações indígenas e negras trocaram em si sentimentos, crenças, saberes-fazeres, dando à região um rico patrimônio afroindígena. Um desses patrimônios está impresso no folguedo do boi, na dança do carimbó, entre outras expressões artísticas esparramadas pelos mais diferentes territórios da região”, diz o historiador Agenor Sarraf Pacheco. Linguajar enraizado nas tradições culturais paraenses, como na letra de uma música de Nazaré Pereira, na poética do Arraial do Pavulagem, ou no clima regional, quando, olhamos para o céu e ao avistarmos nuvens cinzas dizemos que vai cair um “toró”. Um modo de falar bem amazônico, que também
encontrou terreno na internet, através de curtas-metragens, como “Ademar e a Onça” ou “Tem Boto na Rede do Tunico”, da Associação Cultural Dalcídio Jurandir, em que o estuário linguístico da Zona Costeira é apresentado com vastidão. Bragança, São Caetano de Odivelas, Gurupi, Soure, Vigia. A área costeira amazônica corresponde a 35% do litoral brasileiro e vai do Oiapoque, no Amapá, atravessando dunas, estuários, florestas tropicais, ilhas, lagos, lagoas, marés, manguezais e várzeas, até chegar à baía de São Marcos, no Maranhão. Nesta faixa de terra e água, entre o mar e o rio, há especificidades ambientais e climáticas, como a presença recorrente da chuva e a temperatura, que se mantém constantemente elevada, em média acima dos 20° C. Tanto o calor como as características tropicais peculiares da região permitiram que cientistas do Museu Paraense Emílio Goeldi criassem um Programa de Estudos Costeiros (PEC), em 1997, com a finalidade de pesquisar mais a fundo as diversas dinâmicas que compõem o complexo ecossistema amazônico, abordando os aspectos sociais e ambientais. Dezoito anos depois, o PEC se depara diante da necessidade de catalogar os aspectos culturais, como expressões de hábitos das comunidades que moram em ambientes costeiros na Região Amazônica. JULHO DE 2015
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ASSUNTO DO MÊS
Desta vez, para facilitar o trânsito e compreensão entre os termos utilizados pela própria comunidade científica. O livro “Amazônia, Zona Costeira: Termos Técnicos e Populares” reúne quase 900 palavras organizadas, durante cinco anos (veja algumas delas no glossário da página ao lado), pelos pesquisadores Alba Lúcia Ferreira de Almeida Lins, Maria Luiza Videira Marceliano, Amilcar Carvalho Mendes e • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
Inocêncio de Sousa Gorayeb. Com imagens do fotógrafo Hely Pamplona, a publicação coloca no papel um fluxo que envolve a cultura da pesca, a culinária, e o convívio com insetos e parasitas. É como um rio de conhecimento, que liga o coloquial ao técnico, nas áreas da antropologia, botânica, geologia e zoologia. O livro promove um intercâmbio social e cultural com a experiência diária de quem sobrevive à margem do rio.
“O livro foi construído por uma metodologia que é basicamente a prática de atuação dos pesquisadores do Goeldi. Na ação de ir ao campo os pesquisadores interagem bastante com as comunidades e diversos projetos foram desenvolvidos na Zona Costeira por cientistas de diferentes áreas, que fazem parte do Programa de Estudos Costeiros. Nessa relação, há a captura de um bocado de características das comunidades tradicionais, da sua
COTIDIANO
A cultura da pesca está presente no linguajar dos ribeirinhos amazônicos
DIVULGAÇÃO / MUSEU GOELDI
GLOSSÁRIO DO LITORAL Conheça alguns vocábulos das populações da zona costeira amazônica catalogadas no livro Apicum: Zonas à margem do manguezal, com pouca PESQUISA Equipe responsável pela organização do livro “Amazônia, Zona Costeira: Termos Técnicos e Populares”
vegetação, solo arenoso e elevada salinidade. Ajuntamento: Ato de misturar areia, silte e argila, para resistir à chuva e infiltrações. Aluvião: Inundação provocada por grande volume de água. Azedume: Sabor ácido ou amargo. Baronesa: Fêmea do caranguejo-uçá. Boca do rio: Local onde o curso do rio desemboca no estuário ou no mar. Braço de rio: Cursos de água que deságuam em rios principais durante o percurso. Cacuri: Armadilha de pesca, de formato circular, construída com varas, que prendem os peixes quando a maré baixa. Estirão: Zona da praia em que fica localizada a transição entre maré alta e maré baixa. Marreteiro: Comerciante que financia a atividade da pesca, pagando alimentação, combustível ou gelo. Também pode comprar parte da produção para
SIGNIFICADOS Nomes vulgares e expressões caboclas ganharam tradução técnica pelos pesquisadores do Goeldi
revender em vilas e outros municípios. Matapi: Gaiola cilíndrica arteseanal, feita de tala, com objetivo de capturar camarão.
vivência na relação com a natureza”, explica o zoólogo Inocêncio Gorayeb, ao comentar a elaboração do livro que reúne palavras tão típicas da zona costeira. A escritora e tradutora gaúcha Lya Luft afirma que “viemos ao mundo para dar nome às coisas. Dessa forma, nos tornamos senhores delas ou servos de quem as batiza antes de nós”. Nesse aspecto, tanto na terminologia popular quanto na científica a presença do humor é regra desses “senhores
ribeirinhos”. Seja no sarnambi norteamericano, marisco que aqui ficou popularmente conhecido como “unhade-velha”, como na taxonomia de uma nova espécie. Segundo Alba Lins, natural de Breves, uma árvore caracteristíca da Zona Costeira também tem uma história curiosa e engraçada. A sucupira tem folhas que, quando amassadas exalam um odor desagradável. “Aí o povo chama de paubosta. Mas ela é ótima para curar pira de cachorro,” diz a cientista.
Munzuá: armadilha redonda para captura de peixe. Soatá: Período que ocorre geralmente entre dezembro e abril, quando os caranguejos machos buscam as fêmeas para acasalar. Panema: Conceito indígena para designar falta de sorte em pescaria; pessoa triste, azarada. Pica-animais: Insetos que se alimentam de sangue. Ruma: Seja pessoa ou seja bicho, o termo é utilizado para designar uma quantidade abundante de indivíduos, animais ou plantas em um local. Toró: Chuva forte.
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ASSUNTO DO MÊS
O pesquisador Amilcar Mendes relativiza e busca equilibrar os dois saberes, o técnico e o popular. “O nosso olhar é para responder algumas perguntas científicas que nós fazemos, porque a ciência funciona assim: você tem uma hipótese, faz uma pergunta e faz pesquisas e experimentos para responder aquelas perguntas. Mas o homem simples não tem essa prática. Ele interage com a natureza conforme a necessidade da vida. Então ele começa a definir as coisas, a classificá-las. Ele começa a explicar à sua maneira e nessa hora a gente percebe que, de uma outra forma, um entendimento profundo sobre as coisas da natureza”, pontua o geólogo.
INFLUÊNCIAS
Entre as coisas da natureza que influenciaram a dinâmica costeira, afetando o modo de vida de comunidades costeiras foi a introdução de uma mariposa, vinda do sudeste • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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da Ásia em lastro de navios. Ao chegar a costa amazônica, a espécie infestou árvores de siriúba, gerando uma superpopulação com a fácil e fértil alimentação. Com o aumento do inseto, as lagartas de mariposa começaram a atacar as folhas, que secam, avermelham e caem no rio. O acúmulo de matéria orgânica e nutrientes no mangue atrai os camarões para a margem, o que facilita a captura dos crustáceos. Esse fenômeno é chamado “mangue vermelho”, devido à coloração das folhas secas das siriúbas. E o equilíbrio da natureza desloca as mariposas para as comunidades ribeirinhas, uma vez que os insetos são atraídos pela luz das casas. “Quando o mangue avermelha, vai dar muito camarão. De certa forma, a colônia de pescadores tem conhecimento da cadeia trófica devido ao aumento da presença das mariposas. Eles nos contaram e nós estudamos esse fenômeno. Mas é
interessante que a siriúba produz uma resposta fisiológica, e vem mais forte, com uma planta muito mais bonita”, diz a botânica Alba Lins. Nessa margem geográfica e simbólica, muitas vezes negligenciada pela própria comunidade acadêmica, já que segundo os autores de “Amazônia, Zona Costeira”, a área é pouco visibilizada pela pesquisa científica, mesmo com uma imensa população localizada nesta área, cheia de histórias e termos que transbordariam outros artigos e livros. Foi nessa faixa de terra costeira do Brasil, cheia de brejos, carapanãs, mangues e tralhotos, que o navegador italiano Américo Vespúcio desembarcou no início do século XVI. Viu rituais de antropofagia por nativos vermelhos nus, a nascer, reproduzir, guerrear e morrer. Visões de fauna e de flora exuberantes, com espécies de animais e plantas, até então, estranhas ao mundo ocidental. Descobriu a foz do rio Amazonas.
INVESTIMENTOS
Pesquisadores defendem que a costa amazônica precisa de um número maior de estudos, para que se conheça seu potencial científico e sustentável
Das aventuras recheadas de ambição, imaginação e desejo, resultou a carta “Mundus Novus”, publicada em 1503, aguçando a curiosidade do Velho Mundo sobre os trópicos do lado de cá. O documento, atualmente considerado de autoria desconhecida, foi escrito pelos relatos de viajantes e ilustrado com gravuras de diversos artistas, nas várias reedições que sucederam pelo continente europeu e asiático. Histórias de expedições, mas que tinham um caráter de missões científicas, informando sobre a navegação, manuseio do astrolábio, falando sobre céus, mares, ventos e rios. Estima-se que a carta Mundus Novus teve 41 edições antes mesmo de 1506. “Todo mundo tem o olhar para a Floresta Amazônica e o foco foi dado pelo mundo inteiro para a floresta de terra firme. Mas o estuário do rio Amazonas é o maior estuário da terra. Ele próprio, diferente de qualquer outro ecossistema, porque essa relação do rio e com o mar cria uma biodiversidade diferente de qualquer outra, maior do que vários países. Existe uma infinidade de espécies que dependem desse ecossistema, o que é extremamente importante para o equilíbrio da biodiversidade.”, diz o pesquisador Inocêncio Gorayeb. “A zona costeira amazônica precisa ser estudada levando essa importância. Tem que ser tratada para conhecimento da importância ecológica e da importância para as comunidades humanas que se instalaram aqui e dependem desse recurso. E o equilíbrio climático depende desse ambiente”, completa o zoólogo, reforçando que apesar dos mais de 500 anos desde a descoberta do novo mundo, o fascínio pelo conhecimento dos viajantes permanece idêntico.
GENTE DA TERRA
Acima, o pescador Orlando Lobato, cheio de histórias para contar de um lugar em que a população está aberta a troca de experiências e saber
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL
BIODIVERSIDADE MONITORADA DIVULGAÇÃO / GOELDI
PESQUISAS AJUDAM A PRESERVAR E A CONSERVAR ESPÉCIES ANIMAIS E VEGETAIS COM A AJUDA DA POPULAÇÃO
Q
TEXTO ARNON MIRANDA
uando se pensa em conservação ambiental na Amazônia o desafio de conhecer o estado da biodiversidade aparece de imediato. Ainda mais sabendo que toda essa variedade de vida precisa ser monitorada em áreas protegidas em um território tão extenso. O caminho para encarar esse desafio se mostra através de um sistema que articula a participação do ser humano aliada à presença de animais em cada lu-
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gar observado que indicam a qualidade da biodiversidade. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estabelece estratégias de manutenção geral das Unidades de Conservação (UC), sejam elas Áreas de Proteção Ambiental (APA), Reservas Extrativistas (Resex), Reservas Biológicas (Rebio), Estações Ecológicas (Esec), entre outras, que são divididas em dois tipos: as UCs de uso direto e as de uso
indireto. Cada unidade tem o seu objetivo de conservação, com monitoramento previsto em lei. A entomóloga e pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, Marlúcia Martins, diz que, conforme os dois tipos de Unidade de Conservação, os grupos de pessoas que moram na UC, quando é permitido viver dentro da unidade, ou no entorno dela, são organizadas através de conselhos. Em UCs de uso direto o conselho é deliberativo,
FOTOS: DIVULGAÇÃO / MPEG
e nas de uso indireto, consultivos. “Na Amazônia, há unidades de conservação de mais de 2 milhões de hectares. Quem vai tomar conta disso? É preciso que as pessoas que moram em volta ou que estejam dentro ajudem nesse acompanhamento. Esse é o objetivo principal deste sistema de monitoramento nacional, que foi desenhado para ser útil tanto para a Amazônia quanto para os pampas ou o para o pantanal ou qualquer outro bioma. A ideia é que o sistema seja suficientemente simples para ser aplicado em diferentes locais e possa permitir de fato o acompanhamento de forma eficiente”, destaca Marlúcia. Dentre os vários seres vivos que servem como medidores de biodiversidade, o único grupo de invertebrados é o das borboletas frugívoras, que se alimentam de frutos, e isso logo despertou a curiosidade das populações que são ensinadas a lidar com esses animais. Isso porque é preciso fazer a captura das borboletas, para assim identificá-las e depois vê-las voar. “O monitoramento que é executado pelo ICMBio foi construído para atender diferentes demandas institucionais, desde interesses particulares de manejo e gestão de uma UC em particular, até a avaliação da efetividade do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) como um todo”, explica o ecólogo e doutor em Ecologia, Márcio Uehara-Prado. “Embora pareça audacioso, o monitoramento da biodiversidade do ICMBio prevê que a implantação seja modular, ou seja, que comece muito simples e vá incrementando progressivamente, de acordo com as possibilidades de cada UC. Dois tipos de alvos são monitorados: os indicadores globais, com foco primário para respostas ao SNUC (dos quais as borboletas fazem parte), e, quando necessário, os indicadores locais, com foco primário em demandas específicas da UC”, completa.
OBSERVAÇÃO
A coleta de borboletas na ilha do Combu, pertencente ao município de Belém, gerou uma espécie de manual de identificação de tribos desses insetos
CURSO
Em março deste ano, o Museu Goeldi realizou um curso de monitoramento da biodiversidade voltado para a comunidade da Ilha do Combu, que é uma APA. Na oportunidade, os comunitários tiveram contato direto com as borboletas usando as técnicas ministradas por Márcio Uehara-Prado. “Borboletas funcionam como ‘barômetros da natureza’. Elas são excelentes indicadores biológicos, ou bioindicadores, de mudanças nos seus habitats. Além disso, pesquisas demonstraram que elas apresentam a mesma resposta a alterações ambientais que outros animais e plantas, ou seja funcionam também como representantes de outros organismos. Assim, o monitoramento das borboletas pode gerar informações a respeito
do estado de conservação do lugar onde elas ocorrem, ou seja, se esse lugar está sofrendo algum tipo de distúrbio, ou se um lugar antes perturbado está se recuperando, permitindo que ações concretas sejam tomadas”, explicou o ecólogo. A experiência do doutor com trabalhos comunitários de monitoramento facilitou a comunicação dos biólogos com os comunitários da Ilha do Combu. No curso, foram apresentados guias somente com ilustrações mostrando o passo a passo de como montar a armadilha para capturar os insetos. O objetivo é que a técnica seja acessível a todos os habitantes da ilha, incluindo quem não saiba ler. Além das ilustrações, os guias de identificação de borboletas frugívoras orientaram o monitoramento de forma mais
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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL DIVULGAÇÃO / MPEG
facilitada, pois esses animais são identificados por “tribos” em vez de espécies. Através dessa organização, o ribeirinho pode classificar uma borboleta basicamente pelo tamanho e coloração das asas. Para identificar as espécies borboletas é preciso utilizar mais critérios, o que atrapalharia quem não está habituado a essa classificação.
DIFICULDADES
Pesquisadores do Museu Goeldi identificam borboletas, que ajudam a monitorar o ambiente local. Esses insetos funcionam como “barômetros da natureza”, indicando mudanças nos seus habitats.
“O acompanhamento é essencial para que a sociedade saiba como a reserva está funcionando na conservação da biodiversidade” MARLÚCIA MARTINS Entomóloga
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ROBERTA BRANDÃO
MARCAÇÃO
A técnica ambiental do ICMBio no Maranhão, Patrícia Araújo, falou das dificuldades enfrentadas em UCs que sofrem com o desmatamento. “Nós somos lotados na Rebio de Gurupi, no Maranhão. Essa UC está dentro do arco do desmatamento. Nela ocorrem muitos indícios ambientais de extração ilegal de madeira. Não era para ter moradores, mas há 5 mil famílias assentadas, além ação de fazendeiros na região, de grandes empresas no entorno. Temos toda essa gama de problemas. Por isso, a presença institucional é essencial para que as pessoas que estão ali no entorno saibam que o Estado está presente, e que a UC é patrimônio da União é de todo do mundo”, enfatizou Patrícia. Marlúcia Martins, do Goeldi, lembra que os efeitos da devastação afetam a Amazônia como um todo, e afirma que a Rebio de Gurupi é a última representante da floresta amazônica no Maranhão, sendo estrategicamente importante também para o Pará. “O acompanhamento é essencial porque é preciso que a sociedade saiba como a reserva está funcionando na conservação da biodiversidade, e que também é importante ajudar a reserva a vencer os seus problemas e se manter Rebio. Se nós damos suporte a uma estratégia, temos que sustentá-la de várias formas, inclusive politicamente, dizendo que ela é importante sim. Qualquer cidadão, mesmo longe, cada vez que dizer sim para unidade, estará apoiando a Rebio”, reforça Marlúcia.
BONS EXEMPLOS DIVULGAÇÃO
MUDANÇADEATITUDE RAY NONATO / ARQUIVO O LIBERAL
CUIDANDO DA PELE NESTE VERÃO O verão é uma das épocas do ano em que a
Uma rádio pela educação Contribuir com a qualidade da educação no ensino fundamental em municípios da Amazônia, a partir de processos de “educomunicação”. Esse é o objetivo do projeto Rádio pela Educação, uma ação da Diocese de Santarém, através da Rádio Rural. Em 15 anos de existência, a rádio já beneficiou atendimento a mais de 50 mil crianças, adolescentes e professores da rede municipal de ensino. O “Para Ouvir e Aprender” é o carro-chefe do projeto. Durante 30 minutos, o programa leva para a sala de aula 16 sessões alternadas, que contemplam a realidade da Amazônia, a voz das crianças e adolescentes, professores e comunitários das zonas urbana e rural, e
temas ligados à defesa dos direitos das crianças, meio ambiente e outros. Umas das coordenadoras do projeto, Socorro Carvalho, conta que através da Rádio Rural as crianças que acompanham o programa desenvolvem um grande crescimento e melhora na escrita e na oralidade. “Por meio dele a sociedade também tem acesso ao conhecimento de seus direitos e deveres, dando a oportunidade de reivindicá-los por meio de ações que possibilitem a promoção da cidadania”, afirma. Outra iniciativa importante do projeto é a Rede de Repórteres. Os voluntários enviam gravações, que abordam temas variados ligados às atividades da esco-
pele sofre muitos danos, devido ao aumento das atividades ao ar livre. A radiação solar incide com mais intensidade sobre a Terra, aumentando o risco de queimaduras, câncer na pele e outros problemas. Seguindo a recomendação médica, é preci-
la, projetos culturais, ações em defesa do meio ambiente, entrevistas com professores, agentes comunitários de saúde e, principalmente, outros colegas. O programa representa a conquista do direito à expressão e a um espaço de cidadania no rádio para crianças e adolescentes que não têm acesso a esse meio, principalmente, como sujeitos ativos na construção de valores éticos e educativos. No projeto, as crianças e adolescentes recebem da equipe orientações na realização de pesquisas e trabalhos escolares. Portanto, além de alicerçar sonhos é também instrumento de pesquisas cientificas tanto da área de comunicação quanto da educação.
so usar protetor solar para proteger a pele. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, é importante aplicar o produto 30 minutos antes da exposição solar, para que a pele o absorva e reaplicá-lo a cada duas horas. Além do filtro solar, no verão é importante usar chapéu e roupas de algodão nas atividades ao ar livre, pois retêm cerca de 90% da radiação UV. Tecidos sintéticos, como o nylon, retêm apenas 30%. Uma dica importante para proteger a pele de irritações causadas por picadas de insetos é o uso de repelentes. Uma saída natural para eliminar os mosquitos no verão é acender velas de citronela e andiroba nos cômodos da casa. Também é possível queimar as cascas de laranja e passar vinagre nos vidros das janelas, pois o cheiro desses produtos afugentam os insetos. Vale ressaltar que a beleza da pele não depende somente de cremes nutritivos e hidratantes. Eles são muito importantes, mas não adianta nada nutrir a pele externamente se esquecermos de nutri-la internamente.
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VIDA EM COMUNIDADE
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TROCA DE EXPERIÊNCIAS EM ALEMÃO PARA DESPERTAR O SENSO COMUNITÁRIO E CONHECIMENTO DE OUTRAS CULTURAS, PROFESSORA ENSINA O IDIOMA PARA CRIANÇAS DA PERIFERIA DE BELÉM
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TEXTO BRUNO ROCHA FOTOS ROBERTA BRANDÃO
LECIONANDO AMIZADE
A professora Rosanne Castelo Branco ensina alemão para 58 meninas de 5 a 12 anos na Instituição Pia Nossa Senhora das Graças, no bairro do Guamá
ara quê estudar uma língua estrangeira? Parece óbvio, mas a verdade é que aprender um outro idioma traz benefícios que não se restringem apenas a qualificação profissional. E por que não o alemão? Foi essa pergunta que a professora Rosanne Castelo Branco se fez, quando começou, em 2002, a elaborar o projeto Aprendendo Alemão na Amazônia: Interculturalidade e Consciência Ambiental, voltada para crianças da periferia de Belém. A proposta está ligada à Faculdade de Línguas Estrangeiras Modernas da Universidade Federal do Pará (Falem) e tem ações previstas até 2016, com expectativa de renovação, graças aos resultados positivos que vem apresentando. “As pessoas diziam que alemão é complicado, que ia haver
muita dificuldade, mas trabalhar com crianças tem essa vantagem, porque ela desconhece esses valores que o adulto e a história estabelecem”, justifica a professora. No começo, o projeto atendeu cerca de 40 crianças na Escola Municipal Paulo Freire, em Icoaraci, todas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, premissa principal do projeto. Hoje, a iniciativa assiste 58 meninas de 5 a 12 anos na Instituição Pia Nossa Senhora das Graças, no bairro do Guamá. Meninas da Pratinha, Benguí e outros bairros também aprendem alemão por meio do projeto. A ideia principal é trabalhar com a troca de conhecimento cultural entre Amazônia e Alemanha. Para a idealizadora do projeto, a língua alemã se torna uma ferramenta de apoio para que as crianças se co-
nheçam mais em sociedade. Além do ensino prático de um novo idioma, Rosanne afirma que o imaginário das crianças é estimulado. “Há uma turma em que nós estamos trabalhando as cores no idioma alemão e, com isso, diretamente, trabalhamos valores indígenas através de objetos que cada tribo utiliza em seus rituais. É o lúdico que fica na memória da criança e a aprendizagem é mais facilmente absorvida por elas. Então, a criança aprende o alemão brincando com o imaginário delas”. Nesse ponto, o projeto cumpre um papel importantíssimo do ensino que é o de possibilitar o reencontro com a identidade e com a etnia, através do trabalho de gênero, resgatando o respeito próprio e o respeito ao outro, ressaltando a igualdade de direitos e deveres do cidadão em uma sociedade. JULHO DE 2015
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VIDA EM COMUNIDADE
“O que se constrói na criança não é ela saber outra língua. É ela saber que existem outras culturas e que ela pode interagir com elas. Assim formamos crianças comprometidas com sua cidadania” ROSANNE CASTELO BRANCO
COORDENADORA DO PROJETO APRENDENDO ALEMÃO NA AMAZÔNIA
INTERAÇÃO
O projeto educativo também se preocupa com a realidade das famílias e com a formação social das crianças assistidas
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Foi também assim que Rosanne encontrou um meio de entender a realidade de cada menina. “Durante uma aula sobre família eu pude perceber que o projeto faz toda diferença para essas crianças. São famílias extremamente carentes, que estão inseridas em locais violentos. Quando elas vêm para cá, o horizonte se expande”, relata a coordenadora. Mas, trabalhar essa relação sem se chocar com o que as crianças já trazem para a sala de aula não é tarefa das mais fáceis. É preciso, como ela a coordenadora mesmo diz, ser transversal. “Todos os elementos que são discutidos em sala de aula pretendem se somar à construção do caráter social das crianças”, defende Rosanne. E por isso noções de meio ambiente, geografia, literatura, história e música também servem de apoio para o aprendizado. Há também o intercâmbio direto e graças à parceria com a UFPA já foi possível trazer da Alemanha JULHO DE 2015
diversos estudantes, professores, pedagogos e escritores de literatura infantil, que visitaram e puderam ver como o projeto funciona. “Além da troca de experiências, isso torna aquilo que as crianças estudam mais real. E elas ficam muito admiradas”, conta Rosanne. E o intercâmbio se aprofundou de tal maneira que acabou por viabilizar ações e práticas de parcerias com professores brasileiros e alemães, que ministram oficinas voltadas para temáticas diversas como leitura, estética da arte, literatura, pintura, poesia e arte, gênero, etnia e cultura, gastronomia alemã e música. Outro fator importante do projeto é facilitar também a ida de alunos da graduação em Língua Alemã da UFPA para a Alemanha. Rosanne diz que “para a formação do discentes, o projeto possibilita o desenvolvimento de atividades e do processo pedagógico, o que faz com que o estudante se
comprometa com os objetivos do projeto e amadureça profissionalmente”. Cada estudante voluntário do projeto se torna consciente do seu papel de transformador de uma sociedade mais justa e passa a enxergar o ensino da língua estrangeira um importante instrumento de acesso ao conhecimento e para o desenvolvimento do ser humano e sua inserção na sociedade. “O que se constrói na criança não é ela saber outra língua. É ela saber que existem outras culturas e que ela pode interagir com elas. Assim formamos crianças comprometidas com sua cidadania”, conclui Rosanne. E assim o projeto segue, provocando uma mudança na construção e na formação de pessoas comprometidas com a elaboração de ações sociais consistentes, voltadas para a coletividade e, de geração em geração, deixando sementes multiplicadoras.
ARTE,
A E REFLEXÃO MAÉCIO MONTEIRO / DIVULGAÇÃO
PENSELIMPO
O tipo e a dança
OS ELEMENTOS DO CARIMBÓ SÃO TRANSFORMADOS EM FONTES DE COMPUTADOR, OS DINGBATS
PÁGINA 58
POÉTICA O poeta Airton Souza faz parte de um projeto que estimula a leitura em escolas públicas de Marabá, no sudeste paraense. PÁG. 54
LITERATURA O escritor João Marques de
VOZ DO PAPA Em sua primeira encíclica, Carvalho é considerado o primeiro romancista do Francisco questiona o capitalismo e faz um alerta Pará, uma mente a frente de seu tempo. PÁG.60 sobre a preservação do meio ambiente. PÁG.66
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DEDO DE PROSA
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Um poeta militante O ARTISTA MARABAENSE AIRTON SOUZA É UM INCENTIVADOR CULTURAL, FAZENDO DO ESTÍMULO À LEITURA SUA FERRAMENTA SOCIAL. PARA ELE, A POESIA DÁ ÀS PESSOAS AS RESPOSTAS QUE PRECISAM PARA A VIDA. TEXTO ABÍLIO DANTAS FOTOS ROBERTA BRANDÃO
“S
ua poesia é um chamado e contenção, grito e contemplação, êxtase e pertencimento, enunciação e construção”. Estas palavras, de forte conteúdo imagético, foram proferidas pelo escritor Alufa Licuta Oxoronga para definir a obra de outro criador: o historiador, professor e poeta Airton Souza. Natural de Marabá, sudeste paraense, o autor de livros premiados como “Ser Não Sendo”, vencedor do prêmio Dalcídio Jurandir de 2013, e “Manhã Cerzida”, ganhador do Prêmio Proex de Arte e Cultura, enxerga a si como um ser totalmente indissociável da prática poética. Sua atuação se espraia, portanto, para além dos versos de suas páginas. Além de artista, o poeta é um militante. Desde 2013, ele participa da coordenação do Projeto Tocaiúnas, que tem como objetivo lançar livros de autores paraenses a preços acessíveis e difundir a leitura nas escolas de Marabá. Nessa entrevista, ele, nos conta sobre o início de sua carreira literária e a importância de arte e educação caminharem juntas. Você possui 14 livros publicados e já fez parte de mais de 60 antologias. O que o move a produzir poesia nos tempos atuais, onde o tempo para contemplação parece estar cada vez mais curto? Ainda muito jovem, lá pelos meus 14 ou 15 anos, tentei resistir à questão de escrever e na aceitação de me dizer “poeta”. Sentia vergonha disso. Porém, chegou uma hora que já não dava para segurar ou simplesmente ficar à espreita na questão da poesia. Externar era preciso, então, decidir ser poeta. Se bem que você toca em uma questão importante, o tempo de agora nos parece pouco compreensivo. Essa instantaneidade, essa falta de vivência relacional, e a questão da falta de comoção e piedade, JULHO DE 2015
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DEDO DE PROSA
“Nossa batalha é fazer com que a leitura de poesia seja algo inerente à vida das pessoas” tanto da vida quanto da própria morte, nos afeta humanamente falando. O interessante é que a poesia resiste e resistirá ao tempo e a todas as problemáticas que nos cerca dia após dia. A palavra hoje está muito próxima de minha vivência. É como se nós, eu e ela, agora fôssemos um. Isso nos parece meio heideggeliano, não é verdade? Contudo, é como tenho encarado a palavra. Leonardo Fróes definiu o que tenho para mim como a convivência com a poesia. Diz ele em um poema: “todo mundo nesse mundo tem a sua fraqueza/ a minha é escrever poesia”. E sobre o Projeto Tocaiúnas. O que significa o seu nome e qual a sua concepção? Há dois anos a professora e poeta Eliane Soares procurou-me, em uma conversa informal, para tratar desse assunto, a respeito de tentar viabilizar um projeto que pudesse fazer com que o livro fosse algo acessível. Hoje, em recentes pesquisas, chegaram à conclusão de que um livro custa em média 18% do salário mínimo. A pergunta é: “Qual família que possui uma renda baixa teria coragem de adquiri-los?” Sabendo dessa e de outras problemáticas, idealizamos juntos o projeto, que veio a ser chamado de Tocaiúnas, termo que eu criei bem antes e significa uma simbiose para homenagear os rios Tocantins e Ita5 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
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caiúnas, que perpassam por Marabá. Dessa feita, fomos em busca de escritores que pudessem estar conosco. No primeiro momento, ainda no Volume 1, conseguimos onze escritores para participar, sendo nove de Marabá e dois de Belém. O mais incrível dentro do projeto, que eu particularmente considero como uma das maiores empreitadas literárias dentro do Pará foi, nesse primeiro momento, conseguir que todos os participantes custeassem do próprio bolso e risco a publicação dos livros e, como os dois rios fazem diariamente perante nossas retinas, o projeto fluiu bem, desaguou em outras paragens, tomou rumos diversos. Dentro das concepções do projeto Tocaiúnas, já que estamos nos dando com pessoas, livros e leituras, nós podemos destacar o seguinte: foi um projeto criado com os objetivos centrais de divulgar o livro, tornar ele acessível, promover a leitura e a divulgação da produção literária do Pará. Prova disso, é que os livros custam menos de 1% do salário mínimo vigente no país. Como foi viabilizada a continuação do Tocaiúnas? Assim, caminhamos para o Volume 2 e conseguimos dessa vez um apoio da Vale, que custeou todo o processo, dentro do apoio às comemorações pelo aniversário de 102 anos de Marabá. Sendo que dessa vez, ficou restrito aos escritores de Marabá, pois decidimos homenagear a cidade. Também conseguimos aumentar o número de participantes, passando assim de onze escritores para 15, tornando de fato o projeto ainda mais grandioso. Hoje, já começamos a esboçar o Volume 3, para o ano que vem. Mas, primeiro estamos, na medida do possível, seguindo as etapas do projeto em seu Volume 2, que é divulgar
o livro, a leitura e a literatura, principalmente nas escolas públicas de Marabá, mostrando ao público marabaense a produção literária local. Com sua experiência como poeta, o que pesa na participação em iniciativas como essa? Eu destacaria a possibilidade de fortalecimento de um grupo de escritores, que é o que vem, de fato, acontecendo em Marabá. Para que, a partir desse fortalecimento, nós possamos junto ir ao que eu adoro chamar de “combate”. Pois, fazer e promover literatura em um país em que ambos, tanto o livro quanto a leitura, estão em último lugar nos planos de desenvolvimento, seja ele cultural, social, educacional e até mesmo econômico, é, de fato, um combate. E, dentro de Marabá, aos poucos a literatura vem sendo um dos destaques no que concerne aos segmentos artísticos. Além do projeto Tocaiúnas, temos por aqui diversos outros projetos, em parcerias com outras insti-
tuições, que estão divulgando a leitura e o livro e nos fortalecendo enquanto escritores. Entre estes eu gostaria de destacar o Sarau da Lua Cheia, que acontece uma vez por mês e já alcançou a marca de 27 edições sem interrupções.
MUNDO DA LITERATURA
Por meio do projeto Tocaiúnas, apoiado pela Vale, o escritor Airton Souza está fazendo com que mais pessoas em Marabá tenham acesso a livros
Crianças e adolescentes do Pará são interessadas em poesia? A poesia encontra-se relegada em comparação aos diversos gêneros literários. O relegado aqui implica dizer, na periferia, em comparação aos outros gêneros. A nossa “batalha” é fazer com que a leitura de poesia seja algo inerente à vida das pessoas, não só das crianças ou adolescentes, mas, dos adultos também. A leitura é de todos nós. A poesia nos dá as respostas que precisamos para a vida e para ao que chamo de vivência. Pois é exatamente na poesia que eu consigo encontrar as respostas que preciso para os mais variados dilemas da vida, sejam eles benéficos ou danosos. JULHO DE 2015
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ARTE PESQUISADA
Fonte do carimbó DESIGNER CRIA DINGBATS PARA COMPUTADOR COM INFLUÊNCIA NO TRADICIONAL RITMO PARAENSE TEXTO DOMINIK GIUSTI
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ILUSTRAÇÕES / AÉCIO MONTEIRO
Inspirado no dia a dia dos mestres e das comunidades carimboleiras da região do Salgado, no nordeste do Pará, o designer Maécio Monteiro criou dingbats – fontes de computador em forma de desenhos – com as principais referências do gênero da música e dança tradicionais da cultura paraense. Para criar a fonte “Zimba” o autor foi até os municípios conviver com as pessoas que compõem, tocam e dançam o ritmo. A ação fez parte do projeto “Dingbatuques – Iconografia do Carimbó”, que em sua finalização apresentou ainda mais de 100 pequenos desenhos monocromáticos da visualidade do gênero. “A pesquisa foi feita da forma mais orgânica e informal possível. Viajei ao encontro dos mestres, convivi com eles por uma ou duas semanas, dormindo em suas casas, comendo com eles e muitas vezes até cozinhando para eles. Os desenhos vieram a partir dessas vivências. Pude identificar grafismos, instrumentos, expressões, movimentos e indumentárias características do carimbó praieiro. Com isso, denominei de ‘Zimba”, nomes que se davam antigamente para as rodas de carimbó”, conta Maécio. O processo de pesquisa e produção das fontes foi realizado com viagens e
ÍCONES
A família de dingbats “Zimba” representa a identidade do carimbó praiano da região nordeste do Pará
FIGURAS
Os caracteres criados pelo designer Maécio Monteiro são inspirados nos elementos que compõem o carimbó, como os instrumentos musicais e a dança
vivências em Vigia, Curuçá, Marapanim, Maracanã, Salinas e Santarém Novo. Além da dingbat (a fonte), Maécio também produziu desenhos de mulheres dançando com suas longas saias rodadas, rapazes com o corpo em movimento característico do dançar o carimbó, além de mestres tocando maracas, banjos, tambor e o curimbó – tronco de madeira que dá o batuque característico do gênero musical. “Na região do Salgado eu percebi bem forte o uso de linhas retas, triângulos, nos adornos dos instrumentos, e traços bem africanos. As estampas das roupas seguem as tradições das danças ibéricas e as cores são quase sempre primárias ou secundárias. Quis mostrar a imagem como via, sem tanto do apelo folclórico, por isso muitos deles estão com trajes cotidianos. Também me interessou muito os traços e cores que identifica o cada grupo, que são as suas identidades visuais vernaculares”, explica o designer. Maécio Monteiro já havia desenvolvido tipografias com base na cultura popular paraense, a partir da observação das inscrições em barcos, intituladas “Nortista” e “Gouvêa”. Os estudos foram feitos a
partir dos “nomes” dos barcos da orla do Ver-o-Peso, em Belém, geralmente pintadas pelos profissionais conhecidos como “abridores de letra”. Essa foi o seu trabalho de conclusão de curso, em parceria com o designer Livando Malcher e orientação do professor Alacy Rodrigues, para a graduação em Design, pela Universidade do Estado do Pará (Uepa). Já a pesquisa “Dingbatuques” foi realizada em 2014 a partir da bolsa do antigo Instituto de Artes do Pará (IAP), hoje Fundação Cultural do Pará (FCP).
PESQUISA
O interesse de Maécio Monteiro em pesquisas sobre a visualidade do carimbó vem ao encontro de campanhas e implementação de políticas para a salvaguarda do gênero. Em 2008, associações culturais de Santarém Novo e Marapanim formalizaram o pedido de registro do carimbó junto ao Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), para a obtenção do título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. “No ano seguinte, teve início o levantamento preliminar do carimbó no estado do Pará, que ao seu término (2010) abarcou 32 municí-
pios e 107 localidades espalhados entre as mesorregiões Nordeste, Metropolitana de Belém e Marajó, áreas de incidência histórica da manifestação cultural”, diz o designer. Dingbats são famílias tipográficas compostas por pequenos desenhos ao invés de letras. São disponíveis em formato de fonte de computador e possuem vasta aplicação em projetos gráficos. Por serem fontes de computador, funcionam em todos os tipos de plataformas, e por serem monocromáticos, são de fácil reprodução em fotocopiadoras, estêncil, carimbo, serigrafia e outras técnicas de reprodução de baixo custo. A partir da imersão no universo do carimbó, os desenhos foram concebidos e posteriormente transformados e organizados uma família de dingbat. “O projeto de design tipográfico Dingbatuques se propôs a oferecer a designers e artistas visuais um rico acervo de elementos gráficos que traduzam o universo imagético da expressão mais significativa da música paraense de raiz: o carimbó e seus batuques através do desenvolvimento desses dingbats que abordam o tema”, completa Máecio.
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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS
João Marques de Carvalho 1866-1910
Um naturalista com novas ideias TEXTO ROSANA MEDEIROS ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR
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a segunda metade dos anos de 1880, o Brasil vivia um período de conflitos ideológicos. De um lado, os defensores do Império, do outro, os pró-República. Na literatura, a época é marcada pela transição do romantismo para o naturalismo e para o realismo. A realidade brasileira, especialmente a da classe baixa, é o que fundamenta os discursos de quem defendia a nova ordem política e literária brasileira. É nesse contexto que, em 1884, o paraense João Marques de Carvalho inicia sua carreira de jornalista e literato, no jornal Diário de Belém. Uma carreira marcada pela defesa da República, do naturalismo, que ele chamava de “novas ideias”, e da construção de uma literatura paraense. Filho de migrantes portugueses, Marques de Carvalho teve a rara sorte de passar pela Europa e pela escola de direito de Recife em momentos de efervescências de pensamentos ideológicos que marcaram sua formação e forma de ver o mundo. Foi no outro continente que o paraense teve os primeiros contatos com a literatura naturalista, da qual se tornou o principal propagandista no Pará. Marques de Carvalho, assim como a maioria dos jornalistas e literatos da época, teve a vida profissional influenciada pelos bastidores da imprensa. E o autor soube lidar muito bem com essa questão. “Esses literatos que estão adentrando as redações desses jornais têm ligações. O Marques de Carvalho foi hábil nisso, porque ele conseguiu se aliar ao Antônio Lemos, mais tarde o intendente de Belém, e a Joaquim de Assis, dono do jornal A Província do Pará”, conta o historiador e professor Maurel Barbosa, autor do livro “O Pajé: Literatura, Naturalismo e História no Pará do Século XIX”, baseado na obra “O Pajé”, de João Marques de Carvalho. O jovem jornalista utilizou as páginas dos periódicos locais para construir sua imagem. Ele criou uma maneira própria de escrever baseada na polêmica. “O Marques de Carvalho foi um cara superpolemista com a escrita dele”, diz Maurel. E uma das polêmicas que vão marcar a trajetória do escritor é o conflito com os literatos do Sul do Brasil, no período o centro intelectual do país. De acordo com Maurel Barbosa, Marques de Carvalho não gostava da forma como os escritores do sul se comportavam em relação à literatura paraense. Ele entendia que não havia espaço
para a literatura nortista. Essa confusão com os escritores sulistas vai impactar diretamente na produção literária de Marques de Carvalho. Para Barbosa, a partir dessa questão “ele vai trabalhar por uma arte mais amazônica”. Para isso, tem grande contribuição a passagem de Marques de Carvalho pela escola de direito de Recife. Lá, o autor teve contato com um núcleo de intelectuais que estavam discutindo a literatura a partir de uma identidade nacional. O escritor sentia necessidade de inserir o Pará no mapa da arte literária brasileira. E fez isso retratando Belém, os costumes dos belenenses e as características da capital paraense. Segundo Maurel Barbosa, é essa a grande importância de Marques de Carvalho para a literatura amazônica. “Ele militou pela afirmação de uma literatura paraense”, afirma o historiador. E o escritor acreditava que isso seria possível através das novas ideias, traduzidas pela literatura naturalista. De acordo com Barbosa, “ele se dizia o precursor do naturalismo em Belém”. Na luta pela construção do campo literário paraense, o escritor fundou, junto com amigos – entre os quais o literato Paulino de Brito, o jornal A Arena, um marco no campo literário paraense no século XIX. Com tiragem semanal, o periódico surgiu para preencher a falta de espaço que os escritores paraenses enfrentavam. “A questão era: nós não temos espaço no sul, então vamos criar nosso próprio espaço”, comenta Maurel Barbosa. Como sempre, o objetivo principal do autor, além de contribuir para literatura local, era divulgar o naturalismo e as novas ideias. Marques de Carvalho também participou de uma confraria de literatos chamada A Mina, na qual cada escritor se denominava um mineral. Marques de Carvalho era o “ouro”. Essa confraria foi o embrião da Academia Paraense de Letras, fundada por Marques de Carvalho em 1900, mas que só se estabeleceu de fato em 1913. Apesar da grande contribuição para a afirmação da literatura paraense, João Marques de Carvalho passou seus últimos anos desacreditado. Em 1896, dois anos após largar o jornalismo e a literatura para se tornar cônsul, ele foi demitido sob acusação de peculato e estelionato. Chegou a ser condenado, mas foi absolvido um ano depois. Morreu em 1910, na cidade de Nice, na França. É um autor de grande importância, mas pouco conhecido pelos paraenses ainda hoje. JULHO DE 2015
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AGENDA AGÊNCIA PARÁ
APOIO FINANCEIRO O edital para seleção de candidatos a receber o Auxílio Intervalar 2016 já foi lançado. O benefício disponibiliza recurso financeiro aos universitários da Universidade Federal do Pará em situação de vulnerabilidade socioeconômica dos cursos de graduação na modalidade intensiva presencial, os já conhecidos cursos intervalares. As inscrições vão até o dia 14 de agosto, pelo site proex.ufpa.br. Mais informações pelo telefone (91) 3201-7262.
REDAÇÃO Ainda sobre as comemorações pelo Dia do Meio Ambiente, em 5 de junho, a UFPA promove um concurso de redação para os alunos da instituição. Eles devem apontar soluções viáveis para a destinação dos resíduos em Belém. O concurso escolherá os cinco melhores textos de uma carta argumentativa, tendo como tema o título “Belém 400 Anos: uma contribuição dos alunos da UFPA para a sua sustentabilidade”. Os candidatos devem enviar suas redações até o dia 30 de agosto à Comissão da Coleta Seletiva Solidária, pelo e-mail coletaseletiva@ufpa.br
BOLSAS
AGROECOLOGIA
CONGRESSO
A Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e outras instituições de ensino e pesquisa, realiza o IX Congresso Brasileiro de Agroecologia, de 28 de setembro a 1º de outubro, no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia. O congresso tem como objetivo promover o debate em torno do desenvolvimento agroecológico em âmbito regional, nacional e internacional. As questões ambientais, sociais e produtivas serão o foco principal dos debates. Mais informações no site da ABA www.cbagroecologia.org.br.
As inscrições para o Programa Fórmula Santander 2015 seguem até setembro. O Programa de Bolsas de Mobilidade Internacional tem por objetivo propiciar aos alunos indicados por instituições de ensino superior conveniadas, oportunidade de acesso a culturas estrangeiras, realizando um período de estudos de até seis meses em universidades do exterior. A UFPA direcionará três alunos para universidades de Portugal e Espanha. Informações pelo site www.portal.ufpa.br.
BIODIVERSIDADE
VETERINÁRIA
A Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Evolução-PPGBE do Museu Paraense
Nos dias 9, 10 e 11 de setembro, Belém sediará
Emílio Goeldi tornou público o Edital para abertura de inscrição dos programas de Mestrado e Doutorado.
o Congresso dos Médicos Veterinários da Ama-
O certame oferece 20 vagas, 10 para cada nível de formação. As inscrições vão de 23 a 31 de julho. Os editais
zônia Legal (Amazonvet), no Hangar. Durante
podem ser acessados no site www.museu-goeldi.br.
os três dias do evento, serão realizados simpósios, palestras, mesas-redondas e exposição de trabalhos científicos, envolvendo profissionais
CONSTRUÇÃO
de renome nacional e internacional. E ainda a
De 9 a 12 de setembro, será realizada no Hangar, a Feira Norte de Materiais de Construção (Fenormac). O
tradicional feira de expositores. O evento abran-
evento é realizado a cada 2 anos e em 2015 completa 10 anos com sua sexta edição. O segmento da cons-
gerá também a 39ª Semana do Médico Veteriná-
trução civil é um dos setores da economia que mais cresce e gera anualmente milhares de empregos e é
rio do Estado do Pará e o 7º Seminário Paraense
responsável por 14,8% do PIB nacional. Para mais informações sobre inscrições e a programação completa,
de Medicina Veterinária. Mais informações pelo
basta acessar o site www.fenormac.com.br.
site www.amazonvet2015.com.br
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FAÇA VOCÊ MESMO
Chapéu DE praia Aquele chapéu de palha velhinho que está em cima do armário pode, certamente, se transformar num supermega-ultra chapéu customizado para o verão amazônico! É sério: sabe o chapéu do Arraial do Pavulagem? Vai ser mais ou menos que nem ele,
só que com outros adereços. Essa customização faz parte das oficinas Curro Velho da Fundação Cultural do Pará, que apresenta o passo a passo do chapéu que é só sucesso: proteção contra doenças de pele e muito charme para as praias e igarapés do Pará.
DO QUE VAMOS PRECISAR?
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Chapéu de palha comum Retalhos de tecidos variados Tesoura com pontas arredondadas Cola de silicone Agulha Linha Fitilho Tampa de pote
INSTRUTORA: LUIZA NEVES COLABORAÇÃO: DEUSARINA VASCONCELOS FOTOS: WALACE FERREIRA MODELO: BEATRIZ BARROS
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ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável
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Primeiro passo: use a tampa de pote como molde para os desenhos nos tecidos.
O macete, agora, é cortar uma faixa de cinco centímetros de um tecido escolhido.
Novo passo: enrole o fitilho nos dedos da mão.
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Agora recorte quatro partes de cada tecido a partir das marcações.
A faixa vai para a palha: cole a faixa de cinco centímetros no entorno do chapéu.
E, então, junte o fitilho no centro com a agulha. E lá vai o “pulo do gato”: cole o fitilho enrolado no meio dos fuxicos.
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Continue assim: dobre os círculos de tecidos e, então, costure no fundo, passando para diferentes cores. Estão feitos os fuxicos!
Com tudo feito, cole os fuxicos no chapéu.
O fim: o chapéu junino agora é chapéu de praia.
PARA SABER MAIS Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas Curro Velho, da Fundação Cultural do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. As Oficinas Curro Velho funcionam na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109.
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •
JULHO DE 2015
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FAÇA VOCÊ MESMO
LEONARDO NUNES
BOA HISTÓRIA
Paulista
O filho crescido voltou para a vila com título de doutor. Por fim, era o melhor
no que aprendeu e retornou casado com uma moça linda da cidade grande. Chegou alegre - e mais alegre ficou ao sentir o cheiro desde que adentrou a vizinhança. Foi direto à panela fumegante antes mesmo de abraçar a mãe e o povaréu todo. A nora, assustada com a barulheira dos parentes do marido, adentrou a casa acenando sem força. Ofereceram o sofá e a cumprimentaram com afeto sincero, como se fosse íntima de todos. Agradeceu a hospitalidade em gesto comedido. Então ouviu da boca de uma das crianças o estranho nome do prato principal para a recepção. O filho de Maria falou sem interrupção sobre as viagens e as descobertas da Ciência, reclamou do descuido com a vila, mais maltratada e entupida de motoqueiros malucos, afagou sobrinhos desconhecidos, beijou as primas, enganchou-se em briga falsa com o melhor amigo. Sem demora es-
tava todo mundo no fundo do quintal na imensa mesa da anfitriã, construída para ocasiões em que a tropa inteira estava reunida, coisa rara. Os homens trouxeram o panelão e complementos, pratos e talheres foram postos sem muita ordem, mas com civilidade para não enfezar a dona da casa. A turba foi se servindo. Já a esposa, acanhada, nada. Até que uma alma caridosa lhe encheu o prato. Assustou-se, de chofre. Olhou em volta. Todos comiam com plena satisfação. Alguns mais rápidos que outros, em total regozijo. Estava servido o dilema à forasteira: comer ou não comer? Eis a questão. O cheiro era bom, mas a aparência terrível. Recusar pela aparência com toda a educação que tinha ou experimentar o prato e fazer uma desfeita ainda maior à mesa? Vai que o seleto estômago rejeita a iguaria. Não demorou para que ela se tornasse o centro da atenção, com garfo na mão e a dúvida a lhe torturar. Procurou o olhar do marido,
mas ele estava empapuçado no segundo prato, tomado pelo gosto que tanto amava e lhe feria de saudade longe de casa. Sem escolha: levou o garfo a boca como quem salta no escuro. A expectativa negativa se desfez em três segundos. Três segundos que, diante da plateia, foram mais que seus 30 anos. A segunda garrafada foi mais cuidadosa: fisgou algo que lhe era familiar, uma linguiça. E desvendou o prato aos poucos, relaxando os músculos, bocado após bocado, até perceber que havia muito prazer na sensação singular daquele emaranhado lodoso de folhagens e miúdos. Manteve a postura reticente, própria de sua natureza, mas não se esquivou de pedir mais uma porção. E a cozinheira, aliviada, levantou-se para servir pessoalmente a hóspede com o coração livre da ansiedade, enterrada de vez com a aprovação com louvor da especialidade da casa feita com amor para aquela chegada. A maniçoba de Maria era imbatível. JULHO DE 2015
ANDERSON ARAÚJO
é jornalista, escritor e blogueiro
• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5
NOVOS CAMINHOS
A Carta do papa: um chamado à ação Encíclicas papais são instrumentos importantes da Igreja Católica para
THIAGO BARROS
é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEAUFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros
contextualizar a doutrina sobre um determinado tema da atualidade. Sempre causam calorosas discussões, mas a publicada em junho, produzida pelo papa Francisco, tem o poder de ampliar a discussão sobre os impactos das atividades humanas ao meio ambiente. Aliado à popularidade e visibilidade do líder religioso, o documento Lumen Fidei (Luz da Fé) se apresenta como relevante ponto de pressão para que a sociedade discuta de forma imediata problemas como a utilização sustentável de bens comuns oferecidos pela natureza, sob a pena de eclosão de uma crise ambiental sem precedentes ainda neste século. Apesar de ser elaborada em um contexto religioso, a encíclica papal sobre o meio ambiente tem como base uma forte argumentação científica e filosófica, o suficiente para Francisco afirmar que a humanidade é responsável por problemas como o aquecimento global. A sociedade, acrescenta o pontífice, precisa agir rápido para salvar o planeta, vítima de seus excessos. Por ser enfático e direto, o documento foi elogiado pelas Nações Unidas e classificado como um “chamado à ação” contra a degradação ambiental. Francisco destaca a tão debatida necessidade de conscientização ambiental e bate de frente com os atuais paradigmas de modo de vida, baseados no consumismo. Empresas e políticos mundiais, critica o papa, não estão “à altura dos desafios mundiais” e fazem “uso irresponsável dos bens que Deus colocou na Terra”. Esta dicotomia, de
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JULHO DE 2015
acordo com a encíclica, pode provocar uma guerra a curto prazo pelo controle de recursos essenciais à vida, como a água e a biodiversidade. A submissão aos interesses dos grandes grupos financeiros é apontada como uma das principais causas dos fracassos das cúpulas internacionais que tentam conter o avanço do aquecimento global e outros impactos decorrentes da intensa pressão à natureza. As nações ricas utilizam a dívida externa como instrumento de controle, mas não reconhecem a “dívida ecológica” que têm com os países em desenvolvimento, onde se encontram as maiores reservas da biosfera, lamenta Francisco. Neste ponto, a encíclica se volta à Amazônia, classificada como “pulmão do planeta repleto de biodiversidade”: o mundo não pode se desenvolver de maneira justa e sustentável se a importância desta e outras regiões for ignorada. O documento ressalta o delicado equilíbrio do ecossistema, da extinção em grande escala de inúmeras espécies e dos interesses econômicos internacionais, que ameaçam a soberania dos países que abrigam a floresta: “há propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das corporações internacionais”. Francisco defende o “amor civil e político” como solução para os problemas ambientais, que, consequentemente, intensificam outros flagelos sociais. “O cuidado da natureza faz parte dum estilo de vida que implica capacidade de viver juntos e de comunhão”. Afinal, o futuro do planeta depende de diálogo sobre como ele é construído.
“O cuidado da natureza faz parte dum estilo de vida que implica capacidade de viver juntos e de comunhão”, afirma o papa
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